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Medicina Veterinária ISSN 1809-4678

Dor: mecanismos envolvidos na sua transmissão e recursos terapêuticos aplicados


à sua inibição

[Pain: mechanisms involved in its transmission and treatment resources applied to its
inhibition]

“Revisão/Review”

HI Trindade1*, MCS Batista2, LLB Silva3


1
Programa de Pós-graduação em Ciência Animal/UFPI, Piauí, Brasil.
2
Departamento de Morfofisiologia Veterinária, Centro de Ciências Agrárias/UFPI, Piauí, Brasil.
3
especialização, UFPI
______________________________________________________________________
Resumo

A dor é uma experiência desagradável, subjetiva, única e individual, possuindo aspectos sensoriais, afetivos, auto-
nômicos e comportamentais. A sensação de dor é fundamental para a sobrevivência, sendo obrigatória a sua avaliação
e a intervenção adequada. A dor pode ser classificada de várias formas, quanto à origem (química, neurogênica e
mecânica), à natureza (nociceptiva, neuropática e complexa ou mista) e ordem da manifestação (aguda ou crônica).
Devido à variação no limiar de dor entre espécies e até mesmo entre indivíduos da mesma espécie, tornou-se
importante a mensuração da dor, que é realizada através de escalas unidimensionais ou multidimensionais. A dor tem
inicio com a estimulação dos nociceptores que, através das fibras nervosas mielinizadas (tipo A) ou amielinizadas
(tipo C), transferem esse estimulo ao sistema nervoso central, onde ocorre à consciência da dor e a reposta do
organismo a esse estímulo. As principais substâncias responsáveis pela sensibilização dos nociceptores são
acetilcolina, prostaglandinas, histamina, serotonina, bradicinina, substância P, tromboxana, dentre outras. Vários
fármacos podem ser utilizados no bloqueio terapêutico da dor, dentre eles pode citar os anestésicos gerais, anestésicos
locais, analgésicos opióides, agonistas -2 adrenérgicos, anti-inflamatórios não esteroidais, bloqueadores
adrenérgicos, antidepressivos, antagonistas de NMDA, benzodiazepínicos, fenotiazínicos, relaxantes musculares e
nutracêuticos. Outras condutas não farmacológicas também podem ser utilizadas, como os métodos de estimulação
elétrica e a acupuntura.

Palavras chave: sensação dolorosa, nociceptores, analgésicos, antinociceptivos.

Abstract

Pain is an unpleasant experience, subjective, unique and individual, possessing sensory aspects, affective, autonomic
and behavioral. The sensation of pain is fundamental to survival, and must its evaluation and appropriate intervention.
Pain can be classified in various ways, as to the origin (chemical, mechanical and neurogenic), nature (nociceptive,
neuropathic and complex or mixed) and order of manifestation (acute or chronic). Due to the change in pain threshold
between species and even between individuals of the same species, has become an important measurement of pain,
which is accomplished through one-dimensional or multidimensional scales. The pain is beginning to stimulation of
nociceptors that through the myelinated nerve fibers (type A) or amielinizadas (type C), transfer to the central
nervous system stimulation, which is the consciousness of pain and the body's response to this stimulus. The main
substances responsible for the sensitization of nociceptors are acetylcholine, prostaglandins, histamine, serotonin,
bradykinin, substance P, thromboxane, among others. Several drugs can be used to block pain therapy, among them
can cite the general anesthetics, local anesthetics, opioids, -2 adrenergic agonists, nonsteroidal anti-inflammatory
drugs, adrenergic blockers, antidepressants, NMDA antagonists, benzodiazepines, phenothiazines, muscle relaxants
and nutraceuticals. Other non-pharmacological behavior can also be used as methods of electrical stimulation and
acupuncture.
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(*)
Autor para correspondência/Corresponding author: hebelys@yahoo.com.br
Recebido em: 08 de fevereiro de 2013.
Aceito em: 23 de setembro de 2013.
Trindidade et al., Dor: mecanismos envolvidos na sua transmissão e recursos terapêuticos aplicados.......................7
Key words: soreness, nociceptors, analgesics, antinociceptive.
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Introdução
A avaliação da dor é complexa, pois
A palavra dor, originária do latim tanto a manifestação dolorosa quanto a
dolor, é definida pela International conduta médica possuem caráter subjetivo.
Association for the Study of Pain (IASP) No ser humano o tratamento da dor é
como uma “Uma experiência sensorial e auxiliado pelo fato do paciente poder relatar
emocional desagradável associada a dano e discutir os elementos das experiências
tecidual real ou potencial, ou descrita em sensoriais e afetivas, enquanto nos animais
termos de tal dano” (IASP, 1994). Este a sua percepção é dificultada e depende de
conceito permite a constatação de que a dor uma avaliação bem mais criteriosa. Em
é uma experiência única e individual, geral, nos animais a dor só é tratada quando
modificada pelo conhecimento prévio de o médico veterinário e o proprietário
um dano que pode ser existente ou reconhecem a sua presença e julgam a sua
presumido. Desta maneira a dor uma gravidade (VIÑUELA-FERNÁNDEZ et al.,
experiência subjetiva que pode estar 2007).
associada à lesão real ou potencial nos Estudos recentes apontam para o fato
tecidos, podendo ser descrita tanto em de a dor ser o principal motivador para a
termos destas lesões quanto por ambas as procura por serviços de saúde no Brasil e
características (GARCIA, 2010). em outros Países e para as suas
Alguns estudos apontam para a não repercussões nos custos dos financiamentos
obrigatoriedade de haver dano tissular para em saúde. Sua avaliação e o seu adequado
que a dor se manifeste, visto que algumas tratamento em humanos incluem, além de
síndromes dolorosas, como a cefaléia e a aspectos técnicos profissionais, questões
dor pélvica, não são detectáveis por éticas e jurídicas (FREITAS e TORRES,
métodos de diagnóstico disponíveis na 2009).
