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ISSN: 2527-1288

Recebido em: 07/03/2018 Aceito em: 20/06/2018


Autor para contato: danielledegoissantos@gmail.com doi: 10.17058/psiunisc.v2i2.11770

Caminhos Possíveis Entre Ética e a Psicoterapia Fenomenológica Existencial


Caminos Posibles entre Ética y la Psicoterapia Fenomenológica Existencial
Possible Roads Between Ethics and Existential Phenomenological Psychotherapy

Danielle de Gois Santos Caldeira


ORCID: http://orcid.org/0000-0003-0772-7942
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Rio Grande do Norte/Brasil

Elza Maria do Socorro Dutra


ORCID: http://orcid.org/0000-0003-0225-9836
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Rio Grande do Norte/Brasil

Resumo
O presente trabalho discute dois temas da clínica psicológica: ética e prática psicoterapêutica.
Contemporaneamente, estes temas são acompanhados dos impasses humanos frente às exigências de
adequação e objetividade. Eticamente os seres humanos organizam suas vidas anteriormente à
consolidação da ética como disciplina e da legitimação desta nos códigos de conduta profissionais de
diferentes ciências. Contudo, a ética no cotidiano alcança sentidos diversos às regras e aos deveres; é
sobre estes sentidos que se dedicou este trabalho. Particularmente, no modelo psicoterapêutico
inspirado na Fenomenologia Existencial, a ética foi exposta através de modos de ser do humano na
convivência com os impasses próprios da existência. Assim, o trabalho psicoterapêutico foi
destacado no convite para atualizarmos os exercícios de pensar e sentir sobre os modos como os
seres humanos habitam o mundo. O método apoia a psicoterapia fenomenológico existencial na
medida em que inspira o caminho percorrido neste trabalho que se pretende mostrar atento à
compreensão da experiência cotidiana, especialmente, na sensibilização dos profissionais e dos
clientes quanto às relações estabelecidas entre razão e sentimentos (afetos) desestabilizando as
certezas absolutas e crenças antecipatórias quanto ao modo como nos organizamos.
Metodologicamente, elegemos algumas direções adotando a descrição dos acontecimentos como
conteúdo de investigação, associando a esta compreensão-interpretação como ações combinadas a
fim de possibilitar abertura de sentidos para as experiências anunciadas pelo e para o cliente. O
encontro psicoterapeuta/cliente e o modo como a experiência psicoterapêutica foi conduzida são
expressões éticas de uma perspectiva que incentiva a abertura de possibilidades quanto ao estar-com
do homem no seu cotidiano.
Palavras-chave: Psicoterapia; Fenomenologia existencial; Ética; Martin Heidegger.
Resumen
El presente trabajo discute dos temas de la clínica psicológica: ética y práctica psicoterapéutica.
Contemporáneamente, estos temas son acompañados de los impasses humanos frente a las exigencias
de adecuación y objetividad. Eticamente los seres humanos organizan sus vidas antes de la
consolidación de la ética como disciplina y de la legitimación de ésta en los códigos de conducta
profesionales de diferentes ciencias. Sin embargo, la ética en el cotidiano alcanza sentidos diversos a
las reglas y los deberes; es sobre estos sentidos que se dedicó este trabajo. En particular, en el
modelo psicoterapéutico inspirado en la Fenomenología Existencial, la ética se expuso a través de
modos de ser del humano en la convivencia con los impasses propios de la existencia. Así, el trabajo

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Caminhos Possíveis Entre Ética e a Psicoterapia Fenomenológica Existencial

psicoterapéutico fue destacado en la invitación para actualizar los ejercicios de pensar y sentir sobre
los modos como los seres humanos habitan el mundo. El método apoya la psicoterapia
fenomenológica existencial en la medida en que inspira el camino recorrido en este trabajo que se
pretende mostrar atento a la comprensión de la experiencia cotidiana, especialmente, en la
sensibilización de los profesionales y de los clientes en cuanto a las relaciones establecidas entre
razón y sentimientos (afectos) desestabilizando las certezas absolutas y creencias anticipatorias,
como nos organizamos. Metodológicamente, elegimos algunas direcciones adoptando la descripción
de los acontecimientos como contenido de investigación, asociando a esta comprensión-
interpretación como acciones combinadas a fin de posibilitar apertura de sentidos para las
experiencias anunciadas por y para el cliente. El encuentro psicoterapeuta / cliente y el modo como la
experiencia psicoterapéutica fue conducida son expresiones éticas desde una perspectiva que
incentiva la apertura de posibilidades en cuanto al estar-con del hombre en su cotidiano.
Palabras clave: Psicoterapia; Fenomenología existencial; La ética; Martin Heidegger.
Abstract
The present work discusses two themes of the psychological clinic: ethics and psychotherapeutic
practice. At the same time, these themes are accompanied by human impasses in the face of demands
for adequacy and objectivity. Ethically human beings organize their lives prior to the consolidation
of ethics as a discipline and the legitimacy of it in the professional codes of conduct of different
sciences. However, everyday ethics reaches different meanings to rules and duties; it is on these
senses that this work has been devoted. Particularly, in the psychotherapeutic model inspired by the
Existential Phenomenology, ethics was exposed through the ways of being of the human in the
coexistence with the impasses proper to existence. Thus, the psychotherapeutic work was highlighted
in the invitation to update the exercises of thinking and feeling about the ways in which human
beings inhabit the world. The method supports the existential phenomenological psychotherapy in
that it inspires the path in this work that is to be attentive to show understanding of everyday
experience, especially in the sensitization of professionals and clients on the relations established
between reason and feelings (affections) destabilizing the absolute certainties and anticipatory beliefs
regarding the way we organize ourselves. Methodologically, we choose some directions by adopting
the description of events as research content, associating this understanding-interpretation as
combined actions in order to allow the opening of meanings to the experiences announced by the
client. The psychotherapist / client encounter and the way the psychotherapeutic experience was
conducted are ethical expressions from a perspective that encourages the opening of possibilities as
to the being-with of the man in his daily life.
Keywords: Psychotherapy; Existential phenomenology; Ethic; Martin Heidegger.
_________________________________________________________________________________
Introdução A ética diferencia-se de moral e se
aproxima de reflexões quanto à possibilidade
A pergunta “como a ética pode de correlação entre ética e psicoterapia. As
contribuir com a psicoterapia?” nasceu antes questões de natureza moral costumam ser
do título do artigo. Esta indagação não é identificadas como valorativas positivamente
aleatória e seu propósito não é uma resposta ou negativamente nas expressões de juízos.
fechada, incide na pertinência de aproximar Isto não caracteriza necessariamente um
ética e o exercício psicoterapêutico de problema, a moral faz parte dos humanos na
inspiração na Fenomenologia Existencial (FE) medida em que se relacionam e vivem em
de Martin Heidegger (1889-1976). coletivo. Contudo, a atenção que se dedica às
reflexões neste artigo diz respeito a como

