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C A D E R N O Nome do Candidato:

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RESIDÊNCIA MÉDICA - 2020 ASSINATURA
SALA: CARTEIRA:

ANOS ADICIONAIS E ÁREAS DE ATUAÇÕES


PSIQUIATRIA DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

INSTRUÇÕES

• Verifique se este CADERNO DE QUESTÕES contém 5 casos com questões


dissertativas.
D E

• Caso não esteja completo, informe imediatamente o fiscal da sala. Não serão aceitas
reclamações posteriores.

• Escreva seu nome completo, sala, carteira e assine no campo indicado.


Q U E S T Õ E S

• Utilize caneta de tinta preta.

• Responda os casos dissertativos no CADERNO DE RESPOSTAS, no espaço indicado.

• Não será permitida qualquer espécie de consulta nem o uso de aparelhos eletrônicos.

Leia atentamente as instruções contidas no CADERNO DE RESPOSTAS

As imagens de pacientes e de exames complementares exibidos têm prévia autorização para apresentação.
"Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução, ainda que parcial, sem autorização prévia".

Boa prova!

15/Novembro/2019
Página 2/8 Residência Médica 2020 - Faculdade de Medicina da USP - Anos Adicionais
Prova Escrita Dissertativa
CASO 1
Menino de 7 anos é trazido pela mãe ao consultório psiquiátrico por orientação de nova escola na qual ele cursa o 2º ano do Ensino
Fundamental. A maior queixa da escola é a ocorrência de agressividade física e verbal, com provocações contra colegas da classe
diante de situações de convívio rotineiro, além de hostilidade e ameaça contra funcionários há mais de 6 meses. Recentemente, houve
episódio de agressividade física contra professor diante da orientação de acatar limites e realizar a tarefa proposta naquele momento.
O aluno é mais reativo e “pavio curto”, segundo a coordenação pedagógica. A mãe relata que o filho é “do contra” faz tempo e nunca
se responsabiliza pelas coisas que faz de errado.
A criança, segundo a mãe e escola, possui dificuldade para aprender todas as matérias e participar de atividades que exijam criatividade
ou planejamento. Parece não entender contas matemáticas simples e está tendo barreiras para a alfabetização. No recreio, permanece
mais isolado e já foi vítima de ridicularização pelos colegas por não entender todas as brincadeiras ou diálogos ou por ser mais “infantil”
em situações sociais.
A mãe também relata que o filho é muito agitado, inquieto, birrento e tem dificuldade de esperar em momentos em que isso é exigido.
Não permanece em uma atividade até o final mesmo que esteja gostando do que faz, a não ser quando está vendo um vídeo no
computador ou na TV. Parece estar muitas vezes “perdido”, “olhando para o nada”, nas palavras da mãe, e é muito desorganizado, sem
nenhum cuidado com seus objetos.
O filho não tem contato com o pai desde a separação conjugal, que ocorreu quando a criança tinha 4 meses de vida. A mãe observava
estas características comportamentais descritas acima desde os primeiros anos de vida, mas apenas considerou isso como um problema
somente quando o filho iniciou o Ensino Fundamental. Na gestação, a mãe relata que fez uso de tabaco e maconha por vezes e que o
parto foi prematuro com 36 semanas, com baixo peso associado. Nos primeiros 3 anos de vida da criança, a mãe teve episódios de
“depressão muito forte” sic e uma separação conjugal conflituosa. Nos últimos 3 anos, a mãe deixava o filho na casa da avó materna
grande parte do dia enquanto trabalhava; nestes momentos, o paciente permanecia brincando com o cachorro da avó ou assistindo
vídeos no celular dela.

Com base no caso acima, responda:

QUESTÃO DISSERTATIVA 01: Cite três hipóteses diagnósticas psiquiátricas válidas para o caso.

QUESTÃO DISSERTATIVA 02: Cite exames ou avaliações complementares que você pediria para fazer os diagnósticos citados acima.
Explicite para qual diagnóstico investigado é o exame ou avaliação complementar.

QUESTÃO DISSERTATIVA 03: Cite um fator de risco pós-natal do caso clínico relacionado aos diagnósticos citados.

