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A Fisioterapia no Alívio da Dor:

Uma Visão Reabilitadora em


Cuidados Paliativos
Danielle de M. Florentino
Flavia R. A. de Sousa
Adalgisa Ieda Maiworn
Ana Carolina de Azevedo Carvalho
Kenia Maynard Silva

Resumo Introdução
As estratégias não farmacológicas no alívio A Fisioterapia em Cuidados Paliativos visa
da dor em Cuidados Paliativos buscam melhor a qualidade de vida em pacientes com doença
qualidade de vida para os pacientes com câncer avançada ou em progressão desta, por meio
ou outras doenças avançadas, auxiliando-os de condutas que reabilitem funcionalmente o
na reabilitação e na lida com os sintomas. A paciente, bem como auxilia o cuidador a lidar
fisioterapia também atua na prevenção de com- com o avanço rápido da enfermidade.1
plicações: sejam da esfera osteomioarticular, A dor no câncer constitui uma preocupa-
respiratória e por desuso, que causem danos ção e torna-se um problema em saúde pública,
físicos e funcionais ao indivíduo. Orientações uma vez que o gerenciamento destes sintomas e
domiciliares, diagnóstico e intervenção precoce custos traz desgastes desde a esfera física à finan-
são condutas adotadas na prática clínica além de ceira. Desta forma, medidas terapêuticas menos
favorecer o alívio da dor e reduzir tanto os custos agressivas e invasivas devem ser consideradas.2
pessoais quanto hospitalares. A termoterapia, A abordagem medicamentosa é a forma
eletroterapia, cinesioterapia, massagem e o uso mais utilizada para o controle da dor. Entretanto,
de órteses são procedimentos cuja utilização tem a utilização de recursos fisioterapêuticos como
se mostrado benéfica ao paciente com câncer a cinesioterapia, a eletroterapia, a massagem,
oferecem meios para a melhora da dor, uma
avançado.
vez que a fisioterapia busca a reabilitação plena
PALAVRAS-CHAVE: Cuidados paliativos; do indivíduo a partir da minimização de seus
Fisioterapia; Dor. sintomas.2,3

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A dor contribui para um estado de incapa- artrites, síndrome dolorosa do tromboembo-


cidade no paciente que independe da doença lismo por hipercoagulabilidade, imobilismo e
de base, bem como pode gerar adaptações de distrofia simpático-reflexa.4,5
autocontrole, minimização de sintomas ou sim- Faz-se necessária uma minuciosa avaliação
plesmente um estado de prostração, quietude, da dor para que haja um tratamento adequado.
esgotamento físico e mental. O sintoma da dor Pode-se recorrer ao uso de instrumentos de
conduz o sujeito a um estado de finitude de avaliação (escalas de avaliação da dor) e seus
sofrimento.4 domínios como forma de mensuração, e com-
A dor nestes pacientes pode relacionar-se plementarmente as escalas de funcionalidade.3
direta ou indiretamente ao tumor primário bem
como a suas metástases, a intervenções terapêu- Cuidados paliativos e a
ticas e/ou procedimentos de investigação. De- fisioterapia
vemos levar em consideração que fatores como
A fisioterapia atua na prevenção de compli-
postura, inatividade física, estado emocional,
cações, sejam estas da esfera osteomioarticular,
e até temperatura podem trazer influências.3-5
respiratória, e por desuso, que causem danos
físicos e funcionais ao individuo através orien-
A dor no câncer tações domiciliares, diagnóstico e intervenção
A dor no câncer pode decorrer desde a precoce, por meio de condutas que favorecem
infiltração (invasão) neoplásica dos tecidos, a melhoria da qualidade de vida e a redução
de procedimentos terapêuticos, bem como de tanto dos custos pessoais quanto hospitalares. A
síndromes paraneoplásicas. O câncer pode gerar atuação deve ser realizada em todas as etapas da
lesões dos receptores de dor denominados no- neoplasia: pré-tratamento, durante o tratamen-
ciceptores. Os nociceptores podem ser ativados to, após o tratamento, na recidiva da doença e
por diversos estímulos (mecânicos, térmicos nos cuidados paliativos.6
ou químicos) e sensibilizados por estímulos Os profissionais da fisioterapia dispõem
químicos endógenos (serotonina, substância P, de recursos que podem intervir no tratamento
bradicinina, prostaglandinas e histamina) após paliativo de pacientes com câncer. Estes cui-
uma lesão tecidual.2-5 dados são responsáveis por desenvolver um
A dor relacionada à infiltração tecidual tratamento para doentes sem possibilidades de
pode ocorrer através do osso, compressão de cura, monitorando e diminuindo os sinais e sin-
troncos nervosos periféricos, no neuro-eixo, vís- tomas físicos, psicológicos e espirituais.7 Desta
ceras ocas, vísceras parenquimatosas, invasão e forma, visam, sempre que possível, à construção
oclusão de vasos sanguíneos, infiltração de mu- e manutenção da independência funcional do
cosas, tegumento e estruturas de sustentação.4,5 paciente através da preservação da vida e alívio
Ao falarmos de procedimentos terapêuticos dos sintomas por recursos fisioterapêuticos
citamos a dor incisional e cicatricial, pós-am- como: terapia para dor, alívio dos sintomas
putação, pós-quimioterapia, pós-radioterapia, psicofísicos, atuação nas complicações osteo-
supressão de corticosteroides, mucosite, neu- mioarticulares, reabilitação das complicações
ropatia pelo vírus herpes zoster, neuropatia linfáticas, cardiopulmonar, atuação na fadiga,
actínica, uso de morfina e epigastralgia por alterações neurofuncionais, úlceras de pressão.3,7
doença péptica.4,5 Mediante a fase da enfermidade, a reabi-
Entretanto, as síndromes paraneoplásicas litação paliativa tenta amenizar o impacto do
poderão ser ocasionadas por agentes liberados avanço da patologia, minimizando seus sinto-
na circulação por células neoplásicas como mas e incentivando o paciente a realizar ativi-
também por mecanismos reacionais; dentre dades funcionais e até mesmo participar de seu
eles incluem–se a dermatomiosite, miopatias, tratamento, respeitando seu limite funcional.1

