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SUMÁRIO

1. Cuidados paliativos.................................................... 3
2. Dor.................................................................................... 5
3. Opioides.......................................................................10
4. Rotação dos opioides..............................................18
5. Dicas de prescrição dos opioides.......................21
Referências bibliográficas .........................................29
MANEJO DE OPIÓIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS 3

1. CUIDADOS PALIATIVOS do paciente e da família, incluindo


assistência ao luto, se necessário;
Em 2002, a Organização Mundial da
Saúde (OMS) reformulou o concei- • Melhorar a qualidade de vida in-
to de Cuidado Paliativo como sendo fluenciando positivamente na evo-
uma abordagem que visa melhorar a lução da doença;
qualidade de vida de pacientes e fa- • Instituir cuidados paliativos pre-
miliares no contexto de uma doença cocemente no curso de evolução
grave e ameaçadora da vida, por meio da doença em conjunto com tra-
da prevenção, do alívio do sofrimento, tamentos modificadores da do-
da identificação precoce e do trata- ença responsáveis por prolongar
mento impecável da dor e de outros a vida, como quimioterapia ou
sintomas, além de problemas físicos, radioterapia;
psíquicos, sociais e espirituais.
• Incluir investigações diagnósticas
Dessa forma, foram definidos princí-
necessárias para melhor compre-
pios de atuação, sendo eles:
ensão e manejo das complica-
• Promover alívio da dor e ou- ções clínicas que possam gerar
tros sintomas responsáveis por sofrimento.
sofrimento;
• Afirmar a vida e reconhecer a mor- De maneira prática, o cuidado é es-
te como um processo natural; tabelecido por meio de uma relação
• Não antecipar, nem prolongar ou que envolve boa comunicação, vín-
adiar a morte; culo, responsabilização, respeito e
empatia com o paciente, com a famí-
• Integrar aspectos psicológicos e lia e rede de apoio. Nessa prática, os
espirituais ao cuidado; profissionais trabalham em conjunto,
• Oferecer um conjunto de cuidados integrando conhecimentos técnicos
e suporte para ajudar o paciente a e particularidades pessoais com foco
viver da maneira mais ativa possí- na prevenção e cuidado do sofrimen-
vel até a morte; to humano.

• Oferecer suporte para a família Na conceituação, a OMS indica que


compreender e se organizar du- o cuidado paliativo deve ocorrer de
rante o processo de doença e de maneira continuada a partir do diag-
luto; nóstico e em paralelo ao tratamento
modificador da doença (aquele que
• Acessar, por meio de uma equipe busca a cura ou controle da doença).
multiprofissional, as necessidades Nesse processo, com a evolução da
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doença, a importância do cuidado pa-


liativo aumenta proporcionalmente SE LIGA! A assistência é focada na pes-
até que se torne a única terapêutica soa e não na doença. Por esse motivo
não se pode cuidar bem de alguém que
cabível durante o processo ativo de não se conheça bem como pessoa. É
morte. importante lembrar, então, que a abor-
dagem multiprofissional tem papel fun-
damental nos cuidados paliativos.

Figura 1. Cuidado paliativo contínuo em todas as fases da doença. Fonte: Manual da Residência de Cuidados
Paliativos

A imagem acima auxilia o entendi- contribuir para melhorar a qualidade


mento do papel dos cuidados palia- de vida, sendo a sua duração muito
tivos durante toda a evolução natural variável. O período de terminalidade
da doença. O eixo horizontal repre- se encerra na fase final da vida ou
senta o tempo decorrido desde o iní- processo ativo de morte. A duração é
cio da evolução da doença até a mor- variável (dias a semanas) e depende
te, enquanto o eixo vertical representa do diagnóstico. A assistência presta-
a necessidade relativa de assistência, da se baseia integralmente nos va-
variando entre terapêutica modifica- lores do paciente e da família e não
dora da doença e cuidado paliativo. mais na doença. O cuidado paliativo
A terminalidade se inicia quando não é comumente designado exclusivo.
há mais intervenções que possam Na prática, não cabem ações volta-
modificar a doença, mas que possam das para a doença em si, posto que
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ela já está levando à morte, irreversi- diferentes áreas encefálicas. Assim,


