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R E L ATO D E P E S Q U I S A

Elaboração das formulações psicodinâmicas de caso:


um estudo exploratório
Elaboration of psychotherapy case formulations: an exploratory study
Rosangela Catto(a)*, Fernanda Barcellos Serralta(b)

Resumo: Este trabalho propôs investigar como psicoterapeutas de orientação psicanalítica realizam suas
formulações psicodinâmicas de caso. Trata-se de um estudo clínico e exploratório com delineamento
de “estudo de caso sistemático” (ECS). A transcrição completa de uma sessão inicial de psicoterapia
gravada em áudio foi entregue a quatro psicoterapeutas experientes com instruções específicas para: a)
marcação (seleção), no texto, do material considerado relevante para a compreensão do caso, b) escrita,
na margem da página, das hipóteses iniciais, e c) resposta a um questionário que incluía a formulação
psicodinâmica do caso, entre outros dados complementares. Os resultados mostraram que os terapeutas
apresentam bastante variação no que diz respeito à localização e número de marcas e hipóteses. Existem
estilos pessoais que caracterizam o processo de realização desses procedimentos. A afiliação teórica do
psicoterapeuta parece afetar mais o resultado de formulação psicodinâmica do que o seu processo. Esses
resultados devem ser interpretados com cautela, tendo em vista as limitações de um estudo exploratório.
Palavras-chave: Psicoterapia psicanalítica; Formulação psicodinâmica; Hipóteses clínicas

Abstract: This study was aimed to investigate how psychotherapists perform their psychodynamic case
formulations. This is a clinical and exploratory study with a “systematic case study” (ECS) design. The full
transcript of an initial session of psychotherapy, recorded in áudio, was delivered to four experienced
psychotherapists with specific instructions: a) to mark (select), in the text, the relevant material for
understanding the case, b) to write in the text margin the initial hypotheses, and c) to answer a
questionnaire that included the psychodynamic case formulation, among other complementary data.
The results showed that therapists have many variation regarding the location and number of marks and
assumptions. There are personal styles that characterize the process of carrying out such procedures. The
theoretical affiliation of the therapist seems to affect more the result of psychodynamic formulation than
the process. These results should be interpreted with caution, in view of the limitations of an exploratory
study.
Keywords: Psychoanalytic psychotherapy; Psychoynamic formulation; Clinical hiphotesis

a Psicóloga (ULBRA/Canoas).
*E-mail: rosangela.catto@terra.com.br
b Doutora em Ciências Médicas: Psiquiatria (UFRGS); Docente e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Uni-
versidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).

