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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

MATHEUS HENRIQUE DE JESUS

DEPENDÊNCIA EMOCIONAL:
A ORIGEM DA DEPENDÊNCIA EMOCIONAL NOS RELACIONAMENTOS
AMOROSOS A PARTIR DA TEORIA DO APEGO.

Rio de Janeiro

2021
RESUMO

Dependência emocional é um transtorno de comportamentos aditivos, em que o indivíduo


carece do outro para sustentar seu equilíbrio emocional. O presente artigo possui o
objetivo de analisar a origem da dependência emocional nos relacionamentos amorosos
a partir da Teoria do Apego de John Bowlby. Através de pesquisas bibliográficas em
livros e artigos de referência científica e acadêmica, reunindo dados e informações para
embasar a construção da investigação proposta, como os conceitos de amor e de
dependência emocional, os pressupostos da Teoria do Apego de Bowlby, os aspectos de
vivência familiar, estilos de apego aprendidos na infância e os reflexos da dependência
emocional nos relacionamentos amorosos, visando relacionar os conceitos da teoria de
Bowlby com as patologias e transtornos que expressão um amor não saudável. O
tratamento para esse tipo de amor é buscar ajuda psicológica em terapias ou grupos de
apoio. Os estudos apontam que mais pesquisas nesta área são necessárias para esclarecer
essas questões.

Palavras-chave: dependência emocional; teoria do apego; John Bowlby; amor


patológico; relacionamentos amorosos.

ABSTRACT

Emotional dependence is a disorder of addictive behaviors, in which the individual need


the other to sustain his emotional balance. This article aims to analyze the origin of
emotional dependence in love relationships based on John Bowlby's Attachment Theory.
Through bibliographical research in books and scientific and academic reference articles,
gathering data and information to support the construction of the proposed investigation,
such as the concepts of love and emotional dependence, the assumptions of Bowlby's
Attachment Theory, aspects of family experience , attachment styles learned in childhood
and the reflexes of emotional dependence on love relationships, aiming to relate the
concepts of Bowlby's theory with the pathologies and disorders that express an unhealthy
love. Treatment for this kind of love is to seek psychological help from therapy or support
groups. Studies indicate that more research in this area is needed to clarify these issues.

Key words: emotional dependence; attachment theory; John Bowlby; pathological love;
love relationships.
INTRODUÇÃO

O tema, a origem da dependência emocional nos relacionamentos amorosos a


partir da Teoria do apego, nos despertou interesse a partir de uma das disciplinas do curso
de Psicologia, Desenvolvimento da Infância e Adolescência, onde um dos teóricos citados
foi John Bowlby com a Teoria do Apego. Esse tema nos fez questionar e querer nos
aprofundar para entender como os aspectos relacionados ao apego e afeto provenientes
da infância podem trazer consequências e reflexos para a vida adulta, principalmente no
que diz respeito aos relacionamentos amorosos e à dependência emocional.

Fazendo a leitura da Teoria do Apego, lendo alguns artigos acadêmicos e


científicos disponíveis em plataformas de artigos e fazendo um levantamento em alguns
livros, podemos nos aprofundar nos aspectos do desenvolvimento da criança, seus
vínculos preestabelecidos e de como a vivência familiar pode trazer reflexos que
influenciam diretamente na maneira como as pessoas se relacionam.

O amor é um tema que tem rodeado a sociedade, tem sido mencionado e relatado
através de muitas músicas, poesias, novelas, filmes, séries e filosofias. Dentre tantas
formas de amar e de se relacionar, podemos, através desse estudo, apontar a classificação
do que é o amor para a Psicologia, relacionando a definição de alguns autores.

O amor patológico, vício e excesso afetivo que rodeiam muitos relacionamentos


amorosos na atualidade, tem acarretado consequências na vida dos envolvidos em
relações com essas características, podendo levar a relacionamentos abusivos, violências
domésticas e até mesmo ao suicídio. Realizamos essa leitura através da dependência
emocional.

Como contribuição ao campo acadêmico, trataremos de elucidar esses


relacionamentos patológicos, pois consideramos relevante abordar um tipo de amor que
gera consequências tanto na vida do que ama quanto na vida do amado, tal
disfuncionalidade denominada dependência emocional, aponta aspectos de um “amor
patológico”, trazendo sofrimento psíquico, ansiedade e disfuncionalidade na vida
emocional. Trataremos, através da Teoria do Apego, de realizar uma verificação de seus
pressupostos, investigando os aspectos da vivência familiar e estilos de apego aprendidos
na infância.
A partir do levantamento do conceito da termologia dependência emocional,
traçaremos os aspectos que são notáveis e absorvidos desde a infância e levaram a atitudes
de amor patológico e apontaremos as principais perspectivas, contribuindo para a
correlação destes conteúdos que são tão pouco abordados.

Visto o quão pouco esse tema é abordado e como a correlação com sua origem na
infância ainda é pouco associada, verificamos a importância de levantar tal assunto, com
os objetivos de entender melhor o funcionamento desta patologia e inclusive contribuir
no sentido de apontar e valorizar a saúde mental e emocional, visando os reflexos da
dependência emocional nos relacionamentos amorosos, tudo isso a partir da Teoria do
Apego de John Bowlby, que destaca os estilos de apego identificando duas classes de
estilo de apego: os seguros e os inseguros. Nos inseguros temos o resistente, evitante e
desorganizado.

Cabe ressaltar que para a compreensão das origens de muitas patologias é


necessária a realização de um estudo aprofundado e pesquisas acerca do que se pretende
ser compreendido. Com base em nossos estudos, demonstraremos, de maneira clara e
objetiva, as raízes e definições que permeiam e que dão origem a esta tipologia de
patologia emocional.

Realizando a conceituação e definição de cada estilo de apego da teoria de


Bowlby, podemos identificar o estilo de apego que possivelmente desencadeará em um
adulto emocionalmente doente, considerando assim os reflexos nos relacionamentos
amorosos e das consequências que poderão ser ocasionadas.