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racionalizamos e nos afetamos, como psicoterapêutico inspirado na perspectiva


construímos as nossas impressões e fenomenológica existencial ocorre devido a
compreensões diante da condição de abertura flexibilização quanto aos critérios científicos
existencial correspondendo eticamente e não de investigação, de maneira que estes possam
de forma restritiva valorizando nossas acompanhar as dinâmicas humanas, ao invés
possibilidades de existir no mundo uns-com- de outorgar as experiências que se moldem às
os-outros. representações como objetos naturalmente
dados. Nesta seção, o destaque recai sobre a
O trabalho psicoterapêutico como lugar exposição do método fenomenológico como
privilegiado para correspondermos de forma fundamento para a investigação e no
ética mobiliza a um convite ao cuidado dos esclarecimento das metodologias que
humanos. Este auxílio incentiva a não embasam este trabalho, uma vez que o método
perpetuação de abstenções no que se refere ao utilizado neste artigo defende a psicoterapia na
experimentar ativo da condição de estar-no- perspectiva fenomenológico existencial.
mundo-uns-com-os-outros. O fazer clínico nas
psicoterapias, especialmente de inspiração na A Fenomenologia que inspira a área de
FE, não se resume a emitir soluções ou conhecimento e o método adotados neste
procurar causalidades na correspondência trabalho sustentou-se no filósofo Martin
humano e mundo. Neste fazer clínico são Heidegger. O filósofo destacou-se pelo seu
acolhidas e desveladas possibilidades de espólio de reflexões que resgataram as
existência de maneira a apoiar (sustentar) o questões da existência e o situou entre os mais
aberto das experiências, assim contribuindo importantes estudiosos do século XX.
para mudanças e apropriação das relações. Heidegger não foi o pioneiro, nem o único,
Neste sentido, o trabalho psicoterapêutico dedicado à Fenomenologia e às articulações
oferece suporte para os caminhos percorridos entre esta e as ciências modernas. Foram
pelos humanos adotando no cuidado relevantes as influências iniciais de Franz
profissional um modo de apoio e estímulo para Brentano (1838-1917), e do rigor
nos pensarmos e nos afetarmos sobre a metodológico por parte de Edmund Husserl
coexistência de ser-no-mundo-com-outros. (1859-1938), ideólogo do método e mestre de
Nos passos que serão percorridos são Heidegger.
dispensadas naturalizações ao mundo vivido,
uma vez que na condição de seres finitos o Em Heidegger, encontramos a
nosso dinamismo exige atenção à maneira investigação dos fenômenos, aproximando-os
como pertencemos ao mundo e a nós mesmos do cotidiano humano. Os fenômenos ocupam a
de maneira refletida e contextualizada. posição de tudo aquilo que aparece e se
manifesta na medida em que experimentamos
Método nossa condição de existentes. Loparic (2004)
destacou as teorias sobre o existir de base
A Fenomenologia inspira a confluência heideggeriana como uma aceitação
entre área de conhecimento e método. No incondicional da questão da finitude. Logo, a
trabalho psicoterapêutico esta confluência Psicologia, especialmente na prática
persiste exemplificando a atuação da psicoterapêutica, encontrou em Heidegger
Fenomenologia de origem na Filosofia, inspiração e embasamento para se distanciar
combinando-se com metodologias diversas de fundamentações cujo caráter reducionista
oriundas das ciências modernas. Assim, privilegia comportamentos como unidades de
encontramos no método fenomenológico uma medida na interpretação da condição humana.
atenção ao campo das humanidades e neste
artigo enfatizamos o método fenomenológico Nos legados de Heidegger (1927/2012)
na modalidade psicoterapêutica de perspectiva conseguimos identificar preocupação na forma
fenomenológica existencial. O interesse neste como a compreensão sobre a humanidade se
método no desenvolvimento de um trabalho construía. Além de evidenciar as questões da

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existência, o filósofo tematizou sobre a auxiliar na psicoterapia fenomenológica


atenção quanto ao enfrentamento da condição existencial direciona uma atenção especial à
de seres finitos e mobilizados cotidianamente compreensão como via de acesso à abertura
à objetividade. O método no tocante a existencial constitutiva dos entes humanos. A
fenomenologia hermenêutica heideggeriana psicoterapia fundamentada na fenomenologia
reúne na sua hermenêutica a valorização da heideggeriana é trabalho de abertura, pois
compreensão juntamente à interpretação. Esta mudanças, surpresas e constatações não
priorização heideggeriana amplia as ocorrerão exclusivamente no que toca ao
possibilidades de apropriação dos seres cliente e nem somente no percorrer dos 60
humanos quanto às diferenças e aproximações minutos de sessão.
que dizem respeito às nossas relações.
Entre possíveis metodologias
Quanto ao método, Heidegger combinadas a este método é imprescindível
(1927/2012) ressaltou a diferença ontológica tomarmos o contexto do ser que somos,
que explicita e integra existência e coisa, isto reservando ao cliente a garantia de
é, ser e ente não se caracterizando possibilidade de fala, onde este possa anunciar
exclusivamente como separação. Destacamos e ser acolhido. Por sua vez, desencadeia-se
nesta seção a relevância da diferença uma ocupação de si juntamente com o
ontológica para o método psicoterapêutico na psicoterapeuta no atendimento clínico
perspectiva FE chamando atenção para a não despertando para o tema da ética distanciada
subserviência dos seres humanos às coisas, de obrigatoriedades e propositiva de
onde se supõe ser exequível igualar ou separar aplicações. Eventualmente, o convite para
ser-humano (único na condição de existente) aproximarmos a ética ao exercício
aos objetos. psicoterapêutico recai em indagações do tipo:
“quão éticos somos?”, este questionar pode ser
Na contra mão de uma era que valoriza indício para adotarmos direções. Na
os critérios científicos que possam ser fenomenologia heideggeriana, o método
medidos, o trabalho psicoterapêutico convida a aparece com um significado de caminho
todos a refletir sobre os sofrimentos (Heidegger, 2009), isto exige-nos organizar e
existenciais, não os restringindo ao repetidamente ativar a coerência, leiam,
ajustamento farmacológico e físico. Desta sentido, o sentido do que está sendo vivido.
forma, as reflexões se manifestam não
unicamente como tarefa intelectual, mas Juntamente, ao adotar o modo de
intervindo e mobilizando o desenvolvimento pensar fenomenológico como conhecimento e
humano nas suas relações, destituindo-nos de método não quer dizer que as incertezas ou os
determinação e de resignação quanto às nossas sofrimentos vividos sejam expressos via dor
experiências e escolhas. O método física, padecer por justiça, pressão por
fenomenológico heideggeriano ressalta a adequação, cerceamento de proximidades
interpretação hermenêutica. Heidegger relacionais, etc. O caminho fenomenológico
construiu a sua trajetória particular quanto ao não dispensa incertezas e sofrimentos, porém
método fenomenológico após se inspirar no não situa à parte proposições de incentivo,
método de seu mestre Husserl, que trabalhou a modificações e auxílio na orientação aos
questão da descrição. Entretanto, Heidegger humanos quanto aos modos de estar-no-
percorreu um caminho distinto daquele mundo.
pensado por Husserl, distanciando-se do seu
mestre em muitos aspectos, entre eles, o Nesta seção dedicada ao método como
método, ao pensar o método fenomenológico caminho sugerimos um projeto distinto àquele
hermenêutico, presente na clínica que norteia comumente a Psicologia, no qual
fenomenológica existencial. O método são predominantes os métodos avaliativos de
fenomenológico hermenêutico desenvolvido dados cuja finalidade é a adequação do cliente.
por Heidegger e no qual nos inspiramos para Geralmente esses métodos convencionais

