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Dorca Eulália Francisco Nhaca Ismael

Docente

MCS. Manuel Tapela Chicava

Módulo

Diagnóstico de Intervenção Psicoterapêutica

Tema

PSICOTERAPIA BREVE NA PSICANALÍTICA

Instituto Superior Politécnico de Comunicação e Tecnologia

Alberto Chipande

Pemba

Agosto de 2021
RESUMO

Este trabalho discute o lugar do diagnóstico na psiquiatria e na psicanálise, bem como seus
efeitos para a condução do tratamento. Na psiquiatria aborda, a partir da história das
sistematizações diagnósticas, os elementos presentes na constituição dos quadros
psicopatológicos. No campo da psicanálise aponta a diferença dessa abordagem
diagnóstica frente à psiquiatria, através de estudos de comentadores que se debruçaram
sobre o tema na perspetiva Freud-Lacaniana.e outros. O diagnóstico carrega em si a
pretensão de dar um veredicto, enunciar uma verdade sobre o sujeito. No campo da saúde,
o trabalho diagnóstico baseia-se em variáveis observáveis, em que a regularidade, ou, a
repetição das ocorrências, determinam o tipo de intervenções, a partir de uma relação
causa/efeito. No diagnóstico estrutural em Psicanálise o saber é construído ao longo de
uma atividade, a relação terapêutica, sendo a ênfase colocada na interação entre dois
sujeitos, no qual o único instrumento disponível é a escuta do analista, na dimensão do
discurso do analisando, para delimitar o campo de investigação - que é a estrutura do
sujeito, o que implica em uma avaliação subjetiva. Pela forma em que se dispõe a fazer um
diagnóstico pode-se colaborar para desconstruir as categorias psicopatológicas, e adentrar
na gênese da formação dos processos e na dinâmica dos mecanismos clínicos. Para
ilustrar essa discussão apresenta-se um caso clínico que ilustra a rotulação proveniente de
um diagnóstico dado às pressas. Nesse sentido, a reflexão técnico-teórica, discute o
diagnóstico diferencial a partir da construção diagnóstica clínica e da psicanalítica. Conclui-
se que o erro no reconhecimento de um diagnóstico pode levar a condução clínica que nem
sempre é a melhor para o paciente, se essa não for passível de ser colocada a prova e
revisada.

Palavras Chave: Diagnóstico psiquico, Psicanalítico, neuroses


ABSTRACT

This paper discusses the place of diagnosis in psychiatry and psychoanalysis, as well as its
effects on the conduct of treatment. In psychiatry, from the history of diagnostic
systematizations, it addresses the elements present in the constitution of
psychopathological conditions. In the field of psychoanalysis, it points out the difference of
this diagnostic approach in relation to psychiatry, through studies by commentators who
have focused on the theme from a Freud-Lacanian perspective.

The diagnosis carries with it the pretension of giving a verdict, stating a truth about the
subject. In the field of health, the diagnostic work is based on observable variables, in which
the regularity, or the repetition of occurrences, determine the type of interventions, based
on a cause/effect relationship. In the structural diagnosis in Psychoanalysis, knowledge is
built along an activity, the therapeutic relationship, with the emphasis placed on the
interaction between two subjects, in which the only instrument available is the analyst's
listening, in the dimension of the analysand's discourse, to delimit the field of investigation -
which is the structure of the subject, which implies a subjective evaluation. By the way in
which one is willing to make a diagnosis, one can collaborate to deconstruct the
psychopathological categories, and enter the genesis of the formation of processes and the
dynamics of clinical mechanisms. To illustrate this discussion, a clinical case is presented
that illustrates the labeling coming from a diagnosis given in haste. In this sense, the
technical-theoretical reflection discusses the differential diagnosis from the clinical and
psychoanalytic diagnostic construction. It is concluded that the misrecognition of a diagnosis
can lead to clinical management that is not always the best for the patient, if this cannot be
tested and revise.

Key Words: Psychic Diagnosis, Psychoanalytic, Neuroses.


CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem, como tema, as reflexões, no campo da psicologia, relacionadas a


Psicoterapia Breve na Psicanalítica. O trabalho consiste em uma revisão bibliográfica, de
carácter exploratório, acerca do tema apresentado. Tem-se como objetivo, conceituar a
diferença entre psicodiagnóstico interventivo e psicoterapia, bem como, o que marca a
semelhança entre eles. E isso somente se tornará viável através da reflexão sobre a prática
desses dois processos.

Enfocaremos a psicoterapia breve de orientação psicanalítica, como uma prática


psicoterápica legítima, válida e, muitas vezes, como uma indicação absolutamente precisa
para determinado tipo de paciente.

Objetivamos com a apresentação deste trabalho, poder dar uma ideia da Psicoterapia
Breve e, principalmente dar a ela o lugar que lhe cabe enquanto uma prática psicoterápica
absolutamente lícita, fundamentada e que, em alguns casos, se faz necessária frente à
demanda que se nos apresenta por determinados pacientes, onde uma questão de "tempo"
deverá ser entendida como algo real e não como uma "defesa" em relação à psicanálise,
por exemplo. Entendemos também que a psicoterapia de objetivos e tempo limitados acaba
por satisfazer uma necessidade assistencial, mesmo que em certos casos não seja a
indicação mais adequada.

