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Psicologia da saúde e Hospitalar Trabalho em Equipe: Multidisciplinar,

Interdisciplinar e Transdisciplinaridade

-Conceitos de Trabalho em equipe

Trabalhar no contexto hospitalar exige a integração de uma equipe de profissionais para


que o atendimento seja com garantias de qualidade, humanização e que possa atender a
singularidade de cada paciente. Diz respeito ao modelo biopsicossocial, que considera o
próprio conceito de saúde da OMS, que a define enquanto algo além da ausência de lesões
ou doenças físicas, ligando-a também ao bem-estar mental e social do sujeito.
O trabalho em equipe é essencial no contexto hospitalar, onde médicos, enfermeiros,
psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas e os
demais profissionais envolvidos nesse atendimento possam estabelecer uma integração
para que o paciente possa encontrar nesse cenário um atendimento humanizado e a
resposta a outras necessidades do mesmo. (TAVARES, VENDRÚSCOLO, KOSTULSKI,
GOLÇALVEZ, 2012). Dentre as outras necessidades do trabalho em equipe junto ao
paciente, destacam-se a compreensão do seu processo de adoecimento e tratamento, as
orientações de saúde quando houver a alta hospitalar, a integração familiar junto ao
tratamento (compreendendo as informações e promovendo a segurança afetiva e
operacional). Todos esses são elementos que deverão ser considerados pela equipe, que
deverá interagir e traçar um plano terapêutico para o paciente.
A atuação do psicólogo no contexto hospitalar se caracteriza por um “conjunto de ações
psicoterapêuticas capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde mental e de intervir
nos problemas sanitários decorrentes da patologia orgânica, da hospitalização, dos
tratamentos medicamentosos e cirúrgicos, e da reabilitação”. (ALAMY, 2013, p. 19) O autor
dispõe as necessidades desde a entrada do paciente em um contexto hospitalar, o
tratamento realizado, os possíveis impactos em sua vida e um eventual processo de
reabilitação, muitas vezes realizado em contexto ambulatorial e residencial.
A integração da equipe de saúde é imprescindível para que o atendimento e o cuidado
alcance a amplitude do ser humano, considerando as diversas necessidades do paciente e
assim, transcendendo a noção de conceito de saúde, de que a ausência de enfermidade
significa ser saudável. (FOSSI, GUARESCHI, 2004, p. 31). A integração da equipe deve
considerar a inserção do sujeito em uma sociedade, seus relacionamentos junto a outras
pessoas e um certo nível de compreensão com relação a sua saúde. Existirão impactos
biológicos e orgânicos aos quais ele deverá se adaptar, mudanças no dia a dia e em suas
atividades cotidianas, etc. Para que tais mudanças possam ocorrer, será necessária uma
equipe que irá interagir com paciente, compreender suas demandas e trazer estratégias
eficazes não somente medicamentosas, mas também aconselhamentos e orientações que
possam auxiliá-lo em sua saúde.

-Multidisciplinaridade

Segundo (Bruscato et al, 2004) o trabalho da equipe multidisciplinar visa avaliar o


