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UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM MUSICOTERAPIA


DEPARTAMENTO DE MÚSICA

Musicoterapia no Tratamento da Dor

Patricia Helena de Oliveira


Cód. 765 35

Ribeirão Preto
2006
UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM MUSICOTERAPIA
DEPARTAMENTO DE MÚSICA

Musicoterapia no Tratamento da Dor

Patricia Helena de Oliveira

Monografia apresentada como


requisito parcial para obtenção do
grau de Musicoterapeuta sob
orientação do professor Roger N.
El Khouri.

Ribeirão Preto
2006
Musicoterapia no Tratamento da Dor

Patrícia Helena de Oliveira

O presente trabalho foi avaliado pela banca examinadora tendo obtido média
_______________ .

Banca Examinadora:

_______________________________________
Noemi Lang

_______________________________________
Angela Bataglion

_______________________________________
Roger Naji El Khouri

Ribeirão Preto, 29 de novembro de 2006.


Agradeço, de coração, ao meu professor e orientador Roger, pela paciência, dedicação e
disponibilidade. Aos meus pais Nivaldo e Cléria pelo amor, carinho e dedicação, pois eles me
motivaram e me deram fôlego nas situações de sufoco. Sem essas pessoas especiais não seria
possível completar meus estudos.
Dedico esse trabalho as pessoas que me incentivaram e apoiaram durante essa jornada, em
especial ao David, pois foi nelas que me inspirei e busquei forças para realizá-lo.
RESUMO

Resumo

Palavras-chave: Musicoterapia, dor, estresse, LER.


ABSTRACT

Resumo

Palavras-chave: Music Therapy, Pain, Stress, DORT


“A dor é o sintoma mais freqüente que leva as pessoas a buscarem os serviços de

saúde”.

(Nelson, et al., 2003)

“Querer é essencialmente e, sofrer como viver, é querer, toda a existência é

essencialmente dor”.

Shoppenhauer

“A dor não surge apenas por estimulação periférica, mas também por uma experiência

da Alda, que reside no coração”.

Platão

“Estar a sós com nossa própria dor pode aumentar a concentração em sentimentos

dolorosos, reduzir a tolerância à dor e aumentar as experiências subjetivas de dor” (HEKMAT

e HERTEL apud ORTIZ,1998, p. 64).

“A dor é uma experiência pessoal e subjetiva e só a conhecemos a partir da

comunicação daquele que sofre” (MIRANDA e SASDELLI, In: ANGERAMI-CAMON et

al., 2001, p.94).


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 2

CAPÍTULO 1: NEUROFISIOLOGIA DA DOR 4


1.1 Teorias da Dor
1.2 Mecanismos da Dor
1.3 Tipos de Dor
1.4 O Diagnóstico e a Avaliação da Dor
1.5 Os Tratamentos mais comuns

CAPÍTULO 2: SUBJETIVIDADE E DOR


2.1 Emoção, Dor e Inteligência Emocional
2.2 Música e Emoção
2.3 A Música como Experiência Subjetiva 18

CAPÍTULO 3: A MUSICOTERAPIA
3.1 Música e Dor
3.2 Definição de Música em Musicoterapia
3.3 História e Definição da Musicoterapia
3.4 Tipos de Experiência Musical: “Os Quatro Métodos de Musicoterapia”
3.5 Áreas e Níveis de Prática
3.6 Processo Musicoterapêutico
3.8 O Papel do Musicoterapeuta

CAPÍTULO 4: Um Breve Estudo de Caso


4.1 Estudos das Patologias Apresentadas
Lesão por Esforço Repetitivo
Estresse
4.2 Dados Gerais do Paciente
4.3 Breve Histórico-Anamnese
4.4 Síntese das sessões
4.5 Aspectos Observados nas Sessões
4.6 Conclusão das Sessões

DISCUSSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INTRODUÇÃO

Essa pesquisa originou-se a partir da observação empírica das queixas e dificuldades

das pessoas relacionadas às suas dores. Entretanto, o sofrimento como experiência subjetiva,

envolve além da sensação física, os componentes psicológicos e emocionais que podem

alterar a percepção e intensidade da dor.

É sabido que a dor tem uma função sinalizadora no nosso organismo e a maneira pela

qual lidamos com ela é subjetiva, pois tanto os aspectos físicos quanto emocionais são

intrínsecos à experiência da dor. Portanto, o trabalho visa a elucidar o processo

neurofisiológico da dor, bem como os aspectos subjetivos, emocionais, sociais e

comportamentais que influenciam diretamente a experiência da dor.

A partir do pressuposto de que existe uma relação psíquica com a manifestação da dor,

levanta-se a hipótese de que a musicoterapia pode auxiliar no tratamento da dor,

proporcionando maior equilíbrio emocional e, consequentemente, possibilitando aumento de

tolerância a dor e menor necessidade de uso de medicação, promovendo assim, bem estar. A

música utilizada por um musicoterapeuta, mobiliza o indivíduo e contribui para uma

percepção mais consciente dos aspectos que permeiam a experiência da dor.

Este trabalho será realizado através de um levantamento teórico, onde se discutirá

conceitos levantados por diversos autores que falam sobre a emoção e a dor, ilustrando com

um relato de avaliação clínica, realizada numa clínica-escola, no período de março a junho de

2006, por 10 sessões.

O trabalho mostrará a relevância de um maior entendimento da dor, seus aspectos

emocionais, subjetivos, sociais, comportamentais e físicos, mostrando a relação da

experiência dolorosa com a música e, um possível modelo de musicoterapia para auxiliar no


tratamento da dor, aumentar da qualidade de vida do paciente e diminuir o uso de

medicamentos.
Neurofisiologia da Dor

1. NEUROFISIOLOGIA DA DOR

A Dor é um mecanismo de proteção do organismo. Ocorre quando há lesão de tecidos

ou da eminência disto ocorrer e, promove uma reação para a remoção do estímulo nocivo.

Os receptores da dor somática são as terminações nervosas livres, distribuídos por

todo o corpo. São eles que se sensibilizam frente aos estímulos nocivos e iniciam uma cadeia

de transmissão destes estímulos

1.1 Teorias da Dor

Entender a dor continua sendo uma das grandes preocupações da humanidade. Desde

os primórdios, conforme sugerem alguns registros gráficos da pré-história e os vários

documentos escritos anteriormente, o homem sempre procurou esclarecer as razões que

justificassem a ocorrência da dor e os procedimentos destinados ao seu controle. A expressão

da dor varia não somente de um indivíduo para outro, mas também de acordo com as

diferentes culturas.

A raiz latina da palavra dor é dolor que significa sofrimento. Em nosso cotidiano, dor

esta relacionada ao sofrimento físico e/ou mental. Outras definições referem-se a dor como

um sofrimento moral, mágoa, pesar, desconforto, uma sensação desagradável. Apesar do

desconforto existente, a função inicial da dor é informar sobre um perigo potencial ou real,

bem como a alteração de um estado saudável de um organismo (CRUZ et al., 2001). De

acordo com o mesmo autor, a psicologia está, há séculos, buscando uma explicação para a
Neurofisiologia da Dor

relação entre os estados emocionais e as doenças. A Medicina Ayurvética, na Índia, há cinco

mil anos atrás, já tentava estabelecer uma relação com os padrões psicológicos,

comportamentos, biotipo e desequilíbrio orgânico.

Aristóteles (384-322 a.C.) associava a dor a um estado de sentimento, o qual

relacionava os tipos de humor com a cor da bile. Para ele, a dor era uma antítese à experiência

do prazer, uma sensação de falta de satisfação. No final do século XIX e, ao longo do século

XX, com as contribuições de Freud, Reich e da Psicossomática, além das críticas da

Psicologia Social, a relação de saúde mental e as manifestações das doenças foram

estabelecidas como uma área de pesquisa e de clínica. Todavia, apenas a partir de meados do

século XX é que a Psiconeuroimunologia apontou evidências empíricas na relação dos

aspectos psicológicos, neurológicos e imunológicos. Dentre vários sintomas psicológicos, a

depressão, a ansiedade e o estresse têm sido reconhecidos como importantes aspectos

moduladores da manifestação de síndromes dolorosas. Aspectos cognitivos como, valoração e

estratégias de enfrentamento, parecem também influenciar respostas à dor. Em 1950, Beecher,

de acordo com Melzack (1965 apud CRUZ et al., 2001), descrevia a presença de dois

componentes distintos da dor: o componente sensorial e o reativo, o último é considerado, por

ele, uma função da personalidade, dos fatores sociais e emocionais (CRUZ et al., 2001, p. 34-

35).

Segundo a ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE ESTUDOS DA DOR-IASP, a

“dor é uma experiência sensitiva e emocional desagradável, associada ou relacionada à lesão

real ou potencial dos tecidos. (...) Cada indivíduo aprende a utilizar esse termo através das

suas experiências anteriores” (SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS PARA A DOR-

SBED, 2005).

Neurofisiologia da Dor
Melzack e Wal (1965 apud Cruz et al., 2001), desenvolveram a Teoria de Controle

dos Portais (Gate Control Theory), a qual apresenta um mecanismo do Sistema de Controle

Dor Somática (Sistema de Analgesia), e de maneira significativa, a instalação de fatores que

permeiam a dor. A teoria se consiste num mecanismo fisiológico de bloqueio da dor antes que

ela seja retransmitida ao córtex cerebral. Isso ocorre devido à secreção e liberação de

Encefalinas (Bendorfinas) e Serotonina, em várias regiões do mesencéfalo, ponte e bulbo

(tronco cerebral); nas colunas dorsais medula espinhal e provavelmente nos núcleos

intralaminares do tálamo; hipotálamo e hipófise. Havendo liberação destes analgésicos

endógenos nestas regiões do cérebro e ocorrendo analgesia, a transmissão é interropida e o

estímulo não prossegue para as áreas encefálicas corticais, ou seja fecha-se o portão e o

estímulo doloroso já não pode ser reconhecido.

A estimulação da pele e alguns órgãos provocam impulsos nervosos, que são

transmitidos a três sistemas da espinha dorsal: as células de substâncias gelatinosas, as fibras

da coluna vertebral, que se projetam em direção ao cérebro e os transmissores centrais. Essa

teoria enfatiza a importância da modulação de estímulos dolorosos, que é realizada pela

espinha medular, pelo sistema nervoso central e hipotálamo. Assim, os aspectos cognitivos

emocionais e comportamentais podem participar do processo de modulação da dor, na medida

em que interferir na percepção e resposta aos estímulos dolorosos.

Segundo Rocha (2001, apud Angerami-Camon et al., 2001), atualmente a experiência

dolorosa é composta pela percepção da dor, associada às reações emocionais, estados afetivos

e manifestações psicofisiológicas secundárias. A dor quando persiste por meses ou anos,

passa a ser a doença independente da causa inicial. Segundo o autor, os neurologistas

conceituam a dor como uma “experiência sensorial e emocional desagradável, a qual está

associada, ou é descrita, em termos de lesões teciduais”.

Neurofisiologia da Dor
É uma qualidade perceptual complexa, podendo ser modificada pelos aspectos

culturais, sociais, raciais, sexuais, etários e mentais dos indivíduos. A Neurofisiologia explica

à dor experimental no nível clínico, os aspectos da experiência dolorosa, tais como: limiar

fisiológico (momento em que o estímulo é reconhecido como doloroso), o limiar de tolerância

(ponto em que todo estímulo alcança tal intensidade, que não pode ser aceitavelmente

tolerado) e a resistência à dor (diferença entre os dois limiares, que expressa a amplitude de

uma estimulação dolorosa à qual o indivíduo pode aceitavelmente resistir).

1.2 Mecanismos da dor

Para a SBED (2005), os mecanismos da dor que podem ocorrer após um traumatismo,

uma infecção ou um outro fator, as terminações nervosas existentes no local afetado,

conduzem o estímulo doloroso por nervos (como se fossem fios telefônicos) até a medula

espinhal. Deste local, o estímulo (a mensagem) é levado até diferentes regiões do cérebro,

onde é percebido como dor e transformado em respostas a este estímulo inicial. Esse

mecanismo tem sua atividade regulada por um conjunto de substâncias, produzidas no sistema

nervoso, que se constitui no chamado sistema modulador de dor. Algumas dessas substâncias,

como a serotonina e as endorfinas, agem sobre o sistema de transmissão da dor, aumentando

ou diminuindo a sensação dolorosa. Os impactos conseqüentes da dor estão diretamente

relacionados à sua localização no corpo, sua qualidade, causa ou etiologia, duração,

freqüência, natureza e intensidade.