Sistema de Avaliação: Double Blind Review

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As pesquisas sobre o processo terapêutico buscam a natureaza da psicopatologia do paciente, sua estrutura de
compreender como funcionam as psicoterapias e como ocorre personalidade, dinâmica e desenvolvimento (Messer & Wolitzki,
o processo de mudança ao longo do tratamento (Wallerstein, 2007). Nesse sentido, as formulações psicodinâmicas são parte
2007). Nesse tipo de estudo, é importante observar o que de um processo de inferência clínica.
realmente fazem os terapeutas, visando conhecer suas ações Roussos e Leibovich de Duarte (2002) definem as
e as técnicas pertinentes a cada modelo psicoterapêutico inferências clínicas como uma operação cognitivo-afetivo
(Roussos, 2001). Estudos intensivos de caso, realizados através através da qual se conclui, por sentido indireto, a verdade de
da aplicação de métodos empíricos a sessões terapêuticas uma proposição ou um estado de relações. Conforme os autores,
gravadas em áudio ou vídeo, tem possibilidado compreender alguns estudos empíricos sobre esse processo evidencia que as
diferentes facetas do processo terapêutico (Serralta, Nunes inferências se concretizam por meio de uma operação cognitiva
& Eizirik, 2011). Entre as diversas variáveis que compõem associada aos sistemas de atribuição e processamento de
o processo de uma psicoterapia encontram-se as hipóteses informação realizada pelo clínico. Entende-se, portanto, que as
que norteiam o diagnóstico compreensivo que irão orientar o inferências clínicas compreendem todas as ações que abrangem
tratamento. Conhecer o processo de elaboração de hipóteses um processo de transformação que um determinado terapeuta
clínicas (no caso das psicoterapias psicanalíticas, as formulações considera relevante para dar sentido ao material clínico de um
psicodinâmicas de caso) é fundamental para a elaboração de determinado paciente.
estratégias de ensino, treinamento e supervisão, além de ofertar A compreensão da fala do outro, neste caso de um paciente,
subsídios para a proposição de métodos sistematizados de supõe uma função inferencial complexa que ultrapassa a
formulação psicodinâmica de caso. fronteira das informações fornecidas e que é fundamental para
Conform referem Vaisberg e Machado (2000), desde o início o desenvolvimento de intervenções terapêuticas direcionadas ao
a psicanálise salientou a importância do estabelecimento de um paciente (Leibovich de Duarte, 2004). Esse processo pode sofrer
diagnóstico provisório antes do efetivo início do tratamento. interferências de fatores do terapeuta, tais como o enfoque
Essa recomendação permanece atual e assume relevância ainda teórico, a sua experiência profissional e as particularidades do
maior quando se considera o universo das psicoterapias de seu próprio processo cognitivo do terapeuta (Roussos, 2001). Há
orientação psicanalítica, especialmente, das psicoterapias breves indícios, por exemplo, de que psicoterapeutas mais experientes
ou focais, pois estas tipicamente exigem maior planejamento realizam formulações de caso com mais informações descritivas,
quando comparadas às intervenções de longo prazo. diagnósticas, inferenciais e do planejamento terapêutico que os
As psicoterapias breves constituem uma modalidade de menos experientes (Eells et al., 2011).
intervenção altamente prevalente na atualidade não apenas Embora existam algumas diretrizes gerais para a elaboração
nas instituíções, mas também na clínica privada (Parry, Roth & de uma formulação psicodinâmica (Gabbard, 2005), esta tarefa,
Kerr, 2007). A principal característica da técnica de psicoterapia entretanto, não é simples como poderia se pensar, pois, como
breve, em comparação com a técnica psicanalítica clássica, bem assinalam Bottino et al. (2003, p. 166), “faltam clareza e
“é a preocupação em otimizar o processo de aumentar o sistematização na apresentação dos aspectos psicodinâmicos
número de insight instantâneos” (Lemgruber, 1984, p. 12). dos casos”, e, uma vez que as deduções são realizadas livremente,
Tipicamente isso é alcançado através da utilização de diversos mesmo entre psicoterapeutas com a mesma formação os
princípios limitadores que incluem, entre outros aspectos, princípios e níveis de abstração utilizados podem ser bastante
o planejamento terapêutico e a delimitação de um foco ou diferentes e assim produzir formulações distintas, que dificultam
conflitiva focal que será alvo das intervenções do terapeuta o processo de aprendizado da psicoterapia.
(Lemgruber, 1984; Yoshida, 2004). A formulação psicodinâmica Para minimizar diferenças entre psicoterapeutas na
pode ser simplificadamente definida uma narrativa de cunho formulação do caso, favorecer o ensino da psicoterapia e
descritivo sobre a natureza e a etiologia dos problemas psíquicos promover a investigação empírica de processos e resultados em
do paciente. São “hipóteses que poderão ser confirmadas ou psicoterapia, ao longo das últimas décadas, foram propostos
não durante o tratamento psicoterápico e que orientam as diferentes métodos sistematizados para orientar a construção
intervenções dos psicoterapeutas” (Bottino, Bairrão, Hanns, Rosa das hipóteses que irão nortear a intervenção clínica nas diversas
& Andrade, 2003, p. 166). Estas hipóteses representam, um abordagens teóricas em psicoterapia (Eells, 2007). Quando
conjunto de inferências, hierarquicamente organizadas, sobre de orientação psicanalítica, esses métodos, via de regra, estão

