Você está na página 1de 34

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2

2 COGNITIVO COMPORTAMENTAL ............................................................ 3

3 TEORIA E PRÁTICA ................................................................................... 8

4 PAPEL DO TERAPEUTA COGNITIVO COMPORTAMENTAL ................ 10

5 PROCEDIMENTO TERAPÊUTICO .......................................................... 12

6 INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES .................................................. 14

7 PRINCIPAIS TÉCNICAS........................................................................... 15

8 ÁREAS DE ATUAÇÃO.............................................................................. 17

9 TERAPIA COGNITIVA: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS ........................... 19

10 TERAPIA COMPORTAMENTAL: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS ........ 24

11 TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL: DESENVOLVIMENTO E


PRESSUPOSTOS TEÓRICOS ................................................................................. 26

12 A REVOLUÇÃO COGNITIVA NA PSICOLOGIA ................................... 27

13 TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAIS: CONCEITOS E


PRESSUPOSTOS TEÓRICOS ................................................................................. 28

14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 31

1
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

2
2 COGNITIVO COMPORTAMENTAL

Fonte:www.grupoa.com.br

A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) “[...] emergiu da interpretação e


integração de princípios e conceitos de importantes abordagens da psicoterapia e da
aprendizagem” (BORBA, 2005, p. 23). Dentre as abordagens que contribuíram para o
surgimento da TCC “[...] destacam-se a psicologia animal, o Behaviorismo
Metodológico, o Neobehaviorismo, a Análise Experimental do comportamento, o
Behaviorismo Radical, a teoria de Aprendizagem Social, a terapia Racional-Emotiva-
Comportamental e a Terapia Cognitiva” (BORBA, 2005, p. 23).
É necessário destacar as abordagens cognitiva e comportamental, que de fato
deram origem a TCC, onde a ação terapêutica destas agem na alteração das relações
entre o comportamento e seus determinantes ambientais ou cognitivos. Os terapeutas
comportamentais e/ou cognitivos passam a utilizar das duas abordagens de forma
integrada, se tornando orientação cognitivo comportamental.
A TCC teve seu início entre as décadas de 60 a meados de 70, quando Aaron
Beck entrou em conflito com o dogma freudiano e assim modificou o tratamento da
depressão e de outros transtornos mentais com sua técnica cognitiva. Segundo Abreu
(2002, p. 277) salienta que:

3
[...] a partir da década de 60 que o esforço de vários pesquisadores, dentre
eles Michael Mahoney, Aaron Beck e Albert Ellis, fez com que os primeiros
passos fossem efetivamente dados. [...] o foco de estudos de Mahoney,
esteve voltado aos processos cognitivos, enquanto o trabalho de Beck estava
focado no tratamento da depressão.

Fonte: psicologastefania.files.wordpress.com

O termo terapia cognitiva inicialmente foi utilizado por Beck, que juntamente
com Albert Ellis, Lazarus, Mahoney, e outros, se destacam por serem os primeiros a
escreverem sobre o tratamento dos transtornos emocionais. O psicanalista Beck
observou durante seus atendimentos “[...] certas características no processamento
cognitivo de seus pacientes deprimidos e a relação destas como sintomas por eles
apresentados” (RANGÉ, 1995, p. 89).
Para Dobson, Backs- Dermott, Dozois ( 2000 apud KNAPP, 2004, p. 44) “o
desenvolvimento da terapia cognitivo comportamental se deu em um momento
histórico em que as abordagens dominantes eram a psicanálise, o behaviorismo e,
em menor escala, o humanismo”. Vários fatores que contribuíram para o
desenvolvimento da terapia cognitivo comportamental (KNAPP, 2004) auxiliando no
seu crescimento e identificação:

Em primeiro lugar o fator que levou ao desenvolvimento foi “[...] a insatisfação


com os modelos estritamente comportamentais do comportamento humano
era cada vez mais evidente no final dos anos 60”. E segundo “[...] a medida

4
que a insatisfação com o modelo restrito não-mediacional de estímulos e
resposta do comportamento aumentava, o modelo psicodinâmico de
personalidade e de terapia, que mantinha a posição de perspectiva alternativa
mais forte, continuava sendo rejeitado”. O terceiro fator diz respeito “[...] as
intervenções comportamentais ou não-cognitivas eram irrelevantes para
alguns problemas, tais como o pensamento obsessivo. O enfoque em
sintomas comportamentais para mudança nesses transtornos não era
inadequado ou ineficaz; entretanto, problemas inteiros ou seus principais
componentes ficavam sem tratamento”. O quarto fator para o
desenvolvimento foi “[...] a crescente atenção dada aos aspectos cognitivos
do funcionamento humano na psicologia em geral, com desenvolvimento,
pesquisa, estabelecimentos de diversos conceitos mediacionais na psicologia
experimental. [...] a crescente identificação de diversos terapeutas e teóricos
como de orientação cognitivo comportamental [...]” é o quinto fator. O último
fator diz respeito a identificação “[...] nas pesquisas de resultados geralmente
positivos das intervenções cognitivo comportamental, as quais se mostraram
igualmente ou mais eficazes do que as abordagens estritamente
comportamentais.

Fonte:encrypted-tbn2.gstatic.com

Beck em 1970 fundou o Centro de Terapia Cognitiva, onde dirigiu até o ano
de 1995, juntamente de seus discípulos e colaboradores desenvolveu a Terapia
Cognitiva (TC) como um novo sistema de psicoterapia, foi influenciado pelo
construtivismo, pela fenomenologia e por filósofos clássicos a expandir os limites e
aprimorar os métodos da psicoterapia. Como nesta época estavam afastados a
psicanálise e o behaviorismo radical por vários de seus adeptos, destacavam-se
outras abordagens como esta em discussão. Neste sentido Rangé (1998 a apud
BORBA, 2005, p. 28) enfatiza que “[...] houve uma mudança paradigmática do modelo
de saúde existente na década de 60 e que representou a passagem do modelo médico
para o modelo psicossocial”. No modelo médico existia a ideia de “curar” o paciente e
a crescente insatisfação pela incapacidade de gerar diagnósticos válidos e fidedignos
5
abrindo espaço para o modelo psicossocial, onde de fato a psicoterapia tradicional
não conseguia transmitir sua efetividade (BORBA, 2005).

