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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
CURSO DE PSICOLOGIA

MARIANA EULÁLIA TELES, JULIA PEREIRA, LETÍCIA QUINTANILHA,


CECÍLIA NASCIMENTO, ISABELE CASSIANE CABRAL, ISABELA COSTA
PEREIRA E LAYSLA EMANUELLY REIS SOUSA.

TEORIAS DA PERSONALIDADE: ABORDAGEM PSICOLÓGICA

SÃO LUÍS
2023

MARIANA EULÁLIA TELES, JULIA PEREIRA, LETÍCIA QUINTANILHA,


CECÍLIA NASCIMENTO, ISABELE CASSIANE CABRAL, ISABELA COSTA
PEREIRA E LAYSLA EMANUELLY REIS SOUSA.

TEORIAS DA PERSONALIDADE: ABORDAGEM PSICOLÓGICA

Trabalho da disciplina de Psicologia da Personalidade do


Curso de Psicologia da Universidade Federal do
Maranhão – Campus São Luís, ministrada pela
Professora Dra. Cristianne Carvalho para obtenção da
nota da terceira unidade.

SÃO LUÍS
2023

SUMÁRIO

1. Terapia Cognitiva e a Teoria da Personalidade

2. A ótica da Análise do Comportamento sobre a teoria da personalidade

3. A personalidade segundo a abordagem psicanalítica

4. A personalidade à luz do Existencialismo de Sartre

5. A personalidade segundo a teoria humanista de Carl Rogers e Maslow

6. O estudo da personalidade dentro da fenomenologia


Introdução

Inicialmente, a psicologia se consolidava como ciência através de um viés


cientificista e positivista, uma vez que procurava se enquadrar no rótulo de ciência que na
época seguia apenas tais padrões, exemplificados pelo estudo da física e biologia. Desse
modo, se realizava uma psicologia experimental realizada em laboratórios e tinha como
principal objetivo o estudo de elementos que compunham o comportamento de maneira
observável e passível de teste, de maneira que o Behaviorismo e psicologia Wundtiana se
mostraram linhas de pensamento ilustres nesse contexto.

Assim, nota-se que os métodos exemplificados não são compatíveis com o estudo da
personalidade, uma vez que essa constam um de seus fundamentos principais: o estudo do
indivíduo como um todo, de forma que apenas com o surgimento da psicanálise freudiana foi
possível uma abertura ao caminho que futuramente levaria ao estabelecimento de uma
psicologia da personalidade. A psicanálise desvia dos modelos cientificistas seguidos até
então ao elaborar sua teoria de acordo com relatos clínicos de suas pacientes que, a partir de
uma interpretação criativa, diferencia-se da investigação laboratorial realizada até então.

Algumas décadas à frente, a psicologia da personalidade se firmaria como uma linha


de estudo particular da psicologia a partir da publicação da obra Personality: a psychological
interpretation (Allport, 1937).

Partindo desse contexto introdutório, serão apresentadas ao longo do trabalho


diferentes abordagens psicológicas e as relações que tecem com o estudo da psicologia da
personalidade.

Terapia Cognitiva e a Teoria da Personalidade

O termo personalidade contém diversos conceitos, podendo ser focados em alguns


aspectos da personalidade em detrimento de outros, dependendo de qual aspecto cada teórico
enfatiza e considera relevante. A depender da teoria e da ênfase adotada em cada pressuposto
está dado o interesse no que tange a relação da personalidade com abordagens psicológicas: a
falta de uma definição única. Desse modo, a construção da personalidade é uma área
complexa e a forma com que os indivíduos reagem a seu meio fornece indicativos de um
padrão de personalidade, tal padrão pode ser influenciado por diversos fatores que por sua
vez são estudados pelas teorias de personalidade, onde a maneira de caracterização de um
indivíduo é retratada de variados modos a depender da abordagem psicológica em questão.

A terapia cognitivo comportamental busca compreender a influência que os


pensamentos e crenças de um indivíduo têm na reação aos eventos do cotidiano, pode ser
caracterizada por ser direta, baseada em metas, breve e com foco na resolução de problemas.
Aaron T. Beck considerado pai da teoria cognitivo comportamental (TCC) delineou uma
definição de personalidade geral bem como termos conceituais centrais, teses principais e
fatores que se referem a personalidade. Sua definição abrange variadas características além
do puro comportamento, como as emoções e os pensamentos. Sendo assim, o próprio
conceito é possível ser considerado integrador, uma vez que tenta explicitar sobre os
funcionamentos de variados sistemas e suas relações, “como a soma total das ações, dos
processos de pensamento, das reações emocionais e das necessidades motivacionais da
pessoa” (Ross, citado por Beck, A. T., & Alford, 2000, p. 32).

