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Trabalhar no contexto hospitalar exige a integração de uma equipe de profissionais para que o

atendimento seja com garantias de qualidade, humanização e que possa atender a singularidade de cada
paciente.

A atuação do psicólogo no contexto hospitalar se caracteriza por um “conjunto de ações psicoterapêuticas


capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde mental e de intervir nos problemas sanitários
decorrentes da patologia orgânica, da hospitalização, dos tratamentos medicamentosos e cirúrgicos, e da
reabilitação”.

“A integração da equipe de saúde é imprescindível para que o atendimento e o cuidado alcancem a


amplitude do ser humano, considerando as diversas necessidades do paciente e assim, transcendendo a
noção de conceito de saúde, de que a ausência de enfermidade significa ser saudável”.

Multidisciplinaridade. Segundo Bruscato et al, (2004) o trabalho da equipe multidisciplinar visa avaliar o
paciente de maneira independente e executando seus planos de tratamento como uma “camada adicional” de
serviços. Logo, não há um trabalho coordenado por parte dessa equipe e uma identidade grupal. O médico,
em geral, é responsável pela decisão do tratamento, e os outros profissionais vão se adequar a demanda do
paciente e as decisões do médico referente a este.

Uma equipe multidisciplinar é marcada pelo papel central do médico, ao qual os outros profissionais de
saúde deverão responder em um plano terapêutico já traçado pela figura central da equipe.

O psicólogo hospitalar provavelmente responderia por meio de solicitação de parecer interno e específico
para determinada demanda, não adentrando enquanto uma busca ativa. Isso pode dificultar a comunicação
da equipe e a autonomia do paciente.

Multidisciplinar são múltiplas disciplinas existentes na instituição, porém que não dialogam diretamente
entre sim. O diálogo muitas vezes é realizado por prontuários, onde constam diversos pontos de vários
profissionais acerca de sua atuação e conduta (separadas).

A equipe multidisciplinar deve construir uma relação entre profissionais, onde o paciente é visto como um
todo, considerando um atendimento humanizado.

Interdisciplinaridade. A abordagem em equipe deve ser comum a toda a assistência à saúde. Isso porque o
principal aspecto positivo da atuação em equipe interdisciplinar é a possibilidade de colaboração de várias
especialidades que denotam conhecimentos e qualificações distintas. Assim, a integração da equipe de saúde
é imprescindível para que o atendimento e o cuidado alcancem a amplitude do ser humano, transcendendo a
noção de conceito de saúde. (Campos,1995).

Interdisciplinar são diversas disciplinas existentes na instituição, mas que dialogam entre si. A grande
diferença de uma equipe interdisciplinar para uma multidisciplinar é justamente a colaboração e o diálogo
entre as disciplinas.

A interdisciplinaridade, como um enfoque teórico-metodológico ou gnosiológico, como a denomina Gadotti


(2004), surge na segunda metade do século passado, em resposta a uma necessidade verificada
principalmente nos campos das ciências humanas e da educação: superar a fragmentação e o caráter de
especialização do conhecimento, causados por uma epistemologia de tendência positivista em cujas raízes
estão o empirismo, o naturalismo e o mecanicismo científico do início da modernidade.

A interdisciplinaridade, como um movimento contemporâneo que emerge na perspectiva da dialogicidade e


da integração das ciências e do conhecimento, vem buscando romper com o caráter de hiperespecialização e
com a fragmentação dos saberes.

Para Goldman (1979, p. 3-25), um olhar interdisciplinar sobre a realidade permite que entendamos melhor a
relação entre seu todo e as partes que a constituem. Para ele, apenas o modo dialético de pensar, fundado na
historicidade, poderia favorecer maior integração entre as ciências.

A transdisciplinaridade acena uma mudança. Ela tenta suprir uma anomalia do sistema anterior, não destrói
o antigo, apenas é mais aberta, mais ampla. A necessidade da transdisciplinaridade decorre do
desenvolvimento dos conhecimentos, da cultura e da complexidade humana. Essa nova complexidade exige
tecer os laços entre a genética, o biológico, o psicológico, a sociedade, com a parte espiritual ou o sagrado
devendo também ser reconhecidos. É uma epistemologia, uma metodologia proveniente do caminho
científico contemporâneo, adaptado, portanto, aos movimentos societários atuais.

