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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

ALEXSANDRA SANTOS SILVA

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CURITIBA
2017
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ALEXSANDRA SANTOS SILVA

26()(,726'$2%(6,'$'(12'(6(03(1+22&83$&,21$/

Dissertação apresentada ao Programa de Pós –


Graduação em Medicina Interna e Ciências da
Saúde da Universidade Federal do Paraná, como
parte das exigências para a obtenção do título de
Mestre em Medicina Interna e Ciências da Saúde.

Orientadora: Profª Dra Rosana B. Radominski


Coorientador: Prof. Dr. Renato Nicke

CURITIBA
2017
iii
iv
v

.Dedico esse trabalho à todos que lutam


e acreditam em um Sistema Único
de Saúde de qualidade.
vi

AGRADECIMENTOS

À Deus e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro por me darem a força


necessária para continuar buscando meu sonho e me segurarem no colo nos momentos
em que eu pensei em desistir.
Ao meu amado esposo Marcos, por me aceitar como eu sou, por me amar, me
fazer tão feliz e me incentivar em tantos momentos e ao meu amado filho Caio, minha
alegria, minha vida, razão da minha busca de ser alguém sempre melhor.
À minha mãe Lausina (in memorian) e ao meu pai José (in memorian), por tudo
que sou hoje e por terem me ensinado o valor do estudo.
Ao professor e coorientador Dr. Renato Nickel e a professora e colaboradora
professora Rita Aparecida Bernardi Pereira por todo incentivo, escuta, acolhimento,
ensino e orientação.
À minha orientadora e Professora Dra. Rosana B. Radominski por acreditar no
meu potencial e aceitar me acompanhar nessa jornada.
Ao Programa de Pós – Graduação em Medicina Interna e Ciências da Saúde da
Universidade Federal do Paraná, na pessoa da coordenadora Profª. Drª Iara José de
Messias Reason.
À secretária do Programa de Pós – Graduação em Medicina Interna Valéria
Knapp pelo acolhimento, incentivo, conselhos, apoio, ligações, e-mails e pelo ser humano
maravilhoso que és.
Às avaliadoras da banca, professora e Drª Auristela Duarte Lima Moser e
professora e Drª Rosibeth del Carmen Muñoz Palm por terem aceito o convite e
colaborar na melhoria desse trabalho.
Ao Dr. Henrique de Lacerda Suplicy e Dra. Solange Dos Anjos Martins Cravo
Fruet Bettini pelo apoio prestado para a execução do trabalho.
Às amigas Brenda Pina dos Santos, Silviane da Silva Almeida e Ellen Kehl
por partilharem de tantos momentos no decorrer dessa escrita e me darem o apoio
necessário.
Aos pacientes que aceitaram participar da pesquisa e em especial Sra.Joyce (in
memoriam), Sra.Neyla (in memoriam) e Sra. Sandra que me fizeram despertar para as
dificuldades enfrentadas por aqueles que têm obesidade.
vii

À técnica de enfermagem Ana Rita Lopes Braganholo e à secretária Eloina


Ribeiro do Amaral, colaboradoras do SEMPR, por todo apoio para o desenvolvimento da
pesquisa.
À minha sogra Leonice Antunes (D.Nice) e minha irmã Sonia B. Silva por tantas
vezes assumirem os cuidados com meu filhote para que eu pudesse me dedicar à escrita
da minha dissertação.
Á Viviane dos Reis Daprier do CEI Pipa Encantada HC/UFPR por ser uma
pessoa iluminada e do bem.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
pelo apoio para a execução do trabalho.
À minha cachorrinha Vida, por tantas vezes permanecer ao meu lado (ou no meu
colo) durante a escrita desse trabalho com aquele olhar de incentivo que só ela é capaz
de dar.
viii

“E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e


não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.”

(Mateus 7:25)
ix

RESUMO

Introdução: A obesidade é uma doença que afeta diretamente a saúde e a qualidade de


vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. Apesar da relevância do tema para a
saúde e economia, estudos que descrevam as dificuldades de desempenho nas
atividades diárias e mensurem esses dados ainda são escassos, principalmente no Brasil.
Compreender as dificuldades enfrentadas por pessoas obesas auxilia na compreensão da
funcionalidade dessa população. Objetivos: Avaliar e classificar, as limitações no
desempenho ocupacional de pessoas obesas. Entre os objetivos secundários estão:
correlacionar as limitações encontradas com o Índice de Massa Corporal (IMC) e a
circunferência abdominal (CA); comparar as limitações apresentadas por indivíduos
obesos de acordo com o grau de obesidade e apontar quais são os principais motivos que
afetam o desempenho ocupacional de pessoas obesas. Métodos: Estudo descritivo, do
tipo transversal, realizado em um hospital público universitário com participantes de idade
≥ 18 anos, IMC ≥ a 30 Kg/m², sem sequelas neurológicas, ortopédicas ou cognitivas que
comprometessem o desempenho e divididos em grupos de acordo com o grau de
obesidade. Todos os entrevistados responderam a um questionário sócio-demográfico,
seguido da aplicação da Medida Canadense de Desempenho Ocupacional (COPM), além
de terem seu peso, altura e circunferência abdominal (CA) aferidos. Foram questionados
ainda sobre o motivo que percebiam estar mais associado à dificuldade relatada. As
queixas encontradas na COPM foram classificadas com a Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). Resultados: A amostra foi composta por
105 participantes, divididos em 3 grupos de 35 pessoas. Em relação à COPM, as médias
de desempenho e satisfação foram, respectivamente, 4,31(±1,73) e 3,31(± 2,13). Foram
levantadas 327 queixas com a COPM que foram classificadas em 22 domínios da CIF,
sendo que as limitações mais frequentes foram: limpar a habitação (d6402) com 35
queixas; cuidado com as unhas dos pés (d5204) com 33 queixas, praticar esportes
(d9201) com 30 queixas, andar distâncias longas (d4501) e calçar (d5402) com 28
queixas. A pesquisa apontou ainda para uma relação entre a presença de dor e o
aumento no número de queixas (p≤ 0,017). Os principais motivos relatados como
causadores das dificuldades apontadas na COPM foram: sensação de dor (b280) com 88
queixas, estrutura da região pélvica (s740) com 75 relatos e funções respiratórias (b440)
com 44 queixas. Conclusão: Os resultados apontam para uma limitação nas áreas de
ocupação, principalmente para a realização das atividades de autocuidado, produtivas e
de lazer. O desempenho ocupacional mostrou-se como uma importante área de
intervenção em pessoas com obesidade. As queixas relatadas na COPM puderam ser
facilmente classificadas com a CIF. A atuação para melhorar a qualidade de vida do
obeso é um campo repleto de possibilidades para diversas profissões.

Palavras-chave: Obesidade. Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade


e Saúde. Terapia Ocupacional. Análise e Desempenho de Tarefas.
x

ABSTRACT

Introduction: Obesity is a disease that directly affects the health and quality of life of
millions of people around the world. Despite the relevance of the theme to health and
economics, studies that describe performance difficulties in daily activities and measure
these data are still scarce, especially in Brazil. Understanding the difficulties faced by
obese people helps in understanding the functionality of this population. Objectives: To
evaluate and classify the limitations in the occupational performance of obese people.
Among the secondary objectives are: to correlate the limitations found with Body Mass
Index (BMI) and waist circumference (WC); to compare the limitations presented by obese
individuals according to the degree of obesity and to indicate which are the main reasons
that affect the occupational performance of obese people. Methods: Descriptive, cross-
sectional study conducted at a public university hospital with participants aged ≥ 18 years,
BMI ≥ 30 kg / m², without neurological, orthopedic or cognitive sequelae that compromised
performance and were divided into groups according to the degree of obesity. All
respondents answered a socio-demographic questionnaire, followed by the application of
the Canadian Measure of Occupational Performance (COPM), in addition to having their
weight, height and waist circumference (AC) measured. They were also asked about the
reason they perceived to be associated with the reported difficulty. The complaints found
at the COPM were classified with the International Classification of Functioning, Disability
and Health (CIF). Results: The sample consisted of 105 participants, divided into 3 groups
of 35 people. Regarding COPM, the means of performance and satisfaction were,
respectively, 4.31 (± 1.73) and 3.31 (± 2.13). 327 complaints were filed with the COPM,
which were classified into 22 domains of the ICF, with the most frequent limitations being:
clean housing (d6402) with 35 complaints; (d5204) with 33 complaints, playing sports
(d9201) with 30 complaints, walking long distances (d4501) and shoes (d5402) with 28
complaints. The research also pointed to a relationship between the presence of pain and
the increase in the number of complaints (p ≤ 0.017). The main reasons reported in COPM
were: pain sensation (b280) with 88 complaints, pelvic region structure (s740) with 75
reports and respiratory functions (b440) with 44 complaints. Conclusion: The results point
to a limitation in the areas of occupation, mainly for self-care, productive and leisure
activities. Occupational performance has proved to be an important area of intervention in
people with obesity. The complaints reported at the COPM could easily be classified with
the CIF. The action to improve the quality of life of the obese is a field full of possibilities
for various professions.

Keywords: Obesity, International Classification of Functioning, Disability and Health,


Occupational Therapy, Task Performance and Analysis
xi

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – INTERAÇÃO ENTRE OS COMPONENTES DA CIF ................................ 34

QUADRO 1 - EXEMPLO DE ANÁLISE DE CATEGORIA NA CIF ................................ 43


xii

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DA OBESIDADE SEGUNDO O ÍNDICE DE


MASSA CORPORAL (IMC) E RISCO DE DOENÇA............................................. 27

TABELA 2 – DISTRIBUIÇÃO DOS INDIVÍDUOS COM OBESIDADE SEGUNDO OS DA-DOS


SOCIODEMOGRÁFICOS..................................................................................... 44

TABELA 3 – DISTRIBUIÇÃO DAS COMORBIDADES NA AMOSTRA ..................................... 45

TABELA 4 – FATORES DESENCADEADORES DA OBESIDADE NA AMOSTRA ESTUDADA46

TABELA 5 - DISTRIBUIÇÃO DO IMC, CA E QUEIXAS NO TOTAL DA AMOSTRA ................. 47

TABELA 6 – DISTRIBUIÇÃO DO IMC, CA E QUEIXAS NOS HOMENS DA AMOSTRA .......... 47

TABELA 7 - DISTRIBUIÇÃO DO IMC, CA E QUEIXAS NAS MULHERES DA AMOSTRA ....... 47

TABELA 8 – MÉDIAS DE DESEMPENHO E MÉDIAS DE SATISFAÇÃO EM CADA FAIXA


ETÁRIA DA AMOSTRA ........................................................................................ 48

TABELA 9 - DISTRIBUIÇÃO DAS MÉDIAS DE DESEMPENHO E SATISFAÇÃO EM CADA


FAIXA ETÁRIA .................................................................................................... 49

TABELA 10 – DISTRIBUIÇÃO DAS QUEIXAS DE ACORDO COM O GRUPO NO TOTAL DA


AMOSTRA ........................................................................................................... 51

TABELA 11 – DISTRIBUIÇÃO DAS QUEIXAS NOS HOMENS DA AMOSTRA ........................ 52

TABELA 12 – DISTRIBUIÇÃO DAS QUEIXAS NAS MULHERES DA AMOSTRA .................... 53

TABELA 13 – MOTIVOS RELACIONADOS ÀS QUEIXAS RELATADAS NA COPM .... 54

TABELA 14 - MOTIVOS RELATADOS COMO PREJUDUCIAIS PARA CADA


ATIVIDADE ............................................................................................... 55
xiii

LISTA DE ABREVIATURAS

Dr. – doutor

Dra. - Doutora

ed. - edição

et at. - e outros

f. – folha

n. – número

p. – página

Prof. - professor

Profª. – professora

v – volume
xiv

LISTA DE SIGLAS

AIVD´s – Atividades Instrumentais de Vida Diária


AOTA – American Occupational Therapy Association
AVD´s – Atividades de Vida Diária
CA – Circunferência Abdominal
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEP – Comissão de Ética e Pesquisa
CID - Classificação Internacional de Doenças
CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
COPM – Canadian Occupational Performance Measure (Medica Canadense de
Desempenho Ocupacional)
DCNT – Doenças Crônicas Não Transmissíveis
DM2 - Diabetes Mellitus Tipo 2
G1 – Grupo Obesidade Grau I
G2 – Grupo Obesidade Grau II
G3 – Grupo Obesidade Grau III
HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica
HC – Hospital de Clínicas
IMC – Índice de Massa Corporal
MS – Ministério da Saúde
OA – Osteoartrite
OMS – Organização Mundial de Saúde
TC6 – Teste de Caminhada de 6 Minutos
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TUG – Time Up and Go
UFPR – Universidade Federal do Paraná
VIGITEL – Vigilância de Fatores de Risco e Proteção Para Doenças Crônicas por
Inquérito Telefônico
WFOT – World Federation of Occupational Therapists
WHO- World Health Organization
xv

APÊNDICE

APÊNDICE 1 - FICHA DE COLETA DE DADOS DO PROJETO PILOTO................................. 89

APÊNDICE 2- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)................... 90

APÊNDICE 3 – FICHA DE COLETA DE DADOS ..................................................................... 92


xvi

LISTA DE ANEXOS

ANEXO 1 - MEDIDA CANADENSE DE DESEMPENHO OCUPACIONAL (COPM) .... 84

ANEXO 2 – CORE SET DA OBESIDADE .....................................................................86


xvii

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ...........................................................................................................1
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................3
2 OBJETIVOS .................................................................................................................6
2.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................6
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................6
3 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................7
3.1 OBESIDADE ..............................................................................................................7
3.1.1 Etiologia ..................................................................................................................7
3.1.2 Comorbidades ........................................................................................................7
3.1.3 Classificação ...........................................................................................................8
3.1.4 Circunferência Abdominal .......................................................................................9
3.1.5 Tratamento ........................................................................................................... 10
3.2 DESEMPENHO OCUPACIONAL ............................................................................ 12
3.2.1 Terapia Ocupacional e Obesidade........................................................................ 13
3.3 CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE, INCAPACIDADE E
SAÚDE (CIF) ................................................................................................................. 15
3.3.1 Core Sets da CIF .................................................................................................. 17
3.3.2 Core Set da obesidade ......................................................................................... 18
4 MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................................... 20
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ....................................................................... 20
4.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO .................................................................................... 21
4.3 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO ................................................................................... 21
4.4 INSTRUMENTOS DA COLETA DE DADOS ........................................................... 22
4.4.1 Aferição do peso, altura, circunferência abdominal e cálculo do IMC ................... 22
4.4.2 Questionário Sociodemográfico ............................................................................ 22
4.4.3 Canadian Occupational Performance Measure (COPM) ...................................... 23
4.4.4 Motivos relacionados às queixas .......................................................................... 24
4.4.5 Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) ...... 24
4.5 ANÁLISES ESTATÍSTICAS ..................................................................................... 25
5 RESULTADOS ........................................................................................................... 26
5.1 DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS .......................................................................... 26
xviii

5.2 COMPARAÇÕES ENTRE OS GRUPOS ................................................................. 29


5.3 QUEIXAS DE DESEMPENHO CLASSIFICADAS COM A CIF ................................31
5.4 MOTIVOS RELACIONADOS ÀS QUEIXAS ............................................................36
6 DISCUSSÃO ..............................................................................................................38
6.1 LIMITAÇÕES DE DESEMPENHO RELACIONADAS À OBESIDADE.....................38
6.2 MOTIVOS RELACIONADOS ÀS QUEIXAS ............................................................50
7 CONCLUSÕES ..........................................................................................................56
REFERÊNCIAS .............................................................................................................58
ANEXOS E APÊNDICES ..............................................................................................67
1

APRESENTAÇÃO

Obesidade... antes de entrar propriamente no assunto optei por explicar os


motivos que me levaram ao estudo desse tema. O interesse pelo tema da obesidade
surgiu quando trabalhei como terapeuta ocupacional em uma instituição para adultos
com deficiência intelectual no ano de 2009. Nessa ocasião, ao avaliar uma paciente
com obesidade mórbida, verifiquei que ela apresentava limitações para realizar
atividades físicas, caminhar (ficava quase sem fôlego ao subir rampas), abaixar e
levantar.
No entanto, no decorrer da avaliação, constatei também dificuldades com a
higiene no vaso sanitário, calçar os sapatos e com o autocuidado, pois devido ao
excesso de tecido adiposo, inclusive nos braços, não conseguia prender os cabelos
e nem se higienizar ao evacuar, sendo essa sua maior queixa devido ao odor e
assaduras que costumava conviver. Nesse momento, certa inquietação surgiu
dentro de mim. Senti-me desafiada enquanto profissional.
Como terapeuta ocupacional, meu maior objetivo era auxiliá-la na
independência e autonomia para a realização das atividades cotidianas. Assim,
passei a buscar materiais que pudessem contribuir para a minha intervenção.
Procurei artigos e discuti com outros colegas de profissão e verifiquei uma escassez
enorme de publicações sobre o assunto. Por fim, não encontrei profissionais da
minha área que já tivessem atuado com essa população.
Como solução imediata, elaborei um dispositivo de tecnologia assistiva que
pudesse trazer-lhe mais independência para higienizar-se quando fizesse uso do
sanitário. Ela chorou no dia que conseguiu realizar a atividade sozinha, me abraçou
e disse um obrigado que jamais esquecerei.
Mas tal situação continuou me instigando, o material que a instituição
dispunha na ocasião era de baixo custo e por esse motivo o resultado,
principalmente estético e funcional, não foi totalmente como o esperado. Ela
conseguiria fazer uso do dispositivo em casa, mas e quando saísse?
Posteriormente, já em outra instituição, deparei-me com outra paciente que
apresentava limitações semelhantes, devido à obesidade. Essa paciente veio a
falecer antes mesmo de eu realizar as primeiras intervenções, devido às diversas
complicações da obesidade mórbida. Uma moça jovem, com 34 anos.
2

