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APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Nos dias atuais, com um mundo tão globalizado e cheio de informações e tecnologias
cada vez mais sofisticadas, o mundo, cada vez mais exige, que as pessoas sejam obrigadas a
mudar seu comportamento e conduta, investir em ética, é investir em um mundo melhor, no qual,
vamos deixar de herança para nossos filhos.
A ética corresponde ao estudo dos fenômenos do comportamento moral. As
possibilidades de abordagem para estudo do que podemos designar por fenômenos éticos são
muito diversificadas.
Quando estudamos um fenômeno, seja ele ético, químico, físico ou biológico, procuramos
estabelecer as causas que o produziram e os efeitos que dele resultam. Fixamos nossas atenções
no contexto em que ocorrem, e procuramos enunciar as leis que regem esse fenômeno. Os corpos
caem - é a expressão de um enunciado físico. Os estudos efetuados em torno da ideia contida na
queda dos corpos levaram ao enunciado das leis gravitacionais e inúmeros outros resultados. Um
vaso foi atirado sobre minha cabeça - esta expressão se refere a um fenômeno físico - o vaso
deslocou-se - e a um fenômeno ético - foi lançado por alguém, atendeu a um impulso humano,
respondeu à vontade do agressor.
Posso observar que, na maioria das vezes, os fenômenos éticos ocorrem simultaneamente
a fenômenos de outra natureza, sejam abstratos ou concretos, morais, intelectuais, químicos,
biológicos ou físicos.
- Vou à igreja para comungar - é uma explicação de conteúdo ético religioso.
- Herdei de meu pai a honra e a coragem - é expressão que revela um fenômeno ético
moral, relacionado à transmissão do que me parecem ser virtudes.
- Casei-me segundo os costumes e as leis. - informa o fenômeno ético de natureza moral
(mos, moris = costumes) e jurídica (segundo as leis).
- O cientista trabalha em laboratório. - é uma afirmação que revela vários fenômenos
éticos pois, fala de alguém que estudou e realizou sua vontade de tornar-se cientista, ou seja,
cumpriu um processo ético de formação e preparação do intelecto; de alguém que trabalha e
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cumpre uma função social, ações que envolvem fenômenos éticos de natureza subjetiva e social.
E, ao esclarecer o local do trabalho, ou seja, o laboratório, pressupõe a conclusão de todo o
processo de localização, construção e utilização do contexto físico.
- A cigana, como de costume, leu-me a mão - é o relato abreviado de um fenômeno ético.
Relaciona, da parte do consulente, a expectativa de saber da sorte, de novidades sobre o futuro,
conhecimento do destino e outras que tais. Da parte da cigana, ocorre a materialização de uma
tradição das mulheres de seu povo, que é a adivinhação, associada à expectativa de remuneração.
Saber a sorte, adiantar novidades sobre o futuro e conhecimento do destino são posturas de
natureza ética, tradicionais e costumeiras, frequentes em todos os povos. Ocorrem como
fenômenos éticos morais.
A materialização de uma tradição corresponde à execução física de uma ideia, pois a
materialização integra um fenômeno físico e a tradição é uma ideia de natureza essencialmente
ética. As ações e procedimentos humanos, individuais ou coletivos, isolados, grupais, nacionais
ou internacionais, são fenômenos éticos.
Sendo um campo do conhecimento destinado ao estudo das relações éticas entre o homem
e tudo que integra o seu contexto, precisamos, em primeiro lugar, definir qual é o ponto de
referência em torno do qual situaremos nossos conceitos. A temperatura ambiental não é objeto
da ética. Mas o homem deixar-se queimar ou congelar é um fenômeno ético. Relaciona vontades
e ideias.
Há elementos éticos que se assemelham aos elementos geométricos. Enquanto o ponto, a
reta, o plano, servem à geometria, a ideia, a linha e a forma de pensar servem à ética. Quero
introduzir-me no mundo da ética. Percebo que devo usar ideias, palavras, frases, linhas e formas
de pensar. Vou servir-me da linguagem discursiva, embora não ignore as outras formas de
comunicação. Cada linguagem é, em si mesma, um fenômeno ético. Na vivência de cada minuto
ocorrem ao meu redor sequencias de fenômenos éticos. Mesmo se paro de pensar, os fenômenos
continuam acontecendo. Antes que eu nascesse e depois que vier a morrer, a ocorrência desses
fenômenos seguirá normalmente. Os fenômenos éticos podem ser interpretados de maneira
subjetivo, mas não posso negar que eles são objetivos, que independem de mim ou da minha
existência.
Percebo que tudo que acontece no mundo tem por elementos ideia, vontade, criação, arte,
construção, nascimento, desenvolvimento, religião, poesia, sentimento, paixão, conhecimento,
saudades, tristezas, amor, ódio, vícios e virtudes. Esse conjunto integra o rol dos fenômenos
éticos. Tem abstrato e concreto. Até a ficção integra o universo das ideias. O tempo corre, afeta
o homem em todas as suas relações. Em si mesmo, o tempo não é um fenômeno ético, mas a
compreensão do tempo é de natureza ética. Por que a compreensão é um ato de conhecer.
Conhecer é saber enunciar a relação causa-efeito que rege e define o fenômeno.
Para a iniciação que nos propomos devo partir de mim mesmo. Tenho, como ponto de
partida, a ideia do que vou fazer. Procuro estender a primeira linha de pensar até o principal apoio
do intelecto. Nele amarrarei a outra ponta desta linha. Entendo que a iniciação individual nas
trilhas do conhecimento é um processo pessoal. Deve ser desenvolvida através de abstrações e
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também nas relações materiais, pois através das experiências pessoais o indivíduo pode chegar a
perceber o que ocorre em seu contexto.
A ética abrange todas as relações entre o indivíduo e o universo. Ser-nos-á inadmissível
negar os progressos científicos, tanto na abordagem do microcosmos como do macrocosmos.
Esta é uma experiência extremamente pessoal, que cada um pode vivenciar com a
velocidade que sua individualidade permite, sem exaurir, de uma só vez, todas as suas
possibilidades. Cada passo pode ser de progresso ou retrocesso. Progresso e retrocesso são ideias
também ligadas às noções do tempo. Cada movimento pode ser propício a um avanço. A iniciação
intelectual pelo campo da Ética pode ser repetida quantas vezes convier ao estudioso e, em cada
vez, existe a possibilidade de fazê-lo por trilhas diferentes.
Nos dias atuais, com um mundo tão globalizado e cheio de informações e tecnologias
cada vez mais sofisticadas, o mundo, cada vez mais exige, que as pessoas sejam obrigadas a
mudar seu comportamento e conduta, investir em ética, é investir em um mundo melhor, no qual,
vamos deixar de herança para nossos filhos.
O agir com ética, neste contexto, significa agir com determinadas regras e preceitos.
Porém, muitas pessoas não seguem ou não tem conhecimento códigos de éticas e não as praticam
no seu dia-a-dia. Agindo assim, de maneiras antiéticas, desonestas e injustas. O que poucos sabem
é que os princípios e valores éticos fazem parte da nossa sociedade há mais de 2.500 anos. Sendo,
assim, sua presença nas sociedade se faz essencial e inquestionável, pois propicia a valorização
do ser humano tanto na vida em sociedade como na vida particular. “A ética é a teoria ou ciência
do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é ciência de uma forma específica
de comportamento humano”. Até hoje muitos filósofos e pesquisadores procuram descrever o
comportamento e os costumes do ser humano na sociedade. E se confrontam ao tentar disseminar
ética de moral. O que encontrarmos em diversas literaturas é que ética é sinônimo de moral.
Contudo, a ética é uma palavra que vem do grego ETHOS, que significa estudo de caráter, juízo
do ser humano e reflete sobre a situação vivida, para ele, “A ética não analisa o que o homem
faz, como a psicologia e a sociologia, mas o que ele deveria fazer. É um juízo de valores, como
virtude, justiça, felicidade, e não um julgamento da realidade”. Já a moral é normativa e, ainda
de acordo com este autor, teve origem na Idade Média, originou-se do latim MORES. E significa
o “conjunto de costumes, 12 normas e regras de uma sociedade”. Contudo, iremos abordar neste
ano que se inicia, a necessidade de ações éticas do sujeito em sociedade ou não.
É necessário que haja a compreensão do impacto na tomada de decisões de cada um e
ações podem provocar. De maneira que isso possa garantir que todos conheçam bem o
funcionamento da sociedade e das relações interpessoais.
Quando falamos em ética, estamos nos referindo aos bons costumes, bons valores, válidos
para todos os seres humanos, como amor, paz, bondade e tolerância, entre outros tantos. Costume
em grego é “Éthos” (ética) e em latim significa “mores” (moral). Talvez esteja aí a origem da
costumeira confusão que fazemos sobre moral e ética.
A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. A
capacidade ética tem por objetivo a reflexão crítica do ato moral, ou seja, sobre o que é (ou pode
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ser) errado. Assim a ética não é moral. Moral é o objeto de estudo da ética, diz respeito aos
costumes, valores e normas de conduta de cada sociedade.
A ética, então, pode ser o regimento, a lei do que seja ato moral, o controle de qualidade
da moral. Daí os códigos de ética que servem para as diferentes micro-sociedades dentro do
sistema maior. A moral por sua vez, de acordo com Kant, “é aquilo que precisa ser feito,
independentemente das vantagens ou prejuízos que possa trazer”. Assim, quando praticamos um
ato moral, poderemos até sofrer consequências negativas, pois o que é moral para uns pode ser
amoral ou imoral para outros. Veja o exemplo.
A família do Sr. João tem o costume de tomar banho junta. Pai, mãe e filhos (meninas e
meninos) sempre tomaram banho juntos. É cultural, dentro da casa, a exposição do corpo nu entre
eles sem que haja conotações de sexualidade ou de promiscuidade. No entanto, seus vizinhos,
regidos por uma cultura totalmente avessa a esse tipo de comportamento, quando ficaram sabendo
do banho coletivo familiar daquela família, passaram a denomina-la de imoral. Esse simples e
pequeno exemplo, pode justificar o que foi afirmado acima: que ações morais, para uns, podem
ser imorais para outros. Não há como definir quem está “certo” ou quem está “errado”, é uma
questão cultural familiar, de uma micro-sociedade. Duas pessoas podem ter valores diferenciados
a respeito do que seja ato moral ou imoral, é uma questão de consciência pessoal. Daí o conceito
do Kant sobre “aquilo que precisa ser feito”.
Para qualificar, ou seja, para normatizar o que é ou não moral em micro e macro-
sociedades, instituíram-se os códigos de ética. Todas as sociedades têm o seu. Pode ser
documentado com parágrafos e capítulos ou pode ser, no caso de algumas culturas, uma forma
de viver aceita pelos seus membros. Na Índia existem algumas aldeias em que os mais velhos
mutilam sexualmente as meninas ainda crianças. Não está escrito em lugar algum que isso deve
ser feito, mas todos, apesar da revolta do resto da humanidade, mantém essa atitude em nome de
um ato ético que diz que, naquela sociedade a mulher não pode sentir prazer.
Os códigos de ética, então, servem para definir o que é e o que não é ato moral. Em nossa
sociedade capitalista que valoriza a posse de bens materiais e do lucro em detrimento dos valores
morais, o que vale é não quebrar o código de ética estabelecido. Assim, quando um deputado,
senador, prefeito ou vereador aumenta o seu salário em 300%, argumenta sem constrangimento
que “a legislação nos permite essa manobra”, colocando a culpa num regimento, estará sendo
ético, mas, imoral ao mesmo tempo.
A democracia, mal interpretada no seu objetivo, autoriza a sociedade, de modo geral, a
usar de qualquer forma manipulativa, que não atente aos códigos de ética como os regimentos e
código penal, por exemplo, para o acúmulo de bens. A minoria apoiada pelos políticos, pelos
capitalistas, enfim, por quem detêm o poder, cada vez ganha mais e, consequentemente, acumula
mais. Por outro lado temos a maioria dessa sociedade que não possui essas habilidades e
oportunidades, ou não se interessa por elas. Representam o contraponto das diferenças sociais,
no qual algumas pessoas possuem o que não conseguiriam consumir em sua existência e por isso
esbanjam adquirindo carros de milhões e casas suntuosas, desvirtuando por completo o conceito
de ética representar bons costumes e bons valores, e por outro lado indivíduos mantendo suas
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famílias com salário mínimo e vivendo uma sub vida, na miséria. É ético? Sim! Pois não viola as
leis do sistema. É moral? Não! Pois viola os direitos humanos em toda a sua essência.