Procuramos também elucidar estratégias e tratamentos para que esse tipo de


transtorno seja sanado na vida do sujeito que ama em demasia: grupos de apoio que
acolhem homens e mulheres que se encontram em situação de dependência emocional e
profissionais de Psicologia se dispõem de técnicas e formas de acolhimento para receber
e conduzir da melhor forma possível esses sujeitos.

Como citado anteriormente, ainda é uma área de estudo que precisa ser investida
em pesquisas mais profundas, pois além de pouco abordado, é um tema que possui
relevância e carece de atenção para contribuição em informações para as pessoas que não
sabem do que se trata essa patologia, onde ela se origina, como vencer e tratá-la.
O AMOR PARA A PSICOLOGIA

Dentro do campo clínico da Psicologia, podemos observar algumas definições,


segundo Freud (1996), o amor relacionado aos objetos externos só ocorre após a
construção do ideal pessoal de si, Freud propôs ao expor a teoria do desenvolvimento
psicossexual que somente quando um indivíduo primeiro dirige toda a energia da libido
para si mesmo, pode ser possível escolher um objeto de amor externo. Diante dessa
proposição, Freud afirmou que o narcisismo é um aspecto importante na construção das
relações amorosas. O objeto de amor externo é escolhido a partir das observações que
faltam ao indivíduo.

Reik (1944) propôs outra teoria na tentativa de explicar o amor. Este autor,
também psicanalista, propôs uma teoria diferente da teoria psicanalista tradicional. Para
Freud, o amor é baseado na energia da libido, ou seja, amor e desejo são funções um do
outro, enquanto para Reik, amor e desejo têm motivações diferentes. Mais
especificamente, o autor acredita que o amor, diferente do desejo que é o interesse
apaixonado pelo corpo, é um forte interesse por outra personalidade.

A teoria pertencente à tendência humanística, segundo Maslow (1962) que


também contribuiu com proposições teóricas sobre o amor. O autor acredita que existem
dois tipos de amor, são eles: D-love (amor deficiente) e B-love (ser amado / amor). O
primeiro tipo (D-love) possui as características do amor propostas por Freud, ou seja, o
sentimento de amor pela outra parte, a finalidade é suprir suas próprias deficiências; o
outro tipo (B-love) ocorre em pessoas que se realizam, podem amar a verdadeira face dos
outros.

Essas três proposições trouxeram contribuições importantes para o estudo do amor


e, pelo menos em certa medida, lançaram as bases para a concretização de outras
proposições teóricas sobre o tema, especialmente no campo da Psicologia social que tem
como base inicial a distinção entre amar e gostar. Dessa perspectiva, Rubin (1970) insiste
que o amor é uma atitude para com uma pessoa específica, envolvendo a tendência de
pensar, sentir e agir sobre essa pessoa de uma certa maneira. A partir da proposta de
Rubin, surgiram outras propostas teóricas voltadas para a definição do amor.

Walster e Walster (1978) definiram o amor como dois tipos: amor do parceiro e
amor apaixonado. A teoria acredita que o amor tem dois estágios: o primeiro estágio é a
atração da paixão. Se o relacionamento sobreviver ao estágio inicial da paixão, ele se
tornará o amor de um parceiro. Outra teoria que surgiu no mesmo período foi a proposta
de Clark e Mills (1979). Esses autores estudaram a atração interpessoal nas relações de
troca e nos relacionamentos românticos e, com base nas descobertas, a relação de troca
proposta é baseada em questões econômicas, a existência de uma relação de amor é
baseada em motivos altruístas. Além da proposta de Rubin, essas propostas teóricas
iniciais ajudam a tratar o amor como um fenômeno multidimensional complexo. No
entanto, de acordo com Hendrick e Hendrick (1986), esses esforços são mais teóricos do
que empíricos.

A proposta teórica para quebrar esse padrão é a proposta de John Alan Lee,
chamada de estilo de amor. A teoria de estilo de amor foi proposta pela primeira vez em
1970, e seu fundamento é que o amor se aprende, e o estilo de amor reflete a diversidade
dos estilos de amor humano. Para definir o estilo de amor que existe nas relações
interpessoais, Lee usa vários métodos. Primeiro, investiga o amor em romances, filmes e
livros nas áreas de Filosofia e Psicologia. Em seguida, classifica os dados coletados para
obter uma sugestão de estilo. Para verificar a aplicabilidade desses estilos, foram
realizadas entrevistas com heterossexuais e homossexuais para confirmar os tipos
propostos (Lee, 1988).

Devido à complexidade do assunto, é impossível explicar quantos tipos de


relações existem. Lee (1988) avalia os tipos de relações a partir dos principais
componentes da relação e usa a metáfora da roda de cores para explicar sua teoria. Assim
como as cores têm cores primárias, que são misturadas com outras cores primárias para
formar cores diferentes, existe um estilo de amor chamado primário. Quando misturado
com outros estilos de amor, podem produzir um estilo de amor secundário. Os três
principais estilos de amor que caracterizam as pessoas são:

Eros: estilo onde as pessoas podem descrever claramente qual formato de corpo é
mais atraente na sua concepção e se atraem ao observar pessoas semelhantes à sua forma
corporal favorita, expressam o prazer de estar um com o outro de forma verbal e tátil.

Ludus: caracterizado pela diversão e falta de compromisso com um único


parceiro. Tem a ver com pessoas que não querem compromisso com o amor. Pessoas do
tipo ludus pensam que vários tipos de corpo são atraentes, e não é contraditório amar
vários parceiros igualmente.
Storge: estilo onde o amor é um tipo especial de amizade. É importante que tratem
seus parceiros como amigos antes de se envolverem em qualquer interação sexual. Sem
preferência pelo tipo de corpo, porque os problemas emocionais estão em primeiro plano.