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colaboram para a construção do real partir das regras quanto ao nosso agir, somos
entendendo-o como situação fixa e causadora nós que continuamos ativos e não somos
de possíveis patologias psíquicas, ao invés de substituídos pela expressão de leis, ou pelo
compreender se tratar de um contexto menos não nos reconhecemos e nos obrigamos
possibilitador de restrição quanto ao modo de a agir de tal modo.
investigá-lo. Acrescentando a aproximação do
método como uma espécie de caminho, as Ressaltamos que ao nos referirmos à
metodologias sugerem descrições detalhadas, ética, não estamos falando de regras impostas,
convite ao questionamento reflexivo de como e sim chamando atenção para os critérios que
o cliente vive, acolhida ao anúncio das nos podem guiar. Percebam que isto não quer
experiências do cliente, promoção de dizer que regras implícitas e explícitas sejam
posicionamentos investidos de sentido diante inicialmente ruins. O alerta que subjaz à ética,
da vida. Nas seções seguintes passamos ao muitas vezes, resume-a a uma disciplina
desenvolvimento dos temas principais do filosófica inaugurada por Platão (428 a. C, 348
trabalho. d. C) e Aristóteles (384 a. C, 322 d. C), no
entanto, é importante frisar que antes da
A presença da ética nos modos humanos de disciplina os gregos já viviam a ética (Camps,
experimentar o mundo 1999).

Somos éticos, mas será que seres Os filósofos deram origem ao que o
humanos se perguntam sobre a ética? Não mundo filosófico conheceu como a
existem garantias afirmativas ou negativas de principiante ética da virtude, descrita por
resposta à indagação. Na atualidade, qualquer Aristóteles (1852/2015) quanto ao surgimento
humano letrado na consulta ao dicionário do centro do valor moral do homem que age.
encontra uma definição para ética. A Segundo Silva (2013), este movimento de
indagação sugerida não é pela questão “o que Aristóteles e de Platão se tornou conhecido na
é ética?” Além disso, devemos considerar Filosofia como intenção, exercício que leva o
contextualizações, ser ético no Brasil é distinto homem a agir. Contemporaneamente, Costa
de ser ético na África ou na Austrália. A (2006) declarou que “Aristóteles via a virtude
sugestão que acompanha a afirmação “somos como um justo meio entre um extremo de
éticos” não é tentativa de universalizar a ética, excesso e outro de falta, medidos de acordo
justamente, chama atenção a consensualidade com a situação […] Ele comparava a virtude à
de enquanto seres humanos estarmos em habilidade de acertar flechas no alvo; não é
correspondência e cooperação uns com os algo que dependa de teoria, mas de uma
outros. prática” (p. 16).
Na impossibilidade de dissociar razão e
Constituindo éticas moral, a Psicologia é interpelada a explicar as
ações morais e as consequênciais de normas
Não é alheia às sociedades a
sociais serem ou não cumpridas. La Taille
disseminação das normas para a vida em
(2006) apresentou moral envolvendo-a com os
grupo, nós humanos nos apoiamos nestas
deveres numa proposta de moral universal
normas e na crença de que seguindo estes
possível. Para La Taille (2006), “falar em
critérios não cheguemos às situações limites
moral é falar em deveres, e falar em ética é
de nos vermos aparentemente sozinhos nas
falar em busca de uma ‘vida boa’, ou se
tomadas de decisão. Assim, vamos abrigando
quiserem de uma vida que ‘vale a pena ser
em nós as regras às quais devemos seguir e
vivida’ [...] mostrando que o papel da
que deveriam funcionar, até mesmo, quando
dimensão afetiva da ação moral tem raízes nas
não existe outro humano nos observando. A
opções éticas dos indivíduos” (p. 30, aspas do
ética que nos dispomos a discutir não é a
autor). No posicionamento de La Taille,
reunião destas regras, e sim nosso meditar a
encontramos uma retomada da concepção de

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moral em Immanuel Kant (1724-1804), Émile o pensamento e a prática morais da


Durkheim (1859-1917), Jean Piaget (1896- modernidade estavam animados pela
1980), grandes nomes para a Filosofia, as crença na possibilidade de um código
Ciências Sociais e nos estudos de ético não ambivalente. Talvez ainda
desenvolvimento e aprendizagem humana, não se tenha encontrado esse código
frequentemente, referidos durante a formação [...] o código ético a toda prova
em Psicologia. Ademais em Kant (1785/2014) universal e fundado inabalavelmente
encontramos desdobramentos da inicial ética – nunca vai ser encontrado. Mas com
da virtude de Aristóteles que se propôs a ser certeza ele está à espera na virada da
prática e objetiva ressaltando a dedicação por esquina. Ou na virada da próxima. (p.
revisitar éticas deontológicas e responder às 15).
questões relacionadas ao cumprimento ou não
de regras. Kant criou o imperativo categórico Bauman alertou para a condição de
de que o humano deve ser considerado como ambivalência moral que acompanha os
fim em si mesmo assegurando-o avaliar regras humanos e a impossibilidade de uma moral
sem ser aludido como meio (instrumento) no universal. Não se trata de negar a pluralidade
alcance de objetivos. de normas que nos acompanha, longe disso, ao
admiti-las assumimos as solicitações
A pergunta que a moral desencadeia cotidianas caminhando uns-com-os-outros.
gira em torno de como devemos agir e Este caminhar é coerente às influências que
habitualmente a resposta é regida por provocamos em nós e nos outros.
explicações. A ética não resguarda para si este
lugar de explicações, defendemos que em seu Além dos estudiosos citados dedicados
cerne estão questões existenciais e não à ética evidenciamos que o caminho
medidas de como devemos viver. Quanto à percorrido pela ética de Kant inspirou outro
expressão ‘vida boa’ notificada por La Taille importante estudioso das questões existenciais,
(2006) lemos a vida sentida referindo-se à vida Jean Paul-Sartre (1905-1980). Sartre
compreendida, tendo em vista o alargamento (1970/2012) discorreu sobre a possibilidade de
da condição humana. Distinguindo ética e uma ética envolvendo o tema do
moral na compreensão dos temas, a ética comprometimento. Atualmente, entre os
conserva as ações “de ser” como se envolvem estudiosos sobre o tema da ética e dialogando
de sentidos, por sua vez, a moral conserva as com a Psicologia, citamos: Boff (2003)
ações do “ter de”, adequação de um agir na preocupa-se com a refundamentação da ética e
obrigatoriedade de execução de um dever. da moral; Figueiredo (1995, 2009) implica-se
com questões sobre formação em Psicologia, o
Ao investigar a ética não trabalho dos psicoterapeutas, a vigência dos
negligenciamos da moral e sim permanecemos códigos de ética profissionais; Silva (2001)
em alerta à tentativa de banalização dos defende a ética na Psicologia Clínica voltando-
problemas morais. Cotidianamente, a ética se ao cuidado oferecido; Safra (2004, 2009)
encontra-se próxima do modo como vivemos e envolve-se na defesa da condição ética
pode ser alvo de interesse para a Psicologia humana possibilitando o humano de acontecer;
Clínica sem recair no risco da ética na Dutra (2004) resgatou o pensamento
psicoterapia ser abafada em detrimento de fenomenológico quanto às implicações do
respostas sugestivas ao setting terapêutico, ou psicólogo em suas ações; Coelho Júnior
então, o anúncio da ética se concentra (2007) argumentou relações entre ética e
exclusivamente nos debates de divulgação do técnica para a Psicologia; Maia (2009) no livro
código profissional e de mecanismos de que organizou com o tema do cuidado
punição a infrações. psicológico quanto à clínica e a cultura
O sociólogo Bauman (1997) dialoga destacou a defesa de uma ética do cuidado,
neste artigo na afirmação: entre outros.