velmente. Após a morte do paciente, combina 3 dimensões principais:
o cuidado se aplica à família de luto. A
• Dimensão sensitiva-discriminati-
necessidade dessa assistência dimi-
va, sinônimo de nocicepção, que
nui com o tempo.
permite identificá-la no tempo e no
espaço e perceber sua qualidade e
intensidade;
• Dimensão afetiva-emocional, res-
ponsável pelos seus componen-
tes de humor e afeto, em geral
desagradável;
• Dimensão cognitivo-avaliativa, que
é responsável por ideias, símbolos,
representação interna e compor-
tamentos individuais de cada pa-
ciente com dor.

A dor é um dos motivos mais co-


muns para a procura de serviços de
saúde em todo o mundo, além de
ser responsável pelo maior número
de afastamentos do trabalho e pio-
ra na qualidade de vida. A dor crô-
Figura 2. Capa do filme Wit, Uma Lição de Vida. nica afeta aproximadamente 9-70%
Imagem disponível em: http://redehumanizasus.net/
7976-aprendendo-com-o-filme-wit-uma-licao-de-vida/
da população mundial, e 7-40% da
DICA DE FILME: Wit, Uma Lição de Vida – Mike
população brasileira. No contexto de
Nichols. cuidados paliativos, sua importância
e prevalência são ainda maiores, sen-
do importante para o profissional da
2. DOR saúde que trabalha nessa área, co-
A dor é definida como uma experi- nhecer o tema de maneira adequada
ência sensitiva e emocional desa- e aprofundada.
gradável, associada a lesão real, em A dor pode ser classificada quanto ao
potencial ou descrita em tais termos. seu tempo de instalação:
É uma percepção que depende da
integração do estímulo doloroso em
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• Dor aguda: dura até um mês após • Miofascial: dor muscular, referida
a lesão ser iniciada, com função de a distância do músculo acometido,
proteção e alarme. associada a hiperalgesia, alodínea
e bandas de tensão. Comum em
• Dor subaguda: entre um e três
dores crônicas.
meses de duração, fase em que há
mudança na aferência da dor. • Mista: dor com características as-
sociadas de outras síndromes.
• Dor crônica: inicia-se geralmente
após três meses da lesão e não
tem função de alarme, sendo fre- Como visto anteriormente, os cuida-
quentemente desproporcional dos paliativos visam o alívio do sofri-
e podendo ocorrer sem o fator mento através, também, do alívio da
desencadeante. dor. Para que isso seja possível, uma
• Classificação quanto à etiologia: anamnese detalhada da dor é de
suma importância e segue o seguinte
• Nociceptiva: dor mediada por no- padrão:
ciceptores, desencadeada por es-
tímulo que ameace ou cause da- • Localização da dor: profunda, su-
nos a um tecido (exceto nervoso). perficial, bem localizada, espalha-
Envolve vias do sistema nervoso da, respeita dermátomo.
sensitivo, que está íntegro. Divide- • Instalação: como e quando come-
-se em dor somática (ossos e te- çou, fatores desencadeantes.
cidos moles) e dor visceral (órgãos
internos). • Tipo: peso, facada, pontada, late-
jante, queimação, choque, cólica.
• Neuropática: dor causada por le-
são ou doença do sistema nervoso • Irradiação: localização, tipo, sinto-
sensitivo. A lesão deve ser con- mas associados.
firmada (imagem, neurofisiologia, • Sintomas associados: náuseas,
biópsia, exame laboratorial, trau- vômitos, dispneia, sudorese, pa-
ma evidente) ou a doença de base restesia, febre, posição corporal
deve ser compatível (AVE, vasculi- preferencial, fáscies, agitação psi-
te, diabetes, genética). comotora, ansiedade.
• Disfuncional: dor que ocorre em • Temporalidade: duração, frequên-
função do funcionamento inade- cia, período do dia.
quado de estruturas que modulam
• Fatores de melhora ou piora: posi-
o estímulo doloroso, com ausência
ção corporal, respiração, resposta
de lesão tecidual, por exemplo, ce-
faleias e fibromialgia.
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a medicações, repouso, controle padrão-ouro para estimar intensida-