O trabalho tem importância para profissionais e estudantes da área da psicologia, tendo,


como foco, colaborar para a melhor e mais ampla compreensão do assunto apresentado.
O Psicodiagnóstico é o processo de avaliação onde o principal objetivo é identificar e
compreender a queixa e os possíveis distúrbios que o cliente apresenta para que o
terapeuta consiga formular hipóteses diagnósticas mais precisas relacionadas às questões
levantadas.

O trabalho aborda o lugar do diagnóstico psiquiátrico e psicanalítico, além de apontar para


a condução diagnóstica no campo da psiquiatria e da psicanálise de orientação Freud-
lacaniana. Inicialmente tratamos do conceito do diagnóstico em sua relação com a
psiquiatria, desde sua base com a medicina até os tratados de construção de manuais
diagnósticos. Em seguida, abordamos o diagnóstico na psicanálise através de
comentadores que, referidos às obras de Freud e Lacan, discutem o conceito. Diferente da
clínica médica, a clínica psicanalítica apresenta uma acepção muito peculiar do diagnóstico.
Esse não é realizado de maneira objetiva e direta, ou seja, de acordo com o conjunto de
sintomas definindo imediatamente a doença ou distúrbio.

Como perspetiva clínica, a atuação profissional do psicanalista, não se vale de roteiros


previamente definidos a serem seguidos. Os roteiros fenomenológicos que orientarão a
investigação devem ser estabelecidos dentro do espaço analítico, a partir da condição de
transferência, para determinar a direção do tratamento. A precipitação em estabelecer o
diagnóstico, sob o risco de rotular o paciente em uma patologia, pode empobrecer, em
muito, a escuta, ao torná-la hipersensível a certas falas do sujeito e/ou surda a outras
(Coutinho, 2007).

1.1 Objetivos

Objetivo Geral

● Mostrar o conceito e a finalidade do Psicodiagnóstico como um processo técnico de


coleta e análise de sinais orientando um processo terapêutico.

Objetivos Específicos

● Fazer levantamento de vantagens do Psicodiagnóstico para apurar a necessidade e


importância do mesmo na terapia

● Compreender qual a origem histórica e filosófica da psicoterapia, e sua evolução até


a atualidade.

● Explicar a aplicação do diagnóstico no processo de interação do cliente e terapeuta


ou analisante.
CAPÍTULO II: METODOLOGIA

Este estudo consistiu em uma pesquisa bibliográfica por meio de leituras e de carácter
analítico a respeito da Psicoterapia Breve na Psicanlítica, abordando, especificamente,
neuroses de transferência, diagnóstico psíquico e psicanalítico e relação do emaocional do
terapêuta diante do paciente do tipo N, P e EL. As descobertas que aplicam intervenções
psicológicas nos diferentes modelos terapêuticos apresentados aos clientes que procuram
soluções para os seus problemas.

O estudo obedece uma estrutura feita de resumo, introdução, desenvolvimento,


considerações finais e a respetiva ficha de referências bibliográficas. A colecta de dados e
informação, foi realizada no período de 27 de Julho a 12 de Agosto de 2021, e utilizou-se
para a pesquisa a lista de literatura apresentadas no último capítulo do presente trabalho.

2.1 Contextualização

Etimologicamente, psicodiagnóstico é o conhecimento de sintomas psíquicos, vem de


diagnostikos = hábil em discriminar, em discernir, de gnosis = conhecimento. O
psicodiagnóstico é uma avaliação psicológica feita com propósito clínicos, portanto, não
abrange todos modelos de avaliação psicológica de diferenças individuais. É um processo
que visa identificar fraquezas e forças no funcionamento psicológico, com um foco na
existência ou não de psicopatologia. O psicodiagnóstico derivou da psicologia clínica,
introduzida por Lighter Witmer, em 1896, e criada sob a tradição da psicologia acadêmica
e da tradição médica. Consta que nem ao fundador da psicologia clínica agradou a
designação “clínica”, adotada apenas por falta de melhor alternativa (Garfield, 1965).

O psicodiagnóstico é uma avaliação feita com o propósito de identificar sintomas que


possibilitem a compreensão do momento pelo qual o sujeito está passando, bem como
buscar fatores que o ajude em possíveis saídas para enfrentar os conflitos vividos. Para tal,
é preciso desenvolver um plano de avaliação com o objetivo de programar a aplicação dos
instrumentos adequados e específicos para cada sujeito na busca de respostas para as
perguntas iniciais. Ainda Cunha segue afirmando que:

Psicodiagnóstico é um processo científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e


testes psicológicos, em nível individual ou não, seja para entender problemáticas à
luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos, seja para
classificar o caso e prever seu curso possível, comunicando os resultados, na base
dos quais são propostas soluções, se for o caso (Cunha, 2000, p. 26).

O psicodiagnóstico pode ser compreendido como uma forma específica de avaliação


psicológica, conduzida com propósitos clínicos e visando identificar forças e fraquezas no
funcionamento psíquico, tendo como expectativa a descrição e compreensão, o mais
profunda e completamente possível da personalidade do paciente ou do grupo familiar
(Cunha, 2002; Campo, 2003).