Consequências? Muitas! Principalmente no quesito, aumento do comportamento anti-social
como a corrupção, sonegação, agressividade e violência, o que resta a muitos como recurso para
demonstrar a sua indignação.
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A CONDIÇÃO HUMANA
Quando eu era pequena e meu pai queria reforçar algum comportamento de coragem e
enfrentamento de situações difíceis, costumava dizer: "Seja homem, minha filha!"
Evidentemente, isso era dito em tom de brincadeira, acentuando a contradição entre o masculino
e o feminino. Mas, na verdade, ele queria dizer que o homem (enquanto ser humano em geral)
deve ser capaz de enfrentar as dificuldades apesar do medo; ou, ainda, que, embora na sociedade
machista o papel da coragem seja reservado aos homens (sexo masculino), eu também deveria
ser forte, mesmo sendo mulher. Assim, ao mesmo tempo que meu pai se referia a um atributo
louvável do ser humano, criticava as concepções de feminilidade que de certa forma desculpam
e reforçam a "fraqueza" da mulher.
Se observarem com atenção, irão constatar que várias vezes por dia colocamos questões
como essas que, no fundo, no fundo, partem da pergunta fundamental: o que é o homem? Embora
não seja formulada de maneira tão explícita, essa questão se encontra subjacente na conversa
diária. Vejamos alguns exemplos:
• "Aquele lá? Não é gente, mais parece um bicho!" (Isso supõe que eu saiba qual é a
diferença entre homem e animal.)
• "Essas coisas acontecem desde que o homem é homem!" (A natureza humana é
imutável.)
• "O que seria de mim sem a graça de Deus?" (O ser do homem é explicado pelo divino,
e o homem não é nada sem a fé.)
• "Eu uso a cabeça e não me deixo arrastar pelas paixões." (O homem é um ser racional,
e as paixões são fraquezas.)
• "De que adianta o trabalho se não houver futebol e carnaval?" (O homem é um ser de
desejo, e o prazer é fundamental no mundo humano.)
• "Não adianta lutar contra o destino. O que tem de ser, será." (O homem não é livre, mas
predestinado.)
• "A ocasião faz o ladrão." (A natureza humana é má.)
A lista poderia não ter fim, pois há diversas situações de vida que exigem reflexão e
retomada de valores. Por exemplo, a perda de emprego, o rompimento de laços de amizade ou de
amor, o enfrentamento de risco de vida ou a morte de um conhecido, a comemoração de uma data
especial (18 anos de vida, ou 40 anos...). Em todos esses momentos é feito um balanço do já
vivido que leva à reafirmação de alguns valores, ou, dependendo do caso, a uma mudança radical
na forma de pensar e agir.
CULTURA
Os animais vivem em harmonia com sua própria natureza. Isso significa que todo animal
age de acordo com as características da sua espécie quando, por exemplo, se acasala, protege a
cria, caça e se defende. Os instintos animais são regidos por leis biológicas, de modo que podemos
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TORNAR-SE HOMEM
O homem não nasce homem, pois precisa da educação para se humanizar. Muitos são os
exemplos dados por antropólogos e psicólogos a respeito de crianças que, ao crescerem longe do
contato com seus semelhantes, permaneceram como se fossem animais.
Na Alemanha, no século passado, foi encontrado um rapaz que crescera absolutamente
isolado de todos. Kaspar Hauser, como ficou conhecido, permaneceu escondido por razões não
esclarecidas. Como ninguém o ensinara a falar, só se tornou propriamente humano quando sua
educação teve início. Nessa ocasião ficou constatado que possuía inteligência excepcional, até
então obscurecida pelo abandono a que fora relegado.
O caso da americana Helen Keller é similar, embora as circunstâncias sejam diferentes.
Nascida cega, surda e muda, mesmo vivendo entre seus familiares a menina permaneceu afastada
do mundo humano até os sete anos de idade, quando a professora Anne Sullivan lhe tornou
possível a compreensão dos símbolos, introduzindo-a no mundo propriamente humano.
Esses casos extremos servem para ilustrar o processo comum pelo qual cada criança
recebe a tradição cultural, sempre mediada pelos outros homens, com os quais aprende os
símbolos e torna-se capaz de agir e compreender a própria experiência.
A linguagem simbólica e o trabalho constituem, assim, os parâmetros mais importantes
para distinguir o homem dos animais. Vamos, então, reforçar algumas características desse "estar
no mundo" tão típico do ser humano.
Não se pode dizer que o homem tem instintos como os dos animais, pois a consciência
que tem de si próprio o orienta, por exemplo, para o controle da sexualidade e da agressividade,
submetidas de início a normas e sanções da coletividade e posteriormente assumidas pelo próprio
indivíduo. O homem foi "expulso do paraíso" a partir do momento em que deixou de se instalar
na natureza da mesma forma que os animais ou as coisas.
Assim, o comportamento humano passa a ser avaliado pela ética, pela estética, pela
religião ou pelo mito. Isso significa que os atos referentes à vida humana são avaliados como
bons ou maus, belos ou não, pecaminosos ou abençoados por Deus, e assim por diante.
Essa análise é válida para qualquer outra ação humana: andar, dormir, alimentar-se não
são atividades puramente naturais, pois estão marcadas pelas soluções dadas pela cultura e,
posteriormente, pela crítica que o homem faz à cultura.
Ao definir o trabalho humano, assinalamos um binômio inseparável: o pensar e o agir.
Toda ação humana procede do pensamento, e todo pensamento é construído a partir da ação. A
capacidade de alterar a natureza por meio da ação consciente torna a situação humana muito
específica, por estar marcada pela ambiguidade e instabilidade.
A condição humana é de ambiguidade porque o ser do homem não pode ser reduzido a
uma compreensão simples, como aquela que temos dos animais, sempre acomodados ao mundo
natural e, portanto, idênticos a si mesmos. O homem é o que a tradição cultural quer que ele seja
e também a constante tentativa de ruptura da tradição. Assim, a sociedade humana surge porque
o homem é um ser capaz de criar interdições, isto é, proibições, normas que definem o que pode
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e o que não pode ser feito. No entanto, o homem é também um ser capaz de transgressão.
Transgredir é desobedecer. Não nos referimos apenas à desobediência comum, mas àquela que
rejeita as fórmulas antigas e ultrapassadas para instalar novas normas, mais adequadas às
necessidades humanas diante dos problemas colocados pelo existir. A capacidade inventiva do
homem tende a desalojá-lo do "já feito", em busca daquilo que "ainda não é". Portanto, o homem
é um ser da ambiguidade em constante busca de si mesmo.
E é por isso que o homem é também um ser histórico, capaz de compreender o passado e
projetar o futuro. Saber aliar tradição e mudança, continuidade e ruptura, interdição e transgressão
é um desafio constante na construção de uma sociedade sadia.
CONCEPÇÕES DE HOMEM
A TRADIÇÃO OCIDENTAL
Para Platão, a verdadeira realidade se encontra no mundo das Ideias, lugar da essência
imutável de todas as coisas, dos verdadeiros modelos ou arquétipos. Todos os seres, inclusive o
homem, são apenas cópias imperfeitas de tais realidades eternas e se aperfeiçoam à medida que
se aproximam do modelo ideal.
Para Aristóteles, o ser é constituído de matéria e forma, e as transformações são
explicadas pelo argumento de que todo ser tende a tornar-se atual a forma que tem em potência.
Por exemplo, a semente quando enterrada tende a se transformar no carvalho que era em potência.
Transposta essa ideia para o homem, conclui-se que também os seres humanos têm formas em
potência a serem atualizadas, ou seja, têm uma natureza essencial que se realiza aos poucos, em
direção ao pleno desenvolvimento. E, tanto para Platão como para Aristóteles, a plenitude
humana coincide com o aperfeiçoamento da razão. Até hoje seguem essa tendência os que
definem a educação como sendo o desenvolvimento das "potencialidades do indivíduo", o que
supõe a aceitação da existência de um modelo abstrato de homem a ser alcançado. Chamamos
essencialista ao tipo de pedagogia que coloca como função da educação realizar o que o homem
deve vir-a-ser.
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Na Grécia Antiga, muito antes de Aristóteles estruturar filosoficamente a Ética como uma
verdadeira “Ciência do éthos”, havia uma ética tradicional, narrada e divulgada nos versos épicos
de Homero, o educador da Grécia. Esses poemas enalteciam o heroísmo de Aquiles, a sabedoria
de Nestor, a coragem e a audácia de Ulisses, a fidelidade de Penélope e deles faziam verdadeiros
modelos paradigmáticos de conduta ética, que o povo grego procurava imitar.
O mesmo poder-se-ia dizer das lições de vida e de sabedoria que emanavam das máximas
dos Sete Sábios da Grécia, dentre as quais eu destacaria aquela que afirma: “ótima é a medida”,
e as que exortam: “não desejes o impossível” e “não enriqueças de modo desonesto”. Estas
máximas éticas fazem parte do patrimônio da sabedoria tradicional do povo helênico. Depois,
elas foram transformadas em uma verdadeira ciência da ética, quando foram articuladas aos
princípios metafísicos, nos quais encontraram o segredo da validade de suas exortações. Mas,
vejamos primeiro o que os gregos entendiam pelo termo éthos, pois é nele que a palavra Ética
tem sua raiz etimológica.
Etimologicamente, a palavra grega “éthos” tem uma polissemia muito significativa.
Quando escrito com a letra “ε” (épsilon), ela significa “costume”, vale dizer, aquela “disposição
interior”, que leva o indivíduo, com uma certa constância do agir, a compartilhar da comunidade
social a que pertence.
Porque desprovido da necessidade e do determinismo natural que regem o mundo da
Physis, vale dizer, o mundo da Natureza e garantem a sua ordem, o ser humano precisa de uma
certa “constância no agir” para conseguir um estilo de vida harmonioso com seus companheiros
de existência e para não se perder nos labirintos criados pela sua própria liberdade. Esta
“constância no agir”, significada pelo ethos-costume, justificava, para os gregos, a analogia entre
a ordem cósmica do universo e a ordem ética do agir humano.
Uma forma mais acabada deste éthos-costume é aquela expressa pelo “hábito”, que os
gregos designavam com a palavra “héxis” e que traduzia a maneira regular e constante de agir,
que só era capaz de possuir, aquele que tinha um certo domínio de si e de seus atos. Olhado, desse
modo, o éthos, seja na dimensão do “costume”, seja na dimensão do “hábito”, cria um espaço
para a realização individual e social do ser humano. Na constância do costume, as ações, na
medida em que são repetidas, formam os hábitos, e, desse modo, orientam o ser humano para a
conquista dos bens e dos valores, com os quais pode dar sentido à sua vida..
O conceito de virtude (areté) tinha um valor todo especial. Primeiramente, o homem
virtuoso era um homem “kósmios”, vale dizer, um homem sintonizado com a harmonia da ordem
cósmica. O seu oposto era o homem “hybristhos”, isto é, o homem transgressor da medida e
escravo da desmedida, em total oposição à noção de medida (métron), na qual Aristóteles via a
essência da virtude. Dizendo que a virtude era sempre o meio termo entre dois excessos,
Aristóteles não estava fazendo a apologia da mediocridade, mas o elogio do equilíbrio capaz de
harmonizar, no seu modo de agir, as tendências contrárias e contraditórias da natureza humana.
Assim sendo, o homem corajoso é aquele que consegue equilibrar, em uma conduta sensata e
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Se na Grécia Antiga, os homens não se sentiam responsáveis pelos seus próprios atos,
porque viviam inteiramente submissos aos caprichos e ao destino estabelecido pelos deuses, com
Sócrates, o homem passou a ter uma outra concepção de si e foi no interior de sua alma, que ele
foi buscar as razões do seu viver. Para Sócrates, o importante, na vida, não era apenas o fato de
viver, mas as razões pelas quais o homem vive. Daí porque todo seu filosofar teve como objetivo
cuidar da alma dos homens seus concidadãos, a fim de torná-los melhores. Platão afirma que foi
o deus Apolo quem confiou a Sócrates esta missão, fazendo dele um terapeuta da alma humana.
Integrando à sua filosofia o “conhece-te a ti mesmo” do Oráculo de Delfos, ele preparou o terreno
para Platão e Aristóteles estruturarem depois as bases metafísicas da ciência e da consciência
ética.
Não seria este o momento oportuno para analisar como nasceu, desenvolveu-se e se
estruturou a ciência da ética na tradição socrático-platônica e na tradição aristotélica. Direi apenas
como a Ética, regida pela Razão prática, surgiu nas origens da cultura ocidental, dando início ao
ciclo civilizatório no qual ainda hoje nos movemos.