ambiental. de e oferecer instrumentos para guiar
melhor a dose de analgésico inicial e
• Intensidade: leve, moderada ou
servir de parâmetro da evolução do
forte. Escalas numéricas/visuais.
tratamento. Alguns exemplos de es-
calas utilizadas:
Escala da dor: Escala Visual Analógica (AVA): É rea-
A intensidade da dor é uma de suas lizada com o uso de uma linha de 10
características mais importantes, pois centímetros, com um 0 em uma das
quanto maior seu grau, pior a quali- extremidades (ausência de dor) e um
dade de vida e maior o impacto em 10 na outra (pior dor possível). Pede-
atividades diárias. Atualmente, en- -se para o paciente apontar qual lugar
tende-se que a autoavaliação é o da linha corresponde a dor. A intensi-
dade será a medida em centímetros.

Figura 2. Escala Visual Analógica (EVA) da dor. Fonte: https://www.sboc.org.br/sboc-site/revista-sboc/pdfs/38/artigo2.


pdf

Escala visual numérica (EVN): É uti- (ausência de dor) a 10 (pior dor pos-
lizada uma linha parecida com a an- sível). O paciente deve dar uma nota
terior, porém, com numerais de 0 que corresponda a dor.

Figura 3. Escala Visual Numérica (EVN) da dor. Fonte: https://estudo-help.com.br/


unreg-order/?rid=6bd5c8242d26a8fa&edugram_request_id=5ec3dc91b5d450.98510532&clck=1

Escala categórica verbal: divide a dor Escala de faces: várias figuras (geral-
entre leve, moderada ou forte. mente 5 ou 6) são colocadas uma ao
lado da outra para representar faces
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humanas, que estão em progressão para o paciente apontar qual delas


desde uma face neutra (ou sorridente) melhor representa a sua dor.
até uma face em sofrimento. Pede-se

Figura 4. Escala de faces da dor. Fonte: Manual da Residência de Cuidados Paliativos

Em situações específicas, como pa- por fibras C não mielinizadas que pos-
suem terminações que respondem a
cientes com demência ou internados estímulos térmicos, mecânicos e quími-
na UTI, deve-se considerar fatores cos. Estes estímulos, responsáveis por
como padrão respiratório, movimen- provocar a dor atuando nos NPMs, são
tação, expressão facial, linguagem a bradicinina, prótons, ATP e vanilóides
(p. ex., capsaicina). As prostaglandinas
corporal, entre outros. também atuam sobre os NPMs e, por
Em crianças, a avaliação deve consi- isso, apresentam efeito hiperalgésico.
Outro receptor é o TRPV1, que respon-
derar a idade cronológica, desenvol- de ao calor nocivo e a agonistas seme-
vimento psicomotor ou cognição. A lhantes à capsaicina. O mediador lipídico
maioria dos casos leva em conta au- anandamida é um agonista nos recep-
toavaliação (> 3 anos), observação do tores TRPV1 além de ser agonista dos
receptores canabinoides endógenos. As
comportamento (< 3 anos ou pacien- conexões sinápticas feitas pelas fibras
tes com cognição alterada) e altera- nociceptivas com neurônios de trans-
ções fisiológicas. missão, se dirigem ao tálamo. Os NPMs
liberam glutamato (transmissor rápido) e
vários peptídeos que agem como trans-
missores lentos. Os peptídeos também
HORA DA REVISÃO! são liberados perifericamente contri-
buindo para inflamação neurogênica.
Mecanismo da dor e nocicepção:
Quando a dor neuropática é associada à
O mecanismo pelo qual estímulos pe- lesão dos neurônios da via nociceptiva e
riféricos nocivos são transmitidos ao não à estímulo periférico excessivo, ge-
sistema nervoso central é chamado de ralmente faz parte de estados dolorosos
nocicepção. Já a dor é uma experiência crônicos e pode não responder bem aos
subjetiva, nem sempre associada à no- analgésicos opioides.
cicepção. O principal tipo de neurônio
sensitivo periférico que responde a estí-
mulos nocivos é o nociceptor polimodal
(NPM). Estes nociceptores são formados
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Tratamento farmacológico da dor: como esteroides, ansiolíticos, anti-


