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Terapia

Ocupacional
Processo Fundamental Da Terapia No modelo do processo de terapia ocu-
Ocupacional pacional segundo a ótica positivista as
relações podem ser definidas como ―pro-
Existem diferentes formas de processos, cedimentais‖.
cada qual elaborado segundo as caracte-
rísticas das técnicas que os embasam, e Regras são pré-estabelecidas para se
da forma como o profissional que as apli- alcançar uma meta e o dever do usuário
cam. Este tipo de análise remeteria a um é seguir o plano de tratamento apresen-
distanciamento entre o processo de tera- tado pelo terapeuta ocupacional, o qual,
pia ocupacional e o contexto social onde usualmente, recebe o usuário mediante
ele acontece. um encaminhamento médico explicitando
os objetivos que se espera ser alcança-
Desta forma, suas reflexões são apresen- dos com o tratamento.
tadas segundo as relações que o proces-
so desenvolve com a visão de homem e Inicia-se então uma extensa coleta de
de sociedade. dados através de entrevistas estrutura-
das e testes, que por sua natureza objeti-
São apresentados então três diferentes va, fornecerão as informações que o pro-
modelos de processo: um segundo a fissional deseja obter para direcionar o
concepção humanista, um segundo a tratamento da patologia apresentada.
concepção positivista, e um segundo a
concepção dialética materialista-histórica, Estes dados coletados serão compara-
os quais, segundo a autora, assumem dos em próximas reavaliações, para que
posições opostas e inconciliáveis. se verifique a eficácia da intervenção te-
rapêutica, a qual acontece de forma indi-
No modelo do processo humanista ine- vidualizada e a atividade prescrita assu-
xistem regras pré-estabelecidas. O tera- me papel central. Desta forma, o terapeu-
peuta ocupacional assume o papel de ta ocupacional se assume como media-
facilitador perante o usuário do serviço, dor da relação do usuário com a ativida-
encorajando-o a ser protagonista na rela- de que deve ser desenvolvida.
ção que estabelece com sua saúde.
No modelo do processo de terapia ocu-
A relação cliente-terapeuta é muito im- pacional materialista histórico enfatiza-se
portante neste modelo e a observação é o que esta concepção preconiza, ou seja,
o método por excelência que o terapeuta a relação dialética do homem com seu
utiliza para direcionar o processo tera- trabalho e com o ambiente.
pêutico, o qual, via de regra, acontece
em um grupo de atividades. No grupo, o Nesta relação, ao transformar o meio a-
fazer individual acontece sob a ótica das través do trabalho, o homem se transfor-
relações interpessoais. ma, e, em uma sociedade dividida em
classes, uma das características da saú-
Este modelo favorece o aprendizado de de é manter este homem socialmente
diferentes formas de relacionamento, de produtivo. Sendo assim, ―é a classe eco-
soluções para os problemas cotidianos, e nomicamente dominante que determina
de uma postura criativa frente a estes. cultura, educação, ciência e saúde‖, em
um processo social que determina os
O aprendizado depende do auto-
conceitos de saúde e doença.
conhecimento desenvolvido pelo cliente
na relação terapêutica e, portanto, o pró- A prática de terapia ocupacional enquan-
prio terapeuta ocupacional, como facilita- to parte da organização social, assume
dor deste processo, se configura um ins- um papel que pode ser de mantenedor,
trumento terapêutico. reformista ou transformador. Há uma so-

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lidariedade com o cliente e sua classe Sendo assim, não se pode simplesmente
social e a ruptura da imparcialidade, pas- apontar um modelo como sendo melhor
sando a obter uma postura cientificista. que outro, pois cada situação específica
exigirá do profissional um posicionamen-
Neste modelo prioriza-se o tratamento to crítico sobre sua atuação e a melhor
grupal, pois o agrupamento de indivíduos maneira de estruturá-la. Desta forma é
por classe de origem, facilita o trabalho que demonstrará sua capacidade de a-
de conscientização e aprendizagem do tender cada ser humano que se apresen-
tratar de ―questões coletivas‖. A saúde é te diante dele necessitando de sua inter-
uma dessas questões, e sua aquisição venção.
ou manutenção ultrapassa o indivíduo,
sendo, dentro da sociedade capitalista, Métodos de Avaliação
uma questão de classe social.
Os métodos de avaliação visam diagnos-
As ações do terapeuta neste processo ticar precocemente e precisamente, os
são democráticas, cada indivíduo do gru- desvios e déficits, identificando possíveis
po é responsável ―pelo fazer o processo transtornos ou deficiências.
acontecer‖. As ações do grupo mostram
as necessidades deste, que levam à ela- Os achados referentes aos testes possi-
boração do projeto do grupo, à execução bilitam a aplicação do tratamento de for-
deste projeto e à reflexão destas ações, ma mais específica, ajudando na obten-
em uma estrutura dinâmica, sem critérios ção de resultados mais expressivos no
pré-estabelecidos, ―na qual cada grupo tratamento.
imprime sua maneira de organizar-se e
O terapeuta ocupacional estuda e em-
construir seu projeto‖.
prega atividades de trabalho e lazer no
A compreensão da terapia ocupacional tratamento de distúrbios físicos ou men-
que se estabelece pela concepção mate- tais e de desajustes emocionais e soci-
rialista-histórica mostra que esta resulta ais.
em uma conscientização do grupo, que o
O profissional utiliza tecnologias e ativi-
leva a compreender que é possível a
dades diversas para promover a autono-
transformação social através de uma no-
mia de indivíduos com dificuldade de in-
va concepção de práticas de saúde, es-
tegrar-se à vida social em razão de pro-
tabelecendo novas relações entre o ho-
blemas físicos, mentais ou emocionais.
mem e o seu meio.
Ele elabora planos de reabilitação e a-
Diante do exposto pela autora, os três
daptação, buscando não apenas desen-
modelos apresentados podem ser real-
volver no paciente autoconfiança, como
mente considerados opostos. Entretanto,
também orientá-lo quanto a seus direitos
cada um deles, com suas respectivas
de cidadão.
especificidades, têm seu lugar na prática
terapêutica ocupacional. Este terapeuta atende pessoas de todas
as idades, de recém-nascidos e crianças
Assim como cada usuário do serviço de
a adultos e idosos, na promoção do bem-
Terapia Ocupacional é um ser único em
estar, prevenção e recuperação de dis-
suas relações consigo e com o contexto
funções. Também cria e faz a avaliação
no qual se insere, também o terapeuta
de atividades físicas, podendo prestar
ocupacional apresenta suas característi-
atendimento individual ou em grupo.
cas próprias, tanto pessoais como profis-
Seus principais campos de trabalho in-
sionais.
cluem clínicas, asilos, casas de repouso,
hospitais, instituições geriátricas, psiquiá-

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tricas e penais, centros de saúde, de de 15 testes estruturados, que avaliam os
convivência e de reabilitação, creches e sistemas vestibular, proprioceptivo, visual
empresas. e tátil.
Além disso, o profissional está habilitado Teste Berry-Buktenica VMI – é um teste
a prestar atendimento aos pacientes em padronizado que avalia a percepção viso
domicílio. motora e a coordenação motora. É com-
posto por 3 provas, a visomotora, prova
Alguns exemplos: de percepção visual e prova de coorde-
nação motora.
Perfil Sensorial de Winnie Dunn –
questionário dirigido para pais e cuidado- Escala Bayley- Escala de desenvolvi-
res, que busca identificar problemas de mento para bebês e crianças de 0 a 3
Modulação, Processamento Sensorial e anos - avalia o desenvolvimento cogniti-
respostas Emocionais e Sociais. vo, motor grosso e fino, fala e linguagem
e comportamento sócio emocional.
COPM - Medida Canadense de Desem-
penho Ocupacional (Baptiste, Cars- SIPT - “Sensory Integration na Praxis
well, McColl, Polatajiko, Pollock - Tests” (Ayres - 1989) - Teste de Inte-
1994)- é uma medida individual da auto gração Sensorial e Práxis- O SIPT Iden-
percepção do cliente sobre os problemas tifica distúrbios de integração sensorial
encontrados no seu próprio desempenho em crianças com problemas de aprendi-
ocupacional. zagem e distúrbio leve a moderado do
desenvolvimento. A bateria é formada por
SPM - Sensory Processing Measure
17 subtestes com resultados e interpreta-
(Diana Parham - 2007) - SPM - Medida
ção computadorizados.
de Processamento Sensorial - É um
sistema integrado de escalas de medi- Recursos Terapêuticos em TO
ção, que possibilita a avaliação de pro-
blemas de processamento sensorial, prá- Os Recursos terapêuticos podem ser ati-
xis e participação social da criança em vidades, objetos, técnicas e métodos uti-
idade escolar. Seus objetivos são reunir
lizados com o objetivo de auxiliar o clien-
informações fornecidas pelos pais e es-
cola, identificar comportamentos no coti- te durante seu processo de reabilitação.
diano da criança na casa, escola e co- Os recursos terapêuticos podem facilitar
munidade, examinar fatores contextuais, a realização de atividades, de forma a
e comparar funcionamento na casa e na promover a independência pessoal e a
escola. melhora da funcionalidade e qualidade de
BOT2- Bruininks Osentsky: Teste de vida.
Proficiência Motora, no qual avalia-se a
Uso da atividade como recurso tera-
coordenação motora fina e de integração,
destreza manual, coordenação de mem- pêutico
bros superiores, coordenação motora
A escolha de uma atividade requer um
bilateral, equilíbrio, força, velocidade de
execução e agilidade. equilíbrio entre as necessidades e inte-
resses do paciente, o repertório pessoal
Observações Estruturadas do desem- de habilidades possuído pelo terapeuta e
penho Motor em relação aos Sistemas as exigências do modelo ou abordagem
Sensoriais(Blanche Imperatore, Rei-
que o terapeuta escolhe trabalhar.
noso, Kiefer-Blanche) - Avalia/Detecta
desordens do processo sensorial através O que deve ser considerado:

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 A habilidade do indivíduo As observações de nossa prática grupal,
 Ajuste das necessidades o conhecimento de várias outras experi-
 Solução de problemas ências onde o grupo tem sido utilizado
 Fornecer experiências com resultados bastante interessantes,
 Melhorar uma habilidade os conhecimentos teóricos aliados às
 Estimular um interesse trocas entre os pares têm indicado a per-
 Promover independência tinência e relevância do estudo deste ter-
ritório como contribuição à prática clínica
 Encorajar uma interação
e social.
 Estimular a exploração
 Fornecer oportunidades para a es- Para construir suas idéias e planificar
colha ações sobre grupos, e desenvolver inter-
venções, a terapia ocupacional tem se
Atividades:
reportado a conhecimentos que fazem
 Atividades artesanais, fronteira com diversas áreas, entre elas a
 Atividades expressivas, psicanálise, a psicologia social, a socio-
 Atividades lúdicas, logia.
 Atividades sócio-culturais, Segundo Maximino (1997, p. 22), o uso
 Atividades profissionais, de atividades feitas em ambiente grupal
 Atividades Básicas da Vida Diária, acompanha o desenvolvimento da pró-
 Atividades de Instrumentais da vida pria história da terapia ocupacional, prin-
diária, cipalmente no seu aspecto de ―transfor-
 Atividades psicopedagógicas, madora‖ e ―reorganizadora‖ das institui-
 Atividades adaptadas com o auxílio ções asilares.
da tecnologia assistiva
Duncombe e Howe (1985, 1995) em duas
Grupos Terapia Ocupacional investigações desenvolvidas com interva-
lo de 10 anos, demonstraram que 60%
A produção teórica sobre as abordagens
dos terapeutas ocupacionais utilizavam-
grupais em Terapia Ocupacional no Bra-
se dos grupos em sua prática clínica.
sil é recente e ainda é restrita a poucos
autores, havendo uma maior concentra- No Brasil, destacamos os trabalhos das
ção dessas produções no campo da saú- terapeutas ocupacionais Ballarin (1995),
de mental. Entretanto, os grupos têm se Benetton (1994), Constantinidis (2000),
revelado, cada vez mais, como importan- Ferrari (1990), Maximino (2001), entre
te dispositivo de investigação e interven- outros, cuja produção teórica vêm tra-
ção na prática terapêutica. zendo importantes referenciais para o
estudo de grupos.
Este artigo pretende fundamentar e dis-
cutir algumas considerações sobre a Em nossa pesquisa na Dissertação de
possibilidade da utilização do grupo tera- Mestrado intitulada Terapia Ocupacional
pêutico como intervenção em reabilita- e grupos: em busca de espaços de subje-
ção, a partir da prática em Terapia Ocu- tivação (2002), reportando-nos aos co-
pacional. nhecimentos da área psicossocial, pro-
pusemos a utilização do grupo como dis-

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positivo para a intervenção em reabilita- Pensamos no grupo como um veículo de
ção, fazendo a interlocução entre as pro- produção de subjetividades, o que ele
duções do campo da saúde mental com poderia captar e revelar em relação às
aquelas da área das deficiências. marcas subjetivas de cada integrante e,
em contraponto, o que ele ocultaria.
Na dissertação de mestrado fizemos o
acompanhamento e estudo qualitativo de Segundo Barros, as oposições indivíduo-
um processo grupal, com encontros duas grupo, indivíduo-sociedade vêm no bojo
vezes por semana ao longo de 7 meses, da construção da categoria indivíduo pre-
em instituição governamental de reabili- sente desde o século XVI, ganhando des-
tação. taque nos séculos XVIII e XIX, onde, no
processo de ―interiorização‖ o ―individual‖
O grupo formado era heterogêneo, de ganha um registro de sentidos que marca
adultos, alguns com deficiência outros formas de estar, sentir, pensar e viver o
com transtornos mentais, cuja constitui- mundo (BARROS, 1993, p. 147).
ção deu-se a partir do desejo de vivenciar
a proposta, que era realizar atividades Este modo de funcionamento ―individuali-
externas ao espaço institucional – como zante‖ sobre os objetos e as práticas a-
saídas à cidade – e também, de forma cabam por privatizar atos e afetos (p.
articulada, atividades plásticas – pintura, 147). E a autora prossegue dizendo que:
colagem, modelagem, entre outras – den-
tro da instituição. O grupo, nesta perspectiva, vem a inse-
rir-se como intermediário da relação indi-
Por que Grupos? víduo-sociedade. Duplica-se a dicotomia
indivíduo-grupo e grupo-sociedade, na
O grupo se constituiria como matéria- tentativa de se estabelecer uma passa-
prima para a compreensão do sujeito, gem ―mais suave‖ da compreensão dos
das articulações entre questões intrapsí- fenômenos individuais aos sociais.
quicas e as determinações concretas,
situadas a partir do lugar deste sujeito na O que se percebe é a insistência do ―so-
estrutura social (FERNANDES, 1994). A cial‖ como algo ―externo‖ ao individual
concepção que nos norteia indica que os mantendo-se a mesma lógica disjuntiva
processos de constituição do sujeito a- (interno-externo, indivíduo-grupo). (BAR-
contecem através da produção intersub- ROS, 1993, p. 147).
jetiva, onde estão implicados o mundo
interno, as questões intra-psíquicas, por- Barros nos alerta que a noção de subjeti-
tanto os processos inconscientes, e seu vidade não pode ser confundida com a
interjogo com a dinâmica vincular, ou se- de indivíduo, ressaltando que ―ela é es-
ja, a subjetividade é determinada históri- sencialmente fabricada e modelada no
ca e socialmente enquanto o sujeito se registro do social‖. (BARROS, 1993, p.
constitui como tal no processo de intera- 149).
ção entre os sujeitos, do qual o vínculo, O grupo pensado de forma individualizan-
como relação bicorporal, e o grupo, como te fica colocado como intermediário entre
rede vincular, constituem unidades de o nível ―individual‖ e o nível ―social‖. Mas,
análise. (QUIROGA, 1984). ―se fizermos deslocar a noção de grupo

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para a noção de subjetividade, o que en- Este autor construiu sua trajetória da Psi-
contraremos será multiplicidade e provi- canálise à Psicologia Social e elaborou
soriedade‖ (BARROS, p. 151). um importante conjunto de conceitos so-
bre o universo do sujeito e dos campos
Neste sentido, os pequenos grupos nos inter-subjetivos e institucionais. Criador
parecem instrumentos privilegiados de da técnica dos Grupos Operativos, Pi-
investigação e intervenção no universo chon-Rivière tem sido fonte de diversas
das populações marginalizadas e excluí- produções teóricas e intervenções no
das do tecido social, em um momento campo da saúde, educação e práticas
contemporâneo onde aspectos básicos sociais e também no campo da Terapia
como a cidadania, a ética e os direitos Ocupacional.
humanos se colocam em evidência e pa-
radoxalmente apontam para os longos Para Pichon-Rivière, o sujeito é o emer-
caminhos ainda a percorrer na direção de gente de uma complexa trama de víncu-
maior justiça social. los e relações sociais, é a síntese de uma
história vincular e social. O sujeito é o
Grupos em Reabilitação agente, ator do processo interacional e
No campo da reabilitação, as novas es- ao mesmo tempo é determinado pelas
tratégias de atenção às populações com relações que constituem suas condições
deficiência e com transtorno mental, bus- concretas de existência.
cam captar questões relativas à subjetivi- A partir da concepção de uma natureza
dade, para além do olhar reducionista humana social e historicamente determi-
centrado na doença. nada, o homem é compreendido como
Considerando o transtorno mental e a ponto de chegada de um processo histó-
deficiência como fenômeno manifesto, rico, como síntese de uma complexa rede
com expressões no universo corporal e de relações sociais. Articular o conheci-
psíquico, que imprimem marcas na subje- mento das abordagens grupais ao uni-
tividade, tem procurado ir ao encontro verso da Terapia Ocupacional tem-se
das representações daí advindas, e seus constituído como desafio.
complexos desdobramentos, ao invés de O planejamento e a execução de ativida-
buscar técnicas corretivas ou de normali- des são instrumentos dos processos de
zação. intervenção em terapia ocupacional e
É nesse contexto que a abordagem gru- quando, no contexto do atendimento, vá-
pal configura-se, entre outras possibilida- rios sujeitos estão juntos compartilhando
des, como dispositivo, espaço potenciali- tempo, espaço e um fazer através das
zador de encontros e contato com o ou- interações, múltiplos podem ser os con-
tro, de questionamentos e indagações, teúdos gerados pelos encontros, entre-
de elaboração e trocas, de identificações, cruzamentos e conexões entre universos
de confrontos. Dentre as teorias sobre as subjetivos diversos e singulares.
abordagens grupais terapêuticas, tem O que é manifesto vem carregado de
norteado nossa prática e reflexão, princi- significações que, no contato com o ou-
palmente, a teoria de Enrique Pichon- tro, podem adquirir ainda novos significa-
Rivière (1977, 1980, 1988, 1998).