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relacionados a modelos também sistematizados de psicoterapia como os psicoterapeutas constroem suas inferências clínicas na
breve. Entre outros, citamos como exemplo, o Tema Central de clínica cotidiana. Na verdade, o exame da literatura nacional
Conflito nos Relacionamentos (CCRT), idealizado na década de e internacional sobre o assunto revela que pouco se sabe
70 por Luborsky, da Universidade da Pensilvânia, e relacionado à sobre os modos como psicoterapeutas abordam e processam
proposta da Terapia Suportiva-Expressiva (Suportive-Expressive o material de seus pacientes e constroem as hipóteses que
Therapy) e o Padrão Mal-adaptativo Cíclico (CMP), do grupo irão orientar o tratamento. Sendo assim, no presente estudo
da Universidade Vanderbilt, relacionado à Terapia Dinâmica questionamos: como psicoterapeutas realizam o processo de
de Tempo Limitado (Time-Limited Dynamic Psychotherapy, formulação psicodinâmica de caso? Considerando o relato de
TLDP). O CCRT está ancorado da teoria das relações objetais uma sessão diagnóstica, existe concordância entre diferentes
de conflitos intrapsíquicos e interpessoais e a sua formulação psicoterapeutas quanto aos elementos considerados relevantes
é baseada nas narrativas do paciente que refletem desejos e as para a construção das hipóteses clínicas? Há concordância
respostas do self e dos outros (Luborsky & Barret, 2007), sendo na quantidade e qualidade das hipóteses que irão compor a
amplamente utilizado em pesquisas de processos e resultados formulação do caso? Responder a essas questões permite que
em psicoterapia, inclusive no Brasil (Bottino et al., 2003; Yoshida se conheçam, entre outros aspectos, como os psicoterapeutas
et al., 2009) . O CMP integra perspectivas atuais da teoria das integram a informação clínica disponível, se tendem a ignorar
relações objetais, psicologia interpessoal e psicologia do self e dados que não apóiem suas hipóteses ou que dêem sustentação
a sua formulação considera o estilo interpessoal do paciente, o para hipóteses alternativas, ou a utilizar evidências ambíguas
contexto interpessoal dos problemas, as reações e expectativas para sustentar suas próprias hipóteses (Roussos, 2001). Nosso
interpessoais do paciente, os padrões interpessoais, considerando objetivo com este estudo, portanto, é contribuir para uma maior
pessoa, tempo e lugar, os padrões de interação com o terapeuta compreensão do processo de elaboração de inferências clínicas
(transferência) e as reações contratransferências do terapeuta na psicoterapia psicanalítica no contexto da clínica cotidiana.
(Levenson & Strupp, 2007).
A utilização de métodos sistematizados de avaliação Método
e intervenção terapêutica ainda é pouco difundida entre
psicoterapeutas brasileiros de orientação psicanalítica. Neste Este é um estudo clínico e exploratório que busca descrever
sentido, destaca-se o trabalho realizado por psicoterapeutas como os psicoterapeutas constroem suas hipóteses clínicas
paulistas no já extinto Núcleo de Estudos e Pesquisa em e integram as informações disponíveis para realizar uma
Psicoterapia Breve (NEPPB), durante as décadas de 80 e 90 formulação psicodinâmica de caso. Trata-se, portanto, de um
(Yoshida & Enéas, 2004). O modelo paulista é baseado na estudo de processo no qual um mesmo caso clínico é avaliado,
teoria da adaptação de Ryad Simon, quem também idealizou através de procedimentos qualitativos e quantitativos, por
a Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada (EDAO), diferentes psicoterapeutas. O delineamento, adotado é de
um instrumento aplicável às entrevistas clínicas avaliar o “estudo de caso sistemático”, ou ECS (Edwards, 2007), um
funcionamento adaptativo do paciente, e a Psicoterapia Breve modelo de investigação compreendida como uma extensão
Operacionalizada (PBO), um modelo de psicoterapia dirigida da prática clínica, mas que apresenta, em compração com os
aos seus problemas de adaptação (Simon & Yamamoto, 2009). estudos de casos clínicos tradicionais, diversos mecanismos
Embora as investigações sobre a formulação psicodinâmica para aprimorar o rigor metodológico e controlar os vieses do
de casos sejam raras, há estudos que mostram que existe estudo, entre eles, a coleta de dados cuidadosa e sistemática e a
correlação entre intervenções consistentes com a formulação utilização de juízes independentes para a avaliação do processo.
padronizada realizada (CCRT, por exemplo) e medidas de
processo e resultados (Eells et all., 2011). Todavia, não se sabe Participantes
ainda em que medida esses métodos de formulação padronizada Paciente – T. possui 27 anos e buscou atendimento
de caso são aplicáveis à clínica cotidiana (e quais as variáveis que psicológico em uma Clínica-Escola de uma Universidade do Rio
interferem em sua aplicação), assim como qual a avaliação que Grande do Sul devido a queixas de depressão. Referiu ter ficado
os psicoterapeutas (não pesquisadores) fazem da sua utilidade abalada com o rompimento de um relacionamento afetivo, de
(Godoy & Heynes, 2011). quase cinco anos, o qual considerava “para sempre”, com uma
São escassas as investigações que se ocupam com a forma companheira. Afirmou que nunca fazia nenhuma atividade que