A transdisciplinaridade se preocupa com uma interação entre as disciplinas, promove um diálogo entre
diferentes áreas do conhecimento e seus dispositivos, visa cooperação entre as diferentes áreas, contato entre
essas disciplinas.

Transdisciplinar são diversas disciplinas existentes na instituição, que dialogam entre si, mas transcendem o
saber específico de cada disciplina, constituindo-se em um saber próprio.
Transdisciplinaridade significa mais do que disciplinas que colaboram entre elas em um projeto com um
conhecimento comum a elas, mas significa também que há um modo de pensar organizador que pode
atravessar as disciplinas e que pode dar uma espécie de unidade.

Para que haja transdisciplinaridade, é necessário um pensamento organizador. É o que chamo de pensamento
complexo, se não há um pensamento complexo, não pode haver transdisciplinaridade.

Condições de integração da equipe


• Prontuários – evoluções documentais: atualmente, a maioria dos prontuários é elaborada de forma
eletrônica, devendo ser preenchidos periodicamente para a segurança do paciente e a cada atendimento,
dispondo suas informações para o restante da equipe;

• Discussão de caso: meio em que os profissionais possam conversar e discutir as principais demandas e as
necessidades do paciente;

• Visitas Multidisciplinares: permite aos profissionais levantar o estado atual do paciente e quais são as
condições que ele ainda precisa desenvolver para alcançar a satisfação no tratamento e a alta hospitalar;

• Construções de Planos Terapêuticos em conjunto: pretende analisar o motivo da entrada do paciente, quais
são os recursos necessários e as atuações que serão dispostas para que haja a alta hospitalar;

• Reuniões de Equipes: necessárias para que o tratamento do paciente e a própria integração da equipe possa
ocorrer.

Comunicação da Tríade: compreender a tríade e as necessidades de equipe, família e paciente.


Organizar e esclarecer sobre a importância das funções e suas relações exercidas em benefício do paciente.
Esclarecer sobre acontecimentos biológicos que provocam mudanças significativas na vida das pessoas:
ajuda o paciente a desenvolver estratégias de enfrentamento e a adaptação as suas novas condições;
Informar sobre causas, consequências e tratamento de doenças que os pacientes apresentam;
Assegurar a adesão ao tratamento;
Auxiliar na adaptação à nova condição de saúde;
Propiciar trocas de experiência entre pessoas que enfrentam situações semelhantes;
Criar oportunidades de contato com a equipe para esclarecer dúvidas;
Comunicar normas e rotinas de determinada unidade;
Avaliar a qualidade dos serviços oferecidos pela instituição.
“A intervenção psicológica pode ser de apoio, orientação ou psicoterapia. Os objetivos são os mais diversos:
avaliar o estado emocional do paciente; esclarecer sobre dúvidas quanto ao diagnóstico e hospitalização;
amenizar angústias e ansiedades em situações desconhecidas; trabalhar vínculo mãe-bebê; trabalhar aspectos
da sexualidade envolvidos na doença e no tratamento; preparar para cirurgia; garantir adesão ao tratamento;
auxiliar na adaptação à nova condição de vida imposta pela doença; orientar os pais sobre maneiras mais
adequadas de informar as crianças sobre a hospitalização ou morte de um familiar; e facilitar o
enfrentamento de situações de morte e de luto”.

Grupos Operativos
Enrique Pichon-Rivière nasceu em 1907 e morreu em 1977, foi um psiquiatra e psicanalista suíço, mas se
naturalizou argentino e construiu a sua carreira na Argentina. Os seus pilares epistemológicos são a
psicanálise e a psicologia social.

Essa ideia surgiu a partir de uma situação que ele vivenciou no hospital, em que houve uma greve dos
enfermeiros e ele se viu sem condições de fazer os cuidados básicos dos pacientes. Assim, ele propôs aos
pacientes menos comprometidos que ajudassem os pacientes mais comprometidos, que criassem um grupo
de suporte em que um ajudava o outro.

Para Pichon-Rivière, a dialética é um princípio definidor. Ele estruturou toda a sua teoria e preceitos a
partir de na concepção de dialética da realidade. Destacam-se duas ideias fundamentais: dialética enquanto
contradição e dialética enquanto dualidades, interação ativa.