Psicodiagnóstico é um processo científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes


psicológicos (input), em nível individual ou não, seja para entender problemas à luz de
pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos, seja para classificar o caso
e prever seu curso possível, comunicando os resultados (output), na base dos quais são
propostas soluções, se for o caso. Essa investigação se configura como um processo
científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes psicodiagnósticos, seja para
entender problemas à luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos
específicos, seja para classificar o caso e prever seu curso possível, comunicando os
resultados, a partir dos quais são propostas soluções

A realização de um diagnóstico é importante para a organização e orientação de uma


proposta de tratamento. A partir daquele, define-se as ações prioritárias deste. Não
obstante, é frequente se observar casos em que a melhora do quadro clínico não se
evidencia. Nestes é comum se verificar que o tratamento realizado encontra-se inadequado
em função de um diagnóstico equivocado (Arzeno, 1995; Cunha, 2003; Duarte, 2013).
CAPÍTULO III: CORPO TEÓRICO

A psicoterapia breve psicanalítica, delineada neste texto, tendo a psicanálise como


referência, apresenta dois elementos constitutivos: o limite de tempo previamente
estabelecido para a terapia e a presença de um foco. Por convenção, o prazo máximo para
uma psicoterapia breve é de um ano, podendo durar alguns meses ou algumas sessões.

Alguns autores propuseram outras denominações, como Balint 1e a psicoterapia focal, ou


como Sifneos2e a psicoterapia breve provocadora de ansiedade, por exemplo. O termo
psicoterapia breve, embora inadequado porque o "breve" não é o indicativo maior dessa
forma de terapia, é universalmente aceito e utilizado, tanto em livros quanto em revistas
especializadas e congressos.

Quem trabalha com Psicoterapia Breve é alvo de críticas, fruto de posições teóricas ou do
desconhecimento a respeito do assunto. Quem trabalha com psicanalítica sofre duplo
preconceito: por parte dos psicanalistas, que a consideram menor diante da análise
clássica, e por parte dos teóricos da Psicoterapia Breve. Estes, em sua maior parte,
defendem outras formas de Psicoterapia Breve: egóica, psicodinâmica, psicodramática,
gestáltica, comportamental, cognitiva, por exemplo, e não consideram plausível manter o
método da psicanálise em um trabalho com tempo limitado.

3.1 Origens

Freud realizou tratamentos de curta duração. Ferenczi, por exemplo, realizou duas análises
com Freud: três semanas em 1914 e mais três, então com duas sessões ao dia, em 1916.
Freud refere-se a conceitos atinentes ao indivíduo em si, como libido, deslocamento,
condensação, resistência, pulsão, etc., e o conceito de relação de objeto não está presente
em sua obra, embora ele não o ignorasse. Freud estava mais interessado na teoria
(metapsicologia) do que na clínica e preocupava-se com a cientificidade do seu corpo
teórico, preferindo escapar da relação terapêutica, que ele considerava passível de ser
criticada como subjetiva.

Em 1937, em Análise terminável e interminável, um de seus últimos escritos, Freud ratifica


essa posição. Freud, enfim, não propôs nenhuma modificação técnica por muitos anos,
tendo até mesmo se oposto a elas. A Psicoterapia Breve, então, pode ser vista como
desviante, porque implica em maior presença do analista, visto preconceituosamente como
alguém “ativo”, ou seja, ele adquire uma atitude “não psicanalítica”. A proposta freudiana
permite e induz o analista a ficar mais tempo em silêncio, sendo comprometedora sua
intromissão. Para Freud, é a 20 construção (ou reconstrução) do passado que importa
(Hegeberg, 2010).

A interferência da pessoa real do analista é um ruído, é prejudicial à análise, que deveria


ser análise do cliente e não do terapeuta. Analisando o tempo, as terapias tornaram-se mais
longas. Enquanto Freud, ao enfrentar resistências dos pacientes, propunha um
aprofundamento da metapsicologia, Ferenczi4preocupava-se com a práxis, com o estudo
da relação terapêutica e com a contratransferência. Freud pretendia que seu arcabouço
teórico fosse reconhecido como científico e não como técnica psicoterápica, considerada
subjetiva, enquanto Ferenczi priorizava orientação psicoterapêutica. Para ele, a questão
principal não seriam as lembranças, ou as construções em análise, mas a vivência dos
conflitos do cliente na relação transferencial. Ferenczi acreditava que essa abordagem
poderia encurtar o tempo da terapia, porque a rememoração do infantil não seria obrigatória
em todos os seus detalhes (Hegeberg, 2010).

A maioria dos autores de Psicoterapia Breve, embora preserve vários aspectos da


metapsicologia freudiana, se afasta da psicanálise ao evitar a interpretação transferencial,
para não favorecer a neurose de transferência, ao deixar de trabalhar com as associações
livres e ao contrariar a regra da neutralidade em nome da maior atividade.

3.2 Psicoterapia Breve Psicanalítica e Psicanálise

A psicoterapia breve psicanalítica, delineada neste texto, tendo a psicanálise como


referência, apresenta dois elementos constitutivos: o limite de tempo previamente
estabelecido para a terapia e a presença de um foco. Por convenção, o prazo máximo para
uma psicoterapia breve é de um ano, podendo durar alguns meses ou algumas sessões.