Fonte:encrypted-tbn3.gstatic.com

Entre as teorias comportamentais e cognitivas podem ser identificados alguns


pontos em comum, tais como:

[...] a semelhança metodológica, no sentido de visarem um estudo objetivo,


baseado em evidências, cientificamente comprovado, o desenvolvimento das
hipóteses e práticas sistematizadas, que pudessem ser sistematizadas, que
pudessem replicadas por outras pessoas, o pradigmatismo, pelo objetivo de
aplicar o conhecimento desenvolvido, a perfeita compatibilidade entre as
intervenções cognitivas e comportamentais, que maximizam de vida de uma
pessoa, e a noção de que grande parte dos problemas apresentados por um
indivíduo tem a ver com sua história de aprendizagem (BORBA, 2005, p. 29).

O surgimento da (TCC) no Brasil tem se proliferado nos últimos 15 anos,


através de atendimentos clínicos e cursos nessa abordagem em clínicas e institutos.
Por ser um “[...] modelo integrado, a fundamentação científica, o curto prazo, a eficácia
e a aplicabilidade a uma ampla gama de transtornos, evidências que lhe tem
assegurado o respeito de cientistas, clínicos e pacientes ao redor do mundo”
(PSIQUE, ano I, nº3). Segundo Edela A. Nicoletti em seu artigo a evolução da terapia
cognitiva no Brasil , o primeiro centro de orientação cognitiva se estabeleceu em 1992,
em São Paulo, no Rio de Janeiro em 1996 núcleos de TCC se estabeleceram tendo

6
como destaque o representante Bernard Range, sendo este conhecido por sua
contribuição ao desenvolvimento da Terapia Comportamental no Brasil.
Recentemente em Florianópolis foi criado o Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva
(ICTC) coordenado pelo psicólogo Marco Callegaro (PSIQUE, ano I, nº 3).

Fonte: encrypted-tbn3.gstatic.com

Em meados da década de 70 ocorreu o grande desenvolvimento e


reconhecimento da terapia comportamental devido ao surgimento de técnicas novas
especialmente no tratamento de fobias, obsessões e disfunções sexuais (LIMA e
WIELENSKA, 1993 apud BAHLS e NAVOLAR, 2004, p. 7). De acordo com Hawton et
al. (1997), foi nesta época que Lang, Rachman e outros desenvolveram a ideia de que
um problema psicológico poderia ser compreendido sob três enfoques diferentes (ou
“três sistemas”) ligados entre si tais como os sistemas comportamental,
cognitivo/afetivo e fisiológico. Esta ideia representou uma quebra com a visão unitária
dos problemas psicológicos que até então existia” (BAHLS e NAVOLAR, 2004, p. 7).
Hammen e Glass (1975 apud Hawton et al., 1997), desenvolveram estudos
com pacientes depressivos e perceberam que apesar de os pacientes realizarem com
maior freqüência atividades agradáveis (ao contrário do que se pensava a partir de
trabalhos anteriores), era comum que avaliassem negativamente tais atividades e o
seu desempenho em realizá-las. Estes fatos chamaram a atenção para influência dos

7
fatores cognitivos na forma como um indivíduo reage aos fatores do meio e na
constituição das psicopatologias, contribuindo assim para que muitos terapeutas
comportamentais passassem a utilizar também conceitos e técnicas cognitivos na
prática clínica” (BAHLS e NAVOLAR, 2004, p. 7).

3 TEORIA E PRÁTICA

A Terapia Cognitivo-Comportamental “[...] é um termo genérico que abrange


uma variedade de mais de 20 abordagens dentro do modelo cognitivo e cognitivo
comportamental” (MAHONEY e LYDDON, 1988, apud KNAPP, 2004, p. 19), em
diversos transtornos neuropsiquiátricos vem comprovando sua eficácia no tratamento.
A abordagem da terapia cognitiva comportamental diz respeito a um sistema
integrado de psicoterapia, cientificamente fundamentado e associado à aos modelos
de personalidade, de psicopatologia e ao modelo aplicado. Quando Aaron Beck
propôs o modelo cognitivo de depressão, ou seja, “[...] a depressão na Terapia
Cognitiva, assim como os demais transtornos psiquiátricos, é tratada levando o
paciente a identificar e alterar estes pensamentos disfuncionais (BIGGS e RUSH,
1999; SHAW e SEGAL, 1999: BAHLS e BAHLS, 2003 apud BAHLS e NAVOLAR,
2004, p. 8), resultando então no surgimento da psicoterapia e conceituando a
depressão como transtorno de pensamento e não um transtorno emocional
apresentou a TC (terapia cognitiva) como um novo sistema de psicoterapia que
contribui para a ampla gama de transtornos – depressão, transtornos de ansiedade,
transtornos alimentares, dependência química, psicoses, terapia conjugal e familiar,
etc.

8
Fonte: encrypted-tbn1.gstatic.com

Segundo Rangé (1996 apud Borba, 2005, p.32) o objetivo da TCC esta em
“[...] auxiliar o paciente a reconhecer e modificar padrões de pensamento e
comportamentos disfuncionais, para outros que sejam mais racionais, realistas e
eficientes na direção de metas por ele desejadas”. Sendo uma abordagem por tempo
limitado (HAWTON et al. 1997), ativa, diretiva e estruturada (RANGÉ, 1995, p. 90)
este autor destaca que é:

[...] usada no tratamento de uma variedade de problemas psiquiátricos,


fundamentada no modelo cognitivo e caracterizada pela aplicação de uma
variedade de procedimentos clínicos como introspecção, insight, teste de
realidade e aprendizagem visando aperfeiçoar discriminações e corrigir
concepções equivocadas que se supõe basearem comportamentos,
sentimentos e atitudes perturbadoras.

É característica da TCC a sua ênfase no presente onde faz a avaliação mais


realista possível, e assim identificar as situações especificas que são as mais aflitivas
para o paciente no momento.

A atenção somente se volta para o passado quando o trabalho presente


resultar em pouca ou nenhuma mudança cognitiva, comportamental ou
emocional ou quando o clínico julgar importante entender como e quando as
ideias disfuncionais se originaram (e como atualmente afetam o indivíduo)
(ABREU e GUILHARDI, 2004, p. 284).