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dos, explicitando diferenças e semelhan- prática com adultos, se trabalha com
ças, traços culturais distintos, marcas das grupos heterogêneos não tomando o di-
histórias e desejos. agnóstico como critério central. Assim, a
presença de alguma vulnerabilidade de
A possibilidade da produção de uma ―ca- saúde (como, por exemplo deficiência
deia associativa via atividade‖ (MAXIMI- física, mental ou sensorial, sofrimento
NO, 2001) pode contribuir para a com- psíquico, HIV, entre outras) ou vulnerabi-
preensão dos modos de funcionamento lidade social (vítimas de violência, pes-
relativos às histórias de cada um, aos soas em situação de rua, entre outros)
vínculos, aos afetos, às formas de comu- não são critérios de exclusão nem de
nicação e interação, revelando os pro- configuração homogênea para a aborda-
cessos de subjetivação. gem grupal.
O espaço grupal possibilita o contato e o As proposições focam prioritariamente a
reconhecimento do próprio fazer, seus atividade proposta, concepção essa pau-
limites e facilidades; a observação do tada no conceito de tarefa de
fazer do outro, a percepção de seme- PichonRivière, tentando oferecer espaço
lhanças e contrastes, e a potencialização de construção de sentidos para as múlti-
do fazer junto. plas demandas surgidas a partir do traba-
Nessa travessia, as múltiplas identifica- lho com os sujeitos envolvidos. Pichon-
ções e fantasias que entram em cena nos Rivière (1988) sustenta que não há vín-
processos de interação conferem ao es- culo, e conseqüentemente grupo, sem
paço grupal um contínuo movimento, um tarefa, já que em toda relação há um sen-
permanente interjogo, um efeito motor, tido de operatividade, alcançado ou não.
no sentido de provocar e potencializar Na técnica de Grupos Operativos, conce-
transformações. bida por Pichon-Rivière os grupos defi-
As produções podem favorecer o registro nem-se como grupos centrados na tarefa.
da memória dos processos, das vivências A tarefa poderia ser entendida como pro-
grupais e do que elas atualizam, ofere- cesso de elaboração, como conjunto de
cendo-lhes certa concretude. Na biblio- ações destinadas aos objetivos, a partir
grafia do campo da Terapia Ocupacional, da necessidade e da transformação de
há relatos sobre práticas grupais com uma ausência na direção daquilo que a
pacientes com Parkinson (Davis, 1977, satisfaz.
GAUTHIER et al., 1987), para deficientes A tarefa implica, então, em transformação
físicos (Versluys, 1980), para pacientes da realidade externa e interna. O grupo,
com traumatismo craniano (Lundgren; assim concebido, centra-se na relação
Persechino, 1986), para pacientes com que os integrantes mantêm com a tarefa.
transtornos psicóticos (Constantinidis,
2000; Maximino, 2001). O autor chama atenção para dois aspec-
tos fundamentais de sua técnica: os as-
Neles a constituição grupal considera pectos manifestos ou explícitos e os as-
critérios nosológicos, com desenvolvi- pectos implícitos ou latentes. Retomando
mentos diversos e avaliações sobre os a técnica analítica – fazer consciente o
benefícios aos participantes. Em nossa

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inconsciente - o autor propõe partir do de Carmo (2001).Várias são as possibili-
explícito para descobrir o implícito, em dades de atuação do Terapeuta Ocupa-
um contínuo movimento em espiral dialé- cional nos contextos socioeducacionais,
que abrange desde o atendimento indivi-
tica.
dual do aluno em um contexto clínico, até
A tarefa seria, então, a abordagem do o acompanhamento desse aluno no meio
familiar e na escola, pode também ins-
objeto de conhecimento que apresenta
trumentalizar o aluno e a escola com a
um nível explícito ou manifesto, mas na utilização de diversos recursos e tecnolo-
qual também surgem algumas dificulda- gia assistiva, participar das atividades
des, lacunas, cortes na rede de comuni- escolares, orientar e assessorar a equipe
cação, que constituiriam os obstáculos educacional e, não menos importante,
para a sua realização - o nível implícito dar assessoria as famílias dos alunos
da tarefa. com necessidades educacionais especi-
ais.
Os obstáculos ou dificuldades de abor-
Segundo Toyota et al (2007), a ação da
dagem, que supõem uma fantasia in- terapia ocupacional no contexto escolar é
consciente (portanto implícita), denuncia- caracterizada principalmente pelos se-
riam uma atitude de resistência à mudan- guintes aspectos:
ça. Para a teoria pichoniana, quanto mai-
1) Avaliar e intervir com os alunos que
or a homogeneidade na tarefa e maior a
apresentam dificuldades que interferem
heterogeneidade do grupo, maior a pos- diretamente na aprendizagem e com as
sibilidade de operatividade, ou seja de atividades funcionais da Escola;
transformação da realidade e dos sujeitos
envolvidos, em um movimento dialético. 2) Avaliar e intervir com os alunos que
apresentam dificuldades na realização
Para Pichon-Rivière (1988), o conceito de das atividades da vida diária;
grupo seria:
3) Ensinar o correto manuseamento da
Conjunto restrito de pessoas, ligadas en- criança /jovem com alterações neuromo-
tre si por constantes de tempo e espaço toras durante as rotinas diárias;
e articuladas por sua mútua representa-
4) Avaliar a necessidade de tecnologias
ção interna que se propõem, de forma de apoio facilitadoras da participação e
explícita ou implícita a uma tarefa que do desempenho e realizar o treino de
constitui sua finalidade, interatuando a- utilização das mesmas;
través de complexos mecanismos de as-
5) Desenvolver um trabalho colaborativo
sunção e atribuição de papéis. (PICHON-
com a comunidade escolar, família e co-
RIVIÈRE, 1988, p.124) munidade envolvente de forma a facilitar
a plena integração dos alunos com defi-
Terapia Ocupacional na Perspectiva
ciência e/ou dificuldade.
interdisciplinar
Tendo em vista o trabalho colaborativo
O Terapeuta Ocupacional se apresenta
como estratégia poderosa e que se faz
como um profissional com um grande
bem sucedida, aplica-se hoje, a filosofia
campo de atuação dentro da Educação
de ―Consultoria Colaborativa‖ ao atendi-
inclusiva, e de grande importância nos
mento do Terapeuta Ocupacional junto a
atendimentos interdisciplinares, dando
outros profissionais atuantes no Atendi-
suporte aos profissionais nas realizações
mento Educacional Especializado.
de tarefas com os alunos. Para Bartolotti;

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Este modelo de Consultoria Colaborativa Realizada a avaliação, a intervenção do
vem sendo definido por (MENDES, E.G. Terapeuta Ocupacional se dará por meio
et al) como ajuda ou processo de resolu- da utilização de métodos e técnicas tera-
ção de problemas, responsável pelo bem pêuticas ocupacionais. E quando neces-
estar de uma terceira pessoa e quem sário, este profissional utilizará de adap-
ajuda se beneficia da relação, de modo tações ambientais, bem como de mobiliá-
que os futuros problemas poderão ser rios e objetos pessoais a fim de propor-
controlados com mais sensibilidade e cionar ao cliente mais autonomia e inde-
habilidade. pendência em seu cotidiano, o que resul-
tará em melhor qualidade de vida e rein-
A consultoria colaborativa pode ser defi- serção social.
nida como um processo no qual um con-
sultor treinado trabalha em uma relação Cinesiologia e Biomecânica
igualitária, não hierarquia com outros pro-
fissionais, pais e/ou responsáveis auxili- A cinesiologia e biomecânica representa
ando nas tomadas de decisões e na im- um conjunto de conhecimentos funda-
plementação de ações dentro do interes- mentais para a formação do fisioterapeu-
se educacional dos alunos. (KAMPWIR- ta, uma vez que o movimento humano é
TH 2010 apud TREVISAN, DELLA BAR- o seu principal objeto de estudo. É por
BA. 2010, p.91) meio da compreensão do movimento
considerado normal que o fisioterapeuta
O Terapeuta Ocupacional possui seu pode entender as alterações do movi-
campo de intervenção e de conhecimento mento, e a partir disto, propor estratégias
em saúde, educação e na esfera social, para a recuperação dos movimentos
orientando as tecnologias para a auto- quando possível, ou a promover adapta-
nomia, independência e empoderamento ções quando a recuperação não é mais
do ser humano em suas Atividades de possível.
Vida Diária (AVD) e Atividades de Vida
Prática (AVP). Que por razões ligadas a A análise da história da cinesiologia (es-
problemáticas especificas, sejam físicas, tudo do movimento) e da biomecânica
sensoriais, mentais, psicológicas e/ou (mecânica aplicada ao sistema biológico)
sociais, ocasionadas por doenças crôni- revela que uma origem comum. Aristóte-
cas degenerativas, lesões traumáticas e les (322 A.C.) é considerado o pai da ci-
de origem genética que apresentam, nesiologia por ser o primeiro a descrever
temporariamente ou definitivamente défi- a função e ação dos músculos e ossos, e
cits que prejudicam a inserção e a parti- o processo de deambulação.
cipação social.
Muito depois, veio Borelli (1608) que é
É de responsabilidade do Terapeuta O- considerado o pai da biomecânica por ser
cupacional realizar o diagnóstico do de- o primeiro a estudar matematicamente o
sempenho ocupacional por meio de ava- movimento. Isto nos revela a diferença
liações das AVD´s (alimentação,higiene, básica entre cinesiologia e biomecânica.
vestuário e locomoção) e das AIVP´s (e-
A cinesiologia descreve os movimentos e
xecução das de tarefas do cotidiano, an-
a biomecânica os quantifica pelo uso da
dar na rua, fazer compras, trabalhar ,
matemática. No entanto, segundo Hamill
etc.) e dos componentes de desempenho
& Knutzen (2008) ―os estudiosos do mo-
sensório-motor, componentes cognitivos,
vimento humano frequentemente discor-
habilidades psicossociais e componentes
dam quanto ao uso dos termos cinesiolo-
psicológicos.
gia e biomecânica. Cinesiologia pode ser
utilizada de duas maneiras.

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Em primeiro lugar, cinesiologia como o quadril, joelho e dorsiflexão de tornozelo,
estudo científico do movimento humano usando de contrações excêntricas de
pode ser um termo abrangente utilizado glúteo máximo, quadríceps e sóleo res-
para descrever qualquer forma de avalia- pectivamente em cada articulação. Para
ção anatômica, fisiológica, psicológica ou o retorno na posição original, ocorreriam
mecânica do movimento humano. contrações concêntricas dos mesmos
músculos para produzir a extensão do
A Cinesiologia também descreve o con- quadril e joelho e a flexão plantar no tor-
teúdo de uma classe em que o movimen- nozelo.
to humano é avaliado pelo exame de sua
origem e características. Isto ocorreu a Na segunda metade do século XX a bio-
partir do século XX, momento que a cine- mecânica foi desenvolvida como área de
siologia passou a ser como uma discipli- estudos. O conteúdo da biomecânica foi
na distinta na família das disciplinas cien- extraído da mecânica, área da física que
tíficas, sua forma organizada tornou-se consiste no estudo do movimento e no
bem mais abrangente e integrada teori- efeito das forças incidentes em um obje-
camente. Como disciplina o foco é sobre to. Percebeu-se que muitos dos concei-
o comportamento dos movimentos de tos utilizados na engenharia poderiam ser
organismos vivos. aplicados ao corpo humano. Então, foi
uma transição natural a aplicação da me-
Consequentemente, o termo cinesiologia cânica nos organismos vivos, surgindo
tem sido utilizado por diversas disciplinas então a biomecânica.
para descrever muitas áreas conteudísti-
cas diferentes. Isto chegou ao ponto de A análise da biomecânica avalia o movi-
usar o termo cinesiologia para descrever mento de um organismo vivo e os efeitos
movimentos de seres não humanos; situ- de determinadas forças sobre esse orga-
ações terapêuticas em humanos, e até nismo. A análise biomecânica pode ser
mesmo nomear departamentos em algu- qualitativa com o movimento observado e
mas universidades, e ainda, o conteúdo descrito, ou quantitativa, significando que
de uma aula de cinesiologia pode ser será medido em algum aspecto. Assim,
composto de anatomia funcional em uma pode-se dizer que a biomecânica tem um
universidade e exclusivamente biomecâ- objeto de estudo bem definido e os resul-
nica em outra‖. tados de sua investigação são obtidos
por métodos próprios.
Historicamente, cursos de cinesiologia se
concentravam no sistema musculoesque- Entretanto, em razão de suas caracterís-
lético, eficiência dos movimentos do pon- ticas, a biomecânica pode atuar em di-
to de vista anatômico e ações das articu- versas áreas como locomoção humana;
lações e dos músculos durante movimen- esporte; reabilitação; ortopedia e trauma-
tos simples e complexos. tologia; instrumentação e métodos; mo-
delagem computacional; tecidos e bioma-
Na maioria das vezes, as análises cinesi- teriais; cardiovascular e respiratória; e na
ológicas são consideradas qualitativas, ergonomia.
porque envolvem a observação de uma
atividade e identifica suas fases distintas, No sentido mais amplo de sua aplicação,
descrever os movimentos segmentados o movimento humano é o seu objeto de
que ocorrem em cada fase e identificar estudo. Na abordagem quantitativa, as
os principais músculos que contribuem características dos movimentos são des-
para o movimento articular. critas usando parâmetros como velocida-
de e direção. Como o movimento foi cria-
Por exemplo, o movimento de agachar
poderia ser descrito com a flexão de

11
do por meio de forças internas e exter- corporais, distribuição de massa, braço
nas. de alavanca, etc. Muitos modelos antro-
pométricos representam o corpo humano.
A biomecânica interna preocupa-se com Esses modelos são essenciais para o
a determinação das forças internas (for- cálculo das forças internas.
ças articulares e musculares) e as con-
seqüências resultantes dessas forças Portanto, do ponto de vista do campo de
(tensões) do biomaterial, frente às dife- atuação do fisioterapeuta podemos con-
rentes formas de solicitação mecânica. siderar a cinesiologia como a identifica-
ção e descrição das estruturas anatômi-
A biomecânica externa representa aque- cas e sua função, enquanto que a biome-
les parâmetros de determinação quantita- cânica descreve qualitativamente e quan-
tiva e ou qualitativa referentes às mudan- titativamente o movimento humano.
ças de lugar e posição do corpo humano,
com auxilia de medidas descritivas cine- Elas são disciplinas que se complemen-
máticas e dinâmicas. tam para melhor compreender o movi-
mento humano. Isto permite as altera-
Os métodos utilizados pela biomecânica ções do movimento sejam identificadas e
para abordar as diversas formas de mo- melhor analisadas, bem como os proce-
vimentos são a cinemetria, dinamometria, dimentos terapêuticos por meio de exer-
eletromiografia e antropometria. cícios sejam estudados e os seus resul-
tados sejam mensurados.
A cinemetria consiste em um conjunto de
métodos para medir parâmetros cinemá-
TO- Na Saúde Mental
ticos. Envolve a aquisição de imagens
durante a execução do movimento e cal-
cula-se a posição, orientação, velocidade Para conseguir a saúde mental, devemos
e aceleração do corpo ou segmento cor- desenvolver uma identidade que se ba-
poral. As imagens podem ser registradas seie no funcionamento saudável. A saúde
desde fotografias até a captura de ima- mental é um atributo de todos que preci-
gens por vídeo e por sistemas optoele- sam atuar efetivamente na sociedade.
trônicos, permitindo a análise tridimensi-
onal. As pessoas mentalmente saudáveis (1)
possuem uma sensação de bem-estar;
A dinamometria envolve todos os tipos de (2) fazem uma elaboração psicológica
medidas de força e a distribuição de para realizar seus objetivos; (3) pensam,
pressão. As forças podem ser medidas sentem e agem dentro das limitações
por meio de plataformas de força, dina- sociais; e (4) alcançam objetivos que são
mômetros isocinéticos e transdutores de valiosos no contexto social da pessoa.
força. Os terapeutas precisam abordar as ne-
cessidades de saúde mental de todos os
A eletromiografia é o registro da atividade pacientes, independentemente do diag-
elétrica de um músculo em contração. nóstico.
Esse registro é feito por meio de eletro-
dos conectados aos músculos e os sinais As pessoas que experimentam compro-
são amplificados e depois registrados por metimento, incapacidade ou deficiência
computador. são confrontadas com a necessidade de
modificar sua auto-imagem pré-mórbida.
A antropometria se preocupa em deter-
Ao fazerem isto, elas podem recriar a
minar características e propriedades do compreensão de quem são, incorporando
aparelho locomotor como as dimensões as forças e limitações impostas pela in-
das formas geométricas de segmentos capacidade. Uma mulher jovem com um

