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1. Cuidados paliativos.................................................... 3
2. Dor.................................................................................... 5
3. Opioides.......................................................................10
4. Rotação dos opioides..............................................18
5. Dicas de prescrição dos opioides.......................21
Referências bibliográficas .........................................29
MANEJO DE OPIÓIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS 3
Figura 1. Cuidado paliativo contínuo em todas as fases da doença. Fonte: Manual da Residência de Cuidados
Paliativos
• Dor aguda: dura até um mês após • Miofascial: dor muscular, referida
a lesão ser iniciada, com função de a distância do músculo acometido,
proteção e alarme. associada a hiperalgesia, alodínea
e bandas de tensão. Comum em
• Dor subaguda: entre um e três
dores crônicas.
meses de duração, fase em que há
mudança na aferência da dor. • Mista: dor com características as-
sociadas de outras síndromes.
• Dor crônica: inicia-se geralmente
após três meses da lesão e não
tem função de alarme, sendo fre- Como visto anteriormente, os cuida-
quentemente desproporcional dos paliativos visam o alívio do sofri-
e podendo ocorrer sem o fator mento através, também, do alívio da
desencadeante. dor. Para que isso seja possível, uma
• Classificação quanto à etiologia: anamnese detalhada da dor é de
suma importância e segue o seguinte
• Nociceptiva: dor mediada por no- padrão:
ciceptores, desencadeada por es-
tímulo que ameace ou cause da- • Localização da dor: profunda, su-
nos a um tecido (exceto nervoso). perficial, bem localizada, espalha-
Envolve vias do sistema nervoso da, respeita dermátomo.
sensitivo, que está íntegro. Divide- • Instalação: como e quando come-
-se em dor somática (ossos e te- çou, fatores desencadeantes.
cidos moles) e dor visceral (órgãos
internos). • Tipo: peso, facada, pontada, late-
jante, queimação, choque, cólica.
• Neuropática: dor causada por le-
são ou doença do sistema nervoso • Irradiação: localização, tipo, sinto-
sensitivo. A lesão deve ser con- mas associados.
firmada (imagem, neurofisiologia, • Sintomas associados: náuseas,
biópsia, exame laboratorial, trau- vômitos, dispneia, sudorese, pa-
ma evidente) ou a doença de base restesia, febre, posição corporal
deve ser compatível (AVE, vasculi- preferencial, fáscies, agitação psi-
te, diabetes, genética). comotora, ansiedade.
• Disfuncional: dor que ocorre em • Temporalidade: duração, frequên-
função do funcionamento inade- cia, período do dia.
quado de estruturas que modulam
• Fatores de melhora ou piora: posi-
o estímulo doloroso, com ausência
ção corporal, respiração, resposta
de lesão tecidual, por exemplo, ce-
faleias e fibromialgia.
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Escala visual numérica (EVN): É uti- (ausência de dor) a 10 (pior dor pos-
lizada uma linha parecida com a an- sível). O paciente deve dar uma nota
terior, porém, com numerais de 0 que corresponda a dor.
Escala categórica verbal: divide a dor Escala de faces: várias figuras (geral-
entre leve, moderada ou forte. mente 5 ou 6) são colocadas uma ao
lado da outra para representar faces
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Em situações específicas, como pa- por fibras C não mielinizadas que pos-
suem terminações que respondem a
cientes com demência ou internados estímulos térmicos, mecânicos e quími-
na UTI, deve-se considerar fatores cos. Estes estímulos, responsáveis por
como padrão respiratório, movimen- provocar a dor atuando nos NPMs, são
tação, expressão facial, linguagem a bradicinina, prótons, ATP e vanilóides
(p. ex., capsaicina). As prostaglandinas
corporal, entre outros. também atuam sobre os NPMs e, por
Em crianças, a avaliação deve consi- isso, apresentam efeito hiperalgésico.