A TCC pode ser aplicada individualmente, em grupo, adultos, crianças e


adolescentes. Em transtornos orgânicos, contextos institucionais, corporativos,
educacionais e em esporte, é utilizada com grande eficiência para o tratamento. Por
ser um método diretivo e semiestruturado se direciona a resolução de problemas, pois
é colaborativa em um processo, ou seja, ambos terapeuta e paciente possuem papel
ativo no processo terapêutico. Onde o terapeuta “[...] estabelece uma parceria com o
cliente, num sistema de coparticipação ativa em que são estimuladas atividades de
enfrentamento, realização pessoal e capacitação, com estratégias cognitivas e
comportamentais, dentro e fora do setting terapêutico” (BORBA, 2005, p. 32). Para
que a relação terapêutica seja efetiva é necessário como condição a empatia, ou seja,
é essencial estar presente em todo terapeuta cognitivo comportamental o “[...]
interesse genuíno, calor humano, autenticidade [...]” (RANGÉ, 1995, p. 91). O
processo psicoterapêutico segundo este autor “é visto como um esforço colaborativo
9
entre terapeuta e paciente [...] que, em conjunto, estabelecem os objetivos da terapia
e de cada sessão, o prazo e a duração do contrato terapêutico”.
A TCC por utilizar do método socrático utiliza-se de “[...] perguntas que o
terapeuta faz para o paciente de modo que este possa questionar os fundamentos de
seus pensamentos automáticos e que, reconhecendo a essência destes, possa
modificá-los” (RANGÉ, 1995, p. 91). Desta forma ajuda o paciente a elaborar suas
informações, “[...] para atingir seus objetivos de mudança na situação problemática
específica. [...] ensinar [...] recursos e habilidades para lidar sozinho com novas
situações com as quais se defronte no futuro” (RANGÉ, 1995, p. 92). O trabalho de
casa é outro método central da TCC utilizado para a eficácia do tratamento, pelas
sessões serem limitadas no tempo, “[...] o tempo fora das sessões pode ser
eficientemente utilizado para novas experiências e exercícios corretivos de suas
crenças disfuncionais. A resistência em realizá-los deve ser examinada nas sessões,
de modo a detectar os possíveis fatores que estimulem esta evitação” (RANGÉ, 1995,
p. 92). É essencial que o terapeuta tenha consciência da importância de seu papel no
processo terapêutico contribuindo na aceitação e resistências do paciente pelo
tratamento.

4 PAPEL DO TERAPEUTA COGNITIVO COMPORTAMENTAL

O terapeuta cognitivo comportamental tem um papel ativo, colaborativo e


educativo, J. Beck (1995 apud ABREU e GUILHARDI, 2004, p. 282) traz as seguintes
contribuições:

 Auxiliar o paciente na identificação dos pensamentos automáticos e das


crenças disfuncionais associadas a eles;
 Propor técnicas de reestruturação cognitiva, visando à modificação desses
mesmos pensamentos automáticos;
 Levantar hipóteses sobre a categoria de crença central (desamparo ou pouca
amabilidade) da qual os pensamentos automáticos específicos parecem ter
surgido;
 Especificar a crença central preponderante;

10
 Apresentar ao paciente sua hipótese sobre a crença central, solicitando dele
uma confirmação (ou não);
 Educar o paciente sobre crenças centrais em geral e sobre sua crença central
especifica, orientando-o a monitorar a (s) operação (ões) de sua crença central;
 Começar a avaliar e modificar a crença central junto com o paciente, auxiliando-
o a especificar uma crença central nova e mais adaptativa.

A relação entre terapeuta e paciente envolve a empatia e a confiança, pois


para que a relação terapêutica seja efetiva “[...] são fundamentais a empatia e a
assertividade do terapeuta. [...] determinantes da mudança do comportamento durante
a terapia” (KNAPP, 2004, p. 211) envolvendo o processo que é semiestruturado em
certas tarefas entre as sessões. Para Hawton (et al. 1997, p. 23) “o terapeuta deve
mostrar solidariedade e preocupação pelos problemas e dificuldades do paciente, sem
emitir julgamentos; isso pode proporcionar grande alívio, sobretudo se o paciente se
sentir constrangido, culpado ou sem esperanças, como ocorre com frequência”. As
características do terapeuta cognitivo comportamental são essenciais no processo
terapêutico para que o paciente possa “[...] se sentir seguro para revelar informações
importantes, e muitas vezes perturbadoras” é preciso haver “[...] uma atmosfera de
cordialidade e de confiança, sem risco de censura” pelo terapeuta ao ter empatia “[...]
com o paciente e estiver claramente empenhado em ajudá-lo a superar as dificuldades
existentes” (HAWTON; et al. 1997, p. 20).

11
5 PROCEDIMENTO TERAPÊUTICO

Fonte:encrypted-tbn0.gstatic.com

A TCC é focal e breve, pois necessita de uma definição concreta e especifica


dos problemas do paciente e das metas terapêuticas. No início do tratamento o
paciente é informado que “[...] a terapia tem a função pedagógica destinada a ensinar
a detectar e reduzir os seus sintomas, de modo que possa, gradativamente, se tornar
habilitado a conduzir a terapia sem a ajuda do profissional” (ABREU e GUILHARDI,
2004, p. 283). Para que o paciente seja educado sobre a abordagem cognitivo
comportamental é necessário:

Oferecer ao paciente um folheto impresso, contendo informações sobre a


doença, a disfunção e os princípios gerais da terapia é bastante útil para
garantir uma compreensão mais ampla do que será abordado durante as
consultas que se seguirão. (ITO et al., 1998 apud ABREU e GUILHARDI,
2004, p. 282).

O problema sendo conceituado é necessário se estabelecer o plano de


tratamento com metas e estratégias específicas, ou seja, identificar pensamentos
padronizados e crenças que podem vir a impedir de por em prática as metas e assim

12
a melhora no tratamento. Desta forma Abreu e Guilhardi (2004, p. 283) afirmam que
a TCC “[...] ensina o paciente a colocar em foco, a cada sessão, seus pensamentos e
crenças disfuncionais, identificando, avaliando e respondendo cada situação
disfuncional”. Como as sessões são estruturadas a:

Cada atendimento é iniciado com a elaboração de uma agenda na qual o


paciente e o terapeuta sugerem os assuntos que gostariam de incluir,
definindo prioridades e organizando o tempo que será dedicado a cada
tópico. [...] No final de cada sessão [...] permitir que o paciente sintetize e
registre claramente os aspectos centrais debatidos na sessão. Ao se observar
essa sequência de trabalho, o indivíduo consegue sistematizar as lições
estudadas naquela sessão e a utilidade desse aprendizado para as situações
futuras. (ITO et al., 1998 apud ABREU e GUILHARDI, 2004, p. 283).

Ao se estruturar por um meio de estilo focal, na TCC, “[...] as tarefas escolhidas


no início [...] corresponderão a um alvo que necessite de uma intervenção imediata,
devendo respeitar [...] o grau de capacidade do paciente para executá-las, a fim de
não gerar frustrações desnecessárias” (ABREU e GUILHARDI, 2004, p. 283). Neste
sentido esta terapia utiliza de várias técnicas com o propósito de modificar o
pensamento, o humor e o comportamento do paciente. Por ser uma terapia focada
“[...] nos problemas e sintomas, colaborativas e envolvem demonstrações, exercícios
e tarefas de casa, uso de registros, instrumentos de auto monitoramento e,
eventualmente, a realização de tarefas junto com o terapeuta” (CORDIOLI, p. 12).