Alguns anos se passaram, até que quando estava fazendo residência em um


hospital universitário, novamente me vi frente às limitações que a obesidade coloca
na vida de tantas pessoas, isso no ano de 2013. Fiquei responsável por atender uma
senhora que mal conseguia levantar sozinha da cama devido ao peso. A situação
era agravada, pois ela era uma pessoa muito hostil, algo compreensível por tudo
que já havia passado na vida e profissionais de diversas áreas evitavam ir atendê-la.
Nesse momento, decidi que iria pesquisar sobre o desempenho ocupacional
de pessoas obesas. Não quis me restringir ao estudo da prevenção nem ao estudo
da intervenção com foco na redução de peso. Tais assuntos estão mais descritos
na literatura com a contribuição de diversos profissionais. Resolvi pesquisar
pensando nas pessoas que estão obesas, que vão permanecer assim durante um
determinado período de suas vidas ou até mesmo a vida inteira. Essas pessoas que
podem estar com sua funcionalidade prejudicada e assim como minhas pacientes
necessitarão de auxílio profissional para melhorar de alguma forma sua qualidade de
vida, autoestima e independência. Resolvi começar com a pesquisa das principais
dificuldades para saber por onde começar. O primeiro passo desse trajeto encontra-
se nesse trabalho.
3

1 INTRODUÇÃO

A obesidade é apontada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como


um dos maiores problemas de saúde pública do mundo e é caracterizada pelo
acúmulo excessivo de gordura corporal em um indivíduo, de causa multifatorial,
sendo um fator de risco para o desenvolvimento de várias doenças, com perda
importante na qualidade e no tempo de vida. (WHO, 2016).
Ainda de acordo com a OMS, a prevalência dessa doença cresceu em
grandes proporções nas duas últimas décadas, duplicando desde 1980. Pesquisas
recentes apontam que em 2014 mais de 13% da população mundial apresentava
obesidade, ou seja, mais de meio bilhão de pessoas, enquanto que mais de 1,9
bilhão de adultos, com mais de 18 anos, estavam acima do peso. A maior parte da
população mundial vive em países onde o excesso de peso e a obesidade matam
mais pessoas do que o baixo peso.
Considerada um fator de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas
não transmissíveis (DCNT), a obesidade representa um dos principais desafios de
saúde para o desenvolvimento global, além de ameaçar a qualidade de vida de
milhões de pessoas e apresentar grande impacto econômico para os países. No
Brasil, as mortes decorrentes de DCNT correspondem a 72% do número total de
mortes, atingindo fortemente camadas pobres da população e grupos vulneráveis.
(BRASIL, 2011).
A pesquisa mais recente realizada no Brasil contendo dados
epidemiológicos sobre a obesidade foi realizada pelo Ministério da Saúde (MS) em
2014, por meio do Programa de Vigilância dos Fatores de Risco e Proteção para
Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) e contou com 40.853
participantes maiores de 18 anos e residentes nas 26 capitais. Os dados apontam
que o número de obesos, atingiu o percentual de 17,9 % da população, sendo que
os homens representam 17,6% e mulheres 18,2%. Em relação ao excesso de peso,
ou seja, com o Índice de Massa Corporal (IMC) maior ou igual a 25 kg/m² os dados
apontam um aumento, alcançando mais da metade da população, chegando a
52,5%. Os homens representam 56,5% desse total, e as mulheres 49,1%. (BRASIL,
2015).
No Paraná, um levantamento realizado com base em informações do
Datasus revelou que entre 2003 e 2013 o número de pessoas que morreram por
4

causa da obesidade mais do que triplicou, registrando um crescimento de 229,4%.


As hospitalizações por conta da obesidade tiveram uma alta de 588,28%.
Especialistas reforçam que esses dados são subnotificados. Ressalta-se ainda que
o Paraná é o estado com maior número de hospitalizações, ficando na frente até
mesmo de São Paulo, que possui uma população quatro vezes maior. (KOWALSKI,
2015).
A diminuição do peso é um processo lento e em alguns casos, nem sempre
possível. Idade avançada, condição clínica, aspectos emocionais, entre outros, são
fatores que podem contra indicar a realização da cirurgia bariátrica por exemplo. E o
questionamento que se faz é de como ficam essas pessoas durante o período em
que estão obesas e com limitações.
Mesmo com números alarmantes, estudos sobre as queixas funcionais e
limitações de desempenho junto a essa população ainda são ínfimos, especialmente
no Brasil. A maioria dos estudos e publicações está relacionada à prevenção
(principalmente com crianças e adolescentes) ou ao tratamento da obesidade, com
descrições sobre o sucesso de procedimentos cirúrgicos e clínicos que geram
melhora na saúde e qualidade de vida.
O estudo do desempenho ocupacional tem o objetivo de verificar quais são
as possíveis causas para que ele esteja afetado, bem como procurar estratégias
para melhorar esse desempenho e consequentemente a qualidade de vida das
pessoas. Quando o desempenho ocupacional está afetado, existe um declínio na
funcionalidade, gerando impacto negativo na saúde e muitas vezes na
independência.
Conhecer o desempenho ocupacional das pessoas com obesidade pode
auxiliar na instrumentalização de profissionais que atuam para melhorar a qualidade
de vida dessa população, além de contribuir para a elaboração de políticas públicas
que possam auxiliar na garantia de mais direitos e acessibilidade. Esse
conhecimento pode ainda gerar pesquisas futuras de dispositivos de tecnologia
assistiva que possam melhorar a independência das pessoas com queixas de
desempenho além de estimular a produção de mais estudos relacionados ao tema.
Diante do exposto, esta pesquisa se propõe a averiguar junto às pessoas
adultas com obesidade, as principais dificuldades nas suas atividades cotidianas, ou
seja, no desempenho ocupacional, e classificar tais dificuldades na Classificação
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF).
5

A revisão de literatura apresentada a seguir foi dividida em três partes,


expondo principais pontos relacionados à obesidade, como conceito, etiologia e
tratamento. Realizou-se ainda uma breve descrição do conceito de desempenho
ocupacional, da CIF e do core set da obesidade.
6

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Avaliar as principais dificuldades no desempenho ocupacional de indivíduos


obesos acompanhados nos ambulatórios de Obesidade e de Pré-Cirurgia Bariátrica
do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, e classificar as
dificuldades com base na Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde (CIF).

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

x Correlacionar as dificuldades encontradas com o IMC e a Circunferência


Abdominal (CA).
x Comparar as dificuldades apresentadas por indivíduos obesos de acordo com
o grau de obesidade.
x Apontar quais são os principais motivos que afetam o desempenho
ocupacional de pessoas obesas e sua relação com as categorias da CIF.
7

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 OBESIDADE

3.1.1 Etiologia

Dentre as causas de desenvolvimento da obesidade, destaca-se a interação


de fatores genéticos, dietéticos, ambientais, endócrinos, socioeconômicos,
psicológicos e comportamentais. Apesar dos avanços nas pesquisas, ainda não é
possível mensurar a contribuição de cada fator no seu desenvolvimento. As
estimativas apontam que fatores dietéticos, ambientais e comportamentais sejam
responsáveis por 60% da etiologia de indivíduos com diagnóstico de sobrepeso ou
obesidade no mundo. (PETRIBÚ, PINHO, 2011).
O aumento da densidade calórica dos alimentos e/ou a redução dos níveis
de atividade física colaboram para o balanço energético positivo (quando há um
maior consumo energético comparado ao gasto) e consequente ganho ponderal,
levando ao excesso de peso. Além disso, existem estudos que mostram que a
cessação do tabagismo e interrupção da prática de esportes também pode contribuir
nesse excesso. (WHO, 2016).

3.1.2 Comorbidades

No que se refere aos danos à saúde, várias são as comorbidades


relacionadas à obesidade, entre elas: cardiovasculares, sendo que as doenças
cardíacas e o acidente vascular cerebral foram a principal causa de morte em 2012;
diabetes; distúrbios músculo-esqueléticos (especialmente osteoartrite - uma doença
degenerativa altamente incapacitante das articulações); alguns tipos de câncer
(incluindo endométrio, mama, ovário, próstata, fígado, vesícula biliar, rim e cólon). O
risco para estas DCNT aumenta, com o aumento no IMC. (WHO, 2016).
Mancini (2001) ressalta ainda o risco aumentado a procedimentos cirúrgicos,
diminuição na agilidade física e aumento na propensão a acidentes, sendo que as
taxas de mortalidade também aumentam conforme o aumento do IMC.
Os indivíduos com obesidade podem apresentar ainda, limitações
incapacitantes que dificultam o desempenho em seu trabalho, nos serviços
8

domésticos, repercutindo em pouca independência para as atividades de vida diária,


além de um contexto social restrito. (MORAIS, 2002). Corroborando com esses
dados, Gutiérrez, et al (1998) demonstram que a obesidade afeta quase todos os
aspectos da vida do indivíduo, não só a saúde, mas também os recursos financeiros,
o bem-estar psicológico, a autoestima, os relacionamentos interpessoais e a
integração social. HARACZ, et al. (2013) reforçam que a epidemia global da
obesidade é uma preocupação por ser um fator de risco para uma variedade de
problemas físicos e de saúde mental.
As pessoas com obesidade também sofrem com redução da participação
social, que é atribuída aos efeitos do estigma e da discriminação, bem como às
barreiras físicas e capacidade física reduzida. A experiência do estigma e a
internalização das atitudes decorrentes dela conduzem a atitudes de evitar
atividades e situações nas quais o estigma é antecipado, e a não perseguir objetivos
no trabalho e no estilo de vida. (LEWIS, et al, 2011).
A obesidade causa ainda grande impacto na saúde, longevidade, bem estar
psicológico e economia de um país, além de interferir significativamente na
qualidade de vida. Temas como preconceito, alteração da imagem corporal,
discriminação, problemas emocionais, isolamento social, prejuízos nas atividades
sexuais e diminuição da capacidade funcional já foram descritos em diversas
pesquisas. (BROW; MCGEE; O‘BOYLE, 1997; VAN GERMET et al, 1998; DINIZ et
al, 2003; KOLOKTIN et al, 2006; HARACZ et al, 2013)

3.1.3 Classificação

O IMC pode ser obtido pelo cálculo do peso corporal, em quilogramas,


dividido pelo quadrado da altura, em metros quadrados (IMC=kg/m 2). Os valores
considerados normais e a classificação da obesidade em graus progressivamente
maiores de morbimortalidade são apresentados na Tabela 1, sendo essa a
classificação mais utilizada no mundo e proposta pela OMS.
O IMC tem excelente correlação com a quantidade de gordura corporal e é
largamente usado em estudos epidemiológicos e clínicos por sua praticidade.
Embora o IMC permita uma avaliação bastante rápida e prática da obesidade, é
importante lembrar que esse índice possui algumas limitações, de modo que
pessoas muito musculosas, edemaciadas, ou a presença de cifose importante,
9

podem apresentar IMC falsamente elevado. Esses fatores, porém, são facilmente
avaliáveis durante o exame clínico do paciente. (MANCINI, 2001).

TABELA 1 – CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DA OBESIDADE SEGUNDO O ÍNDICE DE


MASSA CORPORAL (IMC) E RISCO DE DOENÇA
Classificação IMC (Kg/m²) Risco de Doença
Magro ou baixo Peso <18,5 Baixo
Normal ou eutrófico 18,5-24,9 Normal
Sobrepeso ou pré-obeso 25-29,9 Elevado
Obesidade Grau I 30,0 a 34,9 Moderado
Obesidade Grau II 35,0 a 39,9 Severo
Obesidade grave Grau III ≥40,00 Muito Severo
FONTE: WHO, 2000.

Alguns autores denominam super obesos os indivíduos com IMC > 55 kg/m²
ou > 50 kg/m², devido às dificuldades particulares do próprio manejo pessoal e à
extensa gama de complicações clínicas que incidem nessa população. A população
de super obesos cresceu 500% na última década e corresponde entre 30 a 50 %
dos obesos mórbidos. (BRAY, 1992; PUGLIA, 2004; SANTO, et al, 2014).
Pesquisas demonstram ainda que indivíduos com IMC superiores a 45
Kg/m2 apresentam redução da expectativa de vida em 13 anos para os homens e
oito anos para as mulheres (MECHANICK et al., 2008).

3.1.4 Circunferência Abdominal

A medida da Circunferência Abdominal (CA) está associada à inatividade


física, podendo levar à incapacidade nas atividades de vida diária (AVD) e
instrumentais de vida diária (AIVDs). (GUALLAR, 2007).
A CA pode ser obtida medindo-se o maior perímetro entre a parte superior
da crista ilíaca e margem inferior da última costela. Consideram-se como valores
aceitáveis para mulheres os menores que 80 cm e para homens os menores que 94
cm. Valores superiores a 102 cm para homens e 88 cm para as mulheres são
considerados como de risco muito aumentado para doenças cardiovasculares.
(WHO, 2008).
10

O padrão de distribuição de gordura corporal pode estabelecer um


prognóstico de risco para a saúde mais fidedigno que o próprio grau de obesidade.
No tipo central, superior ou androide de distribuição de tecido adiposo, mais comum
em homens, a gordura está distribuída preferencialmente ao nível do tronco, com
deposição aumentada em região intra-abdominal visceral. No tipo periférico, inferior
ou ginóide, a gordura mais tipicamente acumula-se na região dos quadris, nádegas
e coxas, um padrão mais feminino de distribuição. (ASHWELL, et al, 1981).
As populações, porém, diferem em relação ao nível de risco associado com
a CA em particular, de modo que não é possível desenvolver pontos de corte
globalmente aplicáveis, embora a maioria dos estudos epidemiológicos em
populações ocidentais situe o nível de risco entre 90 e 100 cm. (MANCINI, 2001).

3.1.5 Tratamento

O fato de a obesidade ser uma doença crônica e a ausência de sintomas


específicos torna a adesão ao tratamento algo extremamente complexo. Os fatores
determinantes para a baixa adesão ao tratamento da obesidade ainda são de difícil
compreensão e diversos fatores do ambiente social podem prejudicar as tentativas
de perda de peso, dentre eles: problemas pessoais, ausência de apoio familiar,
dificuldade de acesso a serviços de saúde e resultados negativos na perda de peso.
(PALMEIRA, GARRIDO, SANTANA, 2016).
O tratamento da obesidade necessita de abordagem multidisciplinar e
inicialmente tem como base buscar mudanças no estilo de vida e no
comportamento, isso inclui reeducação alimentar, prática de exercícios físicos
regularmente, visando manter o balanço energético negativo e reduzir os riscos
associados ao excesso de peso. A diminuição de 5 a 10% do peso inicial em seis
meses de tratamento é suficiente para causar efeitos benéficos à saúde.
(GELONEZE; PAREJA, 2006; ABESO, 2016).
No entanto, a maioria das pessoas com obesidade mórbida não obtém
resultados satisfatórios e necessitam de outras intervenções (ABESO, 2016; WHO,
2014). A intervenção farmacológica é uma alternativa quando não se alcança
sucesso terapêutico por meio do tratamento inicial e é adjuvante das terapias
dirigidas com foco na modificação dos hábitos de vida. O uso de medicamentos é
indicado para indivíduos com IMC igual ou superior à 30 Kg/m², ou com IMC maior
11

ou igual a 25 ou 27 Kg/m² associado à comorbidades (dependendo do


medicamento) e para pacientes com falha em perder peso com o tratamento não
farmacológico. (REDDY; HEYMSFIELD, 2009; ABESO, 2016).
É comum que indivíduos obesos atinjam uma perda de peso efetiva, ou
quando alcançam resultado satisfatório apresentem dificuldade na manutenção do
peso perdido em longo prazo. Assim, no caso de insucesso no tratamento
convencional, há a necessidade de medida terapêutica mais eficaz. (GELONEZE;
PAREJA, 2006).
Atualmente, considera-se a intervenção cirúrgica, denominada cirurgia
bariátrica, a ferramenta mais eficaz no tratamento e controle da obesidade mórbida.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) define as
cirurgias da obesidade como “um conjunto de técnicas cirúrgicas, com respaldo
científico, com ou sem uso de órteses, destinadas à promoção de redução ponderal
e ao tratamento de doenças que estão associadas e/ou que são agravadas pela
obesidade”. (SBCBM, 2006).
A ABESO (2016), que descreve as diretrizes brasileiras de obesidade aponta
que as indicações formais para operações bariátricas são: idade de 18 a 65 anos,
IMC maior a 40 kg/m² ou 35 kg/m² com uma ou mais comorbidades graves
relacionadas com a obesidade (nas quais a perda de peso induzida cirurgicamente é
capaz de melhorar a condição) e documentação de que os pacientes não
conseguiram perder peso ou manter a perda de peso apesar de cuidados médicos
apropriados realizados regularmente há pelo menos dois anos (dietoterapia,
psicoterapia, tratamento farmacológico e atividade física).
De modo geral, o tratamento busca melhorar a qualidade de vida dessa
população, sendo a qualidade de vida (QV) fdefinida pelo Grupo de Qualidade de
Vida, da Divisão de Saúde Mental da OMS, como “a percepção do indivíduo de sua
posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em
relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Nessa definição,
é implícito que o conceito de qualidade de vida é subjetivo e multidimensional,
incluindo elementos de avaliação positivos e negativos. Saúde não significa apenas
não estar doente, mas alcançar o estado de satisfação e plenitude consigo próprio e
com a vida. (WHO, 1995).
Tavares, Nunes e Santos (2010) reforçam que a avaliação da qualidade de
vida dos obesos é importante, assim como se faz de extrema importância validar
12

escalas específicas para essa avaliação no Brasil. Ressaltam ainda que o declínio
na qualidade de vida é mais acentuado nos obesos que não seguem tratamento
para a perda de peso.
Muitos são os protocolos utilizados em estudos para avaliar a qualidade de
vida de obesos, entre eles: Stanford Health Assessment Questionnaire (HAQ -20),
World Health Organization Quality of life (WHOQOL 100), Bariatric Analysis and
Reporting Outcome Sistem (BAROS); Impact of Weight Questionaire on Obesity Life-
Lite (IWQOL – Lite), Short Form Health Survey (SF-36), Obesity Related Well –
Being Questionnaire (Orweel 97). (DINIZ, et al, 2003; ENGEL, et al, 2003;
KOLOKTIN, et al, 2006; BRILMANN, et al, 2007; ORSI, et al, 2008; TOLEDO, et al,
2010).

