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Avaliação psicológica hospitalar

Rafael Andrade &beiro


Adriana Said Daher Baptista

Falar sobre avaliação psicológica no contex- 2007), o psicólogo hospitalar atua em institui-
to hospitalar é desafiante e prazeroso ao mesmo ções de saúde de nível secundário ou terciário.
tempo, uma vez que temos a experiência de atuar Entende-se como nível secundário locais com
como psicólogos hospitalares e trabalhar na do- tecnologia de saúde de complexidade interme-
cência, na formação de graduandos em psicologia diária, como unidades de pronto-atendimento e
e aprimoramento de psicólogos, dando super- ambulatórios médicos especializados. Já o nível
visão em grupos, favorecendo e incentivando o terciário se refere à alta complexidade, como,
trabalho de forma interdisciplinar, o que indica por exemplo, hospitais gerais, hospitais especia-
que estarão sendo treinados para o mercado de lizados e ambulatórios de quimioterapia (Paim,
trabalho e a trabalharem de forma colaborativa, 2015). Nesses ambientes, para o psicólogo, uma
segundo as premissas da World Health Organiza- das principais tarefas é realizar a avaliação psico-
tion (WHO, 2010). A prática interdisciplinar nos lógica dos pacientes que estão vinculados a pro-
faz crescer muito em vários aspectos, uma vez que cedimentos médicos com a função de promover,
se deve estar sempre disposto a aprender e ensi- proteger e/ou recuperar a saúde (CFP, 2007).
nar o outro, num processo psicoeducacional. Como se sabe, o trabalho em equipe nas ins-
Este capítulo será norteado por temáticas que tituições de saúde é uma premissa para a atua-
envolvem avaliação psicológica e o campo do hos- . ção de excelência dos profissionais. Para que as
pital. Tem-se como objetivo apresentar conteúdos ações de proteção, prevenção e/ou recuperação
e possibilidades referentes à prática do psicólogo de saúde do paciente ocorram com efetividade, o
na avaliação psicológica no contexto hospitalar. trabalho dos profissionais deve ser coeso e com
Esta proposta busca nortear a atuação do psicólo- efetiva comunicação, além da adequada execu-
go no contexto assistencial de hospitais e ambula- ção de suas avaliações clínicas. Por isso, a ava-
tórios multiprofissionais, trazendo a relevância da liação psicológica deve ser compreendida como
avaliação psicológica no contexto hospitalar. ferramenta imprescindível para o psicólogo hos-
Para melhor contextualização faz-se necessá- pitalar, pois não somente possibilita a elaboração
rio definir os ambientes entendidos como locais de terapêuticas específicas, como também a par-
de ação do psicólogo hospitalar, uma vez que tir dela o profissional terá elementos e resultados
sua ação deve ser diferenciada nos níveis de hie- clinicamente relevantes para poder discutir com a
rarquização do Sistema Único de Saúde (SUS). equipe de saúde e elaborar um plano terapêutico
Segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP, multiprofissional mais relevante para o paciente.
Rafael Andrade Ribeiro e Aanc111a ~-- .

bém tem
.
a finalidade de ser um pon .
nd
Para tanto, a avaliação psicológica é fu ª- (Bapnsta & Borges, 2017), principal Partida
, l de com- . • mente
mental, já que se trabalha num mve que mmtos eventos mtervenientes O Por.
. ,I corre"'1
plexidade de problemas de saúde que abarca as pouco tempo e o ps1co ogo tem que estar a·• em
condições física, psicológica, comportamental, para atuar de f orma focal e contextu 1. tento
'd a IZad
contextual e muitas vezes espiritual, necessitan- problema de sau e, aos aspectos afef
. . . . 1vos e
ª ªº
do de intervenções mais tecnológicas, muitas • ' og.
ninvos, esp1ntua1s e ao contexto soc1ocultu
vezes invasivas e com a ação de vários profissio- do avaliado. Sendo assim, como praxe .st ral
nais e especialidades diferentes ao mesmo tempo avaliação psicológica inicial, 0 que vai ~oexi ea
e espaço (Faria & Seidl, 2005). Nesta temática, . . . - rtear as
pnme1ras mtervençoes e, após cada intervenção
compreende-se que o principal objeto de inte- ela tem que ocorrer processualmente, para se es-'
.
resse do psicólogo e, consequentemente, da ava- truturar novas mtervenções psicolóuica
õ4 s, ate, que
liação psicológica, seja o paciente e sua relação
se chegue. à finalização do acompanham entoou
com a saúde/doença, como também os familiares
ao
. encammhamento
,. . . do atendimento para outras
que acompanham esse cenário.
mstanc1as de atendimento psicológico. A seguir
Sabe-se que essa avaliação, por ser um pro- é apresentado um fluxograma que serve como
cesso contínuo, ocorre em todo momento no base para o atendimento, construído a partir das
contato com o paciente e familiares, como tam- vivências dos autores deste capítulo.

