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Função terapêutica 2022

e ética na pratica
da
Psicologia Clinica

Psicóloga Néli Telles D'Ajello CRP12/00190


Mestre e Especialista em Psicologia Clinica
Especialista em Psicologia Clinica
Resolução CFP 02/2001
Area de atuação, campo de conhecimento e uma das
especialidade da Psicologia – CFP

Não se confunde com o lugar do clínico (consultórios, clinicas),


a clientela (clientes) e, o regime de trabalho (profissional

Psicologia liberal).

Clinica "O lugar" de atuação pode ser nos hospitais, ambulatórios,


clinicas de saúde, penitenciarias, centros socioeducativos,
juizado da Infância e do adolescência, na saúde do trabalhador,
Caps, CRAS, nas comunidades terapêuticas, nos CEDEP, no CIAF,
nos consultórios de e na rua, nas Clinicas escolas, etc.

Entendemos que a psicologia clínica se distingue das demais


áreas psicológicas muito mais por uma maneira de pensar e
atuar, do que pelos problemas que trata. (Macedo, 1998,p.8).
Psicologia Clinica
A pratica clinica pode acontecer em qualquer lugar que vise a
promoção de saúde, considerando a realidade sociocultural no
contexto em que atua;

Caracteriza-se como um olhar e uma escuta ética e


comprometida socialmente, em relação ao fenômeno psicológico
que observa e acolhe.

O campo da psicologia clínica pode ser ampliado para além da


dimensão intrapsíquica - não a exclui - o campo é redimensionado
pelo contexto socio-econômico-político-cultural

Uma “postura profissional", uma atitude diante do objeto de


estudo que se configuraria em uma “postura ética básica” a
diferentes contextos.
(Macedo, 2004).
Psicologia Clinica transformou-se na pratica

Escuta e atitude e para “valorização da


Diferentes contextos de
o encontro com as subjetividade do
trabalho,
diversidades profissional”

Ao se ampliar o campo
desenvolvimento de Do cuidado com seus
de ação devemos nos
sua vieses e possíveis
guiar pelo cuidado ético
“competência cultural” ressonâncias pessoais. profissional.

(Yamanoto, 2009; Macedo &Lima 2016)


Clinica Ampliada

Proposta de uma “clinica ampliada”


definida como aquela que cuida do sujeito,
que inclui como “objeto de acão da clinica” os
“desejos construídos socialmente”, e adjetivada
numa atuação comprometida com a justiça social.
.
A CLINICA AMPLIADA COMO AÇÃO SOCIAL:
A força da ideia do cuidar do sujeito revela-se
no conceito de promoção da saúde, pelo seu envolvimento com a ideia d
e “fortalecimento da capacidade individual e coletiva para lidar com
a multiplicidade dos condicionantes da saúde”.

Czeresnia, 2009 (In: Macedo&Lima,2016)


uA demanda de inclusão de questões politico sociais nas
práticas psicológicas trouxe a preocupação com as práticas
clínicas desenvolvidas nos serviços de Saúde Mental,
apontando o risco da clínica tornar-se uma “palavra
negada” por sua possível “redução ao social”, o risco de se
viver com essas ações apenas uma “mudança de escala”,
em movimentos de transferência do privado para o público.

(Campos, 2001;Yamamoto, 2009)


Clinica psicológica ampliada|ação social

A junção do Inserção da categoria


O “tornar-se sujeito comprometimento social conceitual de
socialmente reconhecido” com o pressuposto da vulnerabilidade social, na
como objeto de trabalho intersubjetividade, que qual a pobreza é
próprio de uma clínica; demanda acolhimento do compreendida em sua
sofrimento psiquico; complexidade.

Clinica como ação social:


sustentada nos parece ter produzido não
tanto no ato clinico
princípios da atenção apenas uma clínica
individual, quanto na
básica de saúde, a partir possível nestes contextos,
ampliação de sua inserção
da atuação direta com as mas uma clínica
no território em parcerias
pessoas e grupos sociais. mais eficaz.
com movimentos sociais
Psicologia Clinica
Representa uma determinada
postura diante do outro,
entendendo-o como sujeito
que pensa, sente, fala e constrói
sentidos que se expressam, se
criam e se modificam nessa
relação de subjetividades, num
determinado mundo e num certo
momento das suas histórias.
(Dutra, 2004)
Figueiredo (1995):
a visão da clínica seria o espaço da escuta do excluído,
do interditado, procurando atender a esta demanda,
a clínica define-se, portanto, por um “ethos”

Safra (2004) compreende o Ethos como "as condiçoes


fundamentais que possibilita o ser humano morar, estar
e constituir-se como um habitante do mundo humano".