depressivos, anticonvulsivantes, an-
Por meio de esforços realizados por
tagonistas NMDA e bloqueadores
diversos grupos com o objetivo de
de canal de sódio. A inclusão de um
melhorar seu tratamento, foi propos-
quarto degrau está sendo proposta
ta, em 1986, por meio de recomen-
por especialistas e este seria reserva-
dações de especialistas em dor onco-
do aos pacientes com difícil controle
lógica, a chamada escada analgésica
da dor mesmo em uso de opioides
da OMS. A escala analgésica da OMS
fortes e adjuvantes, para os quais po-
propõe um racional de uso de medi-
dem ser empregadas técnicas como
cações para tratamento de dor, e ele
bloqueios neurológicos, bomba de
pode ser útil na maioria dos casos.
PCA (patient-controlled analgesia)
Assim, no primeiro degrau da esca- ou estimuladores espinais.
da, pacientes com dor leve (intensi-
dade 1 a 3) devem ser tratados com
SE LIGA! Quando podemos oferecer ao
analgésicos não opioides (analgési-
doente um diagnóstico mais detalha-
cos simples, anti-inflamatórios não do, tratamentos específicos devem ser
esteroidais). No segundo, associado propostos. Assim, um doente com dor
a dor moderada (intensidade 4 a 6), neuropática pode ter maior alívio dos
sintomas com o uso de certos antide-
deve-se iniciar o uso dos chamados pressivos e anticonvulsivantes, do que
opioides fracos (codeína, tramadol), com o uso de opioide fraco associado
além dos medicamentos utilizados a paracetamol. Nessa mesma linha, um
no grau anterior. No terceiro degrau doente com fibromialgia pode ter maior
benefício com o uso de tricíclicos e mior-
(intensidade 7 a 10) são utilizados os relaxantes associado a um programa de
opioides fortes (morfina, metadona, medicina física e apoio psicológico, do
oxicodona, fentanil, hidromorfona). que com opioides e AINEs. Nesses ce-
nários, as medicações chamadas de ad-
Em todos os níveis, o uso de medi- juvantes na escala analgésica tornam-
camentos adjuvantes, de acordo com -se protagonistas a depender de cada
as características da dor, deve ser re- síndrome dolorosa, e devem ser utiliza-
alizado para a obtenção de maior su- das em 1ª intenção, conforme o caso.
cesso terapêutico. Este grupo inclui
diversas classes de medicamentos,
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Bloqueios
neurológicos, bomba
de PCA, estimuladores
Opioides fortes espinais
(morfina,
metadona,
Iniciar opioides
oxicodona)
fracos (codeína,
tramadol)
Analgésicos não
opioides
(analgésicos
simples, AINEs)
Medicamentos adjuvantes (esteroides, ansiolíticos, antidepressivos, entre outros)
Figura 5. Escada de Analgesia da OMS (adaptada).

