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Terapia Cognitivo

Comportamental
Módulo I

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Sumário

Introdução..................................................................................................................... 3
Unidade 1 – Terapia Cognitivo Comportamental........................................................... 6
1.1 – O que é terapia cognitivo-comportamental? ...................................................... 6
1.2 – Fundamentos da terapia comportamental ........................................................ 11
1.3 – Fundamentos da terapia cognitiva................................................................... 19
1.4 – Mitos e esclarecimentos.................................................................................. 25
Unidade 2 – Processo Terapêutico .............................................................................. 29
2.1 – Componentes do processo terapêutico ............................................................ 29
2.2 – Conceitos básicos ........................................................................................... 35
2.3 – Estrutura das sessões ...................................................................................... 38
2.4 – Papel do terapeuta .......................................................................................... 47
2.5 – Relação terapêutica......................................................................................... 51
2.6 – Objetivos e metas ........................................................................................... 53
2.7 – Tarefas de casa ............................................................................................... 56
2.8 – Técnicas cognitivas e comportamentais .......................................................... 58
2.9 – Término ou alta terapêutica ............................................................................ 65
Conclusão do Módulo I............................................................................................... 69
Introdução

Olá, aluno(a)!

“Os homens são perturbados não pelas coisas,


mas pelas opiniões que extraem delas.”
Epíteto

Ainda que possamos dizer que o cenário das psicoterapias seja um novo
ambiente, muito já foi feito em termos de evolução, pesquisas e materiais, que nos
revelam uma tentativa sincera de responder algumas questões dos seres humanos. E,
falando em seres humanos, o que nos diferencia das outras espécies é o fato de que
podemos fazer muitas coisas diferentes: podemos viver de diferentes maneiras,
entendemos diferentes crenças, fazemos diferentes escolhas etc. Enquanto os animais se
especializam em uma regra simples e relativa de viver um tipo de vida ou a ter uma
determinada forma de locomoção, para nós, humanos, o mundo é um universo de
possibilidades.

Dentro das possibilidades científicas, a terapia cognitivo-comportamental,


diferentemente de outras escolas que, por exemplo, se questionam sobre os pensamentos
inconscientes e enfatizam a necessidade da catarse, se volta ao presente para a
modificação de pensamentos e comportamentos. Tal abordagem, por investigar o
funcionamento atual do indivíduo, não se interessa pela exploração do passado, visto
que, para esta escola, muitas das vezes, descobrir o motivo de algo que aconteceu, não
traz consigo a solução necessária para a mudança do comportamento.

Muito se fala, mas poucos sabem que a terapia cognitivo-comportamental é um


tipo particular de metodologia que conta com a combinação da prática clínica, com
muitos anos de pesquisas. Desde o seu início, contamos com estudos realizados em
inúmeros centros de pesquisa, dedicados a avaliar e a publicar seus resultados,
comprovando os efeitos desta abordagem. Com isso, podemos dizer que esta foi uma
das primeiras formas de psicoterapia a demonstrar sua eficácia, através de rigorosas
3
pesquisas científicas. “Quando a psicologia foi capaz de abandonar as especulações
filosóficas em favor da metodologia científico-experimental, deixou o terreno preparado
para que a TC [Terapia Comportamental] germinasse.” (FRANKS, 2007, p. 04)

Para a terapia cognitivo-comportamental, aprendemos, desde muito cedo, a tirar


de nossas experiências as ideias que formarão a maneira de enxergarmos e de nos
relacionarmos com o mundo. Assim, além do marco anteriormente destacado por nós,
não podemos deixar de incluir que tal abordagem foi uma das primeiras a olhar para o
impacto do pensamento sobre o afeto, o comportamento e o ambiente. É dessa maneira
que um dos seus enfoques nos fala sobre a maneira como os pensamentos afetam a
forma como determinada pessoa se sente e/ou se coloca no mundo.

Então, se nossa forma de pensar pode ser capaz de nos adoecer, esta abordagem
busca por mudanças terapêuticas, através da alteração dos modos disfuncionais de
pensamento, desafiando e apresentando novas maneiras de pensar ao indivíduo.

Muitas vezes, a terapia cognitivo-comportamental é utilizada em conjunto com


medicações, que deverão ser prescritas sempre por um médico psiquiatra. Porém, apesar
de tal fato, a utilização de medicamentos sem o apoio psicoterápico não traz resultado
satisfatório. Isso ocorre devido ao fato de que a medicação não é capaz de alterar a
relação entre o que ocorre no mundo e o modo como determinada pessoa o percebe.

Melhor explicando, podemos entender este fato afirmando que o nosso cérebro,
por mais fantástico e desenvolvido que seja, é um órgão um tanto primitivo, não
capacitado para diferenciar entre aquilo que a pessoa pensa e aquilo que ela está
vivendo. É por isso que diferentes interpretações, dadas por diferentes pessoas, para o
mesmo evento, são capazes de gerar emoções diversas.

Fora isso, um fator de extrema relevância ao destacarmos a assistência médica e


o número reduzido de sessões aceitas atualmente pelos planos de saúde, a terapia
cognitivo-comportamental é conhecida como uma abordagem que proporciona

4
resultados excelentes em um período de tempo menor, se compararmos com as outras
terapias ou tratamentos existentes.

Precisamos, então, ressaltar a necessidade do cuidado ético, visto que a


disseminação dessa escola fez com que muitos profissionais se julguem especialistas em
desta área e acabem por oferecer um serviço de baixa qualidade, por falta de
treinamento ou mesmo de estudo. Saibamos que, ainda que aparentemente simples, a
terapia cognitivo-comportamental não é de fácil aplicação.

Por tudo isso, e o que veremos adiante, podemos concluir a necessidade pela
busca por entendimento e humanização dos profissionais que cuidam dos aspectos
emocionais dos seres humanos. Sem esquecer, claro, que eles também são sujeitos
constituídos por sentimentos e questões outras que precisam ser trabalhadas para que as
tarefas, as que ele se propõe, sejam trilhadas por uma estrada de sucesso, orgulho e
recompensas.

Bom estudo!

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Unidade 1 – Terapia Cognitivo Comportamental

Olá, aluno(a)!

Nesta unidade, veremos o que é a terapia cognitivo-comportamental. Traremos


os fundamentos da terapia comportamental e, também, da terapia cognitiva. E por fim,
abordaremos mitos e esclarecimentos assuntos ligados ao tema em questão.

Bom estudo!

1.1 – O que é terapia cognitivo-comportamental?

Dentro da área clínica da psicologia há uma vasta gama de teorias que são
utilizadas como ferramentas para o entendimento do funcionamento do comportamento
humano.

A terapia cognitivo-comportamental é uma dessas abordagens e se difere das


mais tradicionais, por procurar tratar os sintomas apresentados diretamente, voltando-se

6
para a resolução deles. Para tanto, ela enfatiza o presente1, buscando os pensamentos,
sentimentos e comportamentos que causem interferências no dia a dia daqueles que se
encontram em sofrimento.

Há críticas que a julgam como uma abordagem fria, mas a terapia cognitivo-
comportamental se orienta tanto pelo diagnóstico específico do cliente como também
por uma análise individual da questão apresentada. Assim, não deixa de levar em conta
as particularidades do sujeito, analisando os fatores de vulnerabilidade ou
predisposições existentes, tanto como os seus fatores desencadeadores e os fatores
mantenedores.

As raízes da terapia cognitivo-comportamental nos contam sobre o


desenvolvimento da terapia comportamental, da terapia cognitiva e da posterior fusão
das duas escolas2, o que permitiu aproveitar os pontos fortes de cada uma.

Desmembrando, o termo terapia comportamental foi proposto ainda por Skinner


em um projeto de pesquisa realizado na década de 50, quando até em torno da década de
70, verificamos amplos estudos realizados nos Estados Unidos e no Reino Unido, tendo
como ponto de partida a teoria de aprendizagem de Ivan Petrovich Pavlov (1849 -
1936), John B. Watson (1878 - 1958) e Clark L. Hull (1884 - 1952). Tal abordagem
voltava-se em grande parte, na época, para o tratamento e entendimento dos transtornos
psiquiátricos crônicos como a psicose e o autismo. Entre outros pioneiros desta escola,
também podemos destacar nomes como Joseph Wolpe (1915 - 1997) e Hans Jurgem
Eysenck (1916 - 1997).

1
Tal escola não pretende negar que os acontecimentos passados também moldam, como pano
de fundo, a realidade atual do indivíduo. Apesar disso, seu foco está em encontrar soluções para
a modificação do presente.
2
Devemos diferenciar os termos apresentados, de acordo com Franks (2007), entendendo que a
terapia comportamental diz respeito a uma série de abordagens baseadas no Behaviorismo,
podendo se referir (1) a terapia comportamental clássica, isto é, aquela estabelecida pelos
conceitos de condicionamento clássico e operante, estabelecida ainda pelos seus representantes
nos anos 50, (2) a segunda geração baseada, por sua vez, tanto na terapia comportamental
clássica como na terapia cognitiva e (3) em algumas correntes mais recentes, conhecidas como
analítico-comportamentais, muitas vezes chamadas ainda de terceira geração da terapia
comportamental, que se distanciaram do cognitivismo ao realçarem a importância dos conceitos
pregados pelo behaviorismo.
7
Essa primeira geração das terapias comportamentais teve como maior interesse
oferecer uma alternativa que superasse as limitações psicanalíticas. Assim, tal
abordagem não fala sobre o Inconsciente ou o Complexo de Édipo, por exemplo, como
causa dos problemas emocionais, mas em condicionamento, aprendizagem, reforço
positivo e negativo, elementos capazes, dentro desta escola, de alterarem as respostas
dos indivíduos.

Vale ressaltar aquilo que nos foi levantado por Franks (2007): tal escola ainda
que nova em termos históricos nos contava sobre algo muito antigo e antes bem pouco
valorizado como referência para os estudiosos do comportamento.

“A terapia comportamental (TC), um termo que empregaremos


como sinônimo de modificação do comportamento tem um
passado amplo, porém uma história curta. Em sua quarta
década como fonte de conhecimento formalmente desenvolvida
e sistematizada, podemos dizer que as técnicas predominantes
em TC são tão antigas quanto a história da humanidade. Os
princípios básicos do reforço e do castigo positivo e negativo
foram utilizados durante milhares de anos de maneira intuitiva,
desprovida de preposições formais sobre os princípios
implicados.” (FRANKS, 2007, p. 03)

Porém, apesar dos avanços clínicos, talvez por se definir como uma escola que
se restringia a comportamentos observáveis e definidos, o tratamento de determinados
problemas psicológicos continuava sendo considerado ineficaz. Tal lacuna originou,
ainda no século passado, um segundo movimento denominado de 2ª geração de terapias
cognitivas, onde encontramos a terapia cognitiva de Aaron Beck (1921 - ) para a
depressão e a terapia racional-emotiva de Albert Ellis (1913 - 2007). Como o próprio
nome nos leva a pensar, seu centro é a cognição, uma mistura de pensamentos, valores e
atitudes.

8
Por transformar o pensamento em objeto principal de intervenção terapêutica, a
cognição foi vista como a causa direta do comportamento. Isto porque, nesta
abordagem, o que pensamos é capaz de determinar o que sentimos, influenciando
diretamente na forma como nos comportamos. Desta forma, muitas de suas técnicas
visam à modificação, eliminação e/ou redução da maneira disfuncional criada pelos
pensamentos automáticos dos indivíduos.