O Lógos, ou a Razão, que substituiu o mito na explicação filosófica da ordem da
Natureza, tornou-se também a Razão que rege e orienta a conduta dos homens. Se, como vimos,
o éthos-costume já sustentava uma certa “constância no agir”, isto era feito precisamente porque
o homem podia ser dirigido no seu agir pelos ditames de sua Razão. A Razão, que dirige o agir
ético, é a Razão prática, que Aristóteles distinguiu tanto da razão teórica, destinada à
representação dos conceitos e à contemplação da verdade, quanto da razão poética, ou técnica,
destinada a dirigir o trabalho produtivo do homem no campo do fazer. A razão teórica dirige o
pensar, a razão prática o agir e a razão técnica o fazer do homem como ser no mundo. Enquanto
a razão técnica destina-se ao aperfeiçoamento dos objetos, que o homem trabalha para
transformá-los em obras humanas e inseri-las no universo simbólico da cultura, a finalidade da
razão prática é o autoaperfeiçoamento do ser humano, mediante a consecução dos bens e dos
valores, desde os materiais até os espirituais, nos quais se escondem as razões do viver e o sentido
da vida.
Para os gregos, a Razão prática tinha uma abertura metafísica para o horizonte universal
do Bem, e isto fundamentava a prática ética no princípio ontológico que assim se enunciava: o
Bem deve ser feito − Bonum est faciendum. Daí eles concluíam que há um dever-ser que é
imanente à prática ética, que dá ao éthos uma valoração universal, a qual antecede e transcende
a particularidade dos costumes das diversas culturas humanas em que ele se manifesta.
Em qualquer que seja a cultura, quaisquer que sejam seus costumes e hábitos, por mais
diferentes que estes possam ser nos diferentes povos em que vigoram, esses hábitos e costumes
só serão dignos de uma cultura verdadeiramente humana, se forem dirigidos por este princípio
ontológico da prática ética: Bonum est faciendum, vale dizer, o bem deve ser feito.
Quando não perde de vista esta dimensão universal, o éthos ao se inscrever na
particularidade das diversas culturas, ao invés de se fragmentar em valores particulares regidos
unicamente pelos caprichos e interesses dos indivíduos, ele “suprassume” (no sentido da
Aufhebung hegeliana), na sua particularidade cultural, o valor de seus princípios universais e
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temos, assim, a constituição do sujeito ético, que, embora seja particular na medida em que é
inserido em uma cultura particular, nem por isso deixa de ser um sujeito de direitos e de deveres
universais.
Nesta tendência ontológica da Razão prática para o Bem, estaria, pois, o segredo do valor
ético universal da conduta humana, que embora perca esta universalidade ao se particularizar na
variedade das diversas culturas, é ao mesmo tempo conservado, quando, no dinamismo de seu
movimento dialético, “suprassume” (para continuar falando como Hegel) na singularidade do
sujeito ético, tanto a particularidade da cultura em que se insere, quanto a universalidade de seus
princípios.
Isso concretamente significa que as leis mudam e devem mudar através da História e os
costumes, eles também, mudam e devem mudar nas diversas culturas e nas diversas épocas do
devir histórico; mas, se as novas leis e os novos costumes deixarem de procurar o Bem da
comunidade humana, a ética entrará em crise por maior que seja o progresso sócio-econômico
das culturas particulares.
Para Aristóteles, o homem é essencialmente não só um animal racional, mas também um
animal político (Zóon politikón). Isto quer dizer que, para os gregos, os homens não podiam
encontrar uma verdadeira auto-realização sem levar em consideração o bem estar da pólis ou da
comunidade política a que pertenciam. Político era o homem que primordialmente pensava nos
interesses e no bem da comunidade a que pertencia!
Não obstante tudo isso, a Grécia do século V a.C. viveu, ela também, uma crise ética, que
tem muitos traços semelhantes à crise ética que estamos vivendo atualmente. É esta crise ética de
nossos dias, suas causas e consequências que passarei a analisar, em seguida, na segunda parte
deste ensaio.
DEFINIÇÃO DE ÉTICA
Do ponto de vista etimológico, a palavra ética vem do grego "ethos", que significa "modo
de ser", "caráter", enquanto forma de vida adquirida ou conquistada pelo homem.
Por sua vez, moral vem do latim "mos" ou "mores", que quer dizer "costume" ou
"costumes", no sentido de conjunto de normas ou regras adquiridas por hábito. A moral se refere,
assim, ao comportamento adquirido ou modo de ser conquistado pelo homem.
Tem-se, então, que, na origem, "ethos" e "mos", caráter e costume, fundamentam-se num
modo de comportamento que não corresponde a uma disposição natural, mas que é adquirido ou
conquistado por hábito. Uma das possíveis definições de ética seria a de que é uma parte da
filosofia (e também pertinente às ciências sociais) que lida com a compreensão das noções e dos
princípios que sustentam as bases da moralidade social e da vida individual. Em outras palavras,
trata-se de uma reflexão sobre o valor das ações sociais consideradas tanto no âmbito coletivo
como no âmbito individual. Ética é o nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos
morais. A palavra ética é derivada do grego, e significa aquilo que pertence ao caráter. Diferencia-
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Por outro lado, temos que a moral é um conjunto de normas, princípios e valores, segundo
o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade,
de tal maneira que essas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livre e
conscientemente, por uma convicção íntima e não de uma maneira mecânica, externa ou
impessoal.
Isso significa dizer que a moral possui um caráter social porque:
a) os indivíduos se sujeitam a princípios, normas ou valores socialmente estabelecidos.
b) regula somente atos e relações que acarretam consequências para outros e exigem
necessariamente a sanção dos demais.
c) cumpre a função social de "induzir" os indivíduos a aceitarem livre e conscientemente
determinados princípios, valores ou interesses.
d) é válida de modo absoluto, para qualquer tempo ou lugar.
Como decorrência, todo homem que não pautar sua conduta pelo comportamento moral
é julgado, discriminado, diferenciado, a ponto de, eventualmente, ser até enclausurado, não
importando se suas atitudes lhe pareçam corretas. O que importa, para aquela sociedade, é que
seus procedimentos não coincidem com o conceito histórico e social. É o grito de guerra contra
aquela não-convicção íntima de que as coisas são como são, porque assim deve ser.
“A moral, como sinônimo de ética, pode ser conceituada como o conjunto das normas
que, em determinado meio, granjeiam a aprovação para o comportamento dos homens”. Assim,
ainda, podemos dizer que “A ética, como expressão única do pensamento correto, conduz a ideia
da universalidade moral”.
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OBJETIVO DA ÉTICA
Todo mundo já ouviu falar no "jeitinho brasileiro": poder, não pode, mas sempre dá-se
um jeito... Muitos até chegam a achar que se trata de virtude a complacência com a qual as pessoas
"fecham os olhos" para certas irregularidades e ainda favorecem outras tantas.
Certos "jeitinhos" parecem inocentes ou engraçados, e às vezes até são vistos como sinal
de vivacidade e esperteza: por exemplo, quando se fura a fila do ônibus ou do cinema. Ou, então,
para pegar o filho na escola, que mal há em parar em fila dupla?
Outros "jeitinhos" não aparecem tão às claras, mas nem por isso são menos tolerados:
notas fiscais com valor declarado acima do preço para o comprador levar sua comissão, compras
sem emissão de nota fiscal para sonegar impostos, concorrências públicas com "cartas marcadas".
O que intriga nessa história toda é que as pessoas que estão sempre "dando um jeitinho"
sabem, na maioria das vezes, que transgridem padrões de comportamento. Mas raciocinam como
se isso fosse absolutamente normal, visto que é comum: só eu? e os outros? todo mundo age
assim, quem não fizer o mesmo é trouxa; quem não gosta de levar vantagem em tudo?
Os exemplos dados ora são transgressões medianamente graves (como interromper o
trânsito na rua), ora são ações claramente imorais (como o roubo do dinheiro público nas
concorrências fraudulentas). Em todos esses casos, o "jeitinho" surge como forma autoritária e
individualista de desconsiderar as normas da vivência em coletividade.
Não mais considerando apenas o famigerado "jeitinho", ações de outro tipo também
podem ser consideradas reprováveis, como mentir, roubar, matar, explorar o trabalho alheio e
assim por diante.
Estamos diante dos fatos que pretendemos analisar. Certas ações são objeto de valoração:
podemos considerá-las justas ou injustas, certas ou erradas, boas ou más. E, em função de tais
avaliações, são dignas de admiração ou desprezo. Porém o que é valorar? O que são valores?
O QUE É VALOR
Olhe à sua volta. Escolha um objeto ou pessoa e faça um juízo de realidade: a) esta caneta
é azul; b) esta caneta é nova; c) Maria saiu por aquela porta; d) a barraca está cheia de frutas; e)
João foi à igreja.
Observe também que, ao mesmo tempo, é inevitável fazer juízos de valor: a) esta caneta
azul não é tão bonita quanto a vermelha; b) a caneta antiga escrevia melhor que esta; c) Maria
não deveria ter saído antes de terminar o trabalho; d) as frutas fazem bem à saúde; e) orar
reconforta o espírito.
No primeiro caso trata-se de avaliação estética, no segundo considera-se o valor de
utilidade, no terceiro parece ocorrer a transgressão de um valor moral, no quarto há referência ao
valor vital e, no último, ao valor religioso.
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Há, portanto, o mundo das coisas e o mundo dos valores. Mas não podemos dizer que os
valores são da mesma maneira que as coisas são. Isto é, não existe o valor em si enquanto coisa,
mas o valor é sempre uma relação entre o sujeito que valora e o objeto valorado.
Atribuir um valor a alguma coisa é não ficar indiferente a ela. Portanto, a não-indiferença
é a principal característica do valor.
Isso significa que os valores existem na ordem da afetividade, ou seja, não ficamos
indiferentes diante de alguma coisa ou pessoa, pois somos sempre afetados por elas de alguma
forma. Reclamamos da caneta que não escreve bem, ouvimos várias vezes com prazer a música
de nossa preferência, recriminamos quem usa de violência e assim por diante.
Valorar é uma experiência fundamentalmente humana que se encontra no centro de toda
escolha de vida. Fazer um plano de ação nada mais é do que dar prioridade a certos valores, ou
seja, escolher o que é melhor (seja do ponto de vista moral, utilitário etc.) e evitar o que é
prejudicial para se atingir os fins propostos.
A consequência de qualquer valoração é, sem dúvida, dar regras para a ação prática.
Assim, se o ar é um valor para o ser vivo, é preciso evitar que a poluição atmosférica prejudique
a qualidade desse bem indispensável. Se a credibilidade é um valor, não posso estar o tempo todo
mentindo, caso contrário as relações humanas ficariam prejudicadas. Portanto, diante daquilo que
é, a experiência dos valores orienta para o que deve ser.
Neste capítulo, dentre os mais diversos valores possíveis, escolhemos analisar os valores
morais. Moral é o conjunto de regras de conduta consideradas válidas para um grupo ou para uma
pessoa.
Veremos, a seguir, qual é a origem desses valores e o que caracteriza o ato propriamente
moral.
Se os valores não são coisas, pois resultam da experiência vivida pelo homem ao se
relacionar com o mundo e os outros homens, talvez pudéssemos concluir que tais experiências
variam conforme o povo e a época. É o que parece nos sugerir a diversidade de costumes: para
algumas tribos, é indispensável matar os velhos e as crianças que nascem com algum defeito, o
que para nós pode parecer incrível crueldade. Na Idade Média era proibido dissecar cadáveres, e
no entanto as instituições de justiça tinham o direito de torturar seres vivos. Nosso costume de
comer bife escandaliza o hindu, para quem a vaca é animal sagrado.
Isso significa que os valores são em parte herdados da cultura. Aliás, a primeira
compreensão que temos do mundo é fundada no solo dos valores da comunidade a que
pertencemos.
Em tese, tais valores existem para que a sociedade subsista, mantenha a integridade e
possa se desenvolver. Ou seja, a moral existe para se viver melhor. Talvez essa afirmação cause
espanto, se considerarmos que as regras morais são concebidas como condição de repressão
humana, sendo, assim, geradoras de infelicidade. Isso também é verdadeiro, mas só enquanto
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deformação da moral autêntica e em contexto diferente daquele que estamos considerando aqui.
O que nos interessa enfatizar, em um primeiro momento, é que os grupos humanos precisam de
regras para viver bem.
Por isso é possível entender como, em certas tribos, onde há escassez de alimentação, há
o costume de matar crianças defeituosas e velhos incapazes de produzir, uma vez que se tornam
peso prejudicial à sobrevivência do grupo.
