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UC PSICOPATOLOGIA; 3º ANO F.

PSICOLOGIA

Perturbações de stress

Perturbações de sintomas
somáticos

Sílvia Ouakinin,
FPUL 2022

Batalha (1910), Kandinsky

Sumário

- Conceitos gerais de stress


- Perturbação de stress pós-traumático
- Perturbação de ajustamento
- Sintomas Somáticos
- Perturbações de sintomas somáticos
- Perturbação de ansiedade relacionada com a doença
- Perturbação de conversão
- Factores psicológicos que afectam outras patologias
médicas
- Perturbação factícia

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Stress – Conceitos Gerais

STRESS

“Reacção de emergência que permite


ao organismo mobilizar energia para
respostas de luta/fuga, em situações
de risco” Cannon, 1929

“Resposta a situações ameaçadores


que rompem o equilíbrio homeostático
do organismo”

Stress e Síndrome Geral de Adaptação


Seley,1936

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O stress pode ser entendido como:

◼ Uma resposta a uma situação de sobrecarga que


ultrapassa as capacidades do indivíduo

 Um estado geral de alerta

 Um processo de activação neuroendócrina e do


SNA

 Uma vivência de ameaça

 Uma tentativa de repor o equilíbrio psicológico e


fisiológico

O stress pode ser entendido como:

- Um Processo de Avaliação

a) Qualquer acontecimento do meio tem o potencial para


ser um stressor

b) Nenhum evento pode ser considerado como stressor


fora da avaliação que o sujeito faz dele

Avaliação - Processo de negociação entre exigências


externas, hierarquias de objectivos e crenças pessoais
( Motivação; Cognições prévias)

Envolve dois factores :


1 - Ameaça ao bem estar físico ou psicológico
2 - Recursos disponíveis para lidar com a situação

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Tipos de Stress

Baixo Stress Stress Ideal Alto Stress


(eustress) (eustress) (distress)

Atenção Dispersa Alta Forçada

Motivação Baixíssima Alta Flutuante

Realização Baixa Alta Baixa


Pessoal
Sentimentos Tédio Desafio Ansiedade/Depres
são

Esforço Grande Pequeno Grande

A curva do Stress

EUSTRESS DISTRESS

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Relação entre
emoção, stress
e o corpo

Miller, Maletic and Raison. Biol Psychiatry,2009 May 1 ;65(9):732-741

sono
depressão
stress
cérebro
SN simpático

Eixo hipotálamo-
hipófise-supra-
citocinas
renal
Doença
inflamação cardio-
vascular
sistema Doença
imunitário infecciosa
imunosupressão

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Órgão ou função Simpático Parassimpático
Arteríolas em geral vasoconstrição vasodilatação
Frequência cardíaca aumenta diminui
Pressão sanguínea aumenta diminui
Amplitude (potencia) cardíaca aumenta diminui
Metabolismo basal aumenta diminui
Actividade mental aumenta diminui
Brônquios dilata contrai
Pupila dilata contrai
Glicose no sangue (glicémia) aumenta -

Glicogenolise (fígado) aumenta -


Glândulas sudoríparas aumenta sudorese -
Coronárias vasodilatação vasoconstrição
Peristaltismo diminui aumenta
Secreção gastrintestinal diminui aumenta
Glândulas salivares - aumenta salivação
♂ orgasmo, ejaculação erecção do pénis
♀ orgasmo erecção do clitóris
Bexiga relaxa a musculatura da parede e contrai a musculatura da parede
contrai o esfíncter da uretra e relaxa o esfíncter da uretra

Impacto na Inflamação e depressão (Mundo actual)

◼ Factores que  a inflamação ◼ Factores que  a inflamação


e  o risco de depressão e  o risco de depressão

◼ Adversidade na vida precoce ◼ Dieta mediterrânica


◼ Obesidade ◼ Exercício
◼ Sedentarismo ◼ Conexão social positiva
◼ Alimentos processados ◼ Contacto precoce com animais
◼ Stress psicossocial domésticos e de quinta
◼ Isolamento social ◼ Experiência de respeito e temor
◼ Sono pobre/insónia ◼ Antidepressivos
◼ Tabaco ◼ Electroconvulsivoterapia
◼ Abuso/dependência drogas ◼ Psicoterapia
◼ Estatuto socioeconómico baixo ◼ Meditação
◼ Sexo feminino
◼ Exposição reduzida a micro-
organismos

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Perturbação aguda de stress

3 dias – 1 mês

Perturbação de stress pós-traumático

>1 mês

Perturbação de stress pós-traumático

◼ Reacção intensa e prolongada a um


acontecimento traumático

1. Voltar a experimentar aspectos do


acontecimento stressor
2. Evitamento das recordações
3. Alterações das cognições e do humor
4. Hiperalerta

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Perturbação de stress pós-traumático
Exemplos de stressores extremos

➢ Catástrofes naturais – inundações; terramotos


➢ Calamidades provocadas pelos homens –
fogos; acidentes graves
➢ Circunstâncias de guerra
➢ Violações e assaltos violentos