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não fosse com a companheira, e que não conseguiu aceitar a tom e inflexão de voz de ambas, paciente e terapeuta.
forma como ela terminou o relacionamento. Relatou ter tido uma
infância solitária, e que os pais separaram-se no seu primeiro ano Coleta de dados
de vida. Definiu a mãe como uma mulher exuberante, bonita e A transcrição da entrevista foi entregue às psicoterapeutas
forte, e o pai, como um homem baixinho e sem graça. Quando participantes do estudo em envelope fechado, contendo, além
seu meio irmão revelou à mãe que era gay, sentiu-se encorajada do relato, instruções para a marcação dos trechos relevantes
a também fazê-lo. Não sofreram discriminações em casa por do discurso da paciente (no próprio material da entrevista) e
isso. Segundo T., para a sua mãe, o importante é que os filhos escrita (na margem da entrevista) de inferências e hipóteses
não se afastassem dela. Em relação ao pai, revelou ter sentido sobre o material. Desse modo, neste estudo, as marcas são
muita falta dele na sua infância. Expressou a idéia de que se todos os dados sublinhados (marcados devido à sua relevância)
fosse guri, o pai a teria levado mais vezes junto dele. Acrescentou pelos psicoterapeutas avaliadores na transcrição da entrevista
que, atualmente, diante do quadro depressivo que apresenta, o analisada. Já as hipóteses são as inferências clínicas, escritas
pai aproximou-se mais dela. A paciente se autodescreveu como na margem do texto analisado, correspondem a hipóteses
uma pessoa bloqueada para receber carinho e que não consegue iniciais (idéias, comentários, interpretações) que foram ou
expressar seus sentimentos. Associou essa característica à falta não integradas na formulação psicodinâmica de caso que foi
de aproximação e contato físico com a sua mãe, quando criança. posteriormente realizada. As instruções específicas para a
Sua mãe pareceria estar mais envolvida com os seus próprios seleção do material relevante (marcas) e escrita de hipóteses na
relacionamentos amorosos do que com a relação com os filhos. margem da página teve por objetivo possibilitar a análise da sua
T. possui uma vida profissional bastante produtiva. É reconhecida localização no texto.
pelo seu bom desempenho no trabalho e não apresenta Além dessas instruções, as participantes receberam um
nenhuma dificuldade nessa área. Suas queixas concentram-se questionário com questões abertas e fechadas para descrever,
na vida afetiva e relacional. Por ocasião da primeira entrevista, entre outros aspectos: a hipótese psicodinâmica inicial, os temas
estava apreensiva com a chegada da sua ex-companheira, que mais relevantes da sessão, o nível de confiança nas hipóteses
estava para retornar de viagem. formuladas e o modo como foram realizadas as hipóteses. O
Psicoterapeuta entrevistadora - A sessão inicial de T. foi questionário foi elaborado pelas pesquisadoras, tendo como
realizada por estagiária de Psicologia Clínica. Psicoterapeutas base o instrumento utilizado anteriormente por Roussos (2001)
avaliadores – Participaram do estudo quatro mulheres na sua investigação sobre este tema. Nenhuma informação
psicoterapeutas com formação em psicoterapia psicanalítica e adicional sobre o caso foi dada, além daquelas presentes na
experiência de pelo menos oito anos na docência e supervisão sessão de avaliação inicial que compõe a unidade de estudo.
em psicoterapia. As participantes foram selecionadas por
Análise de dados
conveniência entre docentes e supervisores de instituições
A análise dos dados seguiu um modelo clínico descritivo.
conceituadas no âmbito da formação psicanalítica.
Para avaliar a localização das marcas e inferências/hipóteses
Procedimentos realizadas pelos diferentes psicoterapeutas avaliadores,
Entrevista - A sessão inicial de T. foi gravada em áudio para inicialmente o texto foi dividido em blocos de 20 linhas cada. Esse
posterior transcrição e análise. Esta entrevista teve duração de 50 procedimento gerou 31 blocos. Em cada um desses blocos, em
minutos e foi realizada em sala de atendimento da Clínica-Escola planilha do Excel, foi computado o número de marcas realizadas
em que a paciente buscou atendimento, em conformidade com e de hipóteses escritas, por cada psicoterapeuta avaliador. A
as orientações gerais das entrevistas iniciais realizadas nesse seguir, foi utilizada, com o auxílio do comando gráfico do SPSS,
local: trata-se de uma entrevista aberta, cujo objetivo maior é a análise visual para verificar diferenças significativas entre os
identificar o motivo da procura de atendimento, realizar escuta avaliadores em relação ao número e localizaçãodas das marcas
empática e colher informações que subsidiem o diagnóstico e hipóteses realizadas. Após, para verificar aspectos centrais das
descrito e compreensivo do caso. formulações psicodinâmicas dos psicoterapeutas que avaliaram
A entrevista coletada foi transcrita na íntegra. Esta transcrição o caso, foi realizada a análise de conteúdo, conforme o método
foi realizada buscando contemplar não apenas as verbalizações clínico-qualitativo (Turato, 2003). Por fim, para complementar
ocorridas, mas também as pausas no discurso e variações no essas informações, foi feito o levantamento descritivo das
respostas ao questionário utilizado.

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Aspectos Éticos
Número de hipóteses por terapeuta
A pesquisa teve seu protocolo aprovado pelo Comitê
8
de Ética em Pesquisa da Universidade na qual foi realizada. T1 H

Hipóteses
6
T2 H
Todos os participantes (paciente e psicoterapeutas) receberam 4
T3 H
2
informações sobre objetivos e procedimentos de pesquisa 0
T4 H

e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31


Blocos
(TCLE), autorizando as pesquisadoras a realizarem todos os
Figura 2. Hipóteses por terapeuta
procedimentos previstos e a divulgarem seus resultados. Nota: A figura apresenta o número de hipóteses realizadas por cada terapeuta participante,
considerando cada um dos 31 blocos da sessão.
Legenda: T1 H = número de hipóteses da terapeuta 1, T2 H = número de hipóteses da terapeuta
Resultados 2, T3 H = número de hipóteses da terapeuta 3, T4 H = número de hipóteses da terapeuta 4.