3.2 DESEMPENHO OCUPACIONAL

A compreensão do desempenho ocupacional permeia pela compreensão do


termo ocupação que de modo simplificado envolve todas as atividades realizadas
por uma pessoa, grupo ou uma comunidade.
A Federação Mundial de Terapeutas Ocupacionais traz que em terapia
ocupacional, o termo ocupação se refere às atividades diárias que as pessoas
executam enquanto indivíduos, nas famílias e em comunidades para ocupar o tempo
e trazem significado e propósito à vida, incluindo o que as pessoas precisam,
querem e o que se espera que façam. (WFOT, 2012).
Considerando que as ocupações são influenciadas por fatores do cliente, é
importante compreender que os fatores do cliente incluem valores, crenças e
espiritualidade; funções do corpo e estruturas do corpo. (CAVALCANTI, DUTRA,
ELUI; 2015). Dessa maneira, a obesidade que afeta a estrutura do corpo, devido o
acúmulo de gordura corporal, pode influenciar os fatores do cliente e
consequentemente afetar o desempenho nas ocupações.
Law, et al, (2009) traz que o desempenho ocupacional é um fenômeno
experimentado, influenciado por papeis, componentes de desempenho e ambiente,
sendo uma característica dos humanos, independente de idade, gênero ou
incapacidade, que inclui tanto o desempenho por si só como a satisfação com o
13

desempenho. O desempenho ocupacional é o resultado de interações entre a


pessoa, o ambiente e a ocupação.
Nenhum estudo que utilize a Medida Canadense de Desempenho
Ocupacional, conhecida mundialmente pela sigla COPM (Canadian Occupational
Performance Measure), para avaliar o desempenho ocupacional de obesos foi
encontrado na literatura brasileira até o presente momento, e na internacional,
encontrou-se somente uma com publicação em 2017. (NOSSUM, et al. 2017).
Nesse trabalho manteremos a sigla original do inglês, pois é usada
internacionalmente como indexador na área de terapia ocupacional.
A maioria das pesquisas sobre a qualidade de vida na obesidade faz uso de
protocolos e questionários com itens de avaliação pré-estabelecidos. A COPM, por
permitir que o indivíduo aponte dentro do seu desempenho ocupacional quais
tarefas estão prejudicadas, se apresenta como uma alternativa de avaliação para ser
utilizada pelos terapeutas ocupacionais, uma vez que leva em conta o que é
significativo para cada pessoa.
As autoras Lívia Castro, Lilian Magalhães e Ana Cardoso, na tradução que
fizeram da medida para o português, afirmam que uma das vantagens da COPM, e
que também determinou a sua tradução em diversos países, é de que pelo fato de
não existirem tarefas predefinidas no instrumento, é possível avaliar o cliente de
acordo com sua própria perspectiva, considerando seu desempenho em tarefas
culturalmente relevantes. (MAGALHÃES; MAGALHÃES; CARDOSO, 2009).

3.2.1 Terapia Ocupacional e Obesidade

A terapia ocupacional é uma profissão que está qualificada para fornecer


intervenções com indivíduos, grupos e sociedade efetuando mudanças que
promovam saúde. Os serviços de Terapia Ocupacional são frequentemente usados
direta e indiretamente para influenciar o controle de peso e preocupações
relacionadas à saúde, atenção ao estilo de vida e ao engajamento em atividades.
(CLARK, REINGOLD, JORDAN, 2007). É importante salientar que essa não é uma
realidade no Brasil, onde os serviços de Terapia Ocupacional ainda são muito
escassos.
Apesar da relevância do tema, são poucos os estudos que trazem a
contribuição do terapeuta ocupacional na obesidade. Blanchard (2009) reforça que
14

terapeutas ocupacionais podem realizar intervenções em todos os níveis de


atenção, por meio de programas de educação em saúde culturalmente relevantes e
significativos.
A Associação Americana de Terapeutas Ocupacionais (AOTA) em seu
posicionamento sobre a terapia ocupacional e obesidade, reforça que a profissão
aborda a prevenção e as preocupações da obesidade com uma abordagem holística
e centrada no cliente para participação em atividades que promovam a saúde. As
intervenções não só facilitam a perda de peso, mas também promovem mudanças
no desempenho em múltiplas áreas da vida, incluindo a incorporação de atividades
produtivas e sociais adequadas, bem como a atividade física, para combater a
obesidade, melhorando a saúde e mantendo o bem-estar à longo prazo. (CLARK,
REINGOLD, JORDAN, 2007).
Porém, desde 2007, existe um movimento para não se olhar somente para a
redução do peso corporal, mas também para as barreiras físicas, sociais e de atitude
que restringem a participação em atividades significativas para pessoas com a
obesidade. Essas intervenções podem ou não permitir a perda de peso, mas o
objetivo principal é proporcionar oportunidades independentemente do tamanho do
corpo. Por exemplo, a declaração de posição publicada pela Associação Canadense
de Terapeutas Ocupacional (CAOT) reflete a mudança na literatura sobre obesidade
para a visão da obesidade como uma condição de saúde crônica. (FORHAN, GILL;
2013).
Uma revisão de literatura realizada por HARACZ, et al. (2013) com 22
artigos relacionados à terapia ocupacional na obesidade, verificou a existência de
dois temas recorrentes: o foco e as estratégias de intervenção da Terapia
Ocupacional. Como foco das intervenções da terapia ocupacional em obesidade os
autores verificaram a recorrência de quatro temas: promoção e prevenção da saúde;
aumento da participação em atividade física; modificação da dieta e redução do
impacto da obesidade. Como estratégias de intervenção da Terapia Ocupacional os
autores também apontam quatro temas: avaliação, modificação do ambiente,
educação e introdução e adaptação de ocupações.
Ainda nessa revisão, os autores verificaram que entre os artigos revisados a
maior parte (15), estava relacionada a crianças e jovens, e somente quatro eram
focados em adultos sem comprometimento cognitivo, evidenciando um foco maior
nas intervenções com o público infantil.
15

Nossum, et al (2017), ressaltam que terapeutas ocupacionais, aplicando


métodos centrados no cliente e na ocupação devem assumir um papel mais ativo
em ajudar as pessoas com obesidade a realizarem suas ocupações e a
estabelecerem rotinas diárias mais saudáveis.

3.3 CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE, INCAPACIDADE


E SAÚDE (CIF)

A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde


(CIF) é uma classificação da OMS que tem como fundamento um modelo de
entendimento da funcionalidade e da incapacidade que integra aspectos biomédicos,
sociais e pessoais, além de homogeneizar a terminologia que descreve as
condições incapacitantes relacionadas à saúde. (RIBERTO, 2011)
O objetivo da classificação é proporcionar uma linguagem unificada e
padronizar uma estrutura que descreva a saúde e os estados relacionados a ela.
(OMS, 2011)
Segundo a OMS (2011), a Classificação Internacional de Doenças (CID-10)
e a CIF são complementares, uma vez que ao obter informações sobre o diagnóstico
acrescido da funcionalidade, o resultado é um quadro mais amplo sobre a saúde do
indivíduo ou populações. Por exemplo, duas pessoas com a mesma doença podem
ter diferentes níveis de funcionalidade, e duas pessoas com o mesmo nível de
funcionalidade não têm necessariamente uma mesma condição de saúde. (FARIAS;
BUCHALLA, 2005)
Segundo esse modelo, a funcionalidade de um indivíduo com uma
determinada condição de saúde depende de aspectos do corpo, bem como de
fatores pessoais e ambientais. (OMS, 2011)
Os componentes desse modelo, bem como o entendimento da sua interação
podem ser visualizados na Figura 1.
16

FIGURA 1 – INTERAÇÃO ENTRE OS COMPONENTES DA CIF

FONTE: OMS (2001)

A condição de saúde são doenças, transtornos, lesões ou traumas e podem


referir-se a outras circunstâncias como envelhecimento, estresse, anomalias
congênitas ou predisposição genética. Pode também incluir informação sobre a
patogênese ou etiologia. Em geral, são descritos pela CID - 10. (OMS, 2011).
Funções do corpo, são as funções fisiológicas dos sistemas do corpo,
incluindo as funções psicológicas e as estruturas do corpo são as partes anatômicas
do corpo, como órgãos, membros e seus componentes. Problemas nas funções ou
nas estruturas são chamados de deficiências que podem ser um desvio significativo
ou uma perda. Entende-se que a atividade é a execução de uma tarefa ou ação por
um indivíduo e representa a perspectiva individual de funcionalidade. Já a
participação refere-se ao envolvimento de um indivíduo em uma situação de vida
diária e representa a perspectiva social da funcionalidade.
Limitações de atividades são dificuldades que um indivíduo pode encontrar
na execução de atividades (por exemplo, limitação para andar ou carregar objetos).
Problemas que um indivíduo pode enfrentar para se envolver numa situação de vida
são conceituados como restrições de participação. (OMS, 2011).
Fatores de contexto representam o pano de fundo global da vida de uma
pessoa. Os fatores ambientais englobam aspectos físico, social e de atitudes no
ambiente em que as pessoas vivem e conduzem suas vidas. Esses fatores são
externos ao indivíduo e podem ter influência positiva ou negativa, desempenhando
papeis de barreiras ou facilitadores.
17

Fatores pessoais são aspectos particulares da vida de uma pessoa e


abrangem características que não são parte da condição de saúde, ou seja, gênero,
idade, raça, forma física, estilos e hábitos de vidas e antecedentes sociais. Fatores
pessoais não podem estar deficientes, limitados ou restritos. Assim como os fatores
ambientais, eles podem modular a funcionalidade positiva ou negativamente. (OMS,
2011).
As categorias da CIF são hierarquicamente organizadas e sinalizadas por
códigos alfanuméricos, o que a torna uma classificação extremamente abrangente e
com alto poder descritivo. Contudo, este também é um dos maiores desafios ao seu
uso prático, pois todas as categorias deveriam ser avaliadas em todas as pessoas, o
que é impraticável. (RIBERTO, 2011)
Para aumentar a aplicabilidade da classificação, ferramentas embasadas na
CIF têm sido desenvolvidas para as necessidades dos usuários. Uma solução foi o
desenvolvimento dos Core sets da CIF. (USTUN; CHATTERJI; KONSTANISEK,
2004).

3.3.1 Core Sets da CIF

O termo core set pode ser traduzido como “conjunto principal” ou “itens
essenciais” e refere-se ao conjunto de categorias da CIF que descreve de forma
típica a funcionalidade das pessoas com uma determinada condição de saúde, a
obesidade, por exemplo.
De acordo com Cieza, et al, (2004), o objetivo dos Core sets da CIF é
selecionar as categorias da classificação completa que são como padrões mínimos
para a avaliação e documentação da funcionalidade e saúde em estudos clínicos,
encontros clínicos e avaliação multiprofissional abrangente. A ideia por trás dos Core
sets da CIF é que, ao invés de avaliar mais de 1400 aspectos da funcionalidade das
pessoas descritos na CIF, devem-se avaliar apenas aquelas categorias que são
típicas e significativas numa determinada condição de saúde.
Além dos Core sets abrangentes, existem ainda os resumidos. Os core sets
abrangentes têm de 55 a 130 categorias e esse número varia de 9 a 39 nos
resumidos.
Um Core set resumido para uma condição específica inclui o menor número
possível de categorias para ser prático, mas tantos quantos forem necessários para
18

descrever de forma completa o espectro típico de problemas na funcionalidade de


pacientes com uma condição específica. Os core sets resumidos têm um
compromisso com a praticidade na aplicação e podem ser usados em todos os
pacientes incluídos num estudo clínico ou epidemiológico. (RIBERTO, 2011)
Os Core sets da CIF são soluções propostas para a implementação e
disseminação do uso da CIF e ainda são instrumentos em desenvolvimento. Até o
momento, há consenso de que eles avaliam ‘o que’ deve ser observado nos
indivíduos com condições especificas de saúde, mas não definem ‘como’ esses
aspectos devem ser qualificados. (RIBERTO, 2011).
Atualmente há Core Sets abrangentes e resumidos para cerca de 30
condições de saúde. (ICF RESEARCH BRANCH, 2012).

3.3.2 Core Set da obesidade

O desenvolvimento do core set para a obesidade (ANEXO 2) envolveu um


processo de tomada de decisão em consenso, integrando evidências de estudos
preliminares baseados no modelo Delphi, revisão sistemática e uma coleta empírica
de dados usando o check list da CIF. (STUCKI, et al, 2004)
Após uma formação na CIF e com base em estudos preliminares relevantes,
as categorias da CIF foram identificadas num processo de consenso entre
profissionais de diferentes origens. O grupo de trabalho foi composto por vinte e um
especialistas (18 médicos com várias sub especialidades e três fisioterapeutas) de
oito países diferentes que participaram do processo de consenso para a obesidade.
O processo de tomada de decisão para obesidade envolveu três grupos de trabalho
com sete especialistas cada. O processo foi facilitado pelo coordenador e os três
líderes de grupos de trabalho. (STUCKI, et al, 2004)
Os estudos preliminares identificaram um conjunto de 219 categorias da CIF
de segundo, terceiro e quarto nível (87 sobre funções do corpo, 34 sobre estruturas
do corpo, 53 sobre atividades e participação e 45 sobre fatores ambientais). Após a
finalização dos grupos de trabalho e processo de tomada de decisão em consenso,
o core set para obesidade finalizou em 109 categorias (108 de segundo nível e um
de terceiro nível) sendo dessas, 30 categorias das funções do corpo, 18 das
estruturas do corpo, 28 de atividades e participação e 33 de fatores ambientais. O
19

core set resumido incluiu um total de nove categorias de segundo nível com três
funções corporais, quatro atividades e participação e dois sobre fatores ambientais.
20

4 MATERIAIS E MÉTODOS

Estudo desenhado como quantitativo, descritivo, transversal, desenvolvido


com base no projeto de pesquisa “O Desempenho Ocupacional de Sujeitos com
Obesidade”, aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Complexo
Hospitalar de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) sob o número de
registro no CEP 566.664, CAAE: 26776314.6.0000.0096.
A pesquisa foi realizada com indivíduos obesos adultos acompanhados
ambulatorialmente no Complexo Hospitalar de Clínicas da UFPR.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

A coleta dos dados inicial ocorreu de março a junho de 2014 através de um


questionário piloto (APÊNDICE 1) com um n=30. Após essa coleta verificou-se a
necessidade de realizar alterações no questionário sociodemográfico. Após as
alterações serem analisadas e aceitas pelo CEP, a coleta com o questionário
atualizado foi iniciada em fevereiro de 2015 sendo concluída em setembro de 2016.
A coleta foi realizada exclusivamente pela pesquisadora semanalmente nos
ambulatórios de Pré - Cirurgia Bariátrica e Obesidade do Hospital de Clínicas da
Universidade Federal do Paraná/EBSERH.
A complementação das informações das primeiras fichas coletadas foi feita
por meio de contato telefônico, sendo que dois participantes foram excluídos, por
não se ter conseguido contato nos números informados e presentes no sistema do
hospital.
A amostra foi selecionada por conveniência, ou seja, foram incluídos no
estudo os pacientes agendados para os dias de acompanhamento ambulatorial que
atenderam aos critérios de inclusão deste estudo. O ambulatório ocorria
semanalmente e a coleta foi realizada enquanto o paciente aguardava o
atendimento médico.
Os pacientes agendados para o ambulatório passavam primeiramente pela
triagem por meio dos prontuários para verificar se tinham algum critério que poderia
impedi-los de participar. Os pré-selecionados eram convidados à participar e
informados sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa.
21

Ao aceitarem, os participantes recebiam o Termo de Consentimento Livre e


Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE 2) para leitura e assinatura e no caso de
entrevistados analfabetos a leitura foi realizada pela pesquisadora. Apesar de
analfabetos, os selecionados deveriam pelo menos assinar o nome. Na sequência
os pacientes eram encaminhados para a sala da enfermagem onde tinham as
medidas aferidas. Após essa etapa os participantes eram conduzidos para uma sala
para que a coleta pudesse ser realizada. No ambulatório de pré-cirúrgia bariátrica,
onde não havia sala para a realização da coleta de dados com privacidade, a
pesquisa era sempre realizada antes do inicio das consultas médicas.
Com a finalidade de facilitar a compreensão das tabelas, os grupos foram
chamados de G1, G2 e G3 para obesos grau I, II e III respectivamente.
A projeção inicial de indivíduos para a pesquisa considerando a
disponibilidade de tempo, projeto piloto e duração de cada entrevista foi de
aproximadamente 100 pessoas, por isso se definiu 35 indivíduos em cada grupo.