12
distúrbio alimentar deve confrontar-se oportunidade para que as pessoas a-
com os aspectos físicos e emocionais de prendam como viver com uma incapaci-
sua doença. Ao mesmo tempo em que dade e como relacionar as suas funções
ela se obriga a receber a nutrição e a pregressas e futuras.
limitar o exercício para sua saúde física,
ela deve mudar sua auto-imagem. Ela A função de trabalhador pode ser uma
deve ficar familiarizada consigo mesma parte importante da identidade de uma
em um corpo saudável; fazer coisas que pessoa. Compreender como as ativida-
a protejam e a estimulem. des produtivas se encaixam dentro dos
valores do indivíduo é, com freqüência, a
O conceito de si próprio é um tema fre- primeira etapa para compreender a inter-
qüente na literatura de terapia ocupacio- venção ocupacional. Quais funções a
nal. A Terminologia Uniforme da Ameri- pessoa tem nas atividades vocacionais?
can Occupational Therapy Association Observar e conversar sobre como a in-
lista o autoconceito, a auto-expressão e o capacidade neurobiológica afetou o de-
autocontrole como áreas principais que sempenho do trabalho proporcionam im-
abordamos durante a ocupação. Estes portantes informações sobre interven-
são aspectos importantes de saúde men- ções significativas e apropriadas.
tal e nos fornecem um meio para come-
çar a olhar mais de perto a pessoa, como Uma pessoa com um distúrbio bipolar
um ser integral, nas intervenções tera- pode experimentar dificuldades em vestir-
pêuticas. se, arrumar-se e dormir, o que acaba por
influenciar o desempenho bem-sucedido
Contribuição Da Terapia Ocupacional das atividades produtivas. Como um te-
Para Facilitar A Saúde Mental rapeuta ocupacional, você pode fornecer
as informações sobre códigos para se
Quando nosso objetivo é facilitar a adap- vestir para o trabalho, que este paciente
tação e a acomodação, devemos ajudar possa querer, e ajudar esta pessoa a sa-
as pessoas a quem servimos a aprender tisfazer estes códigos de vestir, para as-
como realizar as ocupações de diferentes segurar o sucesso em uma entrevista de
maneiras. Durante o processo de mu- trabalho.
dança de suas rotinas ocupacionais usu-
ais, os pacientes podem descobrir coisas Controlar uma casa e cuidar dos outros
novas sobre si mesmos. O terapeuta ha- pode fazer parte da função de um traba-
bilidoso ajuda os pacientes a integrar es- lhador. A alimentação apropriada é um
te novo autoconhecimento dentro da no- fator primordial na manutenção da saúde
va identidade. Esta nova versão da pes- mental, e é apoiada por fazer compras,
soa apresenta um repertório de estraté- preparar e limpar os alimentos, e limpar a
gias de adaptação para ajustar-se às casa. Uma pessoa que se torna incapaz
perdas funcionais associadas à doença. de realizar estas atividades por causa de
crises recorrentes de pânico, agorafobia
Onde a pessoa com uma incapacidade ou tendências suicidas pode começar por
começa a construir um novo conceito que focalizar a orientação, o seqüenciamento
a ajudará a navegar pela vida com dife- e as estratégias de adequação específi-
rentes habilidades funcionais? Muitos cas para os sintomas, durante a terapia
começam por aprender como realizar as ocupacional. Estas habilidades poderiam,
tarefas familiares. Ao estruturar experiên- então, ser utilizadas para organizar o es-
cias importantes que constroem os com- paço de trabalho da cozinha para a pre-
ponentes do desempenho, no ambiente paração segura e eficiente da refeição.
terapêutico, os terapeutas fornecem a

13
Os terapeutas ocupacionais ajudam o ente e pelo terapeuta e o ambiente em
indivíduo a selecionar, e em seguida a se que ocorre o engajamento na ocupação.
engajar em atividade que seja significati- Este padrão de tarefa-relação-ambiente é
va para sua vida. Focalizamos a identi- um processo complexo que exige aten-
dade, o ser humano — o eu — de uma ção para muitos fatores que podem influ-
pessoa, durante as intervenções terapêu- enciar a capacidade da pessoa para a-
ticas colaborativas. A adesão ao trata- prender a fazer, incluindo as percepções
mento é o ponto de partida. O envolvi- do comportamento não-verbal. Estruturar
mento na ocupação é central. Aprender os eventos de uma seção é a ligação en-
através da ocupação é o que possibilita a tre o objetivo do tratamento e o potencial
mudança. As capacidades funcionais no- para aprender através da experiência.
vas ou diferentes devem ser integradas Organizar as partes da tarefa abre opor-
ao autoconceito da pessoa. tunidades para experimentar a acomoda-
ção da incapacidade.
Objetivos Da Intervenção
É a interação única da tarefa, relaciona-
A avaliação precede o planejamento do mento e ambiente que ajuda os indiví-
tratamento. A síntese dos dados de ava- duos envolvidos no processo de mudan-
liação fornece informações sobre as ati- ça a se enxergar de maneira diferente,
vidades valorizadas, motivação e déficits experimentar os possíveis auto-atributos,
funcionais dos pacientes, que ajudam ou em seguida selecionar aqueles que serão
comprometem seus desempenhos fun- incorporados no autoconceito. O proces-
cionais. Com base nesta informação, os so de autodesenvolvimento deve ser feito
terapeutas precisam colaborar com os com uma combinação na interação com
pacientes para estabelecer objetivos para os outros e da autoconsciência e refle-
o ótimo funcionamento nas áreas de de- xão. O eu se desenvolve para proteger o
sempenho de importância para os paci- indivíduo, garantir o mínimo de sobrevida
entes. Os objetivos do tratamento devem e, de maneira ideal, para expandir a qua-
ligar os componentes e áreas de desem- lidade de vida. A finalidade do relaciona-
penho. Com freqüência, um grupo de mento ativo com a ocupação significativa
subabilidades é objetivado, como a inici- é ajudar a pessoa que sobreviveu à do-
ação da atividade, conduta social e auto- ença e à incapacidade a se redescobrir.
expressão.
Intervenção Para Fomentar O Auto-
Se a intervenção de terapia ocupacional controle
está voltada para os componentes do
desempenho ou identidade, a comunica- A função subjetiva do próprio eu é regular
ção sobre os objetivos terapêuticos é o comportamento, manter a saúde mental
crucial. Os terapeutas reforçam a relação e maximizar a contribuição produtiva de
terapêutica do reconhecimento total das cada pessoa nas funções valorizadas na
forças da pessoa, confirmando as dificul- sociedade. Seria provável que os tera-
dades impostas pela perda da função e peutas ocupacionais usassem várias es-
respeitando a disciplina e o compromisso tratégias para ajudar o paciente a se a-
de empreender as alterações básicas no dequar, visando compreender os estres-
estilo de vida. sores nas diversas situações. A seguir,
estão listadas partes daquelas estraté-
A terapia ocupacional envolve fomentar a gias. O terapeuta ajudará o paciente a:
alteração dentro do contexto das intera-
ções dinâmicas entre a ocupação, os 1. Definir os processos sensório-motor,
meios de relação negociados pelo paci-

14
cognitivo e psicossocial que rompem a 13. Desenvolver os sistemas de suporte
função adaptativa e a estabilidade para auxiliar no autocontrole.

2. Estabelecer os limites para o compor- Intervenção Para Fomentar O Auto-


tamento e reconhecer quando estabele- conceito Saudável
cer os limites.
O autocontrole é a nossa definição dos
3. Procurar a retroalimentação que de- objetivos, valores e crenças que "forne-
senvolva a autoconsciência. cem a direção e o significado da vida".
Saber quem somos unifica nossas ações
4. Integrar os aspectos dos valores psico- organiza as várias partes de nós mesmos
lógicos, interesses e autoconceito que em um todo coeso. A terapia ocupacional
são demonstrados através do envolvi- pode ajudar uma pessoa a desenvolver
mento nas ocupações. um autoconceito que suporta a pessoa
como um ser funcional. Algumas condu-
5. Organizar as estratégias para respon- tas possíveis são listadas a seguir. O te-
der aos sintomas negativos. rapeuta ajudará o paciente a:

6. Solucionar os problemas por meio do 1. Descrever e demonstrar as áreas de


estabelecimento de objetivos, monitora- componente de desempenho, em que
ção do progresso e resolução de impe- foram particularmente habilidosos, antes
dimentos para o funcionamento saudável. do acidente.

7. Lidar ao se comprometer com o con- 2. Descrever e demonstrar as áreas de


trole do desempenho para a saúde men- componente de desempenho que foram
tal. desafiadoras antes do acidente.

8. Separar a doença da personalidade e 3. Discutir como a capacidade limitada


trabalhar para mudar os comportamentos para executar o seqüenciamento, as ope-
negativos de auto-expressão oriundos da rações espaciais e a resolução de pro-
personalidade e temperamento. blemas, por exemplo, influenciará sua
capacidade de alcançar o que almeja na
9. Manter a saúde através da adesão ao vida.
medicamento, monitoração dos efeitos
colaterais e procura da orientação quan- 4. Expressar honestamente as reações
do necessário. para a própria perda de função (medo,
raiva, tristeza).
10. Equilibrar exercício, nutrição e ocu-
pação significativa em um horário sema- 5. Identificar seus interesses e valores
nal. mais significativos.

11. Aprender a analisar a atividade e a ler 6. Sugerir idéias para desenvolver condu-
os indícios ambientais para controlar o tas adaptativas para as ocupações de
tempo e as ocupações. interesse.

12. Gerar os diferentes meios para reagir 7. Avaliar os possíveis meios de se adap-
aos estressores e iniciá-los em situações tar para se engajar na ocupação, man-
de estresse. tendo a mente aberta e determinando
quais componentes suportam melhor as
áreas de desempenho.

15
8. Relacionar os aspectos bem-sucedidos 5. Incorporar as ocupações e relaciona-
da atual função em um quadro de auto- mentos que se tornaram mais importan-
funcionamento futuro para quem está tes desde o início da incapacidade.
saudável, apesar da incapacidade ou
deficiência. Intervenção Para Fomentar O Autode-
senvolvimento
Intervenção Que Constrói A Motivação
A terapia ocupacional pode ajudar uma
A motivação é o que liga o desempenho pessoa a desenvolver um autoconceito
ao resultado. É o meio que as pessoas por fornecer as oportunidades para a ex-
utilizam para iniciar, sustentar e dirigir as ploração sensório-motora e as interações
atividades psicológicas ou físicas para com os outros.
satisfazer as necessidades.
Algumas estratégias para conseguir isto
A motivação pode ser consciente ou in- são mostradas a seguir. O terapeuta aju-
consciente, biológica ou cognitiva, extrín- dará o paciente a:
seca (alimento, água, sexo, aprovação
social) ou intrínseca (que exige modifica- 1. Realizar as ocupações significativas
ção das estruturas cognitivas). que exigem habilidades sensório-motoras
familiares.
Porém a essência da motivação é que
organiza o si mesmo para controlar o 2. Realizar ocupações significativas que
comportamento. exigem habilidades sensório-motoras e
desafiadoras.
A terapia ocupacional pode ajudar a arti-
cular os motivadores que levam às alte- 3. Aprender como influenciar ativamente
rações no autofuncionamento e avaliar a seu ambiente.
intensidade e o foco do esquema de mo-
tivação do indivíduo. Algumas estratégias 4. Comparar e contrastar suas capacida-
são mostradas a seguir. O terapeuta aju- des com aquelas dos outros, construindo
dará o paciente a: o autocontrole e os padrões de conduta
social adequados para o autocontrole.
1. Produzir a seleção e o design das in-
tervenções ocupacionais no sentido da 5. Conferir maior controle sobre as habili-
expressão dos próprios valores. dades interpessoais para fomentar as
relações típicas entre colegas.
2. Usar o conhecimento das realizações
pregressas mais significativas para a es- Intervenções Relacionadas Com Os
trutura e monitorar as intervenções ocu- Atributos Físicos
pacionais.
Os atributos físicos estão ligados ao au-
3. Demonstrar e avaliar as realizações na toconceito. As alterações nas habilidades
ação pessoal que foram admiradas por e aspectos físicos que podem acompa-
outros. nhar a doença podem ter um efeito pro-
fundo sobre como as pessoas se sentem
4. Descrever os impedimentos para o a respeito de si próprias.
desempenho e demonstrar as condutas
para superar a procrastinação ou a baixa A intervenção da terapia ocupacional po-
realização. de abordar os atributos físicos da doen-

16
ça. Seguem algumas sugestões. O tera- Intervenções Relacionadas Com A
peuta ajudará o paciente a: Cognição E Os Estilos De Aprendizado

1. Auxiliar de maneira consistente no ato Alguns comprometimentos não influenci-


de se arrumar, tomar banho, higiene, am o funcionamento cognitivo pré-
vestir-se e na manutenção da saúde. mórbido. Contudo, as doenças que afe-
tam as habilidades cognitivas ou psicos-
2. Desenvolver abordagens para a con- sociais são mais prováveis de possuir
duta social que maximizem as habilida- efeitos negativos sobre o processamento
des de adequação. e aprendizado da informação.

3. Selecionar roupas para várias situa- As estratégias de terapia ocupacional


ções sociais e vestir-se da maneira apro- para se adaptarem os estilos de aprendi-
priada. zado e cognitivo estão listadas a seguir.
O terapeuta ajudará o paciente a:
4. Apresentar uma auto-imagem consis-
tente com o autoconceito nas atividades 1. Definir os estilos de aprendizado que
de trabalho e produtiva. ajudam e impedem o aprendizado e a
generalização.
Intervenção Focalizada Na Personali-
dade E No Temperamento 2. Demonstrar o uso de várias condutas
de aprendizado e avaliar a eficácia de
A personalidade consiste em nosso estilo cada uma delas.
usual, um modo típico de fazer as coisas,
uma reação emocional previsível ao que 3. Reconhecer as diferentes condutas
acontece ao nosso redor. para processar a informação e iniciar o
uso da conduta adequada nas interven-
O temperamento é um "estilo comporta- ções ocupacionais.
mental determinado constitucionalmente
que é algo estável com o passar do tem- Intervenção Para Promover A Auto-
po". Aceitação

Os terapeutas ocupacionais consideram A auto-aceitação é "a capacidade de gos-


a personalidade e o temperamento no tar de si mesmo na ausência de retroali-
tratamento. Seguem-se algumas estraté- mentação".
gias. O terapeuta ajudará o paciente a:
A terapia ocupacional trabalha de forma
1. Avaliar as características da personali- consistente para promover a auto-
dade e seus efeitos sobre o autocontrole. aceitação através da função. Várias es-
tratégias estão listadas. O terapeuta aju-
2. Monitorar as reações emocionais aos dará o paciente a:
eventos da vida e procurar ajudar, quan-
do necessário, para controlar a auto- 1. Tornar-se ciente das forças e limita-
expressão. ções nos valores psicológicos, interesses
e autoconceito.
3. Planejar condutas saudáveis para con-
trolar as diferentes situações de vida: 2. Aprender sobre si próprio, ao avaliar o
teste-piloto destas em situações de re- desempenho.
presentação.