Busca ativa

Tria?em psicológica por meio de Triagem psicológica por meio de


entreVIsta com critérios estabelecidos
entrevista considerando as
pelas características do setor
observações do solicitante

Id~ntificação de queixa de qu eJXa


ps1cológica associada à p .Identificação
. . .
s1co1og1ca não associada à
condição de saúde condição de saúde Sem queixa psicológica

r~E~n=caminh=-
--~7_-_-_-_~-=--=J -r:_:_:_:_:_:_1_-=._-=._-_-_-_-:,
Coleta
. de dados por amento para a Finalização do
meio de fontes de rede de saúde
atendimento
informação
fundamentais e
complementares

Discussão mult"1di .
interv - sciplinar para .
ençoes e objeti planeJamento da
vos terapêuticos s

e .

Figura 1 Fl uxogra
ma d a avalia - .
çao ps1cológica
· no hospital
16 Avaliação psicológica hospitalar 'i,r:i ~~ção 187 =:
Outro fator de grande relevância para O pa- ser mais voltadas para uma ação de promoção,
pel da avaliação psicológica no contexto da saúde prevenção, recuperação ou reabilitação (Paim,
hospitalar é que esse psicólogo atende às norma- 2015), ou até mesmo conjugadas. Ressalta-se
tivas da Organização Mundial de Saúde (OMS, que a atuação do psicólogo visa ações voltadas
1996) que se utiliza da Classificação Internacio- para a tríade paciente-familiares-equipe.
nal das Doenças -versão 10 (CID-10) 1 para esta- Segundo Laloni e Fernandes (2018), a psico-
belecer a hipótese diagnóstica do paciente. O uso logia hospitalar no Brasil teve início na década
da CID-10 também favorece a comunicação da de 1960 com a entrada de psicólogos clínicos
equipe e o estabelecimento da intervenção, além como avaliadores da saúde mental em pacientes
de "permitir tratamentos estatísticos, epidemio- e também na pesquisa no hospital. Sendo assim,
lógicos na medida em que busca estabelecer um pode-se observar que se trata de uma área nova,
acordo, uma convenção" (Conselho Regional de em formação; muito tem que ser aprimorado,
Psicologia 6ª Região [CRP], 2005, parágrafo 1°). pois existe ainda a falta de sistematização na ação
Sendo assim, é importante ter em mente que a do psicólogo hospitalar (Gorayeb & Guerrelhas,
CID-10 não oferece informações pormenoriza- 2003). Cabe aqui uma reflexão importante que
das para a compreensão do estado de saúde da justifica ainda a não sistematização da avaliação
pessoa e nem mesmo o que vem a seguir, referin- nesse campo, uma vez que não há o reconheci-
do-se ao impacto do problema de saúde na vida mento dos próprios cursos de psicologia com ên-
da pessoa. Então, além da CID-10, a OMS tam- fase na formação profissional nessa área, pois a
bém orienta a utilização da Classificação Interna- formação é generalista.
cional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde Independente do ambiente de atuação, é de-
(CIF), que tem por finalidade detalhar o estado de ver do psicólogo trabalhar a partir de um refe-
saúde da pessoa, apontando suas funcionalidades rencial teórico-metodológico que faz parte da
e incapacidades, favorecendo as ações multipro- sua formação (Almeida & Malagris, 2015). A
fissionais (Di Nubila & Buchalla, 2008). A partir pluralidade dos referenciais teóricos e filosóficos
disso pode-se perceber a responsabilidade do psi- na Psicologia traz diversas possibilidades para a
cólogo quanto a sua avaliação no processo, uma estruturação e compreensão dos fenômenos em
vez que se não for feito com propriedade poderá um processo de avaliação psicológica. Portanto,
acarretar problemas irreparáveis para o processo não se almeja com este capítulo esgotar as pos-
de retomada da vida de forma funcional. sibilidades de ações avaliativas no ambiente hos-
pitalar, mas sim de realizar uma orientação com
aspectos essenciais a serem considerados nesse
Avaliação psicológica no hospital
contexto, respeitando, assim, o referencial de
A avaliação psicológica auxilia na compree~- cada profissional interessado no tema.
são do problema e o estabelecimento das ati- De acordo com a Resolução n. 218 do Con-
vidades que serão desenvolvidas, isto é, se vão selho Nacional de Saúde, de março de 1997,
considera-se que os psicólogos estão inscritos
1. Uma nova versão da CID, a CID-11, foi anunciada pel~ Or~a- no grupo de profissionais da saúde, juntamente
. m 1° de Janeiro
nização Mundial da Saúde e entrará em vigor e com assistentes sociais; biólogos; profissionais
de 2022.
16 Avaliação psicológica hospitalar