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A evolução da doença causa sofrimento ao Os sintomas apresentados em pacientes


paciente e à família, e reconhecer a fase em que com neoplasia avançada podem ser múltiplos,
o paciente se encontra é importante, uma vez intensos e multifatoriais. Fatores como dor e
que permite uma adequação ao tratamento e a perda da independência são complicações
entender que a terminalidade não se restringe temidas pelos pacientes. A diversidade deles
apenas aos últimos dias de vida.8 faz com que se tenha uma preocupação na
Um fator importante nestes pacientes é a monitorização de evolução, intensidade, causa,
questão da morte. Saber lidar com esta situa- impacto sobre as AVD`s, estado emocional e
ção é um dos fatores mais angustiantes para os probabilidade de controle.1,7,10
profissionais e exige extrema delicadeza, pois A utilização de recursos manuais, meios
muitos encaram esta dificuldade experimen- físicos e ortóticos minimizam a percepção
tando um desconforto com a situação, seguido sintomática da dor. Dentre as modalidades
de inevitáveis frustrações profissionais. Além terapêuticas podemos citar a cinesioterapia,
disso, a relação da morte e do morrer e seus eletrotermoterapia e órteses (muletas, andado-
cuidados são ainda desconhecidos até mesmo res, cadeiras adaptadas e coletes). Os agentes
no ambiente acadêmico, e perpetuam-se durante físicos mais utilizados são o calor, o frio e as
a vida profissional.9 correntes elétricas. Tais recursos podem ser
De acordo com o CREFITO e a resolução utilizados em associação, incluindo a massagem,
do COFFITO nº10 de 03/07/78, que aprova o acupuntura, técnicas de relaxamento, distração
Código de Ética Profissional de Fisioterapia e e respiração.1,3,5,7,10
Terapia Ocupacional, no capítulo II art.7º está Os métodos de terapia manual podem ser
explícito como dever do fisioterapeuta no exercí- utilizados para complementar o alívio da dor,
cio profissional: o zelo, o respeito à vida humana diminuindo a tensão muscular, melhorando a
desde a concepção até a morte, a prestação de circulação tecidual e diminuindo a ansiedade
assistência, respeitando a dignidade e os direi-
do paciente.7
tos da pessoa humana, a utilização de todos os
Com o alívio da dor em Cuidados Paliativos
conhecimentos técnicos e científicos, respeito
busca-se, acima de tudo, o bem estar e conforto
ao natural pudor e intimidade, bem como o
do paciente. Mas é importante frisar que a dor
respeito do direito de decisão da pessoa de seu
não afeta apenas quem a sente, mas também
bem-estar e a informação sobre seu diagnóstico
exerce um impacto significativo nos cuidadores,
e prognóstico fisioterapêutico.7
que muitas vezes se sentem incapazes de aliviar
A fisioterapia não busca apenas a funciona-
tal sintoma.1,7,10
lidade do paciente, mas a manutenção de uma
comunicação, objetivando estreitar a relação Termoterapia
profissional-paciente, gerando mais confiança
A termoterapia é uma modalidade que pos-
do doente em relação ao terapeuta e conforto.
sibilita a vasodilatação, o relaxamento muscular,
Tais condutas diminuem a sensação de abando-
a melhora do metabolismo e circulação local, a
no que aflige muitos pacientes em fase avançada
extensibilidade dos tecidos moles, a alteração
e seus familiares.1
de propriedades viscoelásticas teciduais e a re-
A fisioterapia no alívio da dução da inflamação. A termoterapia por calor
superficial pode ser realizada através do uso de
dor bolsas térmicas, banhos de contraste, banhos de
A dor no câncer é talvez o sintoma mais parafina, infravermelho, forno de Bier, hidrote-
angustiante que apresenta um paciente com rapia de turbilhão e por calor profundo, os mais
neoplasia, devido à deteriorização de sua qua- utilizados são o ultrassom, ondas curtas, laser e
lidade de vida. microondas.3,7,11