 Exposição directa
 Testemunhar
 Tomar conhecimento de acontecimentos
que ocorreram a outros próximos

Perturbação de stress pós-traumático


Clínica

Sintomas intrusivos
◼ Memórias intrusivas, involuntárias e
recorrentes
◼ Sonhos perturbadores recorrentes
◼ Reacções dissociativas (ex: “Flashbacks”)
◼ Sofrimento psicológico
◼ Reacções fisiológicas

Evitamento
◼ Evitamento das memórias, pensamentos ou
sentimentos
◼ Evitamento de associações externas

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Perturbação de stress pós-traumático
Clínica

◼ Alterações negativas na cognição e no humor


◼ Incapacidade em se lembrar de aspectos
importantes do acontecimento traumático
◼ Crenças ou expectativas negativas
◼ Cognições distorcidas
◼ Estado emocional negativo
◼ Diminuição dos interesses ou participação
◼ Sentimento de estar desligado ou de estranheza
◼ Incapacidade em sentir emoções
(“entorpecimento”)

Perturbação de stress pós-traumático


Clínica

Alterações do estado de alerta e reactividade

◼ Comportamento irritável ou acessos de zanga


◼ Comportamentos imprudentes au autolesivos
◼ Hipervigilância
◼ Sobressalto
◼ Dificuldades de concentração
◼ Perturbações do sono

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Perturbação de stress pós-traumático
Epidemiologia

Estudo em Portugal, n=2606


Albuquerque et al, 2003

Prevalência 7,87%

• ♂ 4,8
• ♀ 11,4

Cerca de 75% da Pop adulta esteve exposta


a pelo menos uma situação traumática

Perturbação de stress pós-traumático


Prevenção

➢ Psicoterapia de exposição prolongada

➢ Psicoterapia cognitivo-comportamental
focada no trauma

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Perturbação de stress pós-traumático
Tratamento

◼ Psicoterapia cognitivo-comportamental

◼ Psicoterapia de exposição narrativa

◼ Psicoterapia dinâmica

 Comorbidade depressiva
 Comorbidade com perturbação pelo uso do álcool
ou outras substâncias

◼ ISRS e IRSN

Perturbação de ajustamento

 com humor depressivo


 com ansiedade
 com humor depressivo e ansiedade
 com perturbação do comportamento
 com perturbação mista das emoções e
do comportamento

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Sintomas somáticos

Cerca de 80% das pessoas saudáveis experimentam


sintomas somáticos em qualquer semana das suas
vidas.

Cerca de 50% das pessoas questionadas sobre um


período de seis meses, descrevem sintomas
somáticos suficientemente graves para limitar a sua
capacidade funcional habitual.

Os sintomas somáticos são mais prevalentes que os


emocionais.

Mais de 4% das pessoas na comunidade têm múltiplos


sintomas somáticos funcionais crónicos.

A proporção de pessoas que procuram os


médicos de cuidados primários com queixas
somáticas para as quais não é detectada uma
causa física adequada é da ordem dos 10 a 30%.

Esta proporção é maior em certas


especialidades, particularmente nas clínicas de
dor, consultas de neurologia, gastrenterologia e
cardiologia.

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Sintomas autonómicos

Simpático Parasimpático
• Taquicardia • Bradicardia
•  tensão arterial • Vasodilatação periférica
• Vasoconstrição • Miose
(excepto coronárias) •  motilidade intestinal
• Contracção músculos •  motilidade vesical
pelos •  secreção salivar
• Midríase
•  diaforese

Hiperactividade fisiológica
Contracção do músculo liso
Dispepsia por mobilidade anormal do intestino
Cólicas abdominais generalizadas por
contracção do cólon
Contracção do músculo estriado
Cefaleias de tensão
Lombalgias
Alterações no fluxo sanguíneo
Enxaquecas por espasmos vasculares
seguidos de dilatações
Alterações nas secreções endócrinas
Hipertensão arterial por estimulação
sistema adrenérgico

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PERTURBAÇÃO DE SINTOMAS
SOMÁTICOS E OUTRAS RELACIONADAS

Perturbação de sintomas somáticos

Perturbação de ansiedade relacionada


com a doença

Perturbação de conversão

Perturbação factícia

Factores Psicológicos que afectam


outras condições médicas

https://www.youtube.com/watch?v=N2IhdbKKpao

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Outras Perturbações psiquiátricas que podem
apresentar sintomas somáticos (DSM-5, 2013)

Perturbações ansiosas
Perturbações do humor
Perturbações esquizofrénicas
Perturbações relacionadas com substâncias
Álcool
Outras substâncias

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Factores Etiológicos

FACTORES PREDISPONENTES E PRECIPITANTES

• Factores genéticos e modulação epigenética


• Traços de personalidade
• Adversidade precoce
• Padrões de vinculação
• Mecanismos de regulação emocional
• Acontecimentos de vida adversos
• Doença Física

….