Este material irá focar na atuação de ao povo sumério, que descrevia a pa-
uma das classes de medicamentos poula como “planta da alegria”. Cita-
utilizados para analgesia, os opioides, ções de seu uso estão presentes na
no manejo da dor, oncológica ou não, história do Egito (1.500 anos a.C) e
em pacientes que se encontram em da Grécia (700 anos a.C), tanto na
cuidados paliativos. prática medicinal quanto em rituais
sagrados.
3. OPIOIDES O ópio tem sido utilizado na civili-
zação ocidental como medicamen-
O termo opioide se refere a um gru- to desde o século XVI, mas somente
po de substâncias capazes de se ligar no início dos anos de 1800 é que um
aos principais receptores de opioides dos principais alcaloides do ópio foi
(mu, kappa e delta). Dentro desse descoberto por Sertüner, sendo no-
grupo, incluem-se os opiáceos, que meado de morphium (em homena-
são alcaloides naturais que podem gem a Morfeu, deus grego do sono) e,
ser extraídos da papoula (Papaver posteriormente, consagrado por Gay
somniferum). Lussac como morfina.
Os opioides estão presentes na histó- Atualmente, essa classe de medica-
ria há milhares de anos, com registros mento faz parte de uma das principais
históricos de 5 mil anos remontando ferramentas para o manejo da dor,
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especialmente de origem oncológica. analgesia, também são relacionados


Além disso, pela extrema importância, a outros efeitos colaterais.
alguns de seus representantes (code- Os opioides atuam promovendo a
ína e morfina) foram incluídos na lista abertura dos canais de potássio e a
modelo de medicamentos essenciais inibição da abertura de canais de cál-
descrita pela Organização Mundial da cio controlados por voltagem. Cau-
Saúde (OMS) em 2013 e mantidos na sando assim, hiperpolarização e re-
revisão de 2015. dução da excitabilidade neuronal.
Além disso, ocorre redução da libe-
Mecanismo de ação ração de transmissores (pela inibição
da entrada de Ca2+). Contudo, os
Os opioides exercem seus efeitos opioides também aumentam a ati-
por meio da ligação a receptores es- vidade em algumas vias neuronais.
pecíficos. São três os tipos de recep- Esse efeito ocorre devido a um pro-
tores clássicos: μ (mu), k (kappa) e δ cesso de desinibição, em que acon-
(delta). Tal nomenclatura representa tece excitação dos neurônios de pro-
a ativação por determinado agente: jeção por supressão da atividade de
mu para morfina (morphine), kappa interneurônios inibitórios.
para cetociclazocina (ketociclazocin)
e delta para deltorfina (deltorphine).
Atualmente, de acordo com a União Seleção do opioide
Internacional de Farmacologia, re- Os opioides são classificados, quanto
ceberam as nomenclaturas de MOP, à relação entre dose e eficácia analgé-
KOP e DOP. O receptor mu é tido sica, em fortes (morfina, meperidina,
como o mais importante clinicamen- metadona, fentanila, oxicodona etc.)
te, por conta da sua ação analgési- e fracos (tramadol, codeína, propoxi-
ca principal, por meio da inibição das feno). Quanto ao padrão de ligação
vias nociceptivas. Muito embora to- aos receptores opioides, classificam-
dos os receptores estejam envolvidos -se em agonistas, agonistas parciais
na modulação de dor, cada receptor e antagonistas. Os antagonistas são
parece exercer um papel diferen- aqueles que bloqueiam os receptores
te: mu relacionado à inibição de vias μ (mu), k (kappa) e δ (delta), como é
nociceptivas e diminuição de neuro- o caso da naloxona. Alguns fárma-
transmissores pré-sinápticos; kappa cos, como a pentazocina, provocam
com estudos demonstrando aparente mistura de efeitos κ-agonistas e
relação com dor visceral e nocicepção μ-antagonistas.
térmica; e delta exercendo papel na
dor mecânica e inflamatória. Além da Os opioides fortes podem, ainda, ser
classificados como: de ação rápida,
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que apresentam uma duração de com pacientes com função re-