Salientemos que se tal geração trouxe alívio ao tratamento de inúmeros


problemas psicológicos, ainda restavam outros muitos sem uma resolução adequada.
Foi desta forma que surgiu a 3ª geração, que tendo em vista o desenvolvimento do
trabalho com as emoções, se aproximou um tanto do corpo teórico de outras escolas
terapêuticas.

O fato se deu entre 1980 e 1990, quando as técnicas cognitivas e


comportamentais se fundiram na terapia cognitivo-comportamental, combinando um
tratamento que se centrava na eliminação do sintoma, através da modificação de certos
determinantes psicológicos internos. Assim como na primeira geração de terapeutas
comportamentais, aqui também se busca estratégias de solução de problemas e
modificações nos padrões de trocas comportamentais, como também o trabalho com a
reestruturação cognitiva das atribuições irracionais ou expectativas distorcidas.
(CARVALHO et al., 2008)

A terapia cognitivo-comportamental estuda o comportamento humano de


maneira científica, através de criteriosas pesquisas. Abrange métodos específicos e não
específicos que permitem a melhora sistemática das questões tratadas por utilizar-se de
técnicas que perseguem objetivos concretos, definidos e operacionais. Para tanto, ela
está vinculada à aplicação clara do problema e a uma ênfase na medição das mudanças
cognitivas e comportamentais para a conquista do objetivo proposto.

Apesar disso, não estamos afirmando que existe uma restrição terapêutica, pelo
contrário, esta escola tem como pressuposto básico se estender a vida diária da pessoa,
visto que é voltada para a ação e não apenas para a tomada de consciência.

9
Hoje, a terapia cognitivo-comportamental conta com pesquisadores conceituados
em diversas universidades ao redor do mundo capazes de demonstrar a eficácia no
tratamento de uma variedade de condições, idades e contextos. Os tratamentos
específicos, com diagnósticos baseados em sintomas, têm favorecido esta escola em
relação às outras, permitindo a diminuição do sofrimento de uma enorme quantidade de
pessoas.

10
1.2 – Fundamentos da terapia comportamental

O Behaviorismo é uma das


teorias da psicologia que ainda
recebe muitas críticas. Tal fato se
dá, pois esta corrente tem como
proposta a ruptura da tradição
mentalista da psicologia, apontando
para uma nova forma de
investigação do comportamento
humano. Em um campo dominado
pela psicanálise, a proposta do Behaviorismo não combina com a psicoterapia
tradicional, principalmente a de origem psicanalítica. Vale afirmar que esta linha não
desconsidera o estudo da mente, mas acredita na possibilidade de explicar o
comportamento através da relação simples entre o homem e o seu ambiente.

“Uma vez que a TC é um enfoque de base ampla, é


compreensível que haja muitas perspectivas diferentes dentro
dela, apresentando, à primeira vista, um panorama de mútua
discórdia. Entretanto, todos concordam com a noção da TC
como enfoque, como regra metodológica, mais do que uma série
de técnicas específicas ou como uma unidade estritamente
limitada, que todo mundo precisa acatar.” (FRANKS, 2007, p.
07)

Foi em 1896 que iniciaram os estudos de Ivan Petrovich Pavlov (1849 - 1936),
responsável pela descoberta das classes de comportamentos que hoje damos o nome de
reflexos. Muitos conhecem o experimento realizado por ele sobre a salivação de um cão
privado de alimento. De início, somente a comida era apresentada ao cão que salivava.
Porém, ao acrescentar à situação experimental do som de uma campainha ao mesmo
tempo que se mostrava a comida ao animal, verificou-se que o som era capaz de

11
provocar a resposta salivar, por antecipar a presença do alimento. E mais, passado um
tempo, ao ter repetido o processo várias vezes, ele percebeu que a saliva aparecia
quando a campainha era tocada ainda que a comida não fosse apresentada ao animal.

Saibamos, aqui, que os comportamentos reflexos, também chamados de


respondentes, são capazes de produzir respostas relativas ao estímulo antecedente do
ambiente, isto é, às respostas que independem de aprendizagem por serem
incondicionadas. Para facilitar a nossa compreensão, como exemplo podemos citar a
contração da pupila quando uma luz forte incide sobre os nossos olhos ou mesmo o
episódio de salivação quando a comida era apresentada ao cão do experimento de
Pavlov. Esses fatos não estão a favor da vontade do indivíduo.

É o estímulo incondicionado que tem como função inata a produção de uma


resposta reflexa, sem que haja necessidade de aprendizagem. Tais respostas podem estar
associadas, adquirindo função semelhante ao estímulo condicionado. Para que
entendamos melhor, outro exemplo: no experimento realizado por Pavlov, a comida é o
estímulo incondicionado, enquanto que o som da campainha é o estímulo condicionado.

Em seus experimentos, Pavlov descobriu o princípio da generalização e da


extinção. Chamamos de generalização do estímulo, o fato de após ocorrer um
condicionamento, os estímulos que sejam semelhantes àquele condicionado, poderão
passar a produzir uma resposta condicionada. Por sua vez, a extinção nos fala sobre o
enfraquecimento da resposta reflexa condicionada visando o seu desaparecimento. Para
tanto, um estímulo condicionado é apresentado várias vezes sem o estímulo original ao

12
qual foi emparelhado, permitindo que o seu efeito seja extinto gradualmente. Tal fato
ocorre devido ao rompimento entre a associação do estímulo incondicionado e o
estímulo condicionado, permitindo um enfraquecimento da antecipação da resposta
reflexa condicionada anteriormente.

Foi John Watson que, ainda em 1913, teve um texto publicado onde apresentou
o termo Behaviorismo3 (traduzido livremente do inglês como comportamentalismo). Ele
propunha como objeto de estudo o comportamento passível de observação e descrição
em termos objetivos, visto que para ele as causas do comportamento são os estímulos
ambientais, que ao atingir o organismo, a força emite determinada resposta. Assim,
Watson transformou a psicologia em uma matéria possuidora de um objeto observável e
mensurável, e, como tal, os experimentos realizados poderiam ser reproduzidos em
diferentes condições e sujeitos, permitindo-nos a capacidade de prever e controlar as
variáveis.

Por sua vez, Skinner aparece no cenário iniciando o estudo do comportamento


respondente em Harvard. Este fato o permitiu chegar naquilo que ele nomeou de
comportamento operante, a nova unidade de análise da sua ciência. Definindo um
modelo próprio de investigação baseado em um método experimental, Skinner afirmou
a possibilidade de predizer a eficácia do tratamento através das relações existentes entre
os antecedentes e as forças ambientais.

Diferentemente dos comportamentos respondentes que foram estudados por


Pavlov (lembremos que além de ser diretamente eliciado por algum estímulo, é uma
reação fisiológica do organismo), o comportamento operante não é causado por nenhum
estímulo que anteceda a sua ocorrência, e sim pelas consequências produzidas, isto é,
pelas alterações que são provocadas no ambiente. De tal forma, com certos estímulos
pareados e determinados estímulos eliciadores era possível a produção de respostas
semelhante ao primeiro estímulo de respostas que originalmente não eram produzidas.

3
Em 1958, na África do Sul, Lazarus patenteou, de forma independente, o termo “terapia
comportamental” para referir-se ao fato de acrescentar procedimentos objetivos de laboratório à
psicoterapia tradicional. (FRANKS, 2007, p. 07)
13
“Tal escola percebe os comportamentos como respondentes,
também chamado de reflexos e operantes, controlados através
dos estímulos ou pelas consequências. Sabemos que o
comportamento respondente é “eliciado” (produzido) pelos
estímulos ambientais, enquanto o operante é “emitido”
(expresso), e só depois passa a ser influenciado pelas
consequências que produziu no meio ambiente.”
(CAVALCANTI e CAVALCANTI, 2006, p. 27)

Aqui, com esta afirmação, rompeu-se o padrão da causalidade linear mecanicista


ao afirmar que alguns comportamentos em contato com o meio ambiente produzem
determinadas modificações, sendo, desta forma, selecionados por conta dos resultados
obtidos.

Podemos entender que esta classe de comportamento opera no meio


modificando-o, sem esquecer que, por sua vez, tais modificações também são passíveis
de alterarem o comportamento. Porém, sem o conhecimento do comportamento e das
modificações produzidas por ele no ambiente, é impossível entendermos quais motivos
que existem por trás da sua ocorrência.

Com isso, Skinner percebeu que os comportamentos disfuncionais são


aprendidos e, como tal, o cliente precisa aprender outros mais adaptativos, através de
técnicas específicas como a análise funcional, isto é, a identificação de como, quando e
onde tais comportamentos se dão e qual é a função que eles desempenham.

Para chegar às conclusões que conhecemos, primeiramente Skinner trabalhou


com animais, entre eles ratos, pombos e macacos, em um laboratório. Com a finalidade
de verificar de que forma as variações no ambiente causavam interferências
comportamentais, Skinner modelava os comportamentos estudados. Como já dito, ele
descobriu que a aprendizagem estava vinculada à ação do organismo sobre o meio
assim como o efeito resultante.

14
“A terapia comportamental explica o aparecimento e
desaparecimento dos comportamentos, sejam eles adequados ou
inadequados, como decorrentes da aprendizagem no meio
ambiente. Uma vez aprendidos, esses comportamentos são
mantidos em sua funcionalidade ou disfuncionalidade por meio
de algum mecanismo de reforçamento.” (CAVALCANTI e
CAVALCANTI, 1996, p. 27)

Dessa forma, os mesmo autores (1996) ainda afirmam que a terapia


comportamental pode ser entendida como um conjunto de procedimentos que tem a
finalidade de promover a aprendizagem de comportamentos adequados enquanto ocorre
a desaprendizagem dos comportamentos inadequados.

Saibamos que o estímulo que determinada resposta origina é chamado de


reforço, ou seja, estímulos específicos que ao incitarem determinada conduta, tornam
certa ação mais frequente. Porém, o reforço não é uma simples recompensa, mas um
evento que aumenta a frequência de uma reação precedente, isto é, uma consequência

15
produzida através de um comportamento operante capaz de aumentar a probabilidade da
ocorrência. “O reforço ocorre quando um evento que se segue ao comportamento
aumenta a probabilidade de que este ocorra novamente.” (SOUSA e BAPTISTA,
2001, p. 528)

Agora podemos entender o conceito do reforço primário, isto é, eventos que são
reforçadores em todas as espécies por serem intrinsecamente satisfatórios como, por
exemplo, um sorriso. Por sua vez, os reforços secundários são aqueles aprendidos, que
adquiriram determinada função ao serem pareados com os primários. Dessa forma,
comportamentos podem ser influenciados ou até mesmo controlados através de
recompensas aos comportamentos desejados, somado a possibilidade de ignorar os
comportamentos emitidos que forem julgados como indesejáveis.

Devemos salientar, porém, que os eventos reforçadores podem ser nomeados de


positivos ou negativos4 e têm como função ensinar ou reforçar um determinado
comportamento. O reforço positivo ocorre quando reforçarmos um determinado
comportamento através do emparelhamento de estímulos e da adição de uma
recompensa.

Um estímulo não pode ser considerado como reforçador positivo visto os seus
efeitos emocionais, mas por conta do efeito sobre o comportamento que o provoca.
Assim, no caso do estímulo reforçador positivo, seu efeito é fortalecer determinado
comportamento produzido. Porém, o reforço positivo não reforça somente os
comportamentos adaptativos. Embora associado aos sentimentos positivos, ele também
é capaz de produzir comportamentos desajustados.

