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Care group for mental health team: a professional development strategy Journal of Human Growth and Development 2012; 22(1): 1-8
2012; 22(1): 1-8 ORIGINAL RESEARCH
Resumo
1 Professora Assistente do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade de Londrina - UEL. Rod. Celso
Garcia Cid, Pr 445 Km 380, Campus Universitário. CEP 86051-980 - Londrina, PR. E-mail: thseni@yahoo.com.br
2 Professor Associado do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. E-mail: masantos@ffclrp.usp.br
Este artigo deriva do trabalho apresentado no III Congresso Brasileiro de Psicologia: Ciência e Profissão, realizado
em São Paulo, SP, de 3 a 7 de setembro de 2010. Os autores agradecem ao grupo de estagiários do quinto ano do
curso de graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Londrina - UEL. A experiência de estágio
profissionalizante foi supervisionada pela primeira autora.
Correspondência para: masantos@ffclrp.usp.br
Suggested citation: Pereira TTSO, dos Santos MA. Care group for mental health team: a professional development
strategy. J. Hum. Growth Dev. 2012; 22(1): 68-72.
Manuscript submitted Aug 02 2011, accepted for publication Dec 20 2011.
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Abstract
The psychosocial care, the mental health care model applied in Brazil nowadays,
has the following principles: democracy, social participation, involvement and
shared responsibility, acceptance, listening and polyphonic interaction. This model
connect mental health to citizenship and quality of life, aiming the psychosocial
rehabilitation, the role and autonomy of users. In this model, the mental health
professional is characterized as a caregiver, being the main instrument of his
work, through direct and prolonged contact with users and staff. Thus, the
mental health work engenders a particular kind of vulnerability, due to the
constant emotional involvement with clients and other professionals, requiring
affective resources, professional attitudes, skills and competencies that go beyond
the limits of formal knowledge. Due to these aspects, several studies indicate
the nature and organization of mental health work as generators of overload
and stress for mental health professionals. This study aimed to identify the
thematics that emerged in an intervention process carried out with two
multidisciplinary teams of Psychosocial Care Center (CAPS) in a city in northern
Parana, Brazil. Ten weekly meetings of “care groups for mental health staff”
were carried out, with experiential activities followed by group discussion. The
qualitative analysis of field diary allowed some themes identification such as:
“Self-care: taking responsibility in reducing vulnerability,” “From individualistic
position to the collective project” and “Giving new meaning to teamwork”. It
was concluded that the intervention resulted in important reflections about
daily professional issues that reflected in participants professional practices. It
was highlighted that the care groups may constitute useful strategy for
professional development in the health mental field.
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cuidar torna possível sustentar uma vi- cinco psicólogos, duas assistentes sociais,
são ampliada do sujeito alvo dos cuida- seis médicos, duas terapeutas ocupacio-
dos4,5,7. nais, dois educadores físicos e onze au-
De modo geral, podemos entender xiliares de enfermagem. A idade dos par-
que as novas formas de assistência pre- ticipantes variou entre 28 e 53 anos, e o
conizadas requerem o desenvolvimento tempo de atuação na área da saúde men-
de novos tipos de competências e habili- tal, entre três meses e 12 anos. Dos 34
dades profissionais, que extrapolam o participantes, 27 eram do sexo feminino
êxito técnico5 e acabam por exigir mu- e sete do sexo masculino.
danças na formação e no desenvolvimen- A intervenção foi realizada em
to profissional dos técnicos que nele atu- duas unidades de CAPS: CAPS III e
am. Dessa maneira, as equipes de saúde CAPS Ad, de um município da região
se tornam elementos essenciais para a norte do estado do Paraná, Brasil. É
implementação e êxito do modelo atual, importante mencionar que o município
merecendo maior atenção e investimen- tem, atualmente, cerca de 500 mil ha-
to7,8,9,10. Segundo Lunardi et al.11, profis- bitantes e sua rede de atenção em saú-
sionais que desempenham o papel de de mental é composta por CAPS III,
cuidadores necessitam ser cuidados, para CAPS Ad, CAPS i, Ambulatório e Pronto
exercerem sua função de modo mais efi- Socorro Psiquiátrico.
ciente. As atividades da intervenção foram
O trabalho em saúde mental engen- realizadas em três momentos distintos:
dra um tipo particular de vulnerabilida- no primeiro momento foram realizadas
de, em função do constante envolvimento entrevistas individuais com os profissio-
afetivo com a clientela e outros profis- nais participantes, visando à caracteri-
sionais, demandando recursos afetivos, zação de cada equipe e ao levantamento
posturas profissionais, habilidades e com- de suas necessidades; no segundo mo-
petências que ultrapassam os limites do mento foi realizada uma devolutiva dos
conhecimento formal. Em função destes resultados da análise qualitativa para as
aspectos, diversos estudos apontam a equipes, na qual foi proposto o desen-
natureza e organização do trabalho em volvimento de grupos com os profissio-
saúde mental como geradoras de sobre- nais de saúde mental; finalmente, foram
carga e estresse para profissionais. realizadas as atividades em grupo, que
Para atender essa demanda, inter- denominamos Grupo de Cuidado.
