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A IMPORTÂNCIA DO PSICOPEDAGOGO NAS INTERVENÇÕES

NAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Evaneide Maria REIS¹

Leonor Leandro Lima COSTA²

RESUMO

Este artigo vem para levantar pontos importantes sobre o psicopedagogo


e a sua atuação no campo institucional, levando em consideração sobre o que é
o psicopedagogo, utilizando como apoio teorias de alguns autores conhecidos na
área da educação. O estudo do processo de aprendizagem humana e suas
dificuldades são desenvolvidos pela Psicopedagogia, levando-se em
consideração as realidades interna e externa, utilizando-se de vários campos do
conhecimento, integrando-os e sintetizando-os. Procurando compreender de
forma global e integrada os processos cognitivos, emocionais, orgânicos,
familiares, sociais e pedagógicos que determinam à condição do sujeito e
interferem no processo de aprendizagem, possibilitando situações que resgatem
a aprendizagem em sua totalidade de maneira prazerosa.

Palavra-chave: Psicopedagogia, Educação, Teoria Educacional, Dificuldade de Aprendizagem.

ABSTRACT

This article aims to raise important points about the psychopedagogue


and its performance in the institutional field, taking into consideration what the

¹ Graduada em Pedagogia e Pós Graduada em Psicopedagogia pela Faculdade Cruzeiro do Sul.


² Orientadora de TCC do Curso de Psicopedagogia.
psychopedagogue is, using as support the theories of some well-known authors in
the field of education. The study of the human learning process and its difficulties
are developed by Psychopedagogy, taking into account the internal and external
realities, using various fields of knowledge, integrating and synthesizing them.
Aiming to comprehend in a global and integrated way the cognitive, emotional,
organic, family, social and pedagogical processes that determine the condition of
the subject and interfere in the learning process, enabling situations that rescue
learning in its entirety in a pleasant way.

Keywords: Psychopedagogy, education, educational theory, Learning disability.

INTRODUÇÃO

Psicopedagogia é a área do conhecimento que estuda como as pessoas


constroem o conhecimento. Segundo a ABPp (Associação Brasileira de
Psicopedagogia) a Psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e
Educação que lida com o processo de aprendizagem humana: seus padrões
normais e patológicos considerando a influência do meio - família, escola e
sociedade - no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da
Psicopedagogia.

Em outras palavras, busca decifrar como ocorre o processo de


construção do conhecimento nos indivíduos. Assim, ela se propõe a: identificar
os pontos que possam, porventura, estar travando essa aprendizagem; atuar de
maneira preventiva para evitá-los e, ainda, propiciar estratégias e ferramentas
que possibilitem facilitar esse aprendizado.

A Psicopedagogia busca na psicologia, psicanálise, psicolingüística,


neurologia, psicomotricidade, fonoaudiologia, psiquiatria, entre outros, o
conhecimento necessário para aprender como se dá o processo de
aprendizagem nos indivíduos. Trabalho este de grande importância por
possibilitar aos pós- graduandos o aperfeiçoamento teórico e prático no campo
de atuação da Psicopedagogia institucional e clínica, oportunizando colocar em
prática as atividades e o conhecimento adquirido no decorrer do curso,
colocando-nos em contato com o ambiente de trabalho e a tomada de
consciência da importância do trabalho do Psicopedagogo. O presente artigo
estrutura-se em uma fundamentação teórica onde buscaremos expor as
concepções teóricas que embasam este trabalho. Por fim, serão apresentados os
resultados provenientes e as conclusões, bem como os possíveis
encaminhamentos para o caso estudado.

1.O PAPEL DA ESCOLA NA FORMAÇÃO DE CIDADÃOS

É o papel central da escola, a construção de uma referência ética à medida


que leva o indivíduo a pensar, explorar o mundo e designar a qualidade das
relações, surge então uma visão clara da importância do trabalho na construção
coletiva de uma qualidade de vida, do convívio em paz e da cidadania.

Embora o termo ética e moral por vezes sejam usados como sinônimos há
uma diferença entre eles. A ética é uma das áreas da filosofia que investiga sobre o
agir humano na convivência com outros. A palavra ética vem do grego ethos que
significa hábitos, costumes, se refere à moradia de um povo ou sociedade. A
palavra moral provém do latim moralis e significa costumes, conduta. Moral é o
conjunto de normas e condutas reconhecidas como adequadas ao comportamento
humano por dado grupos. A moral estabelece princípios de vida capazes de
orientar o homem para uma ação de integridade correta.