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A termoterapia superficial pode ser utiliza- Eletroterapia


da para aliviar a dor de pacientes em tratamento
A eletroterapia consiste na utilização de
paliativo. O objetivo é o de promover o alívio
corrente elétrica com finalidades terapêuticas
do espasmo muscular, interferindo no ciclo
promovendo analgesia pelo efeito contrairritati-
dor-espasmo-dor, aumento da extensibilidade
vo, resultando na ativação do sistema supressor
tecidual e relaxamento muscular em indivíduos
da dor e produzindo uma sensação que interfira
portadores de tumores, os quais podem estar
na sua percepção. Esse efeito pode persistir por
comprimindo estruturas neuromusculares e,
períodos longos, determinando o desapareci-
dessa forma, causando dor.3,7,11
mento da dor. As correntes elétricas com fins
A utilização do frio (crioterapia) pode ser
analgésicos mais utilizadas são as TENS.12
utilizada em disfunções musculoesqueléticas,
A Eletroestimulação Nervosa Transcutânea
traumáticas, inflamatórias incluindo processos
(TENS) é bastante utilizada na fisioterapia para
agudos.
fins clínicos, por ser uma técnica analgésica
No entanto, não há estudos conclusivos
simples e não invasiva que pode ser aplicada
sobre a diminuição de dor oncológica através
na clínica por profissionais de saúde ou em
de crioterapia, porém sua aplicação pode ser útil
casa pelos próprios pacientes. A TENS é usada
para dores músculo-esquelética.3,7,11
principalmente para o manejo sintomático
Vale ressaltar que a termoterapia super-
da dor aguda e dor crônica.2,3,13 Atua sobre as
ficial com calor está contraindicada, quando
aplicada diretamente sobre áreas tumorais. A fibras nervosas aferentes como um estímulo
vasodilatação provocada pelo calor superficial diferencial que “concorre” com a transmissão
pode oferecer riscos na disseminação de célu- do impulso doloroso. Ativa as células da subs-
las tumorais por via linfática e hematogênica. tância gelatinosa, promovendo uma modulação
Desta forma, aplicam-se ao calor profundo inibitória segmentar, e ao nível do SNC (sistema
as mesmas restrições sob todas as formas de nervoso central), estimula a liberação de endor-
apresentação (ondas curtas, ultrassom e laser), finas, endomorfinas e encefalinas.11,2,3,14,15
cujo aumento do metabólico local gerado pelo O efeito analgésico, neste caso, ocorre pelos
calor pode disseminar as células tumorais. Tais opioides endógenos (as endorfinas) que são libe-
cautelas também deverão ser tomadas em áre- rados no corpo para que se liguem a receptores
as desprovidas de sensação térmica e sobre as específicos no sistema nervoso central e periféri-
áreas de insuficiência venosa, tecidos lesados ou co, diminuindo a percepção da dor e as respostas
infectados, bem como irradiados (Tabela 1).3,7,11 nociceptivas; portanto, a eletroestimulação
Tabela 1: Tabela de contraindicações em Eletrotermoterapia.