Guyton (1986) relata basicamente a existência de duas vias de transmissão da dor

somática: Via de Transmissão Rápidas da dor através do Feixe Neo-Espinotalâmico, quando o

Neurofisiologia da Dor
estímulo percebido pelas terminações nervosas livres são transmitidos através de impulsos

pelos nervos periféricos pelas fibras tipo A – 6, a uma velocidade de 30m/s, até chegar as

raízes dorsais da medula espinhal. A partir daí os impulsos caminham para o tronco cerebral,

tálamo e áreas sensoriais somáticas, local onde a dor é reconhecida de maneira consciente;

Via de Transmissão Lenta da dor, através do Feixe Paleo-Espinotalâmico. Nesta via os

impulsos são transmitidos pelos nervos periféricos pelas fibras tipo C, a uma velocidade de

O,5 a 2m/s. Também seguem pelas Raízes Dorsais da Medula Espinhal, mas ao chegarem no

tronco cerebral invadem várias regiões desta estrutura. A partir daí seguem não só para o

tálamo, mas também hipotálamo e outras estruturas encefálicas basais. Os estímulos desta via

também são transmitidos a Áreas Corticais Sensoriais Somáticas. Devido à conectividade

multissináptica desta via, ocorre uma dificuldade de localização da dor pontual, o que não

ocorre na via de transmissão rápida, pois inicialmente é necessário obter a localização do

estímulo nocivo para tentar removê-lo.

Devido a este Duplo Sistema de Transmissão, pode ocorrer inicialmente uma sensação

rápida e aguda da dor, necessária a uma reação proteção, seguida (1s após) de uma sensação

de dor lenta necessária à identificação. Sabe-se também (RAHMAN et al., 2003), que a via

Neo-Espinotalâmica é responsável pelo aspecto sensorial, discriminativo da dor, visto que seu

principal objetivo é chegar ao córtex sensorial primário. Já, a via Paleo-Espinotalâmica

promove a integração do processo nociceptivo, pois chega a várias estruturas encefálicas

envolvidas com a regulação autonômica e homeostática (visceral); neuroendócrina

(hipertensão e taquicardia) e; motivacional-comportamental (fuga e imobilidade).

As principais projeções desta via de dor ao sistema límbico são a amígdala,

responsável pelas sensações de medo e ansiedade e hipotálamo, envolvido nas sensações de

Neurofisiologia da Dor
fúria e agressividade. Essas áreas têm papel crítico nos aspectos emocionais e

comportamentais da resposta à dor, bem como no controle destes aspectos.

1.3 Tipos de dor

A dor pode ser a manifestação, um sintoma de uma doença ou afecção, mas também

pode ser parte de um quadro clínico mais complexo, podendo se apresentar como: um

resultado da estimulação das vias nociceptivas periféricas (dor aguda), uma hipofunção do

sistema supressor da dor (que é considerada como dor central – dor crônica), a coexistência de

ambos os mecanismos (dor recorrente), e também um componente de doenças mentais

(TEIXEIRA, apud NITRINI, In CASTRO, 2006). Portanto, considerando a duração da

manifestação da dor ela pode ser de quatro tipos: aguda, crônica, recorrente e psicogênica.

De acordo com Nelson et al. (2003), a dor aguda decorre de um trauma ou uma

inflamação ativa que está freqüentemente associada a respostas do sistema nervoso simpático

(“luta ou fuga”). Por exemplo, dor de dente, ocasionada por cáries. É denominada aguda num

período de 4 a 6 meses de duração, num período mais prolongado é chamada de crônica.

A dor crônica, Ibid., pode estar associada a uma diminuição dos fatores autonômicos e

a um aumento dos fatores psicológicos, em particular a depressão. Demanda um tratamento

mais complexo e prolongado, por ser resultante de mecanismos multifatoriais que conduziram

o organismo afetado a esse ponto de cronicidade. Os tipos de dores crônicas são: lesão

desportiva, lombalgia, câncer, distrofia simpático reflexa, artrite reumatóide, esclerose

múltipla, dores membro fantasma.

Neurofisiologia da Dor
1
A ocorrência de dor, especialmente crônica, é crescente, talvez em decorrência de:
novos hábitos de vida; maior longevidade do indivíduo; prolongamento de sobrevida
dos doentes com afecções clínicas naturalmente fatais; modificações do ambiente
em que vivemos; e provavelmente, do reconhecimento de novos quadros dolorosos e
da aplicação de novos conceitos que traduzam seu significado. Além de gerar
estresses físicos e emocionais para os doentes e para os seus cuidadores, a dor é
razão de fardo econômico e social para a sociedade. (TEIXEIRA, 1995)

A dor recorrente se apresenta por curtos períodos de duração, que se repetem com

freqüência, sem a necessidade de estar ligada a um processo do indivíduo, porém pode durar a

vida toda. Um exemplo disso é a enxaqueca.

A dor de ordem psicogênica é aquela em que nenhuma etiologia orgânica pode ser

encontrada (LOBATO, apud ROCHA, In ANGERAMI-CAMON et al., 2001, p.133).

Neurofisiologia da Dor

1
Disponível em: http://www.dor.org.br/dor_intro.asp
Picada

- Superficial (cutânea) Ardência

(originada na pele) De localização bem definida

- Profundas (somático) Formigamento – pontadas

(originada em músculos, ossos, articulações, Choques – adormecimento

vasos, etc.) Queimor

Dolente e profunda, sentida longe de seu


- Visceral
local de origem.

- Central

(originada de lesões vasculares, traumáticas,


Experiência dolorosa
neoplásicas, inflamatórias e metabólicas do

SNC)

- Psicogênica

Tabela 1. Classificação das Dores. (ROCHA, In ANGERAMI-CAMON et al., 2001, p.134).

Neurofisiologia da Dor
Aguda Crônica

Duração Transitória Persistente

Positivo:
Significado para o Positivo: indica lesão Negativo: sem propósito
obtenção de
Paciente ou doença útil
ganho secundário

Vegetativos

Luta ou fuga Distúrbios do sono

Dilatação pupilar Anorexia

Sudorose Libido diminuída


Traços
Taquipnéia Constipação
Concominantes
Shunting de sangue Preocupação somática

das vísceras para os Mudança de

músculos. personalidade

Inibição para o trabalho

Tabela 2. Dores Aguda e Crônica. (ROCHA, In ANGERAMI-CAMON et al., 2001, p.134).

Neurofisiologia da Dor
1.4 O diagnóstico e a avaliação da dor

Segundo a SBED (2005), o processo de diagnóstico de dor, utilizado pelo profissional da

saúde, tem como objetivo principal a identificação dos agentes causais, a origem, a

intensidade e a influência de fatores psicossociais sobre a dor, buscando determinar o método

mais adequado para seu tratamento. São realizados os seguintes procedimentos: histórico ou

anamnese, que é elaborado por perguntas do profissional para o paciente, para saber sobre a

forma de como aconteceu essa dor, sua duração e periodicidade, a localização, como evoluiu,

fatores que podem ter contribuído para o seu agravamento ou alívio. O histórico pode ser

complementado por desenhos, que representam o corpo do paciente, a forma com que essa

dor se manifesta, escalas qualitativas (escala de faces) ou quantitativas (escala numérica com

valores de 1 a 10); No exame clínico, as informações coletadas pela anamnese, devem

preceder ao exame físico do paciente, para tornar mais precisa as informações do histórico,

visando detectar, de forma mais segura, a origem da dor, sua localização e um possível o

diagnóstico. Para isso, o profissional da saúde, deve estar atento às manifestações mais

comuns da dor, que podem se apresentar como: forma de choros ou gemidos, expressões no

rosto (enrugamento ou contração muscular), movimentos do corpo (considerados como

defensivos contra a fonte da dor), principalmente na dor aguda, uma vez que, na dor crônica,

o organismo, muitas vezes, está “acostumado” com estas sensações. Deve-se também

observar a presença de “pontos gatilho”, que são pequenas áreas de dor intensa, localizadas

em músculos muito tensos. Quando essas áreas são pressionadas com os dedos, ou pela

Neurofisiologia da Dor
introdução de uma agulha, desencadeiam dor numa região distante. Os exames

complementares, para diagnóstico ou avaliação, podem ser classificados nos seguintes grupos:

eletrofisiológicos (determinam através de aparelhos o funcionamento de tecidos), exames de

imagem (auxiliam a identificar as anormalidades dos locais afetados e que ajudam a confirmar

lesões em tecidos e órgãos, por exemplo, a tomografia computadorizada, a ultrassonografia);

exames laboratoriais de sangue para detectar ou excluir anormalidades inflamatórias,

metabólicas, degenerativas entre outros.

Nos casos de dor crônica existem outros fatores que podem ter contribuído para o

aparecimento da dor, tais como: atividades físicas ou sobrecargas exercidas pelo paciente

(importante para determinar as “doenças osteo-musculares relacionadas ao trabalho” –

DORT), bem como as posições do corpo ao deitar e sentar, alterações comportamentais, tipo

de sono, atividade sexual, apetite, hábitos alimentares, atividades domiciliares e laborativas,

atividades de lazer e muitos outros, que devem ser investigadas durante uma avaliação

diagnóstica. Também podem ser aplicados ao paciente alguns questionários desenvolvidos

para detectar a existência de fatores emocionais e sociais, uma vez que a ansiedade, a

depressão e outros transtornos podem contribuir para os maus resultados do tratamento a ser

estabelecido.

Com esta descrição podemos observar a complexidade do assunto DOR. O trabalho do

profissional da saúde, em relação à dor, constitui-se no trabalho de um investigador à procura

do “culpado”, solicitando ao paciente seu auto-relato, utilizando técnicas de observação do

comportamento e medidas de respostas fisiológicas.

Neurofisiologia da Dor
Os tratamentos adequados dos processos dolorosos, fundamentam-se no diagnóstico

das causas que provocaram o seu aparecimento, baseando-se nos exames clínicos e

complementares. O desafio está em compreender o sistema de variáveis fisiológicas,

emocionais e comportamentais, envolvidos na modulação da dor.

1.5 Os tratamentos da dor mais comuns

Segundo a SBED (2005), os tratamentos de alívio da dor mais comuns são: o

medicamentoso, e os auxiliares. O primeiro deve ser utilizado de acordo com a orientação

médica e, não somente quando o paciente considere necessário. Consiste na administração por

via oral, injetável ou uma outra mais apropriada, de produtos como os analgésicos e anti-

inflamatórios, que combatem a dor e as inflamações nos tecidos ou órgãos, e de produtos

adjuvantes, que são auxiliares dos analgésicos, aumentando a sua eficiência no alívio da dor e,

ao mesmo tempo, melhorando o apetite, o humor e o aspecto emocional do paciente. Poe

outro lado, os tratamentos auxiliares utilizados além dos remédios são: a fisioterapia, a

acupuntura e a psicologia que auxiliam num melhor controle do processo da dor.

Ainda segundo a SBED (2005), a fisioterapia emprega diversas técnicas (meios

físicos, massagens, exercícios e aparelhos) para auxiliar no tratamento da dor e para melhorar

a função das estruturas, que foram comprometidas pelo processo doloroso; a acupuntura

consiste na introdução de agulhas especiais em determinados pontos, que produzem efeitos

mecânicos de estímulo das estruturas da pele, subcutâneas e até nos músculos adjacentes,

proporcionando relaxamento muscular, efeitos anti-inflamatórios e liberação de substâncias

Neurofisiologia da Dor
analgésicas, como a endorfina e a serotonina (já citadas anteriormente); a psicologia auxilia o

paciente a desenvolver novos hábitos de comportamentos e atitudes perante a doença, que o

ajudarão a ter um enfrentamento mais positivo da dor e das suas manifestações.

De acordo com a SBED (2005), existem outros recursos terapêuticos, sendo que um

deles é a atividade artística, que se apresenta como um meio auxiliar para combater a dor e

alcançar a reabilitação. Ao se comunicar através da arte, a pessoa enfrenta mais facilmente a

dor, enquanto o sofrimento leva ao isolamento social, a arte traz à tona uma atividade

prazerosa, seguida pela descoberta de novas potencialidades. A arte, no tratamento

multidisciplinar da dor, pode prevenir, reestruturar e reabilitar.