que os pacientes possam apresentar e que justifi-


suas relações e até mesmo as condições emocio-
quem o pedido de interconsulta para o psicólogo.
nais, já que a dor vem acompanhada de sintomas
Para que isto ocorra faz-se necessário uma comu-
incapacitantes e irritabilidade.
nicação efetiva com todos os membros da equipe
para que estejam atentos às queixas expressas dos A busca ativa, outra modalidade para aborda-
pacientes, bem como evitar as possibilidades de gem inicial dos pacientes, pode ser definida como
negligência frente às possíveis queixas latentes a busca do psicólogo pelas demandas psicológicas
(Carvalho & Lustosa, 2008). Gazotti e Prebian- de pacientes já inseridos no ambiente hospitalar
chi (2014), ao analisarem as solicitações de inter- sem a solicitação prévia de outros profissionais
consultas, puderam observar que a maioria das (Mãder, 2016b). Isto é possível de ser realizado
solicitações são de médicos e enfermeiros, mos- se houver critérios definidos para cada contexto
trando que esses profissionais são os que mais do ambiente hospitalar e a presença do psicólogo
se atentam às questões psicológicas envolvidas rotineiramente na unidade de saúde. Nesta mo-
nesse processo. Sendo assim, é importante que as dalidade, o psicólogo pode realizar triagens dos
avaliações sejam baseadas na comunicação com pacientes presentes e os resultados de suas ava-
esses profissionais com a intenção de aproveitar liações iniciais norteiam as intervenções e enca-
suas percepções sobre os pacientes. minhamentos necessários. As triagens podem ter
a função de identificar o sofrimento já existente
Frente a essa complexidade da interconsulta, na relação do paciente com sua saúde/doença, ou
torna-se um desafio a ação do psicólogo hospi- ter a função de identificar a presença de fatores
talar somente através deste modelo de atuação, de risco para adoecimentos psíquicos futuros re-
pois além da necessidade de haver uma equipe lacionados à condição de saúde que o leva a estar
de saúde treinada para identificar demandas inserido no ambiente hospitalar. Essa avaliação é
psicológicas, alguns fenômenos recorrentes que importante para todo o processo de acompanha-
ocorrerem no hospital são complexos e multi- mento do paciente, inclusive para a identificação
fatoriais, como, por exemplo, a dor. Muitos pa- da funcionalidade e/ou incapacidades relaciona-
cientes podem se queixar de dor e o que se tor- das à saúde/doença (Di Nubila & Buchalla, 2008).
na mais comum, a equipe, paciente e familiares
Importante ressaltar que os dados da triagem
considerarem que a dor é algo apenas físico. No
psicológica devem estar anotados em uma "ficha
entanto, hoje sabe-se que é necessária uma ava-
de triagem,, e sempre colocados no prontuário
liação multidimensional para se estabelecer os
do paciente, pois facilita a comunicação entre a
parâmetros da dor. Por meio de um estudo ex-
equipe e os dados não se perderão ao longo do
perimental Hortense, Zambrano e Sousa (2008)
acompanhamento. Ainda há a proposta de se co-
puderam concluir que as dores por câncer, por
locar no fim desta ficha dados bem claros quanto
infarto do miocárdio, por cólica renal, por
à conclusão dessa avaliação inicial, favorecendo
queimadura e a dor do parto foram apontadas
o próximo passo para a continuidade do proces-
como os tipos de dor de maior intensidade. Es-
so avaliativo. Por exemplo:
tes exemplos demonstram a diversidade de. ~or
no ambiente de saúde sendo relevante avaliar ( )Alterações psicológicas em função da doen-
'
0 quanto dificulta a pessoa .
a manter sua rotma, ça e/ou tratamento e/ou prognóstico.
Rafael Andrade Ribeiro e Aanam:1 .;;io,...., ..... ~. ·- · - - ,