prática clínica atual (ROCHA et al., 2007). Durante os últimos anos houve um
Independente da aceitação e da grande avanço na compreensão e no
amplitude dessa definição, a dor é tratamento da dor em animais, o que,
considerada como uma experiência, uma felizmente, veio a desmistificar conceitos
sensação, genuinamente subjetiva e pessoal atrasados de que os animais não sentiam
que possui aspectos sensoriais, afetivos, dor, sobretudo a partir de 1998, quando o
autonômicos e comportamentais (SILVA e Colégio Americano de Anestesiologistas
RIBEIRO FILHO, 2011). Veterinários (ACVA) publicou a sua
No ano de 2000, a Joint Comission posição em relação à dor, considerando-a
Acredditation of Healthcare Organizations condição importante no prejuízo à
(JCAHO) publicou uma norma que qualidade de vida e determinando a
descreve a dor como quinto sinal vital, uma obrigatoriedade de sua prevenção e
vez que a sensação de dor é fundamental tratamento (YAZBEK, 2008).
para a sobrevivência. Para a JCAHO a Considerando-se a importância do
avaliação da dor inclui: localização, conhecimento a respeito da dor, que é
intensidade baseada em escala (numérica, indispensável para a adoção de condutas
verbal ou outras), momento do início, capazes de controlá-la, este trabalho tem
duração, padrão, fatores de alívio e como objetivo realizar uma revisão
agravantes, bem como os seus efeitos nas bibliográfica sobre a dor, com ênfase no
atividades diárias e na qualidade de vida, processo de sensibilização periférica e
em humanos. Portanto, a JCAHO central e as principais condutas terapêuticas
estabeleceu a obrigatoriedade de avaliação, adotadas no seu controle.
intervenção e reavaliação da dor no
processo de qualificação ou de acreditação Aspectos históricos da dor
hospitalar (MORETE e MINSON, 2010). Evidências diretas acerca do

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Trindidade et al., Dor: mecanismos envolvidos na sua transmissão e recursos terapêuticos aplicados.......................8
pensamento pré-histórico sobre a dor não XVI e XVII, Descartes introduziu conceitos
são claras. Entretanto, existiam lendas e sobre a especificidade das vias nervosas
crenças nas sociedades primitivas, envolvidas na percepção da dor que se
explicadas por meio de termos mágicos ou firmaram completamente ao século XIX
religiosos, segundo as quais experiência (FANTONI e MASTROCINQUE, 2002).
angustiante e dolorosa era atribuída à Nos primórdios da civilização a
invasão do corpo por maus espíritos e eram condição dolorosa era inerente apenas ao
tratados através de magias ou apelo por homem, considerado como único ser
divindades (PERL, 2011). senciente, porém a partir da publicação da
Na tradição bíblica a doença e a dor obra “A origem das espécies”, de autoria do
apareceram depois que Adão e Eva cederam cientista Charles Darwin, começou a haver
à sedução da serpente e comeram da árvore uma mudança na forma como os seres
do conhecimento do bem e do mal. Dor e humanos encaravam suas relações com as
sofrimento passaram a ser inseparáveis e outras espécies animais, incluindo as
tidos como castigos merecidos pela implicações éticas dessas relações. O
provocação da ira divina (PINHEIRO, darwinismo promoveu uma ascensão dos
2007). status dos animais à condição de seres
A associação entre dor física, sensíveis, visto que na visão de Darwin
preceitos religiosos, interesses políticos e animais e humanos partilham uma mesma
sofrimento social ocorreu durante muito origem biológica e, por conseguinte,
tempo e só passou a ser efetivamente ossuem respostas físicas e emocionais
questionada a partir de meados do século semelhantes (CARVALHO, 2010). De toda
dezenove, com o isolamento da morfina e a polêmica iniciada na Inglaterra, a partir do
consequente desenvolvimento dos opióides, pensamento de Darwin, e que ultrapassou
identificação dos receptores neurológicos e fronteiras ao longo de décadas, resultou em
da transmissão dos impulsos nervosos algumas atitudes por parte da comunidade
(MICELI e LEITE, 2006). científica, materializadas documentalmente,
As sociedades primitivas tinham uma exemplificadas pela publicação do ACVA a
visão limitada de anatomia e das funções de respeito da obrigatoriedade de atenção à
partes do corpo, embora o coração, com prevenção e ao tratamento da dor dos
suas pulsações regulares, tenha sido animais (YAZBEK, 2008).
reconhecido como órgão essencial para a
vida ainda na era pré – cristã. No Egito, Nomenclatura aplicada à dor
antes de 2000 a.C., ao coração foi dada A terminologia da dor é ampla e
preeminência como órgão de transporte e inclui os seguintes termos, segundo o IASP
capacidade humana e o cérebro foi (2011):
considerado de pouca importância; assim,  Nocicepção: é o processo de
na prática egípcia, tinha-se o cuidado de codificação neural de estímulos
salvar o coração e descartar o cérebro, no nocivos (percepção da dor);
ato do embalsamamento de corpos. O  Nociceptor: é um receptor de alto
cânone chinês da medicina, Nei Ching, cuja limiar sensorial do sistema
história data de aproximadamente 2600 somatossensorial nervoso periférico
a.C., também deu grande importância para que é capaz de realizar a transdução e
o coração e outros órgãos no controle dos codificação de estímulos nocivos;
fluxos de forças (yin e yang) que se  Alodinia: dor produzida por
presume regular a vida (PERL, 2011). estímulos (não nocivos) que
Na Grécia, nos séculos V e VI a.C., a normalmente não a provocam;
dor foi relacionada ao cérebro e nervos, e  Analgesia: ausência de dor em
não ao coração. Somente após o resposta à estimulação que
Renascimento foi, definitivamente, normalmente seria dolorosa;
atribuído ao sistema nervoso central (SNC)  Hiperalgesia: é o aumento da
o papel fundamental no mecanismo das resposta de dor a um estímulo nocivo
sensações e da nocicepção. Nos séculos
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no local da lesão (primária) ou em (MACIEL, 2004). A dor neuropática é
tecido não danificado circundante originada a partir de lesões ou compressões
(secundária); do sistema nervoso, central ou periférico e a
 Hiperestesia: aumento da dor complexa ou mista envolve múltiplas
sensibilidade a estímulos nocivos; características e requer a associação de
 Hipoalgesia: diminuição da dor em fármacos para o seu controle (MACIEL,
resposta a um estímulo que 2004; ALMEIDA et al., 2006).