Na dor aguda, o objetivo principal do tratamento é o alívio da dor, fundamentado na

eliminação do fator causal, no uso de medicamentos e, algumas vezes, na fisioterapia e na

psicologia, que favorecem um suporte físico/psicológico. No entanto, o tratamento da dor

crônica não tem como objetivo somente o desaparecimento da dor (que nem sempre é

possível), mas o controle dos sintomas, a redução do desconforto, o desenvolvimento da

autoconfiança – a “garra” para execução das tarefas, a eliminação de possíveis medos, a

modificação de crenças erradas, a diminuição do uso abusivo de medicamentos e, se possível,

a reintegração do indivíduo na sua atividade profissional ou outra atividade. Tudo isso leva,

como resultado final, à melhoria da qualidade de vida.

Os tratamentos modernos da dor, com enfoque multi e interdisciplinar, consistem na

união de diversos profissionais, como médicos de diversas especialidades, musicoterapeutas,

psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, assistentes sociais entre

outros, o que nos permite compreender o aspecto multifatorial da dor. É de vital importância

Neurofisiologia da Dor
que, além da equipe multidisciplinar, o próprio paciente, os familiares, e as pessoas que

cuidam e convivem com ele, estejam empenhados na sua reabilitação.


Subjetividade e Dor

2. SUBJETIVIDADE E DOR

Para Angerami-Camon (2001), a subjetividade é a condição primeira da filosofia, que

tenta reduzir, na existência humana, a existência da singularidade do sujeito; é o modo como

se estabelece a nossa vivência de transcendência e como nos definimos como seres humanos

pensantes; é a subjetividade que caracteriza e difere uma pessoa da outra e, também através

dela, refletimos nossa apreensão da realidade. A subjetividade se forma a partir do conjunto

das crenças do sujeito, de modo que cada um se torne um sujeito histórico, buscando a

concretização e a efetivação dos seus ideais e sonhos; é ela que faz com que as pessoas sintam

as coisas de maneira diferente uns dos outros, tanto na percepção quanto na conceituação dos

objetos ou fenômenos, e também faz com que os momentos e circunstâncias sejam percebidos

de formas diferentes. As maiores mudanças que possam se efetivar ao longo de uma

experiência existencial ocorre na subjetividade da pessoa.

Segundo Castro (2006), embora a dor tenha uma importância existencial, ainda não se

consegue um conceito universalmente aceito. A diversidade pessoal da vivência de uma dor,

já seria suficiente para explicar porquê não se produziu esse conceito, mas, as interpretações

pessoais acerca da dor, pode ser influenciada por diversos fatores.

Segundo a SBED (2005), a dor, por se tratar de uma experiência totalmente individual e

subjetiva, pode apresentar diferentes características que são descritas como: natureza,

freqüência, intensidade, qualidade, localização, duração e etiologia. Existem três fatores que

envolvem a experiência da dor, que são: os biológicos (lesão nos tecidos, condições físicas e

efeitos de medicações), os sociais (suporte social, relacionamento familiar, influências

culturais) e psicológicos (comportamento, tipo de personalidade, grau de conhecimento).


Atualmente, é comum que as pessoas que sofram de dor, de qualquer tipo, se sintam

vulneráveis. O estresse e a ansiedade podem provocar dores físicas, mas isso não quer dizer

que a dor esteja na cabeça de quem as sente. Algumas pessoas culpam os “outros” pelos seus

problemas e outras assumem integralmente a culpa. O fato de desconhecer o motivo da nossa

dor não implica que desconheçamos a nossa situação, o que faz com que devamos buscar o

significado das coisas. Mesmo assim a dor não deixa de ser fisiológica, mas “o nível de

complexidade da dor ajuda a explicar porque ela é às vezes pior ou melhor. Isso quer dizer

que contribuímos para mitigar a dor quando refletimos nos nossos sentimentos mais

recônditos e nos reconciliamos com os aspectos mal resolvidos da vida” (BATCHELOR,

1991, p.).

De acordo com Cruz et al., (2001), a partir de meados do século XX, fundamentou-se,

através das teorias desenvolvidas, a compreensão da dor como um fenômeno

multidimensional, e a forma como a dor se manifesta é influenciada por diversos fatores

biológicos, sociais, culturais e psicológicos.

2.1 Emoção, Dor e Inteligência Emocional

Goleman (1995) entende a emoção como um sentimento, os pensamentos distintos em

relação a ela, os estados psicológicos e biológicos, e uma gama de tendências para agir. Para

ele existem centenas de emoções, junto com suas combinações, variações, mutações e

matizes; existem mais sutilezas na emoção do que palavras para definí-la. Os pesquisadores

buscam discutir sobre quais as emoções podem ser consideradas primárias, e propõem

famílias básicas. Por exemplo: Ira, Tristeza, Medo, Prazer, Amor, Surpresa, Nojo e Vergonha,

juntamente com suas combinações.


Segundo Goleman (1995), as nossas paixões e anseios, são diretrizes essências, devido

à força de sua existência nas questões humanas. Essa força é capaz de conter nossos instintos,

nosso racional, pois vem do coração. Cada tipo de emoção vivênciada nos predispõe a uma

ação imediata; cada uma aponta para uma direção a ser tomada nos desafios que o ser humano

encontra ao longo da vida. O repertório emocional utilizado, para garantir a nossa

sobrevivência, fica gravado no sistema nervoso como inclinações inatas e automáticas do

coração.

De acordo com o mesmo autor, a maneira como avaliamos, quando nos deparamos em

situações complicadas e como respondemos a elas, são moldadas não apenas por nossos

julgamentos racionais ou nossa história pessoal, mas também por nosso passado ancestral.

Para ele, a empatia é um ato de compreensão, tão seguro quanto a apreensão do sentido das

palavras contidas numa página impressa. O ser humano tem duas mentes: uma racional que é

o modo de compreensão de que temos consciência e a outra emocional que é outro sistema

impulsivo e poderoso, embora às vezes ilógico. Existe uma dicotomia emocional/racional,

popularmente chamada de “coração” e “cabeça”. Quanto mais intenso é um sentimento, mais

dominante é a mente racional e, mais intelectual é a racional.

Mayer apud Goleman (1995), constata que as pessoas adotam estilos típicos para

manejar suas emoções, são eles: autoconsciente, que é uma pessoa consciente de seu estado

de espírito, no momento em que ele ocorre. São sofisticadas e positivas, no que diz respeito à

sua vida emocional; mergulhadas, são pessoas imersas em suas emoções, negativas e

incapazes de fugir à elas, como se aquele humor tivesse assumido suas vidas; resignadas, são

pessoas que tendem a aceitar seu estado de espírito, sem procurar mudá-lo.

Craig (1994), citado em Angelotti (1999), in Angerami-Camon, et al., (2001), acredita

que as emoções representam as características subjetivas das experiências complexas de dor.

Os aspectos que envolvem essas experiências podem variar de acordo com a severidade que
lidam com seus problemas, podendo ser desagradável ou penalizada pelos próprios

sentimentos.

(...) a experiência dolorosa é, portanto resultado da inter-relação entre a


interpretação das qualidades sensoriais com os componentes afetivos, cognitivos,
comportamentais, com as relações fisiológicas que se expressam frente a
estimulação ou disfunção do sistema nociceptivo. A interpretação do fenômeno é
individual. O indivíduo atribui significados idiossincráticos ao fenômeno sensorial
de acordo com o estado mental e o valor simbólico imaginário que representa. Os
componentes são determinados pelo significado e não pela natureza ou intensidade
do estímulo original. Este significado é a resultante da interação de determinantes
físicos, psíquicos, ambientais e socioculturais. Para sua expressão, concorrem
alterações orgânicas e respostas emocionais de negação, ansiedade, raiva,
depressão, impotência, desamparo, dependência, necessidade de proteção e
desesperança. A confluência destes fatores determina o colorido particular das
experiências dolorosas e influência e adoção de atitudes e os resultados dos
procedimentos diagnósticos e terapêuticos e as conseqüências biológicas,
psicológicas, sociais, comportamentais e ambientais do sofrimento (TEIXEIRA
apud MIRANDA e SASDELLI, In: ANGERAMI-CAMON et al., 2001, p.95).

Segundo Rocha In Angerami-Camon et al., (2001), os fatores emocionais, em

pacientes com queixas de dores crônicas, devem ser considerados, pois seu estado afetivo é

um importante modulador da vivência dolorosa. Os pacientes que apresentam alterações

psíquicas, são os que mais se queixam de dor e, seus aspectos psicológicos, demonstram que a

dor aguda está associada à ansiedade. Pacientes com dor crônica, apresentam mais sintomas

depressivos, pois a vivência desses pode produzir sentimentos de desânimo e tristeza frente a

um problema crônico e incurável.

Ainda segundo o mesmo autor, a dor aguda é interpretada como uma ameaça à

integridade, a qual gera atitudes de escape, proteção, busca de apoio, medo e ansiedade. É um

sintoma de alerta, que apresenta uma fisiologia clara e, quando persistente, pode alterar a

plasticidade do sistema nervoso, tornando-se responsável pela cronificação da sintomatologia.

A dor crônica está associada às afecções crônicas ou que persistem há um longo prazo para a

cura. Gera depressão e é vivida como perda, choro, lamento e comportamentos que visam a

reintegração. Os elementos emocionais envolvidos na experiência dolorosa podem ser mais

significantes. Doentes com dor crônica apresentam prevalência mais elevada nos mais

diversos transtornos e a associação dor e depressão pode agravar o sofrimento, comprometer a


adesão do doente quanto ao tratamento e as respostas aos analgésicos, acarretando isolamento

social, desesperança e privação de cuidados.

De acordo com Rielchelmenn in Angerami-Camon, et al., (2001), da mesma maneira

que a ansiedade é o estado emocional concomitante da dor aguda, a depressão é o

concomitante da dor crônica. A dor usada com função de linguagem do inconsciente, é uma

forma de comunicação que custa caro em termos de quantidade de sofrimento. A linguagem

verbal seria mais simples e o que a impede é a “resistência inconsciente”, que não permite a

chegada da mensagem expressa pela dor para a consciência.

De acordo com Angelotti (1999), in Angerami-Camon et al., (2001):

O pensamento é um dos fatores psicológicos a influenciar a dor e, freqüentemente é


uma força geradora de estresse. Os indivíduos mais vulneráveis encaram com
dificuldades os eventos que podem desenvolver a resposta da dor; muitas vezes o
estresse ocorre em conjunto com a dor crônica, de modo que ele pode agravar a
intensidade da dor e esta, por outro lado, criar estresse.

Segundo Coelho in Angerami-Camon, et al., (2001), a exposição da doença no

homem, por um tempo indeterminado, pode acentuar a psicodinâmica de seu funcionamento

emocional. No acompanhamento emocional do paciente com uma enfermidade crônica,

podem ser observadas algumas características psicodinâmicas comuns. A base da estrutura da

personalidade do doente crônico compreende tendências: à regressão, que facilita os cuidados

básicos, mas aumenta a cronicidade emocional; à passividade, onde o paciente deixa de ser

agente no seu tratamento, entregando sua vida nas mãos dos outros; à dependência onde o

paciente se entrega aos cuidados de outros, de forma semelhante à condição de dependência

que viveu no inicio da vida; e à sensibilidade às frustrações, que é a base do comportamento

típico do doente crônico e, por esse funcionamento, a pessoa se torna mais vulnerável a

qualquer afecção ou lesão que lhes atinja o corpo e/ou a auto-estima. A qualquer momento

seu corpo e, consequentemente seu ego, correm o risco de serem atacados.

Segundo o mesmo autor, durante a enfermidade clínica aguda, as questões

psicológicas não são as maiores preocupações. Para Brewster, (1982), citado em Coelho in
Angerami-Camon, et al., (2001), de maneira didática, para a compreensão das reações

emocionais dos pacientes, a primeira tarefa psicológica, que o indivíduo deve realizar, é

reconhecer que está enfermo, sem ficar arrasado. A segunda, é permitir, a si mesmo, depender

dos outros para a assistência (o que pode ser um problema para muitas pessoas. A terceira, é

ter que reassumir o seu funcionamento normal, à medida que a sua condição melhorar, apesar

de alguns pacientes sucumbirem emocionalmente após passarem por uma enfermidade clínica

aguda, com ou sem seqüela orgânica. As pessoas podem apresentar dificuldades em qualquer

uma dessas três fases da tarefa, ou em todas elas.