4.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

a) Indivíduos de ambos os sexos


b) Idade maior ou igual a 18 anos
c) IMC maior ou igual a 30 Kg/m²

4.3 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

a) Indivíduos com sequelas de eventos neurológicos


b) Indivíduos com déficits cognitivos que pudessem interferir no desempenho
ocupacional ou na compreensão do questionário.
c) Indivíduos com problemas ortopédicos que não fossem relacionados à
obesidade, ou seja, os indivíduos que apresentavam situações ortopédicas
como amputações, por exemplo, foram excluídos, porém os que
apresentavam comorbidades decorrentes da obesidade, como por
exemplo, a osteartrose, foram mantidos, desde que o inicio dos sintomas
fosse posterior ao inicio do quadro de obesidade.
22

4.4 INSTRUMENTOS DA COLETA DE DADOS

4.4.1 Aferição do peso, altura, circunferência abdominal e cálculo do IMC

Após a assinatura do TCLE, foram verificados o peso e a altura utilizando-se


balança antropométrica com estadiômetro acoplado presentes nos ambulatórios
onde cada coleta foi realizada. O peso foi aferido com a quantidade mínima de
roupa possível, sem acessórios e sem calçados. A altura foi verificada solicitando-se
ao paciente que permanecesse de costas ao estadiômetro, ereto e com a cabeça
imóvel e reta. Com o auxílio de uma régua verificou-se o ponto mais alto no medidor
e foi essa medida a utilizada para o cálculo do IMC.
A CA foi aferida utilizando-se o modo preconizado pela OMS (WHO,2008).
Utilizou-se uma fita métrica inelástica de acordo com os seguintes passos:
1) Solicitou-se ao paciente que ficasse em pé, ereto, com o abdômen
relaxado, braços estendidos ao longo do corpo e os pés separados numa
distância de 25 a 30 cm.
2) A roupa foi afastada, de forma que a região da cintura ficasse despida.
3) Com o auxílio da fita métrica inelástica, circundou-se o paciente no
ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca.
4) A leitura foi realizada no momento da expiração.
O IMC foi calculado utilizando os critérios estabelecidos pela OMS por meio
da fórmula: peso (kg)/altura (m)2 através do programa Excel®. As medidas foram
verificadas sempre pela pesquisadora e pelos mesmos instrumentos com objetivo de
minimizar possíveis erros de aferição. Após a verificação desses dados, as
informações foram transcritas para o questionário sociodemográfico.

4.4.2 Questionário Sociodemográfico

O questionário sociodemográfico semiestruturado elaborado e readequado


para a pesquisa (APÊNDICE 3) foi aplicado após a aferição das medidas. O
questionário coletou informações sobre sexo, idade, estado civil, escolaridade, renda
familiar, ocupação, hábitos de vida, comorbidades, realização de atividade física,
23

presença de dor relacionada ao peso, sono reparador, tempo de obesidade, fatores


considerados desencadeadores, além do peso, altura e circunferência abdominal.

4.4.3 Canadian Occupational Performance Measure (COPM)

A aplicação da COPM (ANEXO 1) foi feita após o questionário


sociodemográfico. A COPM é um instrumento utilizado por terapeutas ocupacionais,
que tem como finalidade avaliar a visão dos pacientes a respeito de sua
incapacidade. Ela possibilita o relato de até cinco problemas no desempenho
ocupacional e permite a pontuação com uma nota de 1 a 10 para o desempenho e
uma nota de 1 a 10 para a satisfação (LAW et al., 2009; BASTOS; MANCINI; PYLÓ,
2010).
De modo mais detalhado, por meio da COPM, o entrevistado selecionava as
atividades que precisava ou desejava realizar. Poderia selecionar ainda aquelas que
não conseguia realizar ou não estava satisfeito com o desempenho devido à
obesidade. Essas atividades poderiam se enquadrar em qualquer uma das áreas de
desempenho: autocuidado, trabalho e lazer. Após descrever todas as atividades que
consideravam estar afetadas, o indivíduo atribuía a cada atividade uma nota de
importância, variando essa de um (para quando a atividade não é importante de
nenhuma forma) a 10 (extremamente importante).
A partir disso, o indivíduo deveria selecionar, no máximo, 5 atividades para
as quais atribuía maior importância, e dar a cada uma delas uma pontuação,
também numa escala de 1 a 10, em relação ao desempenho nessas atividades (1-
não é capaz de desempenhar e 10- capaz de desempenhar muito bem). Após
pontuar o desempenho de todas as atividades, deveria pontuar também a sua
satisfação em relação ao seu desempenho (1- nada satisfeito e 10- extremamente
satisfeito).
A soma das notas de desempenho com a divisão pelo número de queixas
gera a média da nota de desempenho assim como a soma das notas de satisfação
com a divisão pelo número de queixas gera a média da nota de satisfação.
Reunindo-se todos os escores de desempenho e de satisfação, são obtidas
pontuações totais que poderão ser comparadas com os resultados de uma possível
reavaliação para mensuração de progresso. (BASTOS; MANCINI; PYLÓ, 2010).
24

Ressalta-se que nem todos os indivíduos selecionaram as cinco atividades


possíveis, inclusive alguns não relataram queixas. Alguns indivíduos ainda
selecionaram no momento inicial, mais de cinco atividades afetadas pela obesidade,
porém no momento de definir a importância de cada uma, tinham que selecionar
apenas as cinco mais importantes, descartando algumas vezes atividades que
também consideravam importantes, porém não com tanta prioridade.
A COPM é uma avaliação que teve sua validação em três fases, porém, é
importante ressaltar que ela não procura impor um padrão baseado na população
para desempenho ocupacional. Ao invés disso, a base teórica sobre a qual medida
foi desenvolvida descreve o desempenho ocupacional como uma experiência
individual e subjetiva. (LAW et al., 1994).
Carswell, et al. (2004), afirmam que a COPM já foi traduzida para 20 línguas
e é usada em 35 países, com evidências de que ela possui boa confiabilidade,
validade e utilidade clínica. A tradução para o português ocorreu em 2009.
(MAGALHÃES,MAGALHÃES, CARDOSO,2009)

4.4.4 Motivos relacionados às queixas

Após relatar as dificuldades e pontuar o desempenho e satisfação, os


indivíduos foram questionados sobre qual considerava ser o principal motivo para a
dificuldade relatada. Na CIF esses motivos quando tem aspecto negativo são
chamados de deficiência quando são relacionados à Funções e Estruturas do Corpo,
Limitação da Atividade ou Restrição de Participação quando relacionados à
Atividades e Participação, e Barreiras quando relacionados à Fatores Ambientais. A
anotação dessa dificuldade se deu ao final do questionário sociodemográfico. Por
exemplo, se o indivíduo relatou que uma de suas dificuldades foi para cortar as
unhas dos pés, ele era questionado sobre qual motivo observava que mais limitava a
execução da atividade e então a resposta era anotada no campo correspondente e
também classificado na CIF.

4.4.5 Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF)


25

Com base nos resultados da COPM, realizou-se a classificação das


atividades descritas nos domínios da CIF, objetivando uma terminologia unificada e
a identificação de quais atividades os indivíduos apresentavam mais queixas de
desempenho. As atividades foram classificadas em conjunto com o coorientador da
pesquisa Professor Doutor Renato Nickel que apresenta notável domínio da CIF,
com publicações sobre o assunto, ministrando, inclusive, cursos sobre o tema.
Classificaram-se ainda os motivos relatados pelos indivíduos como causadores das
dificuldades. Por exemplo, se o indivíduo relatou que tinha dificuldade para cortar a
unha do pé e ao ser questionado sobre o motivo da dificuldade relatava que era o
tamanho da barriga, a queixa recebia o código d5204 (Cuidado com as unhas dos
pés) e o motivo o código s740 (Estrutura da região pélvica).
A CIF propõe a análise e classificação de domínios em até quatro níveis.
Neste estudo considerou-se a classificação conforme exemplo do Quadro 1.

Quadro 1 – Exemplo de Análise de Categoria na CIF


Dificuldade Componente Domínio 1º Nível Domínio 2º Nível Domínio 3º Nível
“Dificuldade para Cuidado das Cuidados com as
Atividades e
cortar as unhas Cuidado Pessoal partes do corpo unhas dos pés
Participação
dos pés” (d520) (d5204)

4.5 ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Os dados coletados foram analisados de acordo com a frequência e


distribuição por meio do programa SPSS 20.0®. Foram calculados os valores de
frequência absoluta (N) e percentual (%) das variáveis categóricas, a média e o
desvio padrão das variáveis contínuas. Para inferência estatística foram usados os
testes de Kruskal Wallis, Mann – Whitney U e Sperman´s rho. Foi adotado como
nível de significância 5%.
26

5 RESULTADOS

5.1 DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS


A amostra da pesquisa foi composta por 105 indivíduos. Os dados
sociodemográficos coletados foram: sexo, idade, situação ocupacional, estado civil,
escolaridade, renda familiar, e religião. A apresentação desses dados se encontra
na Tabela 2. A amostra foi composta por 91 (86,7%) mulheres e 14 (13,3%) homens.

TABELA 2: DISTRIBUIÇÃO DOS INDIVÍDUOS COM OBESIDADE SEGUNDO OS DADOS


SOCIODEMOGRÁFICOS
Total Homens Mulheres
VARIÁVEL % % %
(N=105) (N=14) (N=91)
Faixa Etária
18 a 30 13 12,4 4 28,6 9 9,9
31 a 40 15 14,3 1 7,1 14 15,4
41 a 50 26 24,8 7 50 19 20,9
51 a 60 38 36,2 2 14,3 36 39,6
61 a 70 11 10,5 0 0 11 12,1
Mais de 71 2 1,9 0 0 2 2,2
Situação Ocupacional
Do Lar 28 26,7 0 0,0 28 30,8
Autônomo 22 21,0 1 7,1 21 23,1
Assalariado 20 19,0 9 64,3 11 12,1
Desempregado 12 11,4 2 14,3 10 11,0
Aposentado 11 10,5 1 7,1 10 11,0
Aposentado e trabalha 10 9,5 1 7,1 9 9,9
Estudante 2 1,9 0 0,0 2 2,2
Estado Civil
Solteiro 21 20,0 7 50,0 14 15,4
Casado 54 51,4 5 35,7 49 53,8
Amasiado 11 10,5 1 7,1 10 11,0
Viúvo 11 10,5 0 0,0 11 12,1
Divorciado 8 7,6 1 7,1 7 7,7
Escolaridade
Analfabetismo 2 1,9 0 0,0 2 2,2
Ensino Fundamental Incompleto 43 41,0 2 14,3 41 45,1
Ensino Fundamental Completo 17 16,2 2 14,3 15 16,5
Ensino Médio Incompleto 7 6,7 2 14,3 5 5,5
Ensino Médio Completo 23 21,9 4 28,6 19 20,9
Ensino Superior Incompleto 5 4,8 1 7,1 4 4,4
Ensino Superior Completo 8 7,6 3 21,4 5 5,5
Renda Familiar
Até 1 Salário Mínimo 8 7,6 0 0,0 8 8,8
De 1 a 2 Salários Mínimos 29 27,6 3 21,4 26 28,6
De 2 a 3 Salários Mínimos 30 28,6 1 7,1 29 31,9
De 3 a 4 Salários Mínimos 23 21,9 5 35,7 18 19,8
Mais de 5 Salários Mínimos 15 14,3 5 35,7 10 11,0
Religião
Católica 60 57,1 12 85,7 48 52,7
Evangélica 37 35,2 0 0,0 37 40,7
Espírita 4 3,8 0 0,0 4 4,4
Cristã 2 1,9 1 7,1 1 1,1
Ateu 1 1,0 1 7,1 0 0,0
Messiânica 1 1,0 0 0,0 1 1,1
FONTE: a autora, 2017 *itens em negrito representam o valor mais frequente em cada variável.
27

A idade média da amostra foi de 47,24 anos (± 13,04), sendo das mulheres
48,55 anos (±12,64) e dos homens 38,71 anos (±12,83).
Além dos dados apresentados na Tabela 2, ainda foram verificados dados
sobre comorbidades, tabagismo, etilismo, prática de atividade física, presença de
dor, local da dor, tempo de obesidade, fator desencadeador da obesidade e
qualidade de sono. As comorbidades foram verificadas em prontuário e confirmadas
com os entrevistados, as demais informações foram relatadas pelo próprio
entrevistado.
Do total de entrevistados, 96 (91,4 %) apresentaram pelo menos uma
comorbidade descrita em prontuário, sendo que nas mulheres esse número foi de 85
(93,4%) e nos homens 11 (78,65%). As principais comorbidades estão descritas na
Tabela 3.

TABELA 3 – DISTRIBUIÇÃO DAS COMORBIDADES PRESENTES NA AMOSTRA


TOTAL Homens Mulheres
COMORBIDADE % % %
(N=105) (N=14) (N=91)
Hipertensão 70 66,7 8 57,1 62 68,1
Diabetes Mellitus 48 45,7 5 35,7 43 47,3
Dislipidemia 46 43,8 4 28,6 42 46,2
Osteoartrite 35 33,3 3 21,4 32 35,2
Hipotireoidismo 30 28,6 3 21,4 27 29,7
Depressão 23 21,9 0 0,0 23 25,3
Outras 67 63,8 6 42,9 61 67,0
FONTE: a autora, 2017 *itens em negrito representam o valor mais frequente em cada variável.

Nenhum entrevistado declarou-se como etilista, enquanto 7 (6,7%) relataram


ser ex etilistas, sendo 1 homem (7,1%) e 6 mulheres (6,6%). Do total da amostra 98
(93,3%) relataram nunca ter apresentado problemas com o consumo abusivo de
álcool.
Em relação ao tabagismo, 7 dos entrevistados (6,7%) relataram ser
fumantes, sendo todas mulheres, 31 (29,5%) relataram que já foram fumantes sendo
desses 27 (29,7%) mulheres e 4 homens (28,6%). Do total da amostra 67 (63,8%)
relataram nunca ter feito uso de cigarro.
Os entrevistados foram ainda questionados sobre a prática de exercício
físico. Do total da amostra, 60 (57,1%) afirmaram realizar exercícios físicos pelo
28

menos duas vezes na semana e 45 (42,9%) não realizavam nenhum tipo de


exercício. Entre as mulheres, 52 (57,1%) afirmaram realizar exercícios duas ou mais
vezes na semana e 39 (42,9%) declararam que não realizavam nenhuma atividade
física. Nos homens 8 (57,1%) realizavam e 6 (42,9%) não realizavam.
A presença de dor em alguma parte do corpo que os entrevistados
acreditassem estar relacionada ao peso também foi verificada. Dos 105
entrevistados, 75 (71,4%) relataram dor em pelo menos uma parte do corpo,
enquanto 30 (28,6%) não relataram nenhuma dor. Dentre os homens 10 (71,4%)
relataram dor em alguma região e dentre as mulheres esse número foi 65 (71,4%).
Dentre as regiões do corpo com queixas de dor devido ao peso, estão:
pernas (37,3%), joelhos (14,7 %), pés (13,3%), pernas e coluna (12,0%), coluna e
joelho (10,7%), coluna (9,3%), pés e joelho (1,3%) e virilha (1,3%).
Os entrevistados foram questionados ainda sobre o tempo (em anos) de
convivência com a obesidade e quais fatores acreditavam serem os
desencadeadores. Dos 105 entrevistados, 12 (11,4%) relataram que eram obesos
desde a infância, considerando assim que conviviam com a obesidade desde
sempre, sendo 1 homem (7,1%) e 11 mulheres (12,1%) O tempo médio de
convivência com a obesidade no total da amostra foi de 19,93 anos (±14,68). Nos
homens o tempo médio de convivência com a obesidade foi de 16,71 (±10,62) e nas
mulheres 20,43 (±15,21).
Os dados relatados como possíveis fatores desencadeadores da obesidade
estão apresentados na Tabela 4.
TABELA 4 – FATORES DESENCADEADORES DA OBESIDADE AUTORELATADA NA AMOSTRA
Total Homens Mulheres
FATOR % % %
(N=105) (N=14) (N=91)
Gravidez 28 26,7 0 0,0 28 30,8
Ansiedade 20 19,0 2 14,3 18 19,8
Doença 19 18,1 4 28,6 15 16,5
Casamento 7 6,7 1 7,1 6 6,6
Alimentação 6 5,7 3 21,4 3 3,3
Perda familiar 5 4,8 1 7,1 4 4,4
Estresse 4 3,8 0 0,0 4 4,4
Sedentarismo 3 2,9 1 7,1 2 2,2
Adolescência 2 1,9 0 0,0 2 2,2
Não sabe motivo 11 10.5 2 14,3 9 9,9
FONTE: a autora, 2017 *itens em negrito representam o valor mais frequente em cada variável.
29

Sobre a qualidade do sono, no total da amostra, 73 (69,5%) entrevistados


relataram que dormiam bem, enquanto 32 (30,5%) relataram que apresentavam
dificuldades para dormir que acreditavam estar relacionadas ao excesso de peso.
Nas mulheres, 30 (33 %) relataram dificuldade para dormir e nos homens 2 (14,3%)
relataram essa dificuldade.

5.2 COMPARAÇÕES ENTRE OS GRUPOS

A amostra foi dividida em três grupos com 35 participantes cada, de acordo


com o grau de obesidade considerando o IMC. Cada indivíduo poderia relatar até
cinco queixas de desempenho na COPM. As médias do IMC, CA e queixas em cada
grupo e no total da amostra estão apresentadas na Tabela 5. Os dados dos homens
estão na Tabela 6 e os das mulheres na Tabela 7.

TABELA 5 – DISTRIBUIÇÃO DO IMC, CA E QUEIXAS NO TOTAL DA AMOSTRA


Queixas de
GRUPO IMC CA (cm) Desempenho
Obesidade Grau 1 (G1) n=35 33,06 (±1,63) 105,29 (± 19,65) 2,54 (± 2,25)
Obesidade Grau 2 (G2) n=35 38,44 (±1,36) 114,57 (± 7,08) 3,20 (± 2,08)
Obesidade Grau 3 (G3) n=35 46,85 (±7,26) 122,53 (± 23,46) 3,60 (± 1,96)
Total n=105 39,44 (±7,12) 116,63 (± 11,87) 3,11 (± 2,12)
FONTE: a autora, 2017.