Por outro lado, já, no reforço negativo, o comportamento é fortalecido através da


remoção de determinado estímulo aversivo, capaz, assim, de controlarmos a emissão de
determinada resposta que também pode ser aprendida.

4
O termo positivo e negativo não tem relação com energia positiva ou negativa.
16
Agora, ao falarmos de reforço negativo, é preciso levantar os conceitos de
esquiva e fuga. No primeiro, falamos da adoção de um comportamento preventivo do
estímulo aversivo. Assim, a esquiva se caracteriza pelo reforço negativo condicionado,
onde a ação produzida é reforçada através do condicionamento operante. Desta forma,
na esquiva o indivíduo passa a adotar um comportamento que visa à prevenção da
ocorrência ou da redução da intensidade do estímulo posterior, por conta da necessidade
de evitar o estímulo. Por exemplo, ao encontrar com o vizinho chato, fingimos que o
telefone celular está tocando para nos esquivarmos daquela sua conversa chata.

Por sua vez, a fuga nos fala do sentido literal da palavra, ou seja, o indivíduo
sem ter evitado o estímulo aversivo, após o evento ocorrido “foge” dele. Determinadas
doenças também podem ser entendidas como um mecanismo de fuga. Como exemplo,
podemos destacar a criança que fica doente sempre às terças-feiras porque teria aula de
matemática na quarta e o seu professor a chamou de burra depois da entrega da última
prova. Ou seja, a fuga nos conta sobre uma justificativa para adiar, evitar ou mesmo
fugir de determinadas situações.

17
Condicionamento operante
Recompensa Capaz de produzir um reforço positivo no mesmo momento da
conduta desejada.
Fuga Refere-se à supressão a um estímulo aversivo.

Extinção Ocorre através da falta de reforço.

A terapia comportamental está encharcada de tais fundamentos. Os


behavioristas, ou os psicólogos comportamentais, não estavam interessados na mente
como o objeto legítimo de estudo. Como dito, para eles, os problemas trazidos pelos
clientes diziam respeito aos comportamentos observáveis, não sendo reconhecidos os
processos inconscientes. Assim, ao se voltarem para os fatores que alimentam a
manutenção do problema, não se encontram interessados na suposta origem destes.

“De início, o terapeuta comportamental preocupa-se em


analisar, de modo detalhado, o comportamento manifesto do
cliente, procurando identificar as condições que determinam o
aparecimento dos sintomas disfuncionais, seus antecedentes e
consequências. Especial cuidado se tem em procurar e
identificar as situações ou variáveis que contribuem para
manter o comportamento (agentes reforçadores) e os
mecanismos desenvolvidos pelo cliente para diminuir sua
ansiedade. Feita a análise comportamental, o terapeuta
seleciona as técnicas específicas para superar o comportamento
disfuncional e avalia, periodicamente, o progresso obtido.”
(CAVALCANTI e CAVALCANTI, 1996, p. 27)

Como característica comum de todos profissionais que se denominam terapeutas


comportamentais, Franks (2007) afirmou que poderíamos entender como “o
compromisso com a avaliação, a intervenção e os conceitos que se apoiam em algum
tipo de marco teórico de aprendizagem E-R (estímulo-resposta), imerso, por sua vez,
dentro da metodologia do aprendizado científico-comportamental” (p. 03)

18
Já na segunda metade do século passado, a terapia comportamental se encontrou
em uma bifurcação, onde podemos notar uma incorporação das variáveis cognitivas na
explicação de problemas comportamentais: enquanto alguns terapeutas seguiam a ideia
do condicionamento operante, outros se uniram à terapia cognitiva de Aaron Beck e
Albert Ellis.

1.3 – Fundamentos da terapia cognitiva

De acordo com Falcone


(2001), a terapia cognitiva teve
início através dos estudos de
Aaron Beck, durante a década de
60, por conta das insatisfações
com as formulações
psicodinâmicas sobre a
depressão. Ao explorar o modelo
psicanalítico da depressão, ele
reuniu dados que apontaram para

19
este transtorno como o reflexo de padrões negativos de processamento de informação,
onde os processos cognitivos são de suma importância tanto na aquisição como na
regulação do comportamento.

Beck identificou aspectos importantes do funcionamento das estruturas


cognitivas, (tais como os esquemas negativos, as distorções cognitivas e a tríade
cognitiva, ou seja, pensamento -> sentimento -> comportamento) que refletem uma
tendência sistemática no modo como os indivíduos afetados interpretam as experiências
particulares.

Assim, segundo o modelo da terapia cognitiva, a perturbação emocional está


atrelada à capacidade do indivíduo em perceber de forma negativa o ambiente e os
acontecimentos, influenciando o afeto e, consequentemente, o seu comportamento. Ao
distorcer a realidade e aplicá-la um viés negativo, passa a ser a cognição e não a
emoção, o fator desencadeante principal.

Tal afirmação, contudo, não pretende dizer que os pensamentos são responsáveis
pelos problemas emocionais, mas sim que eles modulam e mantém as emoções
disfuncionais, não importando qual seja a sua origem.

Falando em origem, abramos um parêntese aqui. A terapia cognitiva hoje é


considerada como uma das abordagens mais difundidas para o tratamento da depressão.
Porém o modelo proposto por Beck não se trata somente de um sistema explicativo da
depressão e suas comorbidades como, também, vai muito além e inclui um programa de
tratamento sistematizado. Apesar disso, vale ressaltar, ainda, que a proposta inicial de
Beck foi chamada de Terapia Cognitiva para a Depressão tendo em vista a sua
idealização restrita, que, posteriormente, passou a ser aplicada em outras patologias
psiquiátricas, com o nome, então, de Terapia Cognitiva.

“Após muita observação clínica e utilização de testes


experimentais, Beck construiu o modelo cognitivo da depressão
(Beck, Rush, Shaw e Emery, 1982). Seguiram-se outras

20
publicações, mostrando a abrangência do modelo cognitivo na
compreensão e no tratamento dos transtornos de ansiedade
(Beck, Emery e Greenberg, 1985) e de personalidade (Beck e
Freeman, 1993).” (FALCONE, 2001, p. 49)

Além disso, tal autora nos conta que a abordagem cognitiva de Ellis (1962), que
marca as crenças irracionais como a fonte de efeitos emocionais e comportamentais
perturbados, também motivou os princípios da terapia cognitiva. Albert Bandura (1925 -
) através de seus estudos sobre modelação e autoeficácia e Michael J. Mahoney (1946 -
2006) através de suas pesquisas sobre o controle de expectativas também merecem
destaque em nesta escola.

Beck foi capaz de explicar o funcionamento psicológico tanto normal quanto o


patológico afirmando, como dito anteriormente, que nos transtornos emocionais ocorre
uma distorção no processamento da informação originada no meio, capaz de produzir
pensamentos irracionais. Deste modo, a negatividade do deprimido não era um sintoma,
mas sim o motivo principal na instalação e manutenção do quadro.

“O modelo cognitivo propõe que o pensamento distorcido ou


disfuncional (que influencia o humor e o comportamento do
paciente) seja comum a todos os distúrbios psicológicos. A
avaliação realista e a modificação no pensamento produzem
uma melhora no humor e no comportamento. A melhora
duradora resulta da modificação das crenças disfuncionais
básicas dos pacientes.” (BECK, 1997, p. 18)

21
Como esta escola tem como base o conceito da cognição, partindo do princípio
que a maneira como pensamos determina nossos sentimentos, comportamentos e
reações corporais, o trabalho terapêutico nesta abordagem está baseado na
reestruturação cognitiva, isto é, questionar as interpretações tendenciosas, propondo
alternativas através de explicações mais prováveis, e, com isso, permitir a promoção de
uma mudança emocional e comportamental duradoura.

“Em vez de oferecer diretamente um ponto de vista alternativo


para as interpretações distorcidas do paciente, a descoberta
guiada consiste em levantar questões que possam ajudar o
próprio cliente a desenvolver uma perspectiva alternativa, a
qual será mais confiável para ele.” (FALCONE, 2001, p. 54)

22
A terapia cognitiva entende que o indivíduo é capaz de processar a informação
do meio que o cerca antes de emitir uma resposta. Tal informação é um conjunto entre
classificação e medição do significado do estímulo em função do conjunto de
experiências derivadas da interação com o meio e suas crenças pessoais e atitudes.

Esse fato é possível visto que as emoções e comportamentos sofrem influência


da percepção individual dos eventos, isto é, não é a situação em si que determina os
sentimentos, mas como a pessoa interpreta determinada situação. “A situação em si não
determina diretamente como eles se sentem; sua resposta emocional é intermediada por
sua percepção da situação.” (BECK, 1997, p. 29)

As cognições de Beck foram chamadas de pensamentos automáticos, visto que


ele acreditava que não estivéssemos necessariamente conscientes de sua existência. Para
ele fazer com que os clientes não só ouvissem esses pensamentos como os
identificassem, seria parte fundamental para o sucesso terapêutico e para superação do
quadro inicial.

A terapia cognitiva identifica três níveis de pensamento: o pensamento


automático, as crenças intermediárias e as crenças centrais. Os primeiros são
espontâneos e chegam à nossa mente através dos acontecimentos diários. Mesmo não
sendo acessíveis à nossa consciência, podem ser identificados através de um
treinamento adequado. Vale ainda ressaltar que pensamentos automáticos distorcidos
são frequentes nos transtornos psicológicos, visto que apresentam distorções cognitivas.
(FALCONE, 2001)

Pela necessária aliança terapêutica, as habilidades do terapeuta de ser cordial,


respeitoso, ouvinte daquilo que é trazido pelo seu cliente com atenção e cuidado, é de
vital importância para o surgimento de uma sólida relação. Por sua vez, o paciente5 deve
trabalhar em conjunto com o profissional, participando ativamente do processo,
decidindo, entre outras questões, como o que trabalhar em cada sessão ou as metas a
5
Devemos salientar que em nosso curso, utilizamos as palavras clientes e pacientes como
sinônimos, sem nos referirmos a nenhum tipo especial de nomenclatura ao elegermos a
utilização de uma ou de outra.
23
alcançar. O feedback também é um recurso capaz de solidificar tal relação, observando
que este recurso é uma ferramenta apropriada que permite que o terapeuta perceba mal-
entendidos que possam prejudicar o tratamento.

Princípios da terapia cognitiva


BECK, 1997

1. Baseia-se em uma formulação de contínuo desenvolvimento do paciente e de


seus problemas em termos cognitivos;

2. Requer uma aliança terapêutica segura;

3. Enfatiza a colaboração e a participação ativa;

4. É orientada em metas e focada em problemas;

5. Inicialmente enfatiza o presente;

6. É educativa, visa ensinar o paciente a ser seu próprio terapeuta e enfatiza a


prevenção da recaída;

7. Visa ter um tempo limitado;

8. As sessões são estruturadas;

9. Ensina seus pacientes a identificar, avaliar e responder aos seus pensamentos e


às suas crenças disfuncionais;

10. Utiliza uma variedade de técnicas para mudar o pensamento, humor e


comportamento.

24
Por ser baseada nos problemas atuais e no estabelecimento de metas especificas,
a terapia cognitiva ‘sai na frente’ em relação aos diversos sistemas de saúde, que visam
conter custos e melhorar a relação custo-benefício dos tratamentos da saúde mental.

