Você está na página 1de 27

FACULDADE UNIGRAN CAPITAL

RAPHAEL MOURA DE PAULA RIBEIRO NETO

A CORPOREIDADE E A CONTEMPORANEIDADE NA
GESTALT-TERAPIA

Campo Grande MS
2017
FACULDADE UNIGRAN CAPITAL

RAPHAEL MOURA DE PAULA RIBEIRO NETO

A CORPOREIDADE E A CONTEMPORANEIDADE NA
GESTALT-TERAPIA

Trabalho de Conclusão de Curso em forma de artigo


científico apresentado ao Curso de Psicologia da
Faculdade UNIGRAN CAPITAL, como requisito
parcial para obtenção do título de bacharel em
psicologia.
Professor orientador: Me. Dionatans Godoy
Quinhones.

Campo Grande MS
2017
RAPHAEL MOURA DE PAULA RIBEIRO NETO

A CORPOREIDADE E A CONTEMPORANEIDADE NA
GESTALT-TERAPIA

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________
Me. Dionatans Godoy Quinhones

________________________________________________________________

________________________________________________________________

Campo Grande MS
2017
AGRADECIMENTOS

Às pessoas que passaram pelo meu caminho desde a formação no âmbito escolar até o
meio acadêmico, nas suas contribuições singulares para que eu me encontrasse em processo de
conclusão do curso de psicologia.

Em especial, ao meu avô paterno Raphael Moura de Paula Ribeiro, pela confiança e
investimento na minha educação, que foi de suma importância para que esse momento fosse
possível.

À minha mãe Iraci dos Santos Ribeiro, que além de tudo, foi uma parceira para que esse
sonho se realizasse.

Ao meu orientador, que me despertou para a Gestalt-terapia e me inspirou na escolha


do tema.
Eu faço as minhas coisas e você faz as suas. Eu não
estou neste mundo para satisfazer as suas
expectativas. E você não está neste mundo para
satisfazer as minhas. Você é você, e eu sou eu. E,
se por acaso, nós nos encontrarmos, será ótimo. Se
não, nada se pode fazer.
Fritz Perls
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 7
2 GESTALT-TERAPIA E CORPOREIDADE 8
2.1 TEORIA ORGANÍSMICA 8
2.2 CORPOREIDADE NA FALA E EXPRESSÃO 9
2.3 O CORPO EM GESTALT-TERAPIA 10
2.4 GESTALT-TERAPIA, CORPO E CONTEMPORANEIDADE 13
2.5 INTENCIONALIDADE E TIPOS DE AWARENESS 14
3 METODOLOGIA 16
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 16
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 19
6 REFERÊNCIAS 21
APÊNDICE 23
A CORPOREIDADE E A CONTEMPORANEIDADE NA GESTALT-TERAPIA
Raphael Moura de Paula Ribeiro Neto1
Dionatans Godoy Quinhones2

RESUMO: O artigo discute sobre a corporeidade e sua relevância no processo de atendimento


em Gestalt-terapia, envolvendo a questão da contemporaneidade neste cenário. O objetivo deste
artigo é explorar os ganhos do uso da corporeidade na obtenção de awareness reflexivo, assim
como também identificar as técnicas que fazem o uso da corporeidade no setting da Gestalt-
terapia que promovem um awareness reflexivo mais efetivo. Foi feito um trabalho no formato
de Estado da Arte, levando-se em consideração aproximadamente 20 anos de materiais
publicados envolvendo a corporeidade e suas nuances no setting de Gestalt-terapia. Dentro da
constante descoberta da importância do corpo no processo de autorização do consulente a
bancar um desejo dentro do processo terapêutico é bastante provável que a estimulação do uso
efetivo e guiado da corporeidade no setting oportunize awareness reflexivos que provoquem
mudanças para configurações saudáveis para que o consulente banque determinados desejos,
destruindo gestalts e saindo, assim, de situações inacabadas. Como houve uma diluição do senso
crítico no mundo contemporâneo, faz-se necessário uma ênfase maior nos processos de
autorizações e auto-percepções, fazendo escolhas mais nutritivas e ajustamentos mais
funcionais.
Palavras-chave: Gestalt-terapia. Contemporaneidade. Corporeidade. Awareness.

1
Acadêmico do curso de Psicologia Unigran Capital, hefesto30@gmail.com
2
Professor Mestre do Curso de Psicologia da Unigran Capital, Rua Abrão Júlio Rahe, 325, Campo Grande – MS,
godoy.dionatans@gmail.com
7

1 INTRODUÇÃO

Este artigo investiga a importância da corporeidade no atendimento em Gestalt-


terapia, pois o que o psicoterapeuta acaba por intuir dentro do ambiente do setting tem relação
direta com as observações e descrições fenomenológicas que se baseiam nas manifestações de
corporeidade.
A corporeidade se manifesta de várias formas, incluindo as verbais e não-verbais,
e podem, apesar de terem um caráter instável, fornece elementos para a mudança esperada
dentro de um processo terapêutico.
No que tange a Gestalt-terapia, não pode-se deixar de discorrer sobre as sólidas
bases epistemológicas de tal linha de abordagem teórica, como a Teoria de Campo de Kurt
Lewin, a Teoria Organísmica de Kurt Goldstein, as bases fenomenológica, existencial e
holística que abrem um horizonte de trabalho com a corporeidade como forma de acesso ao
funcionamento do indivíduo.
Através do uso mais efetivo da corporeidade por parte do psicoterapeuta na
obtenção de awareness reflexivo na Gestalt-terapia, assim como uma melhor consciência de
corporeidade por parte do consulente, proporcionará uma melhor compreensão das
configurações necessárias para que a awareness reflexiva se estabeleça, e portanto o consulente
dar-se-á conta de seus reais desejos e anseios. Assim, também se faz necessário identificar as
técnicas que fazem o uso da corporeidade no setting da Gestalt-terapia como formas de
produção de awareness.
Desta forma, esse artigo tem como objetivo explorar os ganhos do uso da
corporeidade na obtenção de awareness reflexivo na Gestalt-terapia, assim como também
identificar as técnicas que fazem o uso da corporeidade no setting da Gestalt-terapia que
promovem uma awareness reflexiva mais efetiva.
Tais objetivos se justificam pelo fato de que a percepção se evidencia no corpo
através da corporeidade manifesta em gestaltens e o awareness reflexivo que pode ser alcançado
através da observação fenomenológica de tais processos, seguida do uso de técnicas de
intervenção que se baseiem nas conclusões e intuições baseadas nas mesmas, proporcionam ao
consulente uma melhor percepção de si mesmo e de seu horizonte de possibilidades.
8