TABELA 6 – DISTRIBUIÇÃO DO IMC, CA E QUEIXAS NOS HOMENS DA AMOSTRA


Queixas de
GRUPO IMC CA (cm) Desempenho
Obesidade Grau 1 (G1) n=4 33,99 (±0,80) 115 (± 6,48) 0
Obesidade Grau 2 (G2) n=3 37,96 (±1,58) 118,33(± 7,64) 1,67 (± 2,89)
Obesidade Grau 3 (G3) n=7 52,16 (±12,43) 140,14 (± 11,75) 3,43 (± 1,83)
Total n=14 43,92 (±11,69) 128,29 (± 15,17) 2,07 (± 2,27)
FONTE: a autora, 2017.

TABELA 7 – DISTRIBUIÇÃO DO IMC, CA E QUEIXAS NAS MULHERES DA AMOSTRA


Queixas de
GRUPO IMC CA (cm) Desempenho
Obesidade Grau 1 (G1) n=31 32,93 (±1,68) 104,03 (±20,48) 2,87 (± 2,19)
Obesidade Grau 2 (G2) n=32 38,48 (±1,36) 114,22 (± 7,06) 3,34 (±1,99)
Obesidade Grau 3 (G3) n=28 45,52 (±5,07) 123,68 (± 9,46) 3,64 (± 2,00)
Total n=91 38,75 (±5,93) 114,84 (± 10,26) 3,27 (± 2,07)
FONTE: a autora, 2017.
30

Dos 105 entrevistados, 24 (22,9%) não relataram nenhuma queixa de


desempenho relacionada à obesidade, sendo 6 homens (42,9%) e 18 mulheres
(19,8%). Dos 81 indivíduos que relataram queixas, 51 (48,6%) relataram as cinco
queixas possíveis pela avaliação, 6 (5,7%) relataram quatro das 5 queixas possíveis,
10 (9,5%) relataram três das 5 queixas possíveis, 2 (3,8%) relataram duas das 5
queixas possíveis e 10 (9,5%) relataram uma das 5 possíveis.
No G1, dos 35 indivíduos, 22 (62,9%) relataram pelo menos um problema de
desempenho relacionado à obesidade e 13 (37,1%) não apresentaram queixas de
desempenho. No G2, dos 35 indivíduos, 27 (77,1%) relataram pelo menos uma
queixa de desempenho e 8 (22,9%) não apresentaram queixas de desempenho
relacionadas à obesidade. Já no G3 apenas 3 (8,6%) dos indivíduos não tinham
queixas, enquanto 32 (91,4%) relataram alguma queixa de desempenho relacionada
à obesidade.
A média de desempenho e a média de satisfação do total da amostra e de
cada grupo estão apresentadas na Tabela 8.

TABELA 8 – MÉDIAS DE DESEMPENHO E MÉDIAS DE SATISFAÇÃO DA AMOSTRA


MÉDIAS G1 (N=35) G2(N=35) G3 (N=35) Total (N=105)
Média de Desempenho 4,22 (±1,72) 4,4 (±1,55) 4,09 (±2,03) 4,31 (±1,73)
Média de Satisfação 3,49 (±2,21) 3,16 (±2,01) 3,20 (±2,26) 3,31(±2,13)
Soma das Médias 5,97 5,98 5,69 5,9

FONTE: a autora, 2017.

A verificação da diferença entre os grupos foi feita por meio do teste não
paramétrico de Kruskal Wallis onde se verificou que os grupos estudados diferem
entre si, com um p≤0,000. Verificou-se que os grupos não diferem em relação à
idade (p≤0,441), ou seja, a distribuição de idade entre os grupos apresenta-se de
forma equiparada.
Analisando-se o número de queixas presente em cada grau de obesidade,
verificou-se a hipótese nula, identificando que não há diferença entre o número de
queixas e os graus de obesidade (p≤0,076). Porém foi verificado que há diferença
entre a presença de dor e o número de queixas, rejeitando a hipótese nula de que os
indivíduos que referem dor tem o mesmo número de queixas que aqueles que não a
apresentam. (p≤0,017).
31

Em relação ao número de queixas e sexo manteve-se a hipótese nula de


que indivíduos do sexo feminino e masculino têm o mesmo número de queixas
(p≤0,51).
No que se refere à circunferência abdominal, verificou-se que não existe
uma correlação com o número de queixas (p≤0,372).
Realizou-se a soma das médias de desempenho e satisfação de cada faixa
etária conforme mostra a Tabela 9.

TABELA 9 – DISTRIBUIÇÃO DAS MÉDIAS DE DESEMPENHO E SATISFAÇÃO EM CADA FAIXA ETÁRIA


Faixa etária Soma das médias
18 a 30 3,95
31 a 40 3,97
41 a 50 4,08
51 a 60 3,50
61 a 70 3,71
>que 71 1,75
FONTE: a autora, 2017.

Comparando as variáveis médias da COPM, Dor e Grau de Obesidade dentro


das faixas etárias verificou-se que para a média da COPM não há diferença entre as
faixas etárias (p≤ ,727), para Dor não há diferença entre as faixas etárias (p≤ ,531) e
nem para os graus de obesidade (p≤ ,998).

5.3 QUEIXAS DE DESEMPENHO CLASSIFICADAS COM A CIF

Após a verificação das queixas apresentadas pela COPM, foi feita sua
classificação de acordo com a CIF, e a frequência de distribuição das queixas de
acordo com os grupos está apresentada na Tabela 10. A Tabela 11 e a Tabela 12
apresentam as queixas no grupo dos homens e no grupo das mulheres. O código da
CIF bem como o título apresentado na versão brasileira também estão descritos na
tabela. A classificação foi feita considerando-se a descrição apresentada para cada
item. A Tabela apresenta a classificação de acordo com o número total de queixas
(soma dos 3 grupos), porém deve-se atentar que em alguns grupos, algumas
atividades foram mais significativas que outras.
32

Ressalta-se que o número total de queixas aumenta de acordo com o


aumento de IMC do grupo, (89, 112, 126) assim como o número de indivíduos sem
queixas diminui conforme o aumento o aumento do IMC (13, 8, 3).
No total da amostra, as principais queixas foram limpar a habitação (35),
cuidado com as unhas dos pés (33) e praticar esportes (30).
No G1, as principais queixas foram em primeiro lugar limpar a habitação, em
segundo cuidados com as unhas dos pés e em terceiro mudar a posição do corpo.
Nesse grupo, 13 indivíduos (37,1%) não apresentaram queixas de desempenho.
No G2, as principais queixas de desempenho foram em primeiro lugar
calçar, em segundo limpar a habitação e em terceiro cuidado com as unhas dos pés
e andar. Já nesse grupo, oito indivíduos (22,86 %) não apresentaram nenhuma
queixa de desempenho.
No G3, as principais queixas foram em primeiro lugar praticar esportes, em
segundo cuidado com as unhas dos pés e em terceiro andar e limpar a habitação.
Nesse grupo, apenas três indivíduos (8,57%) não apresentaram nenhuma queixa.
33
TABELA 10 – DISTRIBUIÇÃO DAS QUEIXAS DE ACORDO COM O GRUPO NO TOTAL DA AMOSTRA
G1 G2 G3 TOTAL
CÓDIGO CIF Categoria % % % %
(N=35) (N=35) (N=35) (N=105)
d6402 Limpar a habitação 12 34,29 11 31,43 12 34,29 35 33,3
d5204 Cuidado com as unhas dos pés 10 28,57 9 25,71 14 40,00 33 31,4
d9201 Praticar esportes 7 20,00 8 22,86 15 42,86 30 28,6
d4501 Andar distâncias longas 7 20,00 9 25,71 12 34,29 28 26,7
d5402 Calçar 6 17,14 14 40,00 8 22,86 28 26,7
d7702 Relações sexuais 6 17,14 7 20,00 8 22,86 21 20,0
d4551 Subir 8 22,86 6 17,14 5 14,29 19 18,10
d410 Mudar a posição básica do corpo 9 25,71 6 17,14 4 11,43 19 18,1
d9205 Socialização 4 11,43 8 22,86 6 17,14 18 17,1
d5100 Lavar partes do corpo 3 8,57 4 11,43 10 28,57 17 16,2
d5400 Vestir-se 3 8,57 6 17,14 8 22,86 17 16,2
Produtos e tecnologia gerais para uso pessoal na vida
e1150 3 8,57 6 17,14 2 5,71 11 10,5
diária
d530 Cuidados relacionados aos processos de excreção 3 8,57 1 2,86 7 20,00 11 10,5
d845 Conseguir, manter e sair de um emprego 1 2,86 4 11,43 5 14,29 10 9,5
d4702 Utilização de transporte público 3 8,57 4 11,43 1 2,86 8 7,6
d4154 Permanecer em pé 2 5,71 1 2,86 3 8,57 6 5,7
d9208 Recreação e lazer, outros especificados 0 0,00 2 5,71 3 8,57 5 4,8
d430 Levantar e carregar objetos 0 0,00 3 8,57 1 2,86 4 3,8
d5202 Cuidado com os pelos 1 0,00 2 5,71 0 0,00 3 2,9
b1343 Qualidade do sono 0 0,0 1 2,86 1 2,86 2 1,9
d8203 Terminar o programa de educação escolar 0 0,00 0 0,00 1 2,86 1 1,0
d630 Preparação de refeições 1 2,86 0 0,00 0 0,00 1 1,0
TOTAL 89 - 112 - 126 - 327 -
Indivíduos sem queixas na COPM 13 37,1 8 22,86 3 8,57 24 22,9
34

.
TABELA 11 – DISTRIBUIÇÃO DAS QUEIXAS NOS HOMENS DA AMOSTRA
Grau I Grau II Grau III Total
Código CIF Categoria % % % %
(N=4) (N=3) (N=7) (N=14)

d9201 Praticar esportes 0 0,00 0 0,00 5 71,43 5 35,71


d5204 Cuidado com as unhas dos pés 0 0,00 1 33,33 2 28,57 3 21,43
d5402 Calçar 0 0,00 1 33,33 2 28,57 3 21,43
d7702 Relações Sexuais 0 0,00 1 33,33 2 28,57 3 21,43
d9205 Socialização 0 0,00 0 0,00 3 42,86 3 21,43
d4501 Andar distâncias longas 0 0,00 0 0,00 3 42,86 3 21,43
d4551 Subir 0 0,00 0 0,00 2 28,57 2 14,29
d410 Mudar a Posição básica do corpo 0 0,00 1 33,33 1 14,29 2 14,29
d530 Cuidados relacionados aos processos de excreção 0 0,00 0 0,00 1 14,29 1 7,14
d4702 Utilização de transporte Público 0 0,00 0 0,00 1 14,29 1 7,14
d845 Conseguir, manter e sair de um emprego 0 0,00 0 0,00 1 14,29 1 7,14
d4154 Permanecer em pé 0 0,00 0 0,00 1 14,29 1 7,14
d430 Levantar e carregar objetos 0 0,00 1 33,33 0 0,00 1 7,14
Total 0 5 24 29
Indivíduos sem queixas na COPM 4 100 2 66,67 0 0,00 6 42,86
FONTE: a autora, 2017. *itens em negrito representam o valor mais frequente em cada grupo.
35

TABELA 12 – DISTRIBUIÇÃO DAS QUEIXAS NAS MULHERES DA AMOSTRA


Grau I Grau II Grau III Total
Código CIF Categoria % % % %
(N=31) (N=32) (N=28) (N=91)

d6402 Limpar a Habitação 12 38,71 11 34,38 12 42,86 35 38,5


d5204 Cuidado com as unhas dos pés 10 32,26 8 25,00 12 42,86 30 33,0
d9201 Praticar esportes 7 22,58 8 25,00 10 35,71 25 27,5
d4501 Andar distâncias longas 7 22,58 9 28,13 9 32,14 25 27,5
d5402 Calçar 6 19,35 13 40,63 6 21,43 25 27,5
d7702 Relações Sexuais 6 19,35 6 18,75 6 21,43 18 19,8
d9205 Socialização 4 12,90 8 25,00 6 21,43 18 19,8
d4551 Subir 8 25,81 6 18,75 3 10,71 17 18,7
d410 Mudar a Posição básica do corpo 9 29,03 5 15,63 3 10,71 17 18,7
d5400 Vestir-se 3 9,68 6 18,75 8 28,57 17 18,7
d5100 Lavar partes do corpo 3 9,68 4 12,50 7 25,00 14 15,4
Produtos e tecnologia gerais para uso pessoal na vida
e1150 3 9,68 6 18,75 2 7,14 11 12,1
diária
d530 Cuidados relacionados aos processos de excreção 3 9,68 1 3,13 6 21,43 10 11,0
d845 Conseguir, manter e sair de um emprego 1 3,23 4 12,50 4 14,29 9 9,9
d4702 Utilização de transporte Público 3 9,68 4 12,50 0 0,00 7 7,7
d4154 Permanecer em pé 2 6,45 1 3,13 2 7,14 5 5,5
d920 Hobbies 0 0,00 2 6,25 3 10,71 5 5,5
d430 Levantar e carregar objetos 0 0,00 2 6,25 1 3,57 3 3,3
d5202 Cuidado com os pelos 1 3,23 2 6,25 0 0,00 3 3,29
b1343 Qualidade do sono 0 0,0 1 3,13 1 3,57 2 2,2
d8203 Terminar o programa de educação escolar 0 0,00 0 0,00 1 3,57 1 1,1
d630 Preparo de Refeições 1 3,23 0 0,00 0 0,00 1 1,1
Total 89 107 102 298
Indivíduos sem queixas na COPM 13 41,94 8 25,00 3 10,71 24 26,4
FONTE: a autora, 2017. *itens em negrito representam o valor mais frequente em cada grupo.
36

5.4 MOTIVOS RELACIONADOS ÀS QUEIXAS

Após a aplicação da COPM, os indivíduos foram questionados sobre o principal


motivo de cada uma de suas dificuldades. Esses motivos também foram classificados
pela CIF e estão descritos na Tabela 13. O N corresponde ao número total de motivos
que foram relatados, independente da queixa apresentada, e a porcentagem foi
calculada considerando-se as 327 queixas levantadas pela COPM. O Fator Pessoal
apresentado na tabela corresponde a fatores que não podem ser classificados na CIF,
estando relacionados às formas de enfrentamento da obesidade e experiências prévias.
Para uma melhor compreensão da seguinte tabela, entenda-se que das 327
queixas apontadas na amostra, 88 delas eram causadas pela dor, 75 eram causadas
pela estrutura da região pélvica, no caso o volume da barriga, e assim por diante.

TABELA 13 – MOTIVOS RELACIONADOS ÀS QUEIXAS RELATADAS NA COPM

CÓDIGO CIF DOMÍNIO N=105 %

b280 Sensação de dor 88 26,91


s740 Estrutura da região pélvica 75 22,94
b440 Funções respiratórias 44 13,46
b710 Funções relacionadas à mobilidade das articulações 27 8,26
b180 Funções de experiência pessoal e de tempo 27 8,26
d410 Mudar a posição básica do corpo 21 6,42
e115 Produtos e tecnologias gerais para uso pessoal na vida diária 17 5,20
b730 Funções relacionadas à força muscular 8 2,45
e445 Atitudes individuais de estranhos 7 2,14
e460 Atitudes sociais 6 1,83
d415 Manter a posição do corpo 3 0,92
s730 Estrutura da extremidade superior 2 0,61
Fator Pessoal 2 0,61
FONTE: a autora, 2017. *Fator Pessoal não é classificado (sem código).

