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JOÃO PESSOA
2022
MARINA DE MEDEIROS FERREIRA DA COSTA
JOÃO PESSOA
2022
ATUALIZAÇÕES PSICANALÍTICAS SOBRE O AUTISMO: ETIOLOGIA E TRABALHO
CLÍNICO
Aprovado em 29/11/2022
BANCA EXAMINADORA
segundo dados da Organização Mundial de Saúde no ano de 2021. Diante disso, o presente
Trabalho de Conclusão de Curso teve como objetivo responder a seguinte pergunta norteadora
“Quais as hipóteses etiológicas e métodos de trabalho clínico tem sido descritos pela Psicanálise
para o atendimento de pessoas enquadradas no diagnóstico de TEA?”. Para tanto, utilizou-se como
método a Revisão Integrativa da Literatura e foi realizada uma busca nas bases de dados SciElo e
Foram encontrados 142 artigos, dos quais 16 foram selecionados para a análise final, conforme os
seguintes critérios de inclusão: artigos científicos, publicados em português, entre os anos de 2012 e
2022, que não fossem revisão da literatura ou relatos autobiográficos. A análise dos artigosindicoua
prevalência das teorias psicanalíticas de autores lacanianos como Marie Christine Laznik, Alfredo
foram: manejo dos objetos autísticos, grupos terapêuticos, música, tratamento dos familiares,
de artigos que atenderam aos critérios de inclusão foi relativamente extenso, considerando a
especificidade do tema ea relação primária com o Outro foi o tema principal discutido sobre as
prática centrada na dupla terapeuta-paciente também foi um dado presente nos artigos, o queindicou
que o trabalho clínico com pessoas com TEA expande os muros do setting clássico.
diagnosedwith ASD, according to data from the World Health Organization. Therefore,
careofpeopleframed in the diagnosisof ASD?". For thispurpose, the Integrative Review wasused as
scientificarticles, published in Portuguese, between the years 2012 and 2022, thatwerenotliterature
Jerusalinsky, Rosine and Robert Lefort and Ângela Vorcaro. The mainclinicalmethodsusedwere:
the articles, whichindicatesthat the clinicalworkwithpeoplewith ASD breaks down the wallsof the
classicalpsychoanalytic setting.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................................................... 10
METODOLOGIA................................................................................................................... 13
RESULTADOS ....................................................................................................................... 16
Caracterização das publicações............................................................................................. 19
Psicanalistas referidos ........................................................................................................... 20
Hipótese etiológica do TEA .................................................................................................. 21
Técnicas de intervenção utilizados na clínica psicanalítica de pessoas com TEA ............... 22
DISCUSSÃO ........................................................................................................................... 24
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 28
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 29
7
INTRODUÇÃO
diferentes contextos sociais. No que tange ao diagnóstico diferencial, por sua vez, esses
sintomas não são melhores explicados por atraso do desenvolvimento global ou por
Sadock, Sadock& Ruiz (2016) citam o trabalho de Henry Maudsley (1887) com
observação de crianças com comportamento atípico como uma das primeiras descrições do
TEA na literatura. Entretanto, o estudo realizado pelo médico austríaco Leo Kanner,
uma tentativa de produzir um diagnóstico diferencial com a psicose. Até os anos 1980, os
“esquizofrenia infantil”, até que em 1986 foi publicada a 3° edição do DSM em que o autismo
foi reconhecido como uma condição específica e incluído na classe de Transtornos Invasivos
que hoje seja de conhecimento que crianças com autismo possam desenvolver transtorno
Gonçalves et. Al. (2017) situam o caso Dick descrito por Melanie Klein em 1930,
como o primeiro registro da relação entre psicanálise e autismo que seguiu sendo amplamente
explorada pela literatura. Em torno das dificuldades de se caracterizar o autismo,uma vez que
dentre os quais pode-se citar: Bruno Bettelhim, Margareth Mahler, Donald Meltzer, Serge
organicistas” visto que o autismo era caracterizado por eles como uma síndrome causada por
um cuidado parental falho, devido à uma falha externa e não inata ao bebê. Entretanto, neste
mesmo período, em meados do século XX, as discussões em torno do tema ainda tiveram
como protagonistas outras duas hipóteses, são elas: a organicista, na qual o autismo seria uma
pioneirismo no que se refere os estudos do TEA, vem sido deslegitimado como nos aponta
Gonçalvez et Al. (2017). É imprescindível realizar revisões que possam além de mapear as
9
o atendimento multiprofissional a pessoas com TEA que constitui um direito dessa população
.