normalmente é doloroso; A dor neuropática é mais patológica
 Dor neuropática: é dor causada por e muitas vezes provêm de uma região
uma lesão ou doença do sistema anatômica não sujeita à estimulação nociva
nervoso somatossensorial; refletindo em danos e funcionamento
 Limiar de dor: é a intensidade impróprio do tecido neural (ROSENOW e
mínima do estímulo que é percebido HENDERSON, 2003). Ou seja, é originária
como doloroso; de lesões ou doenças degenerativas de
 Analgesia preemptiva: consiste na nervos periféricos (por exemplo,
aplicação de técnicas ou fármacos amputação) ou do SNC, que normalmente
analgésicos antes de o paciente ficar vem acompanhada de parestesia (PISERA,
exposto a estímulos nocivos (por 2005). Não responde a tratamento com
exemplo, cirurgia); anti-iflamatórios não esteroidais (AINES) e
 Analgesia multimodal: é a obtida geralmente tem resistência a opióides
pela administração simultânea de (VIÑUELA-FERNÁNDEZ et al., 2007).
duas ou mais classes de fármacos ou Lambedura excessiva, automutilação,
técnicas analgésicas. mordiscamento, presença de alodinia e
hiperalgesia no local da lesão, são
Tipos de dor manifestações clínicas sugestiva de dor
De acordo com a origem, a dor pode neuropática nos animais (YAZBEK, 2008).
ser química, neurogênica e mecânica. A dor A dor neuropática é considerada, por
de origem química procede de alterações alguns autores, como uma síndrome
metabólicas e eletroquímicas locais dolorosa crônica na qual o mecanismo
causadas por inflamação aguda, perdas gerador situa-se em algum local das vias
teciduais, rupturas vasculares, e outros nociceptivas, sem inicialmente estimular os
estímulos. A dor neurogênica decorre de nociceptores (GARCIA, 2010).
lesões de raízes nervosas que provocam Outros autores consideram a
desmielinização em seu trajeto resultando existência de dores de origem nociceptiva
em manifestação dolorosa irradiada aguda ou não-nociceptiva, podendo ser localizada
ou crônica. Dor mecânica é a produzida por ou generalizada, superficial ou profunda, de
lesão mecânica de um tecido, como origem visceral, somática, neuropática,
compressão e distensão prolongadas psicogênica e fisiológica (ALMEIDA et al.,
(STERIN e GALLEGO, 2005). 2006).
Segundo a natureza, a dor pode ser O termo “dor fisiológica” é
dividida em: nociceptiva, neuropática e controvertido pela literatura. Este tipo de
complexa ou mista. A dor nociceptiva é dor é descrito por alguns autores como uma
aquela originada a partir da estimulação de entidade isolada ou um evento raro e tende
nociceptores e pode ser subdividida em: a indicar a manifestação transitória induzida
somática e visceral. A somática é a pela ativação de nociceptores da pele ou
processada por receptores de pele e sistema outros tecidos do corpo, mesmo na ausência
músculo-esquelético como, por exemplo, a de qualquer dano tecidual (KLAUMANN et
dor óssea e a decorrente de ulceração de al., 2008). Para outros autores a dor
pele. A dor visceral é originada em fisiológica é a nociceptiva, aquela iniciada
nociceptores localizados nas vísceras, como pelo estímulo inicial dos nociceptores
as cólicas e as oriundas de lesões nos (GARCIA, 2010), sendo considerada
pulmões e outros órgãos internos onipresente na vida cotidiana e raramente é
uma razão para procurar cuidados de saúde.
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Na prática clínica, essa dor é transitória, Dentre os animais domésticos, apesar
incidental ou processual, como exemplo da subjetividade da avaliação da dor, cães e
uma punção venosa ou injeção para a gatos são mais hiperreativos e exteriorizam
imunização (LAMONT et al., 2000). mais a dor do que os ruminantes
Considerando-se a ordem da (ANDRADE e CASSU, 2008).
manifestação, a dor pode ser aguda ou A mensuração da dor é
crônica. A dor aguda é um sintoma de provavelmente uma das áreas mais
alguma doença seja ela resultante de uma importantes no vasto domínio do seu
lesão traumática, cirúrgica ou infecciosa estudo. Existem questionamentos acerca
(FANTONI e MASTROCINQUE, 2002; dos motivos para se mensurar a dor e a
FREITAS et al., 2009), mesmo não tendo literatura aponta respostas, tais como:
função protetora (no sentido do que a dor determinar se os riscos de um determinado
fisiológica faz), porém, possui o propósito tratamento superam os danos causados pelo
biológico de servir como aviso para lesão. problema clínico; escolher a melhor e mais
A dor crônica persiste além do prazo segura dentre as distintas condutas
previsto para uma determinada doença, com terapêuticas; e acompanhar e analisar os
duração longa (3 a 6 meses), não possuindo mecanismos de ação de fármacos
nenhuma função biológica (KLAUMANN (VILLEURE e BUSHNELL, 2002; SILVA
et al., 2008; FREITAS et al., 2009). e RIBEIRO FILHO, 2011).