ação curta, entre 3 e 6 horas (por nal normal, devido ao acúmulo de
exemplo, sulfato de morfina e oxico- metabólitos ativos ou tóxicos, al-
dona de liberação imediata), e meia teração da ligação medicamento-
vida de eliminação de 2-3 horas; de sa, aumento da sensibilidade aos
ação intermediária, que permitem in- efeitos do sistema nervoso cen-
tervalos de até 12 horas entre as do- tral, aumento da permeabilidade
ses (por exemplo, morfina e oxicodo- da barreira hematoencefálica e
na de liberação lenta/controlada), com distribuição alterada dos medica-
meia vida de eliminação de 3-6 horas; mentos. A morfina, por exemplo, é
e de ação prolongada, que permitem contraindicada nesses pacientes.
intervalos de 24-72 horas entre as As medicações de escolha, então,
doses (morfina, fentanil transdérmico ficam entre metadona e buprenor-
etc.), tendo meia-vida de eliminação fina, pois o principal ativo desses
longa (10-17 horas). medicamentos tem excreção fecal.
Há diversos efeitos indesejáveis re- • Insuficiência hepática - Os opioi-
lacionados ao uso de opioides, como des devem ser usados ​​com caute-
sonolência e letargia, retenção urinária, la em pacientes com insuficiência
depressão respiratória, náusea e vômi- hepática ou cirrose. A cirrose pode
to, dificuldade de concentração, euforia, resultar em atraso no esvaziamen-
alucinação e disforia, miose, empacha- to gástrico, comprometimento da
mento, constipação intestinal, prurido, absorção da mucosa gástrica devi-
tolerância, adição e dependência. do a gastrite, e alterações no volu-
Devido aos efeitos adversos e a pró- me de distribuição devido a ascites
pria via de metabolização e elimina- ou alterações na ligação às proteí-
ção das drogas, devem ser tomados nas. Aqui, a morfina pode ser utili-
certos cuidados com as populações zada, mas deve-se ficar atento ao
especiais: fato de que ela terá meia-vida mais
longa nesses pacientes, então não
• Pacientes mais velhos - Os opioi- se deve usar de 4 em 4 horas, e
des devem ser usados com
​​ cau- sim de 6 em 6 horas, ou até 8 em
tela em adultos mais velhos, pois 8 horas, a depender da tolerância
apresentam maior risco de efeitos do paciente.
adversos.
• Doença renal - Pacientes com
Vias de administração
doença renal crônica apresentam
maior risco de efeitos colaterais tó- Os opioides podem ser administra-
xicos dos opioides em comparação dos por várias vias (oral, sublingual,
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retal, intravenosa, intramuscular, sub- de resgate, caso haja dor nos inter-
cutânea, transdérmica, nasal, peri- valos da medicação. Atualmente, é
dural e intratecal). A possibilidade de disponível a morfina de eliminação
um fármaco ser administrado por di- prolongada, que pode ser utilizada,
versas vias torna-o mais versátil e útil após sua titulação com a morfina
em um maior número de doentes. Os simples, em intervalo de 12/12 horas.
opioides de uso oral, por serem ini- Após administração oral, o pico de
cialmente metabolizados pelo fígado concentração plasmática é atingido
(metabolismo de primeira passagem) em aproximadamente 60 minutos. A
após absorção, apresentam início alimentação não altera a biodisponi-
e duração de ação mais tardios que bilidade da morfina. Os comprimidos
os opioides de uso parenteral. É im- de liberação prolongada não devem
portante o entendimento das vias de ser fracionados (quebrados, macera-
administração de cada opioide, pois a dos ou cortados) ou mastigados, pelo
necessidade de mudança dessa via risco de liberação imediata de dose
de administração pode requerer al- excessiva.
teração do opioide inicialmente pres- A morfina é metabolizada formando
crito. Nessas situações, é necessário morfina-3-glicuronídeo e morfina-
atentar para a potência relativa e as -6-glicuronídeo, tendo o último ação
doses equivalentes (equianalgésicas) analgésica significativa. O primeiro
dos opioides, e para os cálculos de é inativo, mas liga-se aos recepto-
conversão. res, impedindo a ligação da morfina.
Os metabólitos se acumulam em pa-
Fármacos opioides cientes com insuficiência renal. É bem
tolerada em pacientes com hepato-
Morfina: patias, sendo que, nestes pacientes,
É o fármaco de escolha para dor in- a sua meia-vida pode aumentar e a
tensa. A dose analgésica varia de dose deve ser espaçada para três a
5mg até mais de 200mg, a cada 4 quatro vezes ao dia.
horas. Na maioria dos casos, a dor é
controlada com doses de 10 a 30mg, Codeína:
de 4/4 horas, devendo ser aumenta-
da gradativamente, sendo que a dose É o opioide de escolha para dor leve
noturna pode ser dobrada a fim de a moderada, não controlada com an-
evitar dor ao despertar. A dose ade- ti-inflamatórios. Possui baixa afini-
quada é a dose que alivia a dor com dade com os receptores opioides. É
mínimos efeitos adversos. O paciente utilizada sob a forma pura em doses
deve ser orientado para usar doses de 30 a 60mg, de 4/4 horas ou em
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associações em intervalos mais pro- seu metabolismo, fazendo com que