10
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O termo autismo foi inicialmente descrito por Eugene Bleuler em 1911 para explicar
do qual retirou a referência à paixão (eros), para explicar um investimento do sujeito sobre si
que não partia da ordem da libido ou sexualidade, mas que resultava em um interesse maior
caracterizou o autismo como uma fase normal do desenvolvimento descrita como “autismo da
mãe. O autismo enquanto síndrome, por outro lado, segundo a autora, corresponderia na
baseada nos objetos autísticos. Para Tustin, crianças com autismo elegem objetos que
tentativa por parte do sujeito de se distanciar de tudo aquilo que se refere ao não-eu. Para a
autora, o uso compulsivo desses objetos seria responsável por prejudicar a capacidade
simbólicade modo que a retirada desses objetos foi uma das técnicas de intervenção adotadas
pela psicanalista, na tentativa de tornar seus pacientes mais suscetíveis à influência externa
precipitador do quadro de autismo o desejo por parte de um dos pais que seu filho não
narcisistas –eram vivenciadas pelas crianças como sentimentos de rejeição o que fazia com
Tustin acerca dos objetos de interesse da criança com TEA e defendeu a sua permanência e
uso destes no tratamento infantil, por acreditar na função protetora destes. De modo que
passou a defender uma intervenção com apoio desses objetos a fim de facilitar o
Em seu seminário 10, denominado “A angústia”, Lacan (2006), faz menção ao “gozo
autístico” para falar de uma relação de sujeito com objeto de desejo que não passa pelo
Muitos psicanalistas lacanianos foram influenciados por essa proposição e escreveram teorias
a fim de caracterizar o autismo, dentre os quais podemos citar a de Laznik (1997). Segundo a
autora, reconhecida pela defesa do tratamento precoce, o autismo seria caracterizado por um
não fechamento do circuito pulsional. De modo que o sujeito não conseguiria se colocar
ativamente como objeto de desejo do outro, não passando, portanto, pelo processo de
alienação na linguagem.
britânico, discordava que o autismo seria uma categoria diagnóstica distinta da esquizofrenia
o que fez com que ele chegasse a afirmar que a doença do autismo não existiria.Ainda assim,
propôs que aqueles que apresentavam os sintomas conhecidos por “autismo” não teriam
Segundo Winnicott (1982), pacientes cuja análise precisa incidir sobre os primeiros
manejo clínico. Nesse sentido, Januário (2012) afirma que a prática clínica com crianças
com esses pacientes em detrimento da interpretação por meio de dispositivos clínicos como o
holding e o brincar. A construção desta relação analítica tem como objetivo prover um espaço
potencial para que a análise atue como um processo de constituição psíquica e retomada do
desenvolvimento emocional.
Uma grande contribuição de Winnicott foi sua discussão sobre importância do brincar
Estima-se que a cada 370 crianças uma é autista, tendo aproximadamente 40.000
redor do mundo segundo a Organização Mundial de Saúde (Duarte et Al., 2016). Diante desse
alto índice de diagnósticos, o presente Trabalho de Conclusão de Curso teve como objetivo
pesquisar estudos publicados nos últimos 10 anos desde a vigência da Lei Berenice Piana
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de caráter exploratório e descritivo que utilizou a metodologia
de estudos com diferentes tipos de metodologias (Sousa, 2017).O presente estudo pretendeu
trabalho clínico tem sido descritos pela Psicanálise para a clínica com pessoas enquadradas no
publicados nos últimos dez anos (2012-2022), desde a vigência da Lei Berenice Piana
(12.764/2012)que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da pessoa com TEA
nas basesde dados SciElo e LILACS. Para tanto, foram utilizados os descritoresAutismo e
Psicanálise, com o operador booleano „AND‟ entre ostermos, sendo o critério de inclusão ter
a clínica psicanalítica com pessoas enquadradas no diagnóstico de TEA como tema dos
literatura.A análise dos estudos teve como base quatro variáveis: A)Caracterização das
Em uma busca preliminar nas bases de dados foram encontrados 142 artigos, sendo
que 28 destes foram encontrados na base de dados SciElo e 114 na base de dados
LILACS.Estes tiveram seus títulos e resumos submetidos a uma triagem de acordo com os
excluídos por falta de acesso gratuito e 18 por não mencionarem hipóteses etiológicas do TEA
Figura 1
Fluxograma de busca
Ele
gib Artigos lidos integralmente
ilid (n = 34)
ad
e
Artigos excluídos por
tangenciamento do tema
(n = 18)
Inc
luí Artigos incluídos na revisão
do
s (n = 16)