17
3. Tolerar a incapacidade de ser perfeito de ocupação (participação social, lazer,
em todas as ocasiões como um elemento trabalho, educação e brincar);
do autocontrole.
 Uso e treino de dispositivos de tec-
4. Ajustar-se às ambigüidades e inconsis- nologia assistiva (comunicação alternati-
tências dele mesmo no esforço para me- va, confecção de adaptações e órteses
lhorar o autocontrole. de MMSS);
 Orientações, análise ambiental e de
5. Aceitar as características ou compe- barreiras arquitetônicas.
tências menos desejáveis como parte da
estratégia de adequação para diminuir o Neste contexto a terapia ocupacional ob-
estresse. jetiva o engajamento do individuo em su-
as atividades cotidianas de maneira mais
Terapia Ocupacional independente possível e satisfatória.
No Centro Hospitalar de Reabilitação o A Terapia Ocupacional presta atendimen-
foco da terapia ocupacional é a reabilita- to no Ambulatório e Enfermarias. o pro-
ção da disfunção física, sensorial e inter- fissional realiza Avaliação Global, visita
venção nas limitações de desempenho domiciliar e escolar, atendimentos indivi-
ocupacional visando maximizar a auto- duais e em grupos.
nomia nas atividades de vida diária
(AVD‘s) do individuo. A característica es-  Atividades de Vida Diária (AVD´s):
sencial da Terapia Ocupacional é o en- Treino de atividades de vida diária (higie-
volvimento ativo do indivíduo no processo ne pessoal, cuidado com o corpo, alimen-
terapêutico visando o retorno funcional e tação, vestuário, mobilidade funcional,
o engajamento do indivíduo em suas ati- etc.
vidades cotidianas.
 Treino de atividades instrumentais
No tratamento a disfunção fisica no CHR de vida diária (AIVD's):cuidado com o
o terapeuta ocupacional realiza: ambiente, limpeza, preparar refeições,
meios de comunicação, etc.
 Orientações aos pacientes, cuidado-
res e familiares;  Uso e treino de dispositivos de tec-
nologia assistiva: confecção de adapta-
 Avaliações padronizadas (MIF, Bar- ções e órteses de MMSS;
thel, COPM, GAS, etc.);
Formação Profissional do Terapeuta
 Estimular estruturas e funções do Ocupacional
corpo (neuro-musculo- esqueléticas e
cognitivas); A formação do Terapeuta Ocupacional
tem por objetivo dotar o profissional dos
 Treino de atividades de vida diária conhecimentos requeridos para o exercí-
(higiene pessoal, cuidado com o corpo, cio das seguintes competências e habili-
alimentação, vestuário, mobilidade fun- dades gerais:
cional, etc);
I. Atenção à saúde: os profissionais de
 Treino de atividades instrumentais saúde, dentro de seu âmbito profissional,
de vida diária (cuidado com o ambiente, devem estar aptos a desenvolver ações
limpeza, preparar refeições, etc); de prevenção, promoção, proteção e re-
abilitação da saúde, tanto em nível indivi-
 Estímulo e orientações para o enga- dual quanto coletivo. Cada profissional
jamento do indivíduo nas demais áreas deve assegurar que sua prática seja rea-

18
lizada de forma integrada e contínua com ministração tanto da força de trabalho,
as demais instâncias do sistema de saú- dos recursos físicos e materiais e de in-
de, sendo capaz de pensar criticamente, formação, da mesma forma que devem
de analisar os problemas da sociedade e estar aptos a serem empreendedo-
de procurar soluções para os mesmos. res, gestores, empregadores
Os profissionais devem realizar seus ser- ou lideranças na equipe de saúde;
viços dentro dos mais altos padrões de
qualidade e dos princípios da éti- VI. Educação permanente: os profissio-
ca/bioética, tendo em conta que a res- nais devem ser capazes de aprender
ponsabilidade da atenção à saúde não se continuamente, tanto na sua formação,
encerra com o ato técnico, mas sim, com quanto na sua prática. Desta forma, os
a resolução do problema de saúde, tanto profissionais de saúde devem aprender a
em nível individual como coletivo; aprender e ter responsabilidade e com-
promisso com a sua educação e o trei-
II. Tomada de decisões: o trabalho dos namento/estágios das futuras gerações
profissionais de saúde deve estar funda- de profissionais, mas proporcionando
mentado na capacidade de tomar deci- condições para que haja benefício mútuo
sões visando o uso apropriado, eficácia e entre os futuros profissionais e os profis-
custo efetividade, da força de trabalho, sionais dos serviços, inclusive, estimu-
de medicamentos, de equipamentos, de lando e desenvolvendo a mobilidade a-
procedimentos e de práticas. Para este cadêmico/ profissional, a formação e a
fim, os mesmos devem possuir compe- cooperação através de redes nacionais e
tências e habilidades para avaliar, siste- internacionais.
matizar e decidir as condutas mais ade-
quadas, baseadas em evidências científi- A formação do Terapeuta Ocupacional
cas; tem por objetivo dotar o profissional dos
conhecimentos requeridos para o exercí-
III. Comunicação: os profissionais de sa- cio das seguintes competências e habili-
úde devem ser acessíveis e devem man- dades específicas:
ter a confidencialidade das informações a
eles confiadas, na interação com outros I - relacionar a problemática específica da
profissionais de saúde e o público em população com a qual trabalhará, com os
geral. A comunicação envolve comunica- seus processos sociais, culturais e políti-
ção verbal, não verbal e habilidades de cos e perceber que a emancipação e a
escrita e leitura; o domínio de, pelo me- autonomia da população atendida são os
nos, uma língua estrangeira e de tecno- principais objetivos a serem atingidos
logias de comunicação e informação; pelos planos de ação e tratamento;

IV. Liderança: no trabalho em equipe II - conhecer os fatores sociais, econômi-


multiprofissional, os profissionais de saú- cos, culturais e políticos da vida do país,
de deverão estar aptos a assumirem po- fundamentais à cidadania e a prática pro-
sições de liderança, sempre tendo em fissional;
vista o bem estar da comunidade. A lide-
III - reconhecer a saúde como direito e
rança envolve compromisso, responsabi-
atuar de forma a garantir a integralidade
lidade, empatia, habilidade para tomada
da assistência, entendida como conjunto
de decisões, comunicação e gerencia-
articulado e contínuo das ações e servi-
mento de forma efetiva e eficaz;
ços preventivos e curativos, individuais e
V. Administração e gerenciamento: os coletivos, exigidos para cada caso em
profissionais devem estar aptos a tomar todos os níveis de complexidade do sis-
iniciativas, fazer o gerenciamento e ad- tema;

19
IV - compreender as relações saúde- gem terapêutica apropriada e a avaliação
sociedade como também as relações de dos resultados alcançados.
exclusão-inclusão social, bem como par-
ticipar da formulação e implementação XI - desempenhar atividades de assistên-
das políticas sociais, sejam estas setori- cia, ensino, pesquisa, planejamento e
ais (políticas de saúde, infância e adoles- gestão de serviços e de políticas, de as-
cência, educação, trabalho, promoção sessoria e consultoria de projetos, em-
social, etc) ou intersetoriais; presas e organizações.

V - reconhecer as intensas modificações XII - emitir laudos, pareceres, atestados e


nas relações societárias, de trabalho e relatórios;
comunicação em âmbito mundial assim
XIII - conhecer o processo saúde-doença,
como entender os desafios que tais mu-
nas suas múltiplas determinações con-
danças
templando a integração dos aspectos
contemporâneas virão a trazer; biológicos, sociais, psíquicos, culturais e
a percepção do valor dessa integração
VI - inserir-se profissionalmente nos di- para a vida de relação e produção;
versos níveis de atenção à saú-
de, atuando em programas de promoção, XIV- conhecer e analisar a estrutura con-
prevenção, proteção e recuperação da juntural da sociedade brasileira em rela-
saúde, assim como em programas de ção ao perfil de produção e da ocupação
promoção e inclusão social, educação e dos diferentes indivíduos que a compõe;
reabilitação; XV - conhecer as políticas sociais (de
VII - explorar recursos pessoais, técnicos saúde, educação, trabalho, promoção
e profissionais para a condução de pro- social e, infância e adolescência) e a in-
cessos terapêuticos numa perspectiva serção do terapeuta ocupacional nesse
interdisciplinar; processo;

VIII - compreender o processo de cons- XVI - conhecer e correlacionar as reali-


trução do fazer humano, isto é, de como dades regionais no que diz respeito ao
o homem realiza suas escolhas ocupa- perfil de morbi-mortalidade e as priorida-
cionais, utiliza e desenvolve suas habili- des assistenciais visando à formulação
dades, se reconhece e reconhece a sua de estratégias de intervenção em Terapia
ação; Ocupacional;

IX - identificar, entender, analisar e inter- XVII - conhecer a problemática das popu-


pretar as desordens da dimensão ocupa- lações que apresentam dificuldades tem-
cional do ser humano e a utilizar, co- porárias ou permanentes de inserção e
mo instrumento de intervenção, as dife- participação na vida social;
rentes atividades humanas quais sejam
XVIII - conhecer a influência das diferen-
as artes, o trabalho, o lazer, a cultura, as
tes dinâmicas culturais nos processos de
atividades artesanais, o auto-cuidado, as
inclusão, exclusão e estigmatização;
atividades cotidianas e sociais, dentre
outras; XIX - conhecer os fundamentos históri-
cos, filosóficos e metodológicos da Tera-
X - utilizar o raciocínio terapêutico ocupa-
pia Ocupacional e seus diferentes mode-
cional para realizar a análise da situação
los de intervenção;
na qual se propõe a intervir, o diagnóstico
clínico e/ou institucional, a intervenção
propriamente dita, a escolha da aborda-

20
XX - conhecer métodos e técnicas de XXVIII - conhecer as bases conceituais
investigação e elaboração de trabalhos das terapias pelo movimento: neuroevo-
acadêmicos e científicos; lutivas, neuro- fisiológicas e biomecâni-
cas, psicocorporais, cinesioterápicas en-
XXI - conhecer os princípios éticos que tre outras;
norteiam os terapeutas ocupacionais em
relação as suas atividades de pesquisa, à XXIX - conhecer a tecnologia assistiva e
prática profissional, à participação em acessibilidade, através da indicação, con-
equipes interprofissionais, bem como às fecção e treinamento de dispositivos, a-
relações terapeuta paciente / cliente / daptações, órteses, próteses e software;
usuário;
XXX - desenvolver atividades profissio-
XXII - conhecer a atuação inter, multi e nais com diferentes grupos populacionais
transdisciplinar e transcultural pautada em situação de risco e ou alteração nos
pelo profissionalismo, ética e eqüidade aspectos: físico, sensorial, percepto-
de papéis; cognitivo, mental, psíquico e social;
XXIII - conhecer os principais métodos de XXXI - vivenciar atividades profissionais
avaliação e registro, formulação de obje- nos diferentes equipamentos sociais e de
tivos, estratégias de intervenção e verifi- saúde, sejam hospitais, unidades básicas
cação da eficácia das ações propostas de saúde, comunidades, instituições em
em Terapia Ocupacional; regime aberto ou fechado, creches, cen-
tros de referência, convivência e de rea-
XXIV - conhecer os principais procedi- bilitação, cooperativas, oficinas, institui-
mentos e intervenções terapêutico ocu- ções abrigadas e empresas, dentre ou-
pacionais utilizados tais como: atendi- tros;
mentos individuais, grupais, familiares,
institucionais, coletivos e comunitários; XXXII - conhecer a estrutura anátomo-
fisiológica e cinesiológica do ser huma-
XXV - desenvolver habilidades pessoais no e o processo patológico geral e dos
e atitudes necessárias para a prática pro- sistemas;
fissional, a saber: consciência das pró-
prias potencialidades e limitações, adap- XXXIII - conhecer a estrutura psíquica do
tabilidade e flexibilidade, equilíbrio emo- ser humano, enfocada pelos diferentes
cional, empatia, criticidade, autonomia modelos teóricos da personalidade;
intelectual e exercício da comunicação
verbal e não verbal; XXXIV - conhecer o desenvolvimento do
ser humano em suas diferentes fases
XXVI - desenvolver capacidade de atuar enfocado por várias teorias;
enquanto agente facilitador, transforma-
dor e integrador junto às comunidades e XXXV - conhecer as forças sociais do
agrupamentos sociais através de atitudes ambiente, dos movimentos da sociedade
permeadas pela noção de complementa- e seu impacto sobre os indivíduos.
ridade e inclusão;
A formação do Terapeuta Ocupacional
XXVII - conhecer, experimentar, analisar, deverá atender ao sistema de saúde vi-
utilizar e avaliar a estrutura e dinâmica gente no país, a atenção integral da saú-
das atividades e trabalho humano, tais de no sistema regionalizado e hierarqui-
como: atividades artesanais, artísticas, zado de referência e contra-referência e
corporais, lúdicas, lazer, cotidianas, soci- o trabalho em equipe.
ais e culturais; Terapia Ocupacional Nos Processos
De Saúde / Envelhecimento

21
O indivíduo idoso vivencia transforma- Velhice E Doença De Alzheimer
ções biológicas, físicas, psicológicas e
sociais ocasionadas pelo processo gra- Segundo a Organização Mundial da Saú-
dual, irreversível, progressivo, inevitável de, a definição de idoso inicia aos 65 a-
e universal de envelhecimento, definido nos de idade nos países desenvolvidos, e
como envelhecimento primário. aos 60 anos nos países em desenvolvi-
mento. No Brasil, de acordo com o Esta-
Somado a isto, o indivíduo com doença tuto do Idoso, as pessoas com idade i-
de Alzheimer passa por um processo pa- gual ou superior a 60 anos são reconhe-
tológico de envelhecimento, definido co- cidas como idosas.
mo envelhecimento secundário, no qual
ocorre degeneração do sistema nervoso No Brasil, houve um crescimento expres-
central, resultando na perda progressiva sivo da expectativa de vida, levando ao
das habilidades cognitivas. aumento do número de idosos.

Por ser a perda cognitiva um dos princi- Mas este crescimento não vem sendo
pais fatores relacionado à redução do acompanhado por uma melhor qualidade
desempenho ocupacional do indivíduo de vida, principalmente em decorrência
com doença de Alzheimer, o objetivo da alta incidência de doenças, destacan-
deste artigo é apresentar a intervenção do-se as de natureza crônica, como a
terapêutica ocupacional com indivíduos doença de Alzheimer.
com doença de Alzheimer, com enfoque
Esta, apesar de se manifestar a partir dos
na manutenção das habilidades cogniti-
50 anos de idade, aumenta significativa-
vas no estágio inicial da doença.
mente sua incidência ao longo dos anos,
Para tanto, apresenta-se os aspectos da caracterizando-se, portanto, como uma
velhice e da doença de Alzheimer, a fun- doença da velhice.1
damentação terapêutica ocupacional pa-
Na estimativa do Ministério da Saúde, de
ra a intervenção proposta e a intervenção
600 mil a 1 millhão dos brasileiros apre-
propriamente dita.
sentam a doença de Alzheimer. Em todo
Método mundo, 15 milhões de pessoas têm a
doença de Alzheimer. Com o aumento da
Para levantamento de estudos publica- expectativa de vida, estima-se que em
dos sobre o tema da pesquisa, adotou-se 2040 o número de indivíduos com de-
como critério de inclusão a revisão biblio- mência, não somente Alzheimer, será de
gráfica de livros, artigos de revistas e ar- 81,1 milhões.
tigos em base de dados, publicados no
período de 1998 a 2006. Foram consul- A doença de Alzheimer é uma doença
tadas as bases de dados Bireme, SciELO neurológica degenerativa, lenta e pro-
e OTseeker. gressiva. O indivíduo atingido por ela a-
presenta progressiva perturbação de múl-
Do resultado do levantamento, foram se- tiplas funções cognitivas, incluindo me-
lecionados e agregados os dados e in- mória, atenção e aprendizado, pensa-
formações sobre os comprometimentos mento, orientação, compreensão, cálculo,
cognitivos manifestados nos indivíduos linguagem e julgamento.
portadores de doença de Alzheimer e das
intervenções cognitivas, como forma de O comprometimento das funções cogniti-
manter as habilidades cognitivas desses vas é comumente acompanhado, e oca-
indivíduos. Outras formas de intervenção sionalmente precedido, por deterioração
e pesquisas anteriores a 1998 foram ex- do controle emocional, comportamento
cluídas da pesquisa. social ou motivação.