No entendimento de Pichon-Rivière, a realidade é composta por contradições, então as coisas não são
apenas de um jeito, elas possuem formas distintas, fluidez, modificando-se constantemente e são compostas
pela dualidade, que pressupõe uma interação ativa, pois as coisas estão o tempo todo em transformação e
elas passam de um estado para o outro, de um conceito para o outro e de um entendimento para o outro, sem
ter uma forma fixa e pré-estabelecida.

Os construtos, conceitos e reflexões, a partir dessa concepção, são permeados pela ideia de movimento, de
contradição e de transformação contínua dos sujeitos, de seus vínculos e de seu modo de operar na realidade
e na própria realidade.

Portanto, usa-se o termo dialética para se referir tanto à natureza do ser humano quanto ao seu modo de
pensar. Ou seja, o ser humano é dialético por natureza, seu funcionamento é dialético, assim como a sua
estrutura mental também é moldada sobre essa dinâmica dialética de realidade.
Interação, contradição e transformação.
A concepção que Pichon-Rivière traz é a de que o ser humano está imerso em uma realidade concreta — ou
seja, existe um tempo e um espaço que o contém, sendo o ser humano o produto dessa realidade que é
concreta —, que pode ser transformada a partir de uma adaptação ativa, que envolve ação e criação. Quando
se fala em adaptação ativa, tem-se que o sujeito não é simplesmente produto do seu meio, mas um criador do
meio em que vive. Ele é tanto sujeito como produto do meio. Ele cria o meio em que vive, é alterado por
esse meio e também o altera.

Existe uma realidade concreta, que é composta de elementos que estão fixos, mas isso não significa que o
sujeito é passivo diante desses elementos, ele interpreta, se posiciona, constrói e desafia, estando presente
nessa integração constantemente.

A transcendência é uma característica da transformação contínua e dinâmica, enquanto a contingência é a


mediação desta transformação na história do sujeito no aqui e agora. A transcendência é a transformação e a
contingência permite que se traga essa transformação para a realidade concreta.

Desse modo, o grupo irá instrumentalizar os seus integrantes por meio das interações e da comunicação
entre o eu e o outro.

A função do grupo é a de oferecer espaço de debate, de construção de conhecimento, um espaço de


aprendizagem, porque a partir da aprendizagem se desenvolve a condição, a capacidade de transformar a
realidade. Quando se fala em saúde mental, ela é a capacidade do ser humano de transformar a sua realidade
em aquilo que atende à sua necessidade.

Não é para atender uma norma ou a um pressuposto estabelecido, que não é dado na tarefa e que, na
verdade, faz parte de um entendimento do ser humano de uma adaptação a essa realidade.

Na concepção de Pichon-Rivière o ser humano está em busca de satisfação. Lembrando que Pichon-Rivière
tem uma formação psicanalítica e psiquiátrica, então ele traz essas concepções psicanalíticas à sua
construção teórica falando sobre a satisfação de necessidades.

Sobre a concepção de realidade se tem o entendimento de que para se apropriar da realidade é necessária
uma compreensão do todo — não existe um recorte da realidade, não existe uma relação sem conexão com
outras relações —, mesmo que seja uma percepção incompleta ou provisória, que possibilitará um
movimento gerador de teses, antíteses e sínteses constante.
Entende-se que a realidade é muito complexa composta por uma totalidade, e é necessário entender que
existe essa totalidade, mesmo que não se consiga aprender totalmente essa totalidade, o que leva a pensar em
ideias, antíteses e fazer sínteses, que levam a criar novas hipóteses, teses, sínteses e antíteses.

A totalidade da realidade é obtida pela síntese que o sujeito faz de algo em determinado momento. A síntese
da realidade é momentânea, é uma síntese do agora. É o sujeito ativo que atribui sentidos subjetivos ao
mundo a partir das sínteses que realiza, constituídas de contradições e mediações concretas. Dessa interação
(dialética) que se estabelece com os próprios conhecimentos, o conhecimento do outro, a vivência que se
tem, a vivência do outro com essa interação. O mundo do homem é construído a partir da sua subjetividade.