Factores Etiológicos

Early (psychodynamic) models of bodily distress in general often implied a


top-down mechanism, ie, psychogenic activations of peripheral physiology…

Models of the last decades predominantly implied bottom-up mechanisms


where peripheral input from nociceptive and other sensors was considered as
being overly amplified by central or psychosocial factors…

More recently, a model of bodily distress as a disorder of perception

…perception is seen as being determined as much by expectations


or predictions as by peripheral sensory input—the brain constantly
“constructing” its environment, including bodily states.
Henningsen P.Dialogues Clin Neurosci. 2018;20:23-30.

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Perturbação de sintomas somáticos

◼ Um ou mais sintomas somáticos geradores de


mal-estar ou que resultam em disrupção
significativa da vida quotidiana
◼ Pensamentos desproporcionados e
persistentes acerca da gravidade dos sintomas
◼ Níveis de ansiedade elevados relacionados
◼ Tempo e energia gastos com os sintomas ou
preocupações
◼ “Estado sintomático” > 6 meses

Especificador: Com dor predominante

Perturbação de ansiedade relacionada


com a doença

◼ Preocupação de ter adquirido ou vir a ter uma


doença grave
◼ Sintomas somáticos ausentes ou de fraca
intensidade
◼ Níveis de ansiedade elevados
◼ Comportamentos excessivos relacionados com a
saúde
◼ Preocupação > 6 meses

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Perturbação de conversão

◼ Um ou mais sintomas de função motora ou


sensorial voluntária alterada

◼ Os achados clínicos proporcionam evidência de


incompatibilidade entre os sintomas e as
condições médicas ou neurológicas reconhecidas

Factores psicológicos que afectam


outras patologias médicas

◼ Sintomas ou condição médica

◼ Factores psicológicos ou comportamentais que


afectam de forma adversa a condição médica
- influenciam o curso
- interferem com o tratamento
- constituem riscos adicionais
- influenciam a fisiopatologia da situação
médica

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Perturbação factícia

◼ Falsificação de sinais ou sintomas físicos ou


psicológicos, ou indução de lesão ou doença,
associada a engano identificado
◼ O indivíduo apresenta-se como doente,
incapacitado ou lesionado
◼ O comportamento de engano é evidente,
mesmo na ausência de ganhos externos
óbvios

Perturbação factícia imposta no próprio


Perturbação factícia imposta em outra pessoa

The following vignette illustrates a typical clinical case:

Anna is a 38-year-old office worker. She consults her GP for the third time in two
months about abdominal pain and bloating, which are both worse after meals
and have been present for several months. Similar symptoms occurred a year
ago for around four months, but then disappeared for some months. She has no
“red flags” for serious disease, and the routine blood tests (including antibodies
for coeliac disease and lactose intolerance) are normal. She has stopped going
out for meals with friends because of her symptoms.

She also experiences dizziness (without vertigo), fatigue and difficulty


concentrating. She has been unable to go to work for the last three weeks
because of her symptoms. She describes her current symptoms as being
“always in the back of her mind”, even on days when she is feeling better.

In the last three years, she has consulted her GP with palpitations (a 24-hour
ECG showed sinus tachycardia) and pelvic pain. She has occasional migraine
and more frequent milder tension-type headaches, which occur two or three
days per week at work. Nevertheless, she “keeps going” and bringing up her
young family with her husband, who works as an engineer in a factory which is
currently under threat of closure.
Rosendal et al, 2017

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Treatment—the practice principles

Introduce context factors as amplifiers rather than causes for the patient’s
symptoms. Build an effective, blame-free narrative that is linked to physical
as well as psychosocial mechanisms and makes sense to the patient.

Good communication with the patient


Reassurance
Anticipation of likely outcomes of diagnostic tests
Positive explanations of the “functional” character of the disorder
Motivation of the patient to actively engage in coping with bodily distress
Encouraging a healthy lifestyle, physical, social, and other activities
Consider antidepressant medication (predominant pain or depression)
Consider integrated care with multidisciplinary treatment, including
symptomatic measures, physiotherapy, occupational therapy, psychotherapy

Henningsen P.Dialogues Clin Neurosci. 2018;20:23-30.

“The management of patients with SSD and bodily distress works


best when not only the patients but also THEIR DOCTORS achieve a
reframing of the clinical problem:

FROM CURE TO CARE AND COPING, from classical


biomedical explanations to a broader view of
BIOLOGICAL AND PSYCHOSOCIAL AGGRAVATING
AND ALLEVIATING FACTORS.

Importantly, this reframing from cure to care and coping is also


necessary for mental health specialists and psychotherapists, as is
the switch from classical psychosocial explanations to a broader
view of biopsychosocial modulators”.

Henningsen P.Dialogues Clin Neurosci. 2018;20:23-30.

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BIBLIOGRAFIA

Figueira M.L., Sampaio D., Afonso P. (Coordenadores)


(2014). Manual de Psiquiatria Clínica. Lidel. Lisboa.

- Cap 8 Perturbação Pós-stress traumático

- Cap 15 Perturbação de Sintomas somáticos...

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