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FACULDADE CESUMAR DE PONTA GROSSA

UNICESUMAR – FACULDADE CESUMAR DE PONTA GROSSA


BACHARELADO EM PSICOLOGIA
ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SAÚDE

MAIARA TAINA LASCOSKI – RA: 1964855-2

RESENHA CRÍTICA DO LIVRO: CLÍNICA PERIPATÉTICA


(LANCETTI, ANTONIO. 2008)

PONTA GROSSA/PR
2023
FACULDADE CESUMAR DE PONTA GROSSA

REPENSANDO A SAÚDE MENTAL: REFLEXÕES E CONTRIBUIÇÕES DA


"CLÍNICA PERIPATÉTICA" DE ANTONIO LANCETTI

A obra "Clínica Peripatética" de Antonio Lancetti, constitui um marco no


âmbito da saúde mental, trazendo reflexões pertinentes e inovadoras acerca do
cuidado com os pacientes psiquiátricos. Lancetti, um renomado psiquiatra e
especialista em saúde pública, busca nesse livro apresentar um novo olhar sobre o
tratamento e a reinserção social dos indivíduos acometidos por transtornos mentais,
por meio de uma proposta que denomina "Clínica Peripatética", que se caracteriza
por uma clínica do movimento, que tem por finalidade construir novos settings
altamente férteis para a produção de subjetividade e cidadania.
No início da obra, o autor oferece ao leitor uma contextualização histórica da
saúde mental e dos modelos assistenciais ao longo do tempo. Essa abordagem é
crucial para compreender o desenvolvimento e a evolução das práticas terapêuticas,
possibilitando um discernimento mais aprofundado sobre as motivações que levaram
Lancetti a propor sua metodologia inovadora.
Outro aspecto relevante da obra é a discussão acerca da
desinstitucionalização dos pacientes psiquiátricos. Lancetti argumenta que a
transição do modelo asilar para um modelo baseado na atenção comunitária é
essencial para garantir a promoção dos direitos humanos e a cidadania desses
indivíduos. Nesse sentido, a "Clínica Peripatética" emerge como uma alternativa
viável e eficiente para lidar com os desafios impostos por essa mudança
paradigmática.
Dentro dessa perspectiva, é possível identificar a crítica do autor aos modelos
tradicionais de tratamento em saúde mental, especialmente no que tange ao uso
excessivo da internação psiquiátrica como principal estratégia terapêutica. Nesse
sentido, Lancetti demonstra sua preocupação com a estigmatização dos pacientes, o
isolamento social e a exclusão desses indivíduos de suas comunidades.
É importante destacar que a proposta da "Clínica Peripatética" vai além da
mera substituição do ambiente terapêutico, é necessário conhecer o sistema e
conhecer principalmente as pessoas que precisam dele. Lancetti preconiza uma
transformação na relação entre o profissional e o paciente, na qual ambos se tornam
sujeitos ativos no processo terapêutico. Dessa forma, a escuta sensível, a empatia e
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a construção conjunta de estratégias de enfrentamento são elementos centrais


dessa abordagem.
A "Clínica Peripatética", proposta pelo autor, fundamenta-se no princípio da
circulação e do movimento, tanto físico quanto simbólico, do paciente e do
profissional de saúde mental. Lancetti resgata a filosofia peripatética de Aristóteles,
na qual o caminhar e o pensar estão intrinsecamente relacionados, e propõe uma
abordagem terapêutica que valoriza o encontro e o diálogo entre o profissional e o
paciente, na busca pela superação das dificuldades e pela construção de um novo
projeto de vida.
Nesse contexto, torna-se evidente a preocupação de Lancetti com a
humanização do tratamento em saúde mental e a valorização do sujeito, em
contraposição à visão reducionista e patologizante presente em muitos modelos
tradicionais. Além disso, a "Clínica Peripatética" busca romper com a ideia de um
espaço fechado e delimitado, ampliando o campo de atuação do profissional para
além das fronteiras das instituições de saúde, tornando o setting o cenário ou a
situação; espaço dentro-fora facilitador da comunicação inconsciente-inconsciente;
relação na qual o psicanalista opera.
No decorrer do livro, Lancetti apresenta diversos exemplos de aplicação
prática da "Clínica Peripatética", demonstrando como essa abordagem tem sido
efetiva na promoção da reinserção social e na melhoria da qualidade de vida dos
pacientes. Esses relatos, contudo, não buscam apenas ilustrar a proposta teórica,
mas também servem como base para a reflexão crítica sobre a efetividade e os
desafios envolvidos na implementação desse modelo assistencial ou de apoio.
Embora a "Clínica Peripatética" seja uma proposta promissora e inspiradora, é
importante analisar criticamente suas limitações e os desafios enfrentados na
prática. Lancetti reconhece que essa abordagem não é uma solução universal e que
cada caso deve ser analisado de maneira singular, levando em consideração as
especificidades e as necessidades de cada indivíduo. Além disso, o autor destaca a
importância da articulação entre os diversos profissionais e serviços de saúde, bem
como a necessidade de uma atuação inter e multidisciplinar, para garantir a
efetividade do tratamento e a integralidade do cuidado.
Outra questão que merece atenção é a formação dos profissionais que
atuarão nesse modelo assistencial. Lancetti enfatiza a importância de se repensar a
formação em saúde mental, a fim de preparar os profissionais para lidar com as
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complexidades e os desafios impostos pela "Clínica Peripatética". Nesse sentido, a