Alguns autores propuseram outras denominações, como Balint1e a psicoterapia focal, ou


como Sifneos2e a psicoterapia breve provocadora de ansiedade, por exemplo. O termo
psicoterapia breve, embora inadequado porque o "breve" não é o indicativo maior dessa
forma de terapia, é universalmente aceito e utilizado, tanto em livros quanto em revistas
especializadas e congressos.
Quem trabalha com psicoterapia breve é alvo de críticas, fruto de posições teóricas ou do
desconhecimento a respeito do assunto. Quem trabalha com Psicoterapia Breve
psicanalítica sofre duplo preconceito: por parte dos psicanalistas, que a consideram menor
diante da análise clássica, e por parte dos teóricos da Psicoterapia Breve. Estes, em sua
maior parte, defendem outras formas de Psicoterapia Breve: egóica, psicodinâmica,
psicodramática, gestáltica, comportamental, cognitiva, por exemplo, e não consideram
plausível manter o método da psicanálise em um trabalho com tempo limitado.

3.3 Vértice psicanalítico

O que é psicanalítico é sempre questão complexa, pois não há acordo entre os diversos
autores a respeito. Neste artigo, considera-se o vértice psicanalítico como a articulação
entre a teoria psicanalítica e um procedimento determinado. Embora todos os psicanalistas
tenham alguma concepção sobre o inconsciente, a teoria varia de acordo com os diversos
autores, Freud, Klein, Lacan, Winnicott, por exemplo.

Para se situar dentro do vértice psicanalítico, além da teoria, o procedimento considerado


se dá a partir da fixação de quatro pilares fundamentais: a investigação/análise
transferencial, a interpretação, a utilização das associações livres/atenção flutuante e o
respeito à neutralidade.

3.4 Natureza da Angústia

Freud, em seu artigo "Tipos libidinais", de 1931, propõe três tipos psicológicos, classificados
com base na situação libidinal, extraídos da observação e confirmados pela experiência.
Segundo ele, esses tipos devem incidir dentro dos limites do normal e não devem coincidir
com quadros clínicos, embora "possam aproximar-se dos quadros clínicos e ajudar a unir
o abismo que se supõe existir entre o normal e o patológico. Os três tipos são chamados
de tipo erótico, tipo narcísico e tipo obsessivo.

O tipo erótico está voltado para o amor. São dominados pelo temor da perda do amor e
acham-se, portanto, especialmente dependentes de outros que podem retirar seu amor
deles. Variantes suas ocorrem segundo se ache mesclado com outro tipo, e
proporcionalmente à quantidade de agressividade nele presente.

O tipo obsessivo distingue-se pela predominância do superego. São dominados pelo temor
de sua consciência em vez do medo de perder o amor. São pessoas com alto grau de
autoconfiança. Freud, em O mal-estar na civilização, referindo-se ao mesmo tema,
considera o tipo obsessivo como um homem de ação, que "nunca abandonará o mundo
externo, onde pode testar sua força.

O terceiro tipo, denominado narcísico, é independente e não se abre à intimidação. Não


existe tensão entre o ego e o superego e o principal interesse do indivíduo se dirige para a
auto-preservação. Seu ego possui uma grande quantidade de agressividade à sua
disposição, a qual se manifesta na presteza à atividade. O amar é preferido ao ser amado.
Podem assumir o papel de líderes, não se incomodam em danificar o estado de coisas
estabelecido. Tende a ser auto-suficiente, buscará suas satisfações principais em seus
processos mentais internos.

Baseado nos tipos obsessivo, narcísico e erótico apresentados por Freud, pode-se inferir
que eles correspondem, respectivamente e com ressalvas, ao neurótico, psicótico e estado-
limite de Bergerete aos tipos Neurótico (N), Psicótico (P) e Estado Limite (EL) encontrados
em Hegenberg, a partir da noção de organizador utilizada por Aiguer.

Freud alerta, com razão, que os tipos puros são teóricos e que os tipos mistos, EL/N, EL/P,
P/N, por exemplo, são os clinicamente observáveis, a partir da experiência. Os tipos mistos
teriam características de mais do que um dos tipos retratados por Freud; o tipo EL/P, por
exemplo, teria características do tipo EL e do tipo P, compondo um tipo psicológico com
características próprias, singularizadas pela biografia de cada um (Hegeberg, 2010).

Para Freud, esses tipos psicológicos não coincidem com quadros clínicos, mas ajudam a
unir o abismo entre o normal e o patológico. A partir dessa afirmação, pode-se pensar,
baseado em Bergeret, que dentro desses três tipos passa-se da normalidade à patologia,
com variações de grau. Há, pois, o neurótico normal e o patológico, assim como o psicótico
normal34e o patológico e o estado-limite normal e o patológico. Não há um tipo mais
evoluído ou mais saudável do que o outro; os três tipos têm suas vantagens e suas
desvantagens, os três beneficiam-se e sofrem com seu modo de ser.

O tipo N tem no Superego sua instância dominante, sua angústia principal é de castração,
o conflito é entre o Superego e o Id, a defesa é de recalcamento e a relação de objeto é
genital, ou edípica. É o neurótico, é a pessoa total a que se refere Winnicott. São pessoas
distinguidas pela ambição e pela competitividade, com bom controle dos impulsos,
superego severo com defesas obsessivas, relações de objeto triangulares, exibicionismo
sexualizado ou mais ligadas à ordem e parcimônia, obstinadas, insatisfeitas, individualistas,
austeras, racionais e lógicas, teimosas, submetidas a um superego punitivo. Pessoas que
levam o terapeuta a querer competir na relação transferencial ou a se sentir questionado,
incompetente, castrado.