Para que haja uma transformação da realidade, deve-se entender que precisa haver diálogo. Não pode haver
transformação sem diálogo, sem interação, sem a troca, sem a palavra do outro construindo sentidos junto ao
sujeito (a subjetividade), seja na mesma direção, seja em sentidos contraditórios — pode-se mudar o sentido
porque se entende que aquele caminho já não serve mais, sendo necessário algo completamente diferente —,
em um movimento dialético e em espiral.

Entendia-se que o objetivo do trabalho terapêutico era instrumentalizar o sujeito para uma prática de
transformação de si, dos outros e do contexto em que estavam inseridos.

Assim, Pichon-Rivière, cria, em 1947, o chamado grupo “em tarefa”, ou “grupo operativo” (GO), que
procurava responder às duas angústias fundamentais da vida social: o medo da perda (perder o que já se tem)
e o temor do ataque (temor frente ao desconhecido). O trabalho em grupo permitiria conviver com as
diferenças, desenvolver a criatividade e a reflexão crítica da realidade, através de uma atitude investigadora,
de uma abertura para as dúvidas e para as novas inquietações – ação ativa, criativa e transformadora.

O processo grupal, bem como o processo de aprendizagem, se dá por meio de um permanente movimento de
estruturação, desestruturação e reestruturação por meio de uma nova perspectiva. Trata-se de uma
transformação do real. Pichon-Rivière denominou este movimento de criação do novo (não necessariamente
em constância retilínea) de espiral dialética. Representa o movimento que acontece entre o desejo de
mudança, de entrar em contato com o novo, e os medos e ansiedades que levam à resistência.

Definição. O grupo se estabelece quando um conjunto de pessoas motivadas por necessidades semelhantes
se une em torno de uma atividade específica, em tempo e espaço determinados, estabelecidos entre elas
(qual objetivo, qual o propósito, onde se reunirão e como se reunirão).

A tarefa em grupo ocasionará o surgimento de uma série de outros elementos que não poderiam ser previstos
inicialmente (espiral dialética).
Pré-tarefa e tarefa
O momento da pré-tarefa é caracterizado pelas resistências dos integrantes do grupo ao contato com os
outros e consigo mesmos, na medida em que o novo gera ansiedade e medo de perder as certezas cômodas e
estabelecidas sobre si e o mundo. Compartilhar dos objetivos comuns do grupo pressupõe flexibilidade é
necessário descentramento e perspectiva de abertura para o novo. É preciso entender que o sujeito não é o
centro das atenções, devendo se permitir ser surpreendido a ponto de superar os seus medos e as suas
ansiedades. Assim, a tarefa é a trajetória que o grupo percorre para atingir seus objetivos; relaciona- -se ao
modo como cada integrante interage a partir de suas próprias necessidades e fantasias, interagindo com a sua
subjetividade e com o grupo em si (realidade compartilhada).

Quando o grupo aprende a problematizar suas dificuldades, pode-se pensar que ele entrou em tarefa e a
elaboração de um projeto comum já é possível. A partir do momento em que entende que há resistência, é
possível deixar o grupo em tarefa, constituindo-o em grupo operativo e que busca uma forma de atingi-lo.

Tarefa explícita, tarefa implícita e enquadre


A tarefa explícita corresponde ao objetivo do grupo, a aprendizagem propriamente dita. A tarefa implícita é
a forma como cada membro vai vivenciara sua experiência com o grupo, ou seja, é a vivência pessoal que
cada membro do grupo terá. O grupo existe dentro de um contexto. O enquadre são os elementos fixos da
intervenção, como duração, frequência, local e os papéis de coordenador e de observador, que são papéis
fixos e conduzidos pelo terapeuta ou pelo psicólogo.

Tarefa versus trabalho


Pichon-Rivière propõe uma distinção entre tarefa e trabalho. Para ele, trabalho implica na busca por
resultados predefinidos da organização social, objetivos que devem ser cumpridos e nem sempre
correspondem aos desejos e decisões dos sujeitos. Ex.: empresa que cria um grupo de trabalho para realizar
a tarefa X. Somente para uma pequena parte da população o trabalho constitui um espaço de
desenvolvimento e realização pessoal e social, e não um simples meio de subsistência. Ele pode reforçar a
identidade ou deteriorá-la.