“Dessa forma, na última década, a terapia cognitiva teve um


enorme impacto sobre o campo da saúde mental, como
resultado de sua eficácia evidenciada na compreensão e no
tratamento de uma ampla gama de distúrbios emocionais e
comportamentais.” (Souza e Cândido, p.82, 2009)

1.4 – Mitos e esclarecimentos


Se a ideia original da terapia
cognitiva, ainda na década de 60 e 70,
era de tratar a depressão, com o passar do
tempo e dos estudos, após críticas ao
modelo clínico comportamental, que não
dava a devida importância ao papel do
pensamento no desenvolvimento das
patologias, esta escola se associou aos
princípios comportamentais. Assim,
ainda que surgida de trajetos históricos
próprios, a terapia cognitiva é
frequentemente identificada como terapia comportamental e ambas as denominações
são empregadas sem distinção.

Porém, como foi dito anteriormente, a terapia cognitiva se volta para a


compreensão e correção do pensamento e a terapia comportamental nos conta sobre o
treino de novas formas mais eficazes e realistas de comportamento.

De tal maneira, a terapia cognitivo-comportamental é uma forma de psicoterapia


baseada no conhecimento empírico sobre os diferentes transtornos e no conhecimento
25
sobre a forma como as pessoas modificam seus pensamentos, emoções e
comportamentos. Para tanto, ela utiliza técnicas da terapia comportamental e da terapia
cognitiva, mostrando-se ser uma prática muito eficaz também quando aliada a
medicação adequada.

Por ser uma abordagem baseada em estruturas, há uma crença de que a terapia
cognitivo-comportamental não considera as características individuais, priorizando o
tratamento da doença e não do indivíduo. Porém, nada disso acontece. A terapia
cognitivo-comportamental não está interessada somente no comportamento observável,
como também naquilo que o indivíduo sente e seus processos disfuncionais, presentes
em diferentes patologias. Apesar disso, vale ressaltar aquilo que foi lembrado por Lima
e Derdyck (2001): “A TCC é voltada para a solução de problemas e atenta para os
fatores mantenedores das dificuldades, e não para suas origens.” (p. 491)

Assim, a pesquisa realizada com o cliente segue o planejamento eficaz e


individualizado, que tem como objetivo entender o seu sintoma e experiências
particulares, ensinando-o a identificar e a responder aos pensamentos automáticos
próprios. Para tanto, abrange sintomas, condições de aparecimento, antecedentes,
consequências observáveis e os estímulos desencadeadores. Em conjunto, avaliam-se os
fatores que corroboram com a manutenção da questão trazida, as cognições e os
mecanismos desenvolvidos para enfrentar e/ou diminuir a ansiedade.

26
Indicações e contraindicações

Como em todos os tipos de terapia, a terapia cognitivo-comportamental também


não traz resultado para toda e qualquer pessoa ou doença que se pretenda tratar. Para
que se atinjam os resultados propostos, esta escola é indicada para aqueles que são
compatíveis a esta linha de raciocínio.

Talvez não precisemos salientar que esta abordagem, assim como todas as
outras, está contraindicada para aqueles que não apresentam nenhum tipo de queixa. Ou
seja, o profissional não tem como acolher um indivíduo que o procure, devido a um
pedido feito pela esposa ou pelo chefe, por exemplo. Se o indivíduo não perceber a
importância ou a função da terapia em sua vida, ele nunca poderá ser beneficiado pelo
processo terapêutico.

Apesar disso, devemos ter o cuidado de salientar que as pessoas que não
apresentam nenhum tipo de transtorno, também têm esquemas e crenças nucleares
desadaptativas e, assim, podem se beneficiar com um tratamento psicoterapêutico. Mas,
a diferenciação que aqui se faz necessária é o anseio do sujeito de seguir pelo caminho
terapêutico e a necessidade que ele julga de tal processo.

Como um todo, esta abordagem pede ao indivíduo que ele não tenha receio de
enxergar suas fraquezas ou da mudança que se implementará. Assim, pode-se dizer que
o perfil ideal de cliente é aquele que se encontra motivado com o tratamento, que
entende e segue a proposta terapêutica. Caso contrário, será difícil a adaptação às
modificações implementadas com o avanço terapêutico.

Também é preciso levar em conta a necessária capacidade do indivíduo de se


envolver em uma aliança terapêutica, sem se sentir chantageado ou mesmo invadido por
ela, visto que a relação entre o cliente e o profissional é de vital importância para o
sucesso terapêutico.

27
Tipos ou perfis resistentes a esta abordagem

1. Pessoas que apresentam quadro de psicose. Devido às características próprias do


transtorno, tais pessoas possuem dificuldade de estabelecer vínculo com o
terapeuta. Assim, a presença deste quadro impossibilita o prosseguimento das
tarefas propostas.

2. Nos transtornos bipolares, assim como com suicidas de maneira geral, a terapia
cognitivo-comportamental é indicada somente para os pacientes que estão
fazendo acompanhamento psiquiátrico e sendo medicados.

3. Devido ao paciente borderline apresentar baixa tolerância à frustração, além da


dificuldade de criar vínculo com o terapeuta, esse indivíduo também pode
apresentar resistência à eleição do tratamento baseado nos pressupostos da
terapia cognitivo-comportamental.

4. Como a Síndrome de Tourette é uma resposta involuntária, o indivíduo se torna


incapaz de se manter a um nível racional para obter a modificação
comportamental desejada, aproveitando bem menos as tarefas terapêuticas
propostas pelo profissional.

28
Unidade 2 – Processo Terapêutico

Olá, aluno(a)!

Nesta unidade, abordaremos os conceitos básicos e a estrutura das sessões do


processo terapêutico, assim como o papel do terapeuta e a relação terapêutica. Iremos
ver os objetivos e metas deste tratamento e as tarefas para serem praticadas em casa.
Mais ao final, aprenderemos as técnicas cognitivas e comportamentais, e o momento
certo de término ou alta terapêutica.

Bom estudo!

2.1 – Componentes do processo terapêutico

A terapia cognitivo-comportamental trabalha baseada em três níveis do


pensamento. São eles: o pensamento automático, as crenças intermediárias (também
chamadas de subjacentes) e as crenças centrais.

Identificando e modificando as crenças centrais e intermediárias

As crenças centrais, que


normalmente têm início ainda na
infância, constituem o nível mais
profundo da estrutura cognitiva e
são consideradas, desde então,
pelo indivíduo, como verdades
absolutas que deixam de ser
questionadas mesmo que causem
sofrimento e distorções da
realidade. Por sua vez, as crenças
intermediárias nos contam sobre as regras, atitudes e suposições que foram criadas em
29
função dessas crenças centrais. Este segundo nível de pensamento não está relacionado
às situações, mas se derivam e reforçam as crenças centrais.

Ambas, de acordo com Rosen (1988), citado por Beck (1997), surgem através
das tentativas de dar um sentido ao ambiente desde os seus primeiros estágios de
desenvolvimento. Tal fato ocorre devido à necessidade que todas as pessoas possuem de
organizar as experiências coerentemente, visando um funcionamento mais adaptativo.

“As crenças centrais negativas são usualmente globais,


supergeneralizadas e absolutistas. Quando uma crença central
é ativada, o paciente é facilmente capaz de processar
informações que a apoiam, mas ele frequentemente falha em
reconhecer e distorce as informações que são contrárias à
crença central.” (BECK, 1997, p.175)

Assim, os esquemas, o outro nome dado para a crença central, são capazes de
orientar o indivíduo, selecionando detalhes sobre o ambiente e distorcendo as
informações para manter a validade inicial. Dessa forma, podemos dizer que os
esquemas contaminam a interpretação dos acontecimentos, refletindo concepções
errôneas, atitudes distorcidas, premissas inválidas e metas/expectativas pouco realistas.

Crença central

Crença intermediária

Situação Pensamento automático Emoção

30
Vale ressaltar que, em vez de resultar de acontecimentos traumáticos isolados, a
maioria dos esquemas é causada por padrões continuados de expectativas e experiências
nocivas cotidianas que, acumulativamente, reforçam o esquema inicial.

Resumindo, podemos afirmar que os esquemas seriam crenças e sentimentos


incondicionais sobre si próprio e o ambiente, isto é, constituem-se de verdades
implícitas e aceitas como naturais, independentes do que o indivíduo se proponha a
fazer.

“Então, o modo como as pessoas se sentem está associado ao


modo como elas interpretam e pensam sobre uma situação. A
situação em si não determina diretamente como eles sentem;
sua resposta emocional é intermediada por sua percepção da
situação. O terapeuta cognitivo está particularmente
interessado no nível de pensamento que opera simultaneamente
com o nível mais óbvio e superficial de pensamento.” (BECK,
1997, p. 29)

31
O profissional, em conjunto com o paciente, deverá analisar as vantagens e
desvantagens de manter tais crenças. Pode-se, inclusive, em conjunto, fabricar uma lista
com as desvantagens da crença e/ou do comportamento, onde o terapeuta deverá se
esforçar para evitar salientar as vantagens, enfatizando as desvantagens da manutenção
da crença. Com a finalidade de validar novas crenças e invalidar as disfuncionais, testes
comportamentais de experimento da realidade poderão ser utilizados.

Outra ferramenta utilizada pelos terapeutas cognitivos-comportamentais é pedir


que o cliente fabrique um registro de memórias, que vai desde a infância até o momento
presente, onde irá destacar as evidências que contribuíram para a formação de tal crença
central disfuncional. No momento de revisarem o registro, o cliente é solicitado, então,
a anotar evidências que apoiem a nova crença que está sendo trabalhada. Após esse
momento, por fim, o indivíduo é, então, convidado a reestruturar cada item de evidência
negativa.

Identificando e avaliando os pensamentos automáticos

Os pensamentos automáticos, quase sempre negativos, decorrem das crenças


centrais e intermediárias e, muitas vezes, não passam por nenhum tipo de crítica
racional. Porém, entendido como verdades absolutas, são aceitos passivamente e, por
isso, podem prejudicar o funcionamento emocional do sujeito. Acontece que, conforme
levantado por Beck (1997), “o paciente com frequência está mais ciente da emoção que
sente em decorrência do pensamento do que do pensamento em si.” (BECK, 1997, p.
88)

“Os estímulos que nos chegam do ambiente (interno ou externo)


são processados de maneira automática e fora da consciência.
Diante de determinado acontecimento, o indivíduo apresenta
pensamentos automáticos, sobre os quais não tem controle ou
crítica. Esses pensamentos podem gerar emoções adequadas ou
inadequadas. Esse funcionamento depende de um sistema de

32
crenças aprendidas ao longo da vida.” (CAVALCANTI e
CAVALCANTI, 1996, p. 27)

Espontâneos, tais pensamentos podem surgir a partir de acontecimentos


cotidianos e são independentes da deliberação ou mesmo do raciocínio. Ativados por
eventos internos ou externos, tomam forma de algum tipo de vivência capaz de ativar
um ‘gatilho’ interno.

O tratamento de inúmeras patologias requer a verificação dos pensamentos


automáticos. A ideia terapêutica é permitir que o cliente consiga monitorá-los e
identificá-los, visto que ao tomar consciência deles é possível questionar sua validade,
permitindo, assim, que o sujeito lide com diferentes situações de maneira mais
adaptativa.