da complexidade do problema de saúd


( ) Alterações psicológicas sem rela~o ~om ª . ,d . d e ou
quem O aten d 1mento e estma o (tríade· . a
doença e/ou tratamento e/ou prognostico. . ) . , . · Pac1en
te-familiares-eqmpe , o prmc1p10 da aval' _ ·
( ) Adaptação e ajustamento às condições 1aÇao,
0 mesmo: compreender a queixa e a riel _ e
atuais da doença e/ou tratamento e/ou prog- açao do
paciente com seu processo de saúde/doenÇa p
nóstico. - .
esta compreensao re1eva-se a 1mponância d
· ara
Para exemplificar a necessidade de haver 1
vantar o histórico sobre a relação do pacien:e e-
uma boa preparação do psicólogo para realizar seus fam1·1·tares, com seu a doecer. ,e
a busca ativa mais eficiente, por meio de uma
A princípio, uma variável muito impor-
avaliação psicológica com dados que podem ser
tante para compor a avaliação psicológica diz
evidenciados, cita-se a ação em uma enfermaria
de ginecologia cirúrgica. Neste contexto, é im- respeito ao motivo da internação ou motivo do
portante que o psicólogo tenha clareza sobre as acompanhamento ambulatorial. A inserção do
principais queixas emocionais e psicopatologias usuário em um setor de internação pode ocor-
que acometem a população de mulheres, como, rer de maneira abrupta, em casos de situações
por exemplo, os medos e angústias por ser sub- agudas não diagnosticadas previamente, ou pode
metida à histerectomia. Este procedimento de ocorrer em situações previsíveis, como em in-
retirada do útero, mesmo quando realizado por ternações eletivas para procedimentos previa-
motivos de patologias benignas em mulheres que mente agendados. Muitas vezes disponíveis no
já tenham filhos e tenham atingido a menopau- prontuário multidisciplinar, essa informação
sa, pode evocar queixas que incluem fantasias e sinaliza caminhos que podem nortear a coleta
angústias sobre a futura saúde sexual, gerando de informações durante a avaliação psicológi-
relevante sofrimento psíquico (Melo & Barros, ca, principalmente por esses diferentes moti-
2009). Portanto, neste exemplo, pode-se perce- vos apontarem diversas mudanças na rotina, na
ber a importância de o psicólogo realizar uma família, no trabalho e, consequentemente, in·
boa avaliação psicológica inicial no momento fluenciado o sofrimento do indivíduo. Munido
da triagem para compreender se há alteràções desta
. informaçao, - d estacam-se algumas pnnct· · ·
emocionais e/ou comportamentais em função do pais fontes para a coleta de dados: a) análise
procedimento cirúrgico, mesmo que a princípio de prontu' · 1•
. anos mu tiprofissionais; b) entre-
o quadro clíriico geral da paciente não sinalize vista. c) instr . 'd d
' umentos psicológicos vali a os
o sofrimento emocional. Sendo assim, avaliação pelo Satepsi (G · - 7)
psicológica auxilia a levantar informações con- d). uimaraes-Neto & Porto, 201 ;
• m~t~umentos complementares incluindo ques-
textualizadas, favorecendo um diagnóstico psi- ttonanos e diár • (B ' )
cológico diferencial. f h d ios orges & Baptista 2018;
ic as e avalia - '
e) r • çao específicas para cada setor;
eg1stros de oh _ .
2018)· f) d" servaçao (Borges & Bapnsta,
Fontes de informação para coleta de 'e iscussões m l .
outras forma d u tiprofissionais, dentre
dados s e coleta de dado
Ressalta-se que s.
Tanto na busca ativa quanto na interconsulta tante considera na coleta de dados é impor·
r se a avar -
e independente do setor, da idade do paciente, a hospitalização iaçao será feita durante
ou nos at di
en mentas ambulato·
16 Avaliação psicológica hospitalar e k s 191 ft '*:

riais, portanto deve-se ser criterioso na escolha


bidamente a técnica mais utilizada pela sua natu-
dos materiais para avaliação.
reza investigativa, flexibilidade (aplicável a todas
as faixas etárias) e condição adaptável, levando
a) Análise de prontuários: pode ocorrer tan- em consideração as contingências do ambiente
to nas avaliações hospitalares quanto nas ambu- institucional e o perfil a quem se destina da popu-
latoriais. Ressalta-se a importância de se definir lação usuária, além de ter a característica de bus-
0 que se entende por tal. ca de esclarecimentos (Dallagnol, Goldberg, &
Definir prontuário médico como o docu- Borges, 2010). Em um levantamento sobre os
mento único constituído de um conjunto instrumentos de avaliação psicológica no con-
de informações, sinais e imagens registra- texto hospitalar no Brasil, também se caracteriza
das, geradas a partir de fatos, acontecimen-
como a estratégia mais utilizada pelos psicólogos
tos e situações sobre a saúde do paciente e
a assistência a ele prestada, de caráter legal,
(Guimarães-Neto & Porto, 2017).
sigiloso e científico, que possibilita a comu- A entrevista permite ao profissional coletar
nicação entre membros da equipe multi- informações de diversos âmbitos, como o físico,
profissional e a continuidade da assistência
o afetivo, o cognitivo, o comportamental, além
prestada ao indivíduo (Conselho Federal de
Medicina [CFM], 2002, art. 1º). da história familiar, do histórico de saúde e os
dados socioculturais do paciente e seus familia-
O prontuário multiprofissional pode ser con-
res. Dependendo dos seus objetivos, o psicólogo
siderado como uma importante fonte de coleta pode utilizar de entrevistas estruturadas, semies-
de dados no contexto hospitalar, já que se tem o truturadas ou não estruturadas (Belar & Dear-
histórico da saúde do paciente e principalmente doff, 2009).
informações sobre sua linha de cuidado na insti-
tuição. É no prontuário que o psicólogo poderá
encontrar as primeiras informações sociodemo- c) Utilização de instrumentos psicológicos:
gráficas do paciente, bem como aspectos relacio- atividade exclusiva do psicólogo, pode ser reali-
nados à sua condição orgânica, ao motivo de sua zada em diversos contextos profissionais e o am-
biente hospitalar se inclui nesta gama de possibi-
internação, às suas comorbidades já identificadas
lidades. A testagem pode fazer parte da avaliação
e aos possíveis sinais de sofrimento psíquico per-
psicológica, com a utilização de testes psicológi-
cebidos pela equipe de saúde.
cos para auxiliar decisões acerca de uma pessoa
A leitura do prontuário não substitui a coleta ou grupo. Porém, deve-se considerar que aspectos
de dados direta com o avaliado, nem mesmo a éticos não podem ser flexibilizados referente aos
discussão do caso diretamente com os profissio- testes psicológicos, incluindo seu armazenamen-
nais envolvidos na assistência, porém ele deve to, que deve ser com acesso exclusivo para psicó-
ser considerado imprescindivelmente como fon- logos. Em um ambiente hospitalar deve-se avaliar
te de informação, preferencialmente, e se possí- se há a possibilidade de atender a esses critérios,
vel, antes do primeiro contato com o paciente. além da necessidade de o instrumento ter ava-
liação favorável no Satepsi. Reiterado o aspecto
h) Entrevista: uma forma de coleta de dados ético, diversos instrumentos psicológicos podem
amplamente utilizada na área da Psicologia é sa- ser utilizados para coleta de dados no hospital,
- Rafael Andrade R1oeiru T"'""' ·-· -~