QUESTÃO DISSERTATIVA 04: Cite 3 intervenções psicossociais possíveis baseadas em evidência levando-se em conta o(s)
diagnóstico(s) do caso

QUESTÃO DISSERTATIVA 05: Cite 2 classes de intervenções psicofarmacológicas mais adequadas conforme a literatura científica e
para qual diagnóstico específico. Só serão consideradas corretas as respostas cuja relação entre classe psicofarmacológica e
diagnóstico estiverem corretas.

Residência Médica 2020 - Faculdade de Medicina da USP - Anos Adicionais Página 3/8
CASO 2
R., 6 anos, está acolhido em Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes (SAICA) junto com seu irmão A., de 13
anos, desde 01/08/2018. Em julho de 2018, A. pediu ajuda no Conselho Tutelar por sofrer maus tratos de sua genitora. Depois que A.
foi acolhido, A. contou que constantemente apanhava da mãe, que bebia muito. Como ela não trabalhava, acontecia de não terem o
que comer e por vezes saiam com ela para pedir comida e dinheiro na rua. Quando iam para a escola, a mãe passava o dia fora de
casa “tentando encontrar trabalho ou fazendo bicos”. Nestas ocasiões, ela chegava em casa alcoolizada, acompanhada por homens e
mantinham relações sexuais na frente dele e do irmão R. de 6 anos. Por vezes A. tentava distrair o irmão ou saia de casa com ele, mas
quando voltavam apanhavam da mãe justamente por terem saído sem avisar. Por vezes os homens que iam em sua casa ofereciam
bebida para ele e o irmão; A. recusava mas sabia que R. aceitava várias vezes porque sentia muita fome. A. também relata que R.
ficava longos períodos em casa em silêncio, encolhido num canto, sem conversar e sem brincar. Quando A. tentava falar com o irmão,
R. não respondia e se A. insistisse, R. começava a gritar e chorar, dizendo que sentia falta da mãe e que tinha fome. Diante dos fatos
relatados, foi realizada visita domiciliar, quando encontraram R. sozinho em casa, adormecido, muito emagrecido, contando que não
saia de casa há 4 dias. As condições de higiene da casa eram bastante precárias e R. também estava com seus cuidados muito
precários – sujo, sem banho há vários dias. Imediatamente R. foi acolhido, mas estava resistente, preocupado com sua mãe, que ficaria
sem companhia e não teria ninguém para cuidar dela.
Desde que chegou no SAICA, R. demonstra grande inquietação e muita de irritabilidade. Ele chora por pequenos motivos, e por vezes
chega a gritar e até mesmo a se morder. Esses comportamentos também acontecem na escola. À noite, tem muita dificuldade para
iniciar o sono e, quando dorme, constantemente acorda com pesadelos, gritando e chorando. Pela manhã, é comum ficar na cama
chorando, mas não pede ajuda nem procura o irmão. Algumas vezes faz xixi na cama e diz que tem medo de levantar para ir ao banheiro.
Na escola, ele não demonstra interesse em aprender. É muito inquieto e sua agitação o impede de compreender o que é proposto e até
mesmo começar as atividades. Ele se dispersa muito e tumultua, provocando e criando conflitos com o grupo e estragando as
brincadeiras. Durante sua permanecia na escola, R. não consegue ficar sentado, prestar atenção nas atividades, bem como se socializar,
pois está sempre em situações conflituosas e agressivas com seus colegas. No SAICA, os comportamentos são os mesmos. Os
cuidadores se preocupam especialmente porque quando R. fica nervoso, ele se morde e se arranha; por vezes, acusa que tais
ferimentos foram feitos pelos funcionários e outras crianças/adolescentes (na escola isso também ocorre). Os outros adolescentes
acabam também o provocando muito, colocam apelido nele, o que o deixa ainda mais irritado e agressivo.
Além de agredir crianças da sua faixa etária, R. também agride adultos: chegou a agredir uma psicóloga do Serviço de Proteção para