venções em grupo direcionadas aos pro-
fissionais de saúde mental têm sido pro- Grupo de Cuidado para profissionais
postas como uma estratégia de de saúde mental
capacitação em serviço ou desenvolvi- Foram realizados 10 encontros se-
mento profissional em saúde mental. manais, com duração de uma hora e
Nessa direção, o objetivo deste estudo meia. Participaram dos encontros, em
foi identificar as temáticas emergentes média, 50% dos integrantes das equi-
em um processo de intervenção em gru- pes, em forma de rodízio para não pre-
po realizado com profissionais das equi- judicar o funcionamento dos serviços. A
pes de dois Centros de Atenção Psicos- cada encontro, uma dupla de estagiários
social - CAPS de uma cidade do norte do de Psicologia propunha uma atividade
Paraná. vivencial relacionada ao tema, previa-
mente planejada em supervisão.
Os temas dos encontros relaciona-
MÉTODO ram-se ao cuidado com os profissionais,
abrangendo suas trajetórias individuais
Participaram do estudo 34 profis- e constituição da própria equipe, vivên-
sionais pertencentes às equipes de saú- cias subjetivas do papel profissional, pro-
de dos serviços incluídos neste estudo. jetos individuais e coletivos. Posterior-
As equipes eram multidisciplinares, com- mente, emergiu do grupo a necessidade
postas por um total de seis enfermeiros, de se trabalhar questões referentes ao
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prios profissionais de saúde pela busca letivas, isto é, à busca do bem-estar co-
do autocuidado. Com o aprofundamento mum e da efetividade do trabalho inter-
das discussões, essa questão foi se des- disciplinar.
locando desde uma busca individual para Os participantes refletiram sobre
uma questão de responsabilidade coleti- suas trajetórias profissionais individuais,
va, que deveria ser discutida no ambien- suas metas pessoais e profissionais, bem
te e no horário de trabalho. como ponderaram sobre os objetivos do
trabalho em equipe. As atividades reali-
O profissional tem que se atualizar e se zadas no Grupo de Cuidado proporcio-
cuidar, né? A gente tem que ir atrás, fazer
grupo de estudo, terapia... O duro é arran- naram a reconstrução de sentidos do gru-
jar tempo e dinheiro para tudo isso [risos]. po sobre o trabalho e o papel do cuidador,
(Participante 8) partindo do resgate das histórias indivi-
duais dos percursos profissionais e dos
Com a experiência do Grupo de significados construídos por cada profis-
Cuidado, os participantes apontaram, sional ao longo de sua trajetória até o
como uma das maneiras de superar a momento presente – o trabalho no CAPS.
falta de tempo e de espaço para se dedi- Tal processo permitiu um re-conhecimen-
carem ao autocuidado, a inserção de ati- to dos integrantes do grupo e, possivel-
vidades dessa natureza no próprio con- mente, uma “re-identificação” com a ta-
texto do trabalho, percebendo-as como refa assistencial, que levou a uma
oportunidades para reavaliarem suas rearticulação de significados. Estes pas-
expectativas e ressignificarem seu de- saram da esfera eminentemente indivi-
sempenho profissional. dual para o âmbito grupal: a partilha de
saberes e informações, o redimensiona-
Nossa! Como a gente precisa disso. E
não tem, né? E não tem. Acho que muito mento das fronteiras entre os diferentes
do sentimento de sobrecarga vem daí, viu? fazeres, a tessitura do trabalho coletivo
[...] precisa ter um espaço assim dentro como lenitivo para as dificuldades enfren-
do trabalho, acaba sendo ferramenta de
trabalho pra gente. (Participante 21) tadas pela equipe no cotidiano, fortale-
cendo o papel de cada um na construção
Por meio das atividades desenvol- compartilhada de recursos para o enfren-
vidas, os participantes puderam refletir tamento dos desafios.
sobre a importância do cuidar de si, in-
Eu às vezes me perguntava: o que es-
clusive como uma forma de poderem tou fazendo aqui no CAPS? Me sentia meio
cuidar melhor do outro. Isso parece acon- caindo de pára-quedas. Mas olhando pra
tecer de duas maneiras: propiciando ao minha história profissional eu vejo como
fui construindo um caminho mesmo, que
profissional maior disposição interna para me permitiu sair da comodidade do con-
o exercício de seu papel e oferecendo sultório, buscar mais do que a clínica indi-
recursos técnicos para serem utilizados vidual, viver essa riqueza que é trabalhar
em equipe. (Participante 3)
em sua prática cotidiana.
Aqui a gente está sempre apagando in-
Esses momentos são muito importan- cêndio, sempre indo, vindo, acudindo e a
tes porque eu sinto assim, que eu me abro gente não pára para olhar os resultados do
mais para compreender o paciente, para trabalho, e nem para comemorar os suces-
empatizar com ele, e também levo daqui sos. A gente não pára para ver o que esta-
algumas coisas técnicas mesmo, essas di- mos fazendo aqui, olhar pra gente, olhar
nâmicas que a gente vivenciou e que sabe para a equipe, para esse resultado coleti-
o que vai despertar neles. (Participante 21) vo. (Participante 6)
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