de pensamentos encontrados
,
porem pontuam-se a1gumas cara
cterísticas que em pessoas com d epressão É'COtnu"'
a ·•1en1c
t · UtoapJ·1 ,
devem ser consideradas para a escolha do teS e, e composto por 26 itens (Car . Cá\'el
como a viabilidade e adequação de uso segu
nd
º Baptista, 2015).
II - Escala de Percepção do Sup
ne1ro
as limitações do teste, considerando, in clusive, 0
(Epsus-A): tem como objetivo Orte 50cia]
ambiente para aplicação. Outro ponto releva~te avalia
fontes d e suporte social nas d' r as
é a adequação do teste ao estado biopsicossocial . . - Itnensõ
a f etivas, mteraçoes sociais instru es
do avaliado, considerando suas especificidades ' mental
enfrentamento de problemas (Ca d e
. r oso R,
socioculturais, psicológicas e seu estado orgâni- Baptista, 2016).
co. Este, inclusive, pode estar alterado crônica ou III - Inventário de Depressão de B k
ec II
momentaneamente devido às questões médicas e (BDI- II) : composto por 21 itens t
. . d ' em o
deve ser compreendido para a escolha do instru- o bJetivo e mensurar
. a gravidade dos sm.-
mento (Borges & Baptista, 2018). tomas depress1vos, c1assificando-os entre mí-
nimo, leve, moderado ou grave (Campos &
Em ambientes como as enfermarias e as uni- Gonçalves, 2011).
dades de terapia intensiva, a utilização dos testes
pode ser mais limitada devido às peculiaridades Já nos espaços ambulatoriais, a testagem psi-
do espaço físico para a coleta de dados, além do cológica conta com características que se diferem
tempo curto que muitos pacientes permanecem dos ambientes de internação, pois, ali, o paciente
internados. Borges e Baptista (2018) sinalizam, costuma ser acompanhado pela equipe de saúde
por exemplo, que testes de métodos expressivos, de forma mais longitudinal e em espaço físico
como Rorschach, ou testes de personalidade com mais propício para a avaliação. Para ilustrar esta
grandes quantidades de itens não são muito ade- particularidade em um ambulatório pediátrico,
quados ao ambiente hospitalar devido à dinâmi- Macedo, Ribeiro e Dias (2018) propõem, além
c~ d~ ~ospital, ao objetivo do psicólogo da saúde da avaliação psicológica inicial, o acompanha·
e,ª d1f1culdade de integrar os dados da avaliação. menta do desenvolvimento dos pacientes. Se
Ja o uso de escalas e inventários pode ser estes estiverem em um tratamento de longo pra·
poss1·b·t·d d uma
. 11 a e mais adequada para esse am b'1ente,
zo , , 1
' e passive acompanhar seu desenvolvimento
considerando a possibilidade de ad . . - físico, cognitivo e social. A aplicabilidade deste
. . . m1mstraçao,
apesar das limitações existentes no h osp1ta.
. 1 modelo de acompanhamento pode ser consid~-
Como a escolha do teste para com rada, por exemplo, para ambulatórios de segut·
liação depende de diversas var·, . por a ava- menta de cnanças
· nasci.das prematuras ou coJJl
. . 1ave1s como as ·,
d1scut1das anteriormente n- _ Ja outras comorbidades. Seguem alguns e.xeroplos
' ao se propoe .
esgotar as possibilidades de . ' aqui, de instrumentos para acompanhamento do de·
·1· . mstrumentos
ut1 ização, mas sim sinaliz 1 para senvolvimento nos ambulatórios.
' ' . ar a guns te t
os autores consideram com l s es que I · da
, . o re evantes p - Escala de Inteligência Wechsler Abrevia
pratica do psicólogo hospit l .,.. ara a
a ar. iem se (Wasi): tem o objetivo de avaliar, brevemen~
exemplo de instrumentos a - como
"d serem utilizad te, a inteligência. Público-alvo: crianças deor
um ades de internação: os nas
anos até idosos de 89 anos. Comp 0st0 p .
I ...:. Escala de Pensam
(EPD ): temcomoobJ'ef entos .Dep ress1vos . quatro b , . b s seIIle