Foram analisadas 513 marcas e 211 hipóteses (uma Segundo figura 2, T1 tende a realizar mais hipóteses na
proporção de 2,43 marcas para 1 hipótese). Os blocos que maioria dos blocos marcados, exceto nos blocos 1, 11, 13 e
geraram mais marcas foram os números 19, 16, 1 e 15, com 31, 14, quando a T4 faz mais hipóteses que a T1. Quanto a T2 e T3,
30, 27 e 27 marcas, respectivamente. Os blocos que geraram fazem menos hipóteses que T1 e T4, fazendo o mesmo número
mais hipóteses foram os números 19, 6, 14, 15, 16 e 18, com, de hipóteses em 12 blocos, sendo ainda que T2 faz um número
respectivamente, 16, 10, 9, 9 e 9 hipóteses cada. Para uma de hipóteses menor que T3 em 14 blocos, e T3 faz um número
melhor visualização desses dados, a distribuição de marcas menor que T2 em 5 blocos (blocos 9, 10, 22, 27 e 31).
e hipóteses por psicoterapeuta em cada bloco de texto está A seguir, foi feita uma análise de conteúdo do texto da
apresentada, respectivamente nas figuras 1 e 2. sessão nos blocos já mencionados. O objetivo foi verificar os
temas que levaram as psicoterapeutas particiantes a realizar
Número de marcas por terapeuta
mais marcas e hipóteses. Foi também realizada análise de
14 conteúdo das hipóteses formuladas em cada bloco analisado. A
12
10 T1 Marca
apresentação desses resultados segue a ordem cronológica no
material clínico.
Marcas

8 T2 Marca
6 T3 Marca
4 T4 Marca
2
0
Com relação às marcas, encontramos que:
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 - no Bloco 1, o tema predominante foi o abalo emocional da
Blocos
paciente frente ao rompimento amoroso;
Figura 1. Marcas por terapeuta
Nota: A figura apresenta o número de marcas realizadas por cada terapeuta participante em cada
- no Bloco 14, a paciente relata que, na sua festa de um
um dos 31 blocos da sessão. ano de idade, a mãe mandou o pai embora, e revela a falta
Legenda: T1 Marca = marcas realizadas pela terapeuta 1, T2 Marca= marcas realizadas pela
terapeuta 2, T3 Marca = marcas realizadas pela terapeuta 3, T4 Marca = marcas realizadas pela que sentia do pai na infância. Afirma que embora ausente no
terapeuta 4. cotidiano, o pai era presente quando estava doente. Fala de sua
homoxessualidade, que não esconde, mas não mostra;
Conforme figura 1, observa-se que o terapeuta 4 (T4) - no Bloco 15, a paciente conta o quanto sentiu falta de
tende a realizar mais marcas que os demais em praticamente seu pai na sua infância. Descreve a separação dos seus pais e as
todos os blocos analisados; T1 faz mais marcas em 7 blocos que características físicas de ambos;
T2 (Blocos 1, 5, 8, 15, 19, 23 e 30); T3, por outro lado, tende a - no Bloco 16, a paciente conta da separação dos pais e
fazer menos marcas que os demais em praticamente todos os que, quando ela ia visitá-lo, sua mãe ficava chorando no quarto.
segmentos da entrevista, exceto nos blocos 15, 16, 19, 23 e 26, Este bloco ainda contém o relato de que seu pai tinha várias
quando se mantém na média com as demais terapeutas, mas nos “namoradas” e a fantasia da paciente de que se ela fosse um
blocos 15, 16, 23 e 26 faz mais que T2. Percebe-se que T1 e T4 “guri”seu pai a levaria junto ao futebol e estaria mais presente
coincidem, fazendo um número maior de marcas, enquanto T2 e em sua vida; e
T3 coicidem entre sí, ficando com um número menor de marcas. - no Bloco 19, a paciente descreve sua dificuldade em
expressar emoções, fala de suas crises de asma e de quão
solitária foi sua infância.