Contraindicações

Aplicação direta sobre áreas tumorais. O calor provoca uma


Calor Superficial vasodilatação que pode oferecer riscos na disseminação de células
tumorais por via linfática e hematogênica.

Calor Profundo Aplica-se a mesma restrição do calor superficial.

Sobre área tumoral, portadores de marca-passo, tecido


TENS
recentemente irradiado.

Locais que receberam radioterapia recente apresentam alterações


Radioterapia
dérmicas o que contraindica o uso de eletrotermoterapia.

Fonte: Sampaio, Moura e Resende, 2005; Marcucci, 2005; Robertson, 2006.

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alivia a dor devido à liberação de endorfinas, Cinesioterapia


aumentando os números de opioides endógenos
circulantes no liquido cerebroespinhal.12 (Tabela Na presença de dor oncológica é comum os
2). As principais modalidades terapêuticas do pacientes reduzirem a movimentação e a ativi-
Tens está ilustrada na tabela 3. dade física. Este padrão comportamental gera o

Tabela 2: Mecanismos de Alivio da Dor.

Mecanismos de Alívio da Dor

Segmentar Periférico Extra Segmentar

A atividade induzida pela TENS A emissão de correntes elétricas A atividade induzida pela TENS
c o n ve n c i o n a l p r o d u z a n a l g e s i a sobre uma fibra nervosa provocará nos aferentes de pequeno diâmetro
predominantemente através de um impulsos nervosos correndo nos dois produz analgesia extra-segmentar
mecanismo segmentar por meio do sentidos ao longo do axônio nervoso através da ativação de estruturas
qual a atividade gerada nas fibras Aβ (ativação antidrômica). Os impulsos que formam as vias descendentes
inibe a atividade em curso os neurônios nervosos induzidos pela TENS que de inibição da dor, como a
nociceptivos de segunda ordem se distanciam do SNC colidirão com substância cinzenta periaquedutal,
(relacionados com a dor). os impulsos aferentes que vêm do núcleo magno da rafe e núcleo
tecido lesado, causando sua extinção. gigantocelular da rafe.
O TENS convencional pode mediar
sua analgesia através do bloqueio
periférico das fibras de diâmetro.

Fonte: Johnson,2003

Tabela 3: Tipos de TENS.

Tipo de TENS Tempo de Aplicação Efeito Indicação

TENS Convencional 20 a 60 minutos, com Estimulação seletiva de fibra Dor aguda (superficial) ou
(Teoria das Comportas) intervalos de 30 min. (A beta), gerando confortável crônica.
parestesia (efeito curto)
ou pontadas, sem dor ou
contração muscular.

TENS Acupuntura 20 a 30 minutos, preconizada Estimulação das fibras Dor Crônica.


(Teoria Farmacológica) 1 vez ao dia. nociceptivas (A delta e C)
e pequenas fibras motoras,
gerando parestesia e
contração visível (efeito
longo), levando também
à liberação de opiáceos
endógenos
TENS breve intenso ± 15 minutos. Ativação de fibra (A delta e Dor Aguda
(Teoria Farmacológica) C), levando à diminuição dos
espasmos contraturas (efeito
temporário)
TENS Burst Mínimo de 30 min. Junta efeitos do TENS Mobilização articular,
(Teoria Farmacológica e das convencional e acupuntura, estiramento mantido ou
Comportas) levando ao efeito analgésico massagem transversa
longo (beta endorfinas +_ (condições dolorosas locais)
inibição pré-sináptica)