Outro receptor é o TRPV1, que respon-
derar a idade cronológica, desenvol- de ao calor nocivo e a agonistas seme-
vimento psicomotor ou cognição. A lhantes à capsaicina. O mediador lipídico
maioria dos casos leva em conta au- anandamida é um agonista nos recep-
toavaliação (> 3 anos), observação do tores TRPV1 além de ser agonista dos
receptores canabinoides endógenos. As
comportamento (< 3 anos ou pacien- conexões sinápticas feitas pelas fibras
tes com cognição alterada) e altera- nociceptivas com neurônios de trans-
ções fisiológicas. missão, se dirigem ao tálamo. Os NPMs
liberam glutamato (transmissor rápido) e
vários peptídeos que agem como trans-
missores lentos. Os peptídeos também
HORA DA REVISÃO! são liberados perifericamente contri-
buindo para inflamação neurogênica.
Mecanismo da dor e nocicepção:
Quando a dor neuropática é associada à
O mecanismo pelo qual estímulos pe- lesão dos neurônios da via nociceptiva e
riféricos nocivos são transmitidos ao não à estímulo periférico excessivo, ge-
sistema nervoso central é chamado de ralmente faz parte de estados dolorosos
nocicepção. Já a dor é uma experiência crônicos e pode não responder bem aos
subjetiva, nem sempre associada à no- analgésicos opioides.
cicepção. O principal tipo de neurônio
sensitivo periférico que responde a estí-
mulos nocivos é o nociceptor polimodal
(NPM). Estes nociceptores são formados
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Bloqueios
neurológicos, bomba
de PCA, estimuladores
Opioides fortes espinais
(morfina,
metadona,
Iniciar opioides
oxicodona)
fracos (codeína,
tramadol)
Analgésicos não
opioides
(analgésicos
simples, AINEs)
Medicamentos adjuvantes (esteroides, ansiolíticos, antidepressivos, entre outros)
Figura 5. Escada de Analgesia da OMS (adaptada).
Este material irá focar na atuação de ao povo sumério, que descrevia a pa-
uma das classes de medicamentos poula como “planta da alegria”. Cita-
utilizados para analgesia, os opioides, ções de seu uso estão presentes na
no manejo da dor, oncológica ou não, história do Egito (1.500 anos a.C) e
em pacientes que se encontram em da Grécia (700 anos a.C), tanto na
cuidados paliativos. prática medicinal quanto em rituais
sagrados.
3. OPIOIDES O ópio tem sido utilizado na civili-
zação ocidental como medicamen-
O termo opioide se refere a um gru- to desde o século XVI, mas somente
po de substâncias capazes de se ligar no início dos anos de 1800 é que um
aos principais receptores de opioides dos principais alcaloides do ópio foi
(mu, kappa e delta). Dentro desse descoberto por Sertüner, sendo no-
grupo, incluem-se os opiáceos, que meado de morphium (em homena-
são alcaloides naturais que podem gem a Morfeu, deus grego do sono) e,
ser extraídos da papoula (Papaver posteriormente, consagrado por Gay
somniferum). Lussac como morfina.
Os opioides estão presentes na histó- Atualmente, essa classe de medica-
ria há milhares de anos, com registros mento faz parte de uma das principais
históricos de 5 mil anos remontando ferramentas para o manejo da dor,
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retal, intravenosa, intramuscular, sub- de resgate, caso haja dor nos inter-
cutânea, transdérmica, nasal, peri- valos da medicação. Atualmente, é
dural e intratecal). A possibilidade de disponível a morfina de eliminação
um fármaco ser administrado por di- prolongada, que pode ser utilizada,
versas vias torna-o mais versátil e útil após sua titulação com a morfina
em um maior número de doentes. Os simples, em intervalo de 12/12 horas.
opioides de uso oral, por serem ini- Após administração oral, o pico de
cialmente metabolizados pelo fígado concentração plasmática é atingido
(metabolismo de primeira passagem) em aproximadamente 60 minutos. A
após absorção, apresentam início alimentação não altera a biodisponi-
e duração de ação mais tardios que bilidade da morfina. Os comprimidos
os opioides de uso parenteral. É im- de liberação prolongada não devem
portante o entendimento das vias de ser fracionados (quebrados, macera-
administração de cada opioide, pois a dos ou cortados) ou mastigados, pelo
necessidade de mudança dessa via risco de liberação imediata de dose
de administração pode requerer al- excessiva.