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A ética não é única e exclusivamente direitos e de deveres para um código de ética


um código profissional ou proposta de ética profissional. Hodge (1995) salientou a não
deontológica. Esta última, presente nas outras adoção da ética e dos modos de ser numa
ciências com lugar privilegiado, desencadeia a única direção de interpretação, mas constituída
ideia de que não é no nível de intenções que de duplicidade. Esta ideia ilustra
encontramos o cerne das questões diárias, mas oportunamente a diferença ontológica presente
ao nível das ações. Esta modalidade ética em Heidegger, alertando-nos sobre a condição
deontológica constituiu-se na Idade Média e diferenciada do Dasein, pois Dasein refere-se
Modernidade, influenciada pelo monoteísmo ao ente humano, sendo único entre os entes,
judaíco cristão (Camps, 2006) e continua capacitado para questionar o sentido de ser
atuando como fonte para avaliação das ações ininterruptamente perene à condição de
boas ou más, sugerindo regras e normas. Na provisoriedade do seu existir. Lembrando que
ética deontológica são perpetuados os o sentido de Da-sein em Heidegger inaugurou
pensamentos aristotélico e platônico “um manter aberto de um âmbito de poder-
enfatizando as regras morais para guiar ações. apreender as significações daquilo que aparece
e que se lhe fala a partir de sua clareira”
A ética nos conduz por caminhos que (Heidegger, 2009, p. 33).
não possuem fim determinado, mas
desenvolvem modos não definitivos de No final do século passado, o
atualizar questionamentos sobre o existir, esquecimento do sentido do ser heideggeriano
sobre as ações humanas e amplia foi preterido e acompanhamos a super
compreensões quanto ao modo como estamos valorização do ser-humano acrescida da
habitando as experiências e o mundo. normatização de como ele deve agir,
Anteriormente a Aristóteles, o conceito negligenciando o sentido de existirmos.
filosófico de ética entre os gregos já se cingia Afirmar como deve agir, prática comum entre
como o fazer humano, sua postura e sua ciências, é diferente de nos posicionar atentos
atitude (Camps, 1999). No contemporâneo, às maneiras como existem os humanos.
como a ética nos situa? Qual o caminho? Ocasionalmente, nos referimos aos deveres e
Talvez um caminho ético, contudo esta noção aos códigos para regulamentar os humanos e
pode ou não reincidir multiplicando regras ou não prioritariamente referimo-nos ao modo
normas. Objetivamente, num trabalho como estes vivem, suas inquietações e
psicoterapêutico apoiado na FE observa-se que sentidos investidos nas experiências. A ética
a ética como tema não foi priorizada nas defendida é oportunidade para tematizar,
investigações de Martin Heidegger. acompanhar e modificar esta não prioridade
Habitualmente, reconhecemos a palavra ética nas relações entre humanos e mundo.
nas atitudes naturais que são aquelas que
tentam constatar algo. No entanto, o destaque Heidegger (2009) rejeitou a ideia de
à reincidência da ética nas atitudes naturais construção de uma ética a partir da tecnologia.
associamos que se encontre apoiada na A ética inspirada no legado heideggeriano
objetivação da ética. Não é intuito de uma mantém ativa cautela com o humano. O
psicoterapia de fundamentação FE a cenário mundial durante os Seminários de
constatação da ética como se fosse um objeto Zollikon (1959-1969) convivia com impasses
ou mesmo um fim em si próprio, e sim frente ao cuidado humano e que persistem
despertar caminhos éticos abrigados em ainda hoje. De um lado, um convite para
critérios no convívio com nossa condição de aproximações entre existir e tecnologizar-se.
seres finitos. Do outro, a condução do humano por regras
inflexíveis e quando ocasionam alguma
A ética no contexto pós-moderno não é ameaça acompanhamos a substituição não das
uma questão exclusivamente burocrática. Na regras, mas do alvo de interesse. O perigo
sequência das argumentações, a ética não referido pelo filósofo era circunscrito diante
representa uma utilidade na prescrição de das regras inflexíveis, sinalizando que os seres