crianças e adolescentes Vítimas de Violência, que foi avalia-lo. Segundo os cuidadores, muitas vezes R. se descontrola sem ser
provocado, sendo visto como imprevisível: tem momentos em que está na sua rotina diária e parece estar tudo bem, de repente, sem
motivo aparente, sai correndo e joga tudo que vê pela frente. Tem dificuldade para aceitar as orientações e, principalmente, quando é
colocado limite, fica bastante agressivo. Mesmo nas rotinas diárias, é agitado, não consegue se concentrar em filmes, desenhos ou
qualquer outra atividade, e possui difícil socialização com os demais.
Por outro lado, quando fica sozinho numa sala com educador que tem mais contato, R. é bem articulado e comunicativo, expressa suas
ideias com clareza, é inteligente, conta com detalhes situações da vida em família, é organizado, possui interesse em aprender jogos e
letras. Mas quando é interrompido por barulho ou presença de outra pessoa, fica muito assustado, tende a se retrair e até se esconder,
ou sai correndo da sala.
Na entrevista com a mãe no SAICA, ela relatou que conheceu o pai de R. quando morava na rua com o filho mais velho A., que era de
outro companheiro que havia morrido atropelado. O pai de R. era usuário de drogas e “costumava falar sozinho, achava que as pessoas
o perseguiam”. Afastou-se dele porque ele tentou matá-la ainda quando estava grávida. Ela refere que morava na rua, fazia uso de
álcool e drogas, mas parou de usar drogas quando descobriu que estava grávida. No final da gestação de R., conseguiu ir para um
abrigo até R. nascer. Depois disso, teve um companheiro e foi morar com ele. Quando R. tinha dois anos, o companheiro da mãe foi
embora e nunca mais voltou. Ela permaneceu com os filhos na casa. Relata que não tinha trabalho, tentava pedir coisas na rua e,
quando não conseguia nada, se prostituia. Segundo a mãe, R. é inquieto e agitado desde os dois anos de idade; ela também refere que
não conseguia controla-lo e, com frequência, ele se mordia e se batia quando ficava nervoso, por isso muitas vezes “acabava batendo
nele para ele se controlar” (sic). Admite que algumas vezes dava álcool para R. para que ele dormisse.
Além das questões acima citadas, R. também tem se colocado em risco, pois no percurso da escola para o SAICA ele sai correndo pela
a rua sem olhar para os lados, correndo risco de ser atropelado. Diante dos riscos constantes, R. foi trazido para avaliação.
Ao exame psíquico, mostra-se um pouco assustado, retraído, mas aceita entrar na sala junto com a educadora. Vestes e higiene
adequadas, olhar triste. No inicio da entrevista fica se balançando na cadeira e quando são oferecidos blocos de encaixar para brincar,
ele bate uma peça na outra para fazer barulho, mas depois brinca de empilhar os blocos e derruba-los. Psicomotricidade aumentada,
mexe os pés constantemente. Quando se tenta abordar aspectos de sua vida com sua mãe, R. atira os blocos por toda a sala e fica
visivelmente irritado. Atenção voluntária diminuída e espontânea aumentada: ao menor barulho externo, R. para de brincar e olha
assustado para a porta. Vigil, desorientado no tempo e espaço. Tônus afetivo aumentado, ansioso. Difícil avaliar o humor, pelo tônus
afetivo bastante aumentado, mas aparenta estar hipomodulante; ressonância afetiva aumentada para estímulos depressivos.
Pensamento lógico e coerente, com conteúdo empobrecido e de difícil acesso porque fala muito pouco e evita contato visual. Fala de
conteúdo e volume reduzidos, fluxo normal. Sensopercepção sem alterações aparentes. Juízo crítico da realidade prejudicado. Insight
prejudicado. Pragmatismo prejudicado. Não foi possível avaliar inteligência; memória prejudicada: não consegue lembrar o nome da
entrevistadora, apesar de ter sido repetido três vezes.