Dito de outra forma, mesmo que varie o conteúdo das regras morais, conforme a época
ou lugar, todas as comunidades têm a necessidade formal de regras morais. É formalmente correto
que a coragem é melhor que a covardia, que a amizade é um valor desejável entre os membros
de um grupo. No entanto, a coragem é um valor formal cujo conteúdo varia. Tomemos um
exemplo corriqueiro, ainda que não referente à moral propriamente dita: se alguns riem do caipira
com medo de atravessar a avenida na grande cidade, certamente será ele que rirá do citadino
assustado com sapos e cobras na fazenda. Transportando o exemplo para o campo da moral, a
coragem do guerreiro da tribo é certamente diferente da coragem do homem urbano desafiado,
por exemplo, pelos riscos da corrupção. Se a amizade é um valor universal, a sua expressão varia
conforme os costumes. Na sociedade patriarcal, em que a mulher se encontra confinada ao lar e
subordinada ao homem, é impensável que ela tenha amigos do sexo masculino fora do círculo de
amizades do seu próprio marido ou distante do seu olhar benevolente. Isso muda nos núcleos
urbanos, após a liberação da mulher para o trabalho fora do lar.
SOCIAL E PESSOAL
Voltemos à objeção ensaiada alguns parágrafos atrás: nem sempre as regras morais visam
ao bem da comunidade enquanto um todo. Sendo inúmeros os exemplos, vamos selecionar
apenas alguns deles.
Por mais estável que seja a sociedade, sempre há mudança das relações entre as pessoas
e grupos, na luta pela subsistência. Então, certas regras valem em determinadas circunstâncias e
deixam de valer quando ocorrem alterações nas relações humanas. No entanto, existe a tendência
de se resistir às mudanças, e, quando as regras permanecem inflexíveis, sedimentadas, acabam
sendo esvaziadas de seu conteúdo vital e ficam caducas e sem sentido. A sociedade passa, então,
por um momento de crise moral para cuja superação são exigidas inventividade e coragem, a fim
de ser recriada uma moral verdadeiramente dinâmica e comprometida com a vida.
Geralmente as morais conservadoras se petrificam quando a sociedade se divide em
grupos antagônicos nos quais certos setores desejam manter privilégios. Nesses casos, o que é
mostrado como bom para todos na verdade só é bom para os que se acham no poder.
Para manter o status quo, isto é, a situação vigente de forma inalterada, predominam a
intolerância e a negação do pensamento divergente. Por exemplo, o fanatismo religioso considera
herético todo pensamento que se distancia da ortodoxia. Nas sociedades escravistas, muito tempo
após a abolição da escravatura, persistem os preconceitos relativos à raça escravizada. Cem anos
após a Lei Áurea, os negros brasileiros ainda têm de lutar não só contra os julgamentos
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depreciativos que os brancos fazem deles, mas também contra a própria auto-imagem mutilada
pela herança de submissão.
A experiência efetiva da vida moral supõe, portanto, o confronto contínuo entre a moral
constituída {isto é, os valores herdados) e a moral constituinte, representada pela crítica aos
valores ultrapassados. O esforço de construção da vida moral exige a discussão constante dos
valores vigentes, a fim de verificar em que medida sua realização se faz em favor da vida ou da
alienação.
O SUJEITO MORAL
Seriam então os valores, além de relativos ao lugar e ao tempo, também subjetivos, isto
é, dependentes das avaliações de cada indivíduo?
Se cada um pudesse fazer o que bem entendesse, não haveria moral propriamente dita. O
sujeito moral tem a intuição dos valores como resultado da intersubjetividade, ou seja, da relação
com os outros. Não é o sujeito solitário que se toma moral, pois a moral se funda na solidariedade:
é pela descoberta e pelo reconhecimento do outro que cada homem se descobre a si mesmo. Intuir
o valor é descobrir aquele que convém à sobrevivência e felicidade do sujeito enquanto
pertencente a um grupo.
O que acontece com frequência é que, em certas épocas, não há condições de se perceber
alguns valores — por exemplo, que a escravidão é desprezível —, e outras épocas em que valores
fundamentais são esquecidos: na cidade grande, o individualismo exacerbado torna as pessoas
menos generosas e mais desconfiadas.
O sujeito moral surge quando, ao responder à pergunta "como devo viver?", o faz com
pretensão de validade universal. Ou seja, o sujeito moral não é o eu empírico, individual, egoísta,
mas é o eu enquanto capaz de reconhecer o Outro como sendo um Outro-Eu: o Outro é tão
importante quanto eu sou.
Ninguém nasce moral, mas torna-se moral. Há uma longa caminhada a ser percorrida para
a aprendizagem de descentralização do eu subjetivo, a fim de superar o egocentrismo infantil e
tornar-se capaz de "conviver".
O HOMEM VIRTUOSO
Quando nos referimos ao homem virtuoso, a imagem que nos vem é de alguém amável,
dócil, cordato, capaz de renúncia e pronto para servir aos outros. Trata-se de uma representação
inadequada e muitas vezes perigosa. Nietzsche referia-se à "moral de escravos" como sendo
aquela em que as falsas virtudes se fundam na fraqueza, no servilismo, na renúncia do amor de
si e, portanto, na negação dos valores vitais.
A palavra virtude vem do latim vir, que designa "o homem", "o varão" (daí o adjetivo
viril). Virtus é "poder", "força", "capacidade". O termo grego areté significa "qualidade da
excelência", "mérito". Portanto, o homem virtuoso nada tem de frágil; ao contrário, virtude é
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capacidade de ação, é potência. Para Kant, a "virtude é a força de resolução que o homem revela
na realização do seu dever".
A virtude, enquanto disposição para querer o bem, supõe a coragem de assumir os valores
escolhidos e enfrentar os obstáculos que dificultam a ação.
Por isso a noção de virtude não se restringe a apenas um ato moral, mas consiste na
repetição e continuidade do agir morai. Aristóteles já afirmava que "uma andorinha, só, não faz
verão", para dizer que a virtude não se resume no ato ocasional e fortuito, mas precisa se tornar
um hábito.
Ainda que não faça parte dos nossos objetivos a análise das definições registradas nos
dicionários, optamos por apresentar as definições expressas no Dicionário Escolar da Língua
Portuguesa, para que o leitor possa, antes de entrarmos na perspectiva dos autores selecionados
para compor nossa base teórica, observar a proximidade entre os dois termos, ainda que tenhamos
grifado os trechos que melhor se encaixam na nossa discussão: Ética. s.f. 1. (Fil.) Estudo dos
valores e normas que permeiam a conduta humana dentro da vida prática. 2. (Fil.) Conjunto
desses valores e normas. Moral. adj.1.Relativo aos bons costumes: valores morais. 2. Pertencente
ao domínio do espírito, da consciência, por oposição ao físico e material: sofrimento moral. 3.
Que segue as regras de conduta socialmente aceitas, correto, austero, ético: atitude moral. 4. Que
encerra uma lição, que ensina e educa; edificante: fábula moral. S.m. 5. Conjunto dos valores
morais de uma pessoa ou grupo: Aquela gente preza o moral mais que tudo. 6. Disposição de
espírito, de ânimo: O médico procurou levantar o moral do paciente. 7. Espírito de luta diante de
dificuldades e perigos; brio, energia, coragem: O comandante exaltou o moral da tropa antes do
combate. Sf. 8. (Fil.) Parte da filosofia que estabelece as regras de conduta, fundadas na noção
do bem e do mal. 9. Conjunto dos princípios normativos do comportamento de um grupo social
ou de uma sociedade: moral burguesa, moral cristã. 10. Ensinamento ou lição que e tira de um
fato real ou de uma obra de ficção: E esta é a moral da história. 11. Pretensão de importância ou
prestígio diante de outro(s): Achou-se cheio de moral por ter sido promovido.
Em sua etimologia, o termo moral, deriva-se do latim moralis e quer dizer “relativo aos
costumes”. Surgiu, na verdade, na tentativa de tradução da palavra grega ethos, que significa
hábito, motivo inicial pelo qual são consideradas sinônimos. Ética, portanto, é um conjunto de
valores e princípios que, usamos para decidir as três grandes questões da vida: “Quero?, Devo?,
Posso?”, ainda que, existem coisas que queremos, mas não devemos, outras que devemos, mas
não podemos e ainda as que podemos, mas não queremos. De acordo com tal perspectiva, faz-se
possível o alcance da paz interior, também conhecida como paz de espírito, quando o que
queremos é o que podemos e devemos
Essas questões são definidas por nós através de ensinamentos e também das
normatizações sociais, que, mesmo que mudem, deixam os costumes; como exemplo podemos
citar a postura que, geralmente, temos em ambientes fechados como auditórios, locais estes onde,
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antigamente, era fundamental que houvesse uma placa com o aviso “não fumar” e hoje em dia já
não é tão necessário, uma vez que essa postura já foi introjetada por nós, enquanto sociedade.
Ética vem a ser, desta forma, a teoria que dá sustentação às nossas ações, enquanto moral vem a
ser a prática desta teoria, ou seja, nessa concepção, moral pode ser compreendida como o
conjunto de nossas ações, baseado no conjunto de nossas crenças e valores.
Então, “Como devo agir?”; “Que vida eu quero viver?”. A pergunta a ser feita para a
compreensão de moral é a primeira: “Como devo agir?”, pelo fato de que moral está diretamente
relacionada aos deveres. Ele afirma que a moralidade se expressa no ser humano a partir do
sentimento que este tem de obrigatoriedade, mesmo quando não há leis que o obriguem a agir.
Outrossim, nos lembra ainda que há grande variação entre o que é aceito ou não em uma
sociedade, visto que a moral atinge a grupos específicos, enquanto a ética atinge todos, em sentido
mais universal.
Ademais, o sentimento de obrigatoriedade é fundamental para a conduta ética do ser
humano, como forma de garantia pessoal da moralidade, para que este não aja de forma ética
somente quando há risco de punição. Este sentimento funciona como uma autoimposição, na
tentativa de agradar ou atender o que as pessoas, enquanto integrantes de uma sociedade, esperam
umas das outras. Todavia, o fato de sentir-se obrigado a algo não garante ao indivíduo saber qual
a melhor decisão a tomar, a melhor forma de agir, logo, o mesmo é “moralmente mais sofisticado”
quando permite-se questionar de onde vêm as regras que está seguindo, em vez de, simplesmente,
segui-las cegamente, por sentir-se preso a um dever que se autoimpôs, no ímpeto de ser bem
visto. Para além dessas questões morais, portanto, é necessário proceder eticamente.
Por sua vez, também podemos perguntar “Que vida eu quero viver?” para explicar a ética.
A escolha por esta pergunta deve-se ao fato da ética estar relacionada à busca da felicidade, à
busca do tipo de vida ideal, capaz de ter sentido, que valha a pena ser vivida. Todavia, afirma o
autor, pelo fato de a felicidade estar ligada às interpretações pessoais de cada ser humano, assim
como aos diferentes sentidos que estes dão às suas vidas, surge uma outra pergunta: “Para que
viver?”, cuja busca é bem mais difícil e conflituosa, pelo fato de que, na contemporaneidade,
muitas são as notícias de pessoas que desistem da vida por não conseguirem se desviar do vazio
existencial que as acometem, independente de sua condição social. Ademais, pode-se dizer que
os dois planos [moral e ético] são inseparáveis e complementares, porque é difícil falar de vida
boa sem falar dos deveres em relação a isso.
Sobre essa complementaridade, gostaríamos de ressaltar, a importância da ética para
entendermos a nossa postura frente às regras morais. Para entendermos o processo que leva uma
pessoa a respeitar determinados princípios e regras morais, é preciso conhecer sua perspectiva
ética. Portanto, a questão ética é crucial, e quando há uma falta de sentido para a vida, a dimensão
moral e, portanto, as ações morais também entram em crise.
Neste sentido, alguns autores entendem que a preferência pelo termo ética, ainda quando
melhor se adequaria o termo moral. Trata-se do fato de que falar em ética é, para a sociedade,
sinal de cultura, de intelectualidade, passando a ideia de elegância. A palavra ética tem um sentido
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mais corrente, ‘pega’ melhor do que a palavra moral, dentro da educação. Moral tem um sentido
normativo que a demanda do público é por normas.
Entre outros motivos, pelo fato dos seguimentos políticos e educacionais do país terem
se referido ao termo moral, ao longo dos anos, como sendo sinônimo de moralismo (no sentido
depreciativo, referindo-se ao tipo de pessoa que sempre vigia os passos dos outros e os crítica de
forma pesada e inflexível), toda a distorção existente acerca dos dois termos, obscurece o real
sentido de seus significados e os benefícios que cada um pode trazer à formação do aluno.