“Os pensamentos automáticos podem ser avaliados de acordo


com sua validade e sua utilidade. O tipo mais comum de
pensamento automático é distorcido de algum modo e ocorre
apesar de evidências objetivas em contrário. [...] Por exemplo,
“Eu não fiz o que prometi [para a minha colega de quarto]” é
um pensamento válido, mas a conclusão “Portanto, eu sou uma
má pessoa” não é.” (BECK, 1997, p. 89)

Os pensamentos automáticos, trabalhados durante as sessões terapêuticas, são


aqueles que contêm distorções cognitivas que, sem serem identificadas, alteram a
realidade, influenciando fortemente as emoções e os comportamentos do sujeito.
33
Assim que avaliar a validade de tais pensamentos através de um exame das
evidências com posterior testagem por meio de experimentos comportamentais, nos
permitirá a correlação da distorção cognitiva. (BECK, 1997)

“O modelo cognitivo afirma que a interpretação de uma


situação (em vez da situação em si), frequentemente expressa
em pensamentos automáticos, influencia as respostas
emocional, comportamental e fisiológica subsequentes. [...]
Pessoas com transtornos psicológicos, no entanto, com
frequência, interpretam erroneamente situações neutras ou até
mesmo positivas, e, desse modo, seus pensamentos automáticos
são tendenciosos6. Examinando criticamente e corrigindo erros
de seu pensamento, muitas vezes os pacientes sentem-se
melhor.” (BECK, 1997, p. 87)

Existem diferentes formas de alcançarmos tais pensamentos e trabalharmos com


eles. O profissional, por exemplo, pode pedir ao cliente que escute simplesmente o seu
discurso, prestando atenção para onde é levado por ele. Além disso, também podemos
pedir que ele escreva (e leia em voz alta) os pensamentos automáticos, para que seja
capaz, não só de avaliá-los, como também de se envolver emocionalmente com eles.

6
O próprio autor (1997) nos lembra de que ainda que tais pensamentos pareçam surgir
espontaneamente, eles se tornam bastante previsíveis, uma vez que as crenças subjacentes sejam
identificadas.
34
TÉCNICAS PARA MODIFICAR PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS

2.2 – Conceitos básicos

As distorções encontradas nos


pensamentos automáticos são
denominadas de erros cognitivos. Para
identificá-los é necessário compreender
os problemas do raciocínio lógico. Para
tanto, tal escola se utiliza de uma técnica
central conhecida como reestruturação
cognitiva, uma abordagem comprovada
de benefícios em longo prazo que visa a
modificação dos pensamentos

35
automáticos e das crenças disfuncionais, ao propor a reformulação do sistema de
esquemas e crenças do cliente.

Para Ito et al. (2008), a reestruturação cognitiva abrange, a princípio, a detecção


tanto dos pensamentos distorcidos como das crenças disfuncionais e da crença central
do cliente, orientando assim o terapeuta na compreensão sobre o funcionamento
cognitivo daquele que atende.

Por conta disso, Sousa e Baptista (2001) afirmam que a reestruturação cognitiva
permite que o terapeuta trabalhe na tentativa de modificar as interpretações distorcidas
dos eventos, com a finalidade de construir, de maneira gradual e sistemática, uma base
de referência com novas estratégias de enfrentamento.

Erros ou distorções cognitivas

Leitura de pensamento: apesar de poucas evidências reais, o indivíduo


interpreta o que os outros estão pensando, avaliando quem reage
negativamente a ele;

Inferência arbitrária: chegar a uma conclusão na ausência de evidências


suficientes;

Pensamento dicotômico: tudo o que acontece está baseado em termos de


sempre ou nunca, onde o meio termo não existe;

Abstração seletiva: focaliza um detalhe, normalmente a parte negativa,


percebido como correto, enquanto desconsidera o restante;

Minimização do positivo: redução da importância das próprias

36
realizações ou de algo bom que tenha acontecido;

Maximização do negativo ou catastrofização: o indivíduo espera a pior


consequência possível e superestima a probabilidade de que isso ocorra,
aumentando ou exagerando a experiência negativa;

Generalizações: conclusão negativa radical que vai além da situação atual


onde, de uma pequena parte, se faz o todo que justifique a crença. Ou
seja, um único evento negativo demonstra que o negativo vai acontecer
sempre, impedindo que o indivíduo amplie as oportunidades de novas
aprendizagens;

Personalização: o indivíduo se transforma no responsável pelos


acontecimentos, quando não existem bases óbvias para tal, por
desconsiderar motivos relevantes;

Ruminação: repetição das crenças perturbadoras;

Ditadura dos deverias: criação de regras rígidas para si e para os outros.

*Normalmente, há uma combinação de erros cognitivos. Com a ajuda


terapêutica, eles são detectados, ocorrendo, assim, as mudanças necessárias nas
crenças disfuncionais.

Como antes levantado, o profissional pode se utilizar do exame de evidências,


isto é, fabricando, juntamente com seu cliente, uma lista com colunas a favor e contra o
pensamento apresentado. Em tal trabalho, os profissionais se baseiam na utilização do
chamado método socrático, onde perguntas abertas são feitas com o objetivo de buscar,

37
juntamente com o cliente, as falhas existentes na forma de pensar, ou seja, seus padrões
de pensamento.

Outra estratégia terapêutica utilizada na reestruturação cognitiva são os cartões


de enfrentamento. O paciente deve escrever uma frase realista visível, para que ele
tenha acesso fácil.

“Os cartões de enfrentamento são usualmente cartões de


8x13cm que o paciente mantém por perto (frequentemente em
uma gaveta de escrivaninha, bolso, bolsa, afixado em um
espelho do banheiro, refrigerador ou no painel do carro). Ele é
encorajado a lê-los, em um período regular (por exemplo, três
vezes por dia) ou na medida do necessário. Esses cartões podem
assumir várias formas, três das quais são descritas a seguir:
escrever um pensamento automático chave ou uma crença, de
um lado com sua resposta adaptativa, do outro projetando
estratégias comportamentais, para usar em situações
problemáticas e compor autoinstruções para motivar o
paciente.” (BECK, 1997, p. 220)

2.3 – Estrutura das sessões


Como a indicação terapêutica é baseada em
um diagnóstico, é preciso analisar diferentes
fatores, visando que o profissional conheça melhor
o seu cliente. Só através de tal feito fica possível
indicar o melhor método a ser empregado e o
correto desenvolvimento do planejamento do
tratamento terapêutico.

38
Assim, enquanto levanta algumas questões, cabe ao terapeuta ficar atento aos
pontos fortes e aos recursos apresentados pelo indivíduo, identificando as situações
estressantes que o cliente tem atravessado e quais são os pensamentos automáticos que
o acompanham em diferentes situações.

Vale salientar que, apesar de cada sessão terapêutica ter uma programação
diferente, a estrutura fechada da sessão só deverá ocorrer após o estabelecimento da
aliança terapêutica. Desta forma, um acontecimento que tenha ocorrido
inesperadamente com o cliente, ainda que não apareça como “ata” daquela sessão, vem
antes das metas que foram traçadas ou dos objetivos a serem atingidos.

“Os elementos básicos de uma sessão de terapia cognitiva são


uma breve atualização (incluindo classificação de humor e uma
checagem de anuência à medicação, quando aplicável), uma
ponte da sessão anterior, estabelecimento da agenda, uma
revisão da tarefa de casa, discussão de tópico(s), indicação de
nova tarefa de casa, resumos e feedbacks.” (BECK, 1997, p. 40
e 41)

É importante que o terapeuta realize breves resumos durante a sessão. Porém, se


no início do processo terapêutico é o profissional quem se responsabiliza por esta tarefa,
39
com o avanço das sessões, ele encoraja o paciente a assumir esta posição, para que ele
possa fabricar o resumo.

Na realidade como um todo, no começo do tratamento, o terapeuta toma uma


postura mais ativa, pois precisa se empenhar na resolução do problema, enquanto que o
paciente ainda não tem ferramentas para tal e, assim, não se encontra apto para se
responsabilizar pela sua aprendizagem, aplicando as técnicas no dia a dia.

Além do resumo breve, é necessário um resumo final que una e reforce os


pontos importantes que foram levantados, incluindo uma revisão daquilo que o paciente
concordou em fazer como tarefa de casa. Isto facilita que o paciente adote uma
orientação de resolução de problemas mais objetiva. (BECK, 1997)

Resolução de problemas

Objetivos Passos

1. Refere-se à possibilidade de 1. Especificar o problema que deve ser


confrontar ou se aproximar da escrito em uma forma interrogativa;
situação temida;
2. Projetar soluções (listar ideias,
2. Possibilita a exposição do
viáveis ou não, pois aqui o objetivo
indivíduo às situações
não é a qualidade, mas a quantidade,
conflitantes, além de possíveis
visando novas soluções);
soluções e estratégias para cada
uma delas, levantando as
3. Selecionar a solução (listar
vantagens e desvantagens
vantagens e desvantagens de cada
existentes;
uma, antes de selecionar);
3. Propõe estratégias de utilização
das soluções mais viáveis. 4. Implementar a solução;

40
5. Avaliar a efetividade da solução.

Além disso, dentro da estrutura terapêutica, vale ressaltar a necessária intenção


da ocorrência do feedback que deve ser feito pelo profissional sempre de maneira
positiva. Este procedimento é uma importante ferramenta que permite ao cliente
retornos construtivos sobre o seu processo e, ainda, possibilita que o terapeuta, por sua
vez, seja direcionado para aquilo que o paciente está sentindo ou como está se
percebendo em relação ao tratamento.

Beck (1997) também salientou outro importante papel do feedback ao afirmar


que “pedir feedback fortalece adicionalmente o rapport, transmitindo a mensagem de
que o terapeuta se importa com o que o paciente pensa.” (p. 56)

É de conhecimento popular que as sessões clínicas baseadas nesta escola


possuem um tempo limitado7. Apesar disso, ao finalizar as sessões propostas
inicialmente, o terapeuta poderá dispor algumas sessões de reforço que aconteceriam,

7
A terapia cognitivo-comportamental se baseia em um formato curto de tempo para seus
atendimentos. Apesar disso, existem casos em que ela pode ser estendida, como, por exemplo,
em presença de doenças associadas ao transtorno presente, no caso de o cliente apresentar
sintomas crônicos ou, ainda, no caso de resistência ao tratamento.
Assim, a terapia cognitiva de curto prazo supõe certa flexibilidade por parte daqueles que a
procuram e um acesso relativamente livre aos pensamentos e sentimentos. Quando o cliente
apresenta certos bloqueios ou tem dificuldade de fazer contato com aquilo que sente, é preciso
modificar o entendimento de uma abordagem de curto prazo.
41
por exemplo, depois de 1 ou 3 meses ou, até mesmo, 1 ano. Ao final do tratamento, o
trabalho é direcionado para a prevenção de recaídas, ajudando o cliente a identificar os
problemas em potencial e as necessárias técnicas de enfrentamento.

Não podemos deixar de ressaltar aquilo que foi levantado através de Falcone
(2001). A autora, levantando Dattilio e Freeman (1998), afirmou que o terapeuta
cognitivo não costuma limitar as sessões a um determinado número, salvo quando o
paciente participa de um estudo de resultados. O tempo do tratamento estará na
dependência da natureza, da quantidade dos problemas apresentados e da motivação,
assim como da disponibilidade do paciente para o tratamento.

Já em relação à estruturação das sessões, de acordo com Manfro et al. (2008), as


sessões iniciais são dedicadas à avaliação do paciente, à psicoeducação e às técnicas de
treinamento para lidar com os sintomas apresentados (relaxamento muscular e
respiração abdominal podem ser utilizadas).

Cabe salientar aqui que o profissional deve estar atento sobre a contraindicação
da técnica de relaxamento em alguns clientes, visto que, devido ao medo de perderem o
controle, eles poderiam experimentar uma crise de pânico durante a tentativa de
implementação deste procedimento.

