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Faculdade de Educação Santa Terezinha

Aluna: Talita Moura Reis

Professor: Kadiniel

Matéria: Gestalt terapia

Resumo-Gestalt Terapia na clínica ampliada

A atenção primária em saúde no Brasil, associada ao movimento da


reforma psiquiátrica, levou à reestruturação dos serviços de saúde mental e à
conceituação das equipes multiprofissionais. Nesse processo de reestruturação
e criação de novos dispositivos de atenção à saúde mental, surgem os Centros
de Atenção Psicossocial (Caps), trazendo o enfoque de uma clínica
psicossocial.

Nesse panorama, a atuação do Gestalt-terapeuta fica vinculada a uma


demanda institucional; espera-se que ele desempenhe um papel de trabalhador
social dentro dos movimentos de saúde, estabelecendo conexões intra e/ou
interinstitucionais por meio de algumas estratégias intra e extramuros, a saber:
Apoio para a inserção social, visita domiciliar, grupos terapêuticos e operativos,
oficinas terapêuticas, acompanhamento terapêutico e intervenções de rua,
entre outras.

Essa atuação convida-o a ir onde a clientela vive e a estar diretamente


no território onde os conflitos acontecem, lidando com um sujeito não mais
apartado da sua realidade sociofamiliar; enfim, a lidar com uma prática
cotidiana que o coloca face a face com a complexidade da vida e lhe demanda
ações para as quais não há um manual orientador.

A clínica ampliada é uma clínica psicológica voltada para a atenção


primária em saúde cujo foco do trabalho é o sujeito integral, sendo o processo
saúde-doença compreendido não apenas sob o enfoque psicológico, mas
também econômico, social e político. Ela convida a um fazer clínico que,
embora mantenha as atitudes de observação e escuta originárias do conceito
de clínica, inclui as ações sociais e a rede de relações da vida do usuário.

Também chamada de “clínica psicossocial”, “clínica do território” ou


“clínica da reforma”, a clínica ampliada pode ser pensada como uma clínica
psicossocial que integra a estruturação psíquica e o pertencimento social,
abarcando a complexidade das relações que definem as posições dos sujeitos
no mundo, trazendo o desafio de dotar os indivíduos de um mínimo de recursos
vitais que lhes permitam independência para as atividades da vida diária e para
o exercício da cidadania.

A Gestalt-terapia, com sua ênfase no desenvolvimento do potencial


humano e em sua maturação, traz uma proposta teórico-metodológica que se
ajusta a essa nova demanda, ao buscar muito mais favorecer o processo de
crescimento e a tomada de consciência do que curar um sintoma (Sanchez,
2008).

Para a Gestalt-terapia, estar saudável é ter habilidades para lidar


eficazmente com qualquer situação que se apresente no aqui-agora,
alcançando uma resolução satisfatória de acordo com a dialética de formação e
destruição de Gestalten (Latner, 1996), tanto no nível micro das Gestalten
individuais quanto no nível macro das Gestalten coletivas (comunidade, grupos
sociais).

Esse processo contínuo de formação e destruição de Gestalten, também


chamado de processo homeostático ou autorregulação organísmica, é definido
por Perls (1988, p. 20) como “aquele pelo qual o organismo mantém o
equilíbrio e, consequentemente sua saúde sob condições diversas.

Para a Gestalt-terapia todo comportamento, individual ou coletivo, é um


ajustamento criativo: ajustamento porque o organismo e o ambiente entram em
contato e interagem, em um processo de acomodação mútua; criativo porque
se configura como a melhor forma de expressão, dadas as próprias condições
e as condições do entorno, transformando ambiente e indivíduo.

O campo de atuação do Gestalt-terapeuta demanda: O conhecimento


das relações familiares, comunitárias e institucionais; A mobilização das redes
sociais – as redes naturais de contatos, os laços de pertencimento, as relações
com outros profissionais com os quais os usuários e o próprio Gestalt-terapeuta
trabalham; A construção de vínculos com as instituições e os líderes da
comunidade; O desenvolvimento de ações que visem à autonomia e à
autogestão; A competência técnica para o manejo de intervenções focalizadas;
Levar em conta, ao montar e conduzir qualquer proposta de trabalho, a
flutuação da clientela e, consequentemente, a necessidade de manter uma alta
motivação desta para que ela retorne.

Trabalhar na clínica ampliada traz uma série de desafios a serem


enfrentados pelos Gestalt-terapeutas. Principalmente, de cinco grandes fatores:
1- O fato de a clínica ampliada ainda constituir um saber em construção, ao
mesmo tempo que gera o espaço para que o Gestalt-terapeuta descubra o seu
fazer, traz um sentimento de insegurança, uma ambivalência entre a
incapacidade e o empoderamento.

2- O contato com o outro, que apresenta uma realidade crua, de muita dor,
miséria, desorganização psíquica, situações extremas de exclusão social, traz
à tona os não ditos, os fantasmas do profissional.

3- A multiplicidade de demandas da instituição, dos usuários e da comunidade


diante da escassez de psicólogos contratados nas unidades de saúde, gerando
uma sobrecarga da qual a jornada de trabalho não dá conta.

4- Ainda não haver uma delimitação clara do que seja o território de cada
profissão, além da falta de embasamento teórico-prático para uma atuação
com equipes multiprofissionais.

5- O impasse diante de questões políticas que fogem da sua ingerência como


profissional, mas interferem em sua atuação, seus valores e sua ideologia.

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