Outra confusão semântica que constantemente observa-se ocorre entre as palavras amoral
e imoral, as quais têm sido erroneamente utilizadas para designar uma pessoa que não tem moral
ou ética. Na verdade, os dois termos estão relacionados a questões morais, porém em muito
diferem entre si, uma vez que amoral refere-se a uma pessoa que não tem senso moral, não
apresenta capacidade de escolher ou julgar o que é certo ou errado, como, por exemplo, uma
criança pequena ou alguém que sofre de insanidade mental. Por sua vez, imoral diz respeito ao
indivíduo que vai de encontro à moral, lembrando que esta, diferente da ética (que tem a tentativa
de ser universal), é relativa, pois varia de cultura para cultura. Um exemplo simples é o fato da
moral da cultura católica defender a monogamia, de forma que ser poligâmico é tido como
completamente imoral, quando, em contrapartida, é algo perfeitamente moral para os
muçulmanos, adeptos do islamismo.
Por fim, ressalta-se ainda, que não existe ninguém sem ética, o que existe são pessoas
antiéticas, aquelas que vão de encontro à ética socialmente considerada “válida”, como
facilmente encontramos na política e em outras instâncias, diariamente. Por outro lado, para além
do receio de ser mal entendido ao se utilizar da palavra moral, há ainda o uso errôneo dos dois
termos por desconhecimento de seu real significado, em relação a educação, o que podemos
observar é que existe uma preocupação com valores derivada, na verdade, de uma queixa de
comportamento, ou seja, geralmente ligada a aspectos disciplinares e de respeito. Não se trata da
preocupação ética com a formação do cidadão, mas de resolver problemas objetivos, concretos
(em realidade, talvez muitas vezes fantasiados, mas que são considerados ‘objetivos’ por parte
dos professores)
Destaca-se porque nele vemos claramente o comum equívoco que circunda a utilização
dessas, não só no contexto educacional. Há um mal comportamento das pessoas, que é visível,
devido a problemas objetivos ou não, mas que nada têm a ver com a formação da cidadania, com
a dimensão ética do processo de aprendizagem e convívio social.
Consideramos que esse tipo de equívoco, apesar de parecer trivial, contribui
negativamente para o avanço da formação cidadã na escola, nas igrejas ou no mercado de
trabalho, na medida em que limita as ações da crítica e do próprio ensino como instrumento de
autonomia do sujeito.
Há que se levar em conta o processo de desinformação no qual somos submetidos todos
os dias, processo este de alienação contínuo, não há um processo de formação ética do sujeito. A
própria moral, ainda que se aproxime mais das regras de conduta, deve ser entendida e trabalhada
numa conjuntura para além das relações sociais e culturais. Ambas as dimensões englobam
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DEVER MORAL
Tanto no estudo da ética, quanto da moral por sua referência teórica há aproximação da
metafísica. Na definição inicial podemos afirmar que a metafísica em questão não é mais o
sistema utópico de ideias aludido pelos filósofos antigos, e sim um estudo das leis que regulam a
conduta humana sobre um ponto de vista meramente racional. Embasando-se prioritariamente da
exatidão e precisão fornecida pela razão para tal fim. Sem sombra de dúvidas, a moral em si tem
como fundamento a liberdade do pensamento, algo que transcrito em termos filosóficos é
representado pela autonomia da razão no aspecto da liberdade. A tal evocada liberdade tem
ligação direta com a faculdade do desejo denominando a vontade. Há uma ligação dessa
faculdade com a consciência do indivíduo em agir, isso será denominada sua escolha, caso não
haja tal liame, será considerada como mera aspiração.
Isso tudo é deveras importante para a compreensão do fundamento determinante
encontrado na razão do sujeito nomeado como vontade. Esse é o real fundamento da razão prática,
não por determinar a ação do sujeito em si, mas por se basilar na orientação das escolhas do
sujeito. A vontade é a constituinte básica para o sistema do dever moral, dentre todas as outras
regras de estabelecimento moral. Pois, tem como base a liberdade e a autonomia da vontade
enquanto predicado moral e não como dever.
A lei moral propriamente dita é o enquadramento de alguns dos pontos da ética e da moral.
Dentre esses pontos convém comentar acerca de três deles: a vontade, as máximas e os
imperativos. A única vontade que basta para um comportamento moral adequado é a boa vontade.
Isso porque com o intuito da prática dos atos corretos, a boa vontade é a medida absoluta e
intrínseca que satisfaz plenamente ao agir ético humano. Obviamente, outras nuanças podem
facilitar esse processo de adequação moral, tais quais o caráter, a firmeza, a coragem dentre
outros. Como bem disposto na Fundamentação, a boa vontade não é boa apenas para a realização
do seu fim, não coaduna com a consecução teleológica. Tal vontade é uma boa vontade pelo
querer, isto é, em si mesma ela se basta. Ela é boa pela formalidade de servir em ser o correto
agir.
A conceituação acerca da (boa) vontade é que dá vazão ao prosseguimento do elenco
acerca da construção do sistema das leis morais. Seguindo a formalidade do agir em
conformidade para com o dever (no caso da boa ação que em si basta), temos que as ações assim
correspondentes são livres de qualquer inclinação, e, subjetivamente ao puro dever de coerência
à lei moral, o entendimento humano é guiado pela máxima orientadora dessas leis, mesmo que
internamente haja déficit em considerações das inclinações. A máxima é definida como o
princípio subjetivo do querer. De maneira que, apenas com a conjunção do princípio intrínseco
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ao sujeito (a máxima), para com a continuidade do dever expressa na boa vontade. A partir de tal
coadunação que se expressa a possibilidade de haver uma regência interna de uma legislação
moral posta em regra por imperativos, que pelo próprio nome já remetem ao dever interno do ser.
É nesta perspectiva de uma lei moral formal, calcada nesses três elementos básicos, que emerge
o sistema de imperativos. Sendo eles, pois, considerados como ordenamentos de determinação
de todas as ações dos indivíduos sob a ação da boa forma orientada da vontade.
Em síntese, para uma compreensão mais resumida do tema, teríamos acertadamente que:
o dever moral é, pois, um querer próprio necessário seu como membro de um mundo inteligível,
só sendo pensado por ele como dever à medida que ele se considera, simultaneamente, membro
de um mundo sensível. Traçando a característica do pensamento humano em sua raiz teórica para
com a sua ação no mundo, efetivamente falando.
CONSCIÊNCIA MORAL
Numa abordagem mais moderna dos assuntos que envolvem uma dicotomização entre
consciência e dever moral se tem que qualquer desencadeamento acerca de temas de cunho moral
tende a ter uma expressão social forte. Essa é também uma característica própria das obrigações
morais. Tal obrigação (ou dever) como já explanado anteriormente não se liga a nenhum tipo de
coação, e nem a ele pode estar adstrito, pois assim perderia ser caráter de múltipla possibilidade
de rumo. Tolhendo o conceito de liberdade e autonomia da vontade tão evocados no pretérito.
Como já suscitado o envolvimento das relações sociais possuem certa influência na condição
moral do indivíduo, mesmo que o fator pessoal seja determinante para a consecução das
obrigações morais (subjetividade), e entrelace do caráter social da ação é algo deveras importante
(objeto da obrigação moral).
Ao considerarmos esse fator social como necessário para a compreensão geral das
obrigações morais, existem três outros pontos de grande relevância para a abrangência total do
tema: a influência das ações sobre os outros indivíduos, a obrigatoriedade moral e a sua função
social e a consciência moral do indivíduo. Em primeiro lugar, trata-se de considerar o espectro
de atuação e efeito dos atos praticados pelo indivíduo para com os outros indivíduos, bem como
para a coletividade da sociedade. Se não houvesse o agrupamento social constituído, não haveria
como se cogitar a norma moral em si, pois cada ato praticado nada atingiria, o objeto da ação
seria nulo.
O segundo ponto a ser considerado é a adequação entre a norma moral que funda em si
um dever como já visto, a aceitação interna do indivíduo, e sua função social. Levando em conta
o agir de acordo com a sua livre escolha e sua consciência do dever, que orbitam sempre no
universo social no qual ele coexiste, afinal, tais obrigações não operam num vácuo social, ou até
como postulavam os autores antigos (leia-se Platão) num mundo ideal, meramente figurativo.
O último ponto, e com certeza o de maior interesse para o escopo do presente trabalho se
refere à consciência do indivíduo, mais especificamente à consciência moral do mesmo. O
indivíduo certamente opera secundum intra legem, isto é, se orienta de acordo com os ditames de
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sua consciência (moral). Esta dita de acordo com os princípios, os valores e normas morais para
ele vigentes. A precisão conclusiva de tais axiomas não se perde numa análise meramente
sociológico, de influência do meio, homem como produto do seu tempo, nem outras
características empíricas. A razão é o liame de conduta de tais formalizações, e como orientadora
não se perde num conceito vago e inexato como podem evocar os críticos. De certo que se trata
de um conceito teórico, mas por fundar-se na liberdade do ser, essa liberdade é sim o único
conceito inato.
Na sua acepção genérica temos que a consciência é o ato de tomar conhecimento ou
reconhecimento de qualquer fato, e ser consciente de algo significa compreender que isto está a
acontecer, ou também registrar a sua existência e situar-se na distância adequada do
acontecimento em real. E a consciência por vezes contém em si a possibilidade de antecipar ou
antever a forma ideal e projetar, finalizar ou planejar o que irá acontecer. Resumidamente
presume-se que a consciência trabalhe estritamente com fatos, que são essencialmente seu
propulsor de atuação.
A consciência moral, assim como sua ascendente da derivada, conserva a característica
de se referir a percepção acerca dos fatos, todavia, a distinção básica é o ângulo de vista de tais
fatos. A consciência moral como o próprio nome já diz, tem uma visão acerca da moralidade dos
atos e dos fatos a ela correlatos. Ao mesmo tempo, essa modalidade da consciência encerra em
si uma avaliação e um julgamento de nosso comportamento de acordo com as normas que ela
conhece, e reconhece como obrigatórias.
Diretamente deste ponto advém a ligação entre a consciência e a obrigatoriedade das
normas, e até propriamente com o dever moral. A sua diferenciação existe basicamente quanto à
referência indicativa de cada uma e às situações em que cada uma opera. O dever moral contido
de obrigatoriedade se ocupa da universalidade das normas, ou seja, cuida em formular um sistema
amplo, que atenda na generalidade as ações do agente. Já a consciência moral se ocupa em tratar
da especificidade de situações, os casos concretos e como certas ações devem ou não devem ser
tidas como concernentes ao sistema moral adotado.
É competência da moral aderir, internalizar e rejeitar as normas de conduta do ser
humano. Tem-se como enunciado figurativo que: a consciência moral assume a função de uma
instância ineludível, ou de um juiz diante do qual todo ato moral deve apresentar os seus títulos.
O homem de forma alguma passivamente acata toda e qualquer determinação de ordem moral
como normatização de seu comportamento ou conduta social. Quando a sua consciência moral
não agrega o valor moral de certas condutas tidas como pacíficas na ordem social vigente, elas
de nada adiantam, pois não foram ratificadas no foro interno do ser, e, portanto, não possuem
validade moral alguma. O que se põe em confronto no campo filosófico acerca da consciência
em sua vertente moral é o fato de tentar enquadrá-la como autônoma ou heterônoma.
Os autores de vertente histórica definem que a consciência moral é essencialmente
heterônoma, principalmente pela influência dos fatos sociais como determinantes do fenômeno
da interiorização das normas. De maneira que é como se a “voz da experiência” toma-se forma a
cada evento da vida do indivíduo, e fizesse com que ele apreende-se normas a cada nova
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descoberta empírica. Algo bastante criticado, principalmente por ser algo bastante volúvel frente
às obrigações morais, que apesar das diferentes situações de admissibilidade, guardam a
necessidade de uma postulação e uma devida aplicação concreta, sem essas vicissitudes nem
transições a cada momento do “estado de espírito” do agente.
COSTUMES
LIBERDADE E RESPONSABILIDADE
É certo que o homem pode resistir, dentro de certos limites, à coação. Possui liberdade
para tal. Sempre existem, no entanto, causas que determinam as ações praticadas. A questão é
compatibilizar a determinação de nosso comportamento com a liberdade de nossa vontade. O
mundo que nos cerca impõe condições de contorno que, frequentemente, restringem a gama de
soluções disponíveis para uma determinada situação. E, como se constata, o mundo é algo
determinado, isto é, sujeito a relações de causa e efeito. Como, então, dispor de liberdade?