Fonte:www.stum.com.br

13
O tempo é variável na TCC, desta forma Beck (1976 apud ABREU e
GUILHARDI, 2004, p. 284) “sugere de quatro a quatorze sessões semanais para
vários casos. [...] alguns pacientes podem necessitar de 1 a 2 anos para modificar
suas crenças e seus comportamentos disfuncionais”. Enquanto que em algumas
situações “[...] a melhora significativa dos sintomas apresentam-se após doze a vinte
sessões [...] o tempo de tratamento estará associado à motivação e disponibilidade
do cliente, assim como à natureza e à possibilidade de resolução” (BECK e
FREEMAN, 1993 apud ABREU e GUILHARDI, 2004, p. 284).

6 INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES

Existem evidências de indicações ao uso da TCC, em quadros clínicos que


precisam ser investigados com mais profundidade pelo fato de serem pouco
estudados e por apresentarem resultados contraditórios. Knapp (2004) cita as
indicações ao uso da TCC no tratamento da depressão, fibromialgia, insônia,
transtorno de pânico e agorafobia, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC),
transtornos de comportamentos infantis, esquizofrenia, bulimia nervosa, fobia social,
transtorno de ansiedade generalizada (TAG), transtornos de estresse pós-traumático
(TEPT), transtornos por uso de substâncias, síndrome da fadiga crônica, jogo
patológico, comportamento de automutilação, dispepsia não-ulcerosa, tricotilomania,
personalidade borderina e transtornos de personalidade e transtorno bipolar.

14
Fonte:encrypted-tbn1.gstatic.com

Para Knapp (2004, p. 164) “não há contraindicações [...] ao uso da TCC. É


recomendado uma análise de cada pessoa, problema ou situação”.

7 PRINCIPAIS TÉCNICAS

Sendo o objetivo da terapia cognitiva “identificar, examinar e modificar as


cognições distorcidas ou disfuncionais em três níveis [...] os pensamentos automáticos
(PA) [...] crenças intermediárias (pressupostos subjacentes e regras) [...] e [...] crenças
nucleares (esquemas) ” (KNAPP, 2004, p. 133) a mudança cognitiva produz
modificação no comportamento e vice-versa. Segundo Knapp (2004) existe as
técnicas cognitivas citadas acima e as técnicas comportamentais que tem o propósito
em sua intervenção comportamental “[...] aumentar o comportamento positivo
enquanto diminui o negativo” (LEAHY, 1996 apud KNAPP, 2004, p. 153).

15
Fonte:encrypted-tbn2.gstatic.com

Os pensamentos automáticos um dos níveis a serem identificados pela


técnica cognitiva podem ser palavras, imagens ou memórias, podem ocorrer antes
mesmo da situação em si, durante ou posteriormente à situação. É necessário
segundo Knapp (2004) perguntar diretamente sobre os pensamentos que estão
passando pelo pensamento do paciente, e assim identificar mudanças ou
intensificações do humor durante a sessão, a descrição de uma situação ocorrida fora
da sessão, o foco das emoções, foco nas situações, recriação de situação vivenciada
pelo paciente, role-play do que foi vivenciado, a utilização de uma imagem que passou
pela cabeça ou que melhor descreve o pensamento, o terapeuta sugere um
pensamento plausível que o paciente pode ter tido, o terapeuta sugere um
pensamento contrário ao que pode ser esperado na situação, sugestão de
pensamentos derivados da prática clínica, a obtenção de pensamentos que uma
pessoa próxima do paciente poderia ter, a conversão da incerteza em possibilidade,
conversão de perguntas em afirmações.
Beck (1976 apud KNAPP, 2004, p. 133) destaca que “[...] a terapia cognitiva
não é definida pelas técnicas que são empregadas, mas pela ênfase que o terapeuta
dá ao papel dos pensamentos na causa e na manutenção dos transtornos”.
Neste sentido para que as técnicas utilizadas pela TCC sejam efetivamente
desempenhadas é necessário que o profissional seja um bom estrategista, saber
dirigir o processo terapêutico, “sempre com base no desenvolvimento de um bom
relacionamento terapêutico e fundamentado no método de questionamento socrático
16
e na colaboração empírica [...]” (KNAPP, 2004, p. 133) levando o paciente a
descobertas e mudanças.
Segundo Rey e Pacini (2006) técnicas como a de relaxamento, de treinamento
de habilidades sociais, reestruturação cognitiva e de exposição são utilizadas como
ferramentas para o tratamento da TCC.

8 ÁREAS DE ATUAÇÃO

Fonte:encrypted-tbn0.gstatic.com

As áreas de atuação da TCC, segundo Rangé (1995) estão voltadas para os


seguintes campos:
 Medicina comportamental;
 Neuropsicologia comportamental;
 Instituições de saúde;
 Instituições escolares;
 Instituições de trabalho;
 Psicologia e odontologia;
 Enfermarias psiquiátricas;
 Manejo do estresse;
 Psiquiatria e psicofarmacologia;
 Psicobiologia da ansiedade;

17
 Análise experimental do comportamento na posição sentada: ergonomia do
mobiliário escolar;
 Separação conjugal;

Segundo Caballo (2007) a TCC utiliza suas técnicas de intervenção em:


 Catástrofes e primeiros socorros;
 Pessoas que tem problemas com álcool;
 Tratamento do tabagismo;
 Tratamento do vício em heroína e cocaína;
 Transtornos da alimentação;
 Transtorno da obesidade;
 Transtornos do sono;
 Tratamento cognitivo comportamental de parafilias;
 Enfrentamento do estresse;
 Tratamento das cefaleias;
 Síndrome pré-menstrual;
 Intervenções com HIV / AIDS;
 Intervenção psicológicas com pessoas na fase final da vida;
 Transtornos da personalidade;
 Problemas conjugais;
 Problemas familiares;
 Controle da ira;

A Terapia Cognitivo Comportamental integra técnicas e conceitos vindos de


duas principais abordagens tais como a cognitiva e a comportamental. Em seguida,
serão apresentados os pressupostos teóricos destas abordagens e o surgimento de
um movimento integrador na psicologia que culminou no que atualmente denominam-
se de terapias cognitivo comportamentais, terapias estas que apresentam diversas
aplicações no tratamento de problemas psiquiátricos.