Fonte:Pena; Barbosa, Ishikawa, 2008

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comprometimento gradual do condicionamento Massagem


físico e da força muscular, bem como da flexi-
A massagem é uma técnica utilizada como
bilidade e da capacidade aeróbica, predispondo
terapia complementar nos pacientes com câncer,
o paciente ao desenvolvimento da síndrome de
com o objetivo de proporcionar o alívio da dor.
imobilização. Nos estágios mais avançados, o
Define-se como a manipulação dos tecidos
desuso e estado de caquexia favorecem a atrofia
moles do corpo, executada com as mãos, com
muscular.1,3,7
o objetivo de produzir efeitos sobre os sistemas
A cinesioterapia é uma terapia que se utiliza
vascular, muscular e nervoso, produzindo a es-
de movimentos como forma de tratamento, a
timulação mecânica dos tecidos através da apli-
partir de movimentos voluntários que propor-
cação rítmica de pressão e estiramento. Quando
cionam a mobilidade, a flexibilidade, a coorde-
exercida nos tecidos, estimula os receptores
nação muscular, o aumento da força muscular
sensoriais, produzindo sensação de prazer ou
e a resistência à fadiga.
bem estar; por outro lado, o estiramento reduz a
Na orientação dos doentes com dor on-
tensão sobre os músculos e produz relaxamento
cólogica deve-se dar atenção à nocividade da
muscular. Desta forma a massagem induz o
inatividade, realizando esclarecimentos em
relaxamento muscular e o alívio da dor.3,7
virtude de seus efeitos deletérios a médio e curto
prazo. É necessária a compreensão sobre os Órtese
benefícios dos exercícios para a manutenção da As órteses são dispositivos que podem
flexibilidade e da força muscular, bem como da ser de uso definitivo ou não, com o objetivo
importância da função do aparelho locomotor, principal de alinhar, prevenir e/ou corrigir de-
da manutenção do condicionamento cardiovas- formidades, além de contribuir na minimização
cular e respiratório.7 de quadros álgicos. (Tabela 4)16
Os programas de atividade física têm como Atualmente, também pode ser designada
objetivo desenvolver a força e o trofismo mus- como tecnologia assistida cujo conhecimento
cular, o senso de propriocepção do movimento, deve ter característica interdisciplinar com
resgatando a amplitude do movimento articular métodos e estratégias que objetivam a promoção
e prevenindo a imobilidade no leito, mas devem de funcionalidade, relacionada à atividade e
levar em consideração o estado funcional do participação de pessoas com alguma deficiência,
paciente. Um bom norteador são as escalas de incapacidade ou mobilidade reduzida; visa à
funcionalidade (ECOG e Karnofsky) utilizadas autonomia, independência, qualidade de vida
em cuidado paliativo.7 e inclusão social desses indivíduos.17

Tabela 4: Tipo de órtese.

Tipo Indicação

Propiciar um posicionamento, impedir um movimento indesejado,


Estabilização
bem como estabilizar uma lesão articular e/ou musculoesquelética.

Permitir um movimento com certo grau de limitação, mas que


Funcional e/ou Dinâmicas
possibilita a reaquisição de um movimento pré-determinado.

Corretora Viabilizar a correção de deformidades.

Protetora Proteção de um segmento afetado.

Fonte: Seymour, 2002.

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A dor é um sintoma frequente associado à Agradecimentos


metástase óssea, cujo sítio pode ser por invasão
À Equipe de Cuidados Paliativos do HUPE,
tumoral direta ou por outras vias. De acordo
aos Pacientes e a todos os envolvidos direta e
com sua localização representa um sinal de
indiretamente na construção deste trabalho.
envolvimento ósseo, bem como de uma futura
fratura patológica.
Referências
O uso profilático de uma órtese propicia a
estabilização de uma lesão dolorosa e auxilia na 1. Astudillo W, Mendinueta C. La Rehabilitación y
Los Cuidados Paliativos. Revista Rehabilitación
prevenção de fraturas, evitando uma experiên- Geriátrica, 2006. Acesso em 1 de abril de 2012.
cia álgica maior, além da restrição e perda da Disponível em http://paliativossinfronteras.
com/upload/publica/Cuidados%20
mobilidade voluntária. A sua utilização ou de paliativos%20y%20rehabilitacion_1.pdf
veículos auxiliares para marcha permitem ao
2. Pena R, Barbosa LA, Ishikawa NM. Estimulação
paciente uma maior funcionalidade do membro Transcutânea do Nervo (TENS) na Dor
e a preservação de sua mobilidade e autonomia. Oncológica - Uma Revisão de Literatura. Revista
Brasileira de Cancerologia 2008;54(2):193-9.
Nos casos de lesões ósseas em nível da coluna
vertebral, as órteses podem proporcionar o úni- 3. Sampaio LR, Moura CV, Resende MA. Recursos
fisioterapêuticos no controle da dor oncológica:
co meio de proteção do canal vertebral. O tipo revisão da literatura. Revista Brasileira de
da órtese dependerá do quadro de instabilidade Cancerologia 2005; 51(4): 339-346.
e os movimentos que necessitam de proteção e 4. Simões ASL. A dor irruptiva na doença
estabilização.16,18 oncológica avançada. Rev Dor. São Paulo, 2011
abr-jun;12(2):166

5. Teixeira MJ. Síndromes Dolorosas. Rev Med.


Considerações Finais 1997;76(1): 21-6.