Os aspectos neuróticos levam a pessoa à ação, conquista, busca pelo poder, disputa. A
pessoa pode ser falante, às vezes agressiva, incisiva, acusadora, pode parecer autoritária.
Seu modo de se colocar no mundo sugere alguém empreendedor, agressivo nos negócios,
aparentemente interessado em poder, dinheiro. Ao lidar com a castração, o neurótico
deseja o triunfo de modo fálico e a disputa torna-se imperativa. Competir passa a ser mais
interessante que escutar ou compartilhar, embora a culpa pela conquista possa atrapalhar.
A focalização, nesses casos, passará pelas questões ligadas à castração. Os casos graves
desse tipo são a histeria e o transtorno obsessivo-compulsivo.

O tipo P tem no Id sua instância dominante. Sua angústia principal é de fragmentação, a


relação de objeto é funcional, o conflito é entre o Id e a realidade, e as defesas principais
são a recusa da realidade, a projeção e a clivagem do ego. É o psicótico. Bergeret admite
uma pessoa psicótica normal que tem as mesmas linhas estruturais que o psicótico doente.
Ele critica os aristocratas do Édipo, alertando que a personalidade não precisa se estruturar
na passagem pela triangularidade para ser considerada normal. São pessoas permeadas
pela questão da organização/desorganização, são profundas, mais próximas do Id,
centradas nelas mesmas, estabelecendo delicada relação com o ambiente potencialmente
desestruturado. Alguns são confusos, às vezes são desconfiados, outros são
obsessivamente rígidos para evitar a desorganização. Em geral têm um mundo interno rico,
são criativos, com ideias próprias, em função de a instância dominante ser o Id. Para se
defenderem de uma opinião potencialmente invasiva e desorganizadora, podem parecer
teimosos. O terapeuta, diante desses pacientes, tende a organizá-los. Os casos graves
desse tipo são a esquizofrenia, a paranoia e a melancolia.

O tipo EL tem como instância dominante o Ideal do Ego. A angústia principal é de perda do
objeto, a relação de objeto é de apoio ou analítica, a defesa principal é a clivagem dos
objetos em bom e mau, o conflito se dá entre o Ideal do Ego e o Id e a realidade. Há
conquista superegóica e edípica, mas eles não são os organizadores da personalidade.
Nessas pessoas, a relação é de dependência com o objeto de apoio, fruto do Ideal do Ego
que predomina. O sujeito se defende da depressão, que não é melancólica e que aparece
quando o objecto analítico deixa de apoiar. São questões frequentes o conflito com o outro
a partir da ambiguidade instalada com a equação dependência/ independência. Na relação
transferencial, o terapeuta tende a confortar, a apoiar. São os chamados estados-limite e
seus casos graves são o borderline, a personalidade antissocial e as perversões.

Embora esses conceitos visem facilitar a aproximação clínica com o paciente, deve-se
evitar qualquer visão simplificadora. Todas as pessoas são criativas em maior ou menor
grau, todos se defendem de invasões, todos lidam com a castração, todos têm que lidar
com a angústia de perda do objeto e de fragmentação, todos apresentam as características
apontadas em cada um dos três tipos.

3.5 Reação Emocional Do Terapêuta Diante De Pacientes Do Tipo N, P E El

De acordo com o modelo geral os terapeutas só devem usar suas emoções para objectivos
clínicos. Eles procuram não as expor a não ser por motivos claros e bem definidos. A
exposição de emoções pode introduzir novas perspectivas interpessoais que podem
contribuir para o processo clínico. Apesar dessa restrição, o uso das emoções do terapeuta
pode trazer ganhos secundários ao tratamento do paciente, tanto para sua vida profissional,
quanto pessoal, mesmo não sendo este o objectivo.

Os terapeutas só optam por falar de si na sessão, essas emoções servem como recurso
para diagnóstico e acesso aos problemas do cliente, auxiliam o terapeuta a compreender e
formular melhor o caso, além de servir para intervenções (evocar ou reforçar
comportamentos alvo e enfraquecer comportamento problema). Terapeutas expressam o
que sentem para que o cliente tenha acesso a perspectivas alternativas, desenvolva
consciência da perspectiva do outro e uma compreensão contextual da própria experiência
na interação. Essa abertura pode ainda sustentar interpretações relacionais e introdução
de modelos para novas estratégias interpessoais.

Ao usar o que sente na sessão, o terapeuta passa a ser sua própria ferramenta de trabalho.
Nesse processo, como efeito colateral da atuação, o terapeuta é também transformado,
pois aprende e tem oportunidade de ressignificar questões de sua vida e da sua atuação.

Chama a atenção que os participantes do estudo tipicamente se pautaram na apreciação


pontual da relevância da emoção para os objetivos terapêuticos – e raramente em regras
explícitas – para decidir quando e como utilizar suas emoções. Isso indica um trabalho
muito mais intuitivo que sistematizado e mais baseado na experiência do que na teoria.
3.6 Neurose De Transferência

A Neurose de Transferência, segundo Laplanche e Pontalis (1970) citado por Hegeberg


(2010), “é a neurose artificial em que tendem a se organizar as manifestações de
transferência. A definição mais ampla e moderna é a seguinte: Durante o processo analítico
de certos pacientes com egos e superegos adequadamente integrados, ocorre uma
destilação na qual a percepção do analista se torna cada vez mais reconhecível entrelaçada
com núcleo, organizando complexos de fantasia/memória inconscientes desde a infância.
Este é um fenômeno do processo analítico em certos pacientes com egos e superegos
adequadamente integrados em que a percepção do analista se torna cada vez mais
reconhecível entrelaçada com núcleo, organizando complexos de fantasia/memória
inconscientes desde a infância. Estes carregam o carimbo do conflito édipo, seus
precursores e latência e sequelas adolescentes.