22
Estes comprometimentos levam à altera- diferente forma de desenvolver determi-
ção do desempenho ocupacional do indi- nada tarefa.
víduo com doença de Alzheimer.
Pode ocorrer através de níveis orgânicos,
Assim, para compreensão do impacto da com o acontecimento do fenômeno da
doença de Alzheimer na funcionalidade, plasticidade, no qual áreas cerebrais as-
faz-se necessário abordar o processo do sumem funções de outras áreas lesadas
envelhecimento cognitivo. ou ineficazes; ou em nível cognitivo, que
envolve a utilização de diferentes estra-
A teoria de mecanismos de ganhos e tégias, como estratégias de compensa-
perdas é uma das teorias que embasam ção, desenvolvimento da expertise e a
a compreensão do processo de envelhe- formação de ambientes colaborativos.
cimento cognitivo. Esta teoria se baseia
no fato de que perdas ocorrem desde o Esclarece-se que:
nascimento e que, no percurso da vida,
inclusive na velhice, estabelece-se uma  as estratégias de compensação são
proporção entre perdas, ganhos e fun- novas técnicas utilizadas para realizar
ções mantidas. tarefas antigas;

Há complexa interação das diferentes · o desenvolvimento da expertise é a


funções cognitivas, sendo que na velhice experiência e o conhecimento avançado
consideram-se ganhos uma função cog- que o indivíduo adquire ao longo dos a-
nitiva que: melhora com a idade; man- nos para realizar determinada atividade,
tém-se, apesar do envelhecimento; tem servindo como facilitadora para que o
um pequeno declínio se comparada com indivíduo realize uma atividade;
outra; forma-se a partir de novas estraté-
· a formação de ambientes colaborati-
gias cognitivas para suprir dificuldades
vos é a utilização de estratégias que faci-
em outras funções. litem a linguagem e comunicação do indi-
Além disso, a teoria de mecanismos de víduo em seu meio, por exemplo, dicas e
ganhos e perdas considera também as interações dialógicas.
perdas, acreditando haver uma propor-
A abordagem de ganhos em função de
ção estabelecida entre perdas, ganhos e
perdas, derivada da teoria de mecanis-
funções mantidas, sendo considerada
mos de ganhos e perdas, parece ser a
uma teoria otimista comparando-se às
mais promissora, pois acredita na capa-
teorias que focalizam apenas perdas. cidade do idoso para elaborar novas es-
Conclui-se que a teoria de mecanismos tratégias adaptativas às suas dificuldades
de ganhos e perdas é mais realista e e permite elaborar um programa de inter-
consegue abordar a complexidade do venção para o declínio cognitivo patológi-
envelhecimento cognitivo. co.11

Deriva desta teoria a abordagem de ga- A partir das elucidações acerca do indiví-
nhos em função de perdas. Esta aborda- duo com doença de Alzheimer e os as-
gem é bastante conhecida em terapias pectos a ele inerentes, será apresentada
com indivíduos com lesões cerebrais. a fundamentação para a intervenção pro-
Baseia-se em ganhos para suprir as difi- posta neste artigo.
culdades que surgem gradativamente
Fundamentação Teórica Para A Inter-
nos processos demências, focalizando
venção Do Terapeuta Ocupacional
ganhos específicos. Esses ganhos se
Com Indivíduos Com Doença De Al-
referem a uma nova aquisição ou a uma
zheimer

23
A intervenção terapêutica ocupacional, Os componentes de desempenho são
em seus contextos de saúde e socieda- compreendidos como capacidades hu-
de, pressupõe um saber teórico-prático, manas fundamentais que – em graus va-
organizando um modo específico de in- riados e em diferentes combinações –
tervenção mediante o qual confirma ou são necessárias para o engajamento
contesta este saber. bem-sucedido nas áreas de desempe-
nho.
A terapia ocupacional mostra-se inerente
à ocupação humana. A busca pelo signi- Estes componentes estão divididos em
ficado da ocupação humana direcionou sensório-motor, integração cognitiva e
os primeiros princípios teóricos da profis- componente cognitivos, habilidades psi-
são,13 que foram descritos em três consi- cossociais e componentes psicológicos.
derações:
Os contextos de desempe-
· a primeira é que os humanos foram nho caraterizam-se como situações ou
conhecidos como possuidores de uma fatores que influenciam o engajamento
natureza ocupacional; da pessoa nas áreas de desempenho
desejadas e/ou necessárias” , consistin-
· a segunda, que a doença foi vista como do estes em aspectos temporais e ambi-
sendo um potencial para interromper ou ente.
romper a ocupação;
A adequada relação entre áreas contex-
· a última, que a ocupação foi reconheci- tos e componentes de desempenho de-
da como um organizador natural do com- termina o sucesso do desempenho ocu-
portamento humano, que poderia ser u- pacional, sendo este sucesso a preocu-
sada terapeuticamente para refazer ou pação final da intervenção terapêutica
reorganizar o comportamento cotidiano. ocupacional.
De acordo com esses pressupostos, i- Este sucesso é caracterizado como
dentifica-se que o indivíduo com doença “ performance ocupacional competente” ,
de Alzheimer tem sua essência ocupa- a qual depende da interação complexa
cional rompida pelos sintomas trazidos entre o indivíduo, o ambiente e as coisas
por esta, podendo, no seu estágio inicial, que ele faz. Acrescenta-se que um equi-
ser utilizada a ocupação para reorganizar líbrio adequado no desempenho ocupa-
o comportamento cotidiano. cional é essencial para a saúde.
Esta ocupação, inerente à pessoa e ao Déficit, doença ou lesão que afete qual-
ambiente no qual está inserida, caracteri- quer componente de desempenho pode
za o desempenho ocupacional. Nessa levar a uma falha na integração dos sub-
perspectiva, esclarece-se que os elemen- sistemas componentes de desempenho,
tos do desempenho ocupacional são as e, assim, resultar em falha ou distúrbio
áreas, os componentes e os contextos de nas áreas de desempenho.
desempenho.
A inabilidade para engajar ocupações e a
As áreas de desempenho são amplas incapacidade de realizar atividades diá-
categorias de atividade humana, que fa- rias comuns que o indivíduo quer ou ne-
zem parte, tipicamente, da vida cotidiana, cessita fazer, define a disfunção ocupa-
subdivida em: atividades de vida diária, cional.
atividades de trabalho e produtivas, e
atividades de lazer ou de diversão. Dessa maneira, a doença de Alzheimer
leva a déficits nos componentes de de-
sempenho ocupacional, o que por sua

24
vez leva à deterioração em áreas de de- A visão reducionista defende a busca da
sempenho ocupacional, nos contextos do compreensão da natureza a partir das
desempenho ocupacional em que são partes, sob uma visão objetiva e utilitária
realizadas. da realidade concreta. Estudando os
componentes, as funções e as estruturas
Considerando que estes estejam afeta- das partes, o todo pode ser compreendi-
dos, o indivíduo com doença de Alzhei- do.
mer apresenta uma disfunção ocupacio-
nal, justificando a intervenção do terapeu- Essas visões de mundo são denomina-
ta ocupacional. das como paradigmas da terapia ocupa-
cional, pois todos os outros modelos ou
Essa intervenção tem sido extremamente estruturas de referência utilizados pelos
diversificada, quanto às técnicas e teorias terapeutas ocupacionais podem ser vis-
adotadas, em função das finalidades dos tos encaixados nestas visões. Este artigo
programas e serviços que a requisitam. embasa-se na visão reducionista.
As diversificações de posturas e ações Apresentam-se, assim, os Modelos de
significam, na verdade, as possibilidades Processo de Terapia Ocupacional Huma-
de adequações de seus instrumentais em nista, Positivista e Materialista Histórico.
relação às finalidades dos programas e
serviços, e das políticas sociais que os O Modelo de Processo Humanista de-
engendram e que, privilegiando determi- senvolve-se na inexistência de padrões
nados conceitos de Homem, Saúde e preestabelecidos, sendo o cliente que
Doença, imprimem determinados mode- determina os caminhos a percorrer no
los tecnológicos na assistência. processo terapêutico ocupacional, o que
torna a relação terapêutica o centro deste
A partir dessa caracterização, cabe apre- processo; o Positivista visualiza o homem
sentar as perspectivas filosóficas que dão e a sociedade do ponto de vista da doen-
origem às diferentes técnicas e teorias ça, o que caracteriza um processo tera-
adotadas para a intervenção do terapeuta pêutico claro e definido, com uma estru-
ocupacional, para melhor compreensão tura rígida de procedimentos; e o Modelo
da abordagem proposta neste trabalho. de Processo Materialista Histórico é por
definição criativa, transformadora, questi-
Existem duas diferentes perspectivas
onador do contexto em que se efetiva,
filosóficas: a visão reducionista e a visão
possibilitando a melhoria da qualidade de
holística.
vida dos indivíduos pela construção de
Essas perspectivas filosóficas fundamen- um saber-fazer inserido nas práticas, nas
tam as várias teorias concernentes à na- relações e nas experiências do cotidiano.
tureza dos seres humanos e seus ambi-
Desses modelos, é proposta a utilização
entes, inclusive as diversas teorias em
do Modelo de Processo Positivista, pois
terapia ocupacional.
este tem como foco principal tratar a do-
A visão holística defende que o mundo ença, seguindo, para tanto, uma estrutura
percebido é indivisível, considerando que rígida de procedimentos.
o todo é maior que a soma das partes,
Tal estrutura se configura num encadea-
onde os elementos (abstratos e concre-
mento de etapas distintas e logicamente
tos) não podem ser compreendidos iso-
ordenadas: encaminhamento, entrevista
ladamente. Considera a experiência indi-
inicial, avaliação, planejamento de pro-
vidual, em sua relação com outros e com
grama de tratamento, tratamento propri-
o ambiente.
amente dito, reavaliações e alta.

25
A estrutura rígida proposta pelo Modelo A EPR psicológica baseia-se nos estudos
de Processo Positivista pode ser vista científicos do comportamento e dos pro-
como possível para a intervenção com cessos mentais, associados à neurofisio-
indivíduos com doença de Alzheimer em logia.
estágio inicial, pois focaliza o processo
terapêutico a partir dos sintomas apre- A partir disso, tenta compreender o com-
sentados pelo indivíduo, de acordo com portamento, o desenvolvimento humano,
as etapas descritas. No tratamento dos os aspectos psicológicos da aprendiza-
indivíduos com doença de Alzheimer, gem e a cognição. Além disso, tenta en-
estas etapas são seguidas conforme o tender o desenvolvimento da identidade
modelo propõe. pessoal e personalidade, papeis huma-
nos e relações, e o comportamento das
Vista a característica progressiva da do- pessoas em grupos.
ença, as etapas de reavaliação, de plane-
jamento do programa de tratamento e de Considerando esses aspectos, a EPR
tratamento propriamente dito são realiza- psicológica embasou o surgimento de
das a cada sinal de evolução ou involu- várias estruturas aplicadas à prática tera-
ção do indivíduo, pois os objetivos da pêutica ocupacional, dentre as quais está
intervenção alteram de acordo com o a cognitiva, que pode ser utilizada para a
quadro apresentado pelo indivíduo. intervenção com indivíduos em estágio
inicial da doença de Alzheimer.
Partindo do Modelo de Processo Positi-
vista, diversas estruturas de intervenção Conforme abordado anteriormente, tem-
podem ser vistas como encaixadas e de- se que a doença de Alzheimer, por seu
rivadas deste, seguindo a filosofia redu- processo degenerativo, altera os compo-
cionista. nentes de desempenho, atingindo princi-
palmente a integração cognitiva e os
As estruturas de referência formam um componentes cognitivos.
grupo de conceitos, definições, postula-
dos e princípios internamente consisten- Para intervir na integração cognitiva e
tes e inter-relacionados que propicia uma nos componentes cognitivos, a estrutura
descrição sistemática e a prescrição para aplicada de referência cognitiva se faz
uma interação do profissional com seu adequada, pois aborda as capacidades
domínio de interesse. Isto [...] serve como de informação do cérebro, sendo empre-
guia para suas ações em relação aos gada majoritariamente quando se consi-
objetos humanos e não-humanos. dera a disfunção cognitiva adquirida,
sendo uma delas as condições cerebrais
Assim, as estruturas de referência são degenerativas, como as demências.
organizadas, em primárias e em aplica-
das (à prática terapêutica ocupacional). Neste aspecto, o indivíduo com doença
de Alzheimer poderá se beneficiar desta
As estruturas primárias de referência (E- estrutura de intervenção, favorecendo
PR) utilizam-se das ciências básicas, e- sua integração cognitiva e seus compo-
xemplificando-se a fisiologia, a psicologia nentes cognitivos e, consequentemente,
e a educação, como conhecimento em- suas áreas de desempenho nos contex-
prestado para fundamentar as teorias tos de desempenho que o indivíduo vi-
que se aplicam à prática em terapia ocu- vencia.
pacional. Dessa forma, a ciência básica
psicológica deu origem à EPR psicológi- No entanto, é importante ressaltar a exis-
ca. A elucidação desta se faz necessária tência e validade de outras intervenções
para compreender a abordagem proposta multidisciplinares, como o uso da medi-
neste artigo. cação, a reabilitação neuropsicológica

26
(RN), que inclui a intervenção cognitiva, e Enquanto a terapia individual permite di-
o grupo informativo, com os pacientes, os recionar o tratamento conforme a neces-
familiares e os cuidadores. sidade do paciente, a terapia em grupo
proporciona um contato entre os pacien-
Tanto o uso da medicação como a RN tes, o que favorece habilidades comuni-
têm apresentado resultados positivos, cativas e a quebra da monotonia.
como a melhora das funções cognitivas e
do desempenho na realização das ativi- Dessa forma, o uso combinado de inter-
dades de vida diária (AVD). venções individual e grupal é recomen-
dado para obter sucesso mais amplo no
A intervenção cognitiva pelo terapeuta tratamento.
ocupacional faz parte do trabalho multi-
disciplinar com o indivíduo com doença Independentemente da forma de inter-
de Alzheimer. venção, o paciente deverá passar pelos
processos de avaliação, terapia propria-
Baseada nos fundamentos apresentados, mente dita e alta, equivalendo-se com o
a revisão de literatura mostra possível a modelo de processo positivista apresen-
intervenção cognitiva do terapeuta ocu- tado anteriormente.
pacional com indivíduos com doença de
Alzheimer, a qual será descrita a seguir. O processo de avaliação é de significati-
va importância, pois permite ao terapeuta
Intervenção Cognitiva Do Terapeuta ocupacional ter ciência de quais compo-
Ocupacional Com Indivíduos Com Do- nentes estão deficitários e quais estão
ença De Alzheimer preservados, possibilitando decidir em
que direção o tratamento será realizado.
A doença de Alzheimer é progressiva e
de um prognóstico difícil, com expectati- Os processos de avaliação permitem a-
vas de melhoras limitadas. No entanto, inda monitorar a progressão da doença
as intervenções cognitivas podem orga- de Alzheimer e avaliar o nível de benefí-
nizar as atividades do paciente, promo- cio das intervenções.
vendo uma melhor qualidade de vida.22
A partir disso, o terapeuta ocupacional
A base para a intervenção cognitiva é a poderá intervir para abordar a relação
crença na capacidade de regeneração do entre processos falhos, preservados e
cérebro, conhecida como plasticidade estratégias compensatórias.
cerebral.
Essas intervenções são possíveis em
Caracterizada como uma mudança adap- pacientes com prejuízos cognitivos de
tativa na estrutura e funções do sistema leves a moderados, pois estes ainda
nervoso, a plasticidade é um suporte or- possuem a capacidade de aprendizagem
gânico à recuperação cognitiva, melho- e podem beneficiar-se de estratégias pa-
rando o déficit causado pela patologia. ra compensar a perda das habilidades.
Neste contexto, acrescenta-se que a in- Dessa forma, e lembrando que a ocupa-
tervenção cognitiva serve como caminho ção humana é o foco da intervenção do
para lentificar o processo degenerativo terapeuta ocupacional, ressalta-se a im-
no estágio inicial, sobretudo em interação portância de manter preservada pelo
com estratégias medicamentosas. maior tempo possível a integridade da
ocupação, através da realização de ativi-
Esta intervenção cognitiva pode ser reali-
dades, pois:
zada de forma individualizada ou em gru-
po. As duas formas complementam-se.

27
· o fazer, a ação, o agir, são necessida- que estiver alterado, compensar o que foi
des de todo ser humano; perdido, utilizando o que estiver conser-
vado.24
· reverter o processo da doença ainda
não é possível, mas o fato de o paciente Dessa forma, cabe ao terapeuta ocupa-
realizar atividades estimula-o a usar suas cional empenhar-se na prevenção do a-
capacidades remanescentes e o ajuda a gravamento progressivo dos principais
mantê-las; é um trabalho de prevenção e sintomas cognitivos, visando à otimiza-
manutenção; ção da qualidade de vida do indivíduo
com doença de Alzheimer, contando, pa-
· a atividade é um meio para a comuni- ra isto, além da contribuição de outros
cação verbal e não-verbal; profissionais, com a participação direta
no tratamento tanto do próprio paciente,
· a realização de atividades terapêuticas
como da família e/ou do cuidador e da
ocupacionais favorece a qualidade de
comunidade.
vida, uma vez que permite sua realização
dentro dos limites de autonomia e inde- Assim, apesar de o processo terapêutico
pendência do indivíduo; apresentado neste trabalho se basear no
modelo de processo positivista, o qual
· a atividade dá um sentido de identida-
enfoca o paciente e sua doença, o envol-
de, de prazer, ajuda a preservar a digni-
vimento familiar/social no tratamento e a
dade da pessoa.
busca por um ambiente acolhedor fazem
Para que a realização de atividades com que o terapeuta ocupacional aborde
cumpra seu papel terapêutico com os também estes aspectos, utilizando a vi-
indivíduos com doença de Alzheimer, as são humanista como complementar.
atividades devem ser simplificadas, frag-
Dessa forma, o processo terapêutico es-
mentadas em pequenas tarefas, repetiti-
tará centrado não somente na doença,
vas, rotineiras, familiares e adaptadas na
mas também na relação estabelecida
medida em que as habilidades do cliente
entre o indivíduo com doença de Alzhei-
vão diminuindo.
mer, sua rede de suporte e o terapeuta
Ressalta-se, ainda, a importância de o ocupacional.
terapeuta ocupacional perceber e corre-
Integração Sensorial: Uma Vertente Da
lacionar a perda cognitiva com o declínio
das habilidades funcionais, abordando a Terapia Ocupacional
realização das atividades de vida diária,
atividades de trabalho e produtivas, e O nosso cérebro recebe a todo o momen-
atividades de lazer ou de diversão. to incontáveis bits de informação senso-
rial, que rapidamente localiza, processa e
A evolução da doença de Alzheimer pode responde de acordo com o tipo e ordem
ser retardada e estratégias de interven-
de sensação, algo parecido a um polícia
ção cognitiva podem melhorar a qualida-
de de vida, a autonomia funcional e o a dirigir o tráfico.
estado afetivo dos pacientes e seus fami-
Quando as sensações fluem de forma
liares.
organizada e integrada, o cérebro pode
Portanto, define-se que o papel do profis- usar essas sensações para formar per-
sional que atua com indivíduos com do- cepções, comportamentos e aprender.
ença de Alzheimer está em melhorar a Quando esta fluência é desorganizada, a
qualidade de vida e o bem-estar deste,
vida pode ser como o tráfico em hora de
acreditando que se pode reconstruir o
ponta (J.Ayres).