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humanos podiam ser confundidos como não individualizada expõe os modos como nos
estruturas tecnológicas. Heidegger (2007) relacionamos conosco e com o mundo. Assim,
declarou: para investigar a ética optamos pelo interesse
de suscitar coerência na aproximação dos
A moderna teoria física da natureza é contextos de vida privilegiando as
a preparação, não da técnica, mas da singularidades vividas pelos humanos. O
essência da técnica moderna. Pois o trabalho psicoterapêutico apoiado na
recolher que desafia no desabrigar fundamentação fenomenológica heideggeriana
requerente já impera na física, acompanha e auxilia a abertura existencial do
embora propriamente ainda não se ente humano dando ênfase aos modos como
manifeste nela. A física moderna é, nos habituamos à cegueira especial aos
em sua proveniência, a desconhecida fenômenos afetivos e pensamentos
precursora da armação. Por muito demasiadamente complicados oriundos da
tempo a essência da técnica moderna nossa era tecnológica. Assim, compreendemos
ainda se oculta, mesmo ali onde uma leitura sobre a ética no que concerne aos
máquinas de força são inventadas, sentidos, às coerências nos modos como nos
onde a eletrotécnica e a técnica organizamos e apoiamos a fim de
atômica são colocadas em curso. […] experimentar sermos nós atuantes
Tudo o que é essencial, não somente reflexivamente considerando nosso existir,
o essencial da técnica moderna, em portanto, a defesa de Heidegger (1927/2012)
todos os lugares se mantém oculto quanto a termos em vista nossa finitude e
por mais tempo. Não obstante, nossa condição de projeto.
permanece referido a seu imperar
enquanto o que antecede a tudo: o É possível observar nas reflexões
que é primordial. Disso já sabiam os expostas que a partir da investigação de
pensadores gregos quando diziam: o natureza compreensiva sobre a ética não
que em relação ao florescer imperante aludimos à valorização moral na execução da
é mais primordial somente mais tarde ação. O modo como ressoam leituras sobre a
torna-se manifesto para nós, homens. ética nem sempre se mostram de interesse
Aos homens, a madrugada inicial se social, uma vez que crescem reproduções dos
mostra apenas no final. Por isso, há manuais e códigos de conduta, na tentativa que
no âmbito do pensar um esforço para estes garantam os deveres, preferências e a
pensar de modo ainda mais inicial o obediência às implicações nos seus usos. No
que foi pensado inicialmente. Isso contexto vigente onde ética compreensiva é
não significa a vontade insensata de abafada graças à urgência por soluções
renovar o passado, e sim a preparação práticas e definitivas, há diligência para que os
sóbria para a admiração diante do seres humanos se esquivem de refletir sobre
chegar da madrugada. (p. 386). suas decisões e convites por superação,
anunciando a condição de não controle como
No destaque do filósofo sobressai a avessa aos anseios por se tecnologizar.
alusão para refletirmos sobre a dimensão da
técnica no mundo e que neste trabalho Em seguida descrevemos situações da
distinguimos como sinais de uma crise ética. nossa condição humana em perigo de perder
de vista critérios e não se posicionando
coerentemente: o desligamento dos humanos
Ética nas experiências humanas
das questões ambientais pode ter interesse em
Ser ético possivelmente advém dos encontrar novas formas de explorar; a redução
modos de sustentarmos nossas do ser humano a objetos que podem ser
correspondências e cooperações entre nós e o descartados diante da banalização da violência
mundo que constituímos e habitamos. A ética e da desumanização; os temores entre os
humanos quanto à pertinência em confiar uns

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nos outros; o anseio por se mostrar produtivo, de um ente diz agora: a ausência de
que pode mascarar a insatisfação com tudo e a acesso ao ente enquanto ente, que
solidão; a superficialidade das relações pertence ao modo de ser do ente em
expondo o prolongamento da imaturidade que questão e que justamente caracteriza
acompanha a vida adulta; a supervalorização sempre a cada vez este modo de ser.
pelo acúmulo de bens materiais, tentativa Transpassado por este modo de ser, o
constante de aumentar as compras para ente em questão é sob o domínio
substituir afetos que não conseguem ser desta ausência de acesso […] Pois
vividos, etc. São inúmeros os acontecimentos esta ausência de acesso possibilita
que poderiam ser enunciados, todavia, justamente o ser específico, isto é, o
aludimos a estes e sugerimos uma questão: a contexto ontológico da natureza física
ética nos abandonou? Investindo no trabalho material e a ordem de suas leis
clínico de fundamentação na FE para (Heidegger, 2011, pp. 249-254).
compreender nossas relações,
problematizamos a questão da ética que não se O risco que acompanha o
esvaia sendo subterrada por objetivações esquecimento do sentido do ser é superado
quanto aos modos de refletir nossas ações. pelas ciências no entendimento de que as
Consideramos inclusive, que o debate sobre o tecnologias ofertam respostas e soluções para
modo ético possível de ser habitado exceda os os dilemas relacionais. Heidegger (2007), na
60 minutos de sessão psicoterapêutica, desta exposição sobre a era da técnica, discutiu o
maneira, o ente humano pode ser conduzido ao esquecimento do ser no contexto
que em Heidegeer (2009), o filósofo predominante do saber científico para notificar
denominou solicitude libertadora, aquela que os homens quanto aos seus modos de vida.
no cuidado desinteressado investe seus
esforços para nos libertar ao nosso existir, de Heidegger (2007) trabalhou sobre a
maneira não idealizada, e sim compreendida, essência da era da técnica regida pelo
investida de coerência quanto ao pensar e ao princípio da Gestell, palavra alemã traduzida
agir. por suporte ou armação, no sentido de que há
na era da técnica um resgate por nos sentirmos
A ética presente no cotidiano se amparados e suportados, ao passo que se
assemelha a possibilidade desta ser sentida, constatam a deteriorização de relações, das
manifesta, e ao senti-la corremos o risco de leis que conhecemos e que preconizam
contactar com nossos limites. Eticamente universalidade e generalizações. Hodge (1995)
acontecemos, visto que estamos em expôs: “porque o mundo contemporâneo é o
permanentes encontros e envolvidos por domínio do Gestell, do enquadramento rígido,
possibilidades existenciais. Ao humano que o pensamento da transformação parece
indagamos sobre “qual caminho seguir?”, estranho, externo e altamente inimaginável,
conciliam-se as posições de fazer parte e estar um desconhecido Ereignis” (p. 25). Ereignis
diante do mundo. Para compreender este descrito por acontecimento a partir de Hodge
mundo e este humano voltamo-nos ao permite-nos inferir que nesses tempos onde
cotidiano, ao mundo e ao existir falando de exaltamos a tecnologia, nosso cotidiano é
uma ética que se manifesta no modo como destinado às esquematizações nas quais
sentimos e como são declarados os sentidos calculamos o máximo que conseguimos.
aos quais nos apoiamos para organizar nossos
encontros. Assim, A sentença acima referida exemplifica
uma compreensão, apoiada na fundamentação
mundo significa inicialmente a soma fenomenológica heideggeriana, expondo o
do ente acessível, seja para o animal subverter da dimensão ética na construção de
ou para o homem, variável segundo a uma ideia de ciência e de vida moderna. Logo
abrangência e a profundidade da emerge outra dualidade, de um lado reduzimos
penetração [...] A ausência de mundo a ética; de outro, requisitamos a ética nos

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auxiliando no controle de tudo, inclusive de seria redução de domínio. Para o saber