O trabalho pode ser saudável ou não. Já a tarefa supõe resultados que não são predeterminados, pois seus
objetivos admitem reconfigurações nas quais os sujeitos podem intervir ativamente. Remete a uma atividade
baseada na satisfação de necessidades humanas de reconhecimento, desenvolvimento e realização individual
e social. É por definição saudável, seu cumprimento reforça a identidade dos sujeitos. Portanto, o trabalho é
aquilo que se tem de fazer. E a tarefa é aquilo que se busca por interesse e importância própria fazer.

Conflitos versus burocratização


Todo grupo é marcado por conflitos, tensões e contradições, que podem constituir obstáculos para a ação do
grupo em tarefa, dificultando os processos de comunicação e de aprendizagem, sendo importantes para criar
instrumentos a fim de superar as contradições e conflitos. A partir da análise das ideologias e dos
estereótipos que emergem no grupo – tanto em nível individual como grupal – é possível elaborar os
conflitos. A elaboração dos conflitos leva os integrantes do grupo à construção e/ou ressignificação de
valores, crenças, expectativas. Ou seja, para transformar é preciso estar diante de um processo de mudança.

A burocratização, ao contrário, inibe as posições criativas dos membros do grupo em tarefa. Impõe normas
rígidas, impede a verbalização de dúvidas, sonhos e ansiedades e não permite a eclosão de conflitos. No
local em que há espaço para o contraditório é possível enxergar um grupo em tarefa.
Papéis exercidos pelos membros do grupo em tarefa
Alguns papéis são comumente assumidos pelos membros do grupo e não são fixos, mas extremamente
dinâmicos. Não estão ligados às características de personalidade, mas às posições assumidas diante da tarefa
do grupo, das expectativas dos outros e de suas próprias expectativas. Os principais papéis analisados por
Pichon-Rivière são:
• Coordenador, ou líder – cabe a ele perceber, analisar e criar condições para que conflitos ou
contradições do grupo possam ser discutidos e superados. Deve fazer do grupo um espaço de
aprendizagem para todos.
• Observador – registra o que ocorre na reunião, resgata a história do grupo e depois analisa com o
coordenador os pontos emergentes, o movimento do grupo em torno da tarefa e os papéis
desempenhados pelos integrantes.
• Líder da mudança – busca mobilizar, motivar e estimular o grupo à execução da tarefa, buscando
soluções; e também o líder da resistência - destaca as dificuldades e os problemas. Ambos os papéis
são necessários para criar equilibro na dinâmica grupal;
• Bode expiatório – é quem assume as características negativas do grupo;
• Porta-voz – “fala pelo grupo”, expõe as tensões e conflitos do grupo, manifesta o que o grupo está
sentindo e pensando.

Interação social é a necessidade de, por meio do contato com o outro, compreender a si mesmo e o seu
lugar no mundo. É a partir das interações que o sujeito pode referenciar-se no outro, encontrar-se com o
outro, diferenciar-se do outro, opor-se a ele e, assim, transformar e ser transformado por este, tendo o outro
como referência, inclusive em termos de negação, de diferenciação.

O partilhar de significados das diferentes interações é o que estrutura o social e o cultural. A lógica aqui é:
precisa-se do outro porque, na interação, é possível perceber como o outro se estrutura, se é possível usar de
algum elemento deste ou até mesmo rejeitar o que é estabelecido; e quando isso é feito em mesmo ambiente,
em mesmo espaço e em mesmo contexto, cria-se uma condição de cultura, de comunidade.
O grupo operativo apresenta-se como instrumento de transformação da realidade, e seus integrantes
passam a estabelecer relações grupais que vão se constituindo, na medida em que começam a partilhar
objetivos comuns, ter uma participação criativa/crítica e perceber como interagem e se vinculam.

O Grupo Operativo tem o objetivo de favorecer o protagonismo do grupo na produção de seu


referencial conceitual para ser operativo na realidade e aprender. Dessa maneira, o conhecimento e a
aprendizagem gerados no grupo constituem o processo e o produto da sua tarefa.

Conhecimento e aprendizagem são meios e objetivos da tarefa, provocando a transformação. O


coordenador não é um controlador, um diretor da tarefa a ser conduzida. O coordenador é um facilitador.
Por seu turno, quem conduz e cria as condições e soluções é o grupo, por meio dos questionamentos
apontados pelo coordenador. É o grupo que constrói o seu próprio referencial e os seus meios de
aprendizagem. Conhecimento e aprendizagem são produtos e tarefas. Processo porque é por meio da
interação e comunicação da troca que será constituído o caminho a se chegar ao objetivo final, que é um
objetivo de transformação, princípio da aprendizagem.