Dado o exposto, o termo personalidade forma os padrões específicos dos processos


citados acima: de pensamento, necessidades pessoais e motivacionais do indivíduo e das
reações emocionais, sendo assim, através da soma de tudo o indivíduo reage com o ambiente
transformando e sendo transformado por ele. Segundo Rocha (2013), a teoria cognitiva
assume também que a definição de personalidade está vinculada aos processos esquemáticos
que por sua vez direcionam o funcionamento do psicológico como um todo. Portanto, para A.
T Beck e Alford (2000):

A personalidade, ou as estratégias comportamentais predominantes em um


indivíduo, seriam condizentes com os padrões cognitivos e afetivos que, por sua
vez, estão intimamente relacionadas às crenças que geram o comportamento (Beck,
A.T., Freeman, & Davis, 2005).

A ótica da Análise do Comportamento sobre a teoria da personalidade:

Para iniciarmos a ideia de personalidade para a análise do comportamento é importante


ressaltar, primeiramente, que a abordagem em questão não é uma das maiores investigadoras
sobre a teoria da personalidade, visto que o conceito de tal teoria foi formulado teoricamente
de maneira que em muito diverge das bases da análise do comportamento (Banaco, et. al.
citado por, Lapa, 2018).
De acordo com a análise do comportamento, a personalidade é como um padrão de
comportamentos. Segundo Catania (1999), seria um repertório de comportamentos, ou seja,
um grupo de comportamentos que compõem aquele indivíduo, mas que não obrigatoriamente
estarão sendo emitidos em todos os momentos, havendo a possibilidade de ser emitido, ou
não, em cada uma das interações do organismo com o meio. Considerado o formulador da
análise do comportamento, Skinner também foi um estudioso sobre a aprendizagem,
considerando o processo da mesma como seleção por consequência, portanto, repetimos
comportamentos de acordo com as consequências dos mesmos para nós (LAPA, 2018), sendo
assim, a aprendizagem diz não somente sobre o estado que nos encontramos no momento,
mas também sobre o nosso estado anterior, quando ainda não tínhamos aprendido seja o que
for (GOULART, 2012, pág. 20).

Portanto, a visão de personalidade sobre a ótica da análise do comportamento seria que


a personalidade não é o que faz cada um agir da maneira como age. Esses comportamentos
são, na verdade, respostas que foram reforçadas e assim, passaram também por um processo
de aprendizagem de determinado organismo. E por ter aprendido como se comportar em
determinadas situações e ter também essas respostas as circunstâncias reforçadas, esses
comportamentos acabam por serem emitidos com uma frequência maior, o que acaba sendo
conhecido popularmente como personalidade.

A personalidade segundo a abordagem psicanalítica

O estudo da personalidade na Psicanálise se deu a partir de Sigmund Freud, psiquiatra


e neurologista, nascido no ano de 1856 em Viena. Suas teorias foram formuladas ao longo do
seu trabalho na clínica, sem fazer o uso de nenhum método experimental, apenas ouvindo os
relatos de seus pacientes. Freud não estudou diretamente a personalidade humana, mas
algumas de suas teorias abordam a constituição da personalidade. Dentre as importantes
teorias de Freud, que até hoje servem como base para a clínica psicanalítica estão: a primeira
tópica, a segunda tópica e a teoria da sexualidade.

A primeira tópica freudiana divide o aparelho psíquico em instâncias, sendo elas o


inconsciente (Ics), o pré-consciente (Pcs) e o consciente (Cs). O inconsciente é composto por
aquilo que não é consciente, pois o seu conteúdo é censurado ou esquecido, mas jamais é
excluído. Essa instância possui elementos que são herdados geneticamente, ou seja, são mais
instintuais e inatos, além de serem determinantes na formação da personalidade (FADIMAN,
FRAGE, 1939).

Um importante determinante constituinte da personalidade é a pulsão. O estímulo


pulsional é uma força que advém do interior do organismo, não é um estímulo externo, ela é
uma força constante que visa apenas a satisfação de uma necessidade. O comportamento
humano seria conduzido pelas pulsões e não por estímulos e consequências exteriores ao
indivíduo (FREUD, 1915).