Verificou-se ainda quais foram os motivos relatados para cada queixa e os


mesmos estão apresentados na Tabela 14. Através dessa tabela pode-se verificar, por
exemplo, que o principal motivo para a dificuldade de limpar a casa é a mudança de
posição, seguida da sensação de dor.
37

TABELA 14 – MOTIVOS RELATADOS COMO PREJUDICIAIS PARA CADA ATIVIDADE


Fator
Código s730 s740 b180 b280 b440 b710 b730 d410 d415 e115 e445 e460
Categoria Pessoal Total
CIF N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N(%) N (%) N (%) N(%)
N (%)
d6402 Limpar a Habitação 4 (11,4) 13 (37,1) 1 (2,9) 1 (2,9) 1 (2,9) 15 (42,9) 35
d5204 Cuidado com as unhas dos pés 26 (78,8) 3 (9,1) 3 (9,1) 1 (3,3) 33
1
d9201 Praticar esportes 2 (3,3) 13 (43,3) 13 (43,3) 1 (3,3) 30
(3,3)
d4501 Andar distâncias longas 1 (3,6) 15 (53,6) 12 (42,9) 28
d5402 Calçar 20 (71,4) 1 (3,6) 2 (7,1) 3 (10,7) 2 (7,1) 28
1
d7702 Relações Sexuais 1 (4,8) 14 (66,7) 2 (9,5) 2 (9,5) 1 (4,8) 21
(4,8)
d4551 Subir 10 (52,6) 4 (21,1) 1 (5,3) 4 (21,1) 19
d410 Mudar a posição básica do corpo 3 (15,8) 12 (63,2) 3 1 (5,3) 19
1
d9205 Socialização 1 (5,6) 8 (44,4) 3 (16,7) 5 (27,8) 18
(5,6)
d5100 Lavar partes do corpo 7 (41,2) 1 (5,9) 2 (11,8) 2 (11,8) 4 (23,5) 1 (5,9) 17
d5400 Vestir-se 10 (58,8) 2 (11,8) 1 (5,9) 2 (11,8) 1 (5,9) 1 (5,9) 17
Produtos e tecnologia gerais para uso
e1150 1 (9,1) 10 (90,9) 11
pessoal na vida diária
Cuidados relacionados aos processos de
d530 2 (18,2) 1 (9,1) 8 (72,7) 11
excreção
d845 Conseguir, manter e sair de um emprego 1 (10) 1 (10) 1 (10) 1 (10) 6 (60) 10
d4702 Utilização de transporte público 2 (25) 2 (25) 2 (25) 2 (25) 8
d4154 Permanecer em pé 6 (100) 6
d920 Recreação e lazer, outros especificados 1 (20) 4 (80) 5
d430 Levantar e carregar objetos 3 (75) 1 (25) 4
3
d5202 Cuidado com os pelos (100)
3
b1343 Qualidade do sono 2 (100) 2
Terminar o programa de educação
d8203 1 (100) 1
escolar
d630 Preparação de refeições 1 (100) 1
Total 2 75 27 88 44 27 8 21 3 17 7 6 2 327
FONTE: a autora, 2017. * itens em negrito representam o motivo mais frequente em cada queixa.
Legenda: s730 (Estrutura da extremidade superior); s740 (Estrutura da região pélvica); b180 (Funções de experiência pessoal e de tempo); b280 (Sensação de dor); b440 (Funções respiratórias); b710 (Funções
relacionadas à mobilidade das articulações; b730 (Funções relacionadas à força muscular); d410 (Mudar a posição básica do corpo); d415 (Manter a posição do corpo); e115 (Produtos e tecnologias gerais para uso
pessoal na vida diária); e445 (Atitudes individuais de estranhos); e460 (Atitudes Sociais).
38

6 DISCUSSÃO

6.1 LIMITAÇÕES DE DESEMPENHO RELACIONADAS À OBESIDADE

Nesse primeiro estudo realizado no Brasil com a utilização da COPM em


obesidade, foram encontradas queixas de desempenho ocupacional que puderam ser
codificadas em 22 categorias da CIF.
A população de mulheres foi a mais presente na amostra (86,7%), assim como
diversos estudos realizados com essa população, entre eles o de Fontaine, Cheskin e
Barosfsky (1996) e Brilmann, Oliveira, Thiers (2007). Essa discrepância reflete a
diferença que existe entre homens e mulheres na procura de tratamento e preocupação
com excesso de peso. No entanto, é importante salientar que os números de obesidade
entre homens e mulheres são aproximados no Brasil. (BRASIL, 2011; VIGITEL, 2014).
Diversos estudos presentes na literatura estudam a obesidade somente em
mulheres, justamente por estas estarem mais inseridas em acompanhamentos
ambulatoriais. (ALMEIDA, LOUREIRO, SANTOS, 2001; MORAIS, 2004; ORSI, et al,
2008; BLANCHARD, 2009; SOARES, et al, 2011).
Burns, Tijhuis e Seidell (2001) reforçam que os homens costumam ser mais
descuidados com a saúde do que as mulheres, procurando somente auxílio médico
quando os problemas clínicos já estão instalados, o que justifica a presença de mais
mulheres nos ambulatórios de saúde. Esses dados são consistentes com os de outras
pesquisas referentes a este problema, que demonstram que, nas mulheres, os efeitos
subjetivos do excesso de peso são vivenciados de forma mais aguda, interferindo
significativamente na autoestima e no desempenho sexual. (KOLOTKIN, et al., 2006).
Outros estudos que buscaram avaliar queixas ocupacionais na população de
obesos também apresentou essa discrepância em relação ao número de homens e
mulheres da amostra. (FORHAN, et al, 2010; NOSSUM, et al, 2017). Por esse motivo,
optou-se em realizar a divisão de alguns dados entre homens e mulheres.
No que se refere à escolaridade e à renda familiar, estudos apontam que
pessoas obesas apresentam menor escolaridade e menor rendimento. (ALMEIDA,
LOUREIRO, SANTOS, 2001; DGS, 2016). Como não se realizou nenhuma comparação
com grupo de pessoas sem obesidade, essa inferência não foi realizada. É importante
salientar que durante a coleta, vários participantes relataram que não apresentavam
determinada dificuldade pelo fato dela ser executada por terceiros, por exemplo, cortar
39

unhas dos pés, limpeza doméstica, dessa forma, a condição financeira se torna uma
barreira ou um facilitador para a realização de algumas atividades. Uma limitação do
estudo é o fato dele ter sido realizado em um hospital público com uma população de
baixa renda.
Um estudo realizado em Portugal corrobora com essa afirmação quando
aponta para a relação entre o nível econômico e a obesidade. Os produtos que
fornecem muita energia a baixo custo são mais acessíveis e se beneficiam de
campanhas publicitárias muito fortes, o que acaba por fazer com que cheguem mais
facilmente às pessoas mais carentes e com menor grau de instrução, logo, com menor
capacidade para evitar o seu consumo. A idade e o grau de instrução são também
fatores importantes uma vez que as pessoas de mais idade e com menos escolaridade
sofrem mais com a obesidade. (DGE, 2016)
As comorbidades também são descritas na literatura como possíveis fatores
limitantes da capacidade funcional. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é
considerada por muitos autores como a comorbidade que se encontra mais relacionada
à obesidade, pois o excesso de peso pode provocá-la ou agravá-la. Estudos realizados
nas Universidades de Harvard e Pensilvânia verificaram que a prevalência de HAS é
inversamente proporcional ao nível da capacidade física, assim como o risco de se
tornar hipertenso é maior nas pessoas com baixa capacidade física. (BLAIR, et al,
1984; LEE, HSICH, PAFFENBARGER, 1995; GRUNDY, et al, 2004).
Como esperado, a comorbidade mais presente na amostra foi a HAS com
66,7% dos entrevistados, porém é importante ressaltar que a coleta foi realizada em
ambulatórios onde pessoas obesas que apresentavam comorbidades faziam
acompanhamento endocrinológico.
A diabetes mellitus tipo 2 (DM2) também é uma comorbidade recorrente na
amostra estudada. Um estudo multicêntrico realizado no Brasil verificou que a
obesidade já atinge um percentual de pacientes com DM2 semelhante ao relatado em
estudos europeus, mas ainda menor do que o observado nos Estados Unidos. A
prevalência de obesidade nos pacientes diabéticos foi três vezes maior do que a
observada na população brasileira em geral de acordo com os dados do IBGE.
(GOMES, et al.,2006)
Outra comorbidade recorrente na obesidade e na amostra estudada é a
osteoartrite (OA). A OA na pessoa obesa pode aumentar a intensidade da dor e das
limitações funcionais, devido a uma maior descarga de peso na articulação acometida,
40

com estreitamento do espaço intra-articular, que pode aumentar a dor articular, rigidez
e atrofia muscular. O peso excessivo aumenta tanto a pressão quanto a força sobre a
articulação, ativa mecanismos de degradação da cartilagem articular, esclerose do osso
subcondral e formação de osteófitos e leva ao agravamento da OA. (JINKS; JORDAN;
CROFT, 2006; BLAZEK, et.al; 2013).
Os autores Blagojevic, et al. (2010) numa metanálise, avaliaram o risco para o
aparecimento da OA e verificaram que pessoas obesas têm três vezes mais risco de
desenvolver OA em relação a indivíduos sem sobrepeso.
Corroborando com esses dados, Neto, et al (2016) compararam um grupo de
idosos obesos com OA e um grupo de idosos com OA porém sem obesidade. O estudo
observou redução de desempenho no teste Time Up and go (TUG), velocidade da
marcha rápida e caminhada de seis minutos (TC6) dos idosos obesos. Com o teste
Westerm Ontario and McMaster Universities (Womac) verificou-se no domínio de
severidade da dor, maior presença de dor no grupo de obesos ao “subir escada” e “dor
noturna”. No domínio dificuldade de execução de atividades, comparado com o grupo
de não obesos, os idosos obesos apresentaram maior dificuldade nos itens “descer
escadas”, “levantar da cadeira”, “ficar de pé” e “sentar/levantar do vaso sanitário”. A
conclusão desse estudo foi de que a OA associada à obesidade impacta negativamente
a capacidade funcional, sendo que idosos obesos com OA apresentam redução da
capacidade funcional, maior nível de dor e dificuldade de executar tarefas cotidianas
que exigem esforço. Essas alterações podem estar associadas a maior quantidade de
massa corporal e consequente sobrecarga na articulação.
A depressão foi uma comorbidade presente na amostra de mulheres e ausente
na dos homens. Na revisão sistemática realizada por Atlantis e Baker (2008) sobre a
obesidade e depressão verificou-se que as medidas de efeito relatadas na maioria dos
estudos transversais dos Estados Unidos apoiaram a hipótese de associação entre
obesidade e prevalência de depressão para mulheres, mas não para homens. As
medidas de efeito relatadas em todos os estudos de coorte prospectivos sugeriram que
a obesidade pode aumentar as probabilidades de resultados futuros da depressão
(sintomas ou diagnóstico não clínico de depressão).
Na amostra estudada, o número de fumantes e ex-fumantes somou 36,2% dos
entrevistados, bem como o número de sedentários foi de 42,9%. Um estudo de coorte
realizado na Europa concluiu que tabagismo, sedentarismo e obesidade associados
levam à diminuição de aproximadamente oito anos na expectativa de vida e de seis
41

anos livre de doenças crônicas entre pessoas de 50 e 75 anos. (STENHOLM,et al,


2016).
No presente estudo, evidenciou-se que a presença de dor está relacionada ao
maior número de queixas sendo que 71,4% da amostra relatou dor em alguma parte do
corpo relacionada à obesidade, principalmente em membros inferiores. Assim como
nesse trabalho, a presença de dor se evidenciou como um limitador de participação em
atividades de vida diária, trabalho e lazer em outros estudos. (NETO, et al, 2010;
CABERLON; PADOIN; MOTTIN; 2013; NOSSUM, et al, 2017).
Uma revisão de literatura sobre a relação entre dor e obesidade concluiu que
evidências de estudos transversais mostram uma relação entre a obesidade e
condições conhecidas por causar dor como OA e dor lombar. Os autores da revisão
também concluíram que as provas de estudos longitudinais mostram que a obesidade
experimentada na infância aumentou o risco de desenvolver OA ou dor lombar.
(JANKE, COLLINS, KOZAK, 2007).
Forhan, et al (2013a) afirmam que dispositivos de apoio, como bengalas e
andadores e a aplicação de estratégias de conservação de energia são recomendados
para promover a saúde músculo-esquelética, para auxiliar as articulações de suporte de
peso e para reduzir a dor.
Sobre os fatores desencadeadores de obesidade, na população estudada o
principal fator atribuído ao aumento de peso na população de mulheres foi à gravidez
(30,8%) e nos homens foi o aparecimento de alguma doença (28,6%), como o
hipotireoidismo por exemplo. Considerando ser a etiologia da obesidade extremamente
complexa, com soma de diversos fatores, os fatores que foram apontados na presente
pesquisa como possíveis desencadeadores da obesidade, estão descritos em outros
estudos que avaliaram a etiologia da obesidade. (MORAIS, 2004; FRANCISCHI, et al,
2010).
Acredita-se que as mudanças de comportamento alimentar e os hábitos de vida
sedentários atuando sobre genes de susceptibilidade sejam o determinante principal do
crescimento da obesidade no mundo. (COUTINHO; DUALIB, 2007)
É importante reforçar ainda que a OMS identifica que a alimentação
inadequada e a diminuição da atividade física são as duas principais causas da
obesidade (WHO, 2016), no entanto, na presente amostra esses fatores não foram
percebidos dessa forma, sendo que somente 5,7% dos entrevistados apontaram a
alimentação e 2,9% o sedentarismo, o que reforça a importância da educação em
42

saúde como elemento chave nas estratégias de abordagem à pessoa obesa. Os


autores Mendonça e Anjos (2004) afirmam que programas e projetos intersetoriais com
metas e resultados bem definidos são necessários para a aderência da população afim
de controlar o aumento do sobrepeso e da obesidade.
Na população do presente estudo, verificou-se que 77,1% da amostra
apresentou pelo menos uma queixa de desempenho, o que significa dizer que de cada
quatro participantes com obesidade, três apresentaram queixas no desempenho
ocupacional que impactam diretamente na funcionalidade. No entanto, verifica-se que
no grupo de obesidade grau I, o número de indivíduos sem queixas sempre supera o
número de indivíduos com queixas, o que já não ocorre nos demais grupos.
Analisando as dificuldades, foi possível observar que algumas delas foram mais
relatadas nos indivíduos com menor IMC, levantando a hipótese de que para
determinadas dificuldades existe uma adaptação do indivíduo que o leva a não
considerar tal atividade como prejudicada em sua vida, como é o caso do calçar e da
socialização que apresentou mais queixas em obesos grau dois do que obesos grau
três.
Um estudo qualitativo realizado por Forhan, et al (2010) com obesos grau três
no Canadá identificou que as pessoas com obesidade mórbida se adaptam para
continuarem realizando atividades que consideram importantes. O desejo da
participação e o impacto de barreiras para essa participação foram explorados no
estudo e estão em consonância com os achados na presente pesquisa.
No presente estudo o IMC não teve relação com o número de queixas, ou seja,
não foi o aumento do IMC que afetou a presença de mais ou menos queixas. Mesmo
não tendo sido encontrada relação positiva, é importante salientar que a média do
número de queixas aumentou nos grupos conforme aumento do IMC (G1=2,54,
G2=3,20 e G3= 3,60) no total da amostra e também no grupo de homens e de
mulheres. Infere-se que o tamanho reduzido da amostra possa ter interferido nesse
dado já que outros estudos apontam para a piora da capacidade funcional em grupos
com maior IMC e melhora da capacidade funcional com a diminuição do IMC, em
especial após a cirurgia bariátrica. (FARIA, et al, 2002; SOUTO, MEINHARDT, STEIN,
2004; KOLOKTIN et al, 2006). Durante a coleta de dados, foi comum a escuta de
relatos relacionados à melhora na execução de atividades após a perda de peso.
Um estudo de coorte que acompanhou 5.985 adultos australianos durante cinco
anos apontou que a obesidade esteve associada a uma deterioração da qualidade de
43

vida relacionada à saúde. Porém, verificou-se também que a qualidade de vida


relacionada à saúde interferiu no ganho de peso ao longo dos cinco anos, indicando
uma associação bidirecional entre obesidade e qualidade de vida. A identificação de
pessoas com má qualidade de vida relacionada à saúde pode ser importante para
avaliar o risco de ganho de peso futuro e o foco na qualidade de vida relacionada à
saúde pode ser benéfico em estratégias de controle de peso. (CAMERON, et al, 2012).
Na presente pesquisa, o tempo médio de convivência com a obesidade, foi de
19 anos, ou seja, aquelas pessoas que apresentavam queixas de desempenho já as
apresentavam há vários anos, e muitas vezes foram se adaptando a sua condição.
Vários dos entrevistados relataram que já haviam emagrecido, voltado a engordar e
permaneciam nesse ciclo durante muito tempo, e com isso as queixas iam aumentando
ou diminuindo.
A atividade que mais apresentou queixas na amostra estudada foi a de limpar a
habitação (d6402), presente em 33,3% da amostra. Todas as queixas dessa categoria
foram realizadas por mulheres. Optou-se em realizar a classificação de terceiro nível,
pois nem todas as tarefas domésticas foram citadas na população estudada. Fatores
culturais interferem nessa queixa, uma vez que no Brasil, essa atividade ainda é
realizada por mulheres, em grande parte dos casos.
Dentro os motivos relatados na amostra como principais causas para as
dificuldades de limpar a habitação estão a dificuldade de mudar a posição do corpo
(agachar, sentar, levantar), dor, tamanho da barriga, funções respiratórias, falta de
flexibilidade e falta de força muscular, que são classificados na CIF com os códigos
d410, b280, s740, b440, b710, b730 respectivamente.
Um estudo realizado na Tailândia, com 74.981adultos entre 20 e 50 anos
verificou uma relação entre a diminuição ou ausência de atividades doméstica com a
obesidade, sendo que o gasto calórico gerado pela realização de atividades domésticas
pode contribuir nos programas para prevenir e tratar a obesidade. (BANKS, et al., 2011)
Dessa forma, a dificuldade apresentada na maior parte da amostra é um agravante no
quadro da obesidade, e estratégias para compensar essa limitação podem ser
aplicadas para potencializar o desempenho nessas atividades.
A segunda atividade que mais apresentou queixas na amostra estudada foi o
cuidado com as unhas dos pés (d5204) e essa queixa é decorrente de relatos
relacionados à dificuldade de cortar, ou lixar as unhas. Tal queixa foi relatada por
31,4% da amostra e foi realizada tanto por homens quanto por mulheres, sempre em
44

maior número no G3. Novamente considerando-se a abrangência do item e a


especificidade da queixa, optou-se em realizar a classificação em terceiro nível com o
objetivo de tornar a descrição mais fidedigna ao resultado encontrado. O principal
motivo relatado na amostra para a dificuldade de executar essa atividade foi o tamanho
da barriga, seguido da sensação de dor, funções respiratórias e dificuldade de mudar a
posição do corpo, classificados na CIF como os códigos s740, b280, b440 e d410.
De acordo com uma revisão realizada pela Cohrane (SHAW, et al., 2006), a
atividade física é uma das medidas mais importantes para prevenir a obesidade e as
doenças relacionadas a ela, no entanto, a dificuldade para realizar atividade física foi a
terceira queixa mais presente na amostra com 28,6% e foi classificada na CIF como
praticar esportes (d9201). Considerando ser essa uma das principais estratégias para
redução do peso e consequentemente muitas comorbidades decorrentes, é alarmante
verificar que muitas pessoas com obesidade apresentam dificuldade para realizar
atividade física. Ressalta-se ainda que essa foi a principal queixa relatada no grupo de
homens da amostra (35,71%).
Os autores Marcelino e Patricio (2011) apontam que a preocupação com a
exposição da imagem corporal nos ambientes de realização da atividade física
prepondera em detrimento aos possíveis benefícios na melhoria da condição de saúde
nas pessoas obesas. Para Peyrot, et al, (2009), além de recomendar que os pacientes
se exercitem, os profissionais precisam ir mais longe para identificar as barreiras que
limitam essa atividade e para direcionar estratégias que possam superar essas
barreiras, por meio das funções e estruturas do corpo, quando possível e de estratégias
compensatórias, uso de dispositivos assistivos e adaptações ao exercício físico.
No estudo realizado por Nossum, et al (2017) dentre as queixas mais presentes
na amostra, verificou-se a dificuldade para se exercitar na piscina. O principal motivo foi
o fato dos entrevistados sentirem-se envergonhados pelos olhares de outras pessoas
ou por problemas para comprar roupas de banho no tamanho adequado. É importante
salientar que esse estudo foi realizado na Noruega e questões culturais devem ser
levadas em consideração, uma vez que na amostra estudada essas queixas eram
relacionadas à atividades como jogar futebol, fazer caminhadas ou corrida. A queixa de
ir à piscina não foi realizada por nenhum participante da presente pesquisa.
Coulter (2007) aponta que esta constatação indica a necessidade de uma
cooperação entre indivíduos, profissionais de saúde e a comunidade para aumentar a
prática de atividade física entre as pessoas com obesidade. Uma estratégia para
45