TÉCNICA DO GRUPO OPERATIVO


Trata-se de uma técnica não diretiva (o coordenador não é um diretor, e sim um facilitador), que
transforma uma situação de grupo em um campo de investigação ativa. Desenvolve junto ao grupo a gestão
do conhecimento, do pensamento crítico e de ações transformadoras, a partir da dimensão psicossocial do
sujeito e de suas possibilidades de aprendizagem.

É a partir da interação com as pessoas que se constrói o conhecimento. Portanto, como técnica de
intervenção, estabelece o sujeito no centro de seu processo de aprendizagem, como sujeito ativo e
protagonista na produção de sua saúde, na construção do conhecimento e dos sentidos que dão significado à
sua vida.

O coordenador indaga, pontua, problematiza as falas para dar oportunidade para seus integrantes pensarem,
falarem de si e poderem elaborar melhor suas próprias questões. Ou seja, o coordenador traz questões e
cria condições para que as pessoas criem respostas, tanto particulares quanto compartilhadas.

Pichon-Rivière define o grupo como um conjunto de pessoas, ligadas no tempo e espaço, articuladas por
sua mútua representação interna, que se propõem explícita ou implicitamente a uma tarefa, interagindo
para isto em uma rede de papéis, com o estabelecimento de vínculos entre si. O grupo operativo é centrado
numa tarefa, na aquisição de conhecimentos e tem como objetivo mobilizar um processo de mudança. O
principal objetivo do grupo operativo é a mudança que vai acontecer de forma gradativa, aonde os
integrantes de um grupo vão assumindo determinados papeis e posições frente a tarefa do grupo.

2. FORMAÇÃO PARA O TRABALHO EM EQUIPE NA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL


EM SAÚDE

A tendência dos profissionais de saúde é atuar de forma fragmentada e desvinculada de uma abordagem
integral que contemple as múltiplas dimensões das necessidades de saúde dos usuários e da população.

A Educação Interprofissional (EIP) apresenta-se atualmente como uma estratégia para formar profissionais
aptos para o trabalho em equipe, prática essencial para a integralidade no cuidado em saúde. A EIP contribui
para a formação de profissionais de saúde mais bem preparados para uma atuação integrada em equipe, na
qual a colaboração e o reconhecimento da interdependência das áreas predominam adiante da competição e
da fragmentação.

A EIP consiste de oportunidades de formação conjuntas para o desenvolvimento de aprendizagens


compartilhadas nas quais duas ou mais profissões aprendem juntas com e sobre as outras.

Os princípios da EIP se aplicam tanto para a graduação das diferentes profissões de saúde quanto para a
educação permanente dos profissionais componentes de uma equipe de trabalho.

Entre as estratégias formuladas pelos Ministérios da Educação e da Saúde, destacam-se os programas de


Residência Multiprofissional em Saúde (RMS), que têm o objetivo de formar profissionais de saúde, não
médicos, com vistas a superar a seg- mentação do conhecimento e do cuidado na atenção em saúde.

A análise temática das respostas obtidas sobre a formação para o trabalho em equipe foi agrupada nas
seguintes categorias: atendimento conjunto e tomada de decisão compartilhada no tratamento; trabalho em
equipe para a integralidade do cuidado com centralidade no paciente; reconhecimento dos limites e
especificidades de cada profissão, bem como a sua integração.

TOMADA DE DECISÃO COMPARTILHADA


No cotidiano do serviço, inicialmente o paciente é acolhido e avaliado pelos profissionais das diferentes
áreas, quando são discutidas suas necessidades. Posteriormente, é traçado um plano de trabalho com o
aporte de cada profissão e, ao final, são realizadas uma avaliação e uma proposta de acompanhamento do
caso.

Podemos observar que o trabalho em equipe na RMS viabiliza ações conjuntas em prol do paciente em uma
relação recíproca de dupla mão, entre trabalho e interação. Assim, a comunicação entre profissionais faz
parte do exercício cotidiano de trabalho e permite articular as inúmeras ações executadas na equipe,
no serviço e na rede de atenção.