Freud aponta para a necessidade de o paciente respeitar as condições do tratamento, ou


seja, respeitar o enquadre psicanalítico. Fora desse enquadre, ele reconhecia que as
condições para a instalação da neurose de transferência não seriam as mesmas.
Modificando o enquadre, o que ocorre dentro do novo enquadramento sofre alterações.

O conceito aparece em Freud em conjunto com os conceitos de análise e cura. Freud


considerou que apenas pacientes com neuroses de transferência eram tratáveis por
análise. Ele designou a neurose de transferência como uma doença sintomática artificial
que se expandiu no "playground" da transferência enquanto outros sintomas e dificuldades
exte Recentrar os conflitos no analista torna indispensável a análise desta relação em seus
vários aspectos. A neurose de transferência, uma vez instalada, exige tempo para ser
analisada, tendendo a prolongar o tratamento rnas do paciente desapareceram.

Estes carregam o carimbo do conflito édipo, seus precursores e latência e sequelas


adolescentes. O trabalho analítico assume uma intimidade preparada pelo trabalho através
de versões narcisistas desses conflitos fundamentais para que o paciente seja capaz de
experimentar um maior grau de envolvimento libidinal com o analista. A disposição
autônoma do paciente em revelar, explorar e trabalhar com o analista também aumenta.
3.7 Diagnóstico e a Psiquiatria

A classificação, na psiquiatria, é uma parte integral da teoria e da prática da medicina. Vê-


se a presença e a pertinência desse aspecto teórico dentro do campo psiquiátrico, no qual
o diagnóstico tem uma incidência fundamental para o saber do psiquiatra e para a sua
prática . Assim, a história dos diagnósticos se fez intrincada com a da medicina. Desde os
tempos de Hipócrates dedica-se, nessa disciplina que contém uma práxis, a um refinamento
dos métodos de observação para discernir melhor as doenças, com a expectativa de
oferecer a terapêutica mais eficaz e/ou específica. Têm-se ainda um marco: os pilares da
influência de Pinel, que apontou o recurso da filosofia para caracterizar a doença mental
(Dunker; Neto, 2011a). A história dos diagnósticos é referida às ciências médicas do século
XIX com Kraepelin, que publica em 1896 seu Tratado de psiquiatria, como a primeira
sistematização dos transtornos mentais, alicerçada na etiologia fisiológica e organicista.

A partir de 1946 intentou-se uma convenção diagnóstica que alcançasse uma amplitude
internacional. Organizaram-se as primeiras propostas de manuais de classificação das
doenças mentais. Certa comunhão de saber que continha as influências das ideias de Adolf
Meyer através de conceitos como “quadros reativos”, a lógica de adoecimento de Kraepelin,
além de contribuições freudianas vinculadas ao campo da neurose (Leite, 1999). O CID-6
(Código Internacional das Doenças) foi a primeira versão deste manual de patologias a
incluir os transtornos mentais. Trazia nomenclaturas válidas no serviço médico aos
veteranos da guerra que buscavam classificar os quadros psíquicos dos que retornavam
aos EUA.

A esse respeito, Quinet (2001) aponta que naquele momento havia um sistema de
intercâmbio entre os campos da psicanálise e da psiquiatria, no qual a psicopatologia pôde
prosperar, e onde se podiam encontrar importações conceituais entre os campos referidos;
zonas de confluências metodológicas entre outros fatores de intercessão. A sintomatologia
não era especificamente apresentada na proposição dos distúrbios. Os sintomas tinham
sua etiologia em conflitos ou reações inadequadas diante das problemáticas da vida
(Dunker; Neto, 2011a). Houve uma rápida associação da psiquiatria com outras áreas da
medicina, e alguns campos, antes distantes, tornavam-se fecundos terrenos para a
produção de saber e de práticas vinculadas à disciplina da psiquiatria (Dunker; Neto,
2011a).

Esse cunho teórico é proposto no intuito de evitar incongruências e impasses no saber e


na prática da psiquiatria.Caracteriza uma profunda transformação na psiquiatria tanto nas
concepções do campo de pesquisa quanto na prática. Isso se configura como uma abolição
das classes psiquiátricas herdeiras da tradição construída ao pé do leito do paciente. Viu-
se o DSM-III enquanto uma retomada da visão kraepeliniana da psiquiatria, ao enfatizar a
classificação segundo sua sintomatologia, o curso da doença e seu prognóstico. Essa
versão configura um ‘antes’ ultrapassado, e um ‘depois’ atual e científico. Porém, o que se
proclamava a-teórico, caracterizou-se enquanto oposto, já que a partir da terceira versão
admitiu-se – como acordo tácito – um novo modelo associado à clínica da medicação, que
leva em consideração a resposta padrão dos pacientes à administração de substâncias
químicas específicas (Leite, 1999). Este diagóstico procurou eliminar as explicações
causais psicológicas, psicossociais ou psicanalíticas implícitas ou explícitas dos manuais
anteriores. Acredita-se no foco biológico e objetivo como mais ‘científicos’ e condizentes
com o padrão médico, aumentando o status da psiquiatria na hierarquia médica Pautou-se
que no DSM-II a influência da psicanálise permitia certa culpabilização dos factores
ambientais.