16
RESULTADOS
Tabela1
Artigos incluídos na Revisão da literatura
Rosine e Robert
Lefort,
AngelaVorcaro,
Jean Claude
Maleval,
8 Barroso (2019) Psicologia em Estudo teórico Jacques Lacan
Revista
9 Marfinati e Estilos da clínica Estudo Jacques Lacan,
Abrão (2019) historiográfico Marie Christine
Laznik, Maria
Christina
Kupfer,Donald
Winnicott
10 Almeida e Neves Estilos da clínica Relato de caso Winnicott, Maud
(2017) Manoni, Marie
Christine
Laznik,Ângela
Vorcaro e Alfredo
Jersualinsky
11 Lavrador e Estilos da clínica Relato de Jacques Lacan,
Merletti (2017) experiência Maud Manoni,
Sigmund Freud,
Marie Christine
Laznik. Maria
Christina Kupfer
12 Gonçalves (2017) Estilos da clínica Estudo de caso Jacques Lacan,
Sigmund Freud,
Françoise
DoltoAlfredo
Jerusalinksy,
13 Vorcaro (2016) Estilos da clínica Estudo teórico Jacques Lacan.
Sigmund Freud,
Donald Winnicott.
14 Silva (2014) Jornal de Relato de Donald
Psicanálise experiência Winnicott,,Donald
Meltzer, Wifred
Bion
15 Leiras e Batistelli Estilos da clínica Relato de caso Sigmund Freud,
(2014) Donald Winnicott,
16 Wajntal (2013) Estilos da clínica Estudo teórico Donald Winnicott,
18
Jacques Lacan
19
psicanálise (14) e 8 artigos em uma mesma revista de Psicologia Clínica com ênfase em
problemas da infância (7, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16) a Estilos da Clínica da Universidade de
estado de São Paulo, em que 11 artigos foram publicados em revistasdeste estado (3, 4, 7, 9,
10, 11, 12, 13, 14, 15, 16). Além disso,2 artigos foram publicados em revista do estado de
Minas Gerais (6,8), 1 em revista do Paraná (2), 1 em Brasília-DF (1) e 1 no Rio de Janeiro (5).
Ainda sobre as revistas, eleitas para a publicação dos 16 artigos examinados, a maioria
Estaduais e Particulares (2, 3, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16), com exceção da revista
apresentou vinhetas clínicas para ilustrar os conceitos que estavam sendo discutidos.Os 8
I
Segundo Freitas e Jabbour (2011) o estudo de caso reúne informações detalhadas e sistemáticas sobre um
fenômeno.
II
Segundo Yoshida (2007)o relato de caso é uma metodologia que não é considerada uma fonte científica de alto
nível, mas é uma importante fonte de informação que é usada na área da saúde e pode fornecer subsídios para o
melhor tratamento dos pacientes com a descrição do caso.
20
educação terapêutica(11).
Em relação aos autores, Ariana Lucero teve autoria em três artigos (2, 3, 5) e Ângela
Vorcaro em dois (13, 5) sendo que um dos artigos em questão foi de autoria conjunta das
autoras. Enquanto que os demais autores não se repetiram ao longo das publicações. Quanto
aos anos de publicação, nenhum artigo selecionado foi publicado no ano de 2012,8 artigos
Psicanalistas referidos
Dentre os psicanalistas referidos nos artigos, observou-se que 93% referenciaram Jacques
autismo, são eles: Marie Christine Laznik, Rosine e Robert Lefort, Ângela Vorcaro e Alfredo
1,3,11,13)foi o segundo autor mais citado principalmente no que concerne aos conceitos de
pulsão e autoerotismo.
Em relação aos Psicanalistas reconhecidos por seus estudos da infância apareceram nos
artigos: Frances Tustin (5,14) Donald Winnicott (artigos 10,13,14,15,16), Françoise Dolto
(artigos 12) e Bruno Bettelhin (artigo 5). Em relação a Donald Winnicott e Wifred Bion um
achado relevante é que mesmo em artigos em que os autores não foram diretamente
explicar processos de subjetivação e intervenção. Alguns autores foram citados apenas uma
vez como Maud Manoni (artigo 10), psicanalista reconhecida por seu trabalho institucional,
Donald Meltzer (Artigo 14) um psicanalista de orientação kleiniana, reconhecido também por
ter formulado uma teoria sobre o autismoe Maria Christina Kupfer (9, 11) psicanalista
para etiologia do autismo, mas seus conceitos foram citados como forma de compreender o
Dentre os 16 artigos selecionados para a revisão apenas 8 (artigos 2, 3, 7, 8, 9, 10, 11, 12)
mencionaram hipóteses etiológicas para o TEA. Desses 8, apenas 1(artigo 8) fez uma breve
menção, de maneira crítica, a outros campos do saber que também estudam a etiologia do
autismo como a genética e a neurociência. A hipótese predominante nos artigos foi a de Marie
Christine Laznik (artigos2, 3, 9, 10, 11,12) de que uma incompletude no circuito pulsional da
circuito pulsional que é organizado em três fases (ativa, reflexiva e passiva), Laznik (2004)
explica que crianças com TEA não passariam da fase reflexiva para a fase passiva em que a
citadas foram as de Alfredo Jerusalinsky (2, 10, 12), Rosine e Robert Lefort (7, 8) e Ângela
Em três artigos examinados (2, 10, 12), encontramos uma referência à Jerusalinsky no que
medida em que o bebê se faz presente nas fantasias da mãe. Os gestos, olhares e palavras
direcionados ao bebê antecipam um sujeito, de modo que este sujeito é convocado a advir.