2 GESTALT-TERAPIA E CORPOREIDADE

A Gestalt-terapia desde a sua criação apresentou-se como uma abordagem


psicoterápica que busca uma alternativa ao modelo psicodinâmico. Portanto, seus elementos
constitutivos vão apontar em direções diversas daquelas já praticadas pela psicologia do
inconsciente e do comportamento. Em grande parte, isso se deve ao deslocamento na
compreensão do indivíduo produzido pela teoria organísmica e pela fenomenologia existencial
que deixa de ser um mero efeito, seja do resultado de um objeto perdido ou de um esquema de
reforçamento, para passar ao lugar de ser de criação que está em constante produção
homeostática que requer um nível significativo de criatividade e energia. Portanto, faz-se
necessário deter-se sobre esses temas,

2.1 TEORIA ORGANÍSMICA


Goldstein mostrou radical oposição a quaisquer visões que defendessem que as
produções do organismo seriam uma mera composição de reflexos. Para que os primeiros
passos da Gestalt-terapia fossem traçados, suas observações destacavam a unidade, a integração
e a consistência do organismo (GOLDSTEIN,1995).
Kurt Goldstein definiu a auto-regulação como algo fundamental no funcionamento
de um organismo, pois através dela, o organismo interage com o mundo, tendo respostas novas
para novas situações, reagindo às demandas de forma satisfatória e criativa (GOLDSTEIN,
1995).
Goldstein não partilhava da crença de que havia a possibilidade de entender estes
indivíduos partindo de um ponto de vista que somente valorizasse as mudanças no ambiente,
tampouco apenas os aspectos de ordem física de suas patologias. O que deve ser verificado é
que a personalidade destes indivíduos mudava de uma forma global em função das lesões
sofridas, não podendo esta mudança ser compreendida apenas como meros reflexos fisicalistas
de tais lesões (LIMA, 2005).
Kurt Goldstein, em princípio, voltou seus estudos para a compreensão dos
comportamentos considerados adaptativos em sujeitos que apresentassem danos. Porém, com
um olhar mais atento e minucioso passou a crer que eles tinham a possibilidade de vir a ser de
suma importância para a compreensão dos processos de funcionamento adaptativos dos sujeitos
de uma maneira geral. Desta forma, eles não se delimitariam somente àqueles ditos “não
sadios”, mas expressariam uma constante do funcionamento do próprio organismo a capacidade
9

de se regular para equilibra-se. Perls se vale dessa compreensão de Goldstein para explanar a
visão de homem global dentro da Gestalt Terapia, que teve seus princípios teóricos apoiados na
Teoria Organísmica (LIMA, 2005).

2.2 CORPOREIDADE NA FALA E EXPRESSÃO


“A consciência reflexiva não é a forma canônica da consciência, nem sua única
forma, nem a primeira. Depende da consciência perceptiva, indiscernível de um corpo
cognoscente. ” (MERLEAU-PONTY, 1946)
Merleau-Ponty inicia sua obra a partir das propostas de Husserl e
entende que a consciência é corpórea e seus aspectos representativos ou
mentais são sempre a posteriori. Dessa forma, toda experiência é
pautada primordialmente na percepção, no sentido que se evidencia no
corpo. Esse corpo flui na temporalidade integrando a experiência
vivida, sendo ele a própria estrutura situacional da vivência. Toda
experiência ou vivência perceptiva é anterior à reflexão. Dessa forma,
o conhecimento se dá a partir de um corpo no mundo (ALVIM, 2012).

Merleau-Ponty salienta que o corpo tem um caráter vivido, “é um campo de


experiência” (ALVIM, 2007, p.42) e uma experiência motora pode oportunizar o acesso ao
mundo e uma atualização com o mesmo, fazendo mais do que simplesmente se habituar a ele,
mas também institui novos meios para seguir em direção a novos sentidos. O homem acaba por
captar o sentido do mundo a medida que ele emerge do mesmo, captando também sua história,
seus hábitos, fazendo parte dele e transformando-o.
Os sentidos são expressados pelas ações humanas, que também expressam uma
intenção indissociável do ato expressivo em si. Para entender seus significados, se faz
necessário compreender a especificidade da situação e suas relações com as ações.
De acordo com Robine (2006, p.79), a awareness opera no modo médio, em uma
relação nem ativa nem passiva com o campo.
Awareness não é uma vigilância constante sobre o que está
acontecendo, isso seria adoecimento porque direcionaria a energia da
pessoa para um estado de vigilância, impossibilitando a espontaneidade
e abertura para novas experiências. Mas também não é uma pura
passividade em que o organismo se deixa levar completamente pelo
ambiente (ALVIM, 2012).

A Gestalt-terapia se atenta à forma que o sujeito fala no setting terapêutico, através


de seus padrões, picos prosódicos, logolalias, bloqueios e manifestações de rigidez, que se
mostram como um campo rico para o trabalho de terapia.
10

Tal ligação à corporeidade se deve ao fato de que a essência da teoria da Gestalt-


terapia está na compreensão do aqui-agora e como, onde o agora, que acontece aqui no campo,
engloba tudo que existe. O passado já foi e o futuro ainda não se faz presente agora. Agora
inclui o equilíbrio de estar aqui. Como engloba tudo que pode ser percebido na estrutura,
comportamento, processo. Todo o resto se torna irrelevante (PERLS,1977).
A gesticulação e a forma de falar acabam ganhando mais foco do que o conteúdo
do discurso. Desta maneira, a terapia caminha na direção da possibilidade de o consulente se
perceber repetindo padrões.
Merleau-Ponty propõe que o corpo integra homem e mundo, é o ponto
de onde partem todas as manifestações do ser. Dessa forma, a fala é
considerada um gesto corporal dotado de sentido que é compreendido
pelo outro, possibilitando a relação do sujeito com o mundo e sendo,
portanto, considerada prerrogativa da unidade corpo-mente-mundo. A
fala emerge como gesto do corpo que está em relação de sentido com o
mundo (ALVIM, 2012).