18
9 TERAPIA COGNITIVA: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

A Terapia Cognitiva utiliza o conceito da estrutura “biopsicossocial” na


determinação e compreensão dos fenômenos relativos a psicologia humana, no
entanto constitui-se como uma abordagem que focaliza o trabalho sobre os fatores
cognitivos da psicopatologia. Vem demonstrando eficácia em pesquisas científicas
rigorosas além de ser uma das primeiras a reconhecer a influência do pensamento
sobre o afeto, o comportamento, a biologia e o ambiente (Shinohara,1997; Shaw &
Segal, 1999).
De acordo com a Terapia Cognitiva os indivíduos atribuem significado a
acontecimentos, pessoas, sentimentos e demais aspectos de sua vida, com base
nisso comportam-se de determinada maneira e constroem diferentes hipóteses sobre
o futuro e sobre sua própria identidade. As pessoas reagem de formas variadas a uma
situação específica podendo chegar a conclusões também variadas.
Em alguns momentos a resposta habitual pode ser uma característica geral dos
indivíduos dentro de determinada cultura, em outros momentos estas respostas
podem ser idiossincráticas derivadas de experiências particulares e peculiares a um
indivíduo. Em qualquer situação estas respostas seriam manifestações de
organizações cognitivas ou estruturas.
Uma estrutura cognitiva é um componente da organização cognitiva em
contraste com os processos cognitivos que são passageiros (Beck, 1963; 1964).
Assim, a teoria cognitiva tem como objeto de estudo principal a natureza e a função
dos aspectos cognitivos, ou seja, o processamento de informação que é o ato de
atribuir significado a algo.
O objetivo da Teoria Cognitiva é descrever a natureza de conceitos (resultados
de processos cognitivos) envolvidos em determinada psicopatologia de maneira que
quando ativados dentro de contextos específicos podem caracterizar-se como
maladaptativos ou disfuncionais.
O objetivo da terapia cognitiva seria, ainda, o de fornecer estratégias capazes
de corrigir estes conceitos idiossincrásicos (Bahls, 1999; Biggs & Rush, 1999; Beck &
Alford,2000). No processo de psicoterapia cognitiva ocorre algo muito semelhante a
testagem empírica das teorias científicas: os sistemas de crenças pessoais são

19
testados com relação à suas consequências e funcionalidade para a vida do paciente
dentro de contextos específicos (Lima & Wielenska, 1993).
Este processo de testagem empírica ocorre a partir da aplicação de técnicas e
conceitos desenvolvidos na teoria cognitiva e por esta razão é imprescindível, para a
realização de uma terapia com bases verdadeiramente científicas, que o terapeuta
tenha um embasamento teórico sólido bem como um domínio das técnicas e uma boa
interação com a pessoa que buscou o tratamento, já que deve haver uma parceria
terapeuta-paciente nesta investigação cognitiva (Rangé, 1998a; Beck & Alford, 2000).
A história da terapia cognitiva inicia-se em 1956 quando Aaron Beck realizou
um trabalho de pesquisa com o intuito de verificar os pressupostos psicanalíticos
acerca da depressão. Para Freud 4 n. 04, Curitiba, jul. 2004
www.utp.br/psico.utp.online TERAPIA CGNITIVO COMPORTAMENTAIS:
CONCEITOS E PRESSUPOSTOS TEÓRICOS Saint-Clair Bahls Ariana Bassetti
Borba Navolar (1917), pessoas deprimidas apresentavam uma “hostilidade
retrofletida” ou seja, uma espécie de masoquismo ou necessidade de sofrer.
Os estudos de Beck o levaram a deparar-se com resultados de outra natureza:
alguns pacientes apresentaram melhoras em resposta a algumas experiências bem
sucedidas e não resistiram a estas mudanças, contrariando o esperado (Beck &
Alford,2000). Isto fez com que Beck e demais pesquisadores iniciassem uma
sequência de novos e diversos estudos sobre a depressão que passou a ser vista
como um transtorno cuja principal característica seria uma tendência negativa onde a
pessoa deprimida apresenta, muito frequentemente, expectativas negativas com
relação ao resultado de seus comportamentos e uma visão também negativa de si
mesma, do contexto em que está inserida e de seus objetivos (Beck, Rush, Shaw &
Emery, 1979).

20
Fonte: 3.bp.blogspot.com

A partir disso os demais estudos desenvolveram-se de forma a testar


estratégias de modificação de tais tendências negativas existentes na depressão bem
como a extensão da testagem deste novo modelo a outros transtornos. Beck e Alford
(2000) definem cognição como a “função que envolve deduções sobre nossas
experiências e sobre a ocorrência e o controle de eventos futuros” ou ainda “... o
processo de identificar e prever relações complexas entre eventos, de modo a facilitar
a adaptação a ambientes passíveis de mudança”.
A teoria cognitiva possui dez axiomas formais que servem de ponto de apoio
para as demais proposições teóricas. O termo axioma refere-se a afirmações que não
podem ser deduzidas sendo independentes das demais afirmações existentes em
uma teoria científica. Tais axiomas serão aqui enumerados de acordo com a
apresentação feita pelos autores citados acima.
O funcionamento psicológico bem como a adaptação psicológica a
determinado contexto estão na dependência de “estruturas de cognição com
significado” ou simplesmente “esquemas”. O termo “significado” é, por sua vez,
designado como o resultado da ação de interpretar uma realidade determinada e a

21
forma de relação desta realidade com o self. A função da atribuição de significado é a
adaptação a um contexto específico.
As estratégias adaptativas são ativadas a partir da atribuição de significado já
que este tem a função de “controle dos vários sistemas psicológicos” tais como o
comportamental, o emocional, os sistemas de atenção e da memória.
Ocorrem influências entre os “sistemas cognitivos” e os demais sistemas
psicológicos de forma a interagirem. Uma “categoria de significado” apresenta
implicações que são padrões específicos de emoção, atenção, memória e
comportamento.
Este fato denomina-se “especificidade do conteúdo cognitivo”. Os significados
são construídos pelo indivíduo, ou seja, não são componentes preexistentes da
realidade.
No entanto tais significados podem constituir-se como corretos ou incorretos
em relação a um contexto ou objetivo específicos. Os significados ditos incorretos são
denominados como “disfuncionais” ou “maladaptativos” no que se refere a ativação
dos sistemas.
Os erros (“distorções cognitivas” e “preconcepções”) podem acontecer tanto
em relação ao conteúdo cognitivo propriamente dito (significado) como em relação ao
processo de elaboração de significado (processamento cognitivo).
Existe nos indivíduos uma predisposição a fazerem construções cognitivas
falhas e isto denomina-se “vulnerabilidade cognitiva”. Em decorrência da
especificidade cognitiva uma vulnerabilidade cognitiva específica predispõe a pessoa
a uma síndrome específica.
Os significados mal adaptativos, dos quais resultam a psicopatologia, são
construídos em relação ao que é denominado de “Tríade Cognitiva”, ou seja, em
relação ao self, ao ambiente (experiência atual) e ao futuro (objetivo).
Existem dois tipos de significado: o “significado público” que pode não ter
muitas implicações para o indivíduo (é o significado objetivo de um evento) e o
“significado pessoal” ou privado.
O significado pessoal é construído a partir de implicações e generalizações
relacionadas a ocorrência de um evento. Existem três níveis de cognição: o nível pré-
consciente, o nível consciente e o nível metacognitivo.