O homem é um ser moral, um ser que avalia sua ação a partir de valores. A
ética se manifesta em nós de maneira imperativa, como exigência moral. Pautada
na concepção da condição humana, limitada às experiências, as interpretações
clássicas da ética apresentam hoje suas brechas e insuficiências. Na contingência
de todas as pequenas e grandes decisões e escolhas, neutralizamos
permanentemente aprendizagens do passado não propriamente humanas e, a
partir deles, construímos novos padrões de escolhas e respostas cada vez menos
estigmatizados, cada vez mais complexas e indeterminadas.

A ética é complexa por ter sempre de enfrentar a ambiguidade e a


contradição; por estar exposta à incerteza; por se situar no limite entre o bem e o
mal. Nada garante que uma boa intenção não se degenere em atrocidades futuras.
As boas ações podem gerar maus resultados e o inverso. Assim como o
pensamento complexo, a ética complexa não escapa ao problema da contradição.
Há sempre incertezas escondidas sob a aparência unívoca do bem e do mal. A
crença numa ética superior com finalidades emancipatórias universais toma, quase
sempre, ilusões por verdade, daí a necessidade de vigilância ética, contra o perigo
da ação que impulsiona a crueldade do mundo (ARISTOTELES, 2001)

É necessário ter consciência do vínculo entre consciência intelectual e


consciência moral. Ter consciência de que não somos o centro de tudo, mas
sujeitos ligados a outros sujeitos, ligados a outros e de que, além da identidade
terrestre, temos uma identidade cósmica, e isso muda certamente a forma de ver a
nós e ao mundo, de compreender nossa ligação com todas as coisas.Isso tem a ver
com a arte de saber viver.

Tem a ver também com a tomada de consciência de que o


desenvolvimento tecnológico/econômico leva à degradação da biosfera, das nossas
sociedades, e por fim, nossas vidas (AMORIM, 2009).

O pior da crueldade e o melhor da bondade do mundo estão no ser


humano. Somos como um misto de barbárie e bondade. Mas esse tal complexo de
bem e mal, não ensaia nenhum horizonte imobilista e derrotista. Ao contrário, num
argumento desafiador, Morin (2005) conclui que, mesmo que as forças de ligação
sejam mínimas em relação à dispersão, mesmo que a crueldade e a barbárie sejam
maioria, é preciso apostar na bondade.

A ética de resistência à crueldade do mundo é também a ética de aceitação


do mundo. Aristóteles, em seus escritos faz grandes considerações sobre ética e
moral. Na obra Ética a Nicômaco, considerado um dos escritos mais maduros, com
seu sistema filosófico próprio e definitivo, Aristóteles promove reflexões sobre ética
e sua importância como objeto do agir humano. Inicia fazendo questionamentos
sobre o bem e o mal, mas também afirma que todo indivíduo, assim como toda
ação e toda escolha, tem como alvo um bem.

O fim de nossas ações é o bem. O fim que se tem em vista não é o


conhecimento do bem, mas a ação do mesmo. Devemos procurar o bem e indagar
o que ele é. Se existe uma finalidade para tudo o que fazemos, a finalidade será o
bem. A melhor função do homem é a vida ativa que tem um princípio racional.
Falando das virtudes, Aristóteles cita duas espécies de virtudes: as intelectuais e as
morais.

As virtudes intelectuais são o resultado do ensino, e por isso precisam de


experiência e tempo; as virtudes morais são adquiridas em resultado do hábito, elas
não surgem em nós por natureza, mas as adquirimos pelo exercício. É pelos atos
que praticamos nas relações com os homens que nos tornamos justos ou injustos.
Por isso faz-se necessário estar atento para as qualidades de nossos atos, tudo
depende deles, desde a nossa juventude existe a necessidade de habituar-nos a
praticar atos virtuosos (DE LA TAILLE, 2009).