28
A integração sensorial é a organização  Dificuldades na modulação sensorial:
do uso dessas sensações, ou seja, é a têm dificuldade em se adaptar a mudan-
capacidade de sentir, compreender e or- ças de rotinas; têm um nível alto de dis-
ganizar a informação sensorial a partir de tração; têm um nível de atividade eleva-
um corpo e no seu ambiente. do; experienciam dificuldades nas transi-
ções ou podem parecer ―desligados‖ e
Algumas crianças apresentam dificulda- ―isolados‖.
des na identificação, no processamento e
na resposta de todas estas sensações  Dificuldades na resposta sensorial ou
que os nossos sentidos enviam para o na integração: podem ter problemas com
nosso corpo a partir do ambiente onde o planeamento motor; podem ter uma
estamos inseridos. qualidade pobre de respostas motoras
(especialmente respostas de controlo
Nem sempre estas dificuldades são iden- motor e/ou de respostas protetivas); po-
tificadas, contudo refletem no desenvol- dem ter um pobre conhecimento corporal
vimento da criança, na sua aprendizagem e problemas de coordenar os dois lados
e sentimentos que tem sobre si próprio do corpo.
afetando o desempenho nas diversas
áreas podendo ocasionar atraso escolar, Sinais e sintomas de uma disfunção sen-
dificuldade na relação com os outros, sorial: Alguns dos sintomas da disfunção
dificuldade de atenção e concentração, da Integração Sensorial são interpretados
auto-estima prejudicada, alteração no e tratados erroneamente, e muitas vezes
tónus muscular, dificuldade de equilíbrio são confundidos com problemas emocio-
e na coordenação motora global e fina. nais.

Os componentes do processamento sen- Em seguida apresentamos alguns sinais


sorial são: - Registo dos inputs sensoriais e sintomas perante os quais pode estar
- Orientação dos inputs sensoriais - Inter- mais atento:
pretação dos inputs sensoriais - Organi-
zação da resposta aos inputs sensoriais -  Hipersensível ao toque, movimento,
Execução das respostas ambiente circundante e sons;

Estes são alguns dos comportamentos  Hiposensível ao toque, ambiente cir-


que podemos observar em crianças que cundante e sons;
experienciam dificuldades de processa-  Nível de atividade bastante alto ou bas-
mento sensorial: tante baixo;  Dificuldades de coordena-
 Dificuldades no registo sensorial: pode ção motora;
aparecer que não têm reação ao movi-  Atrasos na fala ou nas competências
mento ao toque; podem parecer letárgi- linguísticas;
cos; podem exibir uma resposta retarda-
da ao estímulo sensorial. Ou podem pa-  Dificuldades nas competências moto-
recer demasiado reativos ao movimento ras (global e/ou fina);
e ao toque, podendo exibir uma resposta
 Dificuldades de aprendizagem (leitura
elevada ao estímulo sensorial.
e escrita);

29
 Pobre auto-conceito e auto-estima; músculos, e a posição em relação às ou-
tras partes sem precisar utilizar a visão.
 Dificuldades de funcionamento execu-
tivo; Essa percepção permite-nos, por exem-
plo, desviar de um objeto mesmo sem
 Comportamento de desafio e oscila- saber a que distância precisa ele se en-
ções de humor de forma a chamar a a- contra, ou mesmo tocar uma parte do
tenção; corpo com os olhos fechados. Os seus
 Dificuldade em manter a atenção em receptores encontram-se, em maioria,
sala de aula ou brincadeiras mais com- nas articulações. Graças à propriocepção
plexas; podemos andar, segurar, manipular e
coordenar objetos. O segundo sentido –
 Dificuldade em graduar a força; vestibular- tem os seus receptores locali-
zados no ouvido e são sensíveis às alte-
 Evita ambiente com muitas pessoas e
rações angulares da cabeça.
ambientes barulhentos;
É responsável pelo equilíbrio do corpo,
 Esbarra constantemente nos objetos
além de atuar na identificação da posição
ao redor, derruba coisas sem querer.
do corpo, permitindo que se saiba quan-
A intervenção em integração sensorial do está deitado, sentado, em pé ou em
pretende facilitar o desenvolvimento das qualquer outra posição. Também é gra-
capacidades do sistema nervoso para ças ao sistema vestibular que consegui-
que ele consiga processar os estímulos mos coordenar movimentos dos dois la-
sensoriais de forma normal. Através da dos do corpo em conjunto, como andar
terapia o cérebro coloca as mensagens de bicicleta e cortar com uma tesoura.
sensoriais juntas e devolve a informação
O brincar é a melhor forma de desenvol-
correta em resposta ao estímulo que foi
ver a integração sensorial. Desde peque-
dado. A terapia de integração sensorial
na a criança naturalmente procura as
usa atividades/brincadeiras neurosenso-
atividades que promovem uma boa inte-
rias e neuromotores para estimular a
gração da informação recebida através
própria capacidade do cérebro em se
dos sentidos. Ao se movimentar, aprende
reparar e pretende desenvolver, entre
sobre os limites do seu corpo dentro do
outras, a atenção, concentração, audi-
espaço que a rodeia.
ção, compreensão, equilíbrio, coordena-
ção e o controle da impulsividade nas Ao manipular objetos, aprende sobre seu
crianças. peso, textura, força que precisa para se-
gurá-los. Toda essa informação é recebi-
Neste sentido faz uso dos cinco sentidos
da para o cérebro, organizada e armaze-
inerentes ao ser humano (audição, olfac-
nada, possibilitando que a criança apren-
to, tacto, visão e gosto) e junta mais dois
da cada vez mais sobre o mundo em que
o proprioceptivo e o vestibular. O primeiro
vive.
agrega a nossa capacidade de reconhe-
cer a localização espacial do próprio cor-
po, a sua posição, a força exercida pelos
Inclusão social Terapia Ocupacional

30
A terapia ocupacional conhece as primei- trabalhar e realizar trocas sociais. Essa
ras discussões a respeito da intervenção noção exige que se tenha a compreen-
no campo social durante a década de são de intervenção em saúde que supere
1970, momento em que os movimentos a noção de risco, que isola e escolhe de-
sociais passaram a articular proposições terminadas variáveis, geralmente de or-
sobre o Estado, a sociedade civil e os dem.
seus respectivos papéis, sendo que al-
guns profissionais, atentos a estes movi- Biológica, para o desenvolvimento das
mentos, desenvolveram a reflexão sobre ações de saúde. A intervenção em saúde
sua função político-social (BARROS et deve estar pautada pela noção de chan-
al., 2002a). ces de vida, que busca trabalhar a partir
de uma visão do ambiente ecológico e
Acompanhando a dinâmica dos movi- social em que estas vidas se tecem.
mentos sociais inicia-se um relevante Dessa maneira entende-se que as chan-
debate sobre os processos de desinstitu- ces de vida determinam as chances de
cionalização, principalmente no campo saúde das pessoas (BARROS et al.,
da saúde mental. Os terapeutas ocupa- 2002a, p. 100).
cionais passaram a integrar tais discus-
sões uma vez que realizavam ações no A contextualização territorial traz outros
interior das instituições totais, exercendo âmbitos para o desenvolvimento do tra-
um papel definido por Galheigo (1997) balho, possibilitando que o processo pro-
como o de ―promotores de adaptação posto pela terapia ocupacional possa ser
social‖. ampliado para a construção de novas
abordagens, para a utilização de novos
A desinstitucionalização, acompanhada espaços, para as dimensões macroestru-
de intervenções no âmbito territorial, im- turais, co-relacionando aspectos que na
pulsiona o repensar a prática profissional prática não se isolam, são permeados
e insere o eixo da cidadania na composi- uns pelo outros.
ção do escopo da visão do terapeuta o-
cupacional. Esta nova proposição espera Nessa direção, na saúde coletiva se co-
que o profissional rompa os limites esta- loca o debate sobre a construção de uma
belecidos pelos muros da instituição, que ―clínica ampliada‖, a busca do protago-
acesse o usuário em seu território, que nismo do sujeito, e não apenas da doen-
promova ações para além dos limites ça, do território em que está inserido,
institucionais. ampliando o setting terapêutico, em prol
de uma clínica do sujeito (CAMPOS,
A noção de território aqui considerada 2001). Desenvolve-se a compreensão de
baseia-se não só na delimitação geográ- que o trabalho profissional não deve se
fica de uma região, mas pressupõe tam- restringir a uma clínica tradicional prote-
bém sua constituição histórica e as rela- gida pela instituição.
ções socioeconômicas e culturais ali de-
senvolvidas (OLIVER; BARROS, 1999). Pauta-se a necessidade de ir ao encontro
do sujeito, promover seu acesso aos ser-
Nele [o território] pode-se observar dife- viços, realizar abordagens que sejam
rentes maneiras de existir, sonhar, viver, contextualizadas em sua realidade, histó-

31
ria e cultura, criando novas formas de formas tradicionais, podendo ampliar a
produção de saúde. abordagem sistêmica.

Para a construção desta clínica do sujeito No campo da justiça espera-se a real


faz-se necessário tecer o trânsito entre o promoção dos direitos de forma igualitá-
individual e o coletivo, assim como entre ria. Na área da cultura as atividades cul-
o institucional e o político. É na promoção turais podem assumir um caráter de pro-
desta articulação que se encontra a com- moção de lazer e não apenas de forma-
plementaridade indissociável entre os ção e divulgação profissional de artistas.
aspectos que influenciam a vida do sujei-
to. Nesse contexto, o trabalho permanece
como categoria central sendo a geração
Debate-se também a contribuição das alternativa de renda ainda um desafio
diversas áreas de atuação para a com- para o estabelecimento de uma econo-
posição do campo social. No campo da mia solidária (SINGER; SOUZA, 2000)
saúde questiona-se quais contribuições que também seja voltada para lidar com
serão dadas para a busca de respostas as diferenças (GHIRARDI, 2004).
aos problemas da sociedade contempo-
rânea, como a violência, o uso abusivo Portanto, a constituição de intervenções
de substâncias psicoativas, o desenvol- no campo social é composta por uma
vimento de crianças e adolescentes nas diversidade de áreas que têm interna-
ruas, dentre tantos outros exemplos. mente discussões a realizar para ofertar
as suas contribuições.
Para tais questões, não basta a produção
de dados epidemiológicos, o tratamento O terapeuta ocupacional, ao ingressar
clínico ambulatorial e as internações. neste campo, apresenta limites e possibi-
lidades e deve debater alguns pontos
Desafiam-nos a criação de novas formas chave de sua atuação, tais como: os limi-
de abordagem e ‗tratamentos‘ que não se tes da clínica, as possibilidades da pro-
encerram na clínica e que demandam a moção da convivência, o caminhar entre
ampliação e criação de novas metodolo- o individual e o coletivo e entre o técnico
gias. e o político.

Na educação discute-se os limites da O terapeuta ocupacional tem uma capa-


educação formal e os procedimentos ex- cidade de articular o macro e o micro, ele
cludentes adotados pela escola; na área se propõe a falar de ações territoriais (...)
da educação não-formal tenciona-se para está no contato com as pessoas, no coti-
que se supere o modelo de escolarização diano, no dia-a-dia.
complementar (GARCIA, 2003).
Acredito que nossa história, por vir da
Já para a assistência social, historica- saúde, ou por vir de um cuidado mais
mente relacionada a ações coletivas de individual, permite que façamos a articu-
caráter compensatório (MESTRINER, lação entre o coletivo e o individual, que
2001), aponta-se o questionamento da talvez outros profissionais não façam (...).
necessária inserção do sujeito individual, A discussão da ação no territó- rio, no
numa abordagem à família que supere as contexto social, no bairro, na comunida-

32
de, articulado a proposições de mudança, ações buscam a autonomia e cidadania
de ação, de pautar é importante. do sujeito, interferindo em seu cotidiano
para promoção de mudanças.
O terapeuta ocupacional propõe esta
composição de articulação da ação cole- A terapia ocupacional é um campo de
tiva e da individual, do macro e do micro conhecimento e intervenção em saúde,
(...) podendo também contextualizar uma em educação e na ação social, que reúne
abordagem individual dentro de um cole- tecnologias orientadas para a emancipa-
tivo (LOPES, 2003, p. 8-9) ção e a autonomia de pessoas que, por
razões ligadas a problemáticas específi-
Neste campo, o profissional é chamado, cas (físicas, sensoriais, psicológicas,
para além do desenvolvimento do traba- mentais e/ou sociais), apresentam, tem-
lho individual e institucional, para assumir porária ou definitivamente, dificuldades
também um papel de articulador social, de inserção e participação na vida social
sendo sua demanda a reflexão e produ- (BARROS et al., 2002b, p. 366).
ção de intervenções que estejam relacio-
nadas ao domínio ―macro-estrutural e Para que se efetive o trabalho do núcleo
conceitual, o político-operacional e o da da terapia ocupacional no campo social
atenção pessoal e coletiva‖ (GALHEIGO, parte-se do princípio de que é necessário
1999, p. 24). Pensar políticas públicas, que haja o reconhecimento do outro co-
conhecer leis específicas do grupo popu- mo interlocutor do processo e que se
lacional com quem se está intervindo, promova:
construir propostas, atuar no âmbito pú-
blico, passam a ser demandas de traba- 1. Descentramento do saber do técnico
lho para o terapeuta ocupacional. para a idéia de saberes plurais diante de
problemas e de questões sociais;
Enfatiza-se, portanto, a necessária incor-
poração do aspecto político no cotidiano 2. Descentramento das ações da pessoa
do trabalho profissional, compreendendo- (considerada corpo / mente doente ou
o como uma demanda que deve fazer desviante) para o coletivo, a cultura da
parte integrante das tarefas diárias. qual a pessoa não pode ser separada;

O profissional precisa estabelecer um 3. Descentramento da ação: do enqua-


diálogo entre a microestrutura – seu coti- dramento (setting) para os espaços de
diano de ações com sua população-alvo vida cotidiana;
– e a macroestrutura – no aspecto das 4. Descentramento do conceito de ativi-
políticas sociais – articulando uma políti- dade como processo individual para inse-
ca que viabilize o acesso aos direitos pa- ri-lo na história e cultura de um grupo ou
ra esta população. de uma pessoa (BARROS, 2002a, p.
Contribuições Do Núcleo Na Proposi- 100).
ção Do Trabalho No Campo Social O uso da atividade enquanto recurso te-
Para a discussão do núcleo de interven- rapêutico é um instrumento de trabalho
ção da terapia ocupacional no campo historicamente utilizado pela terapia ocu-
social, partimos do princípio de que suas

33
pacional com diferentes grupos popula- sibilidades e impossibilidades que ela
cionais. tem, então nesse sentido acho que o te-
rapeuta ocupacional seria de grande valia
No campo social, principalmente em tra- porque ele pode ser este elo, saber ler os
balho direcionados para crianças e ado- símbolos daquilo que é a atividade de
lescentes, o recurso grupal, através de capoeira e compreender aquilo que é a
oficinas artísticas e/ou culturais, é utiliza- representação e a valorização desta ati-
do enquanto elemento constante para vidade por quem a freqüenta, e colocar
efetivação do trabalho. essas duas coisas, ou essas duas ins-
Em grande parte dos projetos sociais não tâncias, no conjunto da vida e, sobretudo,
encontramos a presença do terapeuta das dificuldades que eventualmente con-
ocupacional compondo as equipes de fluem para que ela não consiga produzir
trabalho. a sua autonomia mínima que se espera
de uma pessoa na sociedade, a partir de
Cabe a este profissional, a partir das o- sua idade (BARROS, 2003, p. 5-6).
portunidades que lhe são ofertadas, a-
presentar suas contribuições, apontando O terapeuta ocupacional dedica-se a uma
o uso de seus recursos enquanto ele- leitura do cotidiano e seus contextos, a
mento meio, que visam o fim de produ- intermediação entre a estrutura macro e
ção de autonomia, configurando assim microssocial, a ressignificação do fazer, a
seu instrumental de intervenção, colo- intervenção individual e coletiva, desen-
cando o uso de atividades enquanto a- volvendo estratégias que buscam o forta-
ções relevantes para intervenções que se lecimento das redes pessoais e sociais
inserem em um campo interdisciplinar. de suporte, com o objetivo de que essas
venham a se traduzir em uma maior sus-
Partindo-se da concepção da atividade tentabilidade autônoma do sujeito na
enquanto meio de formação de vínculo, complexa estrutura social em que está
aproximação, intermediação para que se inserido (GALHEIGO, 2003; BARROS et
possa iniciar a construção conjunta de al., 2002a).
novos projetos de vida; interpreta-se tais
abordagens enquanto núcleo de ação do Compreendemos, portanto, que o tera-
terapeuta ocupacional. peuta ocupacional é um dos profissionais
que compõem, a partir do seu núcleo de
Você precisa de profissionais que consi- saber, o campo social, demandando para
gam transitar entre o que é uma oficina a efetividade de seu trabalho a atuação
de capoeira e o que é expressão de des- entrelaçada com outros profissionais, a
contentamento, de revolta, ou de um mau partir de uma concepção intersetorial.
comportamento, ou um comportamento
esquivo que apareça nos grupos; e o que O que é Tecnologia Assistiva?
é que essa pessoa, essa criança, esse Tecnologia Assistiva é um termo ainda
jovem está dizendo? O que é o mundo novo, utilizado para identificar todo o ar-
dela na esfera do trabalho e da família? E senal de Recursos e Serviços que contri-
poder pensar essa oficina cultural, por buem para proporcionar ou ampliar habi-
exemplo, na relação com o conjunto da- lidades funcionais de pessoas com defi-
quilo que ela é, do que ela vive das pos-