De acordo com Goleman (1995, p.), “quando as emoções são sufocadas, geram

embotamento e frieza; quando escapam ao nosso controle, externadas e renitentes, tornam-se

patológicas, tal como ocorre na depressão paralisante, na ansiedade que aniquila, na raiva

demente e na agitação maníaca”. As pessoas se expressam raramente com palavras, para

entendermos os sentimentos dos outros, precisamos interpretar canais não verbais: o tom da

voz, gestos, expressão facial e outros sinais. “Na terra dos doentes, as emoções reinam

supremas; o medo bane o raciocínio. Ficamos tão fragilizados emocionalmente quando

doentes, porque nosso bem estar mental repousa, em parte, na ilusão de que somos

invulneráveis”. Para Ader apud Goleman (1995), que resultou sua investigação, na descoberta

de miríades de formas de comunicação entre o sistema nervoso central e o sistema

imunológico, as rotas biológicas fazem considerar a mente, emoção e corpo entidades

intimamente interligadas.

Goleman (1995) cita as ferramentas básicas de inteligência emocional, que são a

autoconsciência e as artes de empatia e do saber ouvir. Lidar melhor com os sentimentos

incômodos como a raiva, ansiedade depressão, pessimismo e sensação de solidão, é uma

forma de prevenir doenças.


De acordo com Goleman (1995), um dos modelos para o ensino da Inteligência

Emocional é o currículo da Ciência do Eu. Entre os tópicos ensinados estão: a

autoconsciência, que tem por objetivo reconhecer sentimentos, montar um vocabulário para

eles e ver as ligações entre pensamentos, sentimentos e reações; tomar decisões, examinando

e avaliando as ações e suas conseqüências; lidar com sentimentos, monitorando a “conversa

consigo mesmo”, compreender o que esta por trás de um sentimento, encontrando meios para

lidar com o medo, a ansiedade, a raiva e a tristeza; lidar com a tensão, o aprender o valor dos

exercícios, imagística orientada, métodos de relaxamento; empatia, compreendendo a maneira

como as pessoas sentem e lidam com seus sentimentos; comunicação com o outro, falando de

seus sentimentos e se interessando pelos dos outros; auto revelação, valorizando a franqueza,

construindo confiança nos relacionamentos; intuição, identificando padrões emocionais em si

mesmo e, semelhante, nos outros; auto- aceitação, aceitando-se como é; responsabilidade

pessoal; assertividade, declarando suas preocupações e sentimentos; dinâmica de grupo,

sabendo liderar e cooperar; solução de conflitos, lutando limpo pelas coisa e estabelecendo

acordos.

2.2 Música e Emoção

Queiroz (1997), afirma que a música é uma vibração sonora que modifica o estado

emocional por meio das modificações no estado do corpo físico, e estas modificações estão

relacionadas com as mudanças fisiológicas e neurológicas. Portanto, estas modificações

atuam principalmente na condições no estado físico que estimulam determinados estados

emocionais.
Segundo Campadello (1995), a música afeta o corpo de forma direta, quando o som

atua nas células e órgãos, e de forma indireta, quando o som atua sobre as emoções, influindo

sobre processos corporais e provocando tensões. A música se relaciona intimamente com o

comportamento humano, esta sempre no íntimo do homem, nasceu da sua mente, das suas

emoções, e por isso pode atingi-lo. Ela intensifica tudo o que já existia no homem como uma

espécie de ressonador.

As emoções são reações dinâmicas provocadas por certas experiências, e elas


precisam de canais por onde escoar para que o indivíduo mantenha o equilíbrio,
pois a inibição e a repressão estão entre fontes principais das desordens mentais.
Eliminar os bloqueios emocionais ajuda a trazer à tona recordações, atitudes ou
pensamentos escondidos no subconsciente. A música pode trazer à consciência
emoções profundas assentadas, reprimidas por longo tempo, proporcionando a
necessária via de descarga (CAMPADELLO, 1995, p. 152).

No trabalho de Verdeau-Pailles, em 1982, sobre a escuta musical, ela diz que:

Mecanismos psicológicos complexos intervêm, lembranças, evocações de imagens,


impressões suaves, sentimentos, independentes da mensagem que poderia ser
veiculada pela obra musical. Aqui a música evoca uma vivência anterior, ligada ao
passado cultural e as experiências pessoais.(...) chegou-se a conclusão que não
existia relação precisa entre as formas musicais por um lado, e as reações, as
emoções, o vivenciado da música pelo ouvinte por outro lado (VERDEAU-
PAILLES apud COSTA,1989, p. 42).

2.3 A Música como Experiência Subjetiva

De acordo com Leinig (1977), as emoções são reações dinâmicas, e algumas

experiências necessitam de saída para que o indivíduo possa manter o equilíbrio, pois a

repressão e a inibição estão diretamente relacionadas com as desordens mentais. A música

pode satisfazer essas necessidades como meio de expressão, trazendo para a consciência,

emoções profundas, proporcionando a uma via para a descarga necessária, extraindo

experiências subjetivas e restabelecendo equilíbrio pessoal.


Segundo Bruscia (2002, p.), “escutar e fazer música são experiências pessoais e

singulares”. É uma manifestação direta da singularidade do ser humano, a maneira como ela

faz ou ouve a música, refletindo como a pessoa é, e a forma como ela lida com as situações

exemplificadas pela música. Mesmo quando duas pessoas fazem músicas juntas, a maneira

como elas compartilham a experiência musical, é singular. Por isso, o musicoterapeuta deve

utilizar música para seu cliente explorar os aspectos e formas de se relacionar com o mundo,

estruturando a experiência musical de acordo coma a necessidade do cliente.

De acordo com o mesmo autor, existem duas abordagens para a configuração da

dinâmica da música com a experiência subjetiva uma chamada de “música-como-processo e

outra chamada como “música-como-representação”.

A “música-como-processo” esta centrada no processo de fazer ou escutar música. A

experiência de criar, re-criar, fazer ou ouvir música, possibilita o cliente descobrir,

experênciar e transformar vários aspectos do eu, dos outros e/ou a relação eu-outro. Ela é o

próprio processo da mudança terapêutica, , sendo que o objetivo principal não é direcionar

esteticamente, mas utilizar a música como reflexo ou expressão extremamente pessoal de cada

indivíduo envolvido. Portanto, a música reflete o processo do eu e/ ou o processo do eu-outro;

A “música-como-representação” centra-se no produto musical. Esse produto é reflexo

de tudo o que aconteceu durante o processo. O produto musical fornece uma imagem, um

símbolo, uma metáfora ou uma projeção musical de cada pessoa envolvida no processo.

Segundo o mesmo autor, nesse modelo dinâmico: “o papel do terapeuta é utilizar seu

próprio eu subjetivo para se relacionar com o cliente de uma forma terapêutica, utilizando a

música tanto como terapia quanto na terapia” (BRUSCIA, 2000, p.). Para isso o terapeuta

precisa dominar conhecimentos de música, psicologia e psicoterapia, além de ter a sua

experiência pessoal com a música. O papel do cliente é “dedicar-se a explorar as relações

internas do eu, e as relações entre o eu, a música e o terapeuta” (Ibid).


A Musicoterapia

3. A MUSICOTERAPIA

3.1 Música e Dor

O uso da música no alívio da dor tem acompanhado o homem desde os primórdios, e

por mais que a ciência tenha avançado, a compreensão de como ela exerce influência sobre os

seres humanos constitui, ainda, um desafio e um campo a ser explorado. Sabemos que a

música abrange as seguintes dimensões humanas: a biológica, a mental, a emocional e a

espiritual. Entretanto, muitos dos caminhos, pelos quais esses fatores ocorrem, ainda nos são

um tanto quanto desconhecidos. Independente disso, também temos observado ao longo da

história da humanidade e da própria Medicina, a sua utilização como recurso terapêutico. O

uso da música como recurso complementar, no tratamento da dor, objetiva o alívio e a

melhora da qualidade de vida.

Numa pesquisa realizada pela Escola de Enfermagem da USP-São Paulo 2, observou-se

que quando as pessoas ouvem música, uma série de imagens é produzida, independentemente

de sua preferência musical, ou seja, a música contém um potencial para evocá-la, que não

constitui unidade de medida em si, mas possibilita a comparação quantitativa. Isso acontece

porque nosso cérebro transforma quase todas as experiências que temos em imagens mentais.

A música, por meio da sua linguagem de ritmo, melodia, forma, tom, harmonia, timbre,

instrumentação e vozes, toca todos os níveis do nosso ser e, as nuances da estrutura musical,

afetam o fluxo de imagens, conduzindo-nos à idéia de que músicas diferentes, com diferentes

2
nono
estruturas musicais podem apresentar, também, diferentes potenciais para evocar a

imaginação.

A audição musical pode ter um efeito positivo em pacientes que sofrem com dor,

informa uma publicação especializada norte-americana Journal of Advanced Nursing3,

baseando-se nos resultados de um estudo científico feito por pesquisadores da Cleveland

Clinic Foundantion4, envolvendo 60 pacientes. Segundo esse estudo, a redução dos níveis de

dor dos pacientes que ouviam música foi 21% superior aos que não ouviam. O índice de

pacientes que sofriam com a depressão, em decorrência da dor crônica, também diminuiu

25%, enquanto que, o índice dos que não escutavam música, com regularidade, permaneceu

inalterado. Os participantes da pesquisa foram norte-americanos que, há mais de seis anos, já

haviam recorrido a todo tipo de terapia para combater dores provocadas pela osteoartrite,

problemas de disco e artrite reumática. A maior parte dos pesquisados relatou que a dor

atingia mais de uma parte de seus corpos e era contínua. Dentre eles, alguns ouviam música

com fones de ouvido durante uma hora por dia, enquanto que o restante não compartilhava do

mesmo hábito. Entre os que ouviam música, metade era capaz de escolher suas músicas

favoritas e os demais podiam escolher a partir de uma lista de cinco fitas relaxantes,

oferecidas pelos pesquisadores. A conclusão da pesquisa mostrou que ouvir música tem efeito

estatístico considerável nos dois grupos, reduzindo sensações de dor, depressão e

incapacidade, aumentando sensações de poder.

Pesquisa anterior, publicada no mesmo Journal of Advanced Nursing5, já havia

revelado que ouvir música suave durante 45 minutos, antes de dormir, pode aumentar o sono

em até um terço. E sobre os efeitos da música no combate à dor, equipe da Universidade de

Leeds, na Inglaterra, chegara aos mesmos resultados em estudo semelhante.

4
5
nono
McCaffery (1990 apud DOBBRO 1998), “indica a utilização da música como uma

abordagem não farmacológica, efetiva para o controle da dor, caracterizando-se num método

de distração e estar entre as estratégias mais eficazes, além de apresentar um alto nível de

aceitabilidade pelos pacientes”. Hicks (1992 apud DOBBRO 1998), afirma que a música,

além de reduzir a tensão e diminuir a dor , pode melhorar o sono e além de ser num método de

distração. Para Owens e Ehrenreich (1991 apud DOBBRO 1998), um dos métodos não

farmacológicos para o tratamento da dor crônica relatados pelas pesquisas é o uso da música

afetando todos os maiores sistemas do corpo. E referem também outros benefícios da

musicoterapia em estudos com pacientes com dor aguda, citando o estudo de Herth que em

seus achados identificou uma diminuição de 30% do uso de medicações analgésicas quando a

música foi utilizada.

De acordo com Dobbro (1998), sua experiência no cuidado de mulheres com

diagnóstico de fibromialgia (embora seja dor crônica não oncológica) demonstrou que a

audição musical ocasiona redução significativa da dor crônica, referida por essas pacientes

além de proporcionar uma experiência rica, pois além do alívio da dor, diversos aspectos

subjetivos emergem, tais como alterações nos estados de ânimo, facilitação da introspecção,

visualização de imagens e sensações estéticas, demonstrando que sua utilização e

compreensão merecem ser ampliados.