su testes: vocabulano, cu O ' .
ivo avaliar d.Istorçoes
- 1hanças e raciocínio matricial (Wagner, 0
mey, & Trentini, 2014).
16 Avaliação psicológica hospitalar e Seção 3 193 =
II - Bateria Psicológica para Avaliação da Aten- lógica deva começar, uma vez que por meio dela
ção (BPA): tem o objetivo de avaliar a atenção o psicólogo tem acesso ao nível de consciência
geral e três tipos de atenção, sendo Aten- do paciente. Assim, quando rebaixado seu nível
ção Concentrada, Atenção Dividida e Atenção de consciência, sabe-se que a coleta deve ocor-
Alternada (Rueda, 2013). rer a partir dos familiares, equipe e prontuário.
Para ter acesso à escala, basta entrar no endereço
d) Utilização de materiais complementares: eletrônico: https://www.glasgowcomascale.org/
considerados como Fontes Complementares, os downloads/GCS-Assessment-Aid-Portuguese.pdf
instrumentos não psicológicos podem ser utili-
zados pelos psicólogos desde que possuam res- II - O Miniexame do Estado Mental (Meem):
paldo científico da literatura e que sejam desti- é um instrumento de rastreamento cognitivo,
nados a profissionais da saúde e que respeitem que não substitui uma avaliação mais detalhada.
os padrões éticos do Código de Ética do Con- É de fácil aplicação, não requerendo material es-
selho Federal de Psicologia (CFP, 2018). Sendo pecífico, basta o instrumento impresso e o uso
assim, serão relacionados alguns instrumentos de lápis e papel. Pode ser aplicado por todos os
que mostram por meio de pesquisas de evidên- profissionais da saúde, desde que treinados. Ava-
cias sua eficácia nos resultados. Validados para lia os domínios cognitivos; orientação espacial
a população brasileira, seus resultados são rele- e temporal; memória imediata e de evocação;
vantes para a avaliação psicológica, uma vez que cálculo; linguagem-nomeação; repetição; com-
oferecem informações importantes para a com- preensão; escrita; e cópia de desenho. É valida-
preensão psicológica do paciente. do e adaptado para a população brasileira, tendo
que ser levado em conta a escolaridade do ava-
liado (Bertolucci, Brucki, Campacci, & Juliano,
I - Escala de Coma de Glasgow: não é apli-
1994). O uso do Meem auxilia na avaliação no
cada por psicólogos e sim por outros membros
sentido de verificar se o paciente tem condições
da equipe de saúde: fisioterapeutas, médicos e
de acompanhar e armazenar as informações que
enfermeiros. É destinada aos pacientes que so-
são oferecidas durante o processo do diagnós-
freram um TCE (Traumatismo Cranioencefáli-
tico, internação e prognóstico. Ressalta-se que
co) fornecendo informações de como estão suas
atualmente o Meem II foi publicado e pode ser
condições de consciência. O nível de consciência
encontrado na forma expandida.
é avaliado pela abertura ocular, resposta verbal e
resposta motora, e pode auxiliar no prognóstico Para ter acesso à escala basta entrar no endere-
da vítima e na prevenção de eventuais sequelas. ço eletrônico: https://www.ufrgs.br/telessauders/
Em 2018, Brennan, Murray e Teasdale propu- documentos/protocolos_resumos/neurologia_
seram uma atualização na escala, incluindo a resumo_MEEM_TSRS.pdf
reatividade pupilar. A nova versão é conhecida
como Escala de Coma de Glasgow com Resposta III - Escala Hospitalar de Ansiedade e De-
Pupilar (ECG-P). pressão (HAD): adaptada e validada no Brasil
Os resultados sempre estão no prontuário do por Botega, Bio, Zomignani, Garcia Jr. e Pereira
paciente e sinalizam por onde a avaliação psico- (1995) para rastrear transtornos de humor em
~~--~~..-...;:...~_...._,,)_
- Rafael Andrade K1u1:mv - . ·-
,.

