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MODELOS DE DESCRIÇÃO DA DOR

▪ Descartes – dor como uma resposta a um estímulo doloroso, o cérebro detecta a sensação dolorosa
▪ 1895 Von Fre – resposta automática a um fator externo, receptores sensíveis à estímulos específicos
▪ 1920 Goldscheineider – dor resultado de comunicação cérebro e área afetada pela dor, resposta
automáticas a estímulos externos que a provocariam, dor psicogênica (produção da mente do paciente) e por
outro lado orgânica (reação capaz de ser observável)

DEFINIÇÃO MODERNA DA DOR


Experiência sensitiva e emocional desagradável associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão
tecidual real ou potencial – multidimensional (perspectiva subjetiva).
O modelo biopsicossocial concebe a saúde e outros comportamentos são interação entre mecanismos
biológicos, processos psicológicos e influências sociais.

TEORIA PORTÃO DA DOR MELZACKE WALL (1965)


Primeira tentativa de introdução de sistemas de natureza essencialmente psicológica para explicar a forma
como a informação nociceptiva é processada.

O sistema sensório discriminativo, que intervém na transmissão de informação temporal e espacial sobre a
estimulação; o motivacional-afectivo, que funciona como um moderador emocional da dor; e o cognitivo-
avaliativo, que explica as mudanças na qualidade ou na intensidade da dor quando o significado da dor
muda.

O modelo ajuda a compreender quais os aspectos físicos, emocionais, cognitivos e comportamentais que
podem proporcionar a abertura do portão (i.e., suscitar uma maior percepção de dor através, p.e., da
ativação das fibras longas, ansiedade, tristeza, preocupação com as dores, aborrecimento, desinvestimento
nas atividades de prazer, perspectiva negativa face ao confronto da dor),

ou o seu fechamento (i.e., permitir uma menor percepção da dor através, p.e., da medicação, massagens,
expressão de emoções positivas, capacidade de distração, manutenção da boa forma física e de um estilo de
vida saudável) e a definir estratégias de intervenção úteis e pertinentes para corrigir, em cada doente, os
fatores que interferem negativamente na sua experiência de dor.

A modificação das crenças sobre a dor e das expectativas do seu controlo possibilitam a reversão do ciclo,
conduzindo a comportamentos mais adaptados de activação física e uma maior percepção da capacidade de
gestão da dor.
IMPACTOS DA DOR NO DESENVOLVIMENTO
Redução da atenção focal aos 8 meses de idade, preditora de déficits cognitivos e problemas de
hiperatividade/impulsividade na idade pré escolar.

Disruptura na trajetória da evolução tálamo cortical afetando negativamente o desenvolvimento cognitivo e


motor em crianças nascidas pré-termo na idade pré-escolar.

Aumento da sensibilidade perceptual à estimulação dolorosa, espessura cortical reduzida, baixa atividade
vagal, déficit no desenvolvimento perceptivo-visual, quociente intelectual reduzido e problemas de
comportamento internalizantes em crianças na idade escolar.

AVALIAÇÃO DE DOR
A dor pode ser avaliada por relato do paciente, observação do seu comportamento e das respostas
fisiológicas à dor. As escalas de avaliação são instrumentos para mensurar a dor e podem ser classificadas
em uni ou multidimensionais.

Pontos a considerar: 1. Autoimagem 2. Rotina 3. Pensamentos 4. Afetividade 5. Projeto de Vida.


Como avaliar: 1. Questionário de autoavaliação da dor 2. Desenho da dor 3. Rotina da dor 4. Escala de
Ansiedade e Depressão 5. Lista de Incômodos.

1. quando os sintomas são mais graves do que o esperado por uma avaliação clínica (ex: médico ou
fisioterapeuta); 2. quando há incapacidade importante, a dor interfere significativamente na capacidade do
paciente de realizar atividades rotineiras (ex: trabalho, lazer); 3. quando existem sinais de estresse, ansiedade
ou depressão e crenças disfuncionais; 4. se houver suspeita de uso excessivo de medicação ou drogas ou
transtornos emocionais importantes; 5. diante de falhas excessivas nos tratamentos, dificuldade de aderência
ao tratamento ou suspeita de ganho secundário.
Os objetivos da avaliação são estabelecer os elementos determinantes ou contribuintes para o quadro,
aquilitar as limitações e os sofrimentos advindos da dor, nortear a escolha das intervenções analgésicas e
verificar efetividade das intervenções implementadas.

Dimensões
As dimensões da avaliação psicológica em pacientes com dor crônica seguem o modelo tridimensional que
avalia as dimensões sensório-discriminativa; motivacional-afetiva; cognitivo-avaliativa.

A dimensão sensório-discriminativa diz respeito aos componentes físicos da dor;


A dimensão motivacional-afetiva abrange a interpretação da experiência dolorosa, envolvendo aspectos
como tensão, respostas neurovegetativas, medo, punição e outros sentimentos.
A dimensão cognitivo-avaliativa são os aspectos relacionados à compreensão da experiência dolorosa por
meio das características sensoriais e afetivas, experiências passadas, significado da situação, representações
dos sintomas, além de outros aspectos cognitivos, que são avaliados.

A avaliação dessas dimensões deve abarcar três questões fundamentais: a) Qual a extensão e magnitude da
doença ou sintoma? b) Como a dor interfere na vida do paciente e quais as limitações impostas por ela? c)
quando e como os sintomas podem estar sendo alterados por aspectos sociais, emocionais ou
comportamentais.

A avaliação do fenômeno doloroso pode ser dividida em três categorias:

As MEDIDAS DE RESPOSTAS FISIOLÓGICAS DA DOR, geralmente são realizadas em laboratórios


especializados e consistem em medir o limiar fisiológico, o limiar de tolerância e a resistência da dor.