Segundo Todres (2006), o homem se relaciona com a música há muito tempo, devido

aos seus benefícios para o corpo, mente e espírito. Há séculos, os benefícios da música, para

aqueles que se encontram doentes, têm sido reconhecidos, mas apenas em anos mais recentes,

esses benefícios tem sido estudados de forma mais sistematizada. A música afeta as

necessidades físicas, emocionais, cognitivas e sociais de indivíduos de todas as idades, pois

ela beneficia pacientes com dor, alivia a ansiedade pré-operatória, age sobre o sistema

nervoso autônomo, reduzindo ou acelerando os batimentos cardíacos, a pressão arterial e a dor


pós-cirúrgica. Os efeitos da música na redução da dor, explicam-se pela teoria do portal do

controle da dor. A música age como um estímulo em competição com a dor, distrai o

paciente e desvia sua atenção da dor, modulando, desta forma, o estímulo doloroso.

O estudo de Hatem et al. (apud TODRES, 2006)6, trata dos efeitos terapêuticos da

música em pacientes após cirurgia cardíaca, o que contribui para a apreciação dos benefícios

potenciais da música no controle da dor e da ansiedade e na moderação de sinais vitais. Foi

observado nesse estudo, mudanças significativas na intensidade da dor, na freqüência cardíaca

e respiratória. A dor pós-operatória é controlada com agentes farmacológicos, mas a adição de

agentes não-farmacológicos é importante para reduzir as doses de drogas e seus efeitos

colaterais. A dor pós-operatória pode exacerbar o estresse e complicar a evolução pós-

operatória, e a contribuição da música para o controle da dor e da ansiedade, que são

freqüentemente inter-relacionadas, pode propiciar uma melhor evolução pós-operatória. Os

benefícios da música, podem ser aumentados com a participação de um musicoterapeuta. Os

musicoterapeutas integram seu trabalho ao cuidado de pacientes cardíacos, ajudando-os a

suportar o estresse da doença. Em estudos que compararam a audição passiva com a audição

acompanhada por um musicoterapeuta, viu-se que a participação desse especialista sempre é

mais vantajosa.

De acordo com Leão e Silva (2004), foi realizado um estudo realizado no Ambulatório

do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina

da Universidade de São Paulo (IOTHCFMUSP), no período de setembro de 2000 a junho de

2001, com noventa mulheres voluntárias com dor crônica músculoesquelética. Segundo a

etiologia da dor, o grupo de noventa foi dividido em três grupos: trinta mulheres com

diagnóstico de fibromialgia, trinta mulheres com diagnóstico de Lesões por Esforços

Repetitivos/Doenças Osteoarticulares Relacionadas ao Trabalho (LER/DORT) e trinta

mulheres com afecções da coluna vertebral. Foi utilizado um formulário para caracterizar a
6
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jped/v82n3/v82n3a02.pdf
amostra quanto à idade, grau de instrução, estado civil, religião, situação profissional,

preferência e formação musicais. Foi avaliada a intensidade álgica antes e após a audição de

cada peça musical, com uma escala verbal numérica de zero a dez, na qual zero corresponde à

ausência de dor e dez à pior dor imaginável. Foram avaliadas, ainda, as seguintes variáveis:

seqüência musical, utilização de medicamentos analgésicos, etiologia da dor e produção de

imagens mentais para cada audição musical. A escolha do repertório fundamentou-se em

selecionar duas composições eruditas de alto teor artístico, bastante diferenciadas quanto à sua

proposta musical, e uma terceira possibilidade como controle, que foi denominado Mix, por se

tratar da junção de diversos trechos de músicas eruditas. Dentre os mecanismos que se

relacionam com o alívio da dor, encontram-se a distração, a alteração do foco percentual e a

liberação de endorfina, como também, o relaxamento. Ao final, os resultados foram de uma

melhora significativa na intensidade da dor.

3.2 Definição de Música em Musicoterapia

Leinig (1977, p. 18) define a música, “por sua própria essência, é beleza, ordem,

regularidade, coesão, equilíbrio, proporção”. Por outro lado, Bruscia (2000, p. 111), define

como:

A música é uma instituição humana na qual criam significação e beleza através do


som, utilizando as artes da composição, da improvisação, da apresentação e da
audição. A significação e a beleza derivam-se das relações intrínsecas criadas entre
os próprios sons e das relações extrínsecas criadas entre os sons e outras formas de
experiência humana. Como tal, a significação e a beleza podem ser encontradas na
música propriamente dita , no ato de criar ou experimentar música, no música e no
universo.

Para Ruud (1990), a música é um fenômeno obtido através da cultura, onde, pela

codificação das vibrações, resulta-se um som reorganizado. Para compreender a música é

necessário conhecer os códigos ou modos de representação que prevalecem na cultura. As


vibrações da música podem ser sentidas, mas isso não se torna a prova de seu efeito

terapêutico. As doenças somáticas resultam de processos materiais e “energias psíquicas”,

sejam influenciadas pela música, pelas circunstâncias, ou das estruturas da doença.

Ruud (1990), afirma que as teorias consideradas úteis para o musicoterapeuta

racionalizar seu trabalho dentro da tradição psicodinâmicas, relativas à natureza da música e

suas funções são elas: A música propicia meios de sublimação canalizando os impulsos de

maneira sociável e aceitável; através da “catarse”, a música resolve conflitos danosos; a

música fortalece o ego do paciente. Esse fortalecimento da estrutura do ego conduz à técnicas

mais eficientes para enfrentar problemas; a música é capaz de se desviar do ego e atingir a

mente inconsciente, aumentando a percepção interna.

Segundo Bruscia (2000), existem alguns fatores que influenciam na forma como

definimos música, num contexto terapêutico. Os mais importantes são: as habilidades e

aquisições dos clientes são sempre aceitos sem julgamento; os padrões estéticos são mais

amplos na musicoterapia; o cliente é a prioridade e não a música; a experiência musical

significativa para o cliente, a música como agente de mudança; os aspectos multisensoriais da

música; as superposições e relações entre a música e outras artes, contribuindo para tornar as

fronteiras da experiência musical mais inclusivas. A participação do cliente, na musicoterapia,

não exige que eles tenham habilidades musicais especiais, pois a prioridade é alcançar os

problemas e necessidades dos clientes através da música.

3.3 História e Definição da Musicoterapia


Para falar do histórico da Musicoterapia, será necessário falar antes da utilização da

música e seus efeitos biológicos e psicológicos no homem, que podem ser encontrados nas

citações de Pitágoras que investigou a física do som e prescreveu intervalos musicais e modos

específicos para promover saúde. Platão descreve a força de pensamento e emoção da música

como medicina da alma, pois recomendava a música para a saúde da mente e do corpo, para

vencer as angústias fóbicas. Para Aristóteles, a música poderia ser compreendida como uma

experiência catártica emocional. Por outro lado, Caelius Aurelianus alertou-nos que o uso

indiscriminado da música poderia levar uma pessoa a loucura. De acordo com a Bíblia o Rei

Saul se acalmava com o som da harpa tocada por Davi. E, finalmente Esquirol, discípulo de

Pinéu, dizia que ainda que a música não curasse, ela distraia e aliviava (LEINIG, 1977)

A musicoterapia como disciplina, como ciência, teve início no século 20 após a

Primeira e Segunda Guerra Mundial. De acordo com Leinig Ibid., em 1950, criou-se a

Association for Music Therapy, Com intuito de colaborar no desenvolvimento do uso da

música na medicina, preparando o profissional musicoterapeuta, a se aliar à profissão médica.

Antes disso, músicos amadores e profissionais passaram a tocar nos hospitais, em vários

países da Europa e Estados Unidos, para milhares de soldados veteranos. Logo os médicos e

enfermeiros puderam notar melhoras no bem-estar dos pacientes. Desde então, a música vem

sendo cada vez mais incorporada às práticas alternativas e terapêuticas. No Brasil, foram

criados os primeiros cursos de graduação em musicoterapia em 1971, sendo que o primeiro

curso de musicoterapia criado e credenciado pelo Conselho Federal de Educação é o da

Faculdade de Educação Musical do Paraná, em Curitiba. Depois, no Rio de Janeiro, no

Conservatório Brasileiro de Música; e em Porto Alegre na Escola da Arte, na Universidade

Federal do Rio Grande do Sul. Hoje, no mundo, existem mais de 127 cursos que vão da

graduação ao doutorado.
Apresenta-se, a seguir, algumas definições de musicoterapia.

Musicoterapia é a utilização da música e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia e


harmonia) por um técnico qualificado, com um cliente ou grupo, num processo que
facilite e promova a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização, expressão,
organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, a fim de atender às
necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas (COMISSÃO DE
PRÁTICA CLÍNICA DA FEDERAÇÃO MUNDIAL DE MUSICOTERAPIA,
1996).

    “Musicoterapia é um processo orientado por objetivos no qual o terapeuta ajuda o

cliente a melhorar, manter ou restaurar um estado de bem-estar utilizando experiências

musicais e as relações que se desenvolvem através delas como forças dinâmicas de mudança”

(BRUSCIA, 1987, p.5).

Segundo Ruud (1990), a musicoterapia vem utilizando, principalmente, de quatro

“abordagens teóricas” existentes no campo de atuação da saúde: o Modelo Médico,

Psicanalítico, Behaviorista e o Humanista/ Existencialista.

No Modelo Médico toda “doença mental” ou distúrbio da personalidade é vista como

uma alteração bioquímica. No Modelo Psicanalítico a teoria Psicanalítica afirma que a

musicoterapia se propõe à auxiliar o paciente a um ajuste mais adequado de sua

personalidade, e ao fortalecimento do ego no sentido de adequação e segurança. No Modelo

Behaviorista a intervenção musicoterapêutica visa a modificação do comportamento,

pesquisando a utilização da música e princípios de modificação do comportamento com a

utilização do contingente da música. Esta aponta na direção de uma tecnologia de

Musicoterapia com procedimentos baseados em pesquisa empírica. Finalmente, o modelo

Humanista/ Existencialista é caracterizado por centralizar a atenção na pessoa e focalizar a

experiência como fenômeno primordial no estudo do ser humano. Enfatiza as qualidades

humanas distintas como escolha, criatividade, auto-valorização e auto-realização.

De acordo com Hadsell (apud Costa 1989), a musicoterapia tem se baseado em quatro

suportes teóricos: Psicanálise - a música usada para liberar pulsões sexuais e agressivas
reprimidas; Behaviorismo – a música usada para ajudar a “eliminar associações inapropriadas

que o indivíduo aprendeu a substituí-las por outrasé mais apropriadas”; Existencial-

humanista- a música é usada para ajudar o indivíduo a desenvolver seu maior potencial

humano; Interpessoal – a música é usada em situações grupais para desenvolver a capacidade

de relacionamento e comunicação.

Segundo Bruscia (2000), a musicoterapia não é apenas a utilização da música, mas sim

das experiências musicais. Ela é uma forma de terapia que se apóia na experiência como

agente e como resultado da terapia. A metodologia da musicoterapia se baseia na experiência

do cliente e como o terapeuta a molda. A experiência musical está diretamente relacionada

com nosso estado emocional. As experiências musicais utilizadas em musicoterapia se

dividem em cinco níveis: o nível pré-musical pode ser compreendido como tudo aquilo que

não faz parte, mas que pode ser convertido em música; o nível não-musical deriva de um

comportamento não possui intenção ou significação musical, não deriva nem sequer afeta a

atividade musical; o nível extramusical engloba todos os elementos que podem ser derivam da

música, que podem ser referentes a aspectos não-musicais que retiram significação ou a

afetam; por último, o nível musical provém de respostas intencionais que derivam de algum

som ou qualquer outro elemento musical significativo, que pode estar contido em uma

experiência ativa ou receptiva. Embora a musicoterapia envolva todos os níveis de

experiências musicais, quanto mais perto o cliente estiver do nível puramente musical mais

certeza teremos de que ele está vivenciando a musicoterapia.

3.5 Áreas e Níveis de Prática


Bruscia (2000) define como seis principais áreas de prática clínica da musicoterapia:

didática, médica, cura, psicoterapêutica, recreativa e ecológica.

As práticas didáticas são aquelas cujo foco é ajudar os clientes a adquirirem os

conhecimentos, comportamentos e habilidades necessários para uma vida funcional e

independente para a adaptação social.

A área médica inclui todas as aplicações da música ou da musicoterapia em que o foco

primário é ajudar o cliente a melhorar, recuperar ou manter a saúde física.