O pré-consciente faz parte do Ics, é responsável pela separação do conteúdo que pode
ou não passar para a consciência. Seu conteúdo é mais acessível à consciência. A
personalidade é resultado da interação com o interno e externo. Já o consciente é tudo o que
estamos cientes e tem influências diretas do mundo exterior, o estado de consciência é
transitório. Para Freud nada acontece por acaso, nem mesmo os processos mentais que
envolvem pensamentos, ações ou sentimentos. A personalidade por sua vez seria influenciada
é resultado da interação com o interno e externo (FADIMAN, FRAGE, 1939).

A segunda tópica postulada por Freud, relaciona as três instâncias do aparelho


psíquico com o Id, o Ego e o Superego, novas estruturas da psique. O id é uma estrutura
básica que possui um conteúdo inconsciente e que reserva toda a energia pulsional, além de
características inatas da personalidade. O ego busca regular as forças pulsionais, decidindo se
elas serão satisfeitas ou não, sempre buscando a auto-preservação. Essa instância busca
mediar os conflitos entre as forças interiores e exteriores ao organismo (FREUD, 1923). Por
fim, o superego atua a partir do ego, impondo barreiras psíquicas que controlam os impulsos
internos do organismo.

A personalidade à luz do Existencialismo de Sartre

A metodologia existencialista de Sartre destaca a liberdade e a capacidade dos seres


humanos de ressignificar o passado, agir no presente e modificar o futuro. Ao contrário das
abordagens deterministas, Sartre vê o ser humano como um ser em constante construção, em
constante movimento em direção ao futuro.

Segundo Sartre, as pessoas não nascem com uma personalidade fixa ou uma essência
imutável. Somos seres que possuem uma dimensão material, representada pelo corpo, e uma
consciência, que nos permite nos relacionarmos com o mundo e com os outros. Nossa
personalidade e características não são determinadas internamente, mas sim construídas e
reveladas à medida que nos relacionamos com o mundo e com as outras pessoas.

Sartre enfatiza que é por meio dessas relações e da interação com o mundo que
construímos nossa personalidade. Ao vivenciar diferentes papéis e situações objetivas em
nosso cotidiano, nos experimentamos e avaliamos a nós mesmos. Nesse processo, adotamos
modos de ser, formas de sentir, agir e nos conhecer, o que contribui para a construção da
nossa personalidade.

É importante ressaltar que as reflexões que fazemos sobre nossas experiências e a


maneira como nos apropriamos delas também desempenham um papel crucial na formação
da nossa personalidade. Por exemplo, após uma discussão familiar, as reflexões que fazemos
sobre o ocorrido e como incorporamos essas reflexões em nosso ser podem ter um impacto
significativo em nosso futuro.

Em suma, de acordo com Sartre, somos seres em constante construção e nossa


personalidade é moldada através das interações com o mundo e com os outros. Temos o
poder de refletir, fazer escolhas e ressignificar nosso passado, o que nos confere a
responsabilidade pelo nosso futuro.

A personalidade segundo a teoria humanista de Carl Rogers e Maslow

A teoria humanista, também conhecida como abordagem existencial-humanista,


concentra-se na ideia de que a personalidade é formada pela interação entre a experiência
subjetiva de um indivíduo e seu ambiente, sendo moldada pelo desejo de autorrealização e
autotranscendência. Os indivíduos são vistos como seres que têm livre-arbítrio e que têm a
capacidade de se autodeterminar.
Em oposição à visão do comportamentalistas e psicanalistas, haja vista que o primeiro
tem como foco os comportamentos externos, retratando os homens como robôs mecânicos; e
o segundo, estuda o lado inconsciente, as psicoses, as neuroses, a teoria humanista tem como
centro o trabalho com as qualidades e potencialidades do sujeito, além de entenderem o
comprometimento humano como multideterminado e complexo.
Nessa abordagem, Maslow e Carls Rogers são os principais representantes, no qual
destacam as forças e aspirações humanas, o livre arbítrio e a autorrealização. Abraham
Maslow propôs a hierarquia das necessidades, divididas em cinco e dispostas da mais fraca
para a mais forte: as fisiológicas, de segurança, as sociais, as de estima e as de
autorrealização. Embora sejam necessidades inatas, os comportamentos que são efetuados
para realizá-las são aprendidos e, portanto, sujeitos a variação de pessoa para pessoa. Além
disso, não somos guiados por todas as necessidades ao mesmo tempo, geralmente apenas tem
mais expressão sobre a personalidade.
Já Carl Rogers, enfatiza a importância da tendência de autorrealização na formação do
autoconceito, isto é, as pessoas querem se sentir, experimentar e agir de maneira congruente
com a sua autoimagem. Assim como Maslow concentrou-se no potencial de crescimento dos
indivíduos, dando ênfase ao livre-arbítrio e à autodeterminação que cada indivíduo tem para
se desenvolver suas potencialidades e qualidades.