34
ciência e consequentemente promo- sistema fabricado em série ou sob medi-
ver Vida Independente e Inclusão. da utilizado para aumentar, manter ou
melhorar as capacidades funcionais das
É também definida como "uma ampla pessoas com deficiência. Os Serviços,
gama de equipamentos, serviços, estra- são definidos como aqueles que auxiliam
tégias e práticas concebidas e aplicadas diretamente uma pessoa com deficiência
para minorar os problemas encontrados a selecionar, comprar ou usar os recur-
pelos indivíduos com deficiências" (Cook sos acima definidos.
e Hussey • Assistive Technologies: Prin-
ciples and Practices • Mosby – Year Bo-  Recursos
ok, Inc., 1995). Podem variar de uma simples bengala a
um complexo sistema computadorizado.
Conceito Estão incluídos brinquedos e roupas a-
daptadas, computadores, softwares e
No Brasil, o Comitê de Ajudas Técnicas -
hardwares especiais, que contemplam
CAT, instituído pela PORTARIA N° 142,
questões de acessibilidade, dispositivos
DE 16 DE NOVEMBRO DE 2006 propõe
para adequação da postura sentada, re-
o seguinte conceito para a tecnologia
cursos para mobilidade manual e elétrica,
assistiva: "Tecnologia Assistiva é uma
equipamentos de comunicação alternati-
área do conhecimento, de característica
va, chaves e acionadores especiais, apa-
interdisciplinar, que engloba produtos,
relhos de escuta assistida, auxílios visu-
recursos, metodologias, estratégias, prá-
ais, materiais protéticos e milhares de
ticas e serviços que objetivam promover
outros itens confeccionados ou disponí-
a funcionalidade, relacionada à atividade
veis comercialmente.
e participação de pessoas com deficiên-
cia, incapacidades ou mobilidade reduzi-  Serviços
da, visando sua autonomia, independên- São aqueles prestados profissionalmente
cia, qualidade de vida e inclusão soci- à pessoa com deficiência visando sele-
al" (ATA VII - Comitê de Ajudas Técnicas cionar, obter ou usar um instrumento de
(CAT) - Coordenadoria Nacional para tecnologia assistiva. Como exemplo, po-
Integração da Pessoa Portadora de Defi- demos citar avaliações, experimentação
ciência (CORDE) - Secretaria Especial e treinamento de novos equipamen-
dos Direitos Humanos - Presidência da tos. Os serviços de Tecnologia assistiva
República). são normalmente transdisciplinares en-
volvendo profissionais de diversas áreas,
O termo Assistive Technology, traduzido
tais como:
no Brasil como Tecnologia Assistiva, foi
criado em 1988 como importante elemen-  Fisioterapia
to jurídico dentro da legislação norte-
americana conhecida comoPublic Law  Terapia ocupacional
100-407 e foi renovado em 1998 co-
mo Assistive Technology Act de 1998  Fonoaudiologia
(P.L. 105-394, S.2432). Compõe, com
 Educação
outras leis, o ADA - American with Disabi-
lities Act, que regula os direitos dos cida-  Psicologia
dãos com deficiência nos EUA, além de
prover a base legal dos fundos públicos  Enfermagem
para compra dos recursos que estes ne-
 Medicina
cessitam.
 Engenharia
Os Recursos são todo e qualquer item,
equipamento ou parte dele, produto ou

35
 Arquitetura sidades pessoais, manutenção da casa
etc.
 Design
2- CAA (CSA)
 Técnicos de muitas outras especia-
lidades Comunicação aumentativa (suplementar)
e alternativa
Encontramos também terminologias dife-
rentes que aparecem como sinônimos da
Tecnologia Assistiva, tais como ―Ajudas
Técnicas‖, ―Tecnologia de Apoio―, ―Tec-
nologia Adaptativa‖ e ―Adaptações‖.
Objetivos da Tecnologia Assistiva
Proporcionar à pessoa com deficiência Recursos, eletrônicos ou não, que permi-
maior independência, qualidade de vida e tem a comunicação expressiva e recepti-
inclusão social, através da ampliação de va das pessoas sem a fala ou com limita-
sua comunicação, mobilidade, controle ções da mesma. São muito utilizadas as
de seu ambiente, habilidades de seu a- pranchas de comunicação com os símbo-
prendizado, trabalho e integração com a los PCS ou Bliss além de vocalizadores e
família, amigos e sociedade. softwares dedicados para este fim.

Categorias de Tecnologia Assistiva


A classificação abaixo, foi construída com 3- Recursos de acessibilidade ao compu-
base nas diretrizes gerais da ADA, porém tador
não é definitiva e pode variar segundo
alguns autores.
A importância das classificações no âm-
bito da tecnologia assistiva se dá pela
promoção da organização desta área de
conhecimento e servirá ao estudo, pes-
quisa, desenvolvimento, promoção de
políticas públicas, organização de servi- Equipamentos de entrada e saída (sínte-
ços, catalogação e formação de banco de se de voz, Braille), auxílios alternativos
dados para identificação dos recursos de acesso (ponteiras de cabeça, de luz),
mais apropriados ao atendimento de uma teclados modificados ou alternativos, a-
necessidade funcional do usuário final. cionadores, softwares especiais (de re-
conhecimento de voz, etc.), que permi-
1- Auxílios para a vida diária tem as pessoas com deficiência a usa-
rem o computador.
4- Sistemas de controle de ambiente

Materiais e produtos para auxílio em tare-


fas rotineiras tais como comer, cozinhar,
vestir-se, tomar banho e executar neces-

36
Sistemas eletrônicos que permitem as
pessoas com limitações moto-
locomotoras, controlar remotamente apa-
relhos eletro-eletrônicos, sistemas de
segurança, entre outros, localizados em
seu quarto, sala, escritório, casa e arre-
dores.
5- Projetos arquitetônicos para acessibili-
dade

Adaptações para cadeira de rodas ou


outro sistema de sentar visando o confor-
to e distribuição adequada da pressão na
superfície da pele (almofadas especiais,
Adaptações estruturais e reformas na assentos e encostos anatômicos), bem
casa e/ou ambiente de trabalho, através como posicionadores e contentores que
de rampas, elevadores, adaptações em propiciam maior estabilidade e postura
banheiros entre outras, que retiram ou adequada do corpo através do suporte e
reduzem as barreiras físicas, facilitando a posicionamento de tron-
locomoção da pessoa com deficiência. co/cabeça/membros.
6- Órteses e próteses 8- Auxílios de mobilidade

Cadeiras de rodas manuais e motoriza-


Troca ou ajuste de partes do corpo, fal- das, bases móveis, andado-
tantes ou de funcionamento comprometi- res, scooters de 3 rodas e qualquer outro
do, por membros artificiais ou outros re- veículo utilizado na melhoria da mobilida-
curso ortopédicos (talas, apoios etc.). de pessoal
Inclui-se os protéticos para auxiliar nos
déficits ou limitações cognitivas, como os 9- Auxílios para cegos ou com visão sub-
gravadores de fita magnética ou digital normal
que funcionam como lembretes instantâ-
neos.
7- Adequação Postural

37
Auxílios para grupos específicos que in- ser BIOPSICOSSOCIAL e diz respeito à
clui lupas e lentes, Braille para equipa- avaliação e intervenção em:
mentos com síntese de voz, grandes te-
las de impressão, sistema de TV com  Funções e estruturas do corpo -
aumento para leitura de documentos, DEFICIÊNCIA
publicações etc.  Atividades e participação - Limita-
10- Auxílios para surdos ou com déficit ções de atividades e de participação.
auditivo
 Fatores Contextuais - Ambientais e
pessoais
Bioética

A Bioética é uma ética aplicada, chama-


da também de ―ética prática‖, que visa
―dar conta‖ dos conflitos e controvérsias
morais implicados pelas práticas no âm-
Auxílios que inclui vários equipamentos bito das Ciências da Vida e da Saúde do
(infravermelho, FM), aparelhos para sur- ponto de vista de algum sistema de valo-
dez, telefones com teclado — teletipo res (chamado também de ―ética‖).
(TTY), sistemas com alerta táctil-visual,
entre outros. Como tal, ela se distingue da mera ética
teórica, mais preocupada com a forma e
11- Adaptações em veículos a ―cogência‖ (cogency) dos conceitos e
dos argumentos éticos, pois, embora não
possa abrir mão das questões propria-
mente formais (tradicionalmente estuda-
das pela metaética), está instada a resol-
ver os conflitos éticos concretos.

Tais conflitos surgem das interações hu-


manas em sociedades a princípio secula-
Acessórios e adaptações que possibili- res, isto é, que devem encontrar as solu-
tam a condução do veículo, elevadores ções a seus conflitos de interesses e de
para cadeiras de rodas, camionetas mo- valores sem poder recorrer, consensual-
dificadas e outros veículos automotores mente, a princípios de autoridade trans-
usados no transporte pessoal. cendentes (ou externos à dinâmica do
próprio imaginário social), mas tão so-
Atuação da Tecnologia Assistiva mente ―imanentes‖ pela negociação entre
agentes morais que devem, por princípio,
A Tecnologia Assistiva visa melhorar a
ser considerados cognitiva e eticamente
FUNCIONALIDADE de pessoas com de-
competentes.
ficiência. O termo funcionalidade deve
ser entendido num sentido maior do que
Por isso, pode-se dizer que a bioética
habilidade em realizar tarefa de interes-
tem uma tríplice função, reconhecida a-
se.
cadêmica e socialmente:
Segundo a CIF - Classificação Interna-
cional de Funcionalidade, o modelo de (1) Descritiva consistente em descrever e
intervenção para a funcionalidade deve analisar os conflitos em pauta;

38
(2) Normativa com relação a tais confli- concretas e ao qual se atribui uma finali-
tos, no duplo sentido de proscrever os dade prática a través de várias formas de
comportamentos que podem ser conside- institucionalização. Assim, a bioética
rados reprováveis e de prescrever aque- constitui uma prática de segunda ordem,
les considerados corretos; e que opera sobre práticas de primera or-
dem, em contato direto com as determi-
(3) Protetora, no sentido, bastante intuiti- nações concretas da ação no âmbito das
vo, de amparar, na medida do possível, bases biológicas da existência humana.‖
todos os envolvidos em alguma disputa
de interesses e valores, priorizando, ―A palavra ‗bioética‘ designa um conjunto
quando isso for necessário, os mais ―fra- de pesquisas, de discursos e práticas, via
cos‖. de regra pluridisciplinares, que têm por
objeto esclarecer e resolver questões
Mas a Bioética, como forma talvez espe- éticas suscitadas pelos avanços e a apli-
cial da ética, é, antes, um ramo da Filoso- cação das tecnociências biomédicas. (...)
fia, podendo ser definida de diversos mo- A rigor, a bioética não é nem uma disci-
dos, de acordo com as tradições, os au- plina, nem uma ciência, nem uma nova
tores, os contextos e, talvez, os próprios ética, pois sua prática e seu discurso se
objetos em exame. Algumas definições: situam na interseção entre várias tecno-
ciências (em particular, a medicina e a
"Eu proponho o termo Bioética como for- biologia, com suas múltiplas especializa-
ma de enfatizar os dois componentes ções); ciências humanas (sociologia, psi-
mais importantes para se atingir uma no- cologia, politologia, psicanálise...) e disci-
va sabedoria, que é tão desesperada- plinas que não são propriamente ciên-
mente necessária: conhecimento biológi- cias: a ética, para começar; o direito e, de
co e valores humanos.‖ maneira geral, a filosofia e a teologia.

―Bioética é o estudo sistemático das di- A complexidade da bioética é, de fato,


mensões morais - incluindo visão moral, tríplice. Em primeiro lugar, está na encru-
decisões, conduta e políticas - das ciên- zilhada entre um grande número de dis-
cias da vida e atenção à saúde, utilizando ciplinas. Em segundo lugar, o espaço de
uma variedade de metodologias éticas encontro, mais o menos conflitivo, de i-
em um cenário interdisciplinar‖. deologias, morais, religiões, filosofias.

―A bioética, da maneira como ela se a- Por fim, ela é um lugar de importantes


presenta hoje, não é nem um saber embates (enjeux) para uma multidão de
(mesmo que inclua aspectos cognitivos), grupos de interesses e de poderes cons-
nem uma forma particular de expertise titutivos da sociedade civil: associação de
(mesmo que inclua experiência e inter- pacientes; corpo médico; defensores dos
venção), nem uma deontologia (mesmo animais; associações paramédicas; gru-
incluindo aspectos normativos). Trata-se pos ecologistas; agro-business; industrias
de uma prática racional muito específica farmacêuticas e de tecnologias médicas;
que põe em movimento, ao mesmo tem- bioindustria em geral‖
po, um saber, uma experiência e uma
competência normativa, em um contexto ―A bioética é o conjunto de conceitos,
particular do agir que é definido pelo pre- argumentos e normas que valorizam e
fixo ‗bio‘. Poderíamos caracteriza-la me- justificam eticamente os atos humanos
lhor dizendo que é uma instância de juí- que podem ter efeitos irreversíveis sobre
zo, mas precisando que se trata de um os fenômenos vitais‖ (Kottow, M., H.,
juízo prático, que atua em circunstâncias

39
1995. Introducción a la Bioética. Chile: chapas concorrentes, realizando as elei-
Editorial Universitaria, 1995: p. 53) ções 24 (vinte e quatro) horas após a
sessão preliminar.
Lei No 6.316, De 17 De Dezembro De
1975 § 3º Competirá ao Ministro do Tra-
balho baixar as instruções reguladoras
O PRESIDENTE DA REPÚBLI- das eleições nos Conselhos Federal e
CA Faço saber que o Congresso Nacio- Regionais de Fisioterapia e Terapia Ocu-
nal decreta e eu sanciono a seguinte Lei: pacional.