22
De acordo com esta abordagem, o nível consciente desempenha o papel mais
importante na melhora do paciente. Os esquemas não são nunca adaptativos ou mal
adaptativos sendo classificados assim com relação a um contexto específico.
Assim os esquemas evoluem para facilitar a adaptação da pessoa ao
ambiente no qual está inserida. Estes são portanto os dez axiomas formais da teoria
cognitiva, no entanto, nesta abordagem os axiomas não são vistos como elementos
estáticos podendo evoluir de acordo com o surgimento de novas evidências.
Em diversos transtornos tais como o transtorno de pânico, a depressão e o
transtorno bipolar de humor ocorre um prejuízo no funcionamento normal da atividade
de organização cognitiva (Bahls, 1999; 2003).
Nos transtornos de ansiedade, por exemplo, existe o impedimento de uma
tendência inata a ampliar o foco de atenção (ampliar o universo de fenômenos aos
quais um organismo fica atento) de forma que este organismo atua como se estivesse
em uma situação de ameaça real sem poder dar outros significados à situação.
Em situações de ameaça à sobrevivência esta tendência é bloqueada de
forma que o indivíduo foca sua atenção sobre aquilo que está o ameaçando, o que é
extremamente adaptativo do ponto de vista evolutivo (Lotufo Neto, 1993b; Rangé,
1998b).

Fonte:zh.rbsdirect.com.br

23
Assim, nos transtornos de ansiedade, o indivíduo sente-se intensamente
vulnerável ao que considera serem ameaças, esta sensação o leva a esquivar-se de
situações potencialmente ansiogênicas para ele.
A teoria cognitiva é vista como pertencente às teorias construtivistas pois vê
o homem como um ser que constrói seus significados sobre os fatos e portanto
constrói sua própria realidade já que a forma como este interpreta seu mundo
determinará a maneira com que ele irá comportar-se.

10 TERAPIA COMPORTAMENTAL: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

A terapia comportamental embasa-se nas teorias sobre o comportamento que


se desenvolveram a partir do início do século XX e que na década de 50 teve grande
repercussão através obra de Skinner. O desenvolvimento da teoria comportamental
permitiu o conhecimento a respeito das leis gerais do comportamento tornando-o mais
previsível. Tal conhecimento é o ponto no qual a terapia comportamental se apoia
para o desenvolvimento de sua prática clínica. Nesse sentido, é essencial o
conhecimento a respeito de termos e conceitos relativos a esta abordagem.
Dentro da perspectiva comportamental existem dois tipos de comportamento:
o conhecido como “comportamento respondente” (denominado assim por responder
a um estímulo específico como os comportamentos reflexos, por exemplo) que tem
caráter involuntário e o “comportamento operante” que tem caráter voluntário.
O comportamento operante é aquele que modifica o ambiente, estando sujeito
a alterações a partir das consequências de sua atuação sobre o ambiente. Ou seja,
as probabilidades futuras de um operante ocorrer novamente estão na dependência
das consequências que foram geradas por ele (Skinner,1953). Além do conhecimento
sobre as formas de comportamento, o conceito de “condicionamento” desempenha
papel fundamental dentro desta abordagem.
Este conceito traz a ideia de que os comportamentos são mutáveis, ou seja,
que a partir de mudanças nas condições do ambiente podem ser alterados. Alguns
fatores estão envolvidos no condicionamento operante: presença de reforçadores ou
de situações aversivas (Lotufo Neto, 1993a; Lettner, 1998). Mediante uma

24
consequência reforçadora a probabilidade de que um operante ocorra novamente é
aumentada.
O padrão de reforçamento também é um fator que influencia na frequência em
que ocorre um comportamento operante. O reforço pode ser contínuo ou seja, ocorrer
sempre após determinada resposta ou intermitente onde acontece de acordo com
uma determinada periodicidade.
O comportamento tende a ocorrer numa frequência maior quando está
vinculado a um esquema de reforçamento intermitente (Skinner,1953). Ainda com
relação ao condicionamento operante, situações que antecedem determinada
resposta e que tenham sido vinculadas a um reforçamento constituem-se em fatores
que podem governar o comportamento do indivíduo.
Esta situação denomina-se estímulo discriminativo, pois, permite que o sujeito
consiga discriminar no ambiente as situações que garantem o reforço após a emissão
de determinada resposta. Além desta capacidade de discriminação também é
importante o conhecimento sobre o conceito de generalização: um organismo é capaz
de estabelecer diferenças e semelhanças entre estímulos e a partir disso comportar-
se da mesma forma em ambientes diferentes (Lotufo Neto, 1993a; Rangé,1998a;
Bahls, 2003).
No condicionamento operante pode ser utilizado um procedimento conhecido
como “modelagem” que consiste na forma progressiva com que o repertório
comportamental de um organismo vai sendo modificado através de reforçamentos
sistemáticos de comportamentos que se assemelham ao comportamento final ao qual
se quer atingir.
Situações ditas aversivas também produzem determinados tipos de
comportamentos. A punição, por exemplo, é uma delas: a punição caracteriza-se pela
retirada de um estímulo reforçador diante de determinada resposta ou pela
apresentação de um estímulo aversivo.
De acordo com Skinner (1953) a punição somente produz diminuição de um
dado comportamento temporariamente e nas situações em que o agente punitivo
estiver presente.
Assim a punição não é eficiente para a remoção de um comportamento,
podendo gerar outros comportamentos indesejados tais como a agressividade. A

25
utilização do reforço positivo é mais adequada quando se quer promover uma
mudança prolongada e eficaz do repertório comportamental do indivíduo.
Frente a um estímulo aversivo, o indivíduo pode emitir comportamentos de fuga
(evitação do estímulo na presença deste) ou de esquiva (evitação quando o estímulo
aversivo ainda não está presente).
Outra situação aversiva é a frustração, que consiste na situação em que o
estímulo reforçador é inacessível ao organismo por fatores de impedimento diversos,
dentre eles o fator tempo (situações em que o indivíduo precisa esperar para receber
o reforço), ou situações de conflito onde a opção por determinado tipo de reforço
implica necessariamente na frustração de não obter o outro (Rangé, 1998a).
Apresentaram-se aqui alguns dos conceitos pertencentes à abordagem
comportamental que auxiliam na compreensão das leis que regem o comportamento,
base teórica para a prática clínica nesta abordagem.