paciente de maneira independente e executando seus planos de tratamento como uma
“camada adicional” de serviços. Logo, não há um trabalho coordenado por parte dessa
equipe e uma identidade grupal. O médico, em geral, é responsável pela decisão do
tratamento, e os outros profissionais vão se adequar a demanda do paciente e as decisões
do médico referente a este. Uma equipe multidisciplinar é marcada pelo papel central do
médico, ao qual os outros profissionais de saúde deverão responder em um plano
terapêutico já traçado pela figura central da equipe. O psicólogo hospitalar provavelmente
responderia por meio de solicitação de parecer interno e específico para determinada
demanda, não adentrando enquanto uma busca ativa, por exemplo solicitando à família
para avaliar as possíveis demandas do sujeito atendido. Isso pode dificultar a comunicação
da equipe e a autonomia do paciente.
Multidisciplinar são múltiplas disciplinas existentes na instituição, porém que não
dialogam diretamente entre si. O diálogo muitas vezes é realizado por prontuários, onde
constam diversos pontos de vários profissionais acerca de sua atuação e conduta.
A equipe multidisciplinar deve construir uma relação entre profissionais, onde o paciente
é visto como um todo, considerando um atendimento humanizado.
Foca-se nas demandas da pessoa, e a equipe tem por finalidade atender as
necessidades globais da pessoa, visando seu bem-estar. Para que isso ocorra é importante
que haja um vínculo entre o paciente e os profissionais, que pode ser considerado no
manejo do psicólogo inserido no contexto hospitalar.
Tal inserção é favorável nas instituições quando esse tem a oportunidade e espaço para
reuniões entre os variados profissionais da equipe multidisciplinar, para poder destacar a
importância do reconhecimento do conjunto dos aspectos emocionais do paciente.
O psicólogo hospitalar irá observar os impactos dessa doença orgânica na saúde mental
do paciente, observando e auxiliando a equipe para que haja uma melhora terapêutica. O
profissional inserido em uma equipe multidisciplinar irá realizar as respostas à própria
equipe de forma mais segregada, respondendo as dúvidas e dificuldades encontradas por
ela com relação a compreensão do paciente como um todo.

-Interdisciplinaridade

A abordagem em equipe deve ser comum a toda a assistência à saúde. Isso porque o
principal aspecto positivo da atuação em equipe interdisciplinar é a possibilidade de
colaboração de várias especialidades que denotam conhecimentos e qualificações distintas.
Assim, a integração da equipe de saúde é imprescindível para que o atendimento e o
cuidado alcance a amplitude do ser humano, transcendendo a noção de conceito de saúde.
(Campos,1995).
Interdisciplinar são diversas disciplinas existentes na instituição, mas que dialogam entre
si. A grande diferença de uma equipe interdisciplinar para uma multidisciplinar é justamente
a colaboração e o diálogo entre as disciplinas.
A interdisciplinaridade, como um enfoque teórico-metodológico ou gnosiológico, como a
denomina Gadotti (2004), surge na segunda metade do século passado, em resposta a uma
necessidade verificada principalmente nos campos das ciências humanas e da educação:
superar a fragmentação e o caráter de especialização do conhecimento, causados por uma
epistemologia de tendência positivista em cujas raízes estão o empirismo, o naturalismo e o
mecanicismo científico do início da modernidade.
A interdisciplinaridade, como um movimento contemporâneo que emerge na perspectiva
da dialogicidade e da integração das ciências e do conhecimento, vem buscando romper
com o caráter de hiperespecialização e com a fragmentação dos saberes.
Para Goldman (1979, p. 3-25), um olhar interdisciplinar sobre a realidade permite que
entendamos melhor a relação entre seu todo e as partes que a constituem. Para ele,
apenas o modo dialético de pensar, fundado na historicidade, poderia favorecer maior
integração entre as ciências.
Nesse sentido, o materialismo histórico e dialético resolveu em parte o problema da
fragmentação do conhecimento quando colocou a historicidade e as leis do movimento
dialético da realidade como fundamentos para todas as ciências.