À medida que as sessões avançam, é dada maior atenção às intervenções


cognitivas. Por sua vez, as sessões finais são dedicadas à consolidação dos ganhos e aos
esforços para a prevenção de recaídas, avaliando as estratégias utilizadas pelo cliente
que podem ajudá-lo futuramente.

A estrutura da primeira sessão de terapia

Durante a primeira entrevista, o terapeuta costuma levantar questões sobre o


diagnóstico e os sintomas apresentados pelo cliente, assim como as experiências
evolutivas importantes do seu desenvolvimento e as influências sociais presentes.
42
Fatores biológicos, genéticos e médicos também não deverão ficar de fora dessa
anamnese inicial.

Além disso, como uma forma de facilitar o envolvimento do cliente no processo,


é importante que ele se familiarize com o modelo terapêutico buscado por ele, tornando
a terapia o mais eficiente possível. Assim, ainda durante as primeiras sessões, o
terapeuta poderá dedicar um tempo para esclarecer qualquer dúvida apresentada,
fornecendo as informações necessárias, como também ensinando algumas das
ferramentas utilizadas durante o processo terapêutico. Para Beck (1997), explicar o
funcionamento terapêutico torna o processo mais compreensível para o cliente e deixa
clara a necessidade da sua participação ativa, estruturada e produtiva.

“A maioria dos pacientes se sente mais confortável quando sabe


exatamente o que esperar da terapia, quando entende
claramente suas responsabilidades e as do terapeuta e quando
tem uma expectativa clara de como a terapia procederá, tanto
dentro de uma única sessão como entre sessões e ao longo do
tratamento. O terapeuta maximiza o entendimento do paciente,
explicando a estrutura das sessões e então aderindo àquela
estrutura.” (BECK, 1997, p. 40)

Para Beck (1997), a sessão inicial serve para estabelecer confiança e rapport,
socializar o paciente na terapia cognitiva, educá-lo sobre seu transtorno, sobre o modelo
cognitivo e sobre o processo de terapia. Além disso, também serve como uma forma de
regularizar as dificuldades apresentadas e instaurar a esperança, extrair (e corrigir, se
necessário) as expectativas com a terapia, coletar informações adicionais sobre as
dificuldades do indivíduo e utilizar essas informações para desenvolver uma lista de
objetivos a serem alcançados.

43
Tópicos a serem abordados em uma avaliação inicial
(Rangé e Silvares, 2001, p. 81)

1. Problema(s) apresentado(s)

Natureza do(s) problema(s); descrição do(s) comportamentos(s)


problemáticos(s) (aspectos comportamentais, cognitivos, afetivos, fisiológicos:
quais aspectos, quando ocorrem, onde, qual a frequência com que ocorrem etc.;
variáveis contextuais e moduladoras: situacionais, comportamentais, cognitivas,
afetivas, fisiológicas, interpessoais; fatores de manutenção: situacionais,
comportamentais, cognitivos, afetivos, fisiológicos, interpessoais); evitações
(ativas e passivas); fatores predisponentes, curso temporal e fatores
precipitantes; compreensão do paciente sobre o problema e tentativas anteriores
de enfrentar o problema.

2. Situação atual de vida

Situação existencial, família, trabalho, lazer (interesses e atividades), nível de


satisfação com a vida atual.

3. Desenvolvimento

a. História familiar: descrição dos pais, relacionamento com pais e irmãos,


principais acontecimentos desde a infância, juventude, até o momento atual.

b. História escolar e ocupacional: nível de realização, satisfação, alegria,


interesse, escolhas vocacionais, problemas.

44
c. História social: relações de amizade na infância, adolescência, vida adulta;
relacionamentos sexuais, identidade sexual e preferências, namoros, relações
sérias e casamento (incluindo descrição dos parceiros e quaisquer problemas
nos relacionamentos).

4. Experiências traumáticas

Abalos em relações familiares; problemas médicos, psicológicos ou de abuso de


substâncias na família; abuso sexual ou físico.

5. História médica

Saúde atual, medicações em uso, problemas médicos prévios, abuso de drogas,


história familiar de problemas médicos e problemas psicológicos.

6. História psiquiátrica e psicoterapêutica

Terapias farmacológicas e/ou psicológicas prévias (Quando? Com quem? Por


quê? Benéficas ou não? Problemas na(s) terapia(s)?; ocorrências anteriores dos
problemas atuais, curso e resultado.

7. Status psicológico

Aparência, atitude, comportamento, humor e afeto, fala e pensamento,


funcionamento perceptual, intelectual e cognitivo.

45
8. Rapport

Grau de abertura e autorrevelação, motivação para a terapia, níveis de


compreensão e insight, sentimentos despertados no terapeuta, disposição para
colaborar etc.

9. Metas do paciente para a terapia

Descrever clara e especificamente, priorizar.

10. Perguntas e preocupações do paciente

11. Formulação preliminar

Apresentação da formulação e de um plano de tratamento, discussão, contrato.

46
2.4 – Papel do terapeuta

Terapeuta cognitivo-comportamental é o nome que damos ao psicólogo clínico


que orienta a sua intervenção, baseando-se em uma análise cognitiva e comportamental
daquele que o procura. Este profissional busca a identificação dos comportamentos
disfuncionais ao investigar o afeto e as cognições em conjunto com as reações físicas8 e
as relações sociais9. Para tanto, tem como objetivo examinar, junto ao cliente, formas
mais adaptativas e positivas de interação, desenvolvendo um novo repertório de
conduta, além de identificar aquilo que determinou e manteve tal comportamento até
então.

8
Lembremos que nosso trabalho, enquanto profissionais, está voltado para a interação entre as
emoções, os pensamentos, os comportamentos e os consequentes estados fisiológicos.
9
Para esta escola, o comportamento tende a se repetir, caso seja recompensado (reforço
positivo) ou então, caso seja capaz de eliminar um estímulo aversivo, ao ser emitido (reforço
negativo).
47
Meyer e Vermes (2001), ao realizarem um levantamento da literatura, apontaram
como qualidades necessárias ao terapeuta a postura empática e compreensiva, a
aceitação desprovida de julgamentos, a autenticidade, a autoconfiança e a flexibilidade
na aplicação de técnicas.

“Trabalhos como os de Rudy, McLemore e Gorsuch (1985) e


Goldfried e Davidson (1976) indicaram que os terapeutas
avaliados, como “calorosos”, “amigáveis”, “comprometidos”,
“tolerantes” e “interessados” são aqueles que têm maior
sucesso no resultado dos tratamentos.” (MEYER e VERMES,
2001, p. 102, 103)

De acordo com Beck (1997), o terapeuta ainda pode demonstrar que se preocupa
com o cliente, que não se sente oprimido pelos problemas apresentados, ainda que o
paciente possa estar, sendo que, apesar disso, ele já atendeu e ajudou casos semelhantes
e, por isso, acredita que esse é o tratamento apropriado. Assim, o terapeuta é capaz de
demonstrar que não só valoriza como também acredita no trabalho que realizarão em
conjunto. E, ainda mais do que isso, acredita que pode ajudar o cliente e que ele pode
aprender a ajudar a si mesmo.

48
Qualidades necessárias ao terapeuta
MEYER e VERMES, 2001

Postura empática e compreensiva;

Aceitação desprovida de
julgamentos;

Autenticidade;

Autoconfiança;

Flexibilidade na aplicação das


técnicas;

Empatia, calor humano,


compreensão, concordância
(comportamentos que tenham como
objetivo a aproximação e a
demonstração de compreensão);

Orientação (orientações
estratégicas, instruções e fornecimento
de modelos).

Por outro lado, é importante que o terapeuta monitore seu próprio nível de
desconforto e identifique seus próprios pensamentos automáticos durante ou mesmo
entre as sessões realizadas. “Prestando atenção em tais estímulos, se torna possível
avaliar e responder aos seus pensamentos e resolver problemas para tornar mais fácil

49
para ele experimentar implementar a estrutura padrão na próxima sessão.” (BECK,
1997, p. 86)

Já Moraes (2001), ao citar Lakin (1999), nos lembra da importância em salientar


que a prática psicoterápica é uma relação onde a presença de uma pessoa afeta a de
outra. Cabe ao psicólogo avaliar a direção das suas intervenções, sempre respeitando os
limites éticos, visto que “em uma relação terapeuta ideal, a adesão do terapeuta ao
princípio da autonomia impede que ele faça propostas de como seu cliente deva decidir
os dilemas de sua vida.” (p. 555)

“É inquestionável a influência das características do terapeuta


sobre o estabelecimento e a manutenção da relação terapêutica.
Parece importante afirmar que esse profissional deve estar
habilitado, não só para a aplicação de técnicas, mas, também,
para a assunção da responsabilidade de construir um
relacionamento que seja em si terapêutico.” (MEYER e
VERMES, 2001, p. 102)

Assim podemos afirmar que o acolhimento terapêutico caminha junto com a


escuta. Acolhemos quando é possível aceitar o outro com as características que ele tem,
sem exigir que ele mude ou se encaixe em planos que não são dele.

E, claro, não custa ressaltar que a excelência do atendimento, que influenciará


nos resultados obtidos, está ligada à atualização do terapeuta, o emprego seguro das
técnicas, o entendimento do paciente e a uma sólida relação terapêutica. (Rangé e
Souza, 2008)

Meyer e Vermes (2001) salientam que, de acordo com alguns autores, alcançar o
sucesso planejado por cliente e terapeuta, dependerá da qualidade dessa relação. Assim,
destaca-se a importância de que terapeutas iniciantes que apresentem dificuldades
específicas no estabelecimento de uma relação satisfatória estejam atentos aos
sentimentos que são provocados pelos atendimentos, assim como a preocupação

50
constante em seguir as regras estabelecidas pelo supervisor e a rigidez sobre aquilo que
deve estar presente nas entrevistas terapêuticas.

2.5 – Relação terapêutica

A interação entre cliente e


terapeuta é voltada diretamente
para a ação, onde ambos são bem
solicitados a buscar
conjuntamente quais são as
emoções e pensamentos que estão
dificultando a vida daquele que
procura por auxílio terapêutico.

Os dois, terapeuta e
cliente, funcionam como uma equipe e colaboram para um trabalho de mão dupla, onde
cabe ao segundo expressar seus pensamentos e sentimentos, enquanto que, ao primeiro,
cabe avaliar as crenças irracionais apresentadas, testando-as junto com seu cliente.
Assim, a relação terapeuta é colaborativa, de enfoque didático, visando sempre um
mesmo objetivo.

De acordo com Meyer e Vermes (2001), a relação terapêutica apresenta-se como


uma oportunidade do cliente emitir comportamentos-problema, ao mesmo tempo em
que, a partir da interação com o terapeuta, aprende formas mais efetivas de respostas.
Para tanto, cabe ao terapeuta apresentar alternativas, além daquelas conhecidas pelo
cliente. “A relação terapêutica proveria uma oportunidade para os clientes emitirem
comportamentos-problema e aprenderem formas novas e mais efetivas de resposta” (p.
107)

Com isso, não queremos dizer que o objetivo terapêutico é adotar pura e
simplesmente uma visão positiva ou pecadora pelo falso excesso de positividade. É
51
preciso que se olhe para a questão levantada através de pontos de vista diferentes, sejam
positivos, neutros ou, inclusive, negativos.