Segundo Amatuzzi (1989), “a fala autêntica é o pensamento em ato: não existe um


pensamento precedente, do qual ela seria a tradução. O que existe antes dela não é o pensamento
e sim a gestação de uma intenção significativa. ”
Apesar de grande parte da terapia depender de interações verbais, em geral
percebemos que há pouca energia nas verbalizações do consulente, já que se tornaram clichês
bem ensaiados e quase impenetráveis e falas habituais. Cabe ao terapeuta não cair na armadilha
de fazer o que acaba sendo mais fácil, trocando com o consulente palavras estéreis e se
afastando da vitalidade que se espera de uma relação entre o terapeuta e consulente (ZINKER,
2007).
Mais que isso, há uma relação entre o que fala e o que ouve e não pode ser
estabelecido que há uma passividade por parte daquele que ouve enquanto que se faz ativo
aquele que fala, pois ambos são precedidos pelo que o outro oferece ao campo.

2.3 O CORPO EM GESTALT-TERAPIA


O corpo se mostra como algo fundamental na experiência da vivencia de sua
corporeidade, que denota a sua ação como um organismo que percebe e ao mesmo tempo se
engaja de forma prática dotado da existência de possibilidades. “Ser corpo é estar atado a um
certo mundo, e nosso corpo não está primeiramente no espaço: ele é no espaço”. (MERLEAU-
PONTY, 1994, p.205)
11

Dentro da visão da Gestalt-terapia, o contato se caracteriza por uma interação entre


a pessoa e o mundo, envolvendo, dentre outros, atividades motoras e afetos, onde há “um livre
fluir em direção à formação de gestalt que só pode prosseguir enquanto o excitamento e o
interesse puderem ser mantidos” (L. PERLS, 2002, p.153)
Nessa perspectiva o corpo é um “corpo-sujeito, poder de expressão, espírito,
produtividade criadora de sentido e de história” (DUPOND, 2010, p.12). O sentido é construído
diante da situação, quando este corpo, experimentando a vivencia dentro do campo, articula,
partindo de sua motricidade.
“O meio–ambiente de um organismo não é absolutamente algo definido e estático,
pelo contrário, está em metamorfose contínua, comensurável com o desenvolvimento do
organismo e sua atividade” (KURT GOLDSTEIN 1995, p. 50). Acredita–se que os sujeitos
fazem a auto–regulação priorizando as ações que promovam a satisfação das suas necessidades
emergentes, e a partir do momento em que uma necessidade é satisfeita, esta deixa o posto de
figura para que outra necessidade emerja. Perls também assumiu o termo necessidade na teoria
da Gestalt–terapia.
Fritz Perls considera a questão da cisão mente e corpo das outras linhas de
abordagem da psicologia como algo arbitrário. De fato, a atividade mental deve ser vista como
algo que funciona em nível menos exposto que a atividade física. A nossa corporeidade,
observada através da respiração, movimentos, mudanças de tom de voz, dentre outros, podem
nos ensinar muito sobre nós mesmos, manifestando quem realmente somos (FADIMAN, 1986)
O corpo manifesta-se, então, de forma chamada de intencional na Gestalt-terapia,
se mostrando através das manifestações das gestaltens. O corpo atua intencionalmente no
mundo e é fundamental para a “aparição” do mundo. A corporeidade é a própria ação no mundo,
ou seja, o corpo é um campo perceptivo e prático que carrega um sentido de possibilidade, um
eu comprometido que se estende para o mundo.
Meu corpo tem seu mundo ou compreende seu mundo sem precisar
passar por representações, sem subordinar-se a uma função simbólica
ou objetivante (...). Não estou no espaço e no tempo, não penso o espaço
e o tempo; eu sou no espaço e no tempo, meu corpo aplica-se a eles e
os abarca. A amplitude dessa apreensão mede a amplitude de minha
existência (MERLEAU-PONTY, 1994, p.195).

A obra de Merleau-Ponty, especificamente em relação à sua abordagem da noção


de corpo traz que o corpo acaba por retrair a sua corporeidade em manifestações visíveis, na
tentativa de conter o excitamento causado pelo campo. O papel do psicoterapeuta acaba sendo
o de conduzir o consulente ao awareness e fechamento de gestalts através de muitas técnicas e
12

intervenções, fazendo também o uso das manifestações da corporeidade do consulente, guiando


o mesmo para posturas corporais e/ou atitudes corporais no setting, que representem o bancar
de desejos suprimidos por neuroses existentes.
Compreendemos a relação terapêutica como uma relação de criação conjunta. O
terapeuta tem, portanto, um papel de artista neste processo; ele é “uma pessoa que usa a
inventividade para ajudar os outros a moldar suas vidas…” (ZINKER, 2007, p.17).
A Gestalt–terapia é, de fato, uma autorização para ser criativo, tendo como principal
ferramento metodológica o uso dos experimentos, que não necessariamente devem surgir de
conceitos, e sim de ludicidade (ZINKER, 2007, p. 30).
Desta forma, a relação terapêutica pode ser recriada através dos experimentos
proporcionados pelo psicoterapeuta e experimentados por ambos. Tais brincadeiras ou
improvisações são os experimentos onde se pode usar do tempo do setting terapêutico para
iniciar processos do dar-se-conta e mudança positiva para uma configuração mais saudável e
um ajustamento mais criativo e menos neurotizado.
O corpo habitual carrega a marca da singularidade e das experiências prévias
através do fundo de vividos, ligado à noção de comportamento preferido proposta por Goldstein
(2000), indicando que cada organismo possui um estilo singular, um esquema corporal que
articula, à sua maneira, a totalidade.
Trabalho, práxis que produz gnose, expressão e fala, gesticulação corporal em
situação com o mundo. É no meio das coisas que esse conhecimento se faz, são as
coisas que não conheço, que me são diferentes, novas, estranhas, o que me convoca
para um movimento curioso que é práxis, corpo vibrante. A compreensão dada pelo
corpo é pré-reflexiva, gerando um conhecimento tácito. A síntese do corpo próprio,
tal como podemos afirmar também a respeito da noção de awareness na Gestalt-
Terapia, implica espaço, tempo, movimento, sensações e expressão. Unidade, porém,
implícita e ambígua. Não posso apreendê-la, mas só vivê-la (ALVIM, 2011).