Outro critério de classificação da dor Os métodos atuais utilizados para a
utiliza a terminologia que faz referência ao mensuração e avaliação da dor têm raízes
fator etiológico causal. Por exemplo, a dor históricas na psicofísica, um campo da
oncológica, considerada como uma psicologia experimental que se preocupa
evolução da dor crônica, que pode ser com as relações entre as propriedades dos
devida ao tumor primário ou suas estímulos e as respostas ou reações
metástases, à terapia anticancerosa bem comportamentais ou percepções sensoriais
como os métodos de investigação. O (SILVA e RIBEIRO FILHO, 2011)
tratamento deve ser prioritário, pois a dor As escalas atualmente adotadas na
prejudica a atividade física, o apetite e o avaliação de dor podem ser divididas em
sono, debilitando ainda mais o paciente. O unidimensionais ou multidimensionais. As
câncer pode causar dor em qualquer fase da unidimensionais, quantificam a severidade
doença, apresentando maior frequência e ou intensidade da dor com base em
intensidade nos estágios mais avançados da informações rápidas, não-invasivas,
doença (MORETE e MINSON, 2010). especialmente úteis para mensuração da dor
aguda. As multidimensionais são
Avaliação da dor empregadas para avaliar e medir as
O limiar de dor é variável entre diferentes dimensões de dor a partir de
espécies e até em indivíduos da mesma diversos indicadores de respostas e suas
espécie. Estudos têm demonstrado que interações, tendo como principais
homens e mulheres diferem quanto à dimensões: a sensorial, a afetiva e a
tolerância e sensibilidade à dor. Já foram avaliativa (SOUSA e SILVA, 2005). Um
comprovadas diferenças entre homens e detalhamento das escalas unidimensionais
mulheres quanto ao impacto da condição utilizadas em clínica humana as subdivide
dolorosa, comportamentos adaptativos à dor em: 1) escala verbal, que adota os escores
e estratégias de enfrentamento “nenhuma dor”, “dor leve”, “dor moderada”
(NOGUEIRA et al., 2008). Também tem e “dor intensa”; 2) escala analógica visual
sido apontado um importante papel com uma linha de 10 cm com os escores
desempenhado por hormônios sexuais na “nenhuma dor” à esquerda e “dor intensa” à
patogênese de algumas enfermidades direita, na qual o paciente indica qual o
dolorosas; como exemplo, citam-se os lugar da linha que representa melhor a sua
estrógenos nas desordens intensidade. A escala multidimensional
temporomandibulares (FERRARA mais enfocada na literatura para humanos é
JÚNIOR e ALVES, 2008). o Inventário Breve da Dor (IBD), que inclui
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um diagrama para anotar a localização da analógica visual (VIÑUELA-
dor, com perguntas a respeito da FERNÁNDEZ et al., 2007).
intensidade atual, média e pior, usando a A escala descritiva simples utiliza
escala de avaliação de zero a 10 (MORETE números para graduar a dor, acompanhados
e MINSON, 2010). de descrições do que cada número
Outra abordagem sobre as escalas de representa, ou seja, o observador avalia o
mensuração de dor, em humanos, as animal e escolhe um número de zero a três
classifica em oito tipos: 1) escala de dor (0=nenhuma dor; 1=dor leve; 2=dor
comportamental observacional (EDCO) – moderada; 3=dor grave) a qual se adapta
específica para crianças de um a sete anos; melhor a observação. Na escala analógica
avalia comportamentos da dor através da visual é padronizado o uso de linhas de
expressão facial, verbalização e posição comprimento, com os escores “nenhuma
corporal, com escores de zero a dois; 2) dor” de um lado e “pior dor possível", do
escala numérica (EN) – que quantifica a outro. Neste caso, o observador avalia o
intensidade da dor através de números, paciente e marca um ponto na linha
segundo a qual o zero significa ausência de graduada (distância entre ausência de dor e
dor e 10 representa pior dor imaginada; 3) o ponto marcado representa o grau de dor
escala analógica visual (EAV) – composta do animal). A escala numérica é semelhante
por linha com os descritores verbais à analógica, só que ao invés de linha, ela é
“ausência de dor” e “pior dor possível” em graduada por números de 0 a 10, mantendo
cada uma das suas extremidades; 4) escala em uma extremidade “nenhuma dor” e na
verbal (EV) – que permite a quantificação outra “a pior dor possível”, e o observador
da dor pelo paciente, utilizando descritores classificará a dor numericamente
“ausência de dor”, “dor branda”, “dor (TEIXEIRA, 2005).
moderada”, “dor intensa” e “dor Em uma tentativa de superar as
insuportável”; 5) escala de avaliação deficiências das escalas de observação, foi
comportamental da dor: faces, pés, desenvolvida uma escala interativa, onde o
atividade, choro e consolo (FPACC) – que efeito verbal, interação física e/ou palpação
utiliza cinco descritores para avaliar a dor, suave da região afetada ou local da cirurgia
expressão facial, movimento dos pés, se faz necessária (VIÑUELA-
atividade, choro e consolo, com variação FERNÁNDEZ et al., 2007). Essa escala
em cada item de zero a dois; 6) faces de abrange uma contagem variável com o
Wong-Baker – consiste em seis desenhos de objetivo de avaliar as alterações fisiológicas
faces ordenados de forma crescente em e comportamentais dos animais. É
nível de intensidade da dor ou angústia; 7) importante o observador estar familiarizado
escala analógica visual modificada com o comportamento do animal para poder
(EAVM) – consiste na modificação da validar algumas respostas obtidas
escala analógica visual tradicional para (TEIXEIRA, 2005). Devido à
adequá-la à população composta por subjetividade, essas escalas devem ser
pacientes que utilizam ventilação mecânica, usadas com cuidado na prática veterinária,
sedados ou nas unidades de terapia pois existem comportamentos diferenciados
intensiva; 8) escala de dor do grito (EDG) – entre as espécies animais (VIÑUELA-
desenvolvida para crianças de três a 12 anos FERNÁNDEZ et al., 2007).