A área de cura inclui todas as utilizações das propriedades universais da vibração, do

som e da música com o propósito de restaurar a harmonia do indivíduo e universo.

A área psicoterapêutica inclui as aplicações da música ou da musicoterapia, cujo foco

primário é auxiliar os clientes a encontrarem significação e satisfação. Isso inclui todas as

abordagens que enfocam as emoções do indivíduo, a auto-realização, insights, relações e

espiritualidade como principais alvos de mudança.

A área recreativa inclui todas as aplicações da música ou da musicoterapia em que o

foco primário é o prazer pessoal, a diversão ou o engajamento em atividades sociais e

culturais.

A área ecológica inclui todas as aplicações da música ou da musicoterapia em que o

foco primário é a promoção da saúde, entre a pessoa com o ambiente e a pessoa com seu

interior. Isto se dá através dos vários estratos sócio-culturais da comunidade e de seu ambiente

físico.

De acordo com o mesmo autor, cada área abrange práticas clínicas que variam de

acordo com o nível de terapia. O nível descreve a extensão, a profundidade e a importância da

intervenção musicoterapêutica. São quatro níveis: auxiliar, aumentativo, intensivo e primário

(BRUSCIA, 2000).
3.7 Tipos de Experiência Musical: Os Quatro Métodos de Musicoterapia

De acordo com Bruscia (2000), há quatro tipos de experiência musical: improvisação,

re-criação, composição e audição. Cada tipo envolve um conjunto de comportamentos

sensório-motores distinto, requerendo diferentes tipos de habilidades perceptivas e cognitivas,

também evoca diferentes tipos de emoções e engaja o paciente num processo interpessoal

diferente. Para entender como a musicoterapia opera é necessário compreender cada tipo de

experiência musical. São considerados os quatro métodos de musicoterapia, os quatro tipos de

experiências musicais. São elas: Audição, Improvisação, Re-criação e Composição.

A Audição é a experiência de engajar o cliente em experiências de ouvir música, em

que o cliente ouve música e responde à experiência de forma silenciosa, verbalmente ou

através de outra modalidade.

A Improvisação é a experiência de engajar o cliente em fazer música improvisada.

Nessa experiência o cliente faz música tocando ou cantando, criando uma melodia, um ritmo,

uma canção ou uma peça musical de improviso.

A Re-criação, ou seja, a experiência de engajar o cliente para reproduzir música.

Nessa experiência o cliente aprende ou executa musicas instrumentais ou vocais ou reproduz

qualquer tipo musical apresentado como modelo.

A Composição que é a experiência de utilizar as várias formas de engajar o cliente

para compor. O terapeuta ajuda o cliente a escrever canções, letras ou peças instrumentais, ou

ajuda criar qualquer tipo de produto musical movendo recursos como vídeos e fitas de áudio.

3.8 O Processo Musicoterapêutico


As sessões podem ser individuais ou em grupo, uma ou duas vezes por semana; tudo

irá depender do objetivo proposto para o processo terapêutico. Antes de iniciar o tratamento, o

paciente deve passar por algumas etapas de diagnóstico como: entrevista inicial, ficha

musicoterapêutica, testificação musical, teste projetivo-sonoro-musical e avaliação/alta.

Entrevista inicial, onde obtemos informações para o tratamento sobre “a história

sonora” do paciente e a “Queixa Principal”.

Ficha Musicoterapêutica, onde colhemos dados sobre o mundo sonoro-musical do

indivíduo, desde sua vida intra-uterina, suas preferências e recusas sonoras e musicais.

Testificação Musical, onde colhemos dados da manifestação sonoro-musical do

paciente (o paciente irá tocar ou manipular o instrumento como desejar e qual desejar).

Teste projetivo-sonoro-musical, onde verificamos a reação do paciente em relação a

determinadas músicas / sons, com significados simbólicos pré-estabelecidos. Também

avaliamos as capacidades e habilidades corporais, motoras e cognitivas do paciente antes de

concluir o diagnóstico inicial.

Segundo Bruscia (2000), o processo musicoterápico é sistemático, pois tem um

propósito temporalmente organizado e uma metodologia baseada num conhecimento que o

sustenta. Do ponto de vista dos procedimentos, envolve três etapas: avaliação diagnóstica,

tratamento e alta. De acordo com Barcellos (1999), a alta deverá ser dado quando a avaliação

mostrar que os objetivos foram atingidos e o paciente deverá estar apto para viver em

sociedade.

Na avaliação diagnóstica, o terapeuta observa o cliente nas experiências musicais para

compreendê-lo melhor e para identificar os problemas, necessidades, preocupações e recursos

que o cliente traz para a terapia. Os objetivos podem ser interpretativos, descritivos,

prescritivos e avaliativos.
O tratamento é a parte do processo onde o terapeuta engaja o cliente nas experiências

musicais, empregando técnicas e conhecimentos específicos, induzindo mudança do cliente e

promovendo saúde. O trabalho envolve planejar e conduzir as sessões. Primeiramente, o

terapeuta estabelece uma direção geral do processo, baseado na avaliação diagnostica. Em

seguida, formula uma estratégia global do tratamento, selecionando tipos de músicas e

experiências musicais, relevantes para o cliente e para o plano terapêutico. Para isso, utilizar

os quatro tipos de experiências musicais mencionadas anteriormente.

A avaliação é a fase do processo terapêutico em que o terapeuta determina se o cliente

e/ou sua condição de fato mudou como resultado do tratamento de musicoterapia.

O processo musicoterapêutico para ser sistemático deve ser baseado num corpo

específico de conhecimento e regulado nos padrões clínicos e éticos que orientam e regulam a

conduta dos membros. Esses padrões podem ser considerados códigos oficiais de ética e de

prática clínica, entre eles as áreas de interesse comum são: competência, direitos dos clientes,

padrões da prática, relacionamento com o cliente, pesquisa e honorários.

A Musicoterapia não pode ser feita de forma aleatória, pois se busca uma organização

e controle do que se é desejado ou pretendido. Ela é um processo que requer tempo, ou seja,

uma seqüência de experiências que conduzem para um estado desejado. Com relação ao

processo propriamente dito, Bruscia (2000) define seis tipos: desenvolvimentista, quando a

seqüência de intervenções é baseada em estágios do crescimento, maturação ou

desenvolvimento; educacional quando é vinculado às habilidades curriculares do cliente;

interpessoal quando se baseia em relacionamentos com outras pessoas; artístico quando visa

o fazer musical, engajando o cliente na interação musical, na escuta, ou até mesmo através de

uma experiência estética sem preconceitos ou formas preconcebidas de padrões de beleza;

criativo que diz respeito a estágios de identificação, exploração, experimentação e seleção de


novas alternativas para lidar com o self; e o científico que envolve as seqüências e regras de

um experimento. Esses diferentes tipos de processo não são mutuamente excludentes.

De acordo com o mesmo autor, a musicoterapia não é uma prática estanque de eventos

que ocorrem rumo a objetivos focados no cliente. O processo musicoterapêutico pode

envolver diversas formas de utilizar a música, a partir de diversas abordagens e práticas de

intervenção unificadas para o desenvolvimento total do indivíduo. Cabe ao musicoterapeuta,

adequar a melhor forma de abordar seu trabalho, com conhecimento para auxiliar seu cliente

no desenvolvimento de objetivos musicais e até mesmo não-musicais.

3.9 O Papel do Musicoterapeuta

O papel do musicoterapeuta no tratamento da dor é vincular a instigar a dimensão

subjetiva do paciente à sua saúde. De acordo com Bloch (1982 apud BRUSCIA 2000, p. 52-

53) “a pessoa que está disponível como terapeuta é de fato um curandeiro sancionado

socialmente que foi designado em virtude de seus treinamentos e suas habilidades. O

terapeuta é um profissional que tem o compromisso de ajudar os outros que necessitam de sua

especialização”.

Para Bruscia (2000, p. 54), por definição, “um terapeuta é um especialista que utiliza

princípios éticos pessoais e profissionais para orientarem seu trabalho para com os clientes.

Na musicoterapia, esses princípios tratam de matérias como competência, conduta

profissional, direitos do cliente e pesquisa”.

Um Breve Estudo de Caso


4. UM BREVE ESTUDO DE CASO

Será apresentado um estudo de caso de uma paciente, atendida em uma clínica escola,

de uma instituição de ensino superior no interior de São Paulo, no período de 09 de fevereiro

a 07 de junho de 2006 foram realizadas dez sessões ao todo, sendo que os atendimentos

semanais eram com duração cinqüenta minutos. O pseudônimo Alda será utilizado a fim de se

preservar a sua integridade. Sua principal queixa era de dor nas mãos e tensão no corpo todo.

O diagnóstico médico era de LER (lesão por esforço repetitivo) e estresse.

Em cada sessão foi aplicada uma escala de avaliação numérica (EAN) da dor, com

base em valores subjetivos de mensuração da intensidade da dor. A paciente deveria relatar

qual o grau de intensidade da dor, de um a dez, do mais fraco para o mais forte, preenchendo

os quadrados da tabela, da esquerda para a direita.

Escala de Avaliação Numérica (EAN)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

3.10.1 Estudo das Patologias Apresentadas

LESÃO POR ESFORÇO REPETITIVO

LER7, é a abreviatura de Lesão por Esforço Repetitivo. Representa uma síndrome de

dor nos membros superiores, com queixa de grande incapacidade funcional, causada

7
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/LER
primariamente pelo próprio uso das extremidades superiores em tarefas que envolvem

movimentos repetitivos ou posturas forçadas. Também é conhecido por L.T.C. (Lesão por

Trauma Cumulativo) e por D.O.R.T. (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho),

entretanto, seria mais correto, tecnicamente, denominá-lo de Síndrome da Dor Regional.

Como o nome LER se tornou popular, esta tem sido a denominação adotada no Brasil

e, apesar de bastante imprópria, relaciona sempre tais manifestações com certas atividades no

trabalho. Portanto, LER não é uma doença, é um fenômeno sócio-político-trabalhista.

O diagnóstico diferencial deve excluir as tendinites e tenossinovites secundárias a

outras patologias, como reumatismo, esclerose sistêmica, gota, infecções gonocócicas,

traumática, gravidez, osteoartrite, diabetes, mixedema, etc.

CLASSIFICAÇÃO

As classificações mais usuais são feitas conforme a evolução e o prognóstico,

classificando a "LER" baseada apenas em sinais e sintomas. São:

Fase 1 - Apenas queixas mal definidas e subjetivas, melhorando com repouso.

Fase 2 - Dor regredindo com repouso, apresentando poucos sinais objetivos.

Fase 3 - Exuberância de sinais objetivos, e não desaparecendo com repouso.

Fase 4 - Estado doloroso intenso com incapacidade funcional (não necessariamente

permanente).

ESTRESSE

O estresse8 é termo usado para designar o contrário de calma ou relaxamento, refere-

se, em termos médicos, a um vasto conjunto de fortes estímulos externos, tanto fisiológicos

8
Retirado do site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Stress
como psicológicos, responsáveis por uma resposta fisiológica designada como síndrome geral

de adaptação, tal como foi designado em 1936 por Hans Selye na revista científica Nature.

Existem dois tipos de stress: crônico e orgânico.

Segundo Fiamenghi (2001, p. 32), “estresse é o processo de ajustamento ou de lidar

com circunstâncias que desorganizam ou ameaçam desorganizar o funcionamento físico ou

psicológico de uma pessoa”. Ele não é um evento específico, mas é um processo que depende

de como a pessoa reage às situações as quais ela é exposta. Para o autor, os principais

estressores psicológicos são as situações frustrantes, de pressão, de conflito, tédio,

desorganização do sono e vigília, mudanças, além de algumas atividades profissionais.

Algumas estratégias para lidar com o estresse são: objetividade, análise lógica, concentração,

empatia, brincadeira, tolerância de ambigüidade, supressão, substituição de pensamentos e

emoções.

3.10.2 Dados Gerais do Paciente

Alda tem 43 anos, solteira, é técnica administrativa, reside no interior do estado de

São Paulo há 28 anos, com os pais. Procurou a clínica-escola com a queixa de LER (Lesão

por Esforço Repetitivo) e estresse. Buscou a musicoterapia com intuito de ficar mais

tranqüila, relaxada, podendo assim, diminuir seus focos de tensão, melhorando e, na medida

do possível, curando o seu problema (LER e estresse). Ela esperava que a musicoterapia

pudesse lhe oferecer relaxamento, e o aprendizado de como fazê-lo nos momentos de conflito.