Com base no caso acima, responda:

QUESTÃO DISSERTATIVA 06: Cite 3 hipóteses diagnósticas psiquiátricas principais para este menino:

QUESTÃO DISSERTATIVA 07: Explique os fatores de risco predisponentes, precipitantes e perpentuantes que possam estar
relacionados com o quadro clinico atual

QUESTÃO DISSERTATIVA 08: Aponte duas intervenções terapêuticas principais para este caso e justifique:

Página 4/8 Residência Médica 2020 - Faculdade de Medicina da USP - Anos Adicionais
CASO 3
Adolescente de 14 anos é trazida em consulta pela avó. Mora com ela e com a mãe, não tem irmãos e nunca conheceu o pai, cursa o
9o ano do ensino fundamental em escola estadual e diz não ter religião, apesar da família ser evangélica.
Avó traz a neta para atendimento pois descobriu, há 4 meses, que ela vinha se cortando. Inicialmente, acreditava que a paciente estava
tentando chamar a atenção da mãe, que passa a maior parte do tempo fora de casa, trabalhando. No entanto, passou a se preocupar
quando percebeu a neta menos comunicativa, apática e isolada.
Paciente relata que não está bem desde o início do ano, quando a mãe optou por mudá-la de escola. Conta que tinha ficado com uma
garota e a mãe julgou que isso aconteceu porque ela tinha más influências na escola anterior. Paciente diz que nunca teve interesse
por meninos, mas escondia isso da família por imaginar que desaprovariam em função de crenças religiosas.
Sempre teve dificuldade para se aproximar das pessoas, então não conseguiu fazer amizades na nova escola e passa a maior parte do
tempo isolada. No entanto, adaptou-se rapidamente às aulas porque gosta de estudar e sempre se preocupou com seu desempenho.
No último bimestre, tirou notas baixas pela primeira vez na maioria das provas.
Paciente relata tristeza e desesperança, sente-se sozinha e, às vezes, rejeitada. Passa a maior parte do tempo em seu quarto, muitas
vezes dormindo, e não tem vontade de se alimentar. A avó tem feito suas comidas favoritas, mas a paciente parece indiferente e fica
irritada quando ela insiste para que tente comer. Também tem respondido de forma agressiva a outros familiares e se recusa a
permanecer mais tempo com eles. Tem saído de casa apenas para ir à escola, mas faltou algumas vezes devido à falta de energia e
sonolência excessiva.
Começou a se automutilar há cerca de 6 meses, mas tentou esconder por vergonha e crença de que não seria compreendida. Relata
sensação de alívio ao se cortar. Tem dificuldade de identificar fatores desencadeantes, mas diz que o comportamento autolesivo
geralmente ocorre ao retornar da escola, quando se sente mais angustiada e tem crises de choro. A frequência tem sido de 2 a 3 vezes
por semana. Nega intenção suicida associada, no entanto, diz que não tem mais vontade de viver e já pensou em se matar. Em uma
ocasião, cogitou se atirar na frente de um trem no trilho do metrô. Não reconhece os motivos que a impediram.
Avó conta que a filha esteve deprimida quando a paciente tinha 2 anos, mas não procurou ajuda. Melhorou com o passar do tempo,
mas continua desanimada e não tem nenhuma atividade social ou de lazer. Trabalha na equipe de limpeza de um shopping e costuma
fazer muita hora extra. Paciente se queixa de a mãe estar sempre cansada, preferindo ficar sozinha.
Pai da paciente é usuário de drogas e não assumiu a paternidade. Paciente se esquiva de perguntas sobre ele, dizendo que nunca quis
saber nada sobre o pai.
Em consulta, paciente se apresenta receptiva, porém tímida, em vestes adequadas para a idade, orientada e vigil, com postura retraída
e discurso com volume reduzido. Está hipotímica, com afeto entristecido e hipomodulando, sem sinais sugestivos de alterações da
sensopercepção. Nega ideação suicida no momento, mas mantém pensamentos de morte.

Com base no caso acima, responda:

QUESTÃO DISSERTATIVA 09: Qual a principal hipótese diagnóstica segundo o DSM-5?

QUESTÃO DISSERTATIVA 10: Cite três fatores de risco para o comportamento suicida além do transtorno psiquiátrico.