O psicologo Clinico é um profissional do encontro, segundo


Figueiredo bem definiu, na medida em que está disponivel para
abrir-se à alteridade, entendendo-a como algo desconhecido
e inusitado

A psicologia clinica é uma atitude , um modo de se relacionar com


o outro, um cuidado que possibilitará ao homem sentir-se
acolhido numa morada em si e no mundo
(Dutra, 2004, p.5)
Nessa perspectiva de escuta clínica incluem-se não só a
demanda do sujeito, no sentido de um desejo em busca da
acolhida ao seu sofrimento, mas também implica uma
relação intersubjetiva que o sustente

Num contexto de mundo da experiência e da


provisoriedade, que o/a psicólogo/a clínico se situaria com
a sua escuta do outro.

Ao acolher o sofrimento do outro, ele também se encontra


implicado nessa condição existencial - mergulhado em sua
própria angústia de ser na inospitalidade do mundo,
considerando o pensamento de Heidegger.
"Quando o outro entra em cena,
nasce a ética”

"Mas a ética precisa da verdade”

"EM QUE CREEM OS QUE NÃO CREEM? Humberto Eco, 1999


Etica
Segundo o HOUAIS

• Princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o


comportamento humano, refletindo sobre a essência das normas, valores
prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social.
u Estudo das finalidades ultimas, ideais que orientam a ação humana para o
Máximo de harmonia...

u Implica na superação de paixões e desejos... RENUNCIA


u A etica dimensiona, ordena as relacoes humanas.
Etica e moral

u ETHOS do grego u MORAL do latim mos ou mores


u Dimensão repetitiva dos
u Lugar onde brotam os atos, atos humanos que se
modo de ser, princípios que constituem
regem suas ações u conjunto de regras ou
u No contexto das relações normas adquiridas por hábito –
sociais, reconhece o outro, são as leis , os códigos de
sua alteridade... ética profissional (código
deontológico);
Etica é cuidado, zelo

"A grosso modo, a ética trata do agir, de como agir, da procura do bem e de como é e
se dá esse bem. Isso tudo no sentido de apreender o sentido da ação, suas
características e sua interação com os meios social, político e histórico, seja ele
individual ou coletivo".

"...se a Estética é a procura pelo belo a Ética é a procura pelo bem",

aponta Milton José Zamboni, antropólogo e professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.
“Como sustentar uma ética da renúncia em um
mundo onde impera o gozo, não havendo muito
espaço para renunciar a este?

u De acordo com o filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995) pensar é


colocar problemas, levantar essas indagações é justamente apostar em
que a psicologia clinica pode construir uma ética que dê conta da
subjetividade contemporânea.

Trabalho de Maria Rita Kehl, Qual a ética da psicanálise hoje?


Etica e relação terapeutica
Ao acolher o conflito, acolhe-se a dualidade pulsional, se oferece um continente
para que o paciente encontre um canal psíquico, uma construção mental que
ampara o humano, socializa o instinto, o selvagem que é inerente ao homem, e a
condição social vulnerável em que se encontra na realidade.

O valor da ética na atuação clinica, ao apostar no acolhimento ao conflito, é uma


das esperanças da humanização da pratica clinica;

Pesquisas em psicologia e neurociencias (Damazio, Kandel, Gabbard, Eizirik,


Nunes)de Efetividade das psicoterapias tem demonstrado que a ação terapêutica
mais importante esta relacionada com o vinculo, a aliança terapêutica – as condições
psicológicas que se estabelecem na relação terapêutica
Relacao terapeutica na
prática clínica
u Relacao terapeutica é o veículo pelo qual se processa a psicoterapia. Das
características pessoais do paciente e terapeuta, das reedições de
vivências passadas que ambos trazem para a situação presente e da
interação desses elementos com a relação atual, única e particular
(Cordioli, 1998)

u Aliança terapeutica (AT) é um constructo universal as diversas abordagens


teóricas em psicoterapia. Trata-se de um constructo importante à
psicoterapia, visto sua significância clínica para a formação de vínculo,
manutenção, permanência na psicoterapia, desfecho terapêutico e
processo de alta.
Segundo Ecker (2021)* O primeiro passo no processo terapêutico seria
renunciar à perseguição da cura, na relação problema-solução,
tomando como objeto a existência-sofrimento.