nós. A ética enquanto processo mantém-nos filosófico este lugar de não ciência é singular e
ativos e admitindo perdas, limitações, o não simultaneamente é compatível a sua coerência
controle diante possibilidade de alteração da epistemológica, teórica e metodológica.
experiência. Despertamos para compreensões Conquanto, para a Psicologia, ser ciência é
quanto à questão da ética associando-a ao garantia de lugar e aceitação social, apesar de
desenvolvimento humano de maneira a não ser uma ciência equivalente às demais que
oportunizar sua tematização sem antecipar apresentam objeto alheio ao seu investigador.
ordens quanto ao agir, envolvendo-nos Este aspecto sinaliza lugar e aceitação frágeis
humanamente e abertos a transformações. que pretendem ser revertidas articulando-se,
por exemplo, com as neurociências.
Na condição de humanos, nossos
modos de agir se apoiam em processos de As atitudes fundamentais no filosofar,
mudanças e dialogam com dois problemas quando requeridas por uma ciência como a
heideggerianos: a questão do ser e a questão Psicologia, são tendenciosas para um
do que é ser-humano. Hodge (1995) auxilia- embasamento não explicativo e sim
nos: “na era da tecnologia, a questão do ser compreensivo. Assim, a Psicologia não
torna-se mais inacessível aos seres humanos, repudia o lugar da ciência que explica, mas
porque as exigências feitas à linguagem na sua como estamos demonstrando, é possível
expressão das relações técnicas restringem as acrescentar, para seu campo de atuação,
suas capacidades excessivas” (p. 110). Na modos compreensivos de observação, de
condição de humanos permanecemos entes interpretação das relações e a atitude
privilegiados pela possibilidade de nos fenomenológica, ampliando possibilidades de
questionarmos, mas em processo. cuidado ao humano. Consoante Leal,
Sant´Anna, Bueno, Souza & Sá (2010):
Os fazeres éticos na psicoterapia de
fundamentação fenomenológica existencial a suspensão do juízo na atitude
fenomenológica promove uma
Nesta seção a temática dos fazeres na abertura de sentido diante do
psicoterapia de fundamentação FE foi fenômeno apreendido […] Este tipo
desenvolvida ao lado do tema da ética. de suspensão pode também ser visto
na psicoterapia através da suspensão
Uma ciência particular e a influência da e desconstrução de identidades
Fenomenologia restritivas do sujeito. Acreditamos
que esta suspensão pode ser bastante
Os dilemas que circunscrevem a profícua para o sujeito em
história das práticas psicológicas enfrentam atendimento, possibilitando-lhe uma
oposições entre localizar a Psicologia como ampliação da experiência de sentido
ciência pragmática ou subjetiva. Acrescentar a e, consequentemente, maior liberdade
esta configuração a temática da existência não (p. 635).
é tema de interesse na generalidade de práticas
psicoterapêuticas. Conforme argumentamos, A atitude fenomenológica que foi
ademais acrescentar o interesse pelas questões defendida por Husserl, posteriormente com
da existência, unimo-la à proposição de uma Heidegger, passou a orientar uma prática
ética articulada ao trabalho psicoterapêutico. clínica de inspiração fenomenológica
existencial heideggeriana, inaugurando
Heidegger (2011) recordou-nos do
posturas e atitudes opostas a representações
lugar destinado à Filosofia e que resgatamos
idealizadas e absolutas. Heidegger se dedicou
comparativamente na exposição sobre
a reflexões sobre posturas zelantes quanto à
Psicologia e suas práticas. A Filosofia não é
compreensão, sendo esta somente possível ao
uma ciência, esta condição para os filósofos
ente humano graças a sua condição de

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existente. A atitude fenomenológica relacionamos sentimentos às tonalidades


husserliana já antecipava um exercício de afetivas. Esta referência às tonalidades nos
libertação de restrições, uma vez que a posiciona numa abertura às questões
liberdade que acompanha as nossas existenciais de maneira que não restringimos o
experiências representa um argumento que humano aos sintomas físicos e à procura de
torna a atitude fenomenológica um critério causas para as tonalidades. Segundo
disponível para a psicoterapia de inspiração Heidegger (2011) “tonalidades afetivas são
em Martin Heidegger. A atitude sentimentos. O sentir é, ao lado do pensar e do
fenomenológica, podemos pensar, anuncia querer, a terceira classe de vivências. Esta
uma possibilidade de cuidado diante do classificação das vivências é estabelecida sob
fenômeno apreendido. Nesse sentido, o embasamento da concepção do homem
ressaltamos a condição existencial de como um ser vivo racional” (pp. 85-86).
tonalidade afetiva (humor). Para Heidegger
(2011): As investigações às obras
heidegegrianas sugerem uma ética expressa
já percebemos que a assim chamada através dos modos de ser, por exemplo, a
constatação objetiva de uma tonalidade afetiva acompanha os modos de nos
tonalidade afetiva é um relacionarmos. Por sua vez, uma análise da
empreendimento duvidoso, mesmo ética possibilitando ampliação dos modos de
impossível. Consequentemente, existirmos se trata de um projeto expansível
também não há nenhum sentido em sem vias de ser concluído. A ideia de que a
perguntar seja pelo caráter corrente, ciência anteciparia a gestão das relações não é
seja pela universalidade de uma consensual e encontra impasses diante do
tonalidade afetiva e em se preocupar modo como os homens existem. As ciências
por um longo tempo com a validade não apresentam restritivamente diretrizes para
universal de uma constatação. (p. 78). ser abolidas, pois demonstram eficácia nos
diagnósticos de patologias ou no
A tonalidade afetiva não se constata desenvolvimento de medicamentos e de
através da observação, partindo de uma atitude instrumentos, etc.
natural, porém fenomenologicamente é
despertada e conjuntamente se manifesta, A objetividade com que são mediadas
as relações de cuidado ao humano nesta era
despertar uma tonalidade afetiva diz tecnológica condiciona o ser a se tornar uma
muito mais deixá-la vir-a-estar espécie de objeto. Interpretações quanto aos
desperta, e enquanto tal justamente modos como conduzimos nossas vidas sob a
deixá-la ser. No entanto, quando égide da objetividade foram sinalizadas por
tornamos consciente uma totalidade Friedrich Nietzsche (1844-1900). Em seus
afetiva, a fim de conhecê-la e de escritos, Nietzsche (2008, 2011 e, 2012)
especificamente torná-la tão somente diagnosticou os perigos e as contradições do
um objeto do saber, alcançamos o niilismo para o homem. Não é resolutiva uma
contrário de um despertar. Ela é, negação das tecnologias, o tecnológico não
então, justamente destruída, ou, no manifesta restritamente o técnico e o
mínimo, não é intensificada, mas operacional, a era técnica constitui os homens
enfraquecida e transformada e a noção de humanidade conhecida
(Heidegger, 2011, p. 80). acompanha o cerne das tecnologias.
A ética e a técnica não são criações
As diferentes escolas da Psicologia e as
antropocêntricas com interesse no amparo às
práticas psicoterapêuticas, com frequência se
experiências. Sem segregar o humano em
dedicam à explicação de sentimentos
setores, destacamos que ética não é
suscitados em experiências e neste artigo
substitutiva da técnica, técnica não substitui