Desta forma, para Merleau-Ponty, o corpo próprio reside no mundo com as coisas
e os significados se fazem de acordo com uma situação experienciada. A partir do momento
que eu me aproprio do mundo, meu horizonte existencial se alarga. O corpo é um centro de
perspectiva que não pode possuir o mundo de forma objetiva, mas acrescenta a ele e as coisas
apenas por perfis (ALVIM,2011).
O mundo não está ao redor como “um puro objeto de pensamento sem fissura e
sem lacuna” (MERLEAU-PONTY, 1946/1990, p. 48). O que o indivíduo tem na percepção não
são verdades, mas presenças, onde através de uma síntese corporal, o futuro que se aproxima
pode ser vislumbrado, alcançável como que se pode ser feito estendendo o braço em um gesto,
mesmo sendo um dado ainda não presente.
É o corpo, tal como já propôs Husserl e retoma Merleau-Ponty, que me dá o sentido
13

de possibilidade: um “eu posso”. A corporeidade me dá um sentido provisório, tácito e


escorregadio (ALVIM, 2011). Entretanto, tal sentido provisório é capaz de provocar um
awareness que têm ações duradouras.
Entender a relação entre o corpo, a função ID e a intencionalidade organísmica são
pontos-chave para a compreensão das fases envolvidas no contato, suas devidas interrupções e
respectivos ajustes neuróticos e como fechar as gestalts para obter o alcance de uma
configuração que possibilite o consulente bancar ou mesmo abrir mão de seu desejo, tendo o
conhecimento do que lhe pertence, para que o processo de contato seja nutritivo e satisfatório.
A observação das gestaltens pelo psicoterapeuta darão subsídios para a escola do
momento oportuno de trazer ao consulente a percepção do aqui-agora e seu horizonte de
possibilidades.

2.4 GESTALT-TERAPIA, CORPO E CONTEMPORANEIDADE


De acordo com Alvim (2007) a awareness pode acontecer através de uma
experimentação que é “uma oportunidade de realização de uma ação que, em curso, pode ser
vivida e experimentada, fazendo brotar um sentido de self a partir da awareness de si próprio
no campo”.
Quando o campo é trazido para a contemporaneidade, há um bombardeio de
informações que são trazidas pela mídia e suas variadas ferramentas de acesso.
Com a televisão, a mídia, a publicidade, a internet, vamos
progressivamente apagando a diferença entre o real e o imaginário, ser
e aparência. Fica apenas o simulacro passando por real. Mas o
simulacro, intensifica o real. Ele fabrica um hiper-real, espetacular, um
real mais real e mais interessante que a própria realidade. Com isso,
somos levados a exagerar nossas expectativas e modelamos nossa
sensibilidade por imagens sedutoras. (SANTOS, 1997b).

Quando há referências ao bombardeio da mídia e como ela especula a vida, temos


em pauta algumas propriedades que se dão de forma diferente, se comparadas com as
experiências de contato antes vividas e experimentadas antes do advento da rapidez, ritmo e
quantidade de informações provenientes da mesma, baseadas em fantasias e introjeções do
imaginário social acerca do que é ou não necessário, bonito, útil, valioso (NUNES, 2009).
Nesta contemporaneidade, o corpo acaba por estabelecer um contato baseado em
imediatismos, onde a capacidade crítica do sujeito se encontra imersa em tais contatos
relâmpagos e superficiais, com tendência a participações desprovidas de autenticidade.
Desta forma, se adotarmos a metáfora gestáltica e pensarmos que o
mundo nos alimenta, este alimento pode estar virando um ‘bloco
14

indigesto’ no organismo do ser contemporâneo. Ao invés de mastigar o


alimento que o mundo dá – o que favoreceria a discriminação e
‘destruição’ da substância recebida a fim de verificar, por seus próprios
meios, se vamos aceita-la ou rejeitá-la – o indivíduo contemporâneo
introjeta o alimento do mundo como uma criança engole o leite da mãe,
de maneira a-crítica e passiva, com insuficiente habilidade de
envolvimento e com baixa responsabilidade na experiência (NUNES,
2009).

Pode-se perceber que há sujeitos que produzem ajustamentos funcionais diante das
condições oferecidas pela contemporaneidade, enquanto outros, de forma mais disfuncional,
acabam reagindo com depressão, fobias, transtornos dos mais variados, uso de drogas e abuso
de bebidas alcoólicas, dentre muitos outros ajustes criativos, todavia disfuncionais para si
mesmo e para o meio.

2.5 INTENCIONALIDADE E TIPOS DE AWARENESS


Quando se fala de redução fenomenológica, faz-se possível compreender a
consciência como intencionalidade. A consciência “(...)deve ser concebida a partir de sua
relação intencional com o seu objeto que, em sua versão reduzida, enquanto um dado imanente,
um conteúdo intencional da consciência. Trata-se, com tal redução, de fazer o mundo reaparecer
na consciência como um horizonte de idealidades meramente significativas, que se revelam
como um dado absoluto e imediato para uma tal consciência pura que o apreende e o constitui
intuitivamente” (TOURINHO, 2011, p. 33).
O tempo descrito por Dartigues (1992), é entendido como uma rede de múltiplos
agoras, cada um de uma vez, não como acontecimentos lineares que derivam de uma base prévia
de aprendizagem.
A pureza da fenomenologia é garantida pela consciência como fluxo, onde a ”coisa
mesma” se apresenta através da recuperação da consciência transcendental. “Para Husserl,
somente assim a filosofia poderia, definitivamente, se livrar das divergências de seu tempo, e
da ameaça do ceticismo iminente, reerguendo-se de forma inabalável” (TOURINHO, 2011,
pag.39).
Já o contato, como é descrito por Perls (1973), pode ter como definição uma
awareness do campo ou mesmo uma resposta motora dentro do mesmo; compreendido como
uma interação que se tem na fronteira em um movimento de consciência (de) e ação (para). “É
na fronteira que os perigos são rejeitados, os obstáculos superados e o assimilável é selecionado
e apropriado” (PHG, 1951, p.44).
15