Para o alívio da dor por meios não farmaco- 6. Bergmann A, et al. Fisioterapia em Mastologia
Oncológica: Rotinas do Hospital do Câncer III/
lógicos é preciso que a equipe multidisciplinar INCA. Revista Brasileira de Cancerologia. 2006;
tenha um olhar atento quanto às ações pessoais 52(1): 97-109.
e de recursos utilizados. Os eventos relacionados 7. Marcucci FCI. O papel da fisioterapia nos
à dor transcendem o físico: eles transitam do cuidados paliativos a pacientes com câncer.
Revista Brasileira de Cancerologia. 2005; 51(1):
espiritual ao emocional. Desta forma, saberes 67-77.
múltiplos devem ser somados. Procedimentos
8. Rosario MAB, Fraile AA. Fundamentos y
de meios físicos, eletrotérmicos e ortóticos pela objetivos de los cuidados paliativos. Aten
fisioterapia mostram-se benéficos ao paciente, Primaria. 2002;29(1):50-2..
além de métodos de distração e relaxamento. 9. Schramm FR. Morte e Finitude em Nossa
Entretanto, deve-se ter cautela para que não haja Sociedade: Implicações no Ensino de Cuidados
Paliativos. Revista Brasileira de Cancerologia.
uso em excesso e/ou inadequado de recursos, e 2002; 48(1): 17-20.
sim o que se faz pertinente frente às necessida-
10. Acevedo RC, Molina DP. Determinación de
des do paciente. A principal meta é a qualidade Necessidades de Intervención Kinésica en la
de vida e a minimização dos sintomas; neste Atención Domiciliaria de la Unidad del Dolor
y Cuidados Paliativos del Instituto Nacional del
caso, especialmente da dor. Ainda não há um Cáncer. Universidad de Chile; 2004. Acesso em
consenso sobre quais são os melhores recursos 1 de abril de 2012. Disponível em: http://www.
sld.cu/galerias/pdf/sítios/rehabilitacion/castillo.
que se aplicam no alívio da dor em cuidados
pdf
paliativos. A pesquisa e a construção diária na
11. Robertson V, et al. Eletroterapia Explicada:
atenção a estes pacientes servem de norteadores, Princípios e Prática. São Paulo: Editora Elsevier;
bem como a escuta de quem é cuidado. 2006. p.149-187; 309-348.

56 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


A Fisioterapia no Alívio da Dor: Uma Visão Reabilitadora em Cuidados Paliativos

12. Castro C. Mecanismos neurofisiológicos da dor.


Diabete Méd. 1998;24:7.
Abstract
13. Guimarães BTL, Capistrano KO. Aplicação da The non-pharmacological strategies for
TENS na clínica fonoaudiológica. Diabetic Med. pain relief in Palliative Care look for better
2005;10-11.
quality of life for patients with advanced cancer
14. Johnson M. Estimulação elétrica nervosa or other diseases, helping them in rehabilitation
transcutânea (TENS). In Kitchen S. Eletroterapia
Prática Baseada em Evidência. 11a edição. São and dealing with the symptoms. Physiotherapy
Paulo: editora Manole; 2003; cap.17; p.259-286. also acts in the prevention of complications:
15. Mackler LS, Robinson AJ. Eletrofisiologia musculoskeletal, respiratory and disuse proble-
clínica – Eletroterapia e teste eletrofisiológico. ms that causes physical and functional damage
2a edição; Porto Alegre: Artmed; 2002; cap.2;
to the individual. Home care orientations, early
p.7.
diagnosis and intervention are approaches
16. Seymour R. Prosthetics and Orthotics: Lower
limb and Spinal. USA: Lippincott Williams & adopted in clinical practice besides promoting
Wilkins, 2002.p. 337-427. pain relief, it reduces both personal and hos-
17. Bersch R. Introdução à Tecnologia Assistida. pital costs. The thermotherapy, electrotherapy,
Centro Especializado em Desenvolvimento exercise, massage and the use of orthoses are
Infantil. Porto Alegre; 2008. p.1-19.
procedures that have proven beneficial to pa-
18. Lynn G, et al. Rehabilitation in the cancer tients with advanced cancer.
patient. Cancer Supplement. Aug 15 2001;92(4):
2932 – 36. KEY WORDS: Palliative Care, Physiothe-
rapy, Pain.