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ética, ambas não são substituíveis pela razão Os fazeres éticos na psicoterapia
ou pelos sentimentos. Fundamentalmente, o
humano se constitui à medida que exercita sua Salientar a ética, atenta aos limites
correspondência entre estas noções citadas e humanos os quais nos singularizam,
outras não citadas como crenças, instituições, coexistindo via psicoterapia e promovendo
animais, etc. Neste sentido, somos éticos de auxílio, mostram-se modos de acompanhar e
maneira a abranger reflexões não conclusivas, possibilitar outros olhares e posicionamentos.
e influenciados por tecnologias. Reconhecer Intrínsecas a toda sociedade estão regras,
que existem limites no entendimento do direitos e deveres os quais acompanham nossa
humano é ponto propulsor para seguirmos na condição humana e contribuem para o ritmo
defesa de apropriação do nosso estar-no- singular, ao qual nos referimos como
mundo frente às demandas por nos coerência, isto é, expressão dos sentidos
assemelharmos com artefatos em crescente quanto ao nosso estar-no-mundo. Costa (2006)
produção. Evidentemente os fazeres dos conjugou o trabalho clínico da Psicologia e a
psicoterapeutas não escapam as demandas no ética. O lugar de encontro Psicologia e ética
apoio a seres produtivos, inclusive uma auxilia a defesa de que a ética não pode ser
psicoterapia inspirada na FE aspirando ao entendida isoladamente como uma avaliação
horizonte do sentido do ser não escapa as moral; portanto, segundo Costa (2006), a ética
solicitações da era da técnica. Contudo, ao se aproxima de um uso intelectual, mas não é
optarmos pela inspiração fenomenológica para apenas isso. Conforme sinalizamos, Psicologia
a clínica, esforçamo-nos para não priorizar a e ética se encontram, assim, como lugar de
emissão de explicações, previsões de encontro entre Psicologia e moral.
resultados ou cura de comportamentos.
No contexto psicológico e
O esquecimento da dimensão da psicoterapêutico, quando mencionamos ética,
existência não foi proposição da Metafísica é demonstrada uma visão de mundo e uma
que admitia valorativamente os conteúdos direção que escapam aos determinismos
existenciais como abstratos, o não coerentes a não imperiosidade de controle da
questionamento sobre o ser é coerente dentro ética, como se tratasse unicamente de uma
de sua proposta científico-natural. Ao disciplina curricular. Heidegger auxilia-nos a
privilegiar o fenômeno elegemos outro ponderar sobre o esforço filosófico frente aos
caminho que não é o de fundamentação na cenários de incertezas que nos constituem,
Metafísica, nesse caso a descrição do “ela só se dá a conhecer para aqueles que se
fenômeno é premissa para a Fenomenologia e lhe tornam intimamente aparentados, para
para as ciências que se inspiram nela. aqueles que se esforçaram para alcançá-la”
(Heidegger, 2011, p. 16). Sendo possível
A priorização às experiências, visualizar posicionamentos que relacionamos a
entendendo que a partir delas podemos acessar postura terapêutica.
os fenômenos, permaneceu de interesse para
Heidegger nas suas pesquisas, posto que seu No mundo narrado pelo cliente, o
entendimento de existência se manifestava no humano que se revela, desvela os sentimentos
ente que todos nós somos e que se apresentava por ele despertados nas suas relações, são
em conformidade com o nosso cotidiano. Na expressões de coerência e organização que
leitura heideggeriana, o lugar de importância podem estar mais ou menos integradas, mais
das experiências não reduz às relações a visão ou menos abertas, mas que não existem
naturalista ou ao regimento da vida sob a égide diferenciadas do sentir. A relevância ou
da dicotomia cartesiana de Renée Descartes destaque à ética é ativamente prática e
(1596-1650). Na defesa dos sentidos reflexiva e se estende numa implicação
“construídos” nas experiências e narrados na política que comporta o não negligenciar de
psicoterapia, investigamos o revelar da ética. sermos éticos.

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Hodge (1995) ponderou sobre ética e a psicoterapêuticos aprimorando recursos,


Fenomenologia heidegegriana. Conjuntamente metodologias e nosso comprometimento
a Hodge, interpretamos que a ética incorpora o profissional e pessoal, atuam zelando a
humano no seu modo de viver não o dividindo morada do cliente, a morada do
em setores, por exemplo, o indivíduo, o psicoterapeuta, bem como do mundo em que
sujeito, o biológico ou o social, e sim habitamos.
conciliando o humano com ele mesmo, no
sentido de auxiliá-lo nas decisões. Usualmente, na formação em
Psicologia, somos influenciados por Descartes
Para tanto, a ideia de ethos, originária quanto à sua dicotomia e na concepção de
dos gregos, é critério para refletirmos a ética sujeito de conhecimento; a partir desta
que dialoga com o método fenomenológico na influência adotamos a ideia do humano como
condução do trabalho terapêutico. O ethos foi possuidor de razão e de consciência. Acontece
revelado em Heidegger (2005) como residir ou que esta humanidade não experimenta o
morar, ao qual compreendemos no sentido de mundo apenas ao nível de sua consciência, há
residência provisória. A provisoriedade deste conjuntamente aquilo que está no nível do pré-
habitar é referido lembrando-nos da reflexivo. A psicoterapia age nesta passagem
impossibilidade de determinação e quanto a do pré-reflexivo ao reflexivo, exemplificamos
provisoriedade da condição de finitude que isto quando afirmamos sermos éticos antes
acompanha o ente humano. É profícuo mesmo de conhecermos ética ou moral. Neste
considerar que esta referência de ethos como sentido, o psicoterapeuta, além de conhecer a
habitar nos revela um meditar, isto é, um ciência que estuda o humano, se dedica a
demorar-se ético que conjuntamente é refletir as experiências, esta ação requisita do
Ontologia Fundamental a qual pensa e critica profissional se aproximar de diferentes áreas
o manifestar da verdade do ser conduzindo- de saber e de modos de experimentar o
nos ao lugar existencial que é abertura, uma mundo.
espécie de permanente direcionar-se. Os
fazeres éticos são as práticas éticas, modos de A eficácia que geralmente é restrita à
expressar à ética ou sua arte, relevantes na finalidade das práticas científicas, não deveria,
psicoterapia inspirada na FE, bem como para no cuidado ao humano, se restringir a algo já
os fazeres das psicoterapias em outras dado e que os clientes precisam alcançar
fundamentações que admitem nossas reflexões através de prescrições, pois as relações que
e posicionamentos como moradas temporárias norteiam os fazeres nas psicoterapias são
suportadas nas nossas práticas. Nestes modos amplos, envolvem histórias de vidas e
de assistir se situam o acolher, emancipado da inúmeras variáveis que se combinam e se
provisoriedade, impulsionando mudanças para repelem. Assegurar a uma técnica ou a um
outras moradas consigo e com os outros. método o suporte a complexidade e eficácia no
Sobretudo, na FE, os indicativos formais cuidado humano a nível de psicoterapia é uma
heideggerianos conduzem a encontros dimensão que brilha aos olhos dos cientistas;
psicoterapêuticos expressos na interpretação entretanto, coloca em risco o esquecimento da
hermenêutica inaugurando através do diálogo dimensão de humanidade que os compõe. Na
entre profissional e cliente composições de tentativa de diálogo entre a temática da ética e
possíveis transformações. os impasses científicos aos quais não nos
eximimos, analisamos e ponderamos sobre os
A dimensão ética da existência não se procedimentos científicos no contato com o
manifesta nas práticas profissionais (nos seus cliente a partir do ethos.
fazeres) alheia aos códigos e às prescrições.
Outrora destacamos esta ideia, todavia Figueiredo (1995) referiu: “pois bem,
independente da fundamentação que guie as considerar o ethos como uma casa, como uma
práticas psicoterapêuticas, reforçamos que o instalação, é ver nele, nos códigos, valores,
diálogo entre o ethos dos gregos e os fazeres ideais, posturas, condutas para consigo mesmo