É pela prática de atos justos que se gera o homem justo, é pela prática de
atos temperantes que se gera o homem temperante; é através da ação que existe a
possibilidade de alguém tornar-se bom. A virtude relaciona-se com paixões e
ações, mas um sentimento ou uma ação pode ser voluntária ou involuntária. As
virtudes são voluntárias, porque somos senhores de nossos atos se conhecemos
as circunstâncias, e estava em nosso poder o agir ou o não agir de tal maneira. São
virtudes morais: a coragem, a temperança, a liberalidade, a magnificência, o justo
orgulho, o anônimo, a calma, a veracidade, a espirituosa, a amabilidade, a
modéstia, a justa indignação e a justiça (DURKHEIM, 1975).

2. ÉTICA E MORALIDADE NA CONSTRUÇÃO DE CARÁCTER

A moralidade supõe a execução de um ato, independente das


consequências, pelo agir corretamente dado pelo sentido de obrigatoriedade. Há
pessoas que têm um senso de dever em relação às situações, sem que haja
coação externa e em relação às quais não há interesses pessoais. Penso em
Gandhi em sua luta pela liberdade, em Martim Luther King em sua luta pela justiça,
nos resistentes franceses que arriscavam suas vidas (e a se verem submetidos às
piores torturas) para ajudar judeus a escapar dos campos de concentração
nazistas, nos médicos que abandonam seu conforto civilizado para, em lugares
inóspitos e perigosos, ajudar necessitados em várias regiões do mundo. (DE LA
TAILLE, 2006, p. 31).

A escola é vista como uma instituição, na qual se espera que passem todos
os indivíduos da sociedade, se coloca na posição de ser o primeiro meio social na
vida destes novos membros sociais. Também vincula valores que podem convergir
e conflitar com os que circulam nos outros meios sociais que estes indivíduos estão
envolvidos ou que são expostos. Portanto, como Vygotsky (1998) aponta, deve
assumir explicitamente o papel de educador os seus alunos dentro dos princípios
democráticos.

Se é entendida limitadamente com apenas mais um meio social que


vincula valores por aqueles que passam por ela, a escola se limita na legitimidade
que cada indivíduo e a própria sociedade conferir a ela. Se for vista como espaço
de práticas sociais em que os alunos não apenas entram em contato com valores
determinados, mas também estabelecem uma hierarquia consciente entre valores,
ampliam sua capacidade de julgamento e a consciência de escolhas, se ampliam
as possibilidades de atuação da escola na formação moral, já que se ocupa de uma
formação ética, para formação de uma consciência moral reflexiva cada vez mais
autônoma, mais capaz de posicionar-se e atuar em situações de conflito.

A escola de hoje está deixando um pouco de lado a construção moral e a


educação ética, atribui-se prioridades a outros assuntos, mas esquece que a
formação do indivíduo é a mais importante, e que permeará por toda a sua vida. A
criança que se educa eticamente torna-se um adulto capaz de ir ao encontro do
outro, reconhece-se com seu igual e não assume as regras morais como regras
obrigatórias.

Portanto, o educador possui um papel fundamental na formação ética e


moral do indivíduo, principalmente na educação infantil, onde se inicia a vida
escolar e social. Há a necessidade de trabalhar a ética e a moral na educação
infantil vivendo-as, demonstrando-as aos nossos alunos através dos nossos atos,
da nossa postura, das atitudes e dos valores aos quais acreditamos, faz com que
se crie a personalidade ética. Não se ensina moral e ética, vivencia-se.

Se a escola deixa de cumprir o seu papel de educador em valores, a


referência ética de seus alunos estará limitado à simples convivência, que pode ser
rica em se tratando de vivências pessoais, mas pode estar também carregada de
desvios de postura, atitude comportamento ou conduta, e ainda, quando os valores
não são bem formais ou sistematicamente ensinados, podem ser encarados pelos
educandos como simples conceitos ideais ou abstratos, principalmente para
aqueles que não os vivenciam, sejam por simulações de práticas socializou
vivenciados no cotidiano.

A educação é uma socialização das novas gerações de uma sociedade e,


enquanto tal, conserva os valores dominantes naquela sociedade.Toda educação é
uma ação de diálogo entre seres humanos, uma educação pode ser eficiente
enquanto processo formativo e ao mesmo tempo, eticamente mau.

A educação ética acontece, quando os valores no conteúdo e no exercício


do ato de educar são valores humanos e humanizadores. A educação para a vida,
exige dos educadores uma postura de ação com responsabilidade, ou seja,
habilidades para oferecer respostas mais adequadas às demandas, à medida que
essas se apresentam. O conhecimento atual aponta para atitudes criativas, para a
busca de soluções inéditas, para a liderança ética, para o resgate dos valores
(VYGOTSKY, 1991).