No exercício da clínica, descrito como arte do contato, toda vez que um novo
fenômeno é percebido no campo, se este provoca um aumento da awareness na fronteira de
contato, uma nova figura está disponível representando uma nova possibilidade, frente a este
novo horizonte de possibilidades que emerge. A formação de uma figura nítida caracteriza um
bom. Isto se faz implicado em uma clínica que não preconiza teorias do comportamento normal,
“a própria figura fornece um critério autônomo da profundidade e realidade da experiência”
(PHG, 1951, p. 46). De acordo com Perls, Hefferline e Goodman (1951), todo ato de awareness
exige contato, no entanto, não significa que todo contato implique em awareness. O casal
Müller-Granzotto (2007a) descreve a awareness como um processo de orientação que se renova
a cada instante. É caracterizado por formação de gestalten, que ocorre no aqui-e-agora. Só existe
awareness no contato, na percepção do campo organismo e ambiente (sempre no presente).
Dessa forma, a awareness pode ser compreendida como um contato em sua plenitude; uma
integração total do campo organismo e ambiente, havendo uma completa percepção, da parte
de quem percebe, de todos os elementos do campo organismo e ambiente (YONTEF, 1993).
Fazendo-se um apanhado da teoria dos awareness, chega-se a uma divisão didática:
Primeiro nível: Espontâneo – Intencionalidade Operativa, segundo Husserl.
Awareness sensorial: é o sentir, uma abertura para algo novo. Uma figura começa
a se formar, e assim ocorre o excitamento. O sentir mobiliza a ação, pois tem a ver com a
historicidade do fundo de vividos e se apresenta como um co-dado que estava retido no fundo.
É nesse nível que existe a conservação, algo necessário à vida, porque só o que é retido acaba
por formar fundo.
Awareness deliberada irreflexiva: constitui o excitamento, que é mobilizado pela
história do sujeito, visando através de um dado material, as possibilidades futuras que se possam
oferecer ao horizonte já retido. O sentir transforma-se em uma ação motora-verbal, colaborando
para o ajustamento criativo. É uma deliberação para se fazer algo.
Segundo nível: Objetivo – Intencionalidade de Ato de Husserl
Awareness deliberada reflexiva: através da significação objetiva da linguagem, há
reflexão em cima do que ocorreu, utilizando de reflexão para realizá-la (CIORNAI, 1995).
A awareness reflexiva tem importância marcante na detecção de que ponto do
contato há a interrupção, a fim de proporcionar awareness sensórios e motores sem retração.
De acordo ainda com Granzotto (2007), entre esses dois níveis de articulação da
awareness não há ruptura, há integração.
16

3 METODOLOGIA

A pesquisa desenvolvida é do tipo de revisão bibliográfica em estado da arte,


onde fez-se um levantamento mais focado em 20 anos de intervalo de publicações em
corporeidade na gestalt terapia envolvendo a trajetória da compreensão da corporeidade dentro
desta abordagem, com fontes em livros, sites científicos buscados na internet, plataformas de
periódicos em gestalt-terapia e fenomenologia, tais quais IGT na Rede, Scielo e Pepsic. Foram
usados como descritores as palavras: gestalt-terapia, corporeidade, corpo e gestalt-terapeuta.
Foram utilizados materiais de 1997 a 2017 escritos na língua portuguesa.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados 9 artigos que tinham relação com corporeidade,


contemporaneidade, awareness e os elos entre eles. Em tais artigos, percebe-se que a
consciência na Gestalt-terapia se manifesta de forma corpórea e tal visão de corporeidade tem
ligação estreita com a fenomenologia, base epistemológica da Gestalt-terapia.

Como a Gestalt-terapia trabalha com uma perspectiva fenomenológica, o corpo


deve ser apreendido não mais como objeto, mas, como perspectiva do mundo, em que o corpo
não se torna completamente objeto do mundo, senão seu meio de comunicação com este mesmo
mundo (FREITAS, 2005, 2009a).

Para a fenomenologia o corpo não é algo que eu tenho, mas que eu sou (Merleau-
Ponty, 1994. Dito de outra forma: numa compreensão organísmica, "do ponto de vista
psicológico o corpo se apresenta como espaço de expressão subjetiva e lugar de organização de
novos sentidos que apontam para a existência humana" (FREITAS, 2005, p. 35).
A Gestalt –terapia tem como característica trabalhar com o ‘todo’, onde o sujeito é
tido como participante do universo circundante, formando o campo em toda a sua integralidade
(MONTEIRO JR,2010), De acordo com Fadiman e Frager (2004, p. 75), “o princípio
fundamental da abordagem gestáltica é que a análise das partes nunca pode oferecer uma
compreensão do todo, pois o todo consiste das partes mais as interações e interdependências
entre elas”.
Já que corpo, fala e expressão caminham juntos em suas manifestações e que a
contemporaneidade trouxe contatos que se tornaram mais superficiais e imediatistas, percebe-
se um desajuste entre fala e expressão que provavelmente caracterizam a presença de
17

ajustamentos disfuncionais dentro da configuração dos sujeitos imersos na falta de