Acontece que quando esta antecipação não ocorre há uma predisposição à síndrome do
autismo.
Quanto à Ângela Vorcaro a autora foi citada em 3 artigos (2, 7, 10) e também foram
encontrados artigos de sua autoria na pesquisa às bases de dados. Vorcaro (2016) recorre aos
três registros postulados por Lacan (real, simbólico e imaginário) para explicar o autismo.
da fantasia e do desejo acontece mediante o processo de separação com o Outro que passaria a
22
ser identificado como faltoso.No autismo, entretanto, esta separação não ocorreria, de modo
que a relação entre os três registros ficaria trançada e o imaginário seria excluído da relação
O trabalho dos autores lacanianos Rosine e Robert Lefort foi citado em 2 artigos (7, 8).
Para estes autores, um dos impasses que contribuem para o desenvolvimento do autismo é a
ausência do Outro. No autismo, o Outro não existe de maneira simbólica, uma vez que não
ocorreu a inscrição da sua falta. Com isso, uma tentativa de inscrever o real nessa falta é
empreendida.
colapso depressivo devido à ausência materna (artigo 5). De outra forma, os artigos 14 e 15
apresentados. Nesse sentido o relacionamento deficitário entre mãe e filho foi pontuado como
uma das possíveis causas, ainda que a imprecisão das próprias causas e limitação da
mencionado.
As técnicas de intervenção mencionadas nos artigos eleitos para análise foram muito
diversas, mas de certa forma se repetiram ao longo das produções. O manejo dos objetos
autísticos dentro do setting foi mencionado em cerca de 88% dos artigos, sendo a técnica de
maior prevalência dentre os escritos. O uso da música como objeto de intervenção foi
mencionado em cerca de 38% dos artigos e os grupos terapêuticos com crianças foram
mencionados nos artigos 2, 3,4, 11 e 16. O tratamento dos familiares também foi umatécnica
de alta frequência nos artigos eleitos (1,4,9,14,16) e mesmo em artigos em que este tratamento
23
não foi necessariamente mencionado, a reunião com a família foi tida como necessária (3,10),
A “prática entre vários” para o tratamento de crianças com TEA foi mencionada em 4
artigos (1, 4, 8, 9). Esta prática se justifica à medida em que permite diluir a transferência
entre vários profissionais, a fim de evitar que sentimentos de intrusão suscitados na pessoa
com TEA no contato com o Outro sejam predominantes. Outras técnicas mencionadas foram
a construção do caso clínico (4, 8) e a supervisão (3, 4), dispositivos estes que expandem a
também foram mencionados para a gravação das sessões com o objetivo de facilitar o trabalho
O principal objetivo apontado pelo tratamento analítico de pessoas com TEA foi a
de relação com o Outro(4, 8, 9, 10, 13), a fim de que seja possível a estes sujeitos socializar
com outras pessoas, mas que isso não seja vivenciado de maneira tão intrusiva como costuma
ser. Já o trabalho do analista foi referido (10,15) como um trabalho de intérprete em que é
necessário traduzir o que a criança está sentindo, tanto para o próprio sujeito a fim de gerar
marcas significantes, como para a própria família que em muitos momentos não compreende
DISCUSSÃO
TEA. A hipótese C, por outro lado, que se refere às atividades lúdicas foi refutada, uma vez
que as técnicas de trabalho mais utilizadas foram o manejo dos objetos autísticos, os grupos
sua dimensão enigmática e estrutural com foco na relação primordial com o Outro. A
desenvolvimento, tampouco postula fases evolutivas pelas quais os sujeitos devem passar.
um funcionamento sintomático que produz efeito na trançagem dos três registros (imaginário,
simbólico e real). Indicando que, quando a relação primária com o Outro não é capaz de
7).
que podem influenciar na gênese do autismo foi feita por apenas dois artigos, o que reflete
uma diminuição da referência ao paradigma da mãe geladeira proposto por Kanner (1943) que
foi tão influente para a discussão em torno do autismo em meados do século passado. Tal fato
apresentar uma postura mais cautelosa ao discorrer sobre maternagem e autismo (Guimarães
&Tachibana, 2021).