CAPÍTULO I Art. 3º Os membros dos Conselhos


Dos Conselhos Federal e Regionais de Regionais de Fisioterapia e Terapia Ocu-
Fisioterapia e Terapia Ocupacional pacional e os respectivos suplentes, com
mandato de 4 (quatro) anos, serão eleitos
Art. 1º São criados o Conselho Fe- pelo sistema de eleição direta, através do
deral e os Conselhos Regionais de Fisio- voto pessoal, secreto e obrigatório, apli-
terapia e Terapia Ocupacional, com a cando-se pena de multa em importância
incumbência de fiscalizar o exercício das não excedente ao valor da anuidade ao
profissões de Fisioterapeuta e Terapeuta membro que deixar de votar sem causa
Ocupacional definidas no Decreto-lei nº justificada.
938, de 13 de outubro de 1969.
§ 1º O exercício do mandato do
§ 1º Os Conselhos Federal e Regi- membro do Conselho Federal e dos Con-
onais a que se refere este artigo consti- selhos Regionais de Fisioterapia e Tera-
tuem, em conjunto, uma autarquia federal pia Ocupacional, assim como a respecti-
vinculada ao Ministério do Trabalho. va eleição, mesmo na condição de su-
plente, ficarão subordinados, além das
§ 2º O Conselho Federal de Fisiote- exigências constantes do artigo 530 da
rapia e Terapia Ocupacional terá sede e Consolidação das Leis do Trabalho e le-
foro no Distrito Federal e jurisdição em gislação complementar, ao preenchimen-
todo o País e os Conselhos Regionais to dos seguintes requisitos e condições
em Capitais de Estados ou Territórios. básicas:

Art. 2º O Conselho Federal compor- I - cidadania brasileira;


se-á de 9 (nove) membros efetivos e su-
plentes, respectivamente, eleitos pela II - habilitação profissional na forma
forma estabelecida nesta Lei. da legislação em vigor;

§ 1º Os membros do Conselho Fe- III - pleno gozo dos direitos profis-


deral e respectivos suplentes, com man- sionais, civis e políticos;
dato de 4 (quatro) anos, serão eleitos por
um Colégio Eleitoral integrado de 1 (um) IV - inexistência de condenação por
representante de cada Conselho Regio- crime contra a segurança nacional.
nal, por este eleito em reunião especial-
mente convocada. Art. 4º A extinção ou perda de man-
dato de membro do Conselho Federal ou
§ 2º O Colégio Eleitoral convocado dos Conselhos Regionais ocorrerá:
para a composição do Conselho Federal
reunir-se-á, preliminarmente, para exa- I - por renúncia;
me, discussão, aprovação e registro das

40
II - por superveniência de causa de V - elaborar e aprovar seu Regimen-
que resulte a inabilitação para o exercício to, ad referendum do Ministro do Traba-
da profissão; lho;

III - por condenação a pena superior VI - examinar e aprovar os Regi-


a 2 (dois) anos, em virtude de sentença mentos dos Conselhos Regionais, modi-
transitada em julgado; ficando o que se fizer necessário para
assegurar unidade de orientação e uni-
IV - por destituição de cargo, função formidade de ação;
ou emprego, relacionada à prática de ato
de improbidade na administração pública VII - conhecer e dirimir dúvidas sus-
ou privada, em virtude de sentença tran- citadas pelos Conselhos Regionais e
sitada em julgado; prestar-lhes assistência técnica perma-
nente;
V - por falta de decoro ou conduta
incompatível com a dignidade do órgão; VIII - apreciar e julgar os recursos
de penalidade imposta pelos Conselhos
VI - por ausência, sem motivo justifi- Regionais;
cado, a 3 (três) sessões consecutivas ou
6 (seis) intercaladas em cada ano. IX - fixar o valor das anuidades, ta-
xas, emolumentos e multas devidas pelos
Art. 5º Compete ao Conselho Fede- profissionais e empresas aos Conselhos
ral: Regionais a que estejam jurisdicionados;

I - eleger, dentre os seus membros, X - aprovar sua proposta orçamentá-


por maioria absoluta, o seu Presidente e ria e autorizar a abertura de créditos adi-
o Vice-Presidente; cionais, bem como operações referentes
a mutações patrimoniais;
Il - exercer função normativa, baixar
atos necessários à interpretação e exe- XI - dispor, com a participação de
cução do disposto nesta Lei e à fiscaliza- todos os Conselhos Regionais, sobre o
ção do exercício profissional, adotando Código de Ética Profissional, funcionando
providências indispensáveis à realização como Tribunal Superior de Ética Profis-
dos objetivos institucionais; sional;

III - supervisionar a fiscalização do XII - estimular a exação no exercício


exercício profissional em todo o território da profissão, velando pelo prestígio e
nacional; bom nome dos que a exercem;

IV - organizar, instalar, orientar e XIII - instituir o modelo das carteiras


inspecionar os Conselhos Regionais e e cartões de identidade profissional;
examinar suas prestações de contas,
neles intervindo desde que indispensável XIV - autorizar o Presidente a adqui-
ao restabelecimento da normalidade ad- rir, onerar ou alienar bens imóveis;
ministrativa ou financeira ou a garantia da
efetividade do princípio da hierarquia ins- XV - emitir parecer conclusivo sobre
titucional; prestação de contas a que esteja obriga-
do;

41
XVI - publicar, anualmente, seu or- cionais e as operações referentes a mu-
çamento e respectivos créditos adicio- tações patrimoniais;
nais, ou balanços a execução orçamentá-
ria e o relatório de suas atividades. IX - autorizar o Presidente a adquirir,
onerar ou alienar bens imóveis;
Art. 6º Os Conselhos Regionais de
Fisioterapia e Terapia Ocupacional serão X - arrecadar anuidades, multas,
organizados nos moldes do Conselho taxas e emolumentos e adotar todas as
Federal. medidas destinadas a efetivação de sua
receita, destacando e entregando ao
Art. 7º Aos Conselhos Regionais, Conselho Federal as importâncias cor-
compete: respondentes a sua participação legal;

I - eleger, dentre os seus membros, XI - promover, perante o juízo com-


por maioria absoluta, o seu Presidente e petente, a cobrança das importâncias
o Vice-Presidente; correspondentes a anuidades, taxas,
emolumentos e multas, esgotados os
Il - expedir a carteira de identidade meios de cobrança amigável;
profissional e o cartão de identificação
aos profissionais registrados; XII - estimular a exação no exercício
da profissão, velando pelo prestígio e
Ill - fiscalizar o exercício profissional bom conceito dos que a exercem;
na àrea de sua jurisdição, representando,
inclusive, às autoridades competentes, XIII - julgar as infrações e aplicar as
sobre os fatos que apurar e cuja solução penalidades previstas nesta Lei e em
ou repressão não seja de sua alçada; normas complementares do Conselho
Federal;
IV - cumprir e fazer cumprir as dis-
posições desta Lei, das resoluções e XIV - emitir parecer conclusivo sobre
demais normas baixadas pelo Conselho prestação de contas a que esteja obriga-
Federal; do;

V - funcionar como Tribunal Regio- XV - publicar, anualmente, seu or-


nal de Ética, conhecendo, processando e çamento e respectivos créditos adicio-
decidindo os casos que lhe forem subme- nais, os balanços, a execução orçamen-
tidos; tária, o relatório de suas atividades e a
relação dos profissionais registrados.
VI - elaborar a proposta de seu Re-
gimento, bem como as alterações, sub- Art. 8º Aos Presidentes dos Conse-
metendo-a à aprovação do Conselho Fe- lhos Federal e Regionais incumbe a ad-
deral; ministração e a representação legal dos
mesmos facultando-se-lhes suspender o
VII - propor ao Conselho Federal as cumprimento de qualquer deliberação de
medidas necessárias ao aprimoramento seu Plenário que lhes pareça inconveni-
dos serviços e do sistema de fiscalização ente ou contrária aos interesses da insti-
do exercício profissional; tuição, submetendo essa decisão à auto-
ridade competente do Ministério do Tra-
VIII - aprovar a proposta orçamentá- balho ou ao Conselho Federal, respecti-
ria e autorizar a abertura de créditos adi- vamente.

42
Art. 9º Constitui renda do Conselho res, nas clínicas, ambulatórios, creches,
Federal: asilos ou exercício de cargo, função ou
emprego de assessoramento, chefia ou
I - 20% (vinte por cento) do produto direção será exigida como condição es-
da arrecadação de anuidades, taxas, sencial, a apresentação da carteira pro-
emolumentos e multas de cada Conselho fissional de Fisioterapeuta ou de Tera-
Regional; peuta Ocupacional.

II - legados, doações e subvenções; Parágrafo único. A inscrição em


concurso público dependerá de prévia
III - rendas patrimoniais. apresentação da Carteira Profissional ou
certidão do Conselho Regional de que o
Art.10. Constitui renda dos Conse- profissional está no exercício de seus
lhos Regionais: direitos.

I - 80% (oitenta por cento) do produ- Art. 14. O exercício simultâneo,


to da arrecadação de anuidades, taxas, temporário ou definitivo, da profissão em
emolumentos e multas; área de jurisdição de dois ou mais Con-
selhos Regionais submeterá o profissio-
II - legados, doações e subvenções; nal de que trata esta Lei às exigências e
formalidades estabelecidas pelo Conse-
III - rendas patrimoniais. lho Federal.

Art. 11. A renda dos Conselhos Fe- CAPÍTULO III


deral e Regionais só poderá ser aplicada Das Anuidades
na organização e funcionamento de ser-
viços úteis à fiscalização do exercício Art. 15. O pagamento da anuidade
profissional, bem como em serviços de ao Conselho Regional da respectiva ju-
caráter assistencial, quando solicitados risdição constitui condição de legitimida-
pelas Entidades Sindicais. de do exercício da profissão.

CAPÍTULO II Parágrafo único. A anuidade será


Do Exercício Profissional paga até 31 de março de cada ano, salvo
a primeira, que será devida no ato do
Art. 12. O livre exercício da profis- registro do profissional ou da empresa.
são de Fisioterapeuta e Terapeuta Ocu-
pacional, em todo território nacional, so- CAPÍTULO IV
mente é permitido ao portador de Cartei- Das Infrações e Penalidades
ra Profissional expedida por órgão com-
petente. Art. 16. Constitui infração disciplinar:

Parágrafo único. É obrigatório o re- I - transgredir preceito do Código de


gistro nos Conselhos Regionais das em- Ética Profissional;
presas cujas finalidades estejam ligadas
à fisioterapia ou terapia ocupacional, na II - exercer a profissão quando im-
forma estabelecida em Regulamento. pedido de fazê-lo, ou facilitar, por qual-
quer meio, o seu exercício aos não regis-
Art. 13. Para o exercício da profis- trados ou aos leigos;
são na administração pública direta e
indireta, nos estabelecimentos hospitala- III - violar sigilo profissional;

43
IV - praticar, no exercício da ativida- § 2º Na fixação da pena serão con-
de profissional, ato que a Lei defina como siderados os antecedentes profissionais
crime ou contravenção; do infrator, o seu grau de culpa, as cir-
cunstâncias atenuantes e agravantes e
V - não cumprir, no prazo assinala- as conseqüências da infração.
do, determinação emanada de órgão ou
autoridade do Conselho Regional de Fi- § 3º As penas de advertência, re-
sioterapia e Terapia Ocupacional, em preensão e multa serão comunicadas
matéria de competência deste, após re- pelo Conselho Regional, em ofício reser-
gularmente notificado; vado, não se fazendo constar dos assen-
tamentos do profissional punido, senão
VI - deixar de pagar, pontualmente, em caso de reincidência.
ao Conselho Regional de Fisioterapia e
Terapia Ocupacional, as contribuições a § 4º Da imposição de qualquer pe-
que está obrigado; nalidade caberá recurso com efeito sus-
pensivo, ao Conselho Federal:
VII - faltar a qualquer dever profis-
sional prescrito nesta Lei; I - voluntário, no prazo de 30 (trinta)
dias a contar da ciência da decisão;
VIII - manter conduta incompatível
com o exercício da profissão. II - "ex officio", nas hipóteses dos
incisos IV e V deste artigo, no prazo de
Parágrafo único. As faItas serão a- 30 (trinta) dias a contar da decisão.
puradas, levando-se em conta a natureza
do ato e as circunstâncias de cada caso. § 5º As denúncias somente serão
recebidas quando assinadas, declinada a
Art. 17. As penas disciplinares con- qualificação do denunciante e acompa-
sistem em: nhada da indicação dos elementos com-
probatórios do alegado.
I - advertência;
§ 6º A suspensão por falta de pa-
Il - repreensão; gamento de anuidades, taxas ou multas
só cessará com a satisfação da dívida,
III - multa equivalente a até 10 (dez) podendo ser cancelado o registro profis-
vezes o valor da anuidade; sional, após decorridos 3 (três) anos.

IV - suspensão do exercício profis- § 7º É lícito ao profissional punido


sional pelo prazo de até 3 (três) anos, requerer, à instância superior, revisão do
ressalvada a hipótese prevista no § 7º; processo, no prazo de 30 (trinta) dias
contados da ciência da punição.
V - cancelamento do registro profis-
sional. § 8º Das decisões do Conselho Fe-
deral ou de seu Presidente, por força de
§ 1º Salvo os casos de gravidade competência privativa, caberá recurso em
manifesta ou reincidência, a imposição 30 (trinta) dias, contados da ciência para
das penalidades obedecerá à gradação o Ministro do Trabalho. (Revogado pela
deste artigo, observadas as normas es- Lei nº 9.098, de 1995)
tabelecidas pelo Conselho Federal para
disciplina do processo de julgamento das § 9º As instâncias recorridas pode-
infrações. rão reconsiderar suas próprias decisões.

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§ 10. A instância ministerial será Art. 24. O primeiro Conselho Federal
última e definitiva, nos assuntos relacio- de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
nados com a profissão e seu exercí- será constituído pelo Ministro do Traba-
cio. (Revogado pela Lei nº 9.098, de lho.
1995)
Art. 25. Esta Lei entrará em vigor na
Art. 18. O pagamento da anuidade data de sua publicação, revogadas as
fora do prazo sujeitará o devedor à multa disposições em contrário.
prevista no ReguIamento.
Terapia Ocupacional na Prevenção a
CAPÍTULO V Saúde
Disposições Gerais
A Terapia Ocupacional estuda e emprega
Art. 19. Os membros dos Conselhos as atividades de trabalho e lazer no tra-
farão jus a uma gratificação, por sessão a tamento de distúrbios físicos e mentais e
que comparecerem, na forma estabeleci- de desajustes emocionais e sociais.
da em legislação própria. O curso de Bacharelado em Terapia O-
cupacional tem como objetivo formar pro-
Art. 20. Aos servidores dos Conse- fissionais com capacidade de invenção
lhos de Fisioterapia e Terapia Ocupacio- na pluralidade das demandas societárias
nal aplica-se o regime jurídico da Conso- e comunitárias, com comprometimentos
lidação das Leis do Trabalho. sócio-político e cultural, ou seja, traba-
lhadores da saúde, participativos, críticos
Art. 21. Os Conselhos de Fisiotera- e compromissados, com conhecimentos
pia e Terapia Ocupacional estimularão, gerais nas áreas biológicas e humanas,
por todos os meios, inclusive mediante além de conhecimentos específicos no
concessão de auxílio, segundo normas campo de Terapia Ocupacional, informa-
aprovadas pelo Conselho Federal, as ção científica plena e constante e com
realizações de natureza cultural visando capacidade operacional para lidar com a
ao profissional e à classe. complexidade das relações transdiscipli-
nares, buscando ações multi e interdisci-
Art. 22. Os estabelecimentos de en- plinares para cuidar integralmente do ser
sino superior, que ministrem cursos de humano.
Fisioterapia e Terapia Ocupacional, deve-
rão enviar, até 6 (seis) meses da conclu- O mercado de trabalho abrange desde a
são dos mesmos, ao Conselho Regional atenção primária em saúde, prevenção e
da jurisdição de sua sede, ficha de cada promoção, nos centros comunitários, U-
aluno a que conferir diploma ou certifica- nidades de atenção primária ou básica de
do, contendo seu nome, endereço, filia- saúde, nas equipes do NASF (Núcleo de
ção, e data da conclusão. Apoio à Saúde da Família), até níveis
mais complexos, atuando em hospitais,
CAPÍTULO VI clínicas, centros de reabilitação, unida-
Disposições Transitórias des, escolas, presídios, creches, clubes,
academias, consultórios e oficinas tera-
Art. 23. A carteira profissional de pêuticas.
que trata o Capítulo II somente será exi-
gível a partir de 180 (cento e oitenta) dias Hoje, as áreas que oferecem mais opor-
contados da instalação do respectivo tunidades são as de saúde mental, saúde
Conselho Regional. da criança e do idoso e saúde do traba-
lhador, além do ensino em cursos superi-

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ores. Até bem pouco tempo atrás, o terapêuticas fundamentadas nos recur-
campo de atuação para o terapeuta ocu- sos técnicos e conceituais da profissão,
pacional se concentrava nos grandes correlacionando-as aos diferentes níveis
centros urbanos. Atualmente, a criação de atenção à saúde (prevenção, trata-
de projetos que são gerados e executa- mento e reabilitação) e aos diversos con-
dos nos municípios tem permitido a des- textos sócio-culturais da população aten-
centralização das ofertas de trabalho. dida.
Áreas de Atuação: ANOTAÇÕES
________________________________________
A área de atuação dos terapeutas ocupa- ________________________________________
cionais está diretamente relacionada à ________________________________________
política de saúde, de educação e outros ________________________________________
programas sociais, que podem favorecer ________________________________________
________________________________________
o mercado para este profissional. As o-
________________________________________
portunidades serão melhores sempre que ________________________________________
forem definidas ações de prevenção e ________________________________________
tratamento de deficiências, bem como ________________________________________
projetos visando à promoção da saúde, e ________________________________________
a inclusão social de grupos marginaliza- ________________________________________
dos. ________________________________________
________________________________________
O campo de atuação do terapeuta ocu- ________________________________________
pacional é bastante amplo e o profissio- ________________________________________
nal poderá atuar nas seguintes áreas: · ________________________________________
em clínicas e consultórios particula- ________________________________________
________________________________________
res; na assistência domiciliar e empresas
________________________________________
de home-care; hospitais gerais e especi-
________________________________________
alizados; centros de referencia em reabili- ________________________________________
tação; de saúde mental e centros de a- ________________________________________
tenção psicossocial; · programas públicos ________________________________________
de atenção à saúde da criança e do ado- ________________________________________
lescente; · programas sócio-educativos ________________________________________
para o menor infrator; · empresas, área ________________________________________
de prevenção de acidentes/ergonomia, ________________________________________
treinamento de pessoal e desenvolvimen- ________________________________________
________________________________________
to de projetos; · centros de atenção à
________________________________________
pessoa idosa; · escolas regulares em ________________________________________
programas de inclusão social e escolas ________________________________________
especializadas para portadores de ne- ________________________________________
cessidades especiais; · cooperativas de ________________________________________
trabalho de populações marginalizadas; ________________________________________
comunidades terapêuticas, e organiza- ________________________________________
ções não governamentais. ________________________________________
________________________________________
O terapeuta ocupacional terá conheci- ________________________________________
mento sobre os fundamentos históricos, ________________________________________
filosóficos e metodológicos da Terapia ________________________________________
Ocupacional e seus diferentes modelos, ________________________________________
________________________________________
técnicas e estratégias de intervenção; e
________________________________________
desenvolverá habilidades e competências ________________________________________

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