teração do opioide inicialmente pres- A morfina é metabolizada formando
crito. Nessas situações, é necessário morfina-3-glicuronídeo e morfina-
atentar para a potência relativa e as -6-glicuronídeo, tendo o último ação
doses equivalentes (equianalgésicas) analgésica significativa. O primeiro
dos opioides, e para os cálculos de é inativo, mas liga-se aos recepto-
conversão. res, impedindo a ligação da morfina.
Os metabólitos se acumulam em pa-
Fármacos opioides cientes com insuficiência renal. É bem
tolerada em pacientes com hepato-
Morfina: patias, sendo que, nestes pacientes,
É o fármaco de escolha para dor in- a sua meia-vida pode aumentar e a
tensa. A dose analgésica varia de dose deve ser espaçada para três a
5mg até mais de 200mg, a cada 4 quatro vezes ao dia.
horas. Na maioria dos casos, a dor é
controlada com doses de 10 a 30mg, Codeína:
de 4/4 horas, devendo ser aumenta-
da gradativamente, sendo que a dose É o opioide de escolha para dor leve
noturna pode ser dobrada a fim de a moderada, não controlada com an-
evitar dor ao despertar. A dose ade- ti-inflamatórios. Possui baixa afini-
quada é a dose que alivia a dor com dade com os receptores opioides. É
mínimos efeitos adversos. O paciente utilizada sob a forma pura em doses
deve ser orientado para usar doses de 30 a 60mg, de 4/4 horas ou em
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SAIBA MAIS!
A codeína não é comumente utilizada para a dor em pacientes oncológicos, pois as diretrizes
para o gerenciamento da dor do câncer da National Comprehensive Cancer Network (NCCN)
e de outras organizações, incluindo a Associação Europeia de Cuidados, indicam que baixas
doses de morfina (até 30mg por dia) reduzem a dor significativamente em comparação com
a codeína em pacientes com dor moderada por câncer, com tolerabilidade semelhante.
o paciente está fazendo mais de 3 a dose das 23h para 30mg e sus-
usos de dose de resgate por dia ou pender a dose das 3h para que ele
se ele está fazendo uso de doses não precise interromper o sono.
de resgate em intervalos de tempo
• Substituição de um opioide fra-
muito curtos (de 15 em 15 minu-
co por um forte: existe uma ten-
tos), pois caso isso esteja aconte-
dência global de substituir opioi-
cendo, é provável que a analgesia
des fracos (Codeína e Tramadol)
basal desse paciente não esteja
por opioides fortes em baixas do-
sendo efetiva e, assim, o médico
ses (ex. Morfina 5mg, VO, 6x/dia
pode avaliar a mudança do manejo
e Oxicodona, 10mg, 2x/dia). Isso
da dose diária da medicação.
ocorre porque tem se observado
que opioides fortes em baixas do-
SE LIGA! O profissional deve observar o ses têm melhor efeito analgésico
momento do dia em que o paciente sen- que opioides fracos, mas com me-
te necessidade do uso da dose de res-
gate. Será que essa necessidade é em nos efeitos adversos.
algum momento de maior mobilização
do paciente (tomar banho, realizar fisio-
• Efeitos colaterais: é necessário o
terapia), ou algum momento de maior conhecimento dos efeitos colate-
emoção, como a chegada de um fami- rais mais importantes e frequen-
liar? Caso isso esteja acontecendo, não é tes, bem como quais opioides es-
necessário o aumento da dose diária da
droga, basta aumentar a dose daquele tão relacionados a esses efeitos
momento em que o uso da dose de res- colaterais.
gate é frequente.