reduzir o medo dos olhares e comentários das pessoas e para melhorar a possibilidade
de apoio social, poderia ser a organização de grupos de exercícios abertos,
caminhadas, futebol, ou até mesmo idas à piscina, apenas para pessoas com
obesidade. Além disso, discutir como lidar com comentários embaraçosos poderia
contribuir. Esse campo de atuação abre janelas para a atuação de diversos
profissionais como fisioterapeutas, educadores físicos e psicólogos por exemplo.
Na presente pesquisa, não foram somente as atitudes sociais que levaram às
dificuldades de realizar atividade física, aliás, essa queixa só foi relatada por uma
pessoa da amostra. Os principais motivos para essa atividade foram os relacionados à
dor, falta de ar e tamanho da barriga, classificados como b280, b440 e s740 na CIF.
Aliada à dificuldade de realizar atividade física, destaca-se ainda a queixa para
andar distâncias longas (d4501) e calçar (d5402) que ficaram com o quarto lugar nas
queixas relatas na amostra, ambas com 28 queixas (26,7%) e ambas realizadas tanto
por homens quanto por mulheres.
Muitos dos prejuízos à caminhada relacionados à obesidade podem ser
atribuídos a diferenças nos parâmetros de marcha observados entre populações
obesas e de peso normal. Ao caminhar em um ritmo normal, indivíduos obesos
caminham a uma velocidade mais lenta com menor comprimento de passada e gastam
mais tempo com os pés em contato com o solo. (LAI, et al., 2008) Adultos obesos
também andam em uma cadência mais lenta (passos por minuto) com larguras de
passo maiores e tempos de oscilação mais curtos (quantidade de tempo entre as
etapas). (WEARING, 2006)
A dificuldade para calçar o sapato ou de colocar a meia foi classificada na CIF
como calçar (d5402). Tal queixa se fez presente tanto entre os homens quanto entre as
mulheres e faz parte do vestir, porém como o vestir envolve também a vestimenta da
parte superior e essa queixa não foi realizada na amostra, optou-se em realizar a
classificação de terceiro nível. Foi comum ao se questionar se a pessoa apresentava
dificuldade para calçar o sapato, escutar que não tinha tal dificuldade, pois parou de
utilizar sapato de amarrar, fazendo uso de sapatos que pudessem ser utilizados
somente encaixando o pé, sem a flexão do tronco, como sapatilhas.
No estudo de Forhan, et al (2010), a queixa de calçar também se fez presente,
com descrição inclusive de pessoas que encontraram outras maneiras de realizar a
atividade, não fazendo uso de meias, meia-calça e determinados sapatos. A atuação
do terapeuta ocupacional junto aos pacientes que tem dificuldade para calçar meias e
46

sapatos já se faz presente em outras condições de saúde e conta principalmente com o


auxílio de dispositivos de tecnologia assistiva que poderiam auxiliar nessas tarefas.
As queixas relacionadas à atividade sexual ficaram em quinto lugar na pesquisa
e foram classificadas na CIF como relações sexuais (d7702). É importante salientar que
nem todos entrevistados tinham uma vida sexualmente ativa, sendo uma limitação do
estudo não ter realizado esse questionamento. Durante a entrevista algumas pessoas
afirmaram que não tinham queixa de desempenho sexual por ser viúvo (a), solteiro (a),
divorciado (a), ou até mesmo pela idade já estar avançada. Essa queixa também foi
realizada no grupo dos homens e das mulheres.
Um estudo realizado por Koloktin, et al (2006) avaliou a qualidade de vida
sexual, onde 500 participantes estavam inscritos em um programa de mudança de
estilo de vida e perda de peso, sendo que desses 372 seriam submetidos à cirurgia
bariátrica e 286 procuravam tratamento para perder peso. O estudo apontou que a
obesidade estava associada à falta de atividade sexual, do desejo sexual, das
dificuldades no desempenho sexual e recusa de encontros sexuais. Apontou ainda que
houve mais relatos de comprometimento da qualidade de vida sexual das mulheres
obesas do que dos homens obesos.
Outro estudo, realizado com abordagem qualitativa verificou também a
interferência da obesidade na vivência da sexualidade e na função sexual. O medo de
não aceitação pelo outro devido o corpo “anormal”, faz com que obesos criem
restrições nos relacionamentos efetivos e sexuais. (MARCELINO, PATRICIO, 2011).
Sentimentos de baixa auto-estima e insatisfação com a imagem corporal foram
identificados pela maioria dos participantes do estudo realizado por Forhan, et al,
(2010) como razões para evitar relação sexual apesar do interesse de seus parceiros.
A atividade de subir (d4551) apareceu na amostra em sexto lugar assim como
as dificuldades de sentar, agachar ou levantar principalmente de bancos baixos que
foram classificadas como mudar posição básica do corpo (d410). Optou-se em manter
a classificação de segundo nível por todas as mudanças de posição terem sido
descritas. Essa queixas também foram encontradas no estudo de Neto, et al (2016).
As queixas relacionadas às dificuldades de ir à festas, igreja e demais
envolvimentos sociais em locais públicos foi classificada como socialização (d9205) e
ficou em sétimo lugar com 18 queixas, tendo sido essa queixa realizada tanto por
homens quanto por mulheres.
47

Em estudos realizados fora do Brasil (Canáda, Noruega) as queixas


relacionadas ao envolvimento em atividades de lazer ocuparam o primeiro lugar nas
queixas de pessoas obesas, e o medo dos olhares, comentários e falta de
acessibilidade foram itens relados como limitantes de participação nessas atividades.
(FORHAN, et al, 2011; NOSSUM, et al, 2017)
As atividades de lavar partes do corpo (d5100) e vestir-se (d5400) apareceram
na amostra ambas com 17 queixas, ocupando o oitavo lugar nas queixas. Outros
estudos utilizando questionários como o HAQ – 20 também identificaram tais queixas
na população obesa. (ORSI, et al, 2008; SOARES, 2011). No caso da amostra, a
queixa estava relacionada à dificuldade em lavar membros inferiores, especialmente
pés.
É interessante notar como elementos culturais interferem nas atividades de
acordo com o país. Um estudo realizado por Forhan, et al, (2010) no Canadá também
descreveu a atividade de tomar banho como prejudicada. Porem é importante lembrar
que nesse país o banho é realizado em sua grande maioria em banheiras, assim essa
atividade estava prejudicada no estudo pelas dificuldades que os obesos encontravam
para entrar e sair, optando muitas vezes pelo chuveiro. O planejamento para o banho
também se fez presente no estudo, uma vez que o relato da necessidade de mais
tempo para realizar a atividade foi feito por muitos dos entrevistados.
Estratégias de organização de rotina e conservação de energia podem ser
empregadas pelos terapeutas ocupacionais que atuam com essa população, assim
como o uso de dispositivos de tecnologia assistiva que auxiliem o alcance de membros
inferiores e partes íntimas.
A atividade de vestir-se (d540) foi classificada assim como proveniente de
relatos de dificuldades para vestir calças especialmente. A dificuldade para vestir
membros superiores e tronco não foi relatada. No estudo de Forhan et al, (2010),
diversas das mulheres entrevistadas deixaram de fazer uso de calças e passaram a
usar saias devido à dificuldade de vestir.
Como nono lugar das queixas apresentadas na amostra estudada, encontram-
se o fator ambiental produtos e tecnologia gerais para uso pessoal na vida diária
(e1150) decorrente principalmente da dificuldade relatadas em encontrar roupas
apropriadas no tamanho e com preço razoável. A queixa para encontrar roupas de
tamanho adequado para vestir também se fez presente em outros estudos, sendo
descrito como uma razão pela qual as pessoas obesas não queiram participar de
48

atividades sociais. (THOMAS, et al, 2008; LEWIS, et al, 2011; NOSSUM, et al, 2017).
Estudos anteriores também revelam que as pessoas com obesidade usam
frequentemente meios sociais como o Twitter, Facebook e blogs para procurar por
informação e apoio e para partilhar experiências sobre vestir e comprar roupas.
(LEWIS, 2011a; CHOU, PRESTIN, KUNATH, 2014)
Nossum, et al, (2017) sugerem que os terapeutas ocupacionais que trabalham
com obesos devem ter capacidade de planejar suas intervenções, realizando quando
necessário, orientação à seus pacientes para lojas e sites relevantes. Além disso,
fabricantes de vestuário podem encontrar nessa população uma oportunidade de
negócio, fornecendo roupas de tamanhos adequados e a preços razoáveis.
A atividade de cuidados relacionados aos processos de excreção (d530)
decorrente de queixas relacionadas à dificuldade para realizar higiene no vaso também
apareceu na amostra em nono lugar, onde 10,5% dos entrevistados relataram
dificuldade. Em relação à essa dificuldade, Forhan, et al,(2010) em sua pesquisa
reforçam que esse assunto não costuma ser abordado por ser algo “embaraçoso”, mas
é comum entre as queixas do obesos, especialmente os de grau III. As autoras
reforçam ainda que problemas relacionados a escapes de urina foram frequentes entre
os relatos apresentados, sendo mais um limitador na participação social.
Na presente pesquisa, questões relacionadas ao controle de esfíncter não
foram questionadas e sim somente dificuldades de realizar a higienização ao fazer uso
do vaso sanitário.
Queixas como dificuldade para fazer uso de transporte público (passar a roleta,
sentar nos bancos) foram classificadas na CIF como utilização de transporte público
d4702. Essa queixa também foi encontrada em outros estudos que avaliaram o
desempenho de pessoas com obesidade, porém nesses estudos queixas relacionadas
à assentos de avião foram mais frequentes. Na amostra todas as queixas foram
relacionadas ao uso do ônibus. Reforça-se ainda a característica socioeconômica da
amostra. (FORHAN, et al, 2010; NOSSUM, et al, 2017)
As dificuldades relatadas para ser aceito, encontrar e manter um emprego
foram classificadas como conseguir, manter e sair de um emprego (d845). Um estudo
que avaliou a interferência da dor musculoesquelética nas atividades de trabalho de
indivíduos obesos concluiu que a execução de atividade de trabalho em obesos muitas
vezes é impedida e/ ou prejudicada devido à dor. Dentre esse população de obesos
estudada, 44,21% deixou de trabalhar em algum período no decorrer de 12 meses
49

devido à dor, gerando um impacto socioeconômico. (CABERLON; PADOIN; MOTTIN;


2013).
Em outro estudo realizado por FORHAN, et al, (2010) que avaliou obesos grau
III, essa dificuldade também foi descrita, sendo que o abandono da carreira por não
conseguir mais realizar as exigências do trabalho e a percepção de ser considerado
menos capaz pelos empregadores do que empregados sem obesidade foi descrita na
amostra estudada. Nesse estudo ainda, a dor, fadiga e baixa tolerância para se
locomover foram descritos como causadores de restrições para o trabalho.
Queixas relacionadas à prática de atividades de lazer como passeios, brincar
com os filhos, foram classificada como recreação e lazer, outros especificados (d9208).
O estudo realizado por NOSSUM, et al (2017), também utilizando a COPM apontou que
dos 63 entrevistados com obesidade grau III, 20 encontram limitações nas atividades
de recreação ativa e nenhum em atividades de recreação calma. Esses autores
reforçam ainda que com base no conhecimento do terapeuta ocupacional sobre o
relacionamento entre ocupação e saúde, esses profissionais podem ajudar a reduzir
esses obstáculos introduzindo técnicas alternativas de desempenho, como
selecionando atividades que possam ser realizadas em mesas ao invés de brincar no
chão, ou encorajar o cliente para discutir com sua família atividades alternativas que
possam fazer juntos. Além disso, observando o desempenho do cliente em uma
situação real pode ter um bom ponto de partida para analisar e discutir eventuais
modificações da atividade específica.
Em outro estudo realizado por FORHAN, et al, (2010), as limitações nas
atividades de lazer também foram descrita na amostra estudada. Como o estudo
realizou a transcrição de entrevistas estruturadas, queixas de não conseguir participar
de atividades de lazer em família, levavam os entrevistados a se sentirem maus pais ou
avós. As opções de lazer para pessoas obesas foram consideradas limitadas na
amostra, pois as consequências físicas da obesidade restringem a capacidade de
atingir níveis desejados de participação.
A dificuldade para carregar compras de sacolas no mercado ou até mesmo o
filho no colo foi classificada na CIF como levantar e carregar objetos (d430). As
dificuldades relatadas para depilar os pelos das pernas e pentear os cabelos foram
classificadas como cuidados com os pelos (d5202).
As queixas relacionadas às dificuldades para dormir bem foram classificadas
como qualidade de sono (b1343), sendo essa uma função do corpo.
50

Por fim, as atividades que tiveram apenas uma queixa, mas mesmo assim
foram citadas na amostra, foram relacionadas à dificuldade de terminar o programa
escolar por questões de acessibilidade, sendo classificada como terminar o programa
de educação escolar (d8203) e a dificuldade de preparar refeições ao fazer uso do
fogão classificada como preparação de refeições (d630).
A tarefa preparação de refeições foi relatada nessa amostra como prejudicada,
porém não por dificuldade em preparar refeições saudáveis, mais sim pela dificuldade
em permanecer na posição ortostática por muito tempo. Em outro estudo realizado com
a utilização da COPM a queixa de preparar refeições foi relacionada à implementação
de alimentação saudável. (NOSSUM, et al, 2017). Esse mesmo estudo reforça que o
terapeuta ocupacional pode ajudar seus clientes a estabelecerem uma rotina diária,
discutindo opções realistas para escolhas alimentares saudáveis, preparar listas de
compras e preparar alimentos junto com seus clientes.
A atividade de preparação de refeições chegou a ser analisada para a inclusão
no core set, porém após a tomada de decisão a atividade ficou de fora. Os argumentos
utilizados na discussão do core set apontam que na obesidade grau 3 a realização de
múltiplas tarefas pode ser um problema. Na pesquisa, essa tarefa foi citada apenas
uma vez, por uma pessoa com obesidade grau I, porém outras pesquisas apontam para
a limitação nessa atividade.

6.2 MOTIVOS RELACIONADOS ÀS QUEIXAS

Além de verificar quais foram as queixas apresentadas, o presente trabalho


questionou ainda os motivos relacionados às queixas. Analisando as Tabelas 13 e 14
verifica-se que a dor foi o item que mais apresentou queixas, sendo classificada na CIF
como sensação de dor (b280). Esse dado corrobora com os achados de Hill e Peters
(1998) e Brilmann, Oliveira e Thiers (2007) que também encontraram associação entre
dor e diminuição de capacidade funcional em obesos.
Na presente amostra, a dor foi o motivo que mais limitou as atividades de
praticar esportes, andar distâncias longas, subir, mudar de posição e permanecer em
pé. Considerando que todas essas atividades promovem um gasto enérgico e auxiliam
na redução do peso, uma abordagem voltada para minimizar a dor se faz de extrema
importância. O terapeuta ocupacional pode auxiliar o seu paciente a adotar posturas
51

durante a realização das AVD´s e AIVD´s que minimizem a dor, bem como promover
adequações ambientais sempre que possível.
Se um paciente com obesidade não é capaz de se deslocar com uma
intensidade e frequência necessária para perder peso ou evitar ganho de peso eles têm
maior risco de sofrer alterações na mobilidade e aqueles pacientes com mobilidade
reduzida continuarão a sofrer restrições em atividades em casa, trabalho, escola e na
comunidade, com impacto negativo na qualidade de vida relacionada à saúde.
(FORHAM, et al, 2013a).
Quando o motivo relatado para uma determinada queixa foi o tamanho da
barriga, a classificação foi feita como estrutura da região pélvica (s740) e se relaciona
ao volume abdominal gerado pelo excesso de gordura. Das 327 queixas apontadas
pela amostra, 75 (22,94%) tiveram como motivo o volume abdominal. Esse motivo foi o
mais relatado nas atividades de cuidado com as unhas dos pés, calçar, lavar partes do
corpo e vestir-se.
Considerando as atividades expostas, a indicação bem como o treinamento do
uso de dispositivos de tecnologia assistiva como calçadores de meias, escovas de cabo
longo, barras de apoio, cortadores de unha adaptados, entre outros, poderiam
minimizar as dificuldades apresentadas nessas AVD´s.
As queixas trazidas como falta de ar e/ou fôlego para realização de
determinada atividade foram classificadas como funções respiratórias (b440) na CIF.
Um estudo realizado por Orsi et al (2008), avaliando a capacidade respiratória, aponta
para a diminuição da aptidão física e da capacidade funcional em mulheres obesas
quando comparadas à mulheres eutróficas e com sobrepeso. A fadiga em obesos,
limitando as atividades e aumentando o tempo de execução das mesmas, também foi
descrita no trabalho de Alley e Chang (2007).
A prática de esportes e qualidade do sono foram as atividades mais
prejudicadas na presente amostra devido à função respiratória. Novamente, uma
abordagem multidisciplinar se faz necessária para auxiliar nessas demandas.
As funções relacionadas à mobilidade das articulações (b710) foram
classificadas dessa forma devido à percepção da falta de flexibilidade e amplitude de
movimento que algumas pessoas relataram serem limitantes. Os cuidados relacionados
aos processos de excreção e os cuidados com os pelos foram as atividades que mais
foram afetadas por essa função. Marcelino e Patrício (2011) confirmam essa afirmação
quando apontam que a falta de flexibilidade das articulações, a dor e o edema
52