educação permanente e a capacitação dos profissionais tornam-se fundamentais
para a consolidação dessa proposta.
É válido mencionar que a "Clínica Peripatética" não se limita apenas ao
trabalho dos profissionais de saúde mental, mas também envolve a atuação de
outros atores, como a família, os amigos e a comunidade em geral. Lancetti ressalta
a importância da criação de redes de apoio e de solidariedade, que possam
contribuir para a recuperação e a reinserção social dos pacientes, fortalecendo,
assim, a eficácia dessa abordagem terapêutica.
A interdisciplinaridade é um aspecto fundamental na "Clínica Peripatética".
Lancetti argumenta que a complexidade dos transtornos mentais e os desafios
enfrentados pelos pacientes requerem uma abordagem holística e colaborativa.
Assim, a atuação conjunta de profissionais de diferentes áreas, como psicólogos,
psiquiatras, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais, torna-se imprescindível
para o sucesso dessa proposta terapêutica.
Apesar dessas ressalvas, a obra de Lancetti pode ser considerada um
importante avanço no campo da saúde mental e da saúde de forma geral. "Clínica
Peripatética" oferece uma nova perspectiva sobre o tratamento dos transtornos
mentais, colocando em evidência a importância da humanização, do respeito à
singularidade e da promoção da autonomia dos pacientes.
Além de propor uma nova abordagem terapêutica, Lancetti também aborda a
necessidade de se repensar os sistemas de saúde e as políticas públicas
relacionadas à saúde mental. O autor argumenta que a "Clínica Peripatética" deve
ser inserida no contexto de um sistema de saúde mais amplo, que valorize a atenção
primária e promova a integração entre os diferentes níveis de atenção, garantindo
um cuidado mais efetivo e acessível, trazendo os CAPS as suas origens: atender de
portas abertas, o que os hospitais psiquiátricos atendiam de portas fechadas.
A "Clínica Peripatética" também enfatiza o papel do autocuidado e da
resiliência no processo de recuperação e reabilitação dos pacientes. Lancetti
defende que os pacientes devem ser incentivados a desenvolver habilidades e
estratégias de enfrentamento, que lhes permitam lidar com as adversidades e os
desafios impostos pelos transtornos mentais, que é necessário que consigam parar
para pensar sobre todas as questões. Essa abordagem empoderadora tem como
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objetivo promover a autonomia e a autoestima dos pacientes, contribuindo para sua


reinserção social e melhoria na qualidade de vida.
Entretanto, cabe ressaltar que, por mais inovadora e relevante que seja a
proposta de Lancetti, é necessário um debate mais amplo acerca das políticas
públicas de saúde mental e das estratégias de cuidado. Nesse sentido, a "Clínica
Peripatética" deve ser entendida como uma possibilidade de ação, mas não como
uma solução única e definitiva.
Dessa forma, o livro "Clínica Peripatética" de Antonio Lancetti desempenha
um papel crucial no estímulo ao debate e à reflexão acerca das práticas terapêuticas
em saúde mental. Ao propor um modelo assistencial pautado na humanização e na
valorização do sujeito, o autor contribui para a superação de abordagens
reducionistas e estigmatizantes, abrindo espaço para novas perspectivas e
possibilidades de cuidado. Essa questão fica bastante evidente, quando tratado do
assunto redução de danos, onde nos é apresentada a realidade como ela é: a
proposta de abstinência é uma proposta que valoriza a possibilidade eminente de
fracasso e a redução de danos valoriza a possibilidade de vitória.
Nesse contexto, a obra de Lancetti traz uma importante contribuição para a
construção de um novo paradigma em saúde mental, capaz de enfrentar os desafios
e as demandas contemporâneas. A "Clínica Peripatética" apresenta-se como um
convite ao diálogo e à reflexão, estimulando a busca por soluções criativas e
inovadoras no cuidado com os pacientes psiquiátricos.
Lancetti também aborda a importância do papel das organizações da
sociedade civil, como associações de usuários e familiares, na promoção e defesa
dos direitos das pessoas com transtornos mentais. O autor destaca que a
participação ativa desses atores na formulação e implementação das políticas
públicas de saúde mental é crucial para garantir a efetividade e a legitimidade das
ações desenvolvidas, bem como para fortalecer o processo de desinstitucionalização
e a luta pela cidadania.
A "Clínica Peripatética" também se destaca por sua capacidade de adaptar-se
às diferentes realidades socioculturais e às necessidades específicas de cada
contexto. Lancetti enfatiza que essa flexibilidade é fundamental para garantir a
efetividade e a sustentabilidade dessa proposta. Nesse sentido, o autor defende a
importância da pesquisa e da produção de conhecimento acerca das práticas
peripatéticas, visando aprimorar e enriquecer a abordagem proposta.
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Em síntese, "Clínica Peripatética" de Antonio Lancetti apresenta uma proposta


inovadora e desafiadora para o campo da saúde mental, ao propor uma abordagem
terapêutica pautada na humanização, na valorização da singularidade e na
promoção da autonomia dos pacientes. A obra instiga o leitor a refletir sobre as
práticas e os paradigmas vigentes, trazendo à tona questões relevantes acerca da
desinstitucionalização, da interdisciplinaridade, da integração entre os diferentes
níveis de atenção e da participação ativa de diversos atores, como a família, a
comunidade e as organizações da sociedade civil. Além disso, a "Clínica
Peripatética" evidencia a importância da formação e capacitação dos profissionais
de saúde mental, bem como da pesquisa e da produção de conhecimento acerca
das práticas peripatéticas, visando aprimorar e enriquecer a abordagem proposta.
Por fim, a obra de Lancetti contribui para a construção de um novo paradigma em
saúde mental, mais inclusivo, ético e humanizado, e se constitui como uma leitura
indispensável para todos aqueles que se interessam pelo tema.

REFERÊNCIAS:
LANCETTI, A. Clínica Peripatética. São Paulo: Hucitec, 2008.

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