O estudo da Ética vai complementar o trabalho formativo que realizamos no


cotidiano e isso pode ser efetivado através de atividades práticas que possibilitem
real vivência dos valores esquecidos por muitos. A Ética, antes de qualquer coisa,
deve estar impregnando as ações de cada dia, seja dentro da sala de aula ou fora
dela. Nunca se deve perder a oportunidade de formar a mente e o coração dos
alunos. Se tiver de ser feito através de uma disciplina específica, que seja bem-feito
e que haja contextualização com o momento presente.

A noção de sujeito e de subjetividade foi construída num contexto histórico


e culturalmente determinado, enquanto um processo constituído nas e pelas
relações sociais, pois tanto a natureza quanto o social são resultantes do processo
histórico que os origina e transforma, pois a dimensão histórica da realidade faz-se
presente nos aspectos físicos, biológico ou social. A especificidade da ciência
psicológica é demarcada pela questão da constituição do sujeito, a qual passou a
ser reconhecida por denominações diversas, entre as quais personalidade,
identidade e subjetividade, cujas explicações, dependendo da matriz adotada
tornavam-se até antagônicas ( DE LA TAILLE, 2006).

A subjetividade em “A formação social da mente” (Vygotsky, 1998)


materializa-se no sujeito, mas é processo dinâmico que não existe em si mesmo,
realizando-se pela mediação semiótica do processo de conversão das relações
interpsicológicas em intrapsicológicas. É na subjetividade que se dá a singularidade
do sujeito, um sujeito social e historicamente situado. O sujeito do sucesso escolar
é engendrado em grupos sociais, cultural e historicamente situados, entre os quais,
a família e a escola possuem maior influência pelas especificidades de seus papéis
na transmissão da cultura escolar. Os sujeitos do sucesso escolar constroem suas
estruturas mentais ou cognitivas em um processo contínuo, mediante as relações
intersubjetivas e através de práticas de linguagem características da cultura de
seus grupos sociais e especificamente da cultura escolar. A compreensão do
sujeito, quanto aos resultados e comportamentos escolares será possível pela
reconstrução da rede de relações e práticas sociais e, especialmente, das relações
familiares nas quais foram constituídos seus esquemas cognitivos, de percepção e
de ação, bem como, sua forma de funcionamento no contexto escolar (VYGOTSKY,
1998).

2.1 CARACTERIZAÇÃO DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

A aprendizagem e a construção do conhecimento são processos naturais


e espontâneos do ser humano que desde muito cedo aprende a mamar, falar,
andar, pensar, garantindo assim, a sua sobrevivência. A aprendizagem escolar
também é considerada um processo natural, que resulta de uma complexa
atividade mental, na qual o pensamento, a percepção, as emoções, a memória, a
motricidade e os conhecimentos prévios estão envolvidos e onde a criança deva
sentir o prazer em aprender.

O estudo do processo de aprendizagem humana e suas dificuldades são


desenvolvidos pela Psicopedagogia, levando-se em consideração as realidades
interna e externa, utilizando-se de vários campos do conhecimento, integrando-
os e sintetizando-os. Procurando compreender de forma global e integrada os
processos cognitivos, emocionais, orgânicos, familiares, sociais e pedagógicos
que determinam à condição do sujeito e interferem no processo de
aprendizagem, possibilitando situações que resgatem a aprendizagem em sua
totalidade de maneira prazerosa. Segundo Weiss (1997) “a aprendizagem normal
dá-se de forma integrada no aluno, no seu pensar, sentir, falar e agir. Quando
começam a aparecer “dissociações de campo” e sabe-se que o sujeito não tem
danos orgânicos, pode-se pensar que estão se instalando dificuldades na
aprendizagem: algo vai mal no pensar, na sua expressão, no agir sobre o
mundo”.