QUESTÃO DISSERTATIVA 11: Caso indicasse tratamento medicamentoso, qual seria a medicação de escolha? Como você conduziria
a introdução e manutenção desse tratamento? Quais os potenciais riscos envolvidos no uso da medicação escolhida nesta faixa etária?

QUESTÃO DISSERTATIVA 12: Descreva duas intervenções terapêuticas não farmacológicas que seriam indicadas para este caso.

Residência Médica 2020 - Faculdade de Medicina da USP - Anos Adicionais Página 5/8
CASO 4
P.A.J, 16 anos, sexo masculino, branco, estudante do 9º EF em escola pública.
Paciente vem à consulta com os pais, queixando-se de exageros alimentares. Ele contou que há 1 ano decidiu emagrecer, porque
estava sendo alvo de crítica dos amigos e estava incomodado com sua barriga e braços “moles”, desejando ficar musculoso, forte e
saudável. O paciente mudou seu padrão alimentar, excluindo doces, frituras e refrigerantes e aumentou a ingestão de alimentos ricos
em proteínas para auxiliar “no aumento dos músculos”. Depois, passou a diminuir a quantidade dos carboidratos, como pães, arroz e
massas, até que passava sem comer durante longos períodos do dia. Em seguida, começou a ter momentos de descontrole alimentar
principalmente no final do dia, quando ingeria grandes quantidades de comida com sensação de perda de controle, parando de comer
apenas quando se sentia nauseado. Em um desses episódios, descreveu que comeu uma lata de leite condensado, uma xícara de arroz
frio da geladeira, 2 conchas de feijão e um pacote de bolacha num período de 2 horas. Depois desses exageros alimentares, que
ocorriam em média, uma vez por semana, sentia-se extremamente culpado e “grande”. Consequentemente, acabava diminuindo ainda
mais a quantidade de alimentos no dia seguinte para “voltar a se cuidar melhor”. Além da dieta, o paciente também passou a fazer
exercícios físicos diários na academia durante 2 horas com o objetivo de delinear e fortalecer seus músculos. Paciente negava vômitos
ou uso de medicações para emagrecer. Dizia que ainda achava que precisava “secar” um pouco mais a barriga para ficar com abdômen
“tanquinho”. Paciente nega alterações de humor ou ansiedade excessiva antes ou durante as alterações alimentares e ponderais.
Os pais relataram que apoiam a mudança na alimentação do filho, pois ele sempre foi “gordinho”, comia muitas “tranqueiras” durante o
dia e agora parece mais saudável e magro. Acham que a perda de peso fez com que ele ficasse mais confiante e sociável na escola,
onde passou a ter grupo de amigos. Paralelamente, os pais dizem que ele está muito mais responsável, porque não admite faltar nos
treinos da academia, mesmo nos fins-de-semana e segue sua dieta chegando a levar marmitas para as festas familiares. Paciente
confirma que se sente indisposto, cansado e incomodado quando não treina ou não segue sua alimentação. Eles contaram que o foco
de sua preocupação são esses exageros alimentares, pois notaram que grandes quantidades de comida desapareciam da despensa
da casa. Tanto o paciente, quanto seus pais gostariam de ter ajuda para eliminar os episódios compulsivos.
Durante a consulta, o paciente apresentou-se cooperativo, em bom estado geral, demonstrando ter muita informação sobre alimentos,
dietas e exercícios físicos e tipos físicos e dificuldade de questionar ou discutir sobre isso.
Percentil de IMC/idade > 97 kg/m2 no início do quadro alimentar. Percentil de IMC/idade no momento da consulta: 50-75 kg/m2. Exames
laboratoriais sem alterações.

Com base no caso acima, responda:

QUESTÃO DISSERTATIVA 13: Considerando os critérios diagnósticos do DSM-5, qual a hipótese diagnóstica para o caso relatado?

QUESTÃO DISSERTATIVA 14: Considerando a hipótese diagnóstica do caso acima, seria adequado a introdução de algum tratamento
medicamentoso? Se sim, qual a melhor opção?