◊ Opioides que mais causam
náuseas e vômitos: Trama-
• Dose noturna: na fase de controle dol e Codeína são os opioides
da dor, o paciente deve ser instru- mais nauseantes. A morfi-
ído a acordar durante a noite para na também pode apresentar
tomar a medicação no horário cor- esse efeito, embora com uma
reto mesmo que ele esteja sem frequência menor, e a meta-
dor. Após essa fase, a última dose dona é a opção via oral menos
de morfina de liberação imediata nauseante.
antes de dormir pode ser admi-
nistrada dobrada, para que o pa- SE LIGA! A mesma mão que prescreve
ciente não precise acordar no meio um opioide, prescreve um antiemético,
se necessário.
da noite para tomar a medicação.
Por exemplo: se o paciente recebe
15mg de morfina às 3, 7, 11, 15,
19 e 23 horas, pode-se modificar
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SAIBA MAIS!
Os patchs transdérmicos são medicações em forma de adesivos que não rebaixam tanto o
limiar convulsivo do paciente, podendo ser utilizados por aqueles pacientes que já possuem
uma tendência a crises convulsivas. Os patchs transdérmicos mais comuns são o de fentanil
e o de buprenorfina.
Quando usar Patch Fentanil Transdérmico: deve ser utilizado apenas quando a dor do
paciente estiver estável, visto que dura cerca de 24 horas para o adesivo alcançar um estado
estacionário de analgesia, de modo que as doses não podem ser alteradas rapidamente. Por
isso, quando a via oral não estiver mais disponível, geralmente nos últimos dias de vida, não é
indicado iniciar Fentanil Patch, visto que pode demorar muito para atingir o estado estacioná-
rio. Além disso, uma vez retirado adesivo, pode levar 12-18 horas para os efeitos cessarem.
Quando usar Patch Buprenorfina Transdérmico: o uso da Buprenorfina é indicado para
pacientes com dor moderada a grave, sendo uma opção segura e efetiva para o tratamento
da dor crônica oncológica e não oncológica. Além da posologia ser confortável, sendo a troca
necessária apenas a cada 7 dias, seu uso não requer ajuste de dose para pacientes idosos
e nem com insuficiência renal, não causando desregulação imunológica, nem em hormônios
sexuais. O efeito máximo da droga, quando usada pela primeira vez, pode levar até 3 dias,
portanto, deve-se prescrever analgesia de ação curta nos primeiros 3 dias. A buprenorfina é
o único opioide que apresenta um teto para a depressão respiratória quando utilizada isola-
damente. Apesar disso, os efeitos da Buprenorfina podem ser completamente revertidos pela
Naloxona.
Como foi dito acima, o efeito desses adesivos pode demorar a surgir e pode não ser suficien-
te. Dessa forma, o uso da terapia adjuvante pode se fazer necessária, seguindo o mesmo
padrão já visto anteriormente.
INTOXICAÇÃO
POR OPIOIDE
Confusão, mioclonia,
Vômito, sonolência Depressão respiratória (FR
espasmos musculares,
aumentada, pupila < 8-10 ipm), hipotensão,
alucinações, agitações,
puntiforme perda de consciência
sonhos vívidos
Considerar
converter para
Parar por 4-6h
Omitir próxima formulação Procurar ajuda
e reavaliar.
dose e reiniciar de liberação com equipe de
Se melhora,
com dose imediata, Dor e Cuidados
reiniciar com
menor reduzir a Paliativos
dose menor
dose, hidratar,
retitular
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Dose noturna
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
UpToDate - Cancer pain management with opioids: Optimizing analgesia, Russell K.
UpToDate - Cancer pain management: General principles and risk management for patients
receiving opioids, Russell K.
UpToDate - Use of opioids in the management of chronic non-cancer pain, Richard Rosenquist.
Manual de Cuidados Paliativos ANCP, 2ª edição.
Guia de Bolso de Cuidados Paliativos
Manual do Residente de Clínica Médica, 2ª edição.
Dor e Cuidados Paliativos: enfermagem, medicina e psicologia.
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