e consiste em duas escalas verticais
separadas, uma numérica e outra composta Mecanismos envolvidos na dor
por fotos de criança (FREITAS et al., A dor é uma experiência vivenciada
2009). por partes específicas do cérebro
Para avaliar a dor nas espécies responsáveis pelo processamento do
animais também se utilizam escalas de estímulo (TEIXEIRA, 2005). Atualmente é
mensuração da dor, formuladas a partir de aceito que as respostas subjetivas de dor
uma adaptação das utilizadas na medicina experimentada pelos animais são
humana. São descritas: a descritiva simples, comparadas às encontrado em seres
escala de avaliação numérica e escala humanos, com base em analogias oriundas
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de estudos anatômicos, fisiológicos e onde a intensidade de dor é avaliada; o
patológicos (SOUSA e SILVA, 2005). córtex pré-frontal, onde há a tomada de
Anatomicamente, o corpo do homem decisão ante a dor; e o sistema supressor
e de outros animais superiores é dotado de endógeno, que libera os mediadores como a
um grande número de nociceptores serotonina, noradrenalina, ácido
(receptores para a dor), situados em amaminobutírico (GABA) e muitos outros
terminações nervosas da pele, músculos, (USUNOFF et al., 2006).
ossos, vísceras e outras estruturas, os quais
são ativados por estímulos agressivos Mecanismos periféricos da dor
(térmicos químicos e mecânicos). Portanto, As respostas nociceptivas são
a sequência de eventos que originam o transmitidas de receptores periféricos para o
fenômeno doloroso se inicia com a sistema nervoso central via fibras nervosas
transformação de um estímulo agressivo em mielinizadas, tipo A, ou amielinizadas,
potencial de ação que é transferido das tipo C (GREENE, 2010), presentes na pele,
fibras nervosas periféricas para o SNC vísceras, vasos sanguíneos e músculo
(ROCHA et al., 2007). esquelético (TEIXEIRA, 2005).
Subsequentemente à transformação As fibras A são de diâmetro
do estímulo em impulso elétrico se dá o intermediário (2 a 6 μm), com velocidade
transporte para a medula, iniciando a via de condução intermediária, modulando a
nociceptiva. Se o agente desencadeante ou primeira fase da dor mais aguda ou
lesivo atingir diretamente um neurônio do semelhante à pontada (KLAUMANN et al.,
corpo sem a intermediação de um 2008), devido a presença da bainha de
nociceptor o impulso elétrico será enviado mielina (ROCHA et al., 2007); já as fibras
diretamente para a medula sem a C têm diâmetro pequeno (0,4 a 1,2 μm) e
intermediação da via nociceptiva e a dor, velocidade de condução lenta; são
nesse caso, é classificada como neuropática. responsáveis pela segunda dor ou dor
Na medula a transmissão do estímulo difusa, manifestada por uma queimação
doloroso é feita de um neurônio a outro persistente (KLAUMANN et al., 2008).
pelos interneurônios. A partir da medula o As terminações nervosas das fibras
sinal de dor é transferido ao SNC nociceptivas A e C são capazes de
(ANDRADE e BARROS, 2011). transformar o estímulo mecânico, térmico
As informações nociceptivas são ou químico em estímulo elétrico, o qual
transmitidas da medula para as estruturas será transmitido ao até o SNC e
encefálicas mediante os tratos interpretando como dor (TEIXEIRA, 2005;
espinotalâmico, espinorreticular, ROCHA et al., 2007). As fibras
espinomesencefálico, espinocervical pós- nociceptivas terminam no corno dorsal da
sináptico do funículo posterior e tratos medula, que pode ser dividida em dez
intracornuais. Na medula existem lâminas (KLAUMANN et al., 2008). Os
basicamente duas vias ascendentes para a neurônios respondem exclusivamente a
condução da dor até o cérebro: a via neo- estímulos nocivos que estão localizados no
epinolactâmica, condutora da dor somática corno dorsal superficial, principalmente nas
por meio de poucas sinapses e a via lâminas I e II enquanto a lâmina V responde
palioespinolactâmica que permite a dor tanto a entrada de estímulos inócuos como
visceral através de várias sinapses nocivos devido à dinâmica da largura dos
(USUNOFF et al., 2006; ANDRADE e neurônios (VIÑUELA-FERNÁNDEZ et al.,
CASSU, 2008) 2007).