Lee (1988) aponta que a partir desses três estilos primários de amor dá-se origem
a vários outros estilos, listados seis estilos descritos resumidamente a seguir:

Eros + Ludus = mania: é caracterizada por irracionalidade, compulsão e


dependência. As pessoas precisam amar umas às outras, mas temem que seja difícil e
doloroso amar umas às outras. Eles mostram um comportamento exagerado para
expressar seu amor ou ciúme.

Ludus + storge = pragma: pessoas com este estilo de amor são realistas e práticos,
por isso procuram um parceiro compatível, ou seja, alguém que corresponda às suas
expectativas.

Eros + storge = ágape: caracterizado pelo amor fraternal, bondade e altruísmo.


Baseia-se no amor ao conceito de responsabilidade pelos outros. Nesse sentido, é uma
espécie de amor baseado na vontade de se dedicar aos outros e sem exigência de
reciprocidade.

Storge + eros = predomínio storge: maior ênfase em sentimentos carinhosos e em


cuidados do que na relação sexual. Acreditam que o amor é um dever para os que
precisam e essencial para a vida.

Ludus + eros = predimínio ludus: estilo projetado para ser uma experiência
divertida e interessante. Essas pessoas se caracterizam por serem fáceis de conhecer
outras pessoas e têm interesse em experimentar diferentes tipos de relacionamento, mas
não demonstram fortes emoções em seus relacionamentos.

Storge + ludus = predomínio storge: foco em um relacionamento agradável, no


qual as emoções são expressas de forma cautelosa. Para essas pessoas, a interação ocorre
quando ambas as partes são convenientes, e não haverá grandes mudanças devido aos
seus parceiros.

Segundo Lee (1988), as pessoas podem mudar de um estilo para outro com base
em suas próprias experiências de vida. No entanto, o autor destaca que é importante
avaliar o estilo preferido do indivíduo a qualquer momento, seja para autoconhecimento,
para identificar o estilo de amor do seu parceiro ou para encontrar um parceiro que melhor
se adapte ao seu estilo de amor.

CONCEITO DE DEPENDÊNCIA EMOCIONAL

De acordo com Bution e Wechsler (2016), a dependência emocional pode ser


definida como um transtorno determinado por comportamentos extraordinários em
relacionamentos amorosos, é um transtorno de comportamentos aditivos, em que o
indivíduo carece do outro para sustentar seu equilíbrio emocional. O termo dependência
tem referência ao nível que o sujeito confia e se sustenta em um outro para sua própria
vivência e, por isso, carrega um parâmetro desestruturado. Tal dependência pode acarretar
severos danos à saúde emocional, principalmente no que se relaciona ao autorrespeito e
amor-próprio, pois coloca o indivíduo dependente sujeito à submissão, autopunição e
elaboração de pensamentos e sentimentos distorcidos a respeito do outro.

Quando ocorre disfunção, o indivíduo expressa um alto grau de apego, é chamado


de dependência emocional, De acordo com Bution e Wechsler (2016), este é um
transtorno aditivo em que os indivíduos precisam do outro para manter seu equilíbrio
emocional. As pessoas que se encontram neste relacionamento ficarão psicologicamente
abaladas, porque existe uma crença interior de que não conseguem existir se não houver
o amor ou atenção do outro. Em muitos casos, renunciam a sua identidade para agradar
ao outro, conforme destacou Adolpho (2017), o indivíduo sente que tem uma obrigação
de estar em um relacionamento conflituoso devido à necessidade de se sentir cuidado e
apoiado por outro. Bution e Wechsler (2016) em seus estudos apontam que o
comportamento de submissão é observado em casos de dependência emocional além de
sinais de desejo e abstinência, falta de decisões, vazio emocional, medo da solidão, baixa
tolerância à frustração, tédio, conflito de identidade e a sensação de estar preso em um
relacionamento e incapaz de sair dele.

John Bowlby (1901-1990), psiquiatra e psicanalista inglês, foi pioneiro na


conceituação de apego. Em sua teoria, ele relatou que o apego é um vínculo emocional
construídos entre humanos, visando obter segurança pessoal e possui sua origem na
infância (Rodriguez, 2009). Rodriguez (2009) salienta que o comportamento de apego é
considerado uma classe social importante, equivalente do acasalamento ao
relacionamento parental. Segundo Bowlby (2002), existem três modos de apego, a saber:
apego seguro, apego inseguro e ambivalente. No apego seguro há uma infância vivida
com relações saudáveis e vinculações afetivas equilibradas, no apego inseguro a
intimidação constante faz com que a segurança entre as partes não se fortaleça e, por fim,
o apego ambivalente trata de uma dificuldade na vida adulta em manter relacionamentos
duradouros por causa da baixa autoestima em detrimento da deficiência de uma contínua
relação de apego.

A disfuncionalidade dentro dos relacionamentos amorosos no que diz respeito a


dependência foi denominada de amor patológico, classificado como um estilo de amor
com dependência que acarreta prejuízos no dia a dia da pessoa que ama. Segundo Sophia
(2007), o amor patológico seria caracterizado pelo comportamento de prestar cuidados e
atenção ao parceiro, de maneira repetitiva e desprovida de controle, em um
relacionamento amoroso.

Um estudo realizado na década de 1980, por cientistas do New York State


Psychiatric Institute, constatou que o amor excessivo pode provocar um estado de euforia
no Sistema Nervoso Central (SNC) similar ao induzido por uma grande quantidade de
anfetamina. Segundo os pesquisadores, o amor produziria sua própria substância
intoxicante: a feniletilamina, algo que poderia explicar a dependência, de acordo com a
psiquiatra Danielle H. Admoni, da Escola Paulista de Medicina Unifesp.