11 TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL: DESENVOLVIMENTO E


PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Fonte:encrypted-tbn2.gstatic.com

As bases teóricas das terapias cognitivo comportamentais passaram a ser


desenvolvidas no início do século XX com o surgimento do evolucionismo de Darwin
e de uma crescente realização de estudos empíricos sobre o comportamento.

26
Na década de 70 houve um grande desenvolvimento e reconhecimento da
terapia comportamental devido ao surgimento de técnicas novas especialmente no
tratamento de fobias, obsessões e disfunções sexuais (Lima & Wielenska, 1993).
De acordo com Hawton, Salkovskis, Kirk e Clarck (1997), foi nesta época que
Lang, Rachman e outros desenvolveram a ideia de que um problema psicológico
poderia ser compreendido sob três enfoques diferentes (ou “três sistemas”) ligados
entre si tais como os sistemas comportamental, cognitivo/afetivo e fisiológico.
Esta ideia representou uma quebra com a visão unitária dos problemas
psicológicos que até então existia. Hammen e Glass (1975), citados por Hawton e
cols. (1997), desenvolveram estudos com pacientes depressivos e perceberam que
apesar de os pacientes realizarem com maior frequência atividades agradáveis (ao
contrário do que se pensava a partir de trabalhos anteriores), era comum que
avaliassem negativamente tais atividades e o seu desempenho em realizá-las.
Estes fatos chamaram a atenção para influência dos fatores cognitivos na forma
como um indivíduo reage aos fatores do meio e na constituição das psicopatologias,
contribuindo assim para que muitos terapeutas comportamentais passassem a utilizar
também conceitos e técnicas cognitivos na prática clínica.

12 A REVOLUÇÃO COGNITIVA NA PSICOLOGIA

Fonte:encrypted-tbn2.gstatic.com

27
Alguns autores influenciaram, de maneira mais definitiva, na consolidação da
abertura da ciência do comportamento aos fatores cognitivos. Assim, Bandura (1979)
foi um autor que desempenhou um papel fundamental. Este autor desenvolveu
trabalhos a respeito da “aprendizagem observacional” onde um indivíduo aprende
eficazmente a partir da observação de um comportamento emitido por outro e de sua
realização posterior.
Para o autor o modelo de autorregulação (ou de auto eficácia) está
relacionado com este tipo de aprendizagem pois uma mudança voluntária de
comportamento sempre será mediada pela percepção do sujeito a respeito de seu
desempenho (capacidade de adquirir um dado comportamento).

13 TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAIS: CONCEITOS E


PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Fonte: encrypted-tbn1.gstatic.com

Saint-Clair Bahls Ariana Bassetti Borba Navolar Estudos posteriores a


respeito do conceito de autocontrole (que seria constituído de três etapas auto-
observação, autoavaliação e auto reforço) também tiveram seu papel para a
realização de inúmeras pesquisas na quais foram definidos muitos construtos de
natureza cognitivista.
Outro autor importante neste processo foi Meichembaum (1977) que partindo
de uma abordagem exclusivamente cognitiva desenvolveu a ideia de “treinamento
28
instrucional” baseado na hipótese de que mudanças relativas a determinados
comportamentos ocorrem através de alterações no tipo de instrução que um indivíduo
dá a si mesmo, de forma a evitar pensamentos disfuncionais e buscar os adaptativos.
A Terapia Cognitiva de Beck é considerada, atualmente, como a principal
abordagem cognitiva. Os trabalhos iniciais de Beck, como foi visto anteriormente,
enfocaram a depressão. De acordo com a abordagem cognitiva de Beck, os
pensamentos e avaliações negativos, comumente encontrados em pacientes com
depressão não constituem um sintoma somente, mas são fatores que estão na própria
manutenção desta psicopatologia.
Em consequência desta visão, a depressão na Terapia Cognitiva, assim como
os demais transtornos psiquiátricos, é tratada levando o paciente a identificar e alterar
estes pensamentos disfuncionais (Biggs & Rush, 1999; Shaw & Segal, 1999: Bahls &
Bahls, 2003). A partir da influência destes autores, a pesquisa e a prática da
abordagem comportamental passou a apresentar algumas mudanças, ao menos em
parte. Referindo-se a esse fato Rangé (1998) comenta: (...) a disseminação da
chamada revolução cognitiva na pesquisa básica em psicologia, provocou também
uma revolução cognitiva no behaviorismo . Aos poucos modelos cognitivos como os
de Ellis (1982), Bandura (1969, 1977, 1989) e Beck e colaboradores (1977, 1985,
1990, 1993) foram sendo introduzidos e progressivamente aceitos.
Desta forma, as terapias designadas de terapias cognitivo comportamentais
(TCC), denominam-se assim porquê constituem uma integração de conceitos e
técnicas cognitivas e comportamentais.
Atualmente dispõe-se de uma ampla gama de tratamento de diversos
problemas psiquiátricos tais como transtornos de ansiedade, depressão, disfunções
sexuais, distúrbios obsessivos-compulsivos e alimentares (Hawton e cols, 1997; Biggs
& Rush, 1999). Na abordagem cognitivo comportamental tem sido desenvolvidos
muitos trabalhos de pesquisa a fim de se verificar experimentalmente a eficácia dos
diversos tipos de tratamento.
Ao longo dos anos de pesquisa foram desenvolvidas e testadas diversas
formas de tratamentos na TCC. As terapias utilizadas diferem umas das outras de
acordo com o enfoque predominantemente cognitivo ou comportamental. Apesar da
diversidade destas terapias todas compartilham do mesmo pressuposto teórico, ou