O trabalho em equipe acontece também no planejamento das ações, na construção dos PTS (plano
terapêutico singular), nos atendimentos compartilhados e na aproximação dos profissionais com a realidade
do território com posterior troca das percepções.

A valorização do cuidado, o trabalho em equipe interprofissional e a facilidade de desenvolver e aplicar os


projetos terapêuticos singulares (PTSs) favorecem as discussões de caso, o desenvolvimento de noções
interdisciplinares, as contribuições das várias profissões e de suas especificidades, requerendo uma reflexão
mais sistematizada em relação ao cuidado prestado.

Os residentes referem ainda um modelo de atenção tradicional (biologicista e hospitalocêntrico) que


interfere negativamente no trabalho em equipe de forma integrada. Importante enfatizar que é comum na
área da saúde a tendência de profissionais atuarem de forma isolada, dissociada e fragmentada,
independente das demais, repercutindo no atendimento final ao paciente e expressando longas formações
circunscritas a uma única área de atuação.

O TRABALHO EM EQUIPE PARA A INTEGRALIDADE DO CUIDADO


É importante destacar que, independentemente da complexidade do serviço de saúde, o cuidado no trabalho
em equipe deve priorizar a atenção individual, sempre atento à possibilidade e à potencialidade de
agregação de outros saberes, bem como de outras práticas disponíveis em outros serviços, de saúde ou não.

O trabalho em equipe com vistas à integralidade do cuidado no espaço singular de cada serviço de saúde é
assim definido como o esforço da equipe em traduzir e atender, da melhor forma possível, necessidades,
muitas vezes complexas, captadas em sua expressão individual, o que resulta na “integralidade
focalizada”, esforço de cada um dos trabalhadores e da equipe como um todo. O atendimento de cada
profissional deverá manter o seu compromisso com a integralidade, que só será alcançada com o fruto do
trabalho solidário da equipe de saúde, com seus múltiplos saberes e práticas.

Espera-se, assim, que os profissionais de saúde tenham um olhar mais atento a seus pacientes/usuários, não
restringindo suas observações à relação saúde-doença, mas interpretando os vários fatores que intervêm
nela. No dia a dia, os profissionais não devem fragmentar o cuidado com o paciente ou desvincular sua
prática profissional dos demais colegas.

A integralidade do cuidado só pode ser obtida em rede. Pode haver algum grau de integralidade
“focalizada” quando uma equipe, em um serviço de saúde, por intermédio de uma boa articulação de suas
práticas, consegue escutar e atender, da melhor forma possível, às necessidades de saúde trazida por cada
um.

“O trabalho de equipe na residência acontece o tempo todo, desde quando aprendemos teoricamente o
mínimo de cada profissão necessária para o cuidado integral, até acompanhar as avaliações e intervenções de
toda a equipe, discutir todos os casos em conjunto”.

Parte-se do princípio de que se os profissionais de saúde forem capazes de simultaneamente identificar os


pontos fortes de cada membro da equipe de assistência e utilizá-los para lidar com os problemas mais
complexos do paciente e de toda a família envolvida, desempenharão um papel fundamental e necessário
para o cuidado integral.

A integralidade requer a implementação clara e precisa de uma formação comprometida com o


desenvolvimento de competências gerais necessárias a todos os profissionais de saúde, tendo em vista uma
prática de qualidade que desenvolva a capacidade de análise crítica de contextos e que problematize saberes
e processos de educação permanente no desenvolvimento das competências específicas de cada trabalho.

RECONHECIMENTO DOS LIMITES E ESPECIFICIDADES DE CADA PROFISSÃO


Os membros da equipe devem preservar suas funções específicas e manter a comunicação uns com os
outros, colocando-se como responsáveis, principalmente nos trabalhos que envolvem a geriatria. Entretanto,
um dos residentes destaca dificuldades na construção de sua identidade profissional.

A formação para o trabalho em equipe não compromete a identidade profissional, na realidade reforça;
o trabalho de equipe, a discussão de papéis profissionais, o compromisso na solução de problemas e a
negociação na tomada de decisão são características marcantes. Para isso, a valorização da história de
diferentes áreas profissionais e a consideração do outro como parceiro legítimo na construção de
conhecimentos, com respeito pelas diferenças em um movimento de busca, diálogo, desafio,
comprometimento e responsabilidade, são componentes essenciais para o desenvolvimento do trabalho em
equipe na RMS.