O amor, como sentimento, logo em seu estágio primário, produz um efeito no


corpo bastante similar à utilização inicial de algumas drogas estimulantes como a cocaína.
A dopamina, substância liberada pelo uso de algumas drogas, está relacionada também à
paixão amorosa. Dosagens elevadas de dopamina possuem efeitos e sensações que são
atribuídas à paixão, como a felicidade. Esses efeitos também trazem hiperatividade,
energia elevada, insônia, tremores, respiração e coração acelerados, tremores, além de ser
responsável pelo estado de êxtase. A dopamina também é responsável por efeitos ligados
à dependência, e em casos de amor patológico a resposta é a dependência do sujeito
amado como comportamentos que persistem mesmo afetando negativamente o
relacionamento. Altos níveis de dopamina produzem uma certa motivação, uma atenção
elevada, levando o sujeito a focar e a insistir para receber reciprocidade do ser amado,
assim como o organismo responde de forma dependente em outras substâncias químicas.
(Admoni, 2020)
Em algumas situações em ocorrências pré-existentes de sintomas provenientes de
doenças psíquicas como depressão e ansiedade, como a angústia, por exemplo, o
organismo, para se ver livre de tal angústia, necessita de uma dose de dopamina, fazendo
assim o indivíduo recorrer ao “consumo” da substância. Por um momento, o sintoma se
vai, porém ele volta e necessidade pela substância, gerando assim um ciclo vicioso,
tornando o ser dependente, refém de suas práticas. (Admoni, 2020)

De acordo com Sophia (2007), a essência dessa patologia que anteriormente


denominamos de amor patológico não é o amor, mas sim um conjunto de medos como o
de estar sozinho, não possuir valor, não ser merecedor do amor e medo do abandono. De
modo que a falta de controle de seus comportamentos mesmo gerando prejuízo e
desconforto, por outro lado, existe um certo alívio desses medos. Esse amor patológico
assemelha-se a um comportamento obsessivo-compulsivo em relação ao parceiro, uma
alteração de comportamento que faz com que a pessoa tenha pensamentos persistentes de
medo e ansiedade. Como tamponamento e para alívio de seus sintomas, acabam
ocorrendo comportamentos ou gestos repetitivos, como se a dedicação intensa em
encargos direcionados ao sujeito amado.

Sophia (2008) nos aponta alguns pontos importantes que podem auxiliar no
diagnóstico de um quadro de amor patológico. Encaixando no padrão dos vícios, se faz
válido procurar por sinais de abstinência quando as partes estão fisicamente ou
emocionalmente distantes uma da outra. Outros sintomas comuns podem envolver o
abandono de atividades e afazeres que, no passado, eram considerados essenciais em prol
de tornar a rotina diária o mais favorável possível aos interesses do parceiro e os cuidados
que ele possivelmente precisaria.

Dentro do manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentas (DSM-5),


podemos observar um transtorno que aponta características da dependência emocional,
que é o transtorno da personalidade dependente F60.7-301.6. Para se enquadrar nesse
transtorno é necessário que o sujeito possua cinco ou mais dos critérios diagnósticos, tais
quais, dificuldades em tomar decisões cotidianas sem uma quantidade excessiva de
conselhos e reasseguramento de outros; necessidade que outros assumam
responsabilidade pela maior parte das principais áreas de sua vida, dificuldades em
manifestar desacordo com outros devido a medo de perder apoio ou aprovação,
dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas por conta própria (devido mais a falta de
autoconfiança em seu julgamento ou em suas capacidades do que a falta de motivação ou
energia), ir a extremos para obter carinho e apoio de outros, a ponto de voluntariar-se para
fazer coisas desagradáveis, sentir-se desconfortável ou desamparado quando sozinho
devido a temores exagerados de ser incapaz de cuidar de si mesmo, buscar com urgência
outro relacionamento como fonte de cuidado e amparo logo após o término de um
relacionamento íntimo e preocupações irreais com medos de ser abandonado à própria
sorte. O manual aponta as características do transtorno como:

(...) uma necessidade difusa e excessiva de ser cuidado que leva a


comportamento de submissão e apego e a temores de separação. Esse padrão
surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos. Os
comportamentos de dependência e submissão formam-se com o intuito de
conseguir cuidado e derivam de uma autopercepção de não ser capaz de
funcionar adequadamente sem a ajuda de outros. (...) estão dispostos a se
submeter ao que os outros desejam, mesmo que as demandas não sejam
razoáveis. Sua necessidade de manter um vínculo importante resultará
frequentemente em relacionamentos desequilibrados ou distorcidos. Essas
pessoas podem fazer sacrifícios extraordinários ou tolerar abuso verbal, físico
ou sexual. (2014, p. 676)

Podemos observar características semelhantes da dependência emocional com


esse conceito de transtorno da personalidade dependente, a psiquiatra Danielle H.
Admoni (2020) relata que através do comportamento da pessoa dependente do sujeito
amado no dia a dia, vida social e em momentos de abstinência, quando na ausência do
parceiro o sujeito apresenta alterações no sono, fome e humor quando o parceiro está
física ou emocionalmente distante; o sujeito se ocupa do parceiro e negligenciar
atividades cotidianas e de trabalho; intenso medo da rejeição ou de perder o amado,
impotência diante de suas emoções, gerando frustrações; sentimento de que o cuidado e
o tratamento para com o outro nunca são suficientes para suprir suas necessidades;
necessidade de agradar constantemente abrindo mão de si mesmo; persistência em
sustentar o relacionamento mesmo sendo insatisfatório ou abusivo; vontade de controlar
a vida do parceiro apresentando perseguição, desconfiança e ciúme excessivo;
possibilidade de agressão e afastamento de familiares e amigos.

De acordo com Sophia (2008), podemos listar alguns critérios para a identificação
do amor patológico: sinais e sintomas de abstinência - quando o parceiro está longe (física
ou emocionalmente) ou através de ameaças de desistência, como um rompimento de
relacionamento; Ato de cuidar do parceiro em maior quantidade do que o indivíduo
gostaria, o sujeito se queixa de manifestar atenção ao parceiro com maior frequência ou
por um período mais longo do que o pretendido; Grande investimento para controlar as
atividades do parceiro em detrimento do abandono de interesses e atividades antes
valorizadas, o sujeito passa a viver em função dos interesses do parceiro, atividades de
realização pessoal e desenvolvimento profissional são deixadas de lado.