, •·as desenvolvido pelo Grupo de Qu .


fator , .
. t hospitalar, Pº dendo ser
a11r1. ,
.
pacientes no am bien e profissionais d e V t·da da OMS, avalia
-
quatro domínio. f'~e
. . s. 1s1
.. d r todos os . lógico relaçoes soc1a1s e meio ª"'b' Co1
aplicada e corrigi a po . ,da or 14 itens, ps1co ' .. ••• tente
da saúde. A escala é const1tU1 dpepressão. As Est e instrumento pode ser utilizado con. ..
·••o cr1té
.
sete avaliam · d ªde e sete a d
ansie mputa- . para O acompanhamento de pacient ·
respostas devem ser assma. lªdas ' sen o co - má- no " . es com
roblemas agudos e cromcos com a inten .
d a pontuaçao p
das entre O e 3, compon o um l A HAD é 'f'
acompanhar e ven tear _como o estado de 8aúde
Çao de
xima de 21 pontos para cada esca a. , , el
tempo e poss1v está afetando ~ua _qualidade ,d~ vida, podendo
interessante porque em pouco d t,
identificar quais sao os dom1mos que O Psicó-
. l
discriminar se a smtomato ogia ª· presenta _ ª
a es
mais voltada para ansiedade e/ou depressao, au: logo deve direcionar suas intervenções (Fleck et
xiliando no processo de avaliação. A escala esta al., 2000). Para ter acesso à escala, basta entrar
disponível em anexo na bibliografia citada. no endereço eletrônico: http://www.revistas.ufg.
br/fen/article/downloadSuppFile/12486/2452
N _ Escala de Depressão Pós-Parto de Edin- É importante considerar como material
burgh (EPDS): é uma escala de rastreamento que complementar os protocolos de avaliação para
avalia os sintomas depressivos em quatro pon- diferentes setores, considerando suas caracte•
tos, desde a ausência do sintoma até a presença rísticas e demandas específicas, como já comen-
de gravidade e duração em puérperas (Santos et tado (Capitão, Scortegagna, & Baptista, 2005).
ai., 2007). Pode ser aplicada por profissionais Para atingir tal finalidade, a criação de fichas de
da saúde, desde que minimamente treinados e é
avaliação específicas para o setor pode ser uma
válida a partir de quatro semanas após o parto.
estratégia utilizada para otimização da coleta de
Para ter acesso à escala, basta entrar no endereço
dados, diminuindo a probabilidade de o psicólo- ,
eletrônico: https://www.dgs.pt/upload/membro.
id/ficheiros/iOO818O.pdf go se descuidar de coletar informações relevan·
tes para o contexto de saúde com o qual e5rá
trabalhando. O profissional deve se atentar para
V - Escala Baptista de Depressão Versão Hos-
que protocolos e fichas de avaliação não en·
pital-Ambulatório (Ebadep-Hosp-Amb): instru- gessem sua pratica
., . c l"1mca
. (Cap1tao
. - et al., 2005),
.
mento com boas propriedades psicométricas, é
uma escala que foi pensada e construída para a por isso deve estar sensível às respostas trazidas
população brasileira, pode ser utilizado como pelo paciente e seus familiares, conhecer sobre
rastreio de sintomatologia depressiva útil para , . de saúde que envo1ve seu paciente e
a temat1ca
0
contexto hospita!ar/ambulatorial (Cremasco & relevar outras fontes de informação.
Ba~tista, 20_1~). E de fácil aplicação e correção,
e nao possm smtomas vegetativos/soma'ti· dido '
. cos que e) Registro de observação: compr;:dos,
podem mflar a pontuação da escala e d.
os resultados. 1storcer como uma fonte fundamental de coleta d ;n
P0 d . . . . . f maçoes,
e ser utilizado para adqmnr m or as as
loco, do paciente e seus familiares, de rod ~s
VI WHOQOL-BREF: instrumento curt faix• a s etarias,
, · durante suas re1açoes
- 1·nterpess ao
0
com 26 1t ens e caractenst1cas
, . psicome't . .o, e nas reaçoes - frente às estimulaçoes
- ine
· rentesos·
ncas satis-
Processo de saúde e doença (Borges &, BaP
16 Avaliação psicológica hospitalar c;~é íiêê j • tJ