As OBSERVAÇÕES DE COMPORTAMENTOS relacionados à dor permitem a compreensão da


manifestação dolorosa no que se refere à interpretação e resposta a estímulos dolorosos. As observações
podem ser definidas como medidas comportamentais da dor e as abordagens mais comuns são o registro de
limitações funcionais em função da dor, bem como a observação de respostas voluntárias e involuntárias.

DESCRIÇÕES VERBAIS OU ESCRITAS DA DOR, que permitem o acesso aos componentes


motivacional-afetivo; sensório-discriminativo e cognitivo-avaliativo. São exemplos desses métodos as:
escalas de dor, entrevistas, testes psicológicos da subjetividade do paciente e de diversas outras variáveis
não acessadas pelos dois outros métodos.
Medidas da intensidade da dor (unidimensionais)

1. Escala de Estimativa Numérica (Numeric Rating Scale - NRS)


Os pacientes avaliam a sua dor em uma escala de 0 a 10 ou de 0 a 5 categorias, com 0 representando
"nenhuma dor" e 5 ou 10 indicando "a pior dor imaginável".

Sousa e Silva (2005) sugerem a utilização dessa medida, para avaliação dos níveis de intensidade de dor na
consulta inicial e durante todo o processo de tratamento.

2. Escala Analógica Visual (Visual Analogue Scale - VAS)


Consiste em uma linha de 10 cm, com âncoras em ambas as extremidades. Numa delas é marcada "nenhuma
dor" e na outra extremidade é indicada "a pior dor possível", ou frases análogas. A magnitude da dor é
indicada marcando a linha e uma régua é utilizada para quantificar a mensuração numa escala de 0-100 mm.

Para Sousa e Silva uma estimativa acima de 3 cm é razoavelmente fidedigna para incluir pacientes com dor
severa, mas, ela também pode abarcar pacientes com dor moderada ou menos. Isto demonstra que a Escala
Analógica Visual TALVEZ seja mais adequada APENAS para comparações longitudinais intrasujeito.

3. Escalas de Categorias Verbais ou Visuais (Verbal - Visual Rating Scale - VRS)


Os pacientes estimam a intensidade da dor por descritores verbais ou visuais. Exemplos de descritores
visuais são a Escala Facial de Dor (Face Pain Scale - FPS) para adultos e crianças e a Escala de Faces de
Wong Baker para crianças, enquanto que um exemplo de descritor verbal pode-se considerar a escala de
Melzack e Torgerson.

Hicks et al. (2001) desenvolveram uma escala de faces (FPR-R) em que o próprio paciente, por meio de
tecnologia computacional, manipula a face que está na tela do computador de acordo com a intensidade da
dor que está sentindo ("nenhuma dor" e "dor muito intensa").

4. Escalas (Categoria - Razão) de Borg para mensuração da dor (Borg CR Scales)


É utilizada quando o objetivo é acompanhar alterações da intensidade da dor num mesmo indivíduo ou as
respostas de uma mesma pessoa pré e pós-tratamento. A escala de Borg (CR-10) foi construída tendo como
fundamentos as escalas de razão, o modelo dos efeitos da amplitude dos estímulos-categorias, a semântica
quantitativa além das relações com o método de estimação de magnitude.
Medidas das múltiplas dimensões da dor (multidimensionais)
1. Instrumento de Avaliação Inicial da Dor (Initial Pain Assessment Inventory - IPAI)
De acordo com McCaffery (1999) esta escala foi desenvolvida para obter informações a respeito das
características da dor, a maneira como o paciente a expressa e os efeitos dela sobre o seu cotidiano.

Além dessas características, o referido instrumento possui uma escala para indicação da intensidade e um
diagrama para localização da dor. Contudo, não foram encontradas informações psicométricas de validade e
fidedignidade.

2. O Desenho da Localização da Dor (Pain Drawing - PD)


O desenho da localização da dor nos fornece uma representação gráfica do local onde o paciente está
sentindo dor e sua distribuição. Sousa e Silva (2005) indicam que esse tipo de escala apresenta fidedignidade
deficitária.

3. Questionário de McGill (McGill Pain Questionnaire - MPQ)


O MPQ é uma escala multidimensional que avalia a experiência dolorosa nas dimensões: sensorial, afetiva
e avaliativa e é baseada em palavras que os pacientes selecionam para descrever sua dor.

Esses autores ainda referem que alguns estudos encontraram que as três dimensões operam
independentemente. Ressalta-se que o MPQ fornece informações a nível ordinal em vez de intervalar.

4. Inventário Multidimensional de Dor (Multidimensional Pain Inventory - MPI)


Este inventário compreende informações sobre as condições físicas, psicossociais e comportamentais de
pacientes com dor crônica. Este instrumento é composto de três partes.

A primeira consta de 28 itens que são distribuídos em 5 escalas numéricas de 7 pontos: 1)registros da
severidade da dor; 2) percepção da extensão em que a dor interfere com o seu próprio estilo de vida; 3)
controle de vida percebido; 4) agonia afetiva e 5) apreciação da quantidade de suporte recebido de pessoas
íntimas.
  
A segunda parte do inventário consta de 14 itens distribuídos em três níveis de uma escala numérica de 6
pontos que varia de "nunca" a "muito freqüentemente"; 1) respostas de punição; 2) respostas de solicitação e
3)respostas de distração.

A parte três diz respeito a freqüência com que determinadas atividades cotidianas são desempenhadas pelos
pacientes. É composta por 19 itens distribuídos em 4 escalas numéricas de 6 pontos: 1) trabalhos caseiros;
2)trabalhos externos; 3)atividades fora de casa e 4) atividades sociais.

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