Podemos assim conceituar a dependência emocional trazendo a classificação do


amor patológico e de alguns pressupostos do transtorno da personalidade dependente,
observando suas características e o que compõe esse conceito, como podemos observar
fazendo a leitura do manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentas (DSM-5). O
sentimento denominado amor é algo belo, uma troca equilibrada entre parceiros que
quando se mostra de forma desiquilibrada de maneira a se auto prejudicar ou ferir o outro
já não se pode chamar de amor e sim uma patologia passível de tratamento.

OS PRESSUPOSTOS DA TEORIA DO APEGO DE JOHN BOWLBY

A partir dos conceitos de dependência emocional, tratamos de realizar uma


investigação a respeito de onde se origina tal disfuncionalidade abordando os
pressupostos da Teoria do Apego de John Bowlby.

John Bowlby foi um psiquiatra e psicanalista britânico, nascido em 1907 e


falecido em 1990. Estudou na Universidade de Cambridge, onde também exerceu a
psiquiatria e a psicanálise. Bowlby é um dos teóricos das relações objetais. Na década de
1950, Bowlby tornou-se insatisfeito com a teoria das relações objetais. Segundo ele, a
teoria da motivação subjacente às relações objetais parecia inadequada. Além disso, havia
uma falta de evidência empírica para sustentar muitas das alegações de Melanie Klein e
de outros pioneiros das relações objetais. Então, Bowlby chegou à conclusão de que a
teoria precisava ser integrada a uma perspectiva evolucionária.

Bowlby (1989), ao trazer a perspectiva evolucionária à teoria das relações


objetais, corrigiu a falta de evidência empírica e estendeu a teoria em outras direções,
resultando na sua Teoria do Apego. Seus estudos foram desenvolvidos baseados nas áreas
psicanalíticas, biológicas, etologia, Psicologia do desenvolvimento, ciências cognitivas e
teoria dos sistemas de controle.

Bowlby iniciou suas pesquisas sobre o assunto no fim da Segunda Guerra Mundial
(1939-1945), quando inúmeras crianças se encontraram órfãs e traumatizadas,
apresentando dificuldades significativas em todas as áreas do desenvolvimento humano.
Bowlby definiu o apego como “conexão psicológica duradoura entre seres humanos”
(Bowlby, 1969).

A Teoria do Apego, também chamada de Teoria da Vinculação, se trata de um


estudo realizado pelo psicanalista John Bowlby para analisar e compreender melhor como
os relacionamentos formados na primeira infância podem influenciar no desenvolvimento
de uma pessoa e nos seus relacionamentos presentes. Desenvolvida como uma variante
da teoria das relações objetais (teoria que descreve a ideia de que o ego só existe em
relação a outros objetos, que podem ser internos ou externos). Como seu ponto de partida
foi a observação do comportamento, foi tomada por alguns clínicos como uma versão do
behaviorismo, equívoco que decorre, para o autor, da confusão entre apego e
comportamento de apego (Bowlby, 1989).

Em análise primitiva, o apego é visto como apenas um comportamento


psicológico que se origina de aprendizado, ou seja, esse vínculo é o produto da relação
entre o indivíduo e seu cuidador. O que o psicanalista pioneiro nesse assunto foi capaz de
decifrar é que, verdadeiramente, o apego é na verdade um instinto biológico do ser
humano, em alguns momentos até mesmo relacionado à sobrevivência e faz parte do
sistema de controle do equilíbrio físico e emocional.

O apego é uma espécie de vínculo, no qual a sensação de segurança de uma pessoa


está intimamente relacionada à imagem de apego. No relacionamento com a pessoa
apegada, a sensação de segurança e conforto vivenciada durante sua existência a torna
uma "base segura" para explorar outras partes do mundo (Bowlby, 1997). Em 1969,
Bowlby apontou que o cuidado do apego é um vínculo social baseado na relação
complementar entre pais e filhos. Conforme assumido pela teoria de Freud, o apego tem
sua própria motivação intrínseca, que é diferente da comida e do sexo, e é igualmente
importante para a sobrevivência (Bowlby, 1989).

Visto que o apego é um estado interno, sua existência pode ser observada por meio
do comportamento de apego. Esse comportamento permite que o indivíduo alcance e
mantenha a proximidade do objeto de apego, ou seja, um indivíduo claramente
identificado e considerado mais apto a lidar com o mundo. Sorrir, olhar nos olhos,
chamar, tocar, agarrar-se, chorar, correr atrás são alguns desses comportamentos.
(Bowlby, 1989)

“Dizer que uma criança é apegada ou tem um apego por alguém,


significa que ela está fortemente disposta a buscar proximidade e contato com
uma figura específica, principalmente quando está assustada, cansada ou
doente. A disposição de comportar-se dessa maneira é um atributo da criança,
atributo este que só se modifica com o tempo e não é afetado pela situação do
momento. Em contraposição, o comportamento de apego refere-se a qualquer
forma de comportamento que uma criança comumente adota para conseguir
e/ou manter uma proximidade desejada. Em qualquer ocasião alguma forma
desse comportamento pode estar presente ou ausente e da qual ela depende, em
alto grau, das condições que prevalecem no momento”. (Bowlby, 1984, p.396).

Em comparação com as características iniciais das crianças nos primeiros meses,


fatores como experiência social, idade e evolução da função cognitiva podem levar a
mudanças nos comportamentos de apego, que têm impacto no desenvolvimento dos
relacionamentos. Um exemplo nítido dessas mudanças é que, a partir de certa idade, a
ansiedade da separação do cuidador pode ser aliviada por meio de negociações entre
adultos e crianças. Quando uma criança vai para a escola por volta dos seis anos de idade,
a maioria das pessoas estabelece uma parceria objetiva e correta com o cuidador, onde
cada participante está disposto a contribuir para a manutenção de um relacionamento
saudável. Na infância, dos sete anos de idade ao início da adolescência, os objetivos do
sistema de apego comportamental se alterarão com mudanças nas relações de apego para
melhorar a usabilidade. Naturalmente, contanto que possam estabelecer contato ou
encontros físicos, se necessário, há uma tranquilidade da parte da criança quando
necessita encarar a separação à longo prazo. A autoconfiança irá aumentar
proporcionalmente com a diminuição dos comportamentos de apego, como seguir e
manter o cuidador. (Ainsworth, 1989; Bowlby, 1969).