É importante que saibamos da impossibilidade das características do terapeuta


não influenciar o estabelecimento e a manutenção da relação terapêutica. Assim, o
profissional deve estar habilitado, não só para a aplicação de técnicas, como também
para a assunção da responsabilidade de construir um relacionamento que seja, em si,
terapêutico. (MEYER e VERMES, 2001)

Talvez haja a necessidade de fazermos um adendo aqui e ressaltar que, para que
haja o sucesso terapêutico, é preciso conhecer, não só a teoria como as técnicas
utilizadas, as quais veremos em algumas páginas. Porém, tão importante quanto isso é a
necessidade de se engajar em uma relação terapêutica satisfatória, segura e afetiva que
permita a exploração e o desenvolvimento de novas formas de lidar com o mundo e
consigo. É um erro primário acreditar que tal escola se utiliza de técnicas ou estratégicas
de forma mecânica10, visto que o uso que é feito dos instrumentos terapêuticos
existentes não exclui a relação humana.

Fatores não específicos importantes para o sucesso terapêutico foram


apresentados por Cordioli (1998). São eles: 1) uma relação de confiança intensa e
emocionalmente carregada com a pessoa que o ajuda; 2) uma teoria explicativa das
causas dos problemas do cliente, na qual se fundamente a técnica utilizada; 3) acesso a
novas informações sobre a natureza dos problemas e alternativas de como manejá-los;
4) aumento da esperança de auxílio em virtude das qualidades e capacidades do
terapeuta; 5) possibilidade de realizar, com sucesso, novas experiências de vida
acarretando, assim, um aumento da autoconfiança; 6) oportunidade para expressar
emoções.

Por outro lado, Meyer e Vermes (2001) levantaram que elementos oriundos da
história de vida do terapeuta podem trazer consequências negativas ao cliente. No
10
Não podemos esquecer que as técnicas se baseiam na crença de que as cognições e os
comportamentos caminham de mãos dadas. Assim, de nada adianta aplicar técnicas sem o
correto entendimento do que se propõe e para que elas servem.
52
entanto, quando tais sentimentos não são utilizados como instrumento terapêutico,
podem fazer parte de uma cadeia comportamental que leva a interações inadequadas.

2.6 – Objetivos e metas


Definitivamente, a terapia não
é um espaço que visa ajustar o
indivíduo à sociedade. A ideia passa
por ajudá-lo a ajustar-se a si próprio,
descobrindo sua própria realidade e,
mais do que revelar a sua
humanidade, se sentir cômodo com
ela. Isso inclui dizer que, por vezes,
parecerá ser objetivo terapêutico ir
contra aquilo que a sociedade o pede.

Assim, salientemos que independente da abordagem terapêutica elegida, a


terapia é uma ferramenta que visa o melhor entendimento de si, das pessoas com que o
indivíduo convive e dos problemas presentes na sua rotina. Seu objetivo maior é
permitir um encontro com melhores maneiras de enfrentar as dificuldades existentes,
otimizando as potencialidades e as oportunidades.

53
É objetivo da terapia cognitivo comportamental

Ainda que esta escola tenha como alicerce o estabelecimento de metas para o
trabalho terapêutico, a preocupação se volta não para a doença, mas para o indivíduo.
Assim, para que possamos estabelecer as metas necessárias, devemos conhecer as
crenças e valores individuais, alinhando as metas de tratamento aos valores pessoais de
determinado cliente.

Específicas e avaliadas para que as mudanças sejam possíveis, normalmente as


metas são estruturadas ainda no final da primeira sessão. Apesar disso, tal fato não
invalida a necessidade de passarem por constantes revisões, visto que as metas iniciais
podem perder a força e a função durante o desenvolvimento terapêutico.

O foco das metas terapêuticas está voltado para a desconstrução das crenças
disfuncionais. Para tanto, é necessário que haja uma subdivisão do problema
apresentado através de submetas possíveis de serem atingidas, visto que, ao

54
possibilitarmos uma meta menor, dividida em partes, estaremos diminuindo as
expectativas, ao mesmo tempo em que trabalhamos a frustração, o sentimento de
impotência e o possível abandono do tratamento.

Assim, primeiramente, o terapeuta deverá se encarregar de estabelecer as metas


de longo prazo, visto que essas são mais estáveis. São essas metas que deverão ser
destrinchadas em metas de médio e curto prazo. Por sua vez, essas últimas deverão ser
transformadas em metas diárias, caso seja ainda necessário.

É preciso levar em consideração todas as áreas que fazem parte do dia a dia do
cliente na elaboração dessas metas. Sejam elas a esfera profissional (relacionada ao
trabalho ou aos estudos), afetiva (família, amigos, afetivo-sexual), lazer e saúde (física,
mental e emocional). Além destas áreas, também pode-se incluir patrimônio (carros,
imóveis ou investimentos) ou outras que sejam do interesse do sujeito, desde que a meta
tenha a ver com a questão levantada.

55
2.7 – Tarefas de casa

Parte integral da terapia, as tarefas de casa são sempre solicitadas pelo terapeuta,
visto a sua função de complementar as sessões. Assim, durante todo o tratamento
terapêutico, parte da sessão é utilizada para programar e averiguar tais tarefas, ligando,
não só uma sessão a outra, como, também, aumentando o comprometimento e
permitindo que o terapeuta perceba e dirija os passos do tratamento.

A tarefa de casa, além de poder ser utilizada como um termômetro, por autorizar
a utilização das habilidades aprendidas dentro do ambiente terapêutico na vida

56
cotidiana, permite que o cliente possa se tornar o seu próprio terapeuta, experimentando
tais habilidades e oferecendo, ao profissional, a investigação necessária daquilo que
melhor funciona.

“Em essência, o terapeuta busca entender as oportunidades


para mudança cognitiva e comportamental, ao longo da semana
do paciente. As boas tarefas de casa proporcionam
oportunidades para o paciente adicionalmente educar-se (por
exemplo, através de biblioterapia), colher dados (por exemplo,
monitorando seus pensamentos, sentimentos e comportamentos),
testar os seus pensamentos e as suas crenças para modificar seu
pensamento, praticar as ferramentas cognitivas e
comportamentais e experimentar comportamentos novos. A
tarefa de casa pode maximizar o que foi aprendido em uma
sessão de terapia e conduzir a um aumento no sentimento de
autoeficácia do paciente.” (BECK, 1997, p. 253)

Vale salientar que as tarefas são estabelecidas entre terapeuta e cliente, se


baseando na incumbência que deverá ser realizada para a próxima sessão, onde o
profissional poderá entender, de acordo com o resultado trazido, a dedicação do cliente
a aderir ao tratamento e o seu desejo de mudança.

Muitos ainda são os que não conseguem realizar as tarefas propostas para a casa,
seja por dificuldade de enfrentamento, capaz de gerar certa resistência, ou por falta de
organização e, até mesmo, por falta de compreensão daquilo que foi proposto durante a
sessão. Assim, o terapeuta deverá ser flexível e capaz de escutar o cliente, caso haja
algum tipo de oposição ou resistência.

57
AUMENTANDO A POSSIBILIDADE DE UMA TAREFA DE
CASA BEM SUCEDIDA
(BECK, 1997, p. 258, 259)

Preparar uma tarefa de casa adequada para o paciente (Esteja 90-100%


seguro de que o indivíduo será capaz de fazer a tarefa). Pode ocorrer a
projeção de tarefas fáceis demais ou difíceis demais;

Oferecer um embasamento lógico sobre como e porque a tarefa poderá


ser útil (ajudar o paciente);

Estabelecer a tarefa de casa colaborativamente, ver o input e a


concordância do paciente;

Tornar a tarefa de casa uma proposta;

Começar a tarefa (quando possível) na própria sessão;

Ajudar o estabelecimento de sistemas de recordação para a realização da


tarefa de casa;

Antecipar possíveis problemas. Fazer um ensaio encoberto quando


indicado;

Preparar para um possível resultado negativo (quando aplicável).

2.8 – Técnicas cognitivas e comportamentais

A terapia cognitivo-comportamental nos conta sobre uma variedade de técnicas


utilizadas para a modificação do comportamento, individualmente pensadas e adaptadas
ao tipo de problema apresentado.

Apesar disso, a terapia é um processo e não é uma cura milagrosa. É preciso


tempo e dedicação para que o profissional possa ensinar ao cliente as situações chaves e
a identificar os fatores desencadeantes dos comportamentos que ele visa eliminar.

58
Cabe ao terapeuta instruir as técnicas capazes de corrigir as distorções cognitivas
e guiar o cliente dentro do processo terapêutico, permitindo, segundo Meyer e Vermes
(2001), a construção de um amplo repertório comportamental, onde haja habilidades
interpessoais, perseverança, realismo e habilidade para colocar os problemas em
perspectivas, além da orientação para o futuro.

Entre as técnicas cognitivas, destacamos, agora, o registro de cognições e o


ensino ao cliente sobre a relação existente entre cognição, afeto e conduta. As técnicas
comportamentais englobam a programação de atividades e a realização de tarefas
graduais, onde é proposto, por exemplo, uma agenda de domínio de prazer, para que o
cliente classifique as atividades diárias listadas.

Como já dito, anteriormente, a reestruturação cognitiva nos conta sobre a


reformulação do sistema de esquemas e crenças do cliente através da intervenção
terapêutica. Para tanto, como alicerce deste método, os profissionais fazem uso do
questionamento socrático, onde, fundamentados em um processo chamado de
empirismo colaborativo, ambos se engajam em reunir dados com o objetivo de
examinar as evidências apresentadas. Para tanto, o profissional formula questões
abertas, visando o exame das crenças e a buscar, seja a favor ou contra as crenças atuais,
crenças alternativas.

59
Sobre as técnicas comportamentais, em relação à fabricação da agenda, podemos
dizer que ela serve como um instrumento paralelo ao estabelecimento e a realização das
metas propostas. Assim, depois de terapeuta e paciente terem atingido um plano de
ação, criam-se os tópicos específicos e passíveis de serem alcançados, entre aqueles que
o cliente considera incômodo ou que deseje trabalhar para fixarem o compromisso.

Também, outra forma de utilização da agenda é quando o profissional pede


que sejam fabricados cartões de atividades para monitorar o paciente, durante o
intervalo entre as sessões. Tais cartões são confeccionados com os dias da semana
colocados na horizontal e as horas postas na vertical do lado esquerdo. Esta tabela pode
ser utilizada de diversas formas, incluindo não só o monitoramento das atividades,
como medição e análise de satisfação obtida (prazer), de competência (domínio), dos
humores e o agendamento das atividades prazerosas ou das tarefas árduas. (BECK,
1997)

60
Também muito utilizado é o registro de pensamentos disfuncionais, que propõe
ao cliente a fabricação de um diário de eventos importantes, onde seja possível
monitorar sentimentos e comportamentos que existam em relação a cada evento
ocorrido fora do ambiente terapêutico. Tal tarefa também pode ser utilizada como uma
ferramenta para analisar e perceber a capacidade do indivíduo de avaliar a situação
vivida, permitindo o desenvolvimento de uma resposta emocional adequada ou
adaptativa.

Além desta, destacamos a biblioterapia, também muito utilizada, onde o


terapeuta prescreve determinadas leituras que possuem função terapêutica, já que visam
à abordagem da questão trazida pelo cliente. Tal tarefa visa à educação do indivíduo
sobre a sua própria queixa.