longados, com dose máxima diária muitos pacientes não tenham ou te-
de até 360mg. Acima desta dose, nham uma analgesia fraca com a co-
deve-se avaliar a indicação da mor- deína. O efeito analgésico ocorre em
fina para evitar efeitos adversos com 20 minutos após administração oral,
doses mais altas de codeína. Sua bio- com efeito máximo em 1-2 horas.
disponibilidade é de 40% a 60%. É Tem bom efeito antitussígeno, seme-
metabolizada no fígado e pela des- lhante à morfina. Não é recomendada
metilação forma norcodeína e morfi- a administração por via venosa, pelo
na. Aproximadamente 10% da code- efeito de apneia e hipotensão arterial
ína é transformada em morfina, que intensa pela liberação de histamina.
é responsável pela sua ação analgé- Constipação, náuseas e vômitos, ton-
sica. Sua potência analgésica é 1/10 tura e sonolência são seus principais
em relação à morfina, uma vez que efeitos colaterais. A constipação é
cerca de 10% da população não pos- mais prevalente com codeína do que
sui a isoforma da enzima hepática com outros opioides.
citocromo P-450 necessária para o

SAIBA MAIS!
A codeína não é comumente utilizada para a dor em pacientes oncológicos, pois as diretrizes
para o gerenciamento da dor do câncer da National Comprehensive Cancer Network (NCCN)
e de outras organizações, incluindo a Associação Europeia de Cuidados, indicam que baixas
doses de morfina (até 30mg por dia) reduzem a dor significativamente em comparação com
a codeína em pacientes com dor moderada por câncer, com tolerabilidade semelhante.

Tramadol administração oral, com biodisponi-


bilidade de 90%. Possui meia-vida
É estruturalmente relacionado à co-
plasmática de 6-7 horas. A excreção
deína e à morfina, possuindo dois
é quase totalmente feita pelos rins
enantiômeros que contribuem para o
(90%). Não provoca imunossupres-
seu efeito analgésico. Age de forma a
são e o risco de dependência é baixo.
aumentar a liberação de serotonina e
Sua potência analgésica é 1/6 a 1/10
inibir a recaptação de noradrenalina.
da morfina. O tramadol é indicado
Causa menos constipação intestinal,
para dor pós-operatória, traumática,
depressão respiratória e dependên-
cólica biliar ou renal, trabalho de parto
cia do que outros opioides em doses
e dor crônica oncológica ou não onco-
analgésicas equipotentes. A absorção
lógica, particularmente a dor do tipo
do tramadol é rápida e completa após
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neuropática. A dose usual é de 50 a Com o início do tratamento ou o au-