OS ASPECTOS DA VIVÊNCIA FAMILIAR E ESTILOS DE APEGO


APRENDIDOS

Bowlby (1997) define o comportamento de vinculação como um conjunto de


sistema comportamental desenvolvido para a obtenção da segurança pessoal, originado
de infância. Ele investiga os efeitos nocivos da separação de crianças pequenas de sua
mãe, depois de formar um relacionamento emocional seguro entre eles, após o surgimento
de um relacionamento emocional forte, a criança vai se sentir mais magoada com a
separação, o que pode ser um fator que causa futuros problemas de amor. As pessoas
tradicionais sabem que podemos ser esmagados pela tristeza e morrer por causa de
grandes coisas, um amante abandonado pode fazer coisas sem sentido sendo um perigo
para ele e para os outros.

Portanto, naturalmente, o papel anteriormente ocupado pelos pais se reflete nos


amigos, quando surge um parceiro romântico, esse sistema de apego encontrará um novo
destino, sempre tentando preencher as lacunas. Não sentimos amor ou rancor por qualquer
pessoa, existem apenas uma ou algumas pessoas específicas. Os vínculos que são
formados variam de pessoa para pessoa, os mais comuns são aqueles que existem entre
os pais e filhos e entre adultos. A característica essencial de um vínculo emocional são
dois parceiros, eles tendem a ser próximos um do outro.

Há evidências crescentes de que pessoas de todas as idades são cada vez mais
felizes, quando estão convictos de que por trás deles exista uma ou mais pessoas que o
ajudarão quando se depararem com dificuldades. A pessoa na qual se confia é chamada
de figura de ligação (Bowlby, 1997), a que fornece ao seu companheiro uma base segura.

O primeiro e mais importante teste da teoria do apego de Bowlby, foi publicado


em 1978 por sua colaboradora Mary Ainsworth. Com modelo empírico, ela desenvolveu
um método chamado "situação estranha", a reação da criança ao interagir com a mãe (ou
seu cuidador) foi observado em detalhes na experiência nominada "situação estranha",
dando origem ao primeiro sistema de classificação e tipo de vínculo entre cuidador e
criança, organizado em: seguro, evitante e ambivalente.

No apego seguro, a mãe é sensível às necessidades da criança e aumenta sua


confiança; se ela se encontrar em circunstâncias desagradáveis, os pais estarão
disponíveis a qualquer momento. Por meio desse modelo, os indivíduos sentem a coragem
de explorar o mundo e podem experimentar o amor saudável na idade adulta.

O apego evitante inclui rejeição quando o bebê procura a mãe, resultando em falta
de confiança em obter ajuda quando necessário. Partindo desse modelo, os indivíduos
começam a tentar viver sem amor e sem ajuda dos outros, isto é, tornam-se
emocionalmente autossuficientes.

O apego ambivalente é expresso quando os pais se encontram disponíveis em


certas situações, e não em outras, fazendo com que o bebê experimente separação e
ameaças de abandono, usado pelos pais como meio de controle. O modelo gera incerteza
em relação à disponibilidade dos pais e como consequência, a ansiedade de separação nos
relacionamentos adultos.

Em 1991, a proposta do modelo de apego adulto foi publicada, compostos por


quatro tipos (Bartholomew, 1990): seguro, evitativo, ambivalente e desorganizado. Este
último, Main e Hesse (1990) determinaram que é o tipo de apego que se refere às crianças
que na "situações estranhas", exibem comportamento inconsistente diante da situação de
separação. Na frente da mãe, anterior a separação, essas crianças vivenciaram conflitos e
continuaram a ser impulsivas, incluindo preocupações durante a interação e manifestadas
como raiva, ou confusão facial, ou transe e expressões inquietas, sem manter estratégias
adequadas para lidar com o que a assustava. Esses casos ocorreram em situações em que
ocorreram abusos durante a infância, a mãe pode ter gerado medo e/ou ameaças à criança
(quando o agressor é um estranho) ou a mãe (ou cuidador) pode ter ocorrido abuso
fisicamente ou emocionalmente contra a criança.

A Teoria do Apego de Bowlby identificou duas classes de estilo de apego: os


seguros e os inseguros. Nos inseguros temos o resistente, evitante e desorganizado. As
crianças seguras são aquelas mais confiantes ao explorar o mundo que está ao seu redor
com a certeza de que seus cuidadores estarão por perto; e as inseguras exploram pouco o
ambiente e possuem em excesso ou precária a interação com sua mãe ou cuidador. Para
a Teoria do Apego as pessoas desenvolvem um dos quatro estilos de apego, que são
padrões relativamente duradouros, baseados na experiência inicial com um cuidador.
(Dalbem e Dell’aglio, 2005)

Tipo Seguro: as crianças com estilo de apego seguro foram as que se demonstram
angustiadas quando o cuidador se ausenta, porém o recebem de volta e reconhecem que
suas necessidades serão satisfeitas. Essas crianças tendem a se tornar adultas mais
estáveis e seguras de que suas necessidades serão satisfeitas e geralmente confiam em
novos adultos também, ou seja, tendem a confiar em pessoas que ainda não conhecem
e nem são seus modelos parentais. As pessoas com o tipo Seguro demonstram uma
maior tolerância à separação das figuras por quem sentem apego. (Dalbem e Dell’aglio,
2005)