Ano 11, Abril / Junho de 2012 57


Titulação dos Autores

Editorial Artigo 1: Cuidados Paliativos


no Hospital Universitário
Lilian Hennemann-Krause
Pedro Ernesto
Médica Anestesiologista e do HUCFF-UFRJ;
Responsável pelo Núcleo dos Cuidados Paliativos Rodolfo Acatauassú Nunes
do HUPE-UERJ;
Professor Adjunto do Departamento de Cirurgia
Mestranda FCM-UERJ; Geral da Faculdade de Ciências Médicas da
Pós-graduação-Geriatria e Gerontologia-UnATI- Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UERJ; Mestre e Doutor em Cirurgia Geral –
Endereço para correspondência: Setor Torácico da UFRJ.
Rua Itacuruçá, 60 apto. 501, Tijuca Livre-Docente em Cirurgia Torácica - UNI-Rio.
Rio de Janeiro - RJ. CEP 20510-150 Endereço para correspondência:
Rua Santa Luíza 259 apto. 104, Maracanã
Rio de Janeiro - RJ. CEP 20511-030
Luciana Motta
Médica Geriatra; Lilian Hennemann-Krause
Doutora em Saúde Coletiva;
Coordenadora do Núcleo de Atenção ao Idoso/ (Vide Editorial)
UnATI/HUPE/UERJ.

Artigo 2: Ainda que Não


se Possa Curar, Sempre é
Possível Cuidar.
Lilian Hennemann-Krause
(Vide Editorial)

Ano 11, Abril / Junho de 2012 9


Artigo 3: Dor no Fim da Vida: Flavia R. A. de Sousa

Avaliar para Tratar. Especialização em Geriatria e Gerontologia /


UnATI-UERJ.
Lilian Hennemann-Krause Núcleo de Cuidados Paliativos e Centro
Universitário de Controle do Câncer/UERJ.
(Vide Editorial)

Artigo 4: tratamento da Dor Adalgisa Ieda Maiworn

Oncológica em Cuidados Doutoranda em Ciências Médicas na Disciplina


Pneumologia pelo Programa de Pós Graduação
Paliativos. Em Ciências Médicas da Faculdade de Ciências
Médicas;
Odilea Rangel Responsável técnica da Divisão de Fisioterapia da
Policlínica Piquet Carneiro da Universidade do
Anestesista da Clínica de Dor do Hospital
Estado do Rio de Janeiro;
Universitario Pedro Ernesto da UERJ;
Responsável pelo setor de dor neoplásica da Clínica Conselheira do CREFITO - 2.
de Dor da UERJ.
Ana Carolina de Azevedo Carvalho
Carlos Telles
Doutora - Ciências Biológicas-UFRJ;
Professor Associado, chefe do Serviço de
Chefe do Setor de Fisioterapia - HUPE-UERJ.
Neurocirurgia e Clínica de Dor da UERJ.

Artigo 5: Aspectos Práticos Kenia Maynard Silva


da Prescrição de Analgésicos Doutoranda em Ciências Médicas na Disciplina
na Dor do Câncer.
Pneumologia pelo Programa de Pós Graduação
Em Ciências Médicas da Faculdade de Ciências
Médicas;
Lilian Hennemann-Krause Fisioterapeuta da Disciplina de Pneumologia do
(Vide Editorial) HUPE.