2018). Os planejamentos estruturados para


ta,leta de dados devem ser contextualizados de dados da avaliação de forma objetiva, para que
co rdo com as caractenst1cas
,. espec1'f"1cas d O pa- toda a equipe tenha acesso aos conteúdos per-
aco d f. , . . tinentes ao projeto terapêutico do paciente.
. te , incluin o a aixa etana, pois o acesso aos
c1en
fenômenos desejados pode depender de técnicas Ressalta-se que a sistematização desses regis-
es ecíficas para evocar os comportamentos dese- tros auxilia a equipe a compreender a atuação
·a!os para observação. Junto à população pediá- do psicólogo e facilita o planejamento das ações
l ·ca uma das tecmcas
' · po de ser o b.rmcar. multidisciplinares.
tn '
o brincar permite acesso a diversos compor-
tamentos observáveis relevantes para a avaliação Registro em prontuário e documentos
psicológica, principalmente para identificação decorrentes da avaliação psicológica
das estratégias de enfrentamento e adaptação
à internação (Motta & Enumo, 2002). Outros Cada atendimento psicológico realizado jun-
comportamentos observáveis, mesmo que não to ao paciente ou seus familiares deve ser ano-
estimulados pelo brincar, também podem ter sua tado em seu prontuário multiprofissional. Esses
importância para os registros de observação de registros são obrigatórios e devem ser realizados
crianças, como: conversar, assistir televisão e re- com cautela e objetividade. Conforme descrito
zar (Motta et ai., 2015). no artigo 12 do Código de Ética do Psicólogo,
"Nos documentos que embasam as atividades em
t) Discussões multiprofissionais: auxiliam a equipe multiprofissional, o psicólogo registrará
exercitar um trabalho de colaboração em que as apenas as informações necessárias para o cumpri-
equipes atuam de forma interdependente com mento dos objetivos do trabalho" (CFP, 2005).
comunicação horizontal para alcançar os obje- Outro ponto a ser considerado é a necessidade de
tivos comuns almejados. Colocar o paciente no se evitar o uso de siglas ou palavras desconhecidas
pelos outros profissionais. Para uma boa comuni-
centro das atenções junto a sua família, assistin-
do-os à luz da humanização, por certo, favorece- cação entre membros da equipe é necessário que
a informação relatada no prontuário esteja clara,
rá a qualidade do atendimento e também contri-
inclusive para os profissionais não psicólogos.
buirá para alcançar o reconhecimento da quali-
dade institucional. Esse trabalho só será possível Como fruto do primeiro contato com o pa-
se as equipes atuarem de forma conjunta e é um ciente, é importante indicar no registro o mo-
desafio a ser encarado pelo psicólogo hospitalar. tivo deste primeiro atendimento, independente
da demanda ter chegado por interconsulta ou
Outros desafios durante a coleta de dados se
por busca ativa. Além disso, tanto o primeiro
relacionam com o setting hospitalar e a restrição
registro quanto os subsequentes devem ter infor-
de tempo do psicólogo junto ao paciente. Apesar
mações relativas à avaliação psicológica realiza-
dessas condições, recomenda-se o uso de mais
da, como dados sobre comportamentos, afetos,
de uma técnica de coleta de dados para comple-
sentimentos e pensamentos do paciente, além de
mentação da avaliação psicológica.
aspectos relacionados ao enfrentamento e adap-
A partir das informações obtidas por meio tação ao seu processo de saúde (Azevedo & Tho-
das técnicas apresentadas, deve-se registrar os mas, 2002).
. . Aanam:s .;;,o,u - - .. -·
Rafael Andrade R1be1ro e

. os regi·srros em pron- como transplantes, pré e pós-operatóri


Não se deve confundtr dade de vida e saúde mental associada o, quaJi.
, • o bngatonos
• , · apos , cada atendi· mento,, com
tuanos,
. -
.
icologica ções especi'fºicas, como pacientes
. oncolóa .Popula.
documentos decorrentes da avaliaçao ps ' . 'lº1se, em t ra t amento cardiológigJ.cos' e"'.,,
, • E t desenvolvidos hemod ia
como laudos e re latonos. s es,
outros. Resultados de pesquisas como co, entre
com dados provenientes da avaliação psicológica, esses .
· lar, des- de grande valia para a atuação do psicólo sao
podem ser elaborados no contexto hospita ºd . . . go,po.
de que sejam solicitados. Caso seja necessário de- rém não ev1 enc1am a s1stemat1zação da atuaÇa·
senvolvê-los, eles devem seguir os padrões orien- Sendo assim, pretendeu-se com este ca , º·
Pituo1
tados pelo Conselho Federal de Psicologia (Lago, compartilhar uma forma de pensar e estrutur
Yates, & Bandeira, 2016). Neste caso o profissio- a atuação do ps1co. 'l ogo no processo avaliativo
nal também deve se atentar ao sigilo profissional, de uma forma generalizada no ambiente hospi-
que é sua obrigação e direito do paciente. talar, porém com informações compreendidas
como essenciais para esse processo. Ressalta-se
Considerações finais que houve a preocupação de apontar que a ava-
liação psicológica deve ser uma prática que não
Como apontado no início do capítulo, falar se resume à testagem psicológica, com diferentes
sobre avaliação psicológica no hospital acaba formas de coletas de dados, incluindo materiais
por ser um desafio, pois as produções científi- complementares que auxiliam muito na avalia-
cas encontradas nos livros desta área tendem a ção psicológica, além das especificidades que o
descrever a prática do psicólogo assistencial sem ambiente institui ao profissional.
focar a sistematização das suas ações, principal-
Além disso, percebe-se uma carência de ma·
mente da avaliação. Pressupõe-se que isso possa
teriais para avaliação psicológica desenvolvidos
estar relacionado com a forma de inserção do
e orientados para esse contexto. Isto toma ne·
psicólogo no hospital, sendo muitas vezes com
cessário o uso de materiais complementares para
um papel de consultor, diferentemente do psicó-
logo que trabalha envolvido em um setor e que a avaliação, além de reduzir a disponibilidade de
a sua prática leva à necessidade de uma ação/sis- protocolos mais efetivos. Sendo assim, pode~se
· . · de w·
tematização que visa a busca ativa da queixa e ev1denc1ar que é um campo que necessita
.
ves t1mentos . 'f"1cos e ps1co
c1ent1 . , 1ogos dispostos a
avaliações e intervenções mais pontuais.
era ava·
se engajarem em pesquisas para fort alec
Já as publicações de artigos científicos muitas . - d dando coo·
11açao psicológica mais estrutura a, eJJl
vez:s . descrevem a avaliação de fenômenos psi- . " . temente,
cologicos pautados nos procedimentos médicos, Sistenc1a aos achados e, consequen
Intervenções mais precisas.
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