QUESTÃO DISSERTATIVA 15: No caso acima, além da decisão a respeito da intervenção medicamentosa da questão anterior, aponte
3 (três) intervenções terapêuticas adequadas para este paciente.

QUESTÃO DISSERTATIVA 16: Na infância e adolescência, o diagnóstico tardio de transtorno alimentar pode impactar negativamente
o prognóstico dos pacientes. Cite 1 (uma) característica presente no caso que indica pior prognostico por, em geral, levar a um atraso
no diagnóstico de transtorno alimentar.

QUESTÃO DISSERTATIVA 17: Nos transtornos alimentares, quando associados a desnutrição grave, a abordagem nutricional exige
cuidadoso monitoramento clínico-laboratorial nas primeiras semanas do tratamento (controle diário de eletrólitos e das funções hepática
e renal ao longo da primeira semana e pelo menos três vezes na semana subsequente). Essas medidas visam reduzir o risco de qual
complicação?

Página 6/8 Residência Médica 2020 - Faculdade de Medicina da USP - Anos Adicionais
CASO 5
Menino de 11 anos, trazido para avaliação para possível inserção em regime de semi-internação devido à falha em seguimento em
outro serviço. O menino cursa atualmente o quinto ano do ensino fundamental, reprovou o segundo ano uma vez e está frequentando
a escola de forma irregular desde a metade do ano de 2019, pois os pais não conseguem levá-lo à escola.
A gestação não foi planejada - a mãe tinha 16 anos e descobriu estar gestante aos 4 meses. Passou a realizar o pré-natal de forma
errática até o sexto mês, pois não queria que os pais descobrissem. Até então, fumava e bebia cerveja e destilados nas festas que
frequentava, aos fins de semana. Contou para os próprios pais que estava grávida quando estava no sexto mês de gestação; os pais
surpreendentemente a apoiaram e a levaram para o seguimento obstétrico regular. O pai do paciente tinha 17 anos e não apresentava
comportamentos disfuncionais, mas não aceitou bem a gestação e não aceitou assumir a criança.
Nascido de parto a termo, normal, com APGAR de 7/8/8, foi levado ao berçário para observação, mas pode ficar no alojamento conjunto
com a mãe após o segundo dia, ambos recebendo alta no terceiro dia após parto. Aos 6 meses, teve uma meningoencefalite, necessitou
de internação por 15 dias, mas saiu sem sequelas aparentes.
Mãe permaneceu morando na casa dos avós maternos. Quando o filho tinha 3 anos de idade, a mãe conheceu seu atual companheiro
e casou-se, levando a criança para a nova casa. O pai biológico teve contatos esporádicos nos primeiros meses de vida, mas não provê
nenhuma assistência financeira ou afetiva. O atual esposo da mãe cria o menino como se fosse seu filho.
A criança começou a falar com 1 ano e 2 meses, andou com 1 ano e 3 meses, e teve controle esfincteriano aos 2 anos e meio (sem
história de enurese noturna). Foi colocada na creche aos 3 anos, quando a mãe começou a trabalhar fora e conheceu o padrasto. Nunca
foi inquieto e passava horas brincando em casa ou vendo TV. Sempre foi uma criança birrenta, com dificuldade de esperar sua vez, de
aceitar o “não. Quando contrariado, jogava-se no chão, esperneando, gritando, dos 2 aos 5 anos, quando passou a chutar objetos e
ameaçar bater nos pais.
Na escola, mordia as outras crianças, quando tomavam objetos da sua mão; batia nos colegas pois queria ser sempre o primeiro na fila
e nas brincadeiras. Aprendeu as cores aos 4 anos, apresentava trocas fonéticas nesta época. Reprovou o segundo ano, justamente por
sua dificuldade de leitura, que destoava dos colegas, que conheciam o alfabeto.
Demorou para alfabetizar, começou a fazer leituras silábicas aos 9 anos, com muitos erros. Copiava todo o conteúdo da lousa, mas
tinha dificuldade de fazer a leitura e compreensão do que estava escrito, quando chegava em casa.
Aprendeu a fazer contas simples de soma e subtração somente aos 11 anos; sabe somente a tabuada do 2 e do 5. Nunca foi uma