Atualmente, a política educacional prioriza a educação para todos e a


inclusão de alunos que, há pouco tempo, eram excluídos do sistema escolar, por
portarem deficiências físicas ou cognitivas; porém, um grande número de alunos
(crianças e adolescentes), que ao longo do tempo apresentaram dificuldades de
aprendizagem e que estavam fadados ao fracasso escolar pôde frequentar as
escolas e eram rotulados em geral, como alunos difíceis. Os alunos difíceis que
apresentavam dificuldades de aprendizagem, mas que não tinha origens em
quadros neurológicos, ou seja, não estruturavam uma psicose ou neurose grave,
não podiam ser considerados portadores de deficiência mental, mesmo assim
oscilavam na conduta e no humor e tinham grandes dificuldades nos processos
simbólicos, o que dificultava a organização do pensamento, que
consequentemente interferia na alfabetização e no aprendizado dos processos
lógico-matemáticos, demonstravam potencial cognitivo, podendo ser resgatados
na sua aprendizagem. (WEISS, 1989).

O aluno, ao perceber que apresenta dificuldades em sua aprendizagem,


muitas vezes começa a apresentar desinteresse, desatenção, irresponsabilidade,
agressividade, etc. A dificuldade acarreta sofrimentos e nenhum aluno apresenta
baixo rendimento por vontade própria. Se a dificuldade fosse apenas originada
pelo aluno, por danos orgânicos ou somente da sua inteligência, para solucioná-
lo não teríamos a necessidade de acionarmos a família, e se o problema
estivesse apenas relacionado ao ambiente familiar, não haveria necessidade de
recorremos ao aluno isoladamente. Uma vida possui muitas relações afetivas. É
preciso saber como o aluno aprende.
O psicopedagogo ajuda a promover mudanças, intervindo diante das
dificuldades que a escola nos coloca, trabalhando com os
equilíbrios/desequilíbrios e resgatando o desejo de aprender.

2.2. A APRENDIZAGEM SEGUNDO VYGOTSKY E PIAGET

Sabemos o quanto são profundos os estudos de Piaget, além de outros


estudiosos, sobre o pensamento, inteligência e desenvolvimento intelectual da
criança. Dentre estas abordagens, podemos destacar a corrente piagetiana e a
abordagem sócio histórica, baseada nas ideias de Vygotsky (1991), que
compreendem a aprendizagem como a ação do sujeito sobre o meio. A teoria
piagetiana considera que as formas de pensamento se constroem na interação
da criança com os objetos, através da ação.

O sujeito conhece o objeto, assimilando-o a seus esquemas. No decorrer


de seu desenvolvimento, a criança passa a reorganizar e reconstruir esses
esquemas, diversificando-os, diferenciando-os e combinando- os. De acordo com
a teoria piagetiana, existem três conceitos fundamentais, estreitamente
relacionados no estudo do desenvolvimento intelectual: assimilação,
acomodação e equilibração.

A assimilação é definida como um mecanismo de incorporação das


particularidades, qualidades dos objetos aos esquemas ou estruturas intelectuais
que o sujeito dispõe em certo momento. A acomodação se refere ao mecanismo
complementar em que os esquemas ou estruturas do sujeito devem se ajustar às
propriedades e particularidades do objeto. A equilibração é o processo geral em
que o indivíduo deve compensar ativamente as perturbações que o meio oferece,
ou seja, obstáculos, dificuldades encontradas, resistências do objeto a ser
assimilado.

Sobre o desenvolvimento intelectual da criança, Piaget (1973, p. 13)


afirma que este provém de “uma equilibração progressiva, uma passagem
contínua de um estado de menos equilíbrio para um estado de equilíbrio
superior”. Cada estágio de desenvolvimento constitui, portanto, uma forma
particular de equilíbrio e a sequência da evolução mental caracteriza uma
equilibração sempre completa.

Em sua teoria Piaget (1973) descreve os estágios de desenvolvimento da


inteligência da seguinte forma: O período sensório-motor, que vai do nascimento
até os 18 meses, mais ou menos, e compreende a construção de todas as
subestruturas ulteriores (por exemplo, a noção de objeto, do espaço, do tempo),
concluindo com a aquisição da linguagem. Este período é considerado por Piaget
aquele no qual acontecem as mais numerosas e rápidas aquisições da criança. O
período da representação pré-operatória, dos dezoito meses ou 2 anos até os 7
anos, é caracterizado pela aquisição da linguagem e pelo surgimento da função
simbólica (capacidade de representar uma situação por meio de outra), que
compreende, além da linguagem, o jogo, o simbolismo gestual (imitação direta) e
a imagem mental (imitação interiorizada). Esse conjunto de “simbolizantes” torna
possível o pensamento.