Os sintomas apresentados por Alda foram: tremor e dor nas mãos, insegurança,

nervosismo e um sentimento nostálgico e saudoso relacionado à infância. Ela não faz uso de
medicação, porém buscou tratamentos e atividades, como a natação, fisioterapia, homeopatia,

fitoterapia, psicoterapia (durante 7 meses). Estava sendo tratada por um ortopedista.

3.10.3 Breve Histórico – Anamnese

Alda relatou que a sua infância foi muito feliz, pois ia sempre passear com a família

para a praia, cinema, e muitos outros lugares. Após seus 10 anos de idade, ficou mais agitada

e nervosa. Ela acha que foi devido a uma possível repressão materna na menarca.

A passagem mais relevante de sua vida foi a sua mudança de cidade, quando tinha 15

anos, ocasionada pela transferência do emprego do pai, que era militar (da parte

administrativa). Ela sentiu-se revoltada e mudou-se contra a vontade. Seus pais, e seu irmão

ficaram muito satisfeitos com a mudança e devido a esse fator ela decidiu “sofrer sozinha”,

como relatado. Todo o restante da família, tios primos e avós residem na cidade de origem.

Foi relatado, durante as sessões que ela tinha um primeiro “paquerinha”, na cidade natal, e

quando se mudou, ele passou a namorar uma de suas amigas. Desde então ela perdeu o

contato com todos seus amigos da cidade de origem, e isso lhe causou, segundo ela, um

grande transtorno.

Alda disse que ainda não havia se recuperado do trauma, e quando começou a aceitar

este fato quando começou a trabalhar no departamento de administração de uma empresa.

Trabalhou durante mais ou menos 8 anos, depois foi demitida junto com outros colegas. Em

seguida, prestou um concurso público e, desde então, está empregada como técnica

administrativa, onde trabalha há 15 anos. Relatou que sua expectativa com relação ao seu

novo trabalho foi “fantasiosa”, e depois que começou a trabalhar, se decepcionou, sentindo-se

muito frustrada.
As recordações de músicas da infância relatadas na entrevista foram: “Se esta rua

fosse minha”, “Terezinha de Jesus”, “Procurando Tu” e a “9ª Sinfonia de Beethoven”.

3.10.4 Síntese das sessões

SESSÃO 1

Reflete sobre a sua infância, associa com a história de Beethoven, no qual diz que ele

sofria, era nostálgico e um gênio;

Durante uma improvisação musical na sessão, foi constatado que Alda repetia diversas

vezes o motivo musical da improvisação;

Figura 1. Repetições de Alda no piano.

Figura 2. Repetições de Alda no piano, com a posição correta dos dedos.

Ao final da sessão, Alda apresenta resistência para terminar, permanecendo no setting

e solicitando um relaxamento para a terapeuta. Pede que toque a 9ª Sinfonia de Beethoven

(Ode à alegria), e encerra a sessão.

SESSÃO 2
Nesta sessão, com o intuito de aplicar um teste projetivo sonoro-musical, foram

utilizadas seis músicas baseadas na entrevista inicial. Ao término de cada música, ela fez

algum comentário. Entre uma música e outra, foi perguntado se estava tudo bem.

1. Se esta rua fosse minha – Comentou “Linda!”.

2. Olê, Mulher Rendeira – Comentou “Gostei”.

3. Yesterday – Comentou “Fantástica, maravilhosa, inspiradora!”.

4. Preta (Beto Barbosa) – Comentou “Contagiante”.

5. Separação – ela se encolheu no colchonete – Comentou “Pagode é horrível!”.

6. Soneto de Separação – Comentou “Não gosto de Bossa!”.

Alda dançou em frente ao espelho, introspectiva, freneticamente, com o corpo rígido,

por três vezes a música “Dancing Days”. No final, com um sorriso nos lábios, disse que havia

descarregado, que estava relaxada e adorou a experiência. Comenta que antes saia bastante

para dançar, mas agora relata não se adequar aos padrões.

Relatou sobre a sua experiência com biodança, com a mãe, quando tinha quinze anos.

“A professora pediu que formasse uma roda e olhassem um para o outro, e que dissessem algo

do tipo Kana Kabana, aumentaram a intensidade da voz, e foi baixando gradativamente.

Quando todos pararam, continuei falando Kana Kabana forte, caminhando na direção de uma

mulher. Todos se espantaram, e a professora interviu, pedindo para parar, e me segurando

forte. Me senti muito constrangida e nunca mais fiz aula de dança, de nenhum tipo.”

SESSÃO 3

EAN início da sessão.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Improvisa repetidamente;
Diz gostar das notas fá e sol, mas não as toca na improvisação;

Sente dor na mão direita, mas toca durante 25 minutos no piano;

Achava que repetia as mesmas notas;

Figura 3. Repetições de Alda.

Figura 4. Repetições de Alda em altura diferente.

Relatou ter raiva da chefe, queria matá-la, mas como não podia, o faria com palavras;

Toca o tambor para representar a raiva, suavemente e diz: “Pensa, raciocina,

conscientiza”;

Foi questionado se o tambor perceberia a sua raiva, não mudou;

Foi utilizada música de relaxamento (Dream bird: sons da natureza) para relaxamento,

e Alda poderia pensar em um lugar bonito;

Chorou e pediu desculpas, tem um sentimento nostálgico pela avó, que fazia sentir-se

especial;

Foi solicitado que trouxesse fotos para a sessão posterior.

EAN fim da sessão.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
SESSÃO 4

Alda traz três álbuns de fotos (um antigo de família, um da formatura, um recente, de

viagens);

Nas fotos que tinham o pai, circulava e batia os dedos sobre a sua figura;

Foi solicitado que Alda escolhesse a foto que mais gosta e a que menos gosta;

A que mais gosta é a que está com o pai, no baile de formatura da oitava série,

dançando, com uma rosa na vermelha mão. Diz ser um momento alegre e feliz;

A que menos gosta é a foto que contém toda a família. Ela tem quatorze anos na foto,

está longe do pai;

Foi solicitado dedicar uma música para a foto que mais gosta e para a que menos

gosta;

A música escolhida para a foto que mais gosta é “Amanhã” do Guilherme Arantes;

A música escolhida para a foto que menos gosta é “Polícia” dos Titãs. Diz ser um caso

de polícia.

Foi solicitado que Alda cantasse o refrão;

Após cantar, diz que terminou a sessão muito cedo.

SESSÃO 5

EAN início da sessão.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Reclama de muita dor no polegar da mão direita;

Chegou reclamando de sua alergia aos ácaros do cinema. Foi sozinha;


Foi ouvida a música “Polícia”. Não parava de falar que eles estavam “cantando

revoltados”;

Não gosta do ritmo por ser muito rápido;

Toca lento no violão e canta junto com o cd (Polícia);

Terapeuta toca junto com Alda, mais forte, mas ela volta a tocar suave;

Foi ouvida a música “Amanhã”. Sorri, fica com “ar de apaixonada”;

Murmura a letra da música;

Diz que essa música só fala de coisas boas;

Quando acaba de ouvir a música diz: “O sol brilha todos os dias para nós”;

“Um lugar lindo, mas tem que viajar para isso”;

Toca o violão e não para de falar;

Diz ter adorado tocar o violão;

EAN fim da sessão.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

SESSÃO 6

Chega agitada, diz que estava a mil por hora;

Trás um cd, que em audição musical, foi ouvida “Essas mulheres” de Joana;

Canta “Digo que você me ama, quem sabe um dia acontece, viver sem amor ninguém

merece”;

Teve um amor aos 14 anos, inesquecível;

Teve um paquera aos 25 anos, amor de praia;

Acredita que o amor acontece por acaso, à primeira vista, é mágico;


Não quer um companheiro, quer um amor;

Acredita que se não houver educação em um amor entre um homem e uma mulher,

não dura;

Acredita que um amor de pai e mãe é infinito;

Foi solicitado que dedicasse uma música para o paquera, dedicou “Felicidade” do

Fabio Junior;

Canta: “Se o amor vem, não é por acaso”, “Sinto muito, mas assim é o amor”, “Se

acontece uma chance, você tem que pegar, não aparece duas vezes, dessa vez não dá”, “Se

existir até o fim, seu tempo acabou”, “Sinto muito, mas assim é o amor”.

SESSÃO 7

Chega querendo saber o que será feito na sessão;

Escolhe o xilofone para improvisar;

Na improvisação, diz gostar também do carrilhão;

Acha que o carrilhão seria bom para ouvir para dormir;

Foi gravado por cerca de cinco minutos a sua improvisação, após terapeuta e paciente

ouviram juntas;

Achou a gravação longa, teve a impressão de ter durado 20 minutos, achou o som

muito forte e irritante;

Gostou mais de tocar do que ouvir;

Houve uma reflexão de como nos expressamos e como somos ouvidos;

Percebe o horário de ir embora, pergunta se não haveria música para relaxar;

Terapeuta diz que não teria relaxamento nesta sessão;

Paciente vai embora.


SESSÃO 8

Deitada, ouve o cd “No Return” de Nando Araújo;

Na faixa um relata: “Não gostei, curta”, “sem saída”, “muito rápida”, nenhum

pensamento e nenhuma imagem”, “musicalmente pobre”;

Na faixa dois, resume a música em sentimentos: “misteriosa”, “enigmática”,

“floresta”, “verde”, “caminho”, “mar”, “bosque”, “sem fim”, “lost”, “começa fraca e vai

crescendo”, “gostar”, “maior”, “refletir”;

Sente-se nervosa;

Vai embora murmurando, solicitando mais músicas;

Diz que não quer que acabe o tratamento.

SESSÃO 9

EAN início da sessão.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Chega agitada e ansiosa;

Aflita por ter que voltar a trabalhar;

Senta no piano e diz que tocaria só com uma das mãos;

Ao tocar, diz que a mãe era pianista, que gostaria de tocar, mas não toca porque a sua

mãe toca no horário que ela poderia;

Diz que seu sonho é ser como a mãe;


Improvisa por durante 35 minutos com as duas mãos;

Permaneceu introspectiva;

Terapeuta altera o compasso de quaternário para ternário, no tambor, e Alda

acompanha a mudança no piano;

Na dinâmica forte/fraco, expressa bem, no piano;

No final, sorrindo diz que estava aliviada e relaxada;

Se olha no espelho, se arruma e sai do setting.

EAN fim da sessão.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

SESSÃO 10

EAN início da sessão.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Chega nervosa, pois teria que fazer outra cirurgia na mão, fala por durante 20 minutos;

Diz que a mão formiga, e isso a irrita;

Conta sobre os erros médicos;

No bumbo, começa a tocar;

Terapeuta acompanha marcando o pulso com acordes no piano (C, G, C, F, C);

Percebe que está sendo filmada, e se incomoda;

Toca compulsivamente, aumentando a intensidade, e no ápice da música, toca o

carrilhão;

Toca com uma das mãos, como marteladas;


Aos glissando do piano do terapeuta, Alda toca com mais força no bumbo;

Ao tocar uma melodia suave no piano, Alda marca o pulso;

Terapeuta para de tocar e Alda continua, com uma batida constante e expressão séria;

Aumenta a intensidade, toca o carrilhão e o bumbo com mais força, velocidade e

vigor;

Terapeuta chama a paciente pelo nome e ela se assusta;

Pergunta se estava a chamando por um tempo;

Relata que estava pensando em crianças doentes, no pai, amizade, sinceridade e saúde;

Fala tudo o que sentiu, e continua tocando o bumbo;

Relata: “Eu estou fazendo musicoterapia para desabafar um pouco”, “gostei de tocar

bumbo”, “minha mão doeu um pouco, por isso toquei com a outra”, “tenho vontade de socar

isso aqui”, “ele tem força, barulho ensurdecedor”, “eu adoro o dia das mães, eu não sou mãe,

mas é um dia maravilhoso”, “tudo é comércio”, “eu gosto do carnaval, do sábado de aleluia,

do dia das mães, do dia dos pais”;

Sai da sessão sem reclamar da dor.

EAN fim da sessão.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Nota: Alda precisou fazer uma cirurgia, e desde então não veio para o atendimento,

mas retornará no dia 07/06/2006 para uma devolutiva do semestre, e para o encaminhamento

do semestre que vem.