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Com relação às hipóteses, os resultados indicam que: individuação. Não expressa seus sentimentos hostis, pois teme,
- no Bloco 1, a paciente revela que não aceita o rompimento em suas fantasias, destruir o objeto amado, fantasias que podem
da companheira e descreve como era essa relação. Hipóteses: ter se originado desde seu nascimento pelo afastamento do pai
dificuldade em lidar com separação; luto pela separação; na gravidez da mãe.
ansiedade; relação de dependência; Em sua análise, T2 percebe a paciente em um
- no Bloco 14, a paciente relata que na sua festa de um funcionamento emocional muito primitivo, na busca de suprir
ano de idade a mãe mandou o pai embora, e revela a falta suas necessidades emocionais. Para esta, as dificuldades estão
que sentia do pai na infância. Afirma que embora ausente no relacionadas à concepção e fases da infância da paciente, que
cotidiano, o pai era presente quando estava doente. Quanto à sua não sente que foi desejada e amada. A mãe não teria aberto
homoxessualidade, afirma que cansou de ficar escondendo, mas espaço para participação do pai na vida da paciente. Observa
evita mostrar para os outros. Hipóteses: relação dual; convivia que a paciente e a mãe, num primeiro momento, são a mesma
com o pai, mas não o tinha nas datas importantes; mostrar-não pessoa; não consegue fazer a separação-individuação de forma
mostrar sexualidade infantilizada; satisfatória. Não teve a figura do pai presente e parece estar
- no Bloco 15, a paciente conta o quanto sentiu falta de seu na bixessualidade infantil, não foi libidinizada pelo pai. Parece
pai na sua infância ("a mãe diz que ficou com o pai só para me buscar nas relações a situação inicial de amor vivida com a mãe.
fazer"). Descreve a separação dos seus pais e as características Na percepção de T3, a paciente é borderline. Sente o pai
físicas de ambos (mãe alta e "bonitona", pai "toquinho"). e a mãe como abandonantes e pouco confiáveis. Possui uma
Hipóteses: mãe desvaloriza o pai; mãe fálica - pai castrado, relação distante com o pai e demonstra uma simbiose com a
desvalorizado; mãe, juntamente com um desejo de separar-se desta e crescer.
- no Bloco 16, a paciente conta da separação dos pais e de Para esta terapeuta, a paciente demonstra dificuldade frente
quando ela ia visitá-lo e sua mãe ficava chorando no quarto. à dependência. Seu mundo interno é carregado de agressão,
Relata que sua mãe nunca ficou falando do pai para ela. Este bloco desconfiança e medo. Parece não ter dentro de si um mundo
ainda contém o relato de que seu pai tinha várias "namoradas" interno indiferenciado, masculino/feminino. Busca em outra
e a fantasia da paciente de que, se ela fosse um "guri", seu pai mulher um olhar que tem a marca materna. Apresenta ainda
a levaria junto ao futebol e estaria mais presente em sua vida. difusão da identidade ambígua e instável.
Hipóteses: pai ignorado, não existiu figura masculina; mãe tem Na elaboração de T4, a paciente é neurótica histérica, o
dificuldade de fazer a separação com a filha. Ela era a parceira que se apresenta no discurso sobre sua sexualidade - escolha
da mãe, não podia aproveitar e amar o pai pela ansiedade da narcísica em relação ao objeto. A paciente fica ao redor de
mãe-lealdade à mãe. Desejo de ser guri para aproximar-se do questões sexuais nas quais a triangulação mantém seus efeitos
mundo do pai, ser aceita e ser amada. Se fosse menino, talvez o com rivalidades em relação à figura materna. T4 elenca a forma
pai a amasse mais; de a paciente posicionar-se ao outro (objeto) de completude, a
- no Bloco 19, a paciente descreve sua dificuldade em forma de realcionar-se com figuras femininas e a angústia da
expressar emoções, fala de suas crises de asma e de quão falta de um objeto "completante".
solitária foi sua infância. Pai não aparecia, somente quando No questionário complementar foi avaliado o quanto
estava doente. Hipóteses: negligência emocional; medo da os dados foram suficientes para a formulação das hipóteses.
dependência - desenvolvimento precoce do ego: rigidez e Os quatro terapeutas concordaram que os seus pressupostos
defesas obsessivas; calava sua raiva; raiva do abandono; fica mal eram próximos dos dados e negaram que fossem meramente
pelo ganho... para ser olhada pelo pai ; Controladora; objetalizar- especulativos. Em uma escala crescente de 1 a 5, que avaliava
se para o pai; Imatura. o nível de confiança dado a sua hipótese, os terapeutas T1 e T2
Na sequência, verificamos as formulações psicodinâmicas marcaram 4, T3 marcou 2, e T4 marcou 5. Isso indica que T1, T2 e
elaboradas pelas terapeutas. T5 estavam mais confiantes do que T3.
Em suas formulações, T1 refere a dependência e desamparo Algumas questões do questionário buscaram descrever
da paciente originados na infância na sua relação com a mãe, como os psicoterapeutas realizaram o processo de contrução de
o que a faz experimentar, no rompimento com a companheira, suas hipóteses. Foram avaliados aspectos como: em que medida
uma intensa ansiedade de separação. Não se permite vivenciar a hipótese foi baseada na reincidência da temática no texto, na
a perda. A paciente apresenta uma fusão com a mãe, não há repetição de palavras no material, na presença de simbolismos,