O período das operações concretas se dá por volta dos 7 anos e vai até
os 12 anos, apresentando uma modificação fundamental no desenvolvimento
intelectual da criança. É o estágio em que ela adquire a capacidade de coordenar
operações concretas da lógica, apresentando reversibilidade de pensamento.
Coincide com a sua entrada no ensino fundamental.

O período das operações formais, a partir dos 12 anos


aproximadamente, é a fase em que o adolescente se torna capaz de raciocinar e
de deduzir sobre hipóteses e proposições. Piaget (1973, p. 27) explica que
“existe toda uma lógica, todo um conjunto de operações específicas que vêm se
sobrepuser às precedentes e que podemos chamar a lógica das proposições”.
Os períodos de desenvolvimento intelectual constituem passos ou momentos
sucessivos do processo de equilibração, marchando para o equilíbrio. Quando
esse é atingido, a estrutura alcançada num certo período se integra em um novo
sistema de formação, que se equilibrará outra vez.
Outra abordagem a respeito da aprendizagem é liderada pelos estudos
de Vygotsky (1991), chamada de sócio histórica ou sociocultural. Nesta
abordagem, aprendizagem é o resultado da interação dinâmica da criança com o
meio social, na constituição de sua capacidade cognitiva e é produto do
entrelaçamento do pensamento e da linguagem, que se constitui no nível mais
alto de funcionamento cognitivo, pois envolve a reflexão, o planejamento e a
organização, propiciados pelo pensamento verbal construído pela mediação
simbólica ou social, desenvolvendo os conceitos de zona de desenvolvimento
proximal e aprendizagem mediada.

No que se refere ao conceito de zona de desenvolvimento proximal, são


considerados dois níveis de desenvolvimento: o real, que exprime o desempenho
da criança ao realizar suas tarefas sem ajuda de ninguém e o potencial, aquele
alcançado quando a criança recebe ajuda de alguém.

Segundo Vygotsky (1991, p.97 ), a zona de


desenvolvimento seria então a distância entre o nível
de desenvolvimento real, que se costuma determinar
através da solução independente de problemas, e o
nível de desenvolvimento potencial, determinado
através de solução de problemas sob a orientação de
um adulto ou em colaboração de companheiros mais
capazes.

Portanto, o nível de desenvolvimento real relaciona-se ao


desenvolvimento do intelecto, às funções já amadurecidas da criança e o
desenvolvimento potencial, às suas realizações assistidas, ou seja, o que está
delineado para o futuro, o que está em processo de maturação.

Dentro desta abordagem Vygotskyana, dedicou-se em seus estudos aos


conceitos de aprendizagem mediada, que depende de uma pessoa mais capaz
para promover o desenvolvimento do indivíduo. Os estudos mostram que o
fornecimento de suporte temporário e de assistência regulada ao desempenho da
criança é a possibilidade de melhores condições para resolução de problemas e
tarefas. O resultado alcançado é o desempenho potencial, aquele que vai além
do desempenho real.
2.3 A IMPORTÂNCIA DO PSICOPEDAGOGO NO CONTEXTO
ESCOLAR

O psicopedagogo é um profissional extremamente importante quando se


trata dos processos de ensino e aprendizagem dentro do ambiente escolar.
Segundo Porto (2007, p. 110), “o psicopedagogo atua no campo da
aprendizagem, e sua intervenção é preventiva e curativa, pois se dispõe a
detectar problemas de aprendizagem e “resolvê-los”, além de preveni-los,
evitando que surjam outros”. A atuação do psicopedagogo pode ser institucional/
ação preventiva, o que significa que este, deve dar conta dos processos de
aprendizagens docentes e discentes, dos seus medos, preconceitos, dificuldades
e facilidades que, articulados no conjunto, retratam a identidade de todo o grupo
escolar.

Além de ter um olhar globalizado sobre o fenômeno escolar,


considerando aspectos diversos: a relação aluno-professor e vice- versa;
condições do ambiente escolar; relação família-escola; relação de apropriação do
aluno com o objeto do conhecimento, entre outros. Já o psicopedagogo clínico/
ação curativa, também deve estar ciente de todas as relações que se
estabelecem no contexto escolar, no entanto seu enfoque é individualizado, deve
identificar, analisar, planejar, intervir através das etapas de diagnóstico e
tratamento.