As estruturas do SNC envolvidas na Os nociceptores são sensibilizados
distribuição do sinal doloroso são: córtex, por ação de substâncias químicas,
onde ocorre a consciência da dor; denominadas algogênicas, liberadas em
hipotálamo, que deflagra reações físicas à decorrência de processos inflamatórios,
dor, como elevação da pressão e traumáticos e/ou isquêmicos. Entre as
taquicardia; tronco cerebral, que entra em substâncias algogênicas podem-se citar
estado de alerta; giro do cíngulo anterior,
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acetilcolina, prostaglandinas, histamina, As citocinas liberadas pelas células
serotonina, bradicinina, leucotrienos, inflamatórias, macrófagos e leucócitos
substância P, tromboxana, fator de ativação migram de novas células para o local da
plaquetária, íons potássio (FANTONI e lesão, promovendo liberação de
MASTROCINQUE, 2002; ROCHA et al., interleucinas (IL), principalmente IL-1 e IL-
2007), radicais ácidos, interleucinas, fator 6, TNF-α, óxido nítrico, selectina e
de necrose tumoral (TNF), fator de substâncias oxidantes (PISERA, 2005;
crescimento nervoso (NGF) e monofosfato ROCHA et al., 2007). Células lesadas
cíclico de adenosina (AMPc), dentre outras liberam uma série de mediadores químicos,
(ROCHA et al., 2007; ANDRADE e incluindo substância P, neurocinina A e
CASSU, 2008). peptídeo relacionado com o gene da
A lesão tecidual quando formada por calcitonina, que têm efeitos diretos sobre a
um estímulo desencadeia um processo excitabilidade de fibras sensoriais e
inflamatório seguido de reparação. As simpáticas. Estes mediadores também
células da lesão liberam enzimas de seu promovem vasodilatação com
interior, que no ambiente extracelular extravasamento de proteínas plasmáticas e
degradam ácidos graxos de cadeia longa, recrutamento de células inflamatórias
atuando sobre os cininogênios, que (KLAUMANN et al., 2008).
originam a formação de cininas (pequenos A bradicinina, a prostaglandina E2, o
polipeptídeos da α2-calicreína presentes no fator de crescimento nervoso (NGF) e as
plasma e outros líquidos orgânicos). A interleucinas, parecem exercer função
calicreína é uma enzima proteolítica ativada fundamental na nocicepção periférica. As
pela inflamação e outros efeitos químicos prostaglandinas e a bradicinina causam
ou físicos sobre o sangue ou os tecidos. alterações em receptores específicos
Após a ativação, a calicreína atua (TRPV1) acoplados a canais iônicos
imediatamente sobre a α2-globulina, que ligante-dependente via ativação do AMPc, e
libera uma cinina, denominada de calidina, das proteínas cinases A (PKA) e C (PKC),
que assim é convertida em bradicinina por reduzindo o tempo pós-hiperpolarização da
enzimas teciduais. A bradicinina, quando membrana neural, causando redução do
formada, provoca intensa dilatação limiar para disparo da fibra nervosa
arteriolar e aumento da permeabilidade (ROCHA et al., 2007).
capilar, contribuindo para a propagação da
reação inflamatória (ROCHA et al., 2007). Mecanismos centrais da dor
A liberação do ácido araquidônico a A sensibilização central provoca
partir da membrana é produzida por lipases, alterações dos impulsos periféricos, com
em particular pela enzima fosfolipase A, adaptações positivas ou negativas, podendo
cuja ativação induz rápido incremento nos ocorrer redução do limiar ou aumento da
níveis de ácido araquidônico, que é resposta aos impulsos aferentes, descargas
metabolizado por famílias de enzimas: a) as persistentes após estímulos repetidos e
cicloxigenases, produzindo os ampliação dos campos receptivos de
endoperóxidos: prostaglandinas, neurônios do corno dorsal (ROCHA et al.,
tromboxanos e prostaciclinas (PISERA, 2007).
2005; ROCHA et al., 2007); b) as Os corpos neuronais das fibras
lipoxigenases, produzindo os aferentes periféricas são encontrados nos
hidroperóxidos denominados leucotrienos gânglios da raiz dorsal da medula espinhal,
(PISERA, 2005); c) lipoxinas; d) que projetam seus terminais centrais até
citocromo P-450, originando produtos da diferentes porções do corno dorsal
via da epoxigenase (ROCHA et al., 2007). (PISERA, 2005). Sua estimulação provoca
Essas substâncias bem como as uma hiperalgesia que pode ser primária (no
prostaglandinas E2 (PGE2), promovem local da lesão tecidual) e secundária
diminuição do limiar de excitabilidade dos (circunda a lesão tecidual) (ROSENOW e
nociceptores (ROCHA et al., 2007). HENDERSON, 2003). A sensibilização
periférica não é o único responsável por
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Trindidade et al., Dor: mecanismos envolvidos na sua transmissão e recursos terapêuticos aplicados.......................14
todas as mudanças, devendo existir com a calcitonica (CGRP) ligam-se às
envolvimento do SNC neste processo neurocininas do tipo NK-1 e NK-2,
(ROCHA et al., 2007; XIE et al., 2009). enquanto as neurotrofinas possuem como
Lesões periféricas induzem receptores as tirocinases tipo A e B
plasticidade em estruturas supra-espinhais (ROCHA et al., 2007).
por meio de mecanismos que envolvem Acredita-se que os mecanismos
tipos específicos de receptores para o capazes de contribuir com o aumento da
glutamato. Após a agressão tecidual há eficácia da transmissão sináptica sejam
liberação de neurotransmissores, como decorrentes da fosforilação dos receptores
substância P, somatotastina, peptídeo de membrana e das alterações do tempo de
geneticamente relacionado com a abertura dos canais iônicos (ou formação) e
calcitonina, neurocinina-A, glutamato e do transporte de substâncias excitatórias do
aspartato. Essas substâncias estão interior da célula para a fenda sináptica.
relacionadas com a ativação de potenciais Além disso, no corno dorsal da medula
pós-sinápticos excitatórios e dos receptores espinhal, as proteinocinases ativadas por
N-metil-D-aspartato (NMDA) e não- mitógenos (MAPK) modulam a
NMDA (ROCHA et al., 2007), fosforilação dos receptores NMDA e
principalmente o ácido -amino-3-hydroxi- AMPA, amplificando a resposta
5-metil- isoxanol-4-propriônico -AMPA nociceptiva (ROCHA et al., 2007).