Artigo 6: A Fisioterapia no Artigo 7: A Comunicação


Alívio da Dor: Uma Visão de Más Notícias: Mentira
Reabilitadora em Cuidados Piedosa ou Sinceridade
Paliativos. Cuidadosa.
Janete A. Araujo
Danielle de M. Florentino
Psicóloga;
Fisioterapeuta;
Especialista em Psicologia Médica;
Especialização em Fisioterapia Oncológica-INCA;
Núcleo de Cuidados Paliativos - HUPE.
Núcleo de Cuidados Paliativos e Centro
Universitário de Controle do Câncer/UERJ. Endereço para correspondência:
Rua Albano, 244 apto.101 bl.1, Praça Seca
Endereço para correspondência: Rio de Janeiro - RJ. CEP 22733-010
Rua XV de novembro no 226 /201, Centro Telefone: (21) 9673-6917
Niterói - RJ. CEP 24020-125 E-mail: netteallves@hotmail.com
E-mail: danimeflo@yahoo.com.br

10 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


Elizabeth Maria Pini Leitão Artigo 11: Os Cuidados
Professora da Disciplina de Saúde Mental e de Enfermagem em Feridas
Psicologia Médica da FCM/UERJ;
Chefe da Unidade Docente Assistencial;
Neoplásicas na Assistência
UDA de Saúde Mental e Psicologia Médica -
Paliativa.
HUPE/FCM/UERJ.
Rafaela Mouta Aguiar

Artigo 8: Buscando Enfermeira;


Especialização Enfermagem do Trabalho;
Novos Sentidos à Vida: Núcleo de Cuidados Paliativos – NCP-HUPE.
Musicoterapia em Cuidados Endereço para correspondência:
Paliativos. Rua Saldanha Marinho 4 , Santo Cristo
Telefones: (21) 9808-6858
E-mail: rafaaguiar9@hotmail.com
Elisabeth M. Petersen
Musicoterapeuta Gloria Regina Cavalcanti da Silva
Especialização em Psico-oncologia.
Enfermeira;
Endereço para correspondência:
Especialização em Enfermagem Cirúrgica;
Rua Engenheiro Enaldo Cravo Peixoto, 95
apto.1204, Tijuca Serviço de Enfermagem de Pacientes Externos;
Rio de Janeiro - RJ. CEP 20511-230
Chefe de enfermagem do Ambulatório Central e
Telefone: (21) 9242-9863
Descentralizado - HUPE.
E-mail: bethpet2@yahoo.com.br

Artigo 9: O Sentido do Artigo 12: Hipodermóclise


Sofrimento Humano. ou Via Subcutânea.
Maria O. D’Aquino
Fabio de F. Guimarães
Enfermeira do Núcleo de Cuidados Paliativos do
Graduado e Mestre em Psicologia pela HUPE;
Universidade Gregoriana de Roma
Especialista em Enfermagem do Trabalho
Endereço para correspondência: Fac. de Enf. Luiza de Marilac;
Av. 28 de Setembro, 200, Vila Isabel
Rio de Janeiro - RJ. CEP 20551-031 Especialista em Enfermagem Intensivista - UERJ.
Telefones: (21) 2568-3821, (21) 9727-9098 Endereço para correspondência:
E-mail: fabiusfg@gmail.com Rua Santa Alexandrina, 70 apto 104 , Rio Comprido
Rio de Janeiro - RJ. CEP 20261-232
Artigo 10: O Cuidador Telefones: (21) 3027-5194, (21) 2215-6875
do Paciente em Cuidados
E-mail: modaquino@ig.com.br

Paliativos: Sobrecarga e Rogério Marques de Souza


Desafios. Enfermeiro

Janete A. Araujo Coordenador de Enfermagem Hupe/UERJ

(Vide Artigo 7). Professor da Universidade Veiga de Almeida


Especialista em Admnistração dos Serviços de
Elizabeth Maria Pini Leitão Saúde UERJ - 1999
(Vide Artigo 7).

Ano 11, Abril / Junho de 2012 11


Artigo 13: A vivência da
Fonoaudiologia na Equipe
de Cuidados Paliativos de um
Hospital Universitário do
Rio de Janeiro
Andréa dos S. Calheiros
Fonoaudióloga;
Pós-graduação em Fonoaudiologia Hospitalar;
Preceptora de Fononcologia da residência em
Fonoaudiologia do HUPE/UERJ.
Endereço para correspondência:
Rua Alecrim 722
Rio de Janeiro - RJ. CEP 21221-050
Telefones: (21) 3391-0905, (21) 7816-2324
E-mail: andreacalheiros@gmail.com

Christiane Lopes de Albuquerque


Doutoranda em Clínica Médica / Terapia Intensiva
FM-UFRJ;
Mestre em Ciências Médicas pela FCM - UERJ;
Pós-graduaçao em M.O. - Disfagia pelo CEFAC- RJ.

12 Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ

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