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nas ambigüidades do discurso, nas contradições do discurso, na anteriores. Conforme já havia sido notado por Roussos (2001), na
presença de significados metafóricos, nas referências somáticas, primeira etapa, o referencial teórico não parece ter precedência
nos erros de linguagem e nos lapsos. Esses aspectos foram sobre tendências e sistemas de crença do terapeuta. Embora o
avaliados numa escala de 1 (mínimo de concordância) a 5 quadro teórico possa interagir com esses fatores, há evidências
(máximo de concordância). Os resultados indicam que não de que, ao propor as marcas, é relevante em si mesmo. Nossos
houve concordância entre as psicoterapeutas sobre essa questão: resultados indicam que, em média, são necessárias quase 2,5
cada psicoterapeuta priorizou aspectos diferentes na realização marcas para gerar uma inferência acerca do material clínico.
de suas hipóteses, exceto na reincidência temática no material, Indicam ainda que o número médio de marcas e inferências
apontada por três das quatro psicoterapeutas como muito ou feitas por cada psicoterapeuta parece ser independente da sua
extremamente relevante. formação teórica, visto que neste sentido T1 e T4 apresentaram o
Com relação à avaliação que os psicoterapeutas fizeram do mesmo estilo, embora em termos de formação de base tenham
material, T2 e T4 referiram necessitar conhecer melhor a situação influência de autores oriundos de modelos psicanalíticos bastante
familiar e a história de vida da paciente; os demais avaliaram distintos. Já T3, cuja formação teórica é bastante semelhante a
o material como sendo razoavelmente suficiente para conhecer T1, produziu significativamente menos marcas e hipóteses do
esses aspectos da vida da paciente. Quanto à perspectiva de que T1, embora tenha chegado, na formulação psicodinâmica
avaliação do material, T1 e T3 referiram ter examinado os dados de caso, a uma hipótese central bastante semelhante a T1. Nesse
como se fossem o terapeuta do caso, enquanto T2 e T4 salientaram sentido, a conclusão de Roussos (2001), Leibovich de Duarte
ter avaliado o material desde a posição de um supervisor. Todos (2004) e Bottino et al., (2003) de que a observação empírica
os psicoterapeutas negaram a utilização, nas suas práticas, das reuniões clínicas e de supervisão indica a existência de
de recursos técnicos não psicanalíticos. Sobre os autores que diferenças individuais detectáveis entre psicoterapeutas de uma
tiveram influência na prática clínica das terapeutas participantes, mesma orientação acerca da quantidade de material necessário
o levantamento dos resultados apresentou psicanalistas, em sua para produzir hipóteses clínicas parece ser corroborada pelo
ordem crescente de influência e importância, como Freud, Klein, presente estudo.
Bowlby, Winnicott, Zimermann, Mahler, Gabbard, Meltzer, Bion, A análise visual sugeriu existir bastante variação entre
Kemberg, Lacan, Minuchin, Liberman, Kohut, Ferro e Sullivan. os psicoterapeutas e a localização no texto (blocos) em
Ao analisarmos a importância dos autores de referência, por que se produziu mais informação clinicamente relevante.
psicoterapeuta, percebe-se que T1, T2 e T3 possuem como Psicoterapeutas inclinados a realizar mais marcas e hipóteses,
referência autores americanos representantes da psicologia do como T1, tendem a fazê-lo em todos os segmentos do texto,
ego e autores americanos e europeus expoentes dos modelos enquanto psicoterapeutas que tendem a fazer menos marcas e
relacionais, e T4 acentua a importância de autores da psicanálise hipóteses, como T2 e T3, mantêm essa tendência ao longo de
francesa. Os quatro psicoterapeutas consideram Freud um todo o processo de análise do material clínico.
dos autores mais relevantes em termos de influência em suas Não obstante, ao analisarmos conjuntamente os dados,
práticas. verificamos que existem segmentos do texto que geraram
significativamente mais marcas e hipóteses. A análise de
Discussão conteúdo desses blocos evidenciou temáticas como: abalo
emocional frente a rompimento amoroso, falta do pai na
A análise que realizamos do material clínico com as infância, solidão, dificuldade para expressar emoções,
marcações e hipóteses dos psicoterapeutas deixa claro que, sexualidade infantilizada, pai castrado, dificuldade de separação
de modo geral, destacam-se três fases diferentes no processo / individuação, dependência e desenvolvimento precoce do
de construção de uma formulação psicodinâmica crentral: Um ego. Contata-se que a formulação psicodinâmica do caso, feita
primeiro passo é a seleção de informação, e isto é realizado posteriormente, guarda estreita relação com os conteúdos
através das marcações que os psicoterapeutas fazem no texto; demarcados no texto e com as inferências inicialmente realizadas.
na segunda etapa, que é concomitante à primeira, idéias, Não verificamos nenhuma omissão ou acréscimo significativo. É
interpretações e assinalamentos que representam inferências necessário assinalar, entretanto, que não realizamos análise de
clínicas são formulados; e posteriormente, os dados são conteúdo de todos os blocos do texto, o que pode, em alguma
reorganizados numa formulação que integra as hipóteses medida, representar um viés de avaliação.