-Transdisciplinaridade

A transdisciplinaridade acena uma mudança. Ela tenta suprir uma anomalia do sistema
anterior, não destrói o antigo, apenas é mais aberta, mais ampla. A necessidade da
transdisciplinaridade decorre do desenvolvimento dos conhecimentos, da cultura e da
complexidade humana. Essa nova complexidade exige tecer os laços entre a genética, o
biológico, o psicológico, a sociedade, com a parte espiritual ou o sagrado, devendo também
ser reconhecidos. É uma epistemologia, uma metodologia proveniente do caminho científico
contemporâneo, adaptado, portanto, aos movimentos societários atuais (PAUL, 2005).
Observou-se que o psicólogo hospitalar também realiza, por exemplo, avaliações de
muitas questões ligadas ao conhecimento do serviço social. Havia então uma necessidade
de integração de tais conhecimentos para que os profissionais pudessem se compreender
melhor e dialogar, criando um plano em comum e visando o paciente e não só a sua
especialidade ou especificidade. Esse é o modelo biopsicossocial.
A transdisciplinaridade se preocupa com uma interação entre as disciplinas, promove um
diálogo entre diferentes áreas do conhecimento e seus dispositivos, visa cooperação entre
as diferentes áreas, contato entre essas disciplinas (IRIBARYY, 2003). Há o diálogo aberto
e passível de mudanças no intuito de se alcançar a cooperação entre diferentes áreas.
Transdisciplinar são diversas disciplinas existentes na instituição, que dialogam entre si,
mas transcendem o saber específico de cada disciplina, constituindo-se em um saber
próprio.
Transdisciplinaridade significa mais do que disciplinas que colaboram entre elas em um
projeto com um conhecimento comum a elas, mas significa também que há um modo de
pensar organizador que pode atravessar as disciplinas e que pode dar uma espécie de
unidade. E transdisciplinaridade é qualquer coisa que é mais profundamente integradora.
Agora, para que haja transdisciplinaridade, é necessário um pensamento organizador. É o
que chamo de pensamento complexo, se não há um pensamento complexo, não pode
haver transdisciplinaridade. (MORIN, E. A cabeça bem feita: repensar a reformar, reformar o
pensamento. RJ. 15ªed. Bertrand Brasil, 2008.)
É, portanto, a comunicação de todo o planejamento terapêutico, onde a psicologia pode
contribuir com seus conhecimentos e adentrar a alguns planos terapêuticos da medicina,
assim como a medicina poderá conversar e dialogar, trazendo novas abordagens para o
serviço social que por sua vez irá comunicar e ampliar as noções acerca do cuidado do
paciente.

-Condições de integração da equipe

▪ Prontuários – evoluções documentais: atualmente, a maioria dos prontuários é elaborada


de forma eletrônica, devendo ser preenchidos periodicamente para a segurança do paciente
e a cada atendimento, dispondo suas informações para o restante da equipe;
▪ Discussão de caso: meio em que os profissionais possam conversar e discutir as
principais demandas e as necessidades do paciente;
▪ Visitas Multidisciplinares: permite aos profissionais levantar o estado atual do paciente e
quais são as condições que ele ainda precisa desenvolver para alcançar a satisfação no
tratamento e a alta hospitalar;
▪ Construções de Planos Terapêuticos: pretende analisar o motivo da entrada do paciente,
quais são os recursos necessários e as atuações que serão dispostas para que haja a alta
hospitalar;
▪ Reuniões de Equipes: necessárias para que o tratamento do paciente e a própria
integração da equipe possa ocorrer.

Junto à equipe multiprofissional, o aprimoramento da comunicação, auxiliar a tomada de


decisões e encaminhamentos frente às dificuldades ou queixas apresentadas pelos
pacientes e/ou familiares, podendo ao psicólogo mediar a relação entre equipe/paciente e
equipe/equipe, a fim de que o ambiente hospitalar seja menos estressor para os
profissionais e usuários.

-Atuação do Psicólogo na Equipe

• Comunicação da tríade (família-paciente-equipe), compreender a tríade e as necessidades