Assim, a ênfase não é mais colocada no processo de cura no sentido


da vida produtiva, mas no projeto de "invenção da saúde" e de
"reprodução social do paciente" através da utilização das formas e
Função dos espaços coletivos de convivência dispersa (Amorim; Dimenstein,
2009).

terapeutica O exercício clínico ocorreria relacionado ao cuidado, levando em


consideração as imprevisibilidades que o habitar “da loucura em sua
estranheza” opera, como via de denúncia e evidência das diferentes
formas institucionalizadas que compõem a sociedade,

na medida em que a loucura tensiona com sua diferença, produzindo


efeitos no encontro com a cidade, com o residencial terapêutico,
com seus moradores(as), trabalhadores(as) e cuidadores(as).
Impacto da relacao terapeutica na
efetividade da psicoterapia
O sucesso da psicoterapia tem se mostrado fortemente associado à
relação terapêutica, independentemente de abordagem teórica.
Pesquisas indicam que a relação terapêutica responde por 30% dos
resultados, perdendo apenas para os fatores do paciente que
alcançaram o primeiro lugar, explicando 40% da variância dos
resultados.
Entende-se por relação terapêutica a forma como se configuram e se
expressam a mutualidade dos sentimentos e das atitudes entre
terapeuta e paciente. Ao termo relação terapêutica associam-se os
termos aliança terapêutica e aliança de trabalho que são utilizados
como sinônimos, principalmente em pesquisa. Para muitos estudiosos
não há uma distinção clara entre relação e aliança.
PIETA, Maria Adélia Minghelli; GOMES, William Barbosa. Impacto da relação terapêutica na efetividade do tratamento: o que dizem as metanálises?. Contextos Clínic, São
Leopoldo , v. 10, n. 1, p. 130-143, jun. 2017 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-34822017000100011&lng=pt&nrm=iso>.
acessos em 22 ago. 2022.
Impacto da relacao terapeutica na
efetividade do atendimento Clinico
A aliança pode ser terapêutica por si mesma.

Observou-se que a qualidade da aliança entre a primeira e a quinta sessão tende a


predizer os resultados subsequentes.

As medidas de aliança em estágios iniciais da psicoterapia podem indicar o término


prematuro do tratamento.

Uma forte aliança inicial tenderia a se associar com um mais baixo índice de abandono de
terapia.

Um grau mais alto de instrução dos pacientes, bem como tempo de duração mais curto de
terapia (de 9 a 16 sessões) também tenderiam a diminuir a probabilidade de abandono de
tratamento.
A Relacao terapeutica
Função primordial

efetividade da pratica da
psicologia clinica
Desafio: Dizer o incomunicavel.
Compreender o incompreensivel.
u Tais são os desafios da Clinica. Dor compartilhada, frequentemente recusada,
negada, que remete a cada um ao seu desamparo mais fundamental.

u Função terapeutica, do grego thérapeutér aquele que se colocava junto áquele


que sofre, que compartilhava a experiencia da doença com vistas a poder
compreende-la; a partir dessa posição mobilizar seus conhecimentos e sua
arte de cuidar, sem saber se poderiam realmente curar

(Volich, 2010)
Desafio: Dizer o incomunicavel.
Compreender o incompreensivel.
u Segundo Volich (2010) A experiencia clinica demonstra que o contato com a
experiencia individual de cada protagonista da relacao terapeutica é o principal
catalisador dos processos de cura.

u A intensa implicação exigida do terapeuta no trabaho com os pacientes mais


desorganizados em sua economia psicossomatica é muitas vezes questionada e,
mesmo criticada, por aqueles que se aferram, a todo custo, ao principio de
neutralidade terapeutica, aos dogmas de escolas.

u Essa implicacao é inevitavel, não apenas para tornar minimamente eficaz a clinica
desses pacientes, mas, antes disso, para viabiliza-la.
Desafio: Dizer o incomunicavel.
Compreender o incompreensivel.

Entretando, é importante considerar que:

u Acolher não significa assumir a vida ou


desejo do outro.

u Compreender não significa ser


condescendente.

u Compartilhar não implica em realizar


concretamente aquilo que os limites do
paciente impedem que ele mesmo realize
uàs práticas clínicas, cabe acolher o sofrimento constituinte da existência
humana, naquilo que pode ser cuidado e apreendido enquanto vivência
subjetiva e reveladora de sentidos.

uAssim, o ato clínico passa, então, a representar a acolhida a essa demanda,


através de um olhar que possa contemplar e alcançar a singularidade das
existências, que se vão construindo nos caminhos traçados pelos desejos
humanos e seus quereres, e reveladores da sua condição de ser-no-mundo.

uE acolher significa, acima de tudo, considerar as subjetividades como


constituindo-se num mundo em que as dimensões históricas, sociais e
culturais exercem o seu papel no processo de subjetivação.
Esta seria a ética de uma
postura clínica: acolher o sofrimento humano
onde quer que se apresente;

viver uma relação concebida como reveladora


e formadora de sentidos, e a
qual expressa e desvela os modos-de-ser
num determinado tempo e história das existências.

Para isso, é necessário que este profissional,


o/a psicólogo/a clínico/a, esteja existencialmente disponível
e, de certa forma, instrumentalizado para estabelecer esse

tipo de relação com o outro. (Dutra, 2010)

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