autenticidade presente na contemporaneidade.
Os resultados encontrados sugerem, de certa forma, que na contemporaneidade, a
importância das intervenções se faz mais intensa, pois há um caráter de superficialidade nas
relações de contato, reforçados inclusive pelos meios de comunicação e de mídia aos quais
estamos expostos diariamente, evitando assim contatos mais profundos e genuínos.
Em relação a uma outra possibilidade de ajustamento, temos o ajustamento banal:
O sujeito aliena “suas possibilidades e interesses em favor de restos de objetos ou de
objetos de consumo de massa.” Eles não se vêem mais como se “pudessem provocar
(desejo) ou receber em relação aos semelhantes (reconhecimento social); defendem-
se das demandas de excitamento e de inteligência social alienando-se em substitutos
aos objetos. “ (MG e MG 2012a, p. 196)
Tornam-se sujeitos-mercadorias como se tivessem desincumbidos de sentir (tomam
analgésicos, antidepressivo…), “também não querem fazer nada: (…) consomem em vez de se
divertir, usam jargões em vez de se comunicar, vestem-se com tecnologias – fone de ouvidos,
telefones, games – para se conectar a nada.” (MG e MG 2012a, p. 198)
Quando se trata de corporeidade, percebe-se que as intervenções e técnicas
utilizadas na Gestalt-terapia tem relação fundamental com a observação de seus fenômenos.
Tais fenômenos podem ser identificados através dos apelos do consulente, onde a frustração
habilidosa se faz identificada como uma técnica de intervenção que alcança resultados nos
ajustamentos evitativos, cujas demandas são bem características para cada uma das neuroses.
Tais apelos são hábitos de manipulação que devem ser confrontados pelo psicoterapeuta através
da recusa de ceder a tal manipulação evidenciada corporeidade como um todo, caracterizando
assim a frustração habilidosa.
As manipulações ou pedidos do consulente seguem a seguinte configuração, onde
a confluência, introjeção, projeção, retroflexão e egotismo são diferentes configurações de
neuroses evitativas e, como foi mencionado anteriormente, a awareness reflexiva tem suma
importância na detecção do ponto da interrupção do contato, aliado ao tipo de apelo do
consulente:
- Seja meu modelo – confluência
- Seja minha lei – introjeção
- Seja meu réu – projeção
- Seja meu cuidador – retroflexão
- Seja meu fã – egotismo
18

O instrumento do diagnóstico se estabelece de acordo como o psicoterapeuta é


convocado a ocupar um lugar na criação do campo no setting terapêutico. (MÜLLER-
GRANZOTTO, 2012)
Segundo Pinheiro (2007):

A vivência da frustração a princípio não é danosa, podendo sim ser


extremamente saudável. É fundamental para o processo de
desenvolvimento do ser humano que permita ao indivíduo, desde
criança, viver frustrações, na medida de sua habilidade para assimilá-
las. Nesse contexto, o indivíduo pode aprender a superar situações
sociais, em vez de apenas manipulá-las para diminuir seus efeitos
(como no caso das neuroses) (p.118).
A frustração é de suma importância para o crescimento, como podemos perceber
abaixo:
A consequência é que privar o bebê do afeto do desprazer durante o
decorrer do primeiro ano de vida é tão prejudicial como privá-lo do
afeto de prazer. Prazer e desprazer têm um papel igualmente importante
na formação do sistema psíquico da personalidade. Coibir qualquer um
dos afetos é transtornar o equilíbrio no desenvolvimento. É por isso que
criar os filhos de acordo com uma doutrina de total permissividade leva
a resultados deploráveis. A importância da frustração para o
desenvolvimento nunca será superestimada - afinal é a própria natureza
que a impõe. Para começar, estamos sujeitos à formidável frustração de
asfixia no nascimento, que força a substituição da circulação fetal pela
respiração pulmonar. As frustrações repetitivas e insistentes de sede e
fome seguem-na; elas forçam o bebê a tornar-se ativo, procurar e
incorporar comida (ao invés de receber passivamente comida do cordão
umbilical), e a ativar e desenvolver a percepção [...] Sem desprazer,
sem este grau de frustração que eu chamaria de adequado à idade, não
é possível um satisfatório desenvolvimento do ego (SPITZ, 1983, p.
139).
É evidente que tal frustração deve ser usufruída após uma boa aliança terapêutica,
advinda de um bom acolhimento. A relação terapeuta-consulente é marcada pelo acolhimento
em todo o processo, embora sair um pouco deste lugar de acolhedor, caso haja um objetivo
terapêutico nesse distanciar. O experimento somente possui propósito depois que o excitamento
foi liberado pela frustração à manipulação neurótica.

Outra forma de se alcançar o progresso terapêutico é o desvio clínico, onde


confronta-se o que o psicoterapeuta percebe através da fala e o que se apresenta ao campo
através de sua corporeidade. O consulente é levado a perceber tal oposição de ambos fatores e
se dar conta das reais sensações que permeiam a sua consciência diante do fato relatado. Isto
acontece porque os consulentes nutrem sentimentos inimagináveis por determinados conteúdos
19

sem mesmo perceberem. Há aqui uma quase desconsideração do que o consulente diz, focando-
se no nível não verbal como elemento de mais evidência de afetos. (PERLS, 1977)

A técnica da cadeira vazia se faz presente em vários atendimentos em Gestalt-


terapia e costuma ser compreendido como conversas entre duas polaridades de um sujeito,
através de uma conversa que o mesmo travará com um elemento por ele trazido ao setting,
revelando afetos e desejos de expressão de afetos. A técnica da cadeira vazia é uma das técnicas
de Gestalt-terapia mais difundidas. O consulente se posiciona em frente a uma cadeira vazia.
Posteriormente, ele é estimulado a imaginar alguém de sua vida sentado nela, como sua mãe ou
uma outra pessoa significativa, e ter uma conversa com ela. Este processo pode auxiliar o
consulente a ter uma maior compreensão da situação como um todo. (PERLS, 1977)
Às vezes, partes do self do consulente são colocadas na cadeira vazia, e o mesmo
tem um diálogo com diferentes partes de si mesmo. Tal experiência muitas vezes equivale ao
sujeito ter um melhor senso de todos os aspectos de sua existência, e consequentemente, uma
maior auto-consciência. (PERLS, 1977)
Uma outra possibilidade de técnica é o exercício do exagero, que se caracteriza em
solicitar a um consulente que o mesmo exagere em certos elementos de comportamento,
trazendo mais adiante uma experiência, emoção ou quaisquer outros conteúdos. Por exemplo,
se um cliente está balançando ansiosamente seu braço ou perna, o psicoterapeuta pode solicitar
que ele exagere no gesto, para despertar uma experiência emocional associada a este elemento
da corporeidade. (PERLS, 1977)
O role playing, também usado na Gestalt-terapia, pode auxiliar o consulente a
ensaiar determinado tipo de comportamento esperado em uma dada situação, ajudando assim
na psicoeducação do mesmo. Tais situações envolvem normalmente sintomas de ansiedade e
desconforto, e o ensaiar faz com que o consulente aplaque esta ansiedade e se autorize a
reproduzir tal comportamento fora do setting terapêutico.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se dizer que o caráter libertador da Gestalt-terapia é algo que oportuniza a