E através do diagnóstico clínico, poderá identificar as causas dos


problemas de aprendizagem e tratá-las por meio de diversas atividades, com o
objetivo de identificar a melhor forma de se aprender e o que pode estar
causando este bloqueio. Cabe o Psicopedagogo, tanto institucional quanto
clínico, ou que atue em ambas as funções ter o entendimento do Projeto Político-
Pedagógico, do Regimento e de toda a estrutura física e documental da
instituição, para intervir nas diferentes instâncias que veiculam o conhecimento,
como este transita, como é apresentado aos alunos, avaliado, transformado,
enfim, analisando os processos e as modalidades de ensinar e de aprender.
Além de se utilizar de uns cem números de recursos como jogos,
desenhos, brinquedos, brincadeiras, conto de histórias, computador e outras
coisas que forem oportunas para que seus objetivos se concretizem. Cabe ao
Psicopedagogo ajudar a encontrar a melhor forma de estudar com a finalidade de
que ocorra a aprendizagem. É fundamental que o Psicopedagogo conheça como
e o que o sujeito aprende. Além de estar preparado para administrar possíveis
reações negativas da paciente frente algumas tarefas, tais como: resistências,
bloqueios, sentimentos, lapsos etc. E não parar de buscar, de conhecer, de
estudar, de investigar para compreender o máximo possível a realidade do aluno
avaliando.

Para Weiss (2004), a prática psicopedagógica deve considerar o sujeito


como um ser global, composto pelos aspectos orgânico, cognitivo, afetivo, social
e pedagógico. Contudo, considera-se o psicopedagogo tanto institucional como
clínico como o profissional mais indicado para atender indivíduos com problemas
de aprendizagem, tanto por oferecer uma ação multidisciplinar, envolvendo
diferentes áreas e especialistas, como por oferecer um imenso acervo de
técnicas de diagnóstico e tratamentos capazes de atingir e eliminar os problemas
de aprendizagens em suas raízes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ambiente escolar necessita acompanhar as transformações que


acontecem no mundo. Informações são constantes na vida social e escolar,
novos conhecimentos, novas formas de pensar e ver o mundo estão sendo
utilizadas e abandonadas. Até alguns anos atrás os antigos conceitos e
pensamentos, eram vistos como verdade irrefutável, agora, uma perspectiva
vem se renovando dia após dia, sendo necessário os profissionais
educacionais revendo e (re) analisando, atitudes e tomas de decisões, criando
perspectivas e novos pensamentos.

Se a visão da escola e dos educadores for transformadora e inclusiva,


todos perceberam os alunos como seres diferentes e com problemas e
dificuldades que com a ajuda e apoio especializado poderá solucionar ou
amenizar os obstáculos que encontram nos seus caminhos educativos.

Neste caminho de inclusão e respeito, os educandos que apresentam


algum tipo de dificuldade na aprendizagem veem na psicopedagogia um grande
auxilio, que oferece um amparo e recursos para que se tenha um estudo e uma
leitura minuciosa dos processos cognitivos e dos mecanismos psicológicos que
estão apresentando algum problema ou sintoma na situação de aprendizagem.

Cremos que um dos objetivos principais da Psicopedagogia é a


intervenção, a fim de adentrar, fazer-se parte da mediação entre o educando e
os objetos de conhecimentos, utilizando alguns modos para auxiliar o método,
com metodologias mais eficazes. Ainda ressaltamos aqui, a importância do
lúdico no processo de ensino e aprendizagem, utilizando jogos, brincadeiras,
canções, a empatia real pelo grau de maturidade da criança, como um dos
recursos mais eficientes para superar as dificuldades de aprendizagem,
despertando o desejo pelo conhecimento, criando um elo afetivo e social, além
de desenvolver a criatividade, autonomia, criatividade de alunos que sofre com
dificuldades em aprender ou distúrbios como o TDAH, um dos distúrbios mais
comuns, também considerado a principal causa do abandono ou fracasso
escolar.

A intervenção psicopedagógica institucional é primordial para a busca


de superação, visando o desempenho dos educandos no processo de
aprendizagem escolar, pois a avaliação permite que a instituição obtenha
autonomia para corrigir ou aprimorar o desempenho na aprendizagem.

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