CONCLUSÕES
De acordo com as categorias apreendidas, a primeira enfatiza que os atendimentos são realizados de forma
conjunta entre os profissionais da equipe, permitindo um melhor planejamento das ações e o
estabelecimento de um plano terapêutico singular.

A segunda categoria refere-se ao preparo para o trabalho em equipe para a integralidade do cuidado com
centralidade no paciente. Observamos que este trabalho segue na linha do cuidado integral prestado ao
paciente, com um olhar mais atento e sem se restringir ao processo saúde/doença.
Por fim, a última categoria identificada reconhece os limites e as especificidades de cada profissão.
Verificamos que durante o trabalho em equipe os pro- fissionais conseguem compartilhar e aprender entre si,
preservando suas especificidades e as do outro

Para Yalom e Leszcz (2006), em grupos que possuem objetivos terapêuticos podem ser encontrados 11
fatores, estes são: 1. Instilação de esperança; 2. Universalidade; 3. Compartilhamento de informações; 4.
Altruísmo; 5. Recapitulação corretiva do grupo familiar primário; 6. Desenvolvimento de técnicas de
socialização; 7. Comportamento imitativo; 8. Aprendizagem interpessoal; 9. Coesão grupal; 10. Catarse; e
11. Fatores existenciais

3. A RELEVÂNCIA DA TEORIA DOS GRUPOS OPERATIVOS APLICADA À PESSOAS EM


REABILITAÇÃO FÍSICA E NEUROPSICOLÓGICA

O uso de grupos enquanto estratégia terapêutica no campo da reabilitação tem demonstrado favorecer o
acolhimento e acompanhamento de um maior número de pessoas, o que facilita o acesso aos serviços
públicos. Além disso, tal estratégia possibilita o trato de questões subjetivas e relacionais de forma mais
eficaz do que na abordagem individual, o que supera possíveis críticas que poderiam ser feitas referentes à
massificação ou perda de qualidade da atenção.

Pichon-Rivière elaborou a teoria dos grupos operativos, uma técnica terapêutica de atendimento grupal
que se caracteriza essencialmente pela relação que seus integrantes mantêm com uma tarefa em comum.
A tarefa é a essência do processo grupal e diz respeito ao resultado que se pretende atingir através de
atividades direcionadas para realização de um objetivo, podendo seguir um referencial de cura, ensino ou
aprendizagem.

Para Pichon, o objetivo de um grupo deve sempre promover um processo de resolução de situações
estereotipadas e obtenção de mudanças. Em suas palavras, Rivière define um grupo como: Um conjunto de
pessoas, ligadas no tempo e espaço, articuladas por sua mútua representação interna, que se propunham,
explícita ou implicitamente, a uma tarefa, interatuando em uma rede de papéis com o estabelecimento de
vínculos entre si.

4. GRUPO OPERATIVO COMO FERRAMENTA PARA O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL

O grupo operativo constitui um dos principais recursos terapêuticos nos mais diferentes contextos de
assistência à saúde, e decorre, em grande parte, das condições criadas a partir da reforma psiquiátrica, tendo
como foco a ressocialização do indivíduo em sofrimento psíquico.

Em vista disso, na concepção de Pichon-Rivière, médico psiquiatra que teorizou essa técnica grupal, o
grupo operativo apresenta-se como instrumento de transformação da realidade, no qual seus
integrantes passam a estabelecer relações grupais, na medida que começam a partilhar objetivos em comuns
que contribuem para que tenham uma participação criativa e crítica, além de poder perceber como interagem
e se vinculam, buscando a transformação de si, dos outros e do contexto em que estão inseridos.

A mudança é um dos principais objetivos do grupo operativo. Ademais, vale ressaltar que essa estratégia
também é essencial para dar suporte, fortalecer, ampliar o conhecimento dos participantes e auxiliar no
enfrentamento de situações desafiadoras e das lutas diárias, além de, realizar as orientações acerca do
autocuidado. Assim, o grupo não é um simples ajuntamento de pessoas, mas, um sistema identificável,
composto de três ou mais indivíduos que se engajam em tarefas a fim de alcançar um objetivo comum
(Moraes, Lopes & Braga, 2006).

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