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Leibovich de Duarte (2004) assinala que é comum ser decorrente do estipo pessoal do terapeuta) podem levar a
encontrarmos analistas e psicoterapeutas que compartilham resultados semelhantes, especialmente entre profissionais que
uma linha teórica comum, porém que possuem pontos compartilham de um modelo teórico comum.
de vista não coincidentes sobre o mesmo material clínico.
Em nosso estudo, considerando a avaliação do conteúdo Considerações Finais
da formulação psicodinâmica de caso, observamos que o
referencial teórico exerceu uma influência bastante evidente Este estudo investigou o processo de construção das
sobre a conceitualização realizada. Nossos resultados, portanto, hipóteses e inferências clínicas que compõem as formulações
parecem indicar que a formação teórica do psicoterapeuta afeta psicodinâmicas de caso. Para tanto, foi utilizada uma abordagem
menos o processo de construção de hipóteses clínicas do que o metodológica descritiva que conjuga as abordagens clínica e
seu resultado. empírica. Como praticamente inexistem pesquisas sobre esse
Como já mencionamos, psicoterapeutas com formação tema, consideramos o estudo exploratório, tanto em termos de
semelhante podem realizar processos bastante divergentes seus objetivos como em termos de seu método. Assim, embora o
e psicoterapeutas de diferentes formações, processos presente estudo possua o mérito de ser original em sua proposta,
muito semelhantes. Por outro lado, os três psicoterapeutas apresenta algumas limitações importantes: a) o estudo trata de
com formação semelhante apresentaram conceituações avaliar um pequeno número de psicoterapeutas, selecionadas por
psicodinâmicas sobre o caso de conteúdo mais semelhante conveniência. Estas podem, portanto, não representar o universo
entre si do que a outra psicoterapeuta (T4), cuja orientação era de psicoterapeutas de orientação psicanalítica que exercem
mais relacionada ao modelo estrutural-pulsional clássico que atividades em nosso meio; b) apesar de contarmos um extenso
aos modelos relacionais referidos pelas demais participantes material clínico, dividido em 31 segmentos (blocos), optamos
como orientadores da sua prática. Apesar das diferenças, as por uma análise qualitativa dos resultados. A análise visual e de
quatro psicoterapeutas parecem concordar acerca da influência conteúdo realizada, futuramente, deverá ser complementada
de aspectos relacionados à relação primitiva entre mãe e criança por análises estatísticas que permitirão verificar com maior
na compreensão deste caso. Talvez seja esse o ponto em que o acuidade eventuais semelhanças e diferenças entre marcas e
grau de concordância clínica e teórica atinja seu maior expoente. hipóteses realizadas; c) como praticamente inexistem estudos
Para a maioria, o amor outorgado é a principal chave do semelhantes, não há dados de outros estudos para orientar
desenvolvimento humano. nossas conclusões. É necessário que novos estudos sejam
Dado que a noção de um narcisismo primário inexiste nas realizados sobre o processo de contrução de hipóteses clínicas
teorias relacionais que orientam T1, T2 e T3, não admira que entre psicoterapeutas para que se possa melhor compreender e
somente T4 refira um relacionamento objetal do tipo narcisista, utilizar esse conhecimento para o ensino e para a pesquisa em
enquanto as demais coloquem o acento na relação anaclínica psicoterapia psicodinâmica.
de dependência. Não obstante essa diferença, a temática do
narcisismo permeia a compreensão do caso feita pelas quatro
psicoterapeutas.Nota-se ainda que enquanto T4 compreende Referências
a paciente a partir de uma dinâmica mais próxima da histeria
e da situação edipiana, T1, T2 e T3 salientamas ansiedades Botinno, S. M. B., Bairrão, J. F. M. H., Hanns, L. A., Rosa, M. D., & Andrade,
provenientes do temor de abandono do objeto, relacionado ao L. H. S. G. (2003). Transtornos da compulsão alimentar periódica e
psicoterapia: é possível sistematizar a formulação psicodinâmica de
processo de separação-individuação.
caso? Revista Brasileira de Psiquiatria, 25(3), 166-170.
Embora a psicoterapia psicodinâmica e a psicanálise Edwards, D. J. A. (2007). Collaborative versus adversarial stances in scientific
não se fundamentam em um conjunto de fórmulas ou regras discourse: Implications for the role of systematic case studies in the
específicas para a realização de inferências acerca do material development of evidence-based practice in psychotherapy. Pragmatic
clínico e exista um amplo espaço para o surgimento de variações Case Studies in Psychotherapy, 3(1), 6-34.
individuais (Leibocich de Duarte, 2004), é possível encontrar Eells, T. D. (2007). History and current status of psychotherapy case
concordâncias entre diferentes psicoterapeutas acerca do formulation. In T. D. Eells (Ed.), Handbook of psychotherapy case
significado do material clínico examinado. Os dados do presente formulation (2nd ed., pp.3-32.) New York: Guilford Press.
estudo sugerem que diferentes processos (cuja variação parece Eells, T. D., Lombart, K., Salsman, N., Kendjelic, E., Schneiderman, C., &
Lucas, C. (2011). Expert reasoning in psychotherapy case formulation.

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