Eis aí a questão, à qual respondem três posições filosóficas fundamentais: a primeira,
representada pelo determinismo em sentido absoluto; a segunda por um libertarismo, concebido
também de maneira absoluta; a terceira, por uma forma de determinismo que admite, com certa
liberdade ou é compatível com ela. A abordagem dessas correntes filosóficas foge ao escopo de
nossa discussão e pode ser desenvolvida consultando a farta bibliografia existente sobre o
assunto.
No entanto, podemos sublinhar que responsabilidade moral, liberdade e necessidade estão
entrelaçadas indissoluvelmente no ato moral.
É relativamente fácil observar que o homem é livre para decidir e agir, sem que a sua
decisão e a sua ação deixem de ser causadas. Mas o grau de liberdade está determinado histórica
e socialmente, pois se decide e se age numa determinada comunidade. Essa sociedade oferece
aos indivíduos determinados padrões de comportamento, dos quais eles não podem se afastar,
sob pena de forte discriminação. Ao mesmo tempo, essa sociedade limita as possibilidades de
ação dos seus componentes.
Nesse sentido, "ninguém pode se livrar do ético, isto é, da constante necessidade de
escolher, de decidir, do "dever ser", do agir ético ou do saber prudencial".
Quando alguém se livra de uma situação constrangedora e desabafa, "Sinto-me livre como
um pássaro", sem dúvida está apenas se referindo àquilo que tal expressão simboliza: parece que
a imensidão do céu aí está para ser livremente "conquistada", sem obstáculos de nenhuma
espécie.
Bem sabemos que se trata de uma metáfora. O pássaro não é um ser livre, mas se encontra
determinado pelo instinto de sobrevivência típico de sua espécie. Não vai "para onde quer", mas
para onde precisa ir, a fim de continuar existindo. Seu próprio voo está sujeito às leis da física.
O filósofo alemão Kant brinca com essa ideia, imaginando uma pomba ágil, indignada
contra a resistência do ar que a impediria de voar mais depressa. Na verdade, argumenta, é
justamente essa resistência que lhe serve de suporte, pois seria impossível voar no vácuo.
O HOMEM É DETERMINADO?
Se o voo livre do pássaro é uma ilusão, da mesma forma podemos dizer que incorremos
em engano semelhante ao considerarmos o homem capaz de liberdade absoluta.
Comecemos refletindo sobre as conquistas do método científico. A construção do conhe-
cimento científico se faz a partir do princípio do determinismo, segundo o qual tudo que existe
no mundo está sujeito à rígida relação entre causa e efeito. E a ciência só se toma possível porque
32
AS CONDIÇÕES DA LIBERDADE
Para os deterministas, tudo tem uma causa, inclusive a ação humana. Podemos até não
conhecer tais causas, mas elas existem. Levar essas conclusões até as últimas consequências é
admitir que o homem não é livre.
Afinal, o homem é livre ou é determinado? Não há como negar os determinismos que
agem sobre o homem, já que ele se encontra situado no tempo e no espaço, tendo recebido uma
herança cultural específica. Mas o homem não é apenas essa situação dada, é também a
33
consciência dos determinismos. Isso significa que, ao tomar conhecimento das causas que agem
sobre ele, é capaz de realizar uma ação transformadora, a partir de um projeto de ação. Deixa de
ser passivo e passa a ser atuante.
Estamos rejeitando qualquer discussão puramente teórica a respeito da liberdade, o que
nos levaria a abstrações atemporais. É na ação, é na prática que se constrói a liberdade, a partir
dos desafios que os problemas do seu existir apresentam ao homem. Tais soluções não resultam
de alternativas dadas para serem escolhidas, mas supõem imaginação criadora, invenção, "ardis
da razão". Há um velho ditado indiano que diz "Onde quer que o homem ponha o pé, pisa sempre
cem caminhos".
O homem, enquanto ser consciente, é capaz de reconhecer as forças que agem sobre ele.
Esse conhecimento torna-lhe possível o exercício da vontade, presente em sua ação
transformadora sobre a natureza.
O filósofo francês Alain dá o exemplo do barco a vela: "Quando eu era pequeno, e antes
que tivesse visto o mar, acreditava que os barcos iam sempre para onde o vento os empurrava".
Mas, na verdade, o velejador usa o barco de acordo com leis invariáveis, isto é, usa a força do
vento para ir para onde quiser: "Orienta sua vela pelo mastro, vergas e cordames, apoia seu leme
na onda corrente, corta caminho com sua marcha oblíqua, vira e recomeça. Avançando contra o
vento pela própria força do vento".
O velejador aprendeu a conhecer o mar, o vento, a vela, o casco, para saber como aplicar
a inteligência e dirigir o barco para a direção escolhida. Outros exemplos: só podemos curar a
doença ao conhecer suas causas; só construímos um prédio se respeitamos as leis da física; só
fabricamos um avião se conhecemos as leis da aerodinâmica.
Da mesma forma, o conhecimento das paixões humanas é condição para que o homem se
torne mais livre e se desenvolva como pessoa integral.
Se em um primeiro momento a criança é levada pela preponderância do desejo, ao mesmo
tempo que é constrangida pelas normas que lhe são exteriores, a educação consiste no esforço de
superação de tal estádio. O universo infantil é marcado pela heteronomia, em que as ações são
comandadas "de fora", pelos valores herdados dos pais e da sociedade em que ela vive. Quando
a educação é boa, a criança deve caminhar em direção à autonomia, à deliberação, à capacidade
de organização autônoma das regras.
Bem sabemos que nem sempre é isso que ocorre de fato...
LIBERDADES
Quando nos referimos à liberdade de maneira geral, é preciso admitir que são vários os
enfoques pelos quais podemos compreendê-la. Se ninguém é solitário, pois convive na
comunidade dos homens, a liberdade é um desafio que permeia todos os campos da atividade
humana.
Assim, podemos falar em liberdade ética quando nos referimos ao sujeito moral, capaz
de decidir com autonomia a respeito de como deve se conduzir em relação a si mesmo e aos
34
outros. Kant dizia que a liberdade consiste na obediência às leis que o próprio sujeito moral se
impõe.
No entanto, ser autônomo é um desafio que muitas pessoas não conseguem suportar. Os
riscos de enganos, a intranquilidade, a angústia da decisão e a responsabilidade que o ato livre
acarreta fazem com que a liberdade seja considerada antes um pesado encargo do que privilégio.
Por isso há tantos que a ela renunciam, para se acomodarem na segurança das verdades dadas.
A liberdade econômica não deve ser confundida com a liberdade absoluta nos negócios.
Por um lado, porque toda atividade produtiva supõe relações de dependência entre as pessoas, e,
por outro, porque convém precaver-se contra as aparências da liberdade. A livre iniciativa,
fundada na ideia de que "deve vencer o melhor", muitas vezes nos faz esquecer de que em uma
competição esportiva, por exemplo, os concorrentes sempre a iniciam em pé de igualdade:
mesmo quando os talentos são diferentes, todos começam juntos na linha de partida.
O mesmo não ocorre no sistema econômico fortemente marcado por privilégios e disputas
desiguais. Por exemplo, o parque industrial de um país subdesenvolvido não pode disputar sem
prejuízos com poderosas multinacionais. Da mesma forma, o contrato "livre" que o operário
assina esconde a assimetria das relações, pois, em situações em que há grande oferta de mão-de-
obra, recusar um baixo salário significa muitas vezes "optar" pelo desemprego.
A liberdade jurídica é uma das conquistas das modernas sociedades democráticas que
defendem a igualdade perante a lei. Ninguém pode ser submetido à servidão e à escravidão;
qualquer um tem (ou deveria ter...) a garantia da liberdade de locomoção, pensamento,
agremiação e ação, nos limites estabelecidos pela lei.
A aristocracia supõe a existência de indivíduos "especiais" (aristos, "ótimo") que teriam
privilégios. Foi contra as vantagens da nobreza que a burguesia se insurgiu no século XVIII,
implantando os ideais contidos na Declaração dos Direitos que serviram de inspiração para a
construção da nova ordem jurídica daí em diante.
No entanto, nem todos têm acesso à lei de igual maneira. A justiça é lenta e cara e o poder
econômico interfere sempre que pode. Ao se fazer as leis de um país, é quase impossível evitar a
interferência daqueles que detêm algum poder e desejam manter privilégios. Por ocasião da
Constituinte de 1988, a discussão a respeito dos mais diversos assuntos, como reforma agrária,
aposentadoria e verbas para educação pública, foi alvo de pressões as mais diversas, não podendo
ser subestimadas as forças decorrentes do poder econômico.
Até aqui nos referimos ao homem enquanto participante da sociedade civil, isto é,
enquanto pai, filho, trabalhador, empresário, estudante e assim por diante. Os espaços da casa, da
fábrica, da escola são caminhos possíveis da liberdade (ou não!...).
A liberdade política se coloca no espaço público, no espaço do cidadão, isto é, do homem
enquanto participante dos destinos da cidade.
Há liberdade política quando o cidadão tem conhecimento do que acontece nas diversas
instâncias do poder público. Além do conhecimento, é preciso que exista a liberdade de opinião,
de voto, de associação, enfim do livre exercício da cidadania, com suas múltiplas características.
35
PROGRESSO MORAL
Nem sempre a mudança moral equivale a progresso moral. Existe progresso quando se
dá um avanço com melhoria de qualidade. Isso significa que certos valores antigos não precisam
ser considerados necessariamente ultrapassados, da mesma forma que valores dos "novos
tempos" algumas vezes podem não indicar progresso.
Quais seriam então os critérios para avaliar o progresso moral? Examinemos alguns deles.
• Ampliação da esfera moral: certos atos, cujo cumprimento antes era garantido por força
legal (direito), por constrangimento social (costumes) ou por imposição religiosa, passam a ser
cumpridos por exclusiva obrigação moral. Por exemplo, um pai divorciado não precisaria da lei
para reconhecer a obrigação de continuar sustentando seus filhos menores de idade. Por outro
lado, certas situações em que as pessoas fazem o bem tendo em vista a recompensa divina são
indicações de diminuição da esfera moral, porque, nesse caso, o estímulo para a ação não é a
obrigação moral, mas uma certa "barganha" visando recompensa.
• Caráter consciente e livre da ação: a responsabilidade moral está na exigência de um
compromisso livremente assumido. Responsável é a pessoa que reconhece seus atos como
resultantes da vontade e responde pelas consequências deles. Quando adultos, como mulheres e
escravos, permanecem tutelados, o resultado é o empobrecimento moral das relações humanas.
• Grau de articulação entre interesses coletivos e pessoais: enquanto nas tribos primitivas
o coletivo predomina sobre o pessoal, nas sociedades contemporâneas o individualismo
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OS CLÁSSICOS
A ética como ciência nasceu com o advento das cidades gregas, no "Século de Péricles"
(século V a.C.), primeiro com os sofistas, depois com Platão e Aristóteles, autor das três obras
básicas da ética no Ocidente: Ética a Nicómaco, A grande moral e a Ética a Eudemio.
Comecemos pelo "idealismo platônico". Para Platão (427-347 a.C.), agir eticamente é
agir com retidão de consciência. A inteligência, quando bem utilizada, conduz ao Bem, ao Belo,
ao Justo. Ao comportar-se de forma ética, o homem aproxima-se do verdadeiro mundo, o mundo
das Ideias, do qual o mundo em que vivemos é uma mera cópia. O verdadeiro sábio procura atuar
em busca do ideal e corrigir-se quando se engana. Através da sua inteligência e virtude, o homem
regressa ao mundo das ideias.
Também de particular importância se revestiu o "realismo aristotélico". Aristóteles (384-
322 a.C.) defendia que a ética é a ciência prática do bem. E Bem é aquilo que todos desejam. Não
existe um único bem, este é relativo, é um modo de existência determinado pela natureza das
diferentes criaturas - por isso, ao agir, cada um deve tratar de forma igual o que é igual e de forma
desigual o que é desigual. Cada um procura alcançar o bem ao atuar, pelo que do bem depende a
autorrealização do homem, a sua felicidade. O bem próprio do homem é a inteligência: o homem
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é um animal racional. Por isso, o homem deve viver segundo a razão, de forma a alcançar as
virtudes, nomeadamente a sabedoria. E Aristóteles define a virtude, por oposição à mediocridade,
como um hábito que torna bom quem o pratica. As virtudes são ideais que o homem procura
alcançar e que proporcionam o completo desenvolvimento da humanidade, como, por exemplo,
honestidade, coragem, generosidade, justiça e prudência. Esses ideais são descobertos através da
reflexão.