25
majoritária dos autores foi que não se deve retirar esses objetos, devendo-se trabalhar com
eles, visto que são fonte de animação libidinal para os pacientes. Contudo, entendeu-se
também como necessário trazer outros objetos que possam se somar a estes de afeto dos
do posicionamento defendido por Bettelhim(1967) de que a clínica com crianças autistas deve
utilizar os objetos autísticos como apoio a fim de desenvolver uma relação com a criança.
Lucero, Vivés e Rosi (artigo 2) relatam uma experiência em um CAPsi, que parece
brincadeira com uso de cantigas infantis que a paciente gostava. Com o tempo a criança
dominar o sujeito autista. Autores como Calzavara e Calazans (2022) defendem uma clínica
proposto por Jacques Allan Miller, que serve-se do múltiplo e que estabelece que todos
implicação conjunta dos profissionais que apostam no sujeito e colaboram em sua capacidade
dos pacientes que não busquem necessariamente a saída do autismo, mas a saída do mundo
Este mundo assegurado parece fazer referência ao conceito de fortaleza vazia de Bettelhin
(1967) que se refere à uma defesa construída pelo sujeito em virtude de uma rejeição materna.
26
Foi consenso entre os autores que as defesas autísticas precisam ser respeitadas e que o
trabalho analítico precisa partir delas e não tentar destruí-las, a fim de tentar inserir os
pacientes na realidade, mas de maneira que respeite a sua singularidade e o seu processo
de maneira que o seu desejo precisa ser levado em consideração por constituir um elemento
motor da terapia. O analista imerso em seu desejo precisa antecipar um sujeito na pessoa
autista, antes mesmo que haja um e trabalhar em conjunto com outros profissionais, pois o
Lacan (2003), quando se fala sobre esse tipo de atendimento, a história singular infantil
precisa ser interpretada com base no desejo dos pais. Assim o trabalho clínico deve ter como
orientação a história familiar e o modo como a criança articulou: o saber, o objeto, a falta, o
gozo e o campo do Outro, de maneira que o desejo seja uma direção e a singularidade seja
Como a fala do autista não mediadora de transferência, é a recusa da fala que instaura o
vazio sobre o qual o analista se coloca a trabalho. E cabe ao analista a função de criar
para a criança a fim de restituir a preocupação materna primária, (artigos 7, 10).No caso de
pacientes em que não há fala, o desenho foi descrita como uma técnica terapêutica importante
de ser utilizada, pela possibilidade de substituir a associação livre por permitir a expressão e
Quando se fala sobre preocupação materna primária, existe uma clara referência à Donald
boa foi mencionado como um dos papéis do analista no setting bem como o uso do holding
psicanalítico que,mesmo com a prevalência da teoria de Jacques Lacan, flerta com alguns
como propulsor do desenvolvimento subjetivo, mas o escopo dos artigos nos aponta para o
olhar do Outro que convide o bebê e insira-o no mundo simbólico. Além disso, é necessário
desenvolver um cuidado clínico para pessoas com TEA que envolva uma equipe, que trabalhe
com as próprias defesas do autista e nomeie o mundo e suas emoções para ele, para que
CONSIDERAÇÕES FINAIS
pessoas dentro do espectro autista, tem sido descritas na literatura nos últimos 10 anos. Dessa
forma, observou-se a prevalência da Psicanálise Lacaniana como teoria base dos estudos e a
relação primária com o Outro como elemento preponderante para a compreensão etiológica
do transtorno. Osprincipais métodos clínicos utilizados foram o manejo dos objetos autísticos,
clínico, prática entre vários e o desenho. Esses métodos tiveram como principal objetivo a
invenções particulares.Duas das três hipóteses postuladas foram corroboradas com exceção
sobre a importância de métodos clínicos que facilitem o contato menos intrusivo do paciente
com o Outro.
Dada a limitação do presente trabalho que utilizou apenas duas bases de dados e se
restringiu ao território nacional como local das publicações, reconhece a necessidade de mais
estudos que ampliem a discussão sobre a temática, principalmente estudos com metodologia
empírica, para que, aos poucos, seja possível delinear e aprimorar uma clínica ética,
preocupada com a saúde, mas principalmente que respeita a singularidade de todos aqueles
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