associados às OA se intensificam com a obesidade. O peso contribuiu para a


sobrecarga articular comprometendo os movimentos e limitando os sujeitos na
execução de suas atividades físicas cotidianas.
Quando o motivo alegado para a dificuldade de realizar uma determinada
atividade estava relacionado à sensação pessoal de vergonha, ela foi classificada como
funções de experiência pessoal e de tempo (b180). Essas duas funções ocupam o
quarto lugar dentre os principais motivos alegados na amostra, ambos com 27 relatos
cada. As relações sexuais e a socialização foram as atividades que mais tiveram essa
função como limitante.
A atividade de mudar a posição básica do corpo (d410) que para algumas
pessoas foi considerada como uma queixa, para outras foi considerada o motivo para a
dificuldade de realizar outra atividade. Esse motivo está relacionado à dificuldade para
agachar, sentar ou levantar de um determinado local, se ajoelhar e deitar. A tarefa de
limpar a habitação foi afetada principalmente por essa atividade na amostra estudada.
A dificuldade encontrada por algumas pessoas para encontrar roupas com
tamanho adequado e com preço acessível para vestir ou até mesmo encontrar cadeiras
que suportem o peso para sentar em festas, ambientes públicos e até mesmo na escola
foram classificadas como produtos e tecnologias gerais para uso pessoal na vida diária
(e1150). Novamente para algumas pessoas esse fator ambiental foi considerado como
uma queixa, para outras o motivo de alguma queixa. A utilização do transporte público
encontrou esse fator como barreira.
Forhan, et al, (2010), em seu estudo, encontraram achados semelhantes, onde
pessoas com obesidade relataram que as barreiras específicas no ambiente construído,
incluindo assentos em cinemas, restaurantes, aviões, automóveis, e até mesmo no
transporte público reduzem a participação em atividades fora da casa, onde a pessoa
com obesidade fica constantemente antecipando situações e evitar sair de casa para
não passar por constrangimentos e até mesmo humilhações.
Quando os motivos alegados para a dificuldade de realizar uma determinada
atividade foram relacionados à sensação de falta de força muscular ou fraqueza
muscular esses motivos foram classificados como funções relacionadas à força
muscular (b730), sendo também relatada como limitante na utilização do transporte
público.
Os motivos relacionados à postura das outras pessoas, como o fato de não dar
emprego pela aparência corporal, por exemplo, foram classificados como atitudes
53

individuais de estranhos (e445) sendo esse um fator ambiental. A atividade de


conseguir, manter e sair de um emprego foi a mais prejudicada por esse fator
ambiental.
Atitudes sociais (e460) também é um fator ambiental descrito na CIF sendo
classificado dessa maneira quando o relato foi relacionado à dificuldade de frequentar
uma festa, por exemplo, pelo fato das pessoas ficarem olhando para os obesos como
sendo inferiores.
Novamente, o estudo de Forhan, et al, (2010) traz informações semelhantes,
onde a maioria dos participantes teve a percepção de que sua credibilidade em
situações sociais e profissionais foi afetada negativamente com a obesidade. Os
participantes descreveram experiências de humilhação pública. Exemplos incluem a
necessidade de solicitar extensores de cinto de segurança em aviões e automóveis da
empresa, incontinência devido à pressão sobre a bexiga, e acesso a portas estreitas
em banheiros públicos. Os autores apontam ainda que as atitudes negativas em
relação aos adultos com obesidade e crenças sobre a obesidade não se limitam à
comunidade em geral. Participantes relataram evitar cuidados médicos por medo de
serem repreendidos por causa de seu peso. A maioria afirmou que os seus prestadores
de cuidados de saúde primários nunca perguntaram sobre como eles gerenciavam
suas atividades diárias, solicitando apenas que perdessem peso, mas sem ter ideia de
como era sua rotina de verdade.
Corroborando com esses achados, Thomas, et al (2008) através de um estudo
qualitativo, verificou que cerca de metade dos entrevistados declarou que eles haviam
sido humilhados por profissionais de saúde por causa de seu peso.
Assim como a atividade de mudar a posição básica do corpo foi considerada
como uma queixa por algumas pessoas e como motivo para outras, a atividade manter
a posição do corpo (d415) também foi considerada como motivo para a utilização do
transporte público e preparação de refeições.
O motivo estrutura da extremidade superior (s730) foi atribuído aos indivíduos
que traziam que o volume de gordura nos braços interferia para a realização de alguma
atividade, sendo na presente amostra, a atividade de cuidados relacionados aos
processos de excreção a atividade prejudicada por essa estrutura do corpo.
Fator pessoal por sua vez, são questões próprias das pessoas, que não podem
ser classificadas e não fazem parte da condição de saúde ou de estados de saúde,
54

sendo mais relacionados às formas de enfrentamento da obesidade e experiências


prévias.
Assim como a preparação de refeições (d630), o fator ambiental e445, as
estruturas do corpo s740 e s730 e a função do corpo b730 não estão descritos no core
set da obesidade, enquanto todos os demais itens sim. A função b730 e a atividade
d630 chegaram a ser analisadas, mas não foram inclusa no core set com a alegação de
não serem afetadas pela obesidade.
A perda de peso é algo que não ocorre com rapidez, e muitas vezes por
escolha, contra indicação médica ou outros motivos associados, várias pessoas
convivem com a obesidade durante muitos anos. O conhecimento de quais são as
atividades que estão afetadas no dia a dia, das pessoas que convivem com a
obesidade, principalmente por parte da equipe multidisciplinar se faz de extrema
importância para um atendimento mais humanizado.
Fazendo uma breve comparação entre a funcionalidade de algumas pessoas
obesas e algumas pessoas com deficiência, é possível verificar que em alguns casos,
pessoas obesas apresentam a funcionalidade mais prejudicada do que pessoas com
deficiência. Tal situação reforça mais ainda a necessidade de se olhar para a
funcionalidade e não somente para a doença ou condição de saúde ao se elaborar as
políticas públicas.
A corte de justiça europeia decidiu no ano de 2014 que embora a obesidade
não seja por si só uma deficiência do ponto de vista jurídico, ela pode ser considerada
uma deficiência do ponto de vista jurídico se ela causar problemas físicos, mentais ou
psicológicos que atrapalhem o obeso no trabalho, visando proteger os obesos de
qualquer forma de discriminação. (MARTINI, 2015).
Observa-se ainda que a satisfação sempre é inferior ao desempenho e as
menores notas de desempenho ocorreram no G3. Thomas, et al, 2008 corrobora com
essa afirmação, sugerindo que embora os indivíduos continuem a participar em muitas
de suas atividades diárias, mesmo com adaptações na forma de realizar, muitos não
estavam satisfeitos com sua participação.
Forhan, et al (2010) afirmam que o desenvolvimento e avaliação de estratégias
que possibilitem a participação nas ocupações da vida diária para adultos com
obesidade pode reduzir o seu impacto na vida cotidiana.
A atuação para melhorar a qualidade de vida do obeso é sem dúvida um campo
repleto de possibilidades para diversas profissões. Após análise da literatura pode-se
55

verificar que para a intervenção junto ao individuo obeso o uso de tecnologia assistiva,
a graduação da atividade, o auxílio na mudança de hábitos, o treino de técnicas de
conservação de energia, o estímulo ao engajamento e participação e a eliminação de
barreiras são estratégias que podem ser utilizadas pelos terapeutas ocupacionais.
56

7 CONCLUSÕES

x Os principais problemas de desempenho relatados na amostra estudada e


classificados com a CIF foram: limpar a habitação (d6402), cuidado com as
unhas dos pés (d5204), praticar esportes (d9201), andar longas distâncias
(d4501) e calçar (d5402);
x Os dados diferem de estudos realizados fora do país onde os principais
problemas foram relacionados ao lazer.
x Nos homens as principais queixas foram: praticar esportes (d9201), cuidado
com as unhas dos pés (d6402) e calçar (d5402). Nas mulheres as principais
queixas foram as mesmas que apresentadas na amostra total;
x O IMC e a CA não tiveram correlação estatística com o número de queixas,
porém na comparação entre os grupos foi possível observar que o número de
queixas foi maior no grupo com maior IMC e CA. Tal correlação possivelmente
não foi encontrada nessa pesquisa devido à limitação do tamanho reduzido da
amostra;
x Dentre os motivos relatados para as dificuldades apresentadas na COPM, os
principais foram sensação de dor, tamanho da barriga, falta de fôlego, falta de
flexibilidade e vergonha do próprio corpo, evidenciando a necessidade de um
tratamento multidisciplinar para auxiliar na redução das queixas de desempenho
e consequentemente melhorar a qualidade de vida dessa população;
x A COPM mostrou-se como uma ferramenta satisfatória que pode ser utilizada
por terapeutas ocupacionais que atuam na atenção do indivíduo obeso em
qualquer nível de atenção, para averiguar as principais limitações de
desempenho dessa população;
x A CIF se demonstrou como importante ferramenta para unificar, descrever e
facilitar a compreensão do desempenho dos indivíduos obesos, sendo que todas
as queixas foram possíveis de serem categorizadas;
x O presente trabalho reforça a necessidade de mais profissionais estarem
envolvidos no tratamento do indivíduo obeso, não mantendo somente o foco na
prevenção da obesidade e nos programas de redução de peso, mas olhando
especialmente para o “estar obeso” como uma condição de saúde, já que uma
grande parte dessa população irá passar algum tempo obeso, ou até mesmo o
resto de suas vidas, e isso muitas vezes significa apresentar dificuldades de
57

desempenho decorrentes do excesso de peso, que precisam da atenção de


profissionais capacitados;
x O trabalho evidenciou as diversas dificuldades enfrentadas por pessoas obesas,
e reforça a importância e necessidade do olhar sobre a funcionalidade e não
somente sobre a doença.
x A formulação de políticas públicas que garantam mais acesso e direitos aos
obesos é uma realidade que precisa ser amplamente discutida.
x As limitações do estudo estão relacionadas ao fato do estudo ter sido realizado
exclusivamente em um ambiente ambulatorial, onde se encontram indivíduos
que já apresentam certa fragilidade em sua saúde física. Destaca-se ainda a
amostra ser composta exclusivamente de usuários do sistema único de saúde,
ou seja, com uma renda familiar reduzida.
58

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67

ANEXOS E APÊNDICES
ANEXO 1 - MEDIDA CANADENSE DE DESEMPENHO OCUPACIONAL (COPM)
68
69

ANEXO 2 – CORE SET DA OBESIDADE


70
71
72

APÊNDICE 1 – FICHA DE COLETA DE DADOS DO PROJETO PILOTO

FICHA DE COLETA DE DADOS PARA A PESQUISA “O DESEMPENHO OCUPACIONAL


DE SUJEITOS OBESOS”
Identificação: _______ Data: ____/____/_____ Grau:_____________

1 – DADOS PESSOAIS
Nome: _____________________________________________________________Sexo: ( 0 ) F
(1)M
DN: ____/____/____ Idade: _________ Naturalidade: ______________ Cor: _________
Aposentado: (0)S (1)N Ocupação: _______________________Estado Civil:
____________________ Escolaridade: ___________ Renda Familiar: ________
Religião: __________ Telefones:_____________________

2 - ANAMNESE
Peso: _____________ Altura: ___________ CA: _________ IMC: _______________
Comorbidades: ( ) HAS ( ) DM ( ) DSLP ( ) OA ( )Depressão ( ) Hipotireoidismo ( ) Outros
Problemas Ortopédicos: ( ) S ( ) N Local: ____________________ Tempo:
___________________
Tabagista: ( )S ( )N ( ) Ex Tempo: __________ Cigarros por dia: ______________
Etilista: ( )S ( )N ( ) Ex Tempo: __________ Doses por dia: ________________
Exercício Físico: ( ) S ( ) N
Dores relacionadas ao peso: ( )S ( ) N
Dorme bem: ( )S ( )N Motivo: _____________
Obesidade há quanto tempo: _______________________________________________
Percebeu algum fator como desencadeador:___________________________________
73

APÊNDICE 2– TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Nós, Alexsandra Santos Silva, Rosana B. Radominski, Renato Nickel e Rita A.


Bernardi Pereira, pesquisadores da Universidade Federal do Paraná, estamos lhe
convidando, paciente acima de 18 anos, acompanhado pelo Ambulatório de Obesidade,
a participar de um estudo intitulado “Os efeitos da Obesidade no Desempenho
Ocupacional”. O objetivo desta pesquisa é verificar quais são os efeitos causados pelo
excesso de peso ao realizar as atividades do dia-a-dia, contribuindo futuramente para a
pesquisa de técnicas que possam promover maior qualidade de vida e autonomia às
pessoas obesas.
Caso você participe da pesquisa, será necessário verificar o seu peso, altura e
circunferência abdominal. Será necessário também responder a um questionário com
seus dados pessoais, hábitos de vida e atividades que você considera que estão
prejudicadas no seu dia-a-dia devido a obesidade.
A avaliação irá durar aproximadamente 20 minutos, sendo realizada nas áreas
do ambulatório de obesidade no qual você se encontra.
Os benefícios esperados com essa pesquisa são: auxiliar na elaboração de
tecnologias que possam aumentar a qualidade de vida de pessoas com obesidade. No
entanto, nem sempre você será diretamente beneficiado com o resultado da pesquisa,
mas poderá contribuir para o avanço científico. Existe o risco de desconforto ao
responder algum questionamento, porém os mesmos serão acolhidos pela
pesquisadora que apresenta habilidade para atuar nessas situações.
Suas respostas e seus dados serão tratados de forma anônima e confidencial,
isto é, em nenhum momento será divulgado o seu nome em qualquer fase do estudo.
Os dados coletados serão utilizados apenas nesta pesquisa e os resultados serão
divulgados em eventos e/ou revistas cientificas.
A pesquisadora Alexsandra Santos Silva, Terapeuta Ocupacional sob o registro
no CREFITO 8: 10590 – T.O. estará disponível no telefone: (41) 99216113 ou e-mail:
aless_to@hotmail.com, para esclarecer eventuais dúvidas que você possa ter e
fornecer-lhe as informações que queira, antes, durante ou depois de encerrado o
estudo.
Se você tiver dúvidas sobre seus direitos como um participante de pesquisa,
você pode contatar o Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos – CEP, por
meio do telefone 3360-1041. O CEP trata-se de um grupo de indivíduos com
74

conhecimento científicos e não científicos que realizam a revisão ética inicial e


continuada do estudo de pesquisa para mantê-lo seguro e proteger seus direitos.
A sua participação neste estudo é voluntária e se você não quiser mais fazer
parte da pesquisa poderá desistir a qualquer momento e solicitar que lhe devolvam o
termo de consentimento livre e esclarecido assinado. Se algum questionamento lhe
causar desconforto, você terá direito à assistência terapêutica ocupacional caso ache
necessário.
As despesas necessárias para a realização da pesquisa não são de sua
responsabilidade e pela sua participação no estudo você não receberá qualquer valor
em dinheiro.
Quando os resultados forem publicados, não aparecerá seu nome, e sim um
código.
Eu,______________________________________________________ li esse
termo de consentimento e compreendi a natureza e objetivo do estudo do qual
concordei em participar. A explicação que recebi menciona os riscos e benefícios. Eu
entendi que sou livre para interromper minha participação a qualquer momento sem
justificar minha decisão e sem que esta decisão afete meu tratamento.
Eu concordo voluntariamente em participar deste estudo.

______________________________________________________________
(Nome e Assinatura do participante da pesquisa ou responsável legal)
Local e data:

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e


Esclarecido deste participante ou representante legal para a participação neste estudo.

______________________________________________________________
Alexsandra Santos Silva

Local e data:
75

APÊNDICE 3 – FICHA DE COLETA DE DADOS DA PESQUISA

FICHA DE COLETA DE DADOS PARA A PESQUISA “OS EFEITOS DA OBESIDADE NO


DESEMPENHO OCUPACIONAL”
Identificação: _______ Data: ____/____/_____ Grau:_____________
1 – DADOS PESSOAIS
Nome: ________________________________________________________Sexo: ( 0 ) F (1)M
DN: ____/____/____ Idade: _________ Naturalidade: __________ Cor autorrelata: _________
Aposentado: (0)S (1)N Ocupação: __________________Estado Civil: ____________________
Escolaridade: _________ Renda Familiar: ____ Nº de Pessoas que vivem com a renda: ______
Religião: __________ Telefones:_____________________ Filhos: ________
2 - ANAMNESE
Peso: _____________ Altura: ___________ CA: _________ IMC: _______________
Comorbidades: ( ) HAS ( ) DM ( ) DSLP ( ) OA ( )Depressão ( ) Hipotireoidismo ( ) Outros
Problemas Ortopédicos: ( ) S ( ) N Local: ____________________ Tempo: _______________
Tabagista: ( )S ( )N ( ) Ex Tempo: __________ Cigarros por dia: ______________
Etilista: ( )S ( )N ( ) Ex Tempo: __________ Doses por dia: ________________
Exercício Físico: ( ) S ( ) N Nº de vezes na semana: _______ Duração: ___________
Aguarda para fazer CB: ( )S ( ) N
Já fez Bariátrica: ( )S ( ) N Há quanto tempo?: ___________
Dores relacionadas ao peso: ( )S ( ) N Local: _________________________________
Dorme bem: ( )S ( )N Motivo: _____________
Obesidade há quanto tempo: _______________________________________________
Percebeu algum fator como desencadeador:___________________________________
3 – PÓS-APLICAÇÃO DA COPM
Qual fator o paciente atribui a sua dificuldade em realizar a atividade do Item:
1-
2–
3–
4–
5–

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