(PISERA, 2005). A frequência de estímulos
aferentes geram a somação dos potenciais Bloqueio terapêutico da dor
de ação e conseqüente despolarização pós- Para que a adequada instituição de
sinápticas cumulativa. Depois da ativação ferramentas terapêuticas de bloqueio da dor
de receptores NMDA pelo glutamato há há necessidade do conhecimento dos
emoção do íon magnésio do interior do mecanismos envolvidos na sua
receptor e o influxo de cálcio para a célula, fisiopatologia (MORETE e MINSON,
resultando a amplificação e o 2010). O correto diagnóstico propiciará o
prolongamento da resposta ao impulso sucesso do tratamento, que deve basear-se
doloroso (ROCHA et al., 2007). no conjunto de mecanismos associados à
Aumento nos níveis de cálcio celular etiologia e expressão à dor. É necessário se
provocado pelas ações combinadas de conhecer a fisiopatologia e os mecanismos
aminoácidos excitatórios ácidos, substância que governam o desequilíbrio orgânico para
P e CGRP levam à ativação de fatores de que a seleção da conduta seja apropriada. É
transcrição e aumento na expressão de de fundamental importância conhecer a
determinados genes (ROSENOW e farmacologia geral das substâncias que
HENDERSON, 2003). fazem parte do arsenal terapêutico que se
Os aminoácidos excitatórios são tem a disposição (PISERA, 2005).
representados pelo glutamato e pelo Dada à complexidade do processo
aspartato e se ligam a receptores específicos algésico, várias categorias de fármacos são
do tipo ionotrópico ou metabotrópico. Os utilizados no seu controle terapêutico, cuja
receptores ionotrópicos, ou receptores escolha baseia-se no tipo de situação
rápidos, são aqueles nos quais o local de dolorosa a ser inibida. Dentre eles citam-se:
ligação do neurotransmissor é parte anestésicos gerais, anestésicos locais,
integrante de um canal iônico, enquanto os analgésicos opióides, agonistas -2
receptores metabotrópicos, ou receptores adrenérgicos, anti-inflamatórios não
lentos, são ligados à proteína G. Dentre os esteroidais, bloqueadores adrenérgicos,
receptores para os aminoácidos excitatórios antidepressivos, antagonistas de NMDA,
destacam-se o AMPA, o cainato e o benzodiazepínicos, fenotiazínicos,
NMDA, que são ionotrópicos, e o receptor relaxantes musculares e nutracêuticos
Mrglu, que tem a sua ação mediada pela (ANDRADE e CASSU, 2008)
proteína G, sendo portanto um receptor Os anestésicos gerais não são
metabotrópico. Os peptídeos, a substância P considerados analgésicos. Porém,
e o peptídeo geneticamente relacionado bloqueiam a percepção da dor induzindo o
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Trindidade et al., Dor: mecanismos envolvidos na sua transmissão e recursos terapêuticos aplicados.......................15
córtex cerebral a não percepção da Em medicina veterinária, os
informação nociceptiva (inconsciência) que fármacos opióides são bastante eficazes no
está sendo recebida (KLAUMANN et al., tratamento de dor aguda, profunda, visceral,
2008). Anestésicos dissociativos utilizados decorrente de trauma, câncer ou
em anestesia geral, como a cetamina, agem procedimentos cirúrgicos (ANDRADE e
interferindo com neurotransmissores CASSU, 2008). Bloqueiam a transmissão
centrais e fazem antagonismo não periférica e central da via nociceptiva
competitivo com receptores NMDA, aferente, tornando-se eficientes no
possuindo propriedades analgésicas tratamento da dor inflamatória aguda.
(FANTONI e CORTAPASSI, 2008). Entretanto, não são igualmente eficazes
A anestesia dissociativa produzida para outros tipos de dor, como a
pela cetamina é caracterizada por catatonia, neuropática que demonstra uma resposta
amnésia e analgesia (TREVOR e WHITE, pobre ou de curta duração aos opióides
2006). Em clínica veterinária a cetamina é (KLAUMANN et al., 2008).
indicada em dor crônica leve a moderada ou Os anti-inflamatórios não esteroidais
para analgesia no período pós-operatório. A (AINES) são compostos também utilizados
amantadina é outro antagonista de NMDA como analgésicos, além de produzirem
que vem sendo usado no tratamento da dor efeito uricosúrico e antiagregante
neurogênica em humanos e em osteoartrites plaquetário. Bloqueiam etapas da
crônicas e dores neuropáticas de animais inflamação por inibição dos componentes
(ANDRADE e CASSU, 2008). do sistema enzimático envolvidos no
Os anestésicos locais agem metabolismo do ácido araquidônico e
bloqueando os canais de sódio regulados formação de eicosanóides, como
por voltagem, ou seja, inibem a passagem prostaglandinas, tromboxanas e
de íon sódio pelos canais íons-seletivos nas prostaciclinas (sensibilizados de
membranas nervosas, retardando a nociceptores), pela inibição das isoenzimas
velocidade de despolarização e impedindo a cicloxigenases (TEIXEIRA, 2005). A PGI
propagação do potencial de ação, bem causa hiperalgesia de curta duração e a PGE
como, prevenindo a transmissão do impulso induz hiperalgesia de longa duração
nervoso e a excitação do nociceptor ou (ANDRADE e CASSU, 2008).