29
seja, que mudanças terapêuticas acontecem na medida em que ocorrem alterações
nos modos disfuncionais de pensamento.
Neste ponto de vista, o mundo é considerado como constituinte de uma série
de eventos que podem ser classificados como neutros, positivos e negativos, no
entanto a avaliação cognitiva que o sujeito faz destes acontecimentos é o que
determina o tipo de resposta que será dada na forma de sentimentos e
comportamentos. Desta forma, a TCC da uma grande ênfase aos pensamentos do
cliente e a forma como este interpreta o mundo.
A Terapia Cognitivo Comportamental centra-se nos problemas que estão
sendo apresentados pelo paciente no momento em que este procura a terapia, sendo
que seu objetivo é ajudá-lo a aprender novas estratégias para atuar no ambiente de
forma a promover mudanças necessárias.
A metodologia utilizada na terapia é de uma cooperação entre o terapeuta e o
paciente de forma que as estratégias para a superação de problemas concretos são
planejadas em conjunto (Lima & Wielenska, 1993). Na Terapia Cognitivo
Comportamental procura-se definir claramente objetivos, especificando-os de acordo
com os problemas e questões trazidas pelo paciente.
O ponto de partida do tratamento é a fonte de sofrimento do cliente, ou seja, a
partir das distorções que estão ocorrendo na forma do sujeito avaliar a si mesmo e ao
mundo. Denominam-se “esquemas” a base para a avaliação das experiências.
As estruturas cognitivas organizam-se em níveis nos quais os esquemas
encontram-se no núcleo. Durante a terapia procura-se explorar cada um destes níveis
de organização, partindo dos pensamentos automáticos até chegar ao sistema de
crenças do sujeito. Então as crenças são testadas a partir de argumentos e propostas
de exercícios que o paciente realizará durante a terapia e em demais contextos
(Shinohara, 1997). Um dos objetivos da TCC é corrigir as distorções cognitivas que
estão gerando problemas ao indivíduo e fazer com que este desenvolva meios
eficazes para enfrentá-los. Para tanto são utilizadas técnicas cognitivas que buscam
identificar os pensamentos automáticos, testar estes pensamentos e substituir as
distorções cognitivas. As técnicas comportamentais são empregadas para modificar
condutas inadequadas relacionadas com o transtorno psiquiátrico em questão.

30
14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, Cristiano Nabuco de. GUILHARD, Hélio José. Terapia comportamental e


cognitivo comportamental: práticas clínicas. São Paulo, Roca, 2004.

BAHLS, S. C. & BAHLS, F. R. C. 2003. Psicoterapias da depressão na infância e


na adolescência. Estudos de Psicologia 20, 25-34.

BAHLS, S. C. 1999. Depressão: uma breve revisão dos fundamentos biológicos


e cognitivos. Interação3, 49-60.

_____. 2003. Uma revisão sobre a terapia cognitivo-comportamental da


depressão na infância e na adolescência. Psicologia Argumento 21, 47-53.

BANDURA, A. 1979. Modificação do Comportamento. Rio de Janeiro:


Interamericana.

BECK, A. T. & ALFORD, B. A. 2000. O poder integrador da terapia cognitiva. Porto


Alegre: Artes Médicas

BECK, A. T. 1963. Thinking and Depression I. Idiosyncratic content and cognitive


distortions. Archives of General Psychiatry 9, 324-333.

_____. 1964. Thinking and Depression II. Theory and Therapy. Archives of General
Psychiatry 10, 561-571.

BECK, A. T.; RUSH, A.J.; SHAW, B.F. & EMERY, G. 1979. Cognitive Therapy of
Depression. New York: Guilford Press.

BECK, Aaron. FREEMAN, Arthur. Terapia cognitiva dos transtornos de


personalidade. Porto Alegre, Artes Médicas, 1993.

BIGGS, M. M. & RUSH J. 1999. Cognitive and Behavioral Therapies alone and
combined with antidepressant medication in the treatment of depression. In D.
S. Janowsky (Ed.) Psychotherapy, indications and outcomes (p. 121-171).
Washington: American Psychiatric Press.

CABALLO, Vicente E. Manual para o tratamento cognitivo-comportamental dos


transtornos psicológicas da atualidade: intervenção em crise, transtornos da
31
personalidade e do relacionamento e psicologia da saúde. São Paulo, Santos,
2007.

FREUD, S. 1917. Luto e melancolia. Em Obras Psicológicas Completas, vol. XIV.


Rio de Janeiro: Imago Editora.

HAWTON, K.; SALKOVSKIS, P. M.; KIRK J. & CLARCK D. M. 1997. Terapia


cognitivo-comportamental para problemas psiquiátricos: um guia prático. São
Paulo: Martins Fontes.

HAWTON, Keith. [et al.] Terapia cognitivo comportamental para problemas


psiquiátricos: um guia prática. São Paulo, Martins Fontes, 1997.

KNAPP, Paulo. Terapia cognitivo comportamental na prática psiquiátrica. Porto


Alegre, Artmed, 2004.

LETTNER, H. W. 1998. Avaliação comportamental. Em B. Rangé (Org.)


Psicoterapia comportamental e cognitiva de transtornos psiquiátricos (p. 17-31).
Campinas: Editorial Psy.

LIMA, M. V. D. & WIELENSKA, R. C. 1993. Terapia comportamental-cognitiva. Em


A. V. Cordioli (Org.) Psicoterapias: abordagens atuais (p. 192-209). Porto Alegre: Artes
Médicas.

LOTUFO NETO, F. 1993a. Terapia comportamental. Em A. V. Cordioli (Org.)


Psicoterapias: abordagens atuais (p. 181-191). Porto Alegre: Artes Médicas

MEICHEMBAUM, D. 1977. Cognitive-bahavior modification: na integrative


approach. New York: Plenum.

RANGÉ, B. 1998a. Bases filosóficas, históricas e teóricas da psicoterapia


comportamental e cognitiva. Em B. Rangé (Org.) Psicoterapia comportamental e
cognitiva de transtornos psiquiátricos (p. 13-25). Campinas:

RANGÉ, Bernard. (Org.) Psicoterapia comportamental e cognitiva: pesquisa,


prática, aplicações e problemas. São Paulo, Workshopsy, 1995.

32
SHAW, B. F. & SEGAL, Z. V. 1999. Efficacy, indications, and mechanisms of
action of cognitive therapy of depression. In D. S. Janowsky (Ed.) Psychotherapy,
indications and outcomes (p. 173-195). Washington: American Psychiatric Press.

SHINOHARA, H. O. 1997. Conceituação da terapia cognitivo-comportamental.


Em: R. A. Banaco (Org.) Sobre comportamento e cognição: aspectos teóricos,
metodológicos e de formação em análise do comportamento e terapia cognitiva, V. 3
(p. 1-5) São Paulo: Editora Arbytes.

SKINNER, B. F 1953. Science and human behavior. New York: Macmillan.

33

Você também pode gostar