Não há nenhuma finalidade nesse conjunto descritivo do adoecimento no humano. Ele


apenas se faz para ali categorizar, ativar gavetas, que alocam expressões ditas doentes. O
paradigma da ciência médica é regido pela dicotomia saúde-doença, o que é corroborado
ao se afirmar as disfunções psicológicas como a base das doenças (Gelder, 2006). Para
Sadock (2007), esse sistema de classificação aponta alguns propósitos: distinguir um
diagnóstico psiquiátrico de outro, de modo que os clínicos possam oferecer o tratamento
mais efetivo; proporcionar uma linguagem comum entre os profissionais da saúde; explorar
as causas ainda desconhecidas dos transtornos mentais. Nessa perspectiva, a psiquiatria
consolida abordagens distintas para o diagnóstico, como a descritiva, que visa

[...] descreve as manifestações dos transtornos mentais e apenas raramente tenta


explicar como ocorrem. As definições dos transtornos consistem de descrições de
aspectos clínicos (SADOCK, 2007, p. 319).

É preciso salientar ainda uma distinção entre o diagnóstico sindrômico como o conjunto de
sinais e sintomas evidenciados na entrevista clínica, e o diagnóstico nosológico encarado
enquanto uma forma de adoecimento ou uma doença de fundo. Pensa-se a abordagem
sindrômica enquanto uma visão descritiva dos sintomas, em que não há objetivo de tipificar
o adoecimento, tendo uma clínica pautada na eliminação dos sintomas; já a abordagem
nosológica faz uma análise da moléstia, observação e caracterização nosográfica do
quadro, que visa uma intervenção mais investigativa e supostamente mais profunda.
Encontra-se também presente a noção de critérios diagnósticos, que tenta conferir mais
credibilidade e confiabilidade naquilo que se determina com a nomeação diagnóstica.

Nesse check-list de critérios predeterminados é que se norteia uma parcela da práxis do


saber psiquiátrico com o uso do diagnóstico. O psiquiatra vai comparar as manifestações
do indivíduo com um grupo já estabelecido de comportamentos vistos como adoecidos.
Assim, para Camargo e Santos (2012), a prática clínica parece se aproximar de uma técnica
habilitada a manusear manuais de classificação e emitir um diagnóstico associado a uma
metodologia terapêutica, hoje de forte tradição farmacológica.

3.8 Diagnóstico E A Psicanálise

Ao nos reportamos à psicanálise em sua relação com o conceito do diagnóstico vimos que
a nosografia presente na psicanálise (histeria, neurose obsessiva, psicose, perversão, etc.)
não conduz a um agrupamento sobre o quadro, havendo uma distinção entre as classes
psicanalítica.

Vieira (2001) ressalta que o diagnóstico se constitui, em sua essência, contraditório para a
relação analítica, uma vez que todo diagnóstico comporta uma classificação. Diagnosticar
seria, então, como um ofício de inserção do sujeito em um grupo, no qual se definem
algumas propriedades que serão utilizadas para sua representação. Por maior que seja o
esforço de resguardar a singularidade do sujeito, há no diagnóstico, ainda que psicanalítico,
uma atribuição de um juízo de valor, que incorpora o sujeito em uma classe, pois há no
diagnóstico psicanalítico um aspecto de objetivação do sujeito, que organiza uma
representação do eu enquanto qualidades agrupadas como constelações imaginárias em
vez de uma livre flutuação acerca do subjetivo.

O psicanalista, através do diagnóstico, opera uma investigação em seu campo clínico, que
privilegia a escuta. Sua avaliação é subjetiva, num espaço intersubjetivo de comunicação
de inconsciente para inconsciente. O inconsciente, enquanto prisma da realidade psíquica
realoca o que vem a ser tratado como subjetivo/sujeito em um novo patamar epistêmico.
Nesse sentido, ressalta-se a dimensão inconsciente na relação que ela faz com a realidade
para que se possa dialogar com a construção diagnóstica para a psicanálise (Figueiredo;
Machado, 2000).Ainda com os autores é pertinente conotar que, na maneira de operar a
clínica psicanalítica, o sujeito epistêmico (observador) não é exterior ao sujeito empírico
(observado). O observado inclui o observador através da transferência. Diagnóstico e
tratamento estão marcados por essa concepção.
´´Na clínica psicanalítica não se parte de uma ideia prévia, pois se leva em conta o
que está em jogo no vínculo e que, no encontro clínico, se apresenta como um fato
de discurso governado por um saber inconsciente com leis que lhe são próprias. E
“este encontro é tão singular que bem merecia chamar-se desencontro” (Rappaport,
1992, p. 63).

Ao considerar a estruturação do sujeito remetido a algo do Outro, Lacan nos lança a sua
noção diagnóstica pertinente até o final da década de 1960: o simbólico como o registro
que organizava a estruturação psíquica, na captura do vivente à cadeia de significantes. Na
associação ao campo da teoria lacaniana se viu que o diagnóstico estrutural é construído
em análise, tendo como único instrumento a escuta do analista que visa a dimensão do
discurso do analisando e aponta a estrutura do sujeito na linguagem. O diagnóstico se
vincula às entrevistas preliminares, quando é possível diagnosticar o sentido do sintoma,
sua estrutura, o ser ou não analisável. Tal diagnóstico pode ser tratado de maneira
“provisória”, como algo que é posto em suspenso.