Por sua vez, as técnicas de relaxamento, que dependerão da idade do cliente e de


sua consciência corporal, têm como objetivo principal fazer com que ele aprenda a ter
maior controle das respostas fisiológicas próprias da ansiedade, sendo, assim, bastante
utilizadas no tratamento dos diversos casos ansiosos. Como exemplo, citamos o
relaxamento diafragmático. Neste método, o cliente deve ser estimulado a respirar
profundamente pelo nariz até encher o peito de ar e expandir o diafragma. Ao expirar, o
ar deve sair pela boca lentamente enquanto descontrai o abdômen. O objetivo é
controlar a ansiedade, as tensões existentes no corpo e diminuir o ritmo cardíaco.

61
Mas para isso, os exercícios de relaxamento, conforme levantado por Beck
(1997) devem ser ensinados e praticados durante as sessões, onde os problemas poderão
ser manejados pelo profissional e a eficácia avaliada em conjunto com o paciente.

Agora, propor uma visualização dirigida, como o nome nos leva a supor, pede
que o profissional disponha de um lugar tranquilo, onde o cliente será estimulado a
fechar os olhos, enquanto se imagina em um determinado ambiente. As sensações que
esse lugar possivelmente despertaria no indivíduo, passarão a ser imaginadas por ele,
como se estivesse vivenciando a experiência.

Já as técnicas como o treinamento das habilidades sociais são empregadas como


uma forma de redução dos pensamentos não adaptativos. De acordo com Ito et al.
(2008) a principal meta do treinamento de habilidades sociais é fornecer ao cliente um
repertório vasto e variável de comportamentos sociais mais adaptados, enfraquecendo a
sua passividade e a sensação de impotência ou raiva.

Por sua vez, a dessensibilização sistemática, o treinamento em assertividade e a


exposição aos estímulos buscam a diminuição da ansiedade no contato com
determinadas situações ansiogênicas e inclui técnicas como a inundação11 e a exposição
gradual. Realizada através da fabricação de uma hierarquia em conjunto com o cliente,
tais técnicas podem ser efetivadas através não só da imaginação como também pelo
confronto direto.

Para Chappa (2001) para que ocorra uma efetiva abordagem terapêutica é
necessário determinar quais dimensões da assertividade estão comprometidas, além de
explorar os fatores que mantêm a sua falta. Entre outros, foram destacados o medo da

11
A inundação é uma técnica comportamental que desfavorece o pensamento automático. Para
isto, ela pretende trabalhar o máximo da dor diante de um comportamento repetitivo, ou seja, o
comportamento indesejado deverá ser inflado ao expor o indivíduo ao estímulo que desperta
ansiedade até que a resposta apresentada por ele decresça, produzindo-se a habituação.

62
reação e da incapacidade de responder que levaria a pessoa a ficar muda ou lenta para
pensar por medo de ser inapropriado, o medo de perder o controle, medo do abandono, a
falta de conhecimento dos direitos pessoais e a falta de competitividade, ou seja, quando
“o paciente pode sentir desagrado pelas pessoas assertivas e considerá-las egoístas, de
modo que se sentem satisfeitas por não sê-lo.” (p. 314)

De acordo com Ito et al. (2008) a dessensilização sistemática é o nome da tarefa


que pode ser executada por meio da imaginação: um procedimento útil para que o
indivíduo aprenda a expor-se antes de passar para as situações reais.

Ao identificar as situações consideradas ansiogênicas, terapeuta e paciente as


listam, hierarquicamente, valendo-se do grau de ansiedade que geram, iniciando pelo
que provoca menor intensidade (zero ponto) até o de maior intensidade (dez pontos) de
ansiedade. Após a fabricação da listagem, o paciente é então orientado a enfrentar as
situações que estão no início da sua hierarquia, expondo-se repetidamente e por tempo
prolongado, objetivando a diminuição da ansiedade através de um fenômeno conhecido
como habituação.

Durante este procedimento também é indicada a utilização de um diário, onde se


possa registrar e avaliar o grau de ansiedade vivenciado antes e depois da exposição,
assim como a ocorrência de pensamentos relacionados à ansiedade e às dificuldades
encontradas. Esse registro também possibilita que o cliente observe o progresso da
diminuição da ansiedade.

“Nos estágios iniciais do tratamento com exposição, as


situações são enfrentadas na companhia do terapeuta, até que
possa ocorrer a habituação da ansiedade no item da hierarquia
que está sendo confrontado. Após a exposição repetida e
prolongada e, quando a situação não eliciar mais altos níveis de
ansiedade e desconforto, passa-se ao próximo item da lista de
situações problemáticas. O processo continua até o paciente
poder enfrentar todos os itens da hierarquia com significativa

63
redução da ansiedade e do desconforto.” (D’EL REY e
PACINI, 2006, p. 270)

Uma técnica muito utilizada, por seus resultados positivos na busca tanto de
metas, como, também, nos momentos em que o cliente apresenta dificuldade em
especificar o seu problema atual ou mesmo a mudança que gostaria de obter na vida, é a
técnica do gráfico em forma de torta. Tal técnica é capaz de demonstrar as esferas
selecionadas de maneira gráfica, ajudando o cliente de inúmeras formas. Nesta técnica,
o cliente deverá ser instruído a desenhar um círculo que será dividido em fatias,
desenhando, em cada pedaço delas, a quantidade de tempo que é gasta em diferentes
esferas da sua vida atual – esferas adaptadas de acordo com as demandas presentes.
Outro círculo poderá ser confeccionado, revelando como o cliente gostaria que estivesse
em um determinado período de tempo.

Uma boa forma de analisar uma questão é possibilitar a tomada de decisão


através de um quadro, onde, realizado em conjunto com o cliente, ele possa levantar as
vantagens e as desvantagens de uma resolução.

64
Estratégias em TCC

Tomada de decisão
Questão/Dúvida:
________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________

Vantagens (0-10) Desvantagens (0-10)

Voltemos a salientar que as técnicas são ferramentas que deverão ser utilizadas
de forma consciente pelo profissional. A sua utilização sem propósito ou critério
impossibilita os inúmeros benefícios possíveis.

Não se trata de rebaixar as técnicas ou muito mesmo a prática clínica, mas


conforme já levantado por Franks (2007), um clínico especializado somente em técnicas
não é um terapeuta: o conceito e a metodologia são os principais e as técnicas
específicas, o secundário.

2.9 – Término ou alta terapêutica

O contrato terapêutico deve ser revisto quando não encerrado ou quando a


maioria dos sintomas, ao ter sua intensidade reduzida, permita que o cliente tenha uma
interferência mínima na sua rotina.

Nesse momento, ocorre uma revisão das técnicas que foram aprendidas,
orientando o cliente à prática contínua delas, possibilitando a manutenção da melhora
clínica. Enquanto isso, é rotina que os terapeutas espacem, ao longo de um período pré-
determinado, as consultas, até que ocorra a alta propriamente dita.

65
“Desse modo, a preparação para o término, inclui aumentar o
intervalo entre as sessões de uma vez por semana para uma vez
a cada duas semanas e, depois, uma vez a cada três ou quatro
semanas. Além disso, as técnicas cognitiva e comportamental
são utilizadas com a finalidade de preparar o paciente para a
ocorrência de retrocessos, de modo a que este procure resolver
suas dificuldades antes de chamar o terapeuta.” (FALCONE,
2001, p. 55)

De acordo com Falcone (2001), o espaçamento das sessões tem como finalidade
verificar se o cliente consegue caminhar na resolução de seus problemas com um menor
auxílio terapêutico. Se tal fato for confirmado, as sessões passam a ser mensais,
preparando o indivíduo para o término próximo. Nesse momento, orienta-se que os
clientes leiam os registros feitos durante a terapia, identificando as habilidades
aprendidas durante todo o processo. Além disso, eles também recebem orientação para a
realização da autoterapia, assim como aprendem a reestruturar as cognições negativas
sobre as recaídas, recebendo também sessões de encorajamento.

Os tipos de atendimentos

Muito se fala sobre a terapia individual, que tem seus objetivos e efeitos
amplamente conhecidos, independentemente da escola elegida como norte terapêutico.
Nela, o indivíduo busca ajuda para as suas questões pessoais, transformando-se no ator
principal deste processo.

Os profissionais que têm como referência a terapia cognitivo-comportamental


deverão apresentar determinados questionamentos capazes de levantar hipóteses sobre
como a pessoa que busca por seus cuidados profissionais desenvolveu certas desordens.
Visa-se, com isso, examinar quais caminhos poderão ser traçados na busca por uma
melhor qualidade de vida do indivíduo.

66
Assim, cabe ao profissional perceber, além do diagnóstico apresentado pelo
cliente, quais são os seus problemas atuais, como eles se desenvolveram, como são
mantidos, quais pensamentos e crenças disfuncionais estão associados aos problemas e
quais reações (emocionais, fisiológicas e comportamentais) estão associadas ao
pensamento.

O foco do terapeuta deve estar voltado para questões, como:


(Beck, 1997)

Que aprendizagens e experiências antigas (e talvez predisposições genéticas)


contribuem para os problemas atuais?

Quais são suas crenças subjacentes (incluindo atitudes, expectativas e regras) e


pensamentos?

Como a pessoa enfrentou as crenças disfuncionais? Que mecanismos


cognitivos, afetivos e comportamentais, positivos e negativos, ela desenvolveu
para enfrentar suas crenças disfuncionais? Como ela via (e vê) ela mesma, os
outros, seu mundo pessoal e seu futuro?

Que estressores contribuíram para seus problemas psicológicos ou interferiram


em sua habilidade para resolver esses problemas?

De acordo com Cavalcanti e Cavalcanti (1996), cabe ao terapeuta cognitivo-


comportamental analisar o comportamento manifesto daquele que o procura, visando
identificar as condições que determinam o aparecimento dos sintomas disfuncionais,
seus antecedentes e de suas consequências.

O atendimento individual que segue esta linha também se apresenta como um


atendimento de tempo reduzido em relação às demais abordagens terapêuticas. Além
disso, conforme a necessidade exposta pelo caso ou pela vontade própria do cliente, tais
67
atendimentos poderão ser realizados fora do setting terapêutico tradicional, visando o
trabalho de alguma característica específica.

Lembremos, assim, que a terapia cognitivo-comportamental não é só um


consultório limitado a um número pré-estabelecido de metragem quadrada. Ela é ampla
e acompanha muitas vezes o cliente, visando obter a colheita de dados importantes para
o processo.

Entretanto, cada caso deverá ser avaliado pelo profissional de forma


individualizada. “Feita a análise comportamental, o terapeuta seleciona as técnicas
especificas para superar o comportamento disfuncional e avalia, periodicamente, o
progresso obtido.” (CAVALCANTI e CAVALCANTI, 1996, p.27)

Ressaltemos aqui que, muitas vezes, uma avaliação psiquiátrica complementar é


indicada, visando aperfeiçoar não só o tempo gasto com os atendimentos psicoterápicos,
como a eficácia do tratamento e a potencialização dos resultados da terapia.

68
Conclusão do Módulo I

Olá, aluno(a)!

Você está quase chegando ao fim da primeira etapa do nosso curso de Terapia
Cognitivo Comportamental, oferecido pelos Cursos 24 horas.

Para passar para o próximo módulo, você deverá realizar uma avaliação
referente a este módulo já estudado. A avaliação encontra-se em sua sala virtual. Fique
tranquilo(a) e faça sua avaliação quando se sentir preparado!

Desejamos um bom estudo, boa sorte e uma boa avaliação!

Até logo!

Curso produzido pela psicóloga e sexóloga: Ana Paula Veiga

Site: http://www.wix.com/ana_paula_veiga/atendimento

69

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