O estudo da personalidade dentro da fenomenologia

A abordagem fenomenológica tem como base o enfoque na compreensão de


experiências subjetivas da vivência de cada ser humano. Ela se atenta em analisar como as
pessoas interpretam e fornecem sentido às suas experiências pessoais. Ou seja, busca
compreender a individualidade de cada pessoa, valorizando a perspectiva subjetiva como
fonte primordial de conhecimento. Dá ênfase ao significado atribuído às experiências e à
vivência pessoal.
A abordagem em questão define que o processo de construção da personalidade
envolve a reflexão sobre si mesmo, a busca por autenticidade e responsabilidade pelas
escolhas e ações. Carvalho (2011) define que a terapia fenomenológica existencial pode
contribuir para a transformação nesse aspecto e garantir a compreensão de questões
existenciais e enfrentamento de desafios, uma vez que permite que o indivíduo se torne mais
consciente de si mesmo e de suas possibilidades de mudança e crescimento.
Sendo assim, a fenomenologia entende a personalidade como um aspecto dinâmico,
que, como já mencionado, surge da experiência vivida do indivíduo. Se difere, portanto, de
outras abordagens, por não focar nas experiências passadas: a abordagem fenomenológica
destaca as experiências imediatas e processos vividos no presente. BRAGA, FARINHA e
MOSQUEIRA (2019) apontam “a necessidade de uma desconstrução da ideia de uma
personalidade severamente estruturada, que se contrapõe à objetivação em categorias
conceituais universalizáveis". As autoras afirmam que nas abordagens psicométricas, na
psiquiatria biológica e na abordagem psicanalítica acreditam na ideia de uma personalidade
que se determina de forma biológica ou através de experiências primárias.
Conclusão

De acordo com o exposto cabe-se pontuar que as mais diversas abordagens


psicológicas dialogam com o estudo da personalidade apesar de não construírem um modelo
particular ao estudo desse tema como os teóricos da personalidade.

Dito isso, é perceptível que as diferentes abordagens possuem óticas divergentes


respectivas ao objeto da personalidade, variando de uma perspectiva mais dinâmica e não tão
rígida, tal qual a visão fenomenológica, a uma posição mecanicista, a exemplo da terapia
cognitivo comportamental que enxerga a personalidade de modo padronizado.

REFERÊNCIAS:

BANACO, R. A., Vermes, J. S., Zamignani, D. R., Martone, R. C., & Kovac, R.
Personalidade. Em M. M. C. Hubner & M. B. Moreira (Orgs.), Temas clássicos em
psicologia sob a ótica da análise do comportamento. Rio de Janeiro: Koogan, 2012.

CATANIA, A. Charles. Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. 4. ed.


Porto Alegre: Artmed, pág. 467, 1999.

LAPA, Débora Louyse Almeida. A formação da personalidade para a análise do


comportamento. Portal Comporte-se, 2018. Disponível em:
https://comportese.com/2018/05/16/a-formacao-da-personalidade-para-a-analise-do-
comportamento/. Acesso em: 03/07/2023.

BRAGA, Tatiana Benevides Magalhães; FARINHA, Maria Gabriela; MOSQUEIRA,


Solange Muglia. Da personalidade ao Dasein: pensamento heideggeriano e práxis clínica.
Psicologia em Pesquisa, Juiz de Fora, v. 13, n. 2, p. 1-23, maio-ago. 2019. DOI:
10.34019/1982-1247.2019.v13.26130.

CARVALHO, Maria Márcia Marinho. Psicoterapia fenomenológico-existencial e o


processo de construção da personalidade. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e
Cognitiva, v. 13, n. 2, p. 117-131, 2011.

ROCHA, N. Q. A teoria da personalidade na terapia cognitiva de Aaron Beck. 2013. 85


f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Psicologia, Ich - Instituto de Ciências Humanas,
Universidade Federal de Juíz de Fora, Juíz de Fora, 2013.

COSTA, M. S. A.; ROCHA, A. S. . O constructo personalidade em uma perspectiva da


terapia cognitiva comportamental: Considerações dos modelos de avaliação psicológica.
Diálogos Interdisciplinares em Psiquiatria e Saúde Mental, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 15–22, 2021.

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