possibilidade do sujeito dispor de si mesmo de forma mais plena, consciente do horizonte de
possibilidades que emergem do aqui-agora. O sujeito se autoriza a sentir com mais plenitude,
tendo a real noção de seus desejos e das reais demandas do campo, deliberando bancar ou não
20

tais desejos, de acordo com as possibilidades, enfrentando possíveis obstáculos através de


ajustamentos funcionais, alienando ou aniquilando, para nutrir-se posteriormente.
O psicoterapeuta faz o uso da liberdade que a Gestalt-terapia oferece sem fugir de
suas bases epistemológicas, sem moldar o consulente, e sim, levando-o ao auto-conhecimento,
percebendo se a sua configuração se faz funcional para o aqui-agora, procurando sempre a
homeostase de uma forma criativa e nutritiva. A Gestalt opera no tempo presente sem
menosprezar a influência do tempo passado, mas levando em consideração que as nossas ações
do agora influenciam o futuro. O presente contém o passado e o futuro, através do fundo de
vividos e o horizonte de possibilidades, respectivamente. Finalmente, o que temos é o tempo
presente, foco da linha gestáltica.
O filósofo Platão (428/27 a.C. – 347 a.C.) nos diz que: “O corpo humano é a
carruagem; eu, o homem que a conduz; os pensamentos as rédeas; os sentimentos são os
cavalos”. Para Monteiro Jr (2010 s.p.) “o Gestalt-terapeuta seria aquele que alimentaria os
cavalos na noite anterior para que a viagem flua harmoniosa e chegue ao seu destino, a fim de
que a carruagem cumpra sua missão existencial e tenha, ela própria, sentido”. Esse alimentar
dos cavalos se dá através do uso de técnicas descritas anteriormente, observação
fenomenológica baseada na suspensão de opiniões judicativas.
No discurso de Monteiro Jr., percebe-se um distanciamento das bases epistemológicas
da Gestalt-terapia, já que se faz menção de Platão com sua visão tripartite de alma. Se faz
necessário que os profissionais e pesquisadores que optaram pelo viés fenomenológico e holista
se apropriem de tais bases, sustentando o que faz da Gestalt-terapia uma linha que não é
estruturalista, tampouco dualista em relação ao corpo e mente.
Identificar nuances dos ajustamentos se torna essencial para que, através da criatividade,
ajustamentos criativos e funcionais sejam mais presentes na configuração do sujeito. Em
relação à corporeidade, as reações do organismo são holísticas, pois o corpo e sua corporeidade
se apresentam como um todo.
As técnicas da frustração habilidosa, da cadeira vazia e do exagero são exemplos de
como o psicoterapeuta pode usar esta corporeidade que se manifesta em prol de uma auto-
percepção e consequente experiência transformadora, seja em tornar-se consciente de si mesmo,
ou mesmo oportunizar mudanças deliberadas.
Dada a extrema importância deste assunto, a Gestalt-terapia enquanto linha de
abordagem teórica em situação de abertura para novos estudos, ou mesmo encontros que
despertem a produção de novos pesquisadores, a fim de enriquecer a gama de possibilidades de
técnicas de intervenção, assim como visões que se alinhem cada vez mais à contemporaneidade.
21

6 REFERÊNCIAS

ALVIM, Mônica Botelho. Experiência estética e corporeidade: fragmentos de um diálogo


entre gestalt-terapia, arte e fenomenologia. Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro , v. 7, n.
1, jun. 2007 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
42812007000100012&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 27 mar. 2017.

ALVIM, Mônica Botelho. ARTIGO O lugar do corpo em Gestalt-Terapia: dialogando com


MerleauPonty The body´splace in Gestalt-Therapy: a dialogue with Merleau-Ponty
Revista IGT na Rede, V.8, Nº 15, 2011, Página 227 de 237 Disponível em
http://www.igt.psc.br/ojs/ ISSN 1807-2526

ALVIM, Mônica Botelho; ARAÚJO, Diego Visconti; BAPTISTA, Camilla Santos;


BARROSO, Felipe T.W.; QUEIROZ, Karina Marques Ferreira; SILVA, Thatiana Caputo
Domingues Revista IGT na Rede, V.9, Nº 17, 2012, ARTIGO Corpo, fala e expressão:
diálogos entre a Gestalt-Terapia e a filosofia de Merleau-Ponty Body, speech
andexpression: dialogues between Gestalt therapyand Merleau-Ponty Disponível em
https://www.igt.psc.br/ojs/viewarticle.php?id=405 ISSN 1807-2526

CATALDO, Ulisses. Gestalt-terapia: fenomenologia na prática clínica


Gestalttherapy:phenomenologyon the clinical practice Revista IGT na Rede, v. 10, nº 18,
2013, p.187 - 222. Disponível em http://www.igt.psc.br/ojs ISSN: 1807-2526

CIORNAI, Selma. Palestra apresentada em 1995, no I Encontro Goiano de Gestalt


Terapia, publicada na Revista ITGT nº 1, Goiânia, 1995.

DARTIGUES, A. O que é a Fenomenologia. 3ed. São Paulo: Moraes ,1992.

FADIMAN, J.,FRAGER, R. Teorias da Personalidade, 1980 Editora Harbra

FREITAS, Joanneliese de Lucas; STROIEK, Nutty Nadir; BOTIN, Débora. Gestalt-terapia e


o diálogo psicológico no hospital: uma reflexão. Rev. abordagem gestalt., Goiânia , v. 16, n.
2, p. 141-147, dez. 2010 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-
68672010000200003&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 07 nov. 2017.