3.10.5 Aspectos relevantes observados nas sessões


Alda quando escuta música fica atenta, canta e dança. Gosta de ritmos fortes e

marcantes. Seu instrumento favorito é o piano.

Apresenta dificuldades em expressar suas emoções, principalmente sua raiva. Procura

ser racional ao lidar com seus problemas, porém seu discurso é incoerente, pois é emotiva ao

associar músicas com histórias pessoais, ligadas à infância, que aparece com maior ênfase na

sua fala.

Sua justificativa pela LER, foi uma predisposição genética, pois seu tio, e seu avô

também apresentavam essa dificuldade. Segundo ela, a LER teve início na sua infância.

Quando Alda iniciou seu segundo trabalho teve um problema nos dentes e precisou fazer uma

panorâmica (solicitada pelo seu dentista). Ela tentou fazer o exame no local que ela

trabalhava, mas a fila era grande. Então, resolveu fazer numa clínica particular e para isso

precisou faltar uma tarde do serviço. Então, apresentou um atestado ao seu chefe e ele lhe

disse que ela não precisaria ter pago pelo exame, e que o mesmo poderia ter sido feito lá.

Segundo ela, ele riu da cara dela e fez com que ela sentisse uma grande “agressão verbal”. E,

de acordo com seu relato, foi assim que seu “problema” começou, disse também que a partir

daí todos começaram a tirar sarro e implicar com ela (desde então, todas as pessoas que

trabalham com ela a perseguem e a agridem verbalmente).

Uma outra passagem conflituosa da sua vida foi a perda de sua avó paterna, que

segundo ela, havia “desencarnado”, há 4 anos atrás. Alda sentiu uma profunda nostalgia.

Ela é muito insegura, se sente sozinha, segundo ela, “psicossomatiza tudo nas mãos”.

Seu stress tem origem psicológica, gerando total sensibilidade nas mãos, pois as mãos

tremem, ela perde o controle, e dói.

Na entrevista se recusou a fazer terapia em grupo, disse que não estava preparada.

Gosta de dançar (sozinha), enfrente ao espelho, não sabe dançar em par, e recusa-se a

aprender. Acha lindo um homem dançar sozinho.


É muito apegada ao pai, falava dele com sorriso nos lábios e brilho no olhar, utiliza

muitos adjetivos positivos para descrevê-lo, e vive em desavença com a mãe se dirigindo a ela

com desprezo.

Pensa que o pai é acomodado, principalmente referindo-se ao relacionamento dela

com a mãe, pois elas nunca conversam, e as atitudes do pai, eram de indiferença. A mãe é

muito ciumenta, e ela relata episódios que quando conversa com o pai, a mãe o chama para

fazer outra coisa, e Alda acha que isto não tem a mesma importância do assunto que ela

deseja falar com o pai.

Sua mãe é pianista. Alda sempre quis aprender a tocar piano, fez duas aulas e parou

porque sua mãe não podia pagar, e também porque elas não se dão muito bem. Na sessão 9

ela relata que sonha em aprender a tocar piano, mas que não pode porque sua mãe toca todos

os dias no único horário em que ela poderia estudar. Na sessão 10, foi possível analisar

melhor essa dinâmica.

Ela relata que sua mãe tem ciúme do relacionamento dela com o pai, desde a sua

infância. Quanto à possibilidade de morar sozinha, ela diz que já pensou nisso, mas não tem

condições de ter independência financeira.

Alda acredita que o amor acontece por acaso, e que ele é mágico. Quer um amor, ele

não esta nem perto e nem longe, mas ela ainda não o conhece. Ou é alguém que ela não

conhece, ou é alguém da sua adolescência.

Na tentativa de aliviar o seu problema físico (LER), o médico indicou natação. Fez por

algum tempo e desistiu porque lhe falta tempo (trabalha de segunda a sexta das 08h às 17h, e

não realiza nenhuma outra atividade).

Ela apresenta dificuldades em encerrar a sessão sem que eu dedique de alguma forma

alguma música a ela, e apresenta dificuldades em encontrar um fim para sua produção

musical.
3.10.6 Conclusão das Sessões

A Dor que ela sente nas mãos têm uma causa fisiológica, mas me parece ser de origem

psicossomáticas; de conteúdos não resolvidos por Alda que hoje aparecem claramente nas

relações interpessoais, no trabalho, na família.

Existiu a possibilidade de Alda apresentar um Complexo de Edípico, no início, devido

o triângulo da relação filha- pai- mãe, pois expressou resistência ao expressar seus

sentimentos pela mãe ou pela sua chefe de trabalho (figura feminina), que podem ser

comparadas às suas fantasias edípicas.

Seus sentimentos são incongruentes com as suas atitudes. Ao projetar a sua raiva na

chefe, ela utiliza as palavras “pensa, raciocina, conscientiza”. Mesmo estando com muita

raiva, ela nomeia estas três palavras para representar a sua raiva na chefe.

Alda apresentou perseguições em diversas situações da sua rotina diária, de convívio

interpessoal. Na relação do trabalho, ela acredita que todos a caçoam, a perseguem, pelo fato

de ela ser muito competente. Todos a julgam e a olham com muita inveja e isto a incomoda.

Isso foi trabalhado na sessão 7, e parece ter sido melhorado.

Em casa, ela não consegue conversar com o pai, porque a mãe sempre “corta” o seu

assunto, com um “assunto nada a ver”. Ou elas disputam o “poder” (com o pai, o piano, etc.)?

Analisando os relatos de Alda, e as dinâmicas musicais durante todo o processo,

parece que ela encontra resistência em finalizar as coisas, e expressar sua raiva nas mais

diversas situações da vida. Apresentou muita rigidez, rotina, repetição nas primeiras sessões,

mas nas últimas se mostrou mais flexível. Sugiro que, no próximo semestre, esses dados

sejam observados e trabalhados.


DISCUSSÃO

O passado dentro do presente


Na ocorrência de um evento que traga para a mente emocional, por um mínimo detalhe, fortes sensações do
passado, a reação que se desencadeia é idêntica àquela vivida originalmente. A mente emocional reage ao
presente como reagiu no passado. Isto é problemático, especialmente quando essa avaliação é rápida e
automática, porque às vezes não percebemos que o que valeu antes agora não vale mais. Uma pessoa adulta que,
durante a infância, sofreu castigos dolorosos e por isso aprendeu a sentir muito medo e antipatia diante de uma
cara raivosa, terá sensações similares ao ver uma cara raivosa que, efetivamente não constitua ameaça.
Se as sensações são fortes, então a reação que desencadeiam são óbvias, mas se vagas ou sutis, é possível que
não percebamos exatamente que emoção estamos tendo, ainda que ela esteja exercendo uma influência na forma
como reagimos ao momento. Os pensamentos e as reações nesse instante estarão sendo influenciados por
sensações do passado, mesmo que possa parecer que a nossa reação é devida unicamente ao momento presente.
Nossa mente emocional aparelhará a mente racional para seus fins, e então justificaremos nossos sentimentos e
reações diante do que está acontecendo, sem que nos demos conta das influências da memória emocional
(GOLEMAN, 1995, p.309).

De acordo com Agein apud Barcellos (1999), a resistência é uma relutância do cliente

em aceitar: o material inconsciente, as interpretações do terapeuta, o experimentar ou

expressar seus próprios sentimentos, um total envolvimento no processo terapêutico e o

processo de crescimento.

O trabalho é realizado utilizando música e palavras alternados ou simultaneamente. A

música é utilizada por vantagens não-verbais específicas e as palavras para enfatizar o insight.

De acordo com Bruscia (2000), na Música Psicoterapêutica, a pessoa utiliza a música

para manter sua saúde psicológica, ou para intensificar o crescimento e a realização pessoal.

Na Músico-psicoterapia de Apoio, o terapeuta utiliza experiências musicais para estimular ou

apoiar a adaptação ou crescimento emocional, baseando-se nos recursos existentes do próprio

cliente. Na Músico-psicoterapia de Insights, o terapeuta utiliza as experiências musicais e as

relações que se desenvolvem, promovendo um maior nível de insights do0 cliente e de sua

vida emocional, induzindo mudanças psicológicas.


Segundo Leão e Silva (2004), noventa mulheres com diagnósticos de fibromialgia,

lesão por esforços repetitivos/doenças osteoarticulares, relacionadas ao trabalho

(LER/DORT), e afecções relacionadas à coluna vertebral foram submetidas à audição

individual de três peças musicais. Os dados foram obtidos por meio de entrevista e a

intensidade da dor foi avaliada pela escala numérica verbal (0-10) antes e ao término da

audição musical. As imagens mentais foram quantificadas mediante a análise de desenhos

realizados durante cada audição. Os três grupos apresentaram redução estatisticamente

significativa da intensidade da dor ao final da audição musical (p<0,001). As imagens mentais

não diferiram quantitativamente, entre Ravel e Wagner. O Mix apresentou resultados

quantitativamente inferiores. As estruturas musicais se relacionaram à produção de imagens e

o efeito terapêutico observado, sugerindo que análises nesse sentido podem contribuir para a

utilização da música pela Enfermagem.

Unir cada capítulo, subcapítulo na discussão, relacionando o objetivo do estudo.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa busca elucidar que as pessoas respondem de formas diferentes aos

tratamentos, por isso eles são diferentes. Portanto esse tratamento não serve para todas as

pessoas que sofrem de dor, pois a resposta é subjetiva.

A investigação do estudo deve ser aprofundada, principalmente no que se refere

A audição musical proporcionou experiência rica

Observamos também,

Infelizmente, por questões metodológicas, não podemos estabelecer o quanto de efeito

e a subjetividade pode ter se detido mais num aspecto ou outro da experiência. Não podemos

afirmar, até mesmo, o quanto isso interferiu na.

Embora conscientes das limitações do nosso estudo, os resultados obtidos permitem-

nos inferir... levando-nos a maior aproximação das formas de atuação da música sobre o ser

humano.

Davidoff (2001), afirma que:

As emoções são feitas de componentes subjetivos, comportamentais e psicológicos.


Durante as respostas emocionais, o comportamento inclui expressões faciais, gestos
e ações. (...) Os componentes subjetivos, comportamentais e fisiológicos de nossas
emoções estão entrelaçados e são interativos. Pensamentos, sentimentos, expressões
faciais, atos e fisiologia estão continuamente exercendo influências entre si.

Descrição dos Métodos de Musicoterapia:

Musicoterapia Analítica
A musicoterapia analítica foi desenvolvida por Mary Priestley, Peter Wright e Marjorie
Wardle, no início da década de 70. Com base psicodinâmica e ênfase na teoria de Freud e
Klein, o método é geralmente utilizado com adultos. O processo terapêutico envolve a
revelação de material subconsciente e consciente, que é trabalhado tanto através da
improvisação musical como do processo verbal. Segundo Priestley, o terapeuta precisa achar
a música nas palavras e as palavras na música e procurar sempre pelo sentido em ambas; de
acordo com Priestley, a música e as palavras acrescentamse mutuamente.

Método Nordoff-Robbins - Musicoterapia Criativa


Este método foi desenvolvido por Paul Nordoff e Clive Robbins, na década de 60. A
musicoterapia criativa é geralmente utilizada com crianças com os mais variados
diagnósticos. A intervenção verbal utilizada é mínima, sendo o fazer musical o cerne do
processo terapêutico. A improvisação musical é fundamental neste método, que enfatiza a
utilização de diferentes idiomas musicais, como também a utilização de repertório pré-
composto. A fundamentação teórica é baseada nas idéias de Rudolf Steiner, fundador da
Antroposofia, e de Abraham Maslow, fundador da psicologia humanista.

Método Bonny de Imagens Guiadas - Aplicação para grupos


O método Bonny de imagens Guiadas é uma terapia centrada na
música, que utiliza programas prédesenhados de música erudita. Estes
programas estimulam e sustentam o desdobrar de experiências
internas, visando o desenvolvimento da completitude psicológica e
espiritual do cliente. O método Bonny foi desenvolvido por Helen
Bonny e é utilizado em sessões individuais. Professores da Bonny
Foundation desenvolveram uma abordagem para grupos que será
trabalhada no curso. A base teórica é influenciada, entre outras, pela
psicologia analítica, transpessoal e humanista.

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