Tipo Ambivalente/Resistente: o estilo de apego resistente ou ambivalente ocorre


quando a criança apresenta comportamentos imaturos, demonstrando-se bastante
incomodada ao se aproximar de outras pessoas. São crianças que demonstram medo de
se desviar dos pais e continuam a exibir um comportamento ansioso quando estes
voltam. Na fase adulta podem se tornar pessoas que se utilizam de ardis e chantagens
emocionais para ter de volta as figuras por quem sentem apego. (Dalbem e Dell’aglio,
2005)

Tipo Evitativo: o apego evitativo ou ansioso denota uma criança que reage de
maneira bastante calma à separação de um dos pais, mostra-se um pouco inibida na
presença de outros, e ao se aproximar de seus cuidadores demonstra pouca necessidade
de atenção, se mantendo distante e não os procurando para obter conforto. Neste padrão
de apego a pessoa tende a se tornar um adulto que apresenta maior facilidade em lidar
com as separações, mantendo um equilíbrio emocional mais estável, apesar do
sofrimento que sentem. (Dalbem e Dell’aglio, 2005)

Tipo Desorganizado: o estilo de apego desorganizado ou desorientado representa


um comportamento atípico durante a separação, não se une a uma das três formas
primárias de apego. Este padrão de apego pode ser resultado de experiências negativas
relacionadas às situações de separação ou de um trauma. Tendem a se tornar adultos
que apresentam dificuldades nos rompimentos de laços afetivos. Geralmente tem forte
dependência afetiva, porém podem demonstrar essa necessidade de estar com o outro
de forma agressiva e ambivalente. (Dalbem e Dell’aglio, 2005)

A consistência dos procedimentos dos cuidados, a sensibilidade para entender o


que a criança necessita (como exemplo, o motivo pelo qual está chorando) e a
responsabilidade de cuidar de alguém que é totalmente ou parcialmente dependente (no
caso dos bebês e crianças) são ocupações que o cuidador deve se atentar. O cuidador é
a pessoa que promove segurança. Ele deve ser capaz de reforçar o comportamento de
apego, respondendo a este comportamento de maneira flexível e saber estabelecer a
segurança, conforto e cuidados na medida certa para que, assim, a criança possa se
desenvolver e se adaptar da melhor maneira possível no meio em que vive. Portanto, as
funções exercidas pelo cuidador são essenciais para um indivíduo em seu
desenvolvimento cognitivo e emocional, tais desempenhos exigem muita
responsabilidade e comprometimento.

Apesar de Bowlby ter centrado seu foco primeiramente em entender a natureza


do relacionamento entre criança e cuidador, ele acreditava que a experiência do apego
humano era caracterizada por durar toda a vida do indivíduo. Entretanto, não foi até,
aproximadamente, os anos 80 quando estudiosos realmente passaram a analisar com
seriedade a possibilidade de sequelas que formas de apego poderiam refletir na fase
adulta. De acordo com Hazan e Shaver (1987), o vínculo emocional que se desenvolve
entre dois adultos em um relacionamento romântico é, em partes, despertado pelo
mesmo sistema motivacional que gera as conexões criança-cuidador na infância. Ao
analisar mais a fundo, eles perceberam características básicas de um relacionamento
como as sensações de segurança, intimidade e alguns tipos de interação entre os
indivíduos poderiam ser observadas com o mesmo exato comportamento em idades
diferentes da vida daquelas pessoas. O argumento aqui utilizado pelos pesquisadores é
que o amor romântico faz parte do sistema comportamental de apego, assim como a
sexualidade e cuidado para com o outro.

REFLEXOS DA DEPENDÊNCIA EMOCIONAL NOS RELACIONAMENTOS


AMOROSOS A PARTIR DA TEORIA DO APEGO

De acordo com Bowlby (2002), o apego adulto é um produto de vínculos sociais


adquiridos na primeira infância. O vínculo que obtido na primeira fase, servirão de
modelo para todos os relacionamentos subsequentes. A decisão, geralmente inconsciente,
de iniciar e estabelecer um relacionamento matrimonial se dá pela necessidade de se sentir
amado, protegido e confortado. Concluímos que o amor não é apenas um fenômeno
unidimensional, tanto que os indivíduos diferem não apenas na intensidade de seus
sentimentos, mas também pelo que vivenciam. O resultado disso é que a diferença no
sentimento de amor decorre da experiência inicial da figura de apego, não
necessariamente da mãe, e dos modelos internos derivados dela. A busca por autonomia
é tendência natural do sujeito saudável.

Os indivíduos que normalmente desenvolvem vínculos que resultam em


dependência emocional costumam ser aqueles que se encaixam nos padrões de apego
inseguro ambivalente/resistente. Isso acontece por essas pessoas estarem constantemente
temendo perder aquela relação, assim elas se mantêm em um estado de alerta ininterrupto
que resulta em um maior desgaste de energia emocional. Martinez e Gomes-Acosta
(2013) e Sussman (2010) dizem que é certo que o tipo de apego aprendido na infância se
repetirá na idade adulta, e o apego ambivalente é dominante na dependência emocional
(Sophia, 2009). As opiniões negativas de si mesmo e as opiniões positivas dos outros
dominam. Indivíduos com esse padrão de apego têm uma taxa maior de culpa quando são
socialmente excluídos, excessivamente preocupados no cuidado com o outro
(Bartholomew & Horowitz, 1991). Assim, uma disfunção nos mecanismos neurais ou a
sua junção com outros fatores, como o ambiente familiar, os estilos de apego e a cultura
poderiam levar o indivíduo a estabelecer relações patológicas. Comportamentos
autodestrutivos e comorbidades também parecem fazer parte do quadro de dependência.
Portanto, a dependência emocional pode estar relacionada a transtornos alimentares,
ansiedade, somatização e depressão. Além disso, os indivíduos têm maior chance de
suicídio ou ideações suicídio para evitar que seus parceiros o abandonem, demonstrando
sua vulnerabilidade, impulsividade e baixa tolerância à frustração, características de
pessoas emocionalmente dependentes.