inibindo o processo modulatório de Em alguns casos de dor o sucesso da
nocicepção (KLAUMANN et al., 2008). terapia analgésica envolve o conceito de
São utilizados como coadjuvantes da analgesia preemptiva, pois se iniciando o
analgesia em pacientes politraumatizados, tratamento antes da injúria pode-se inibir o
no trans e pós-operatório de toracotomias e processo de sensibilização periférica e
cirurgias de coluna (TEIXEIRA, 2005). central. Depois da fase inicial, há o
Os opióides são os analgésicos mais envolvimento da combinação de fármacos
potentes utilizados na atualidade. Os analgésicos e técnicas para obtenção de
agonistas opióides produzem analgesia efeito sinérgico, como a analgesia
através de sua ligação a receptores opióides balanceada (KLAUMANN et al., 2008). A
(do tipo µ, k e, em alguns casos, δ) analgesia preemptiva visa bloquear ou
acoplados à proteína G, que se localizam no reduzir a sensibilização central e a dor
cérebro e em regiões da medula espinhal patológica (OLIVEIRA et al., 2004;
envolvidas na transmissão e modulação da VIÑUELA-FERNÁNDEZ et al., 2007).
dor (SCHUMACHER et al., 2006). Existem A analgesia dos agonistas -2
três principais tipos de peptídeos opióides adrenérgicos decorre da ativação de
endógenos: β-endorfinas, encefalinas e receptores -2 adrenérgicos no SNC. Esses
dinorfinas, que atuam nos receptores µ, k e receptores estão localizados nos neurônios
δ, amplamente distribuídos em terminações dorsais da medula espinhal e sua ativação
aferentes periféricos e áreas do SNC provoca diminuição da liberação de
relacionadas à nocicepção (VERCELINO e neurotransmissores nociceptivos, como
CARVALHO, 2011). substância P e calcitonina (ANDRADE e
CASSU, 2008).
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Trindidade et al., Dor: mecanismos envolvidos na sua transmissão e recursos terapêuticos aplicados.......................16
Bloqueadores adrenérgicos, seja α ou e doenças degenerativas. Igualmente, a
β bloqueadores, estão sendo utilizados, glicosamina e o sulfato de condroitina,
asociados a derivados triptanos e classificados como nutracêuticos, estão
ergotamínicos, no controle de certos tipos sendo empregados como adjuvantes no
de cefaléia, em cuja patogênese há um alívio de dores oriundas de problemas
componente simpático envolvido; ou seja, articulares degenerativos, associados aos
aquelas relacionadas a desequilíbrios AINES (ANDRADE e CASSU, 2008).
neurológicos ou de humor. Estudos recentes Além da abordagem farmacológica
têm mostrado que 2 adrenérgicos são direcionada à dor, outras condutas vêm
essenciais não só ação de drogas sendo utilizadas, com sucesso, em dores de
depressivas, mas que a estimulação desses controle difícil. Entre essas podem ser
receptores é adequada para aliviar a citado os métodos de estimulação elétrica e
alodinia. Também sugerem que β2 a acupuntura (SANTANA e LAURETTI,
adrenérgicos podem potencialmente 2006; CHRIST, 2006)
oferecer uma abordagem alternativa A estimulação elétrica transcutânea
terapêutica para o tratamento da dor (TENS) é um método analgésico
neuropática crônica (YALCIN et al., 2010). alternativo, não invasivo utilizado em várias
Esta classe de fármacos, com indicação condições dolorosas, como dismenorréia e
principal no controle da hipertensão é dor pélvica (DE ANGELIS et al., 2003).
utilizada como auxiliar na terapia das Embora seu mecanismo de ação ainda não
enxaquecas (BORTOLOTTO e esteja completamente esclarecido, há
CONSOLIM-COLOMBO, 2009). evidências de que possa se explicado pela
Alguns antidepressivos tricíclicos “Teoria do Portão”, segundo a qual a
(amitriptilina, imipramina e clomipramina) informação nociceptiva de fibras aferentes
também são adjuvantes na terapêutica da de pequeno diâmetro é anulada pela
dor, por bloquearem a captação de estimulação de fibras de largo diâmetro
serotonina e noradrenalina, colaborando (inibição descendente), de forma que o
com o sistema analgésico endógeno estimula doloroso não atinge as estruturas
(ANDRADE e CASSU, 2008). supraespinhais (SANTANA e LAURETTI,
Anticonvulsivantes, classificados 2006).
como gabapectinóides (gabapectina, O efeito analgésico da TENS
pregabalina), substâncias análogas ao parece envolver mecanismos espinhais e
neurotransmissor GABA mais que não se supra-espinhais e existem evidências de que
ligam a receptores gabaérgicos, têm sido a estimulação de alta freqüência pela TENS
utilizados profilaticamente em cirurgias e bloqueia a condução ou fadiga de fibras Aβ
no controle de condições dolorosas crônicas e que opióides endógenos, como β
em humanos e, experimentalmente, em endorfinas, metencefalinas metioninas,
animais. Liga-se a uma subunidade dos dinorfina A, agonistas opióides δ e k são
canais de cálcio voltagem-dependentes dos liberados pelo SNC e detectados na corrente
neurônios pré-sinápticos, inibindo a sanguínea e fluido cérebro espinhal após o
atividade neuronal anormal, reduzindo a seu uso (RADHAKRISHNAN et al., 2003;
liberação de glutamato, noradrenalina, SANTANA e LAURETTI, 2006)
substância P e outros mediadores A acupuntura é uma terapia milenar
envolvidos na neuroplasticidade baseada, principalmente, na aplicação de
(SADATSUNE et al., 2011). estímulo em pontos específicos localizados
Alguns relaxantes musculares em áreas de grande concentração de
utilizados em humanos, como a terminações nervosas ou ao redor de ramo
ciclobenzaprina (Miosan), a tizanidina nervoso. Vários efeitos de relevância clínica
(Sirdalud) e associações de carisoprodol podem ser gerados pela acupuntura ou
(Tandrilax, Mioflex) estão sendo usados eletroacupuntura, como: analgésico,
empiricamente, em esquema de relaxante muscular, sedativo/hipnótico,
extrapolação de doses humanas, para antiemético, ansiolítico, antidepressivos
controlar dores resultantes de traumatismos (leve), anti-secretor (de ácido clorídrico),
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