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e para com os outros algo equivalente à inicialmente é o cliente, bem como elege quais
moradia” (pp. 142-143, grifo do autor). A pontos são mais importantes e o valor que esta
prática psicoterapêutica, evidenciando modos experiência possui. Do outro, não partimos do
de morar, nos remete aos confortos e pressuposto de que ele pode se enganar ou
desconfortos do lugar onde nos encontramos. tente enganar o profissional, isto seria supor
Uma formação profissional que concilia sua uma verdade na leitura ao acontecimento. O
atenção a temas como o cotidiano, o novo e o que o cliente revela é o conteúdo do trabalho.
perecer, considera que não será o
cumprimento irrefletido de códigos ou mesmo A descrição se combina com o
um esforço por repeti-los que nos isentará de priorizar pela escuta e observação, pois toda
existirmos na nossa singularidade. descrição passa pela intermediação da
linguagem na expressão de pensamentos e de
O trabalho psicoterapêutico, a partir afetos. No cenário narrado, convivemos com a
desta influência filosófica, mantém-se possibilidade de encontrar uma pessoa que se
científico. Há uma autonomia neste processo, supõe sozinha e distante do mundo regido por
exigindo-nos rigor no cuidado desenvolvido leituras de critérios naturalizados, fechados em
diante da abertura que acolhe o cliente, na juízos de valor e expectativas. Acolher esta
forma atenta que entramos em contato com as narração não se trata de uma tarefa qualquer,
descrições e na formulação da sua análise. visto que trazem desejos, sentimentos, dores,
Este trabalho é incentivador de uma motivações ou receios por mudanças e anseios
intermediação entre o método de investigação por segurança requisitados em número breve
filosófico e as requisições científicas para de sessões. O fazer-se ético do psicoterapeuta
analisar as relações humanas. O verbo que é inadiável, prepara-nos para o acolhimento,
elegemos na problematização entre Filosofia e principalmente, quanto à atenção aos modos
Psicologia é investigar, esta ação impulsiona como diariamente somos livres, cuidamos e
leituras e compreensões-interpretativas que respeitamos a nós e nossas relações.
não são definitivas. Giorgi e Sousa (2010)
advertem que “investigar é um não saber, uma O fazer psicoterapêutico propõe que o
indagação permanente, um olhar em constante acolhimento da narrativa-descrição não recaia
abertura sobre o homem e o mundo” (p. 14) numa internalização das questões. Esta direção
reforçando que nossa atenção para o conflito no caminho da ética destina-se ao compartilhar
entre o movimento filosófico e as diretrizes com o psicoterapeuta porquanto o cliente é
científico-naturais não pode ser negligenciado, convidado a sair dos reforços por ideias
coexistindo contextualização e compreensão individualistas amparado na noção
descritiva. fundamental de sermos seres-no-mundo-com-
os-outros. Como fazer este convite? Na
No trabalho psicoterapêutico a adoção mesma perspectiva de acolher a narrativa
da questão ontológica como fundamento anunciada, destacando ao cliente os pontos de
impulsiona práticas acolhedoras diante da rigidez nos seus modos de pensar, se afetar e
incerteza que nos acompanha quanto à se relacionar, questionando sobre como ele
imprevisibilidade de comportamentos, afetos, organiza aqueles pensamentos e avaliações,
pensamentos, etc. O método não é somente um etc. O exercício compreensivo se apoia no
mecanismo a ser utilizado; aqui, ele foi compartilhar de outros caminhos que podem
demonstrado como exercício de investigar. incluir as noções anteriormente construídas,
Algumas perguntas podem ocorrer aos leitores contudo desta vez ampliando
quanto “aos fazeres éticos” e como são posicionamentos. Esta dinâmica é constante e
possíveis de serem investigados na visa atualizar a condição de abertura e
psicoterapia. De um lado, sugerimos não questionamento do nosso estar-no-mundo.
pensar a experiência do cliente como coisa que
possa ser mensurada, mas sim, como Fazeres psicoterapêuticos acrescidos à
fenômeno descrito; quem fará a descrição ética são expostos como reflexões

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materializadas no convite para que o prática que exige discussão, construção e


profissional se implique na sua prática e na atenção às relações entre humanos e mundo.
proposta de encontro com o outro. Realçamos
que a ética é desafiadora das disposições do A Fenomenologia que embasou a
mundo dos prazeres e do atendimento de construção teórica e metodológica se opõe a
demandas morais. Neste sentido, os fazeres influências que reiteram dicotomias
éticos psicoterapêuticos podem apoiar para antecipatórias de julgamentos para as
ultrapassar conformações quanto às exigências experiências. Conforme expomos, o método se
morais, conciliando o esforço do exercício de apresentou em metodologias emprestando à
pensar meditativamente e a ética como modo Psicologia bases para aproximação e
de vida afetada (sentida), atualizando projetos desenvolvimento de pesquisas e do exercício
de vida não exclusivamente nos horários das de práticas profissionais. O artigo não propôs
sessões. uma nova teoria sobre a ética, no seu
desenvolvimento contamos com separação
Considerações finais entre ética e moral com o objetivo de que o
trabalho psicoterapêutico não partisse de
Reflexões sobre ética auxiliam a pressupostos pré-estabelecidos. Neste
proposição de um saber ético que nos perpassa trabalho, a ética aponta para uma organização
e ao fazer do psicoterapeuta. Argumentamos e orientação de nossos projetos comportando
sobre a possibilidade de pensarmos valores (morais) sem o intuito de deveres.
meditativamente, unindo razão e afetos, Assim, a ética, no encontro terapêutico e no
debatendo sobre humanidade e o fazer da cotidiano, auxilia a compreensão de ações
psicoterapia de fundamentação na FE como pensadas e sentidas quanto ao modo que
habitamos o mundo.

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Loparic, Z. (2004). Ética e finitude. São Paulo:
Editora Escuta.

Dados sobre as autoras:

- Danielle de Gois Santos Caldeira: Psicóloga, mestre em Psicologia e doutoranda em Psicologia


pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN/Brasil), estágio doutoral na
Universidade de Évora (UÉvora/ Portugal) no doutoramento em Filosofia. Bolsista Capes.

- Elza Maria do Socorro Dutra: Psicóloga, mestre e doutora em Psicologia. Professora no


Programa de Pós-graduação em Psicologia (PPgPsi) da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN/Brasil).

Agradecimento:
Agradecemos à Capes pelo financiamento através da bolsa de estudos concedida para a realização
das pesquisas e ao PPgPsi pelo apoio administrativo e reconhecimento do desenvolvimento da
pesquisa.

PSI UNISC, Santa Cruz do Sul, v. 2, n. 2, jul./dez. 2018, p.<50-50>

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