FREITAS, J. L. (2005). Ruptura e Sentido na experiência de adoecimento e morte. Tese de


Doutorado em Psicologia, Instituto de Psicologia, Brasília, Universidade de Brasília.

GOLDSTEIN, K The organism Nova Iorque: Zone Books, 1995

HYCNER, Richard & JACOBS, Lynne. Relação e Cura em Gestalt-terapia. Tradução de


Elisa Plass, Márcia Portella. São Paulo: Summus, 1997. 224 p.

LIMA, Patrícia Albuquerque. Criatividade na Gestalt-terapia. Estud. pesqui. psicol., Rio de


Janeiro , v. 9, n. 1, abr. 2009 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
42812009000100008&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 27 mar. 2017.
22

LIMA, Patrícia Valle de Albuquerque. O holismo em Jan Smuts e a Gestalt-terapia. Rev.


abordagem gestalt., Goiânia , v. 14, n. 1, p. 3-8, jun. 2008 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-
68672008000100002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 31 maio 2017.

LIMA, Patrícia Valle de Albuquerque ARTIGO Teoria organísmica Revista IGT na Rede,
V.2, Nº 03, 2005, Disponível em
https://www.igt.psc.br/revistas/seer/ojs/viewarticle.php?id=57&layout=html ISSN 1807-2526

MERLEAU-PONTY, M. (1994) Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes.

MONTEIRO JR, F. A. B. Da teoria à terapia: o jeito de ser da Gestalt. Revista


Interdisciplinar NOVAFAPI. v.3, n.1, Jan/Fev/Mar, 2010.

MÜLLER-GRANZOTTO, M. J. & MÜLLER-GRANZOTTO R. L. Fenomenologia e Gestalt-


terapia. São Paulo, Summus, 2007ª

MÜLLER-GRANZOTTO, M. J. & MÜLLER-GRANZOTTO R. L. Clínicas gestáticas:


Sentido ético, político e antropológico da teoria do self. São Paulo, Summus, 2012.

PERLS, F.1973. A abordagem gestáltica e Testemunha ocular da terapia. Tradução de José


Sanz. 2ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

PERLS, F; HEFFERLINE, R; GOODMAN, P. 1951 Gestalt-terapia.Tradução de Fernando


Rosa Ribeiro. 2ed. São Paulo: Summuns, 1997

PERLS, Frederick Salomon, 1893-1970 Gestalt-terapia explicada. São Paulo: Summus, 1977

PINHEIRO, Márcia E. Frustração. In: D´ACRI, Gladys, LIMA, Patrícia& ORGLER, Sheila.
Gestaltês: dicionário de Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 2007. p. 117-119.

NUNES, LauaneBarocelliRevista IGT na Rede, V.6, Nº 11, 2009.ARTIGO Pensando


gestalticamente a contemporaneidadeThinkingcontemporaneitythroughtthe Gestalt-therapy
approach , Disponível em https://
http://igt.psc.br/ojs2/index.php/igtnarede/article/view/1900/2596 ISSN 1807-2526

PLATÃO. A República. Título original em grego: Politéia. Editora Martin Claret. São Paulo,
2015.

SPITZ, René A. O Primeiro Ano de Vida: um estudo psicanalítico do desenvolvimento


normal e anômalo das relações objetais. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1983. 345p.

TORINHO, C. D. A Fenomenologia transcendental de Husserl: notas sobre a história do


pensamento fenomenológico. Em TOURINHO, C.D; BICUDO, M. (Orgs.), Fenomenologia:
influxos e dissidências (PP 24-40). Rio de Janeiro: Brooklin, 2011.

ZINKER, Joseph. Processo Criativo em Gestalt-terapia. 2.ed. São Paulo: Summus, 2007

YONTEF, G.M.1993. Processo, Diálogo e Awareness. Tradução de Eli Stern. São Paulo:
Summuns, 1998.
23

APÊNDICE TABELA A RESULTADOS

Autores/Ano Objetivos Resultados


LIMA, P.V.A. (2005) Relacionar a Teoria Enxergar o organismo
I organísmica e as origens da como um todo se faz
Gestalt-terapia. essencial para o
entendimento da
corporeidade. O avanço da
teoria da Gestalt-terapia
não nega suas origens
ALVIM, M.B. (2007) Relacionar a estética e A visão de corporeidade
II corporeidade entre a tem ligação estreita com a
Gestalt-terapia e fenomenologia.
fenomenologia Não há como separar a
fenomenologia da Gestalt-
terapia
LIMA, P.V.A. (2008) Perceber a visão holística As reações do organismo
III do corpo como um ou do corpo são holísticas,
organismo. pois o corpo e sua
corporeidade se
apresentam como um todo
LIMA, P.V.A (2009) Identificar ajustes mais Ajustes funcionais são
IV funcionais. mais benéficos e por isso
devem ser almejados.
NUNES, L.B. (2009) Vislumbrar a mudança dos Os contatos se tornaram
V contatos ao longo do mais superficiais e
tempo. imediatistas, já que houve
uma diluição do senso
crítico no mundo
contemporâneo.
FREITAS, J.; STROIEK, Vislumbrar uma atuação A comunicação verbal e
N.; BOTIN, D. (2010) mais humanizada do não vernal se faz
VI psicólogo. fundamental na sua atenção
24

à dimensão da
corporeidade.
ALVIM, M.B. (2011) Verificar relações entre o A consciência na Gestalt-
VII mundo e o corpo. terapia se manifesta de
forma corpórea e a
percepção se evidencia no
corpo.
ALVIM, M.; ARAUJO, Relacionar o corpo, a fala e a Corpo, fala e expressão
expressão e fazer as devidas
D.; BAPTISTA, C. (2012) caminham juntos em um
ligações.
VIII organismo que tem
ajustamentos funcionais,
onde a fala orna com a
corporeidade.
ULISSES, H. (2013) Estudar a influência da Na abordagem
IX fenomenologia na prática fenomenológica o
clínica da Gestalt-terapia. terapeuta não procura as
causas latentes de acordo
com as leis psíquicas que
regem a consciência.
25

Você também pode gostar