criança desatenta, assistia a desenhos em casa, gostava de brincar na rua e na escola, exceto quando ocorria alguma contrariedade,
pois não conseguia encontrar alternativas pacíficas para resolver os problemas. Sempre estava alerta para o que as pessoas falavam
sobre ele, não aceitando que falassem sobre seu comportamento. Passou a mentir, principalmente sobre as coisas que aprontava na
escola, e a discutir com os professores e familiares, nas situações de confronto. Sempre culpava os outros, por atitudes dele, nunca
achando que a responsabilidade era sua.
Muito afetuoso com os professores e colegas, tinha muitos amigos até o quarto ano, quando as outras crianças passaram a perceber
que ele se incomodava quando provocado. Passaram então a tirar sarro de que ele estava atrasado no conteúdo, faziam piadinha de
duplo sentido, que ele não compreendia. Relaciona-se bem com os primos, vizinhos, contanto que não seja contrariado. Muito afetivo
com animais, “trata melhor os bichos do que as pessoas” (sic mãe).
A mãe sempre achou que ele estava se desenvolvendo “no tempo dele”, mas procurou ajuda psiquiátrica quando ele tinha 9 anos, a
pedido a escola, pois ele não estava aprendendo a contento. Passou a ter crises mais severas de agitação psicomotora nos eventos de
contrariedade e a confrontar os professores em sala de aula, além de atrapalhar os colegas durante as aulas, com conversas paralelas.
As crises chegavam a durar até 2 horas para que ele ficasse mais tranquilo.
O psiquiatra fez a solicitação de uma avaliação neuropsicológica, mas a mãe não a realizou por falta de recursos. Ela fez os exames de
sangue, tomografia de crânio e eletroencefalograma, sem alterações. ECG normal. Todos datam de 2017.
Foi iniciado tratamento no CAPS infantil, com inserção do paciente em grupo terapêutico semanal e uso de Neuleptil 4%, com ajuste de
dose até 20gts/dia.
O comportamento do paciente teve melhora parcial, a priori, mas ao longo dos anos, foi feita troca da medicação por risperidona,
imipramina, acido valproico, metilfenidato, sem melhora expressiva. A mãe foi orientada diversas vezes pelo psiquiatra; o padrasto
também participou das consultas, mas –apesar de mais raras- as crises de agitação psicomotora, quando contrariado, passaram a ser
mais graves, com o paciente subindo na laje e ameaçando se jogar de lá. Uma vez, jogou pedras no carro do vizinho (quando sua pipa
caiu no quintal do mesmo e ele não o deixou entrar lá de imediato), quebrou a TV da mãe quando esta recusou a dar o celular para ele
ver vídeos do youtube. A mãe é da mesma estatura que o paciente e tem muita dificuldade de contê-lo quando agitado; o padrasto
trabalha o dia todo.
No segundo semestre de 2019, passou a recusar ir para a escola, em vários dias, pois queria ficar vendo vídeos na internet, jogando
videogame e celular. Chegava a ficar até 8 horas na frente de eletrônicos. Tem um youtuber favorito que fala muito palavrões ao
comentar jogos e passou a utilizar as palavras de baixo calão com frequência, com queixas dos professores e pais de colegas.

Com base no caso acima, responda:

QUESTÃO DISSERTATIVA 18: Quais as duas principais hipóteses diagnósticas psiquiátricas do caso acima?

QUESTÃO DISSERTATIVA 19: Cite dois diagnósticos psiquiátricos diferenciais

QUESTÃO DISSERTATIVA 20: Foi realizada a avaliação neuropsicológica pela equipe da psicologia, sendo que o paciente apresentou
um QI global de 67 pontos. Cite quatro fatores de risco, nos dados da história perinatal e de primeira infância do paciente, que podem
estar envolvidos no diagnóstico relacionado a este resultado de avaliação.

Residência Médica 2020 - Faculdade de Medicina da USP - Anos Adicionais Página 7/8
Página 8/8 Residência Médica 2020 - Faculdade de Medicina da USP - Anos Adicionais

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