A dependência emocional se torna um fator de risco para a violência,


principalmente a doméstica. Homens emocionalmente dependentes possuem tendência a
exercer com frequência o papel de abusador, em contrapartida, mulheres dependentes
costumam serem as vítimas (Bornstein, 2006). O dependente emocional tem como
característica ser possessivo e tem medo do abandono (Moral & Sirvent, 2009), além da
impulsividade e ciúmes (Sophia, 2009). Quando o homem, ao perceber algum perigo em
sua relação (real ou imaginário), podem agir com violência, abusando de suas parceiras.
As mulheres, geralmente vitimizadas, possuem dificuldade de término de relacionamento
pelo medo de ficarem sozinhas e pelo sentimento de estar presa à relação (Moral &
Sirvent, 2009). Mas, é primordial que se interprete os dados com bastante cuidado, visto
que Bornstein (2006) destaca que os estudos na área investigam sempre homens como
abusadores e mulheres como vítimas e nunca o inverso. Se torna válido remeter o caráter
de adição da dependência emocional, tornando ainda mais dificultoso o rompimento do
relacionamento, principalmente pelos sintomas de fissura e abstinência que acometem o
indivíduo ao tentar sair da relação (Martínez & Gomes-Acosta, 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse artigo foi realizado uma revisão do material acadêmico e científico do tema
dependência emocional, Teoria do Apego de Bowlby. Os resultados mostram que esse
transtorno é caracterizado pela necessidade de estabelecer relacionamentos para alcançar
estabilidade emocional. Essa patologia é semelhante à dependência de substância, tanto
em termos de sintomatologia quanto dos processos neurológicos envolvidos.

A dependência emocional pode ter um sério impacto nas pessoas que sofrem deste
problema e nas pessoas ao seu redor, sendo a violência doméstica uma das consequências
discutidas como reflexo dessa patologia. Devido a consequências negativas e ao grande
número de pessoas que sofrem com essa dependência, é necessário obter um olhar mais
acurado sobre o assunto. Apesar da alta incidência na população e do número cada vez
maior de publicações, esse tema ainda é negligenciado. Portanto, acredita-se que um
conhecimento mais aprofundado sobre o assunto ajudará no seu diagnóstico, prevenção e
tratamento, ainda pouco estudados nesta área.

A questão problema que embasou o artigo, foi a seguinte: “Como os aspectos de


vivência familiar e estilos de apego aprendidos na infância produzem reflexos de
dependência emocional nos relacionamentos amorosos?”, foi respondida com a
abordagem de um estilo de apego composto na teoria de Bowlby, apego esse nominado
inseguro ambivalente/resistente que ocorre quando os pais se encontram disponíveis em
certas situações, e não em outras, fazendo com que o bebê experimente separação e
ameaças de abandono. O modelo gera incerteza em relação à disponibilidade dos pais e
como consequência, a ansiedade de separação nos relacionamentos adultos. A criança
apresenta comportamentos imaturos, demonstrando-se bastante incomodada ao se
aproximar de outras pessoas. São crianças que demonstram medo de se desviar dos pais
e continuam a exibir um comportamento ansioso quando estes voltam.

Apresentamos a dependência emocional conceituando a classificação do amor


patológico e de alguns pressupostos do transtorno da personalidade dependente. O amor
patológico seria caracterizado pelo comportamento de prestar cuidados e atenção ao
parceiro, de maneira repetitiva e desprovida de controle, em um relacionamento amoroso
e o transtorno de personalidade dependente é uma necessidade difusa e excessiva de ser
cuidado que leva a comportamento de submissão e apego e a temores de separação. Essas
pessoas podem fazer sacrifícios extraordinários ou tolerar abuso verbal, físico ou sexual.

Como tratamento para essa tipologia de transtorno, temos o acompanhamento


psicológico por um profissional de Psicologia que conduzirá com técnicas e ferramentas
da melhor forma possível a tratar as causas dessa tipologia patológica, e não apenas os
sintomas. Quanto mais cedo, menos danos serão causados na vida da pessoa amada e na
que sofre a patologia. Podemos observar grupos de apoio terapêutico que funcionam
direcionados para homens e mulheres que sofrem de dependência emocional.

Mulheres que Amam Demais Anônimo (MADA) é um grupo de ajuda mútua


anônimo, programa de reabilitação dirigido às mulheres que foram abandonadas ou
violentadas por seus pais na infância, e por apresentarem padrões de apego inseguro, na
vida adulta, elas procuram controlar seus parceiros e amá-los em demasia. Mulheres que
participam do MADA visam se livrar da dependência e de relacionamentos destrutivos,
eles aprenderão a construir relacionamentos de uma forma saudável (Lima, 2015).

Homens que Amam Demais (HADA/HADES) são caracterizados como uma


pessoa que é fruto de um lar desajustado e não teve uma boa relação com seus pais,
apontando para o apego inseguro ambivalente em sua fase adulta, pode se tornar submisso
no relacionamento, ser abusado e menosprezado pela mulher que ama. Pode sentir-se
culpado e nega, assim como as MADAs, a violência sofrida, acreditando que sua parceira
mudará seu comportamento e começará a amá-lo verdadeiramente. Uma característica
importante do HADES é ser excessivamente romântico e sentir-se envergonhado por isso
(Ades, 2009)

Um plano de tratamento apropriado para esse tipo específico de vício também


pode ser o alvo de pesquisas futuras, já que muitos tratamentos sugeridos são como
tratamentos para dependência de drogas ou tratamentos gerais aplicáveis aos vícios
emocionais. Essas intervenções geralmente carecem de testes científicos e não há
evidências que comprovem sua eficácia para pacientes emocionalmente dependentes.
Portanto, é necessário ampliar o debate sobre o tema a partir de pesquisas metodológicas
mais rigorosas para ampliar a compreensão dos profissionais de saúde sobre a
dependência emocional, seus aspectos constituintes e a possibilidade de intervenção.
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