O diagnóstico estrutural como um orientador da direção do tratamento, desloca o trabalho


clínico com as formas do sintoma e segue uma vertente que dá ênfase às modalidades da
posição do sujeito frente à fantasia. Leite (2001) ressalta que há dois modos possíveis de
classificação diagnóstica na clínica fundada a partir do ensino de Lacan: o modelo estrutural
“no qual a referência principal é o envoltório formal do sintoma” (LEITE, 2001), modelo que
faz referência às categorias psicopatológicas da psiquiatria, privilegiando a distinção
neurose-psicose.

A esse respeito, considera-se que o diagnóstico na psicanálise lacaniana aponta uma


vertente imaginária, que confere certa roupagem ao sujeito; uma vertente simbólica, que o
identifica e distingue; e uma vertente real, que toca no circuito de gozo presente em cada
singularidade. O diagnóstico, a partir desse percurso, visa localizar o modo singular de
gozo, e essa operação não é atravessada por grupos ou classes preexistentes.
CAPÍTULO IV: CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que o diagnóstico não se esgota em um rótulo. Constitui-se em uma forma de


expressão psíquica de um ser, entretanto é a partir da escuta, e em parceria com o sujeito,
que ele pode ser construído. E, para que o diagnóstico não assuma o caráter de um
estigma, deve sempre permear a ideia de uma hipótese para ser constantemente
questionada ao longo do processo de atendimento. O diagnóstico em psicanálise admite
transformações ao longo de um processo de análise. Como a clínica trabalha em um tempo
lógico, não há diagnóstico único. Se no início da análise o Diagnóstico clínico e diagnóstico
em psicanálise: a importância da escuta na construção do diagnóstico diferencial
profissional propõe uma pressuposição diagnóstica, ao final desta, o analisando a modula
a partir de seu sintoma, o irredutível de sua subjetividade, alterando assim a conceção
inicial. Pela forma em que se dispõe a fazer um diagnóstico em psicanálise pode-se
colaborar a desconstruir as rotulações psicopatológicas, e assim adentrar na gênese da
formação dos processos e na dinâmica dos mecanismos de funcionamento psíquico.
Portanto, um diagnóstico neste sentido visa abordar a articulação dos processos e as
transformações surgidas no decorrer de uma história individual e singular. Desta forma, a
teoria funciona como balizadora, oferecendo apoio ao psicanalista, e nunca, como
pensamento esquemático, pretendendo dar conta da complexidade própria do sujeito.

Construir diagnóstico estrutural em psicanálise não é simples. Ainda que se adotem traços
estruturais, os mesmos sintomas podem aparecer em diferentes estruturas. Assim como no
campo médico, onde existem alguns sintomas que são comuns para diversas doenças.
Essa similaridade em determinadas síndromes pode gerar confusão. Entretanto, ainda é
possível reconhecer o diagnóstico sendo realizado às pressas, em apenas uma consulta.
Tais, podem ser equivocados, promovendo rótulos e comprometendo a saúde psíquica do
sujeito, assim como levar a tratamentos inadequados. Em uma atuação clínica torna-se
fundamental a compreensão da problemática apresentada levando-se em conta tanto os
aspectos descritivos quanto os estruturais, através dos quais se inicia a busca do
significado do sintoma. A cuidadosa escuta analítica, não contaminada pela premência de
classificação nosológica permite essa busca
CAPÍTULO V: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

● HEGEBERG, M., Psicoterapia Breve, 3ª Edição, Brasil.

● ABEL, M. C. Diagnóstico em Freud: no tratamento catártico e psicanalítico.


Universais: Ciências da Saúde, Brasília, v. 6, n. 2, p. 141-158, 2008.
● DUNKER, C. I. L.; NETO, F. K. A crítica psicanalítica do DSM-IV - breve história do
casamento psicopatológico entre psicanálise e psiquiatria. Revista Latin
● FIGUEIREDO, A. C.; MACHADO, O. M. R. O diagnóstico em psicanálise: do
fenômeno à estrutura. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica. Rio de Janeiro, v. 3,
n. 2, p. 65-86, 2000.
● GELDER, M. Tratado de psiquiatria. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
● LEITE, M. P. S. A psicanálise como diagnóstico da psiquiatria. Pulsional - Revista de
Psicanálise. São Paulo, v. 7, n. 120, p. 36-40, 1999.
● MILLER, J.-A. A arte do diagnóstico: o rouxinol de Lacan. Curinga. Belo Horizonte,
n. 23, p. 15-33, 2006. Publicação semestral da Escola Brasileira de Psicanálise -
Seção Minas Gerais.
● QUINET, A. Psicanálise e psiquiatria: controvérsias e convergências. Rio de Janeiro:
Rios Ambiciosos, 2001. (Bacamarte, 3).
● SADOCK, B. J. Compêndio de psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria
clínica. 9. ed. Porto Alegre: Artemed, 2007.
● VIEIRA, M. A. Dando nome aos bois, sobre o diagnóstico em psicanálise. In:
FIGUEIREDO, A. C. (Org). Psicanálise - pesquisa e clínica. Rio de Janeiro:
IPUB/CUCA, 2001
● COUTINHO, A. H. S. de A. Escutar é preciso, diagnosticar não é preciso. Reverso,
Belo Horizonte, v. 29, n. 54, set. 2007.
● CUNHA, J. A. Psicodiagnóstico-V. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003

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