de equipe, usuário e paciente, – organizar e esclarecer sobre a importância das funções e
suas relações exercidas em benefício do paciente;
• Esclarecer sobre acontecimentos biológicos que provocam mudanças significativas na
vida das pessoas;
• Informar sobre causas, consequências e tratamento de doenças que os pacientes
apresentam; por exemplo, considerando um paciente que tenha sofrido uma amputação: o
psicólogo poderá auxiliar com a educação e saúde além da psicoeducação, ajudando a
compreensão do paciente e explicando que o rebaixamento de humor e o luto vivido são
esperados e de que forma ele poderá compreender e ter novas perspectivas mesmo com tal
fato em sua vida;
• Assegurar a adesão ao tratamento;
• Auxiliar na adaptação à nova condição de saúde;
• Propiciar trocas de experiência entre pessoas que enfrentam situações semelhantes;
Muitas vezes o psicólogo poderá lançar mão de grupos terapêuticos, onde um mesmo tema
que é vivenciado por várias pessoas será enfrentado de forma conjunta e com abordagens
diferentes (novas estratégias de enfrentamento);
• Criar oportunidades de contato com a equipe para esclarecer dúvidas; caso a equipe
funcione de forma transdisciplinar, dentro da rotina serão estabelecidos horários para a
discussão de casos, elencando riscos clínicos e de óbito ou de perda de funções assim
como os psíquicos (suicídio, descompensação ou cisão da realidade);
• Comunicar normas e rotinas de determinada unidade; e
• Avaliar a qualidade dos serviços oferecidos pela instituição.

“A intervenção psicológica pode ser de apoio, orientação ou psicoterapia. Os objetivos


são os mais diversos: avaliar o estado emocional do paciente; esclarecer sobre dúvidas
quanto ao diagnóstico e hospitalização; amenizar angústias e ansiedades em situações
desconhecidas; trabalhar vínculo mãe-bebê; trabalhar aspectos da sexualidade envolvidos
na doença e no tratamento; preparar para cirurgia; garantir adesão ao tratamento; auxiliar
na adaptação à nova condição de vida imposta pela doença; orientar os pais sobre
maneiras mais adequadas de informar as crianças sobre a hospitalização ou morte de um
familiar; e facilitar o enfrentamento de situações de morte e de luto”. Tonetto e Gomes,
(2007, p. 44)
-Bibliografia

MORIN, E. A cabeça bem feita: repensar a reformar, reformar o pensamento. RJ.


15ªed. Bertrand Brasil, 2008.

TONETTO, Aline M. e GOMES, William B. Competências e habilidades necessárias à


prática psicológica hospitalar. p.44

Meyrielle Belotti, Bruna Ceruti Quintanilha, Kelly Guimarães Tristão, Pedro Machado Ribeiro
Neto, Luziane Zacché Avellar Percepções sobre o processo de trabalho em um centro
de atenção psicossocial infanto-juvenil

ALAMY, 2013, Psicologia hospitalar: atuação do psicólogo em equipe multidisciplinar


p. 19

FOSSI, GUARESCHI, 2004, A psicologia hospitalar e as equipes multidisciplinares. p.


31

Bruscato et al, 2004 A Psicologia no hospital geral: aspectos históricos, conceituais e


práticos

Campos,1995 O Psicólogo Clínico e a equipe multidisciplinar no Hospital Santa Cruz

Gadotti, 2004 A interdisciplinaridade como um movimento articulador no processo


ensino-aprendizagem

PAUL, 2005 Por uma teoria integradora para a compreensão da realidade

IRIBARYY, 2003, Aproximações sobre a transdisciplinaridade: algumas linhas


históricas, fundamentos e princípios aplicados ao trabalho de equipe

TONETTO, GOMES, 2007, Competências e habilidades necessárias à prática


psicológica hospitalar p.44

FACULESTE Intervenções da psicologia hospitalar e da saúde

TAVARES, Suyane Oliveira, VENDRÚSCOLO Cláudia Tomasi,KOSTULSKI, Camila


Almeida, GONÇALVES, Camila dos Santos,Interdisciplinaridade, Multidisciplinaridade
ou Transdisciplinaridade

PAUL, Patrick Transdisciplinaridade e Antropoformação: sua importância nas


pesquisas em saúde

SENA, Emili Mota ‘’Tornar-se psicóloga hospitalar’’: relato de experiência da


constituição de um serviço de psicologia

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