De destacar igualmente a escola estoica (que sobrevive até hoje), fundada por Zenão de
Cício (por volta de 300 a.C.) e que dominou parte significativa da cultura greco-romana. Afirma
o primado do problema moral sobre os problemas teóricos. Os estóicos defendiam que a ética
decorre de uma lei natural universal. Para os estóicos, a vida feliz é a vida virtuosa, conforme
com a Natureza, conforme a razão. Defende que o fundamental é viver com retidão, lutando
contra as paixões. Aspetos fundamentais da doutrina estóica são também a compreensão, o
cosmopolitismo (o homem como cidadão do mundo) e a igualdade de todos os homens.
Inimiga da escola estóica, o epicurismo (fundado por Epicuro de Samos, 341 -270)
perdura ainda hoje, sob a designação de hedonismo ou utilitarismo. Basicamente, defende que o
homem deve fazer o que gosta mais, o que lhe dá prazer, do corpo e da alma. Esta busca do prazer
deve ser regida pela prudência: o homem deve diminuir os desejos, para ser auto-suficiente,
despreocupado e tranquilo: "não ter dor no corpo nem perturbação na alma". Todavia, as
interpretações simplistas desta doutrina levaram quase sempre à conclusão de que, em termos
éticos, é lícito tudo o que produz prazer, desde que se faça com domínio de si mesmo, sem
perturbação. Por outro lado, contrariamente ao estoicismo, o epicurismo defende uma vida
associal, sem participação do filósofo na vida da cidade.
As doutrinas clássicas foram fonte de inspiração para muitos filósofos modernos e
contemporâneos.
As doutrinas éticas fundamentais nasceram e desenvolveram em diferentes épocas e
sociedades como respostas aos problemas apresentados pelas relações entre os indivíduos. Por
conseguinte, estas doutrinas não podem ser consideradas de forma isolada, mas dentro de um
processo de mudança contínua da vida social, responsável por exigir nova reflexão de seus
conceitos, bem como a sua substituição por outros, mais adequados à conjuntura vigente em cada
época. É isso o que explica a sucessão destas doutrinas.
ÉTICA GREGA
As questões éticas foram objeto de especial atenção na filosofia grega quando houve a
democratização de sua vida política, sobretudo em Atenas. O naturalismo dos filósofos do
primeiro período foi sucedido por uma acentuada preocupação com os problemas humanos,
políticos e morais.Assim, as novas condições apresentadas no século V a.C. em muitas cidades
gregas, com o triunfo da democracia escravista sobre o domínio da velha aristocracia, com a
democratização da vida política, com a criação de novas instituições eletivas e com o
desenvolvimento de uma intensa vida pública, originaram a filosofia política e a moral.
38
OS SOFISTAS
como a necessidade que os homens têm de se alimentar. O que é dado por cultura pode ser
mudado, como, por exemplo, aquilo que os homens escolhem como alimento. Ou seja, todos nós
precisamos da alimentação para continuarmos vivos, mas na China, a carne dos cães pode fazer
parte do cardápio e, na Índia, o homem não pode se alimentar da carne bovina, pois a vaca é
considerada um animal sagrado.
b) Relativismo. Para os sofistas, tudo o que se refere à vida prática, como a religião e a
política, era considerado fatores culturais, logo podiam ser modificados. Dessa forma, colocavam
as normas e hábitos em dúvida quanto à sua pertinência e legitimidade. Como eles eram
relativistas, suas questões podiam ser levadas para o seguinte sentido: as leis estabelecidas são
pertinentes para essa cidade ou precisam ser mudadas?
c) A existência dos deuses. Para os sofistas, é mais provável que os deuses não existam,
mas eles não rejeitam completamente a existência, como Platão, por exemplo. Portanto, eles são
mais próximos do agnosticismo do que do ateísmo. A diferença entre os sofistas e aqueles que
acreditavam nos deuses – e a educação grega esteve, no início, ligada à existência e interferência
dos deuses nos destinos da humanidade – é que eles preferiam não se pronunciar a respeito. Mas,
se os deuses existissem, eles não teriam formas e pensamentos humanos.
d) A natureza da alma. A definição de alma para os sofistas é de uma natureza passiva e
podia ser modelada pelo conhecimento que vem do exterior. Isso é muito importante para a
prática que eles exerciam, pois, se as pessoas possuem almas passivas, elas podem ser
convencidas de qualquer discurso proferido de forma encantadora. Por isso, era preciso lapidar a
técnica a fim de levar as pessoas a pensarem de um modo que favoreça o orador, ou seja, aquele
que está falando para o público. A resistência que alguma pessoa oferece a algo que é dito não
seria proveniente da capacidade de refletir ou questionar e sim era decorrência da inabilidade
discursiva do orador.
e) Rejeitam questões metafísicas. Os sofistas estavam bastante empenhados em resolver
questões da vida prática da pólis. Aquilo que contribuiria para uma vida melhor com os outros
ou para atender às necessidades imediatas era o centro de suas preocupações. Por concentrarem
seus esforços para pensar naquilo que consideravam útil, questões como a origem dos seres, a
vida após a morte e a existência dos deuses, ou seja, questões de ordem metafísica, eram
rejeitadas.
f) A habilidade de argumentar, mesmo se as teses fossem contraditórias, também era um
de seus fundamentos. Apesar da dura crítica feita a eles, o trabalho dos sofistas respondia a uma
necessidade da época: com o desenvolvimento e a consolidação da democracia na Atenas do
século V a.C., era imprescindível desenvolver a habilidade de argumentar em público, defender
suas próprias ideias e convencer a maior parte da assembleia a concordar com aquilo que os
beneficiaria individualmente.
Um momento mais decisivo na trajetória humanista acontece no século V a.C., em
Atenas, já que aí a liberdade de expressão e a democracia atingiram um esplendor singular entre
as cidades gregas. Nossos personagens agora serão os sofistas, particularmente aqueles que são
considerados seus primeiros grandes representantes: Protágoras e Górgias. Quem são eles?
40
capacidade individual. E ao falar disso na Grécia desse período, falamos ao mesmo tempo de
facilidade de se expressar. É nesse sentido que os sofistas, que são literalmente professores de
oratória e de argumentação (retórica), tornam-se peças fundamentais na formação educacional
complementar, que acaba por constituir uma nova e necessária Paidéia. A tradição educativa
anterior condicionava como objetivo a preparação dos homens para a guerra. Esses novos
educadores são causa e consequência da abertura política que está acontecendo em Atenas.
Aproveitam-se dos novos tempos democráticos e, ao mesmo tempo, os estimulam. Quando nos
perguntarmos porque os sofistas afluíram a Atenas nesse período, vemos claramente como houve
uma forte conjugação de interesses:Não foi por acaso que sofistas de todo canto do mundo grego
vieram para Atenas (...) Primeiro porque Atenas oferecia excelentes oportunidades para um
sofista ganhar muito dinheiro e, segundo, em nível mais elevado, porque, sob muitos aspectos,
ela estava em processo de se tornar um verdadeiro centro intelectual e artístico em toda a Grécia.
Sem exagero, Atenas, muito em função do comando político de Péricles, conquistou a
maior liberdade de expressão que o mundo antigo já conheceu. Em nenhum outro local, à época
e por muitos séculos, tantos homens, cerca de seis mil cidadãos (20% da população da cidade),
tinham a oportunidade de se candidatar ao cargo máximo de comandante da cidade. Toda essa
conjuntura produzia todo tipo de reação, menos emoções medianas. Os sofistas atraíam o
entusiasmo e o ódio que regularmente advém àqueles que estão envolvidos num processo de
fundamental mudança social.
Não é possível falar dos sofistas sem apontar um dos seus grandes representantes:
Protágoras. Em particular, um ponto que nos interessa é a ideia do homem-medida. A sua frase
mais conhecida é esclarecedora: “O homem é a medida de todas as coisas, das que são como são
e das que não são como não são.” A frase traz ao mesmo tempo a questão do homem como polo
definidor do que é e do que não é, abrindo um ponto central de discordância em relação à noção
que vem de Parmênides e de todo o eleatismo de que a verdade existe, é absoluta e externa ao
homem. Isso não quer dizer que Protágoras desconsidere o problema da verdade. O que ele está
dizendo é que ela agora é relativa às produções mentais humanas, ou seja, ela é múltipla e
variável. Ele não está dizendo que ela é individual ou absolutamente fluida. O que está sendo
dito, ao nosso ver, é que a postura do livre pensador é a de abertura a novas reflexões, ou melhor,
à aquisição de novas verdades, conforme essas últimas pareçam mais coerentes e adequadas que
as anteriores.
Por não haver lugar a chegar, não há problema em mudar de modo de enxergar o mundo
que nos envolve. Protágoras também não está levando o relativismo a extremos, indicando que
as verdades são referentes a cada indivíduo isoladamente. Sim, as proposições são individuais,
mas não se esgotam com ele, já que política propriamente dita o que acontece no âmbito coletivo.
É exatamente por isso que podemos falar em ética sofística quando lidamos com Protágoras. Ela
pode ser exercida quando um sofista escolhe seus alunos ou quando os estimula a produzir
discursos mais consistentes sustentados por ideias que eles já possuíam. Há uma falsa e muito
comum associação entre o ato de persuadir e o de enganar. Temos que lembrar que toda vez que
estamos falando com alguém estamos manipulando, convencendo e persuadindo. Persuadir
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enganando é uma pequena parcela desse grande conjunto, pois depende diretamente de intenções
egoístas de quem fala. O engano aí está em tomar a parte pelo todo.
Podemos afirmar hoje que grandes sofistas, Protágoras certamente está entre eles, por
inaugurarem a dimensão política no palco da reflexão filosófica, foram os primeiros a questionar
como o homem deve agir em relação ao conjunto dos outros homens. Não é preciso ir longe para
lembrar que a resposta à pergunta como devo agir?, serve de base a qualquer debate ético. Sua
proposta de formar políticos, logicamente sem levar em conta as interpretações muito
tendenciosas de Platão, era unir o que eles já pensavam, que vinha da educação grega de base na
Grécia (é só lembrar que o ponto máximo da educação do grego iria até um certo momento até
da formação guerreira e da importância da honra nesse âmbito), com técnicas linguísticas ligadas
à oratória e à retórica que serviriam para produzir um discurso bem-sucedido. A ideia aí seria
unir saber e discurso bem articulado, reflexão e técnica em um sistema. Mas mais que tudo isso,
os primeiros sofistas ajudaram a promover uma amplitude inigualável para a liberdade de
expressão, que revela-se como humanista. Durante esse período áureo da democracia grega, que
virou referência de liberdade política para todo o Ocidente, houve um grande conjunto criado
entre as produções técnicas da linguagem, que certamente é considerada uma concretização
objetiva, integrada aos avanços da autonomia e da liberdade. Agora é hora de falar um pouco de
um segundo grande sofista: Górgias
SÓCRATES
popular, inimizades pessoais, apesar de sua probidade. Diante da tirania popular, bem como de
certos elementos racionários, aparecia Sócrates como chefe de uma aristocracia intelectual. Esse
estado de ânimo hostil a Sócrates concretizou-se, tomou forma jurídica, na acusação movida
contra ele por Mileto, Anito e Licon: de corromper a mocidade e negar os deuses da pátria
introduzindo outros. Sócrates desdenhou defender-se diante dos juízes e da justiça humana,
humilhando-se e desculpando-se mais ou menos. Tinha ele diante dos olhos da alma não uma
solução empírica para a vida terrena, e sim o juízo eterno da razão, para a imortalidade. E preferiu
a morte. Declarado culpado por uma pequena minoria, assentou-se com indômita fortaleza de
ânimo diante do tribunal, que o condenou à pena capital com o voto da maioria.
Tendo que esperar mais de um mês a morte no cárcere - pois uma lei vedava as execuções
capitais durante a viagem votiva de um navio a Delos - o discípulo Criton preparou e propôs a
fuga ao Mestre. Sócrates, porém, recusou, declarando não querer absolutamente desobedecer às
leis da pátria. E passou o tempo preparando-se para o passo extremo em palestras espirituais com
os amigos. Especialmente famoso é o diálogo sobre a imortalidade da alma - que se teria realizado
pouco antes da morte e foi descrito por Platão no Fédon com arte incomparável. Suas últimas
palavras dirigidas aos discípulos, depois de ter sorvido tranquilamente a cicuta, foram: "Devemos
um galo a Esculápio". É que o deus da medicina tinha-o livrado do mal da vida com o dom da
morte. Morreu Sócrates em 399 a.C. com 71 anos de idade.
O Método de Sócrates é a parte polêmica. Insistindo no perpétuo fluxo das coisas e na
variabilidade extrema das impressões sensitivas determinadas pelos indivíduos que de contínuo
se transformam, concluíram os sofistas pela impossibilidade absoluta e objetiva do saber.
Sócrates restabelece-lhe a possibilidade, determinando o verdadeiro objeto da ciência.
O objeto da ciência não é o sensível, o particular, o indivíduo que passa; é o inteligível,
oconceitoque se exprime pela definição. Este conceito ou ideia geral obtém-se por um processo
dialético por ele chamado indução e que consiste em comparar vários indivíduos da mesma
espécie, eliminar-lhes as diferenças individuais, as qualidades mutáveis e reter-lhes o elemento
comum, estável, permanente, a natureza, a essência da coisa. Por onde se vê que a indução
socrática não tem o caráter demonstrativo do moderno processo lógico, que vai do fenômeno à
lei, mas é um meio de generalização, que remonta do indivíduo à noção universal.
Praticamente, na exposição polêmica e didática destas ideias, Sócrates adotava sempre o
diálogo, que revestia uma dúplice forma, conforme se tratava de um adversário a confutar ou de
um discípulo a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente a atitude de quem aprende e ia
multiplicando as perguntas até colher o adversário presunçoso em evidente contradição e
constrangê-lo à confissão humilhante de sua ignorância. É a ironia socrática. No segundo caso,
tratando-se de um discípulo (e era muitas vezes o próprio adversário vencido), multiplicava ainda
as perguntas, dirigindo-as agora ao fim de obter, por indução dos casos particulares e concretos,
um conceito, uma definição geral do objeto em questão. A este processo pedagógico, em memória
da profissão materna, denominava ele maiêutica ou engenhosa obstetrícia do espírito, que
facilitava a parturição das ideias.
45
Sublime nos lineamentos gerais de sua ética, Sócrates, em prática, sugere quase sempre a
utilidade como motivo e estímulo da virtude. Esta feição utilitarista empana-lhe a beleza moral
do sistema
O interesse filosófico de Sócrates volta-se para o mundo humano, com finalidades
práticas, morais.
A única ciência possível e útil é a ciência da prática, mas dirigida para os valores
universais, não particulares. Vale dizer que o agir humano - bem como o conhecer humano - se
baseia em normas objetivas e transcendentes à experiência. O fim da filosofia é a moral; no
entanto, para realizar o próprio fim, é mister conhecê-lo; para construir uma ética é necessário
uma teoria; no dizer de Sócrates, a gnosiologia deve preceder logicamente a moral. Mas, se o fim
da filosofia é prático, o prático depende, por sua vez, totalmente, do teorético, no sentido de que
o homem tanto opera quanto conhece: virtuoso é o sábio, malvado, o ignorante. O moralismo
socrático é equilibrado pelo mais radical intelectualismo, racionalismo, que está contra todo
voluntarismo, sentimentalismo, pragmatismo, ativismo.
Sócrates é o fundador da ciência em geral, mediante a doutrina do conceito, assim é o
fundador, em particular da ciência moral, mediante a doutrina de que eticidade significa
racionalidade, ação racional. Virtude é inteligência, razão, ciência, não sentimento, rotina,
costume, tradição, lei positiva, opinião comum. Tudo isto tem que ser criticado, superado,
subindo até à razão, não descendo até à animalidade - como ensinavam os sofistas. É sabido que
Sócrates levava a importância da razão para a ação moral até àquele intelectualismo que,
identificando conhecimento e virtude - bem como ignorância e vício - tornava impossível o livre
arbítrio. Entretanto, como a gnosiologia socrática carece de uma especificação lógica, precisa -
afora a teoria geral de que a ciência está nos conceitos - assim a ética socrática carece de um
conteúdo racional, pela ausência de uma metafísica. Se o fim do homem for o bem - realizando-
se o bem mediante a virtude, e a virtude mediante o conhecimento - Sócrates não sabe, nem pode
precisar este bem, esta felicidade, precisamente porque lhe falta uma metafísica. Traçou, todavia,
o itinerário, que será percorrido por Platão e acabado, enfim, por Aristóteles. Estes dois filósofos,
partindo dos pressupostos socráticos, desenvolverão uma gnosiologia acabada, uma grande
metafísica e, logo, uma moral.
A filosofia socrática, portanto, limita-se à gnosiologia e à ética.
PLATÃO
A ética de Platão relaciona-se de maneira íntima com a sua filosofia política porque, para
ele, a cidade é o terreno próprio da vida moral. Esta ética depende, sobretudo, de dois fatores: (i)
concepção metafísica, isto é, dualismo do mundo sensível e do mundo das ideias permanentes,
que constituem a verdadeira realidade e têm como cume a ideia do bem do mundo; (ii) doutrina
da alma, ou seja, do princípio que move o homem e consta de três partes: razão, vontade ou ânimo
e apetite.
47
Nesse sentido, pela razão a alma eleva-se ao mundo das ideias. Seu fim último é libertar-
se da matéria para contemplar a ideia do bem. Para alcançar esta libertação é preciso praticar
várias virtudes, que correspondem a cada uma das partes da alma e consistem em seu
funcionamento perfeito: a virtude da razão é a prudência; a da vontade ou ânimo, a fortaleza; a
do apetite, a temperança. Estas virtudes guiam uma parte da alma e a harmonia entre as diversas
partes constitui a quarta virtude, que é a justiça.
Mas, como o indivíduo não pode aproximar-se sozinho da perfeição, torna-se necessário
o Estado ou a comunidade política. Assim, o homem é bom enquanto cidadão. Esta concepção
de ética lança-se, necessariamente, na política.
Além disso, na ética platônica transparece o desprezo, característico da Antiguidade, pelo
trabalho físico e, devido a isso, os artesãos ocupavam uma escala social inferior, enquanto as
classes dedicadas às atividades superiores, contemplação, política e guerra, eram exaltadas. De
outro lado, conforme as ideias dominantes e a realidade política e social daquele tempo, não havia
lugar no Estado ideal para os escravos, já que eram desprovidos de virtudes morais e de direitos
cívicos.
Frente a estas limitações da classe, encontra-se na ética de Platão a estreita unidade da
moral e da política, uma vez que, para ele, o homem forma-se somente no Estado e mediante a
subordinação do indivíduo à comunidade.
A Política: "... os males não cessarão para os humanos antes que a raça dos puros e
autênticos filósofos chegue ao poder, ou antes, que os chefes das cidades, por uma divina graça,
ponham-se a filosofar verdadeiramente".
- A) Os Livros de Platão sobre política:
▪ Republica.
▪ Política,
▪ Leis.
- B) O Modelo Político em Platão:
o O modelo político de Platão tem origem na decepção como sua Atenas foi governada
durante o tempo em que ele viveu, bem como com a forma injusta como se deu o
julgamento e a condenação de seu mestre, Sócrates.
o Platão concebeu um modelo aristocrático de poder. Não a aristocracia da riqueza, mas da
inteligência.
o O poder será dos melhores. O governo será administrado por uma:
▪ Sofocracia
• Governo dos sábios.
• Governo dos reis-filósofos.
o Os homens comuns são de insuficiente conhecimento, não passam da opinião, doxa, por
isso devem ser governados por quem se distingue pelo saber.
o Só quando os chefes da cidade começarem a filosofar, ou os verdadeiros filósofos
alcançarem o poder, cessarão os males que afligem a humanidade.
o Um Estado que aspira ser perfeitamente governado terá de reconhecer como governantes
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ARISTÓTELES
Aristóteles de Estagira, 384 a.C. – 322 a.C. filósofo grego, um dos maiores pensadores
de todos os tempos e considerado o criador do pensamento lógico.
Suas reflexões filosóficas — por um lado originais e por outro reformuladoras da tradição
grega — acabaram por configurar um modo de pensar que se estenderia por séculos.
Prestou inigualáveis contribuições para o pensamento humano, destacando-se: ética,
política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica, zoologia, biologia, história natural
e outras áreas de conhecimento humano. É considerado por muitos o filósofo que mais
influenciou o pensamento ocidental.
Por ter estudado uma variada gama de assuntos, e também por ter sido um discípulo que
em muitos sentidos ultrapassou seu mestre, Platão, é conhecido também como o Filósofo.
A ética de Aristóteles, como a de Platão, também está unida à sua filosofia política, já
que, para ele, a comunidade social e a política são os meios necessários da moral. Somente nelas
é que se pode realizar o ideal da vida teórica na qual está baseada a felicidade.
Assim, o homem apenas pode viver na cidade, pois é um animal político e, por isso, não
pode levar uma vida moral como indivíduo isolado, mas como membro da comunidade. Por sua
vez, esta vida moral não pode ser entendida como um fim em si mesma, mas como condição para
uma vida verdadeiramente humana: a vida teórica na qual consiste a felicidade.
No sistema aristotélico, a ética é uma ciência menos exata na medida em que se ocupa
com assuntos passíveis de modificação. Ela não se ocupa com aquilo que no homem é essencial
e imutável, mas daquilo que pode ser obtido por ações repetidas, disposições adquiridas ou de
hábitos que constituem as virtudes e os vícios. Seu objetivo último é garantir ou possibilitar a
conquista da felicidade.
Partindo das disposições naturais do homem (disposições particulares a cada um e que
constituem o caráter), a moral mostra como essas disposições devem ser modificadas para que se
ajustem à razão. Estas disposições costumam estar afastadas do meio-termo, estado que
Aristóteles considera o ideal. Assim, algumas pessoas são muito tímidas, outras muito
audaciosas. A virtude é o meio-termo e o vício se dá ou na falta ou no excesso. Por exemplo:
coragem é uma virtude e seus contrários são a temeridade (excesso de coragem) e a covardia
(ausência de coragem).
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As virtudes se realizam sempre no âmbito humano e não têm mais sentido quando as
relações humanas desaparecem, como, por exemplo, em relação a Deus. Totalmente diferente é
a virtude especulativa ou intelectual, que pertence apenas a alguns (geralmente os filósofos) que,
fora da vida moral, buscam o conhecimento pelo conhecimento. É assim que a contemplação
aproxima o homem de Deus.
A política é o desdobramento natural da ética. Ambas, na verdade, compõem a unidade
do que Aristóteles chamava de filosofia prática.
Se a ética está preocupada com a felicidade individual do homem, a política se preocupa
com a felicidade coletiva da pólis. Desse modo, é tarefa da política investigar e descobrir quais
são as formas de governo e as instituições capazes de assegurar a felicidade coletiva. Trata-se,
portanto, de investigar a constituição do estado.
Acredita-se que as reflexões aristotélicas sobre a política originam-se da época em que
ele era preceptor de Alexandre.
Para Aristóteles a ética vem iniciando com a noção de felicidade, buscando no âmbito do
indivíduo em si, pois é necessária a excelência, neste instante se tornar uma pessoa virtuosa. No
entanto essa noção de felicidade visa a considerar uma ética eudaumônica, pois aquilo que você
está fazendo para si pode resultar a felicidade e o bem agir, sendo assim o agir humano, nascendo
à virtude.
A política é a ciência são advindas á suprema, a qual todas as outras estão subordinadas,
sendo sua tarefa investigar o que diz respeito às coisas públicas para garantir a felicidade coletiva,
tal como a melhor forma de governo e instituições capazes de gerenciar o conjunto de indivíduos.
No entanto para o filósofo a noção de felicidade naquela época era definida como as
atividades da alma do ser humano, que embora possa vir de acordo com uma "perfeição" daquilo
que os vê ser virtuoso. Porém a felicidade vem sendo o centro da ética Aristotélica. A felicidade
enquanto tarefa de auto-realização do homem como humano compreende-se no horizonte da
phronesis, horizonte este partilhado com as virtudes éticas.
A felicidade é o meio da ética, em que os seres humanos devem procurar o seu lugar para
serem felizes, pois essa felicidade não fará o bem em si, mas aquilo que você está fazendo para
o bem no caso isso seria a felicidade.
Tanto a maioria como os mais sofisticados dizem ser a felicidade, porque supõem que ser
feliz é o mesmo que viver bem e passar bem. Contudo, acerca do que possa ser a felicidade estão
em desacordo e a maioria não compreendem o seu sentido do mesmo modo que o compreendem
os sábios.
Aristóteles deixa claro que a felicidade deve gerar o bem em si, sendo assim a felicidade
seria o bem supremo de todas as coisas.
A felicidade é então o bem supremo, o que há de mais esplendoroso e o que dá um prazer
extremo; estas qualidades não podem ser dissociadas, tal como as encontrou no epigrama de
Delos: O mais nobre é a justiça e o mais desejável a saúde.