100mg, de 4/4 ou 6/6 horas ou de mento da dose, os sintomas de su-
100 a 200mg a cada 12 horas para perdosagem podem demorar vários
o tramadol de liberação prolongada. dias para surgir, exigindo observa-
A dose diária máxima recomendada ção e monitorização pelo prescritor.
é até 400mg. Como não apresenta metabólito ati-
vo conhecido, é o mais indicado para
pacientes com insuficiência renal que
Metadona apresentam sonolência ou delírio com
É um opioide agonista sintético, po- a morfina, devido à ação da morfina-
tente, agonista opioide mu e antago- -6-glucuronídea. Sua excreção é es-
nista dos receptores N-metil-D-as- sencialmente fecal, sendo eliminada
partato (NMDA). É uma alternativa à em pequena quantidade pela urina.
morfina, sendo cada vez mais utiliza- É um opioide de baixo custo, mas
do na “rotação” dos opioides, no tra- deve ser adequadamente titulado.
tamento de retirada na dependência Existe variação na dose necessária
dos opioides e em pacientes que ne- para o alívio da dor. Para dor onco-
cessitam de tratamento prolongado. lógica, deve-se usar de 5 a 10mg, a
Causa menos dependência, menos cada 12 horas, por 3 a 5 dias, até se
euforia e sedação do que a maioria atingir o efeito desejado, devendo-se
dos outros opioides. adequar a dose e os intervalos para
É bem absorvido por via oral, com sua administração. Dose de resgate
biodisponibilidade de 80% a 90%. com morfina de liberação rápida deve
Apresenta redistribuição extensa ser utilizada com intervalos não me-
para músculo e gordura. Sua pres- nores que 3 horas. Seu baixo custo e
crição deve ser cautelosa, devido à a menor frequência de tomadas diá-
sua longa e imprevisível meia-vida rias fazem com que a metadona seja
de eliminação e seus efeitos cumula- indicada quando altas doses de mor-
tivos, necessitando-se de avaliações fina estão sendo utilizadas, especial-
frequentes para se conhecer a dose mente nos pacientes que apresentam
eficaz. A duração prolongada é de- um componente de dor neuropática,
corrente da ligação proteica com libe- devido a sua ação anti-NMDA. Exis-
ração lenta e da pequena capacida- tem complicações relacionadas a so-
de do fígado em metabolizá-la. Não bredoses não intencionais de meta-
produz metabólitos ativos, podendo dona, interações medicamentosas e
ocorrer acúmulo, já que o tempo para toxicidade cardíaca, como o prolon-
se atingir a concentração plasmática gamento de QT ao ECG e Torsade de
eficaz é longo. Pointes.
MANEJO DE OPIÓIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS 16

Hidromorfona agonista significativa em humanos,


com potência estimada em qua-
Disponível desde 1920, só recente-
tro vezes a da oxicodona, no entan-
mente foi liberada para utilização no
to, devido à sua baixa concentração
Brasil. É um congênere semissinté-
plasmática, ela promove pequeno ou
tico da morfina, com meia-vida de 4
nenhum efeito analgésico. A noroxi-
horas. É aproximadamente 5 vezes
codona é o principal metabólito circu-
mais potente do que a morfina e sua
lante, com atividade analgésica mais
dose usual é de 2 a 4 mg, a cada 4
fraca que a oxicodona (1/100) e não
ou 6 horas. A formulação disponível
contribui para o seu efeito.
no Brasil utiliza uma tecnologia cha-
mada OROS (osmotic-controlled A oxicodona de liberação cronogra-
release oral delivery) para liberação mada é caracterizada por mecanismo
monofásica prolongada e manuten- de absorção bifásico, isto é, inicial-
ção da analgesia por maior período. É mente o princípio ativo é rapidamente
disponível em comprimidos de 8, 16 liberado e absorvido, seguido de uma
e 32 mg, para uso de um comprimido fase de liberação prolongada apre-
a cada 24 horas. sentando meia-vida de absorção de
aproximadamente 0,6 hora na pri-
meira fase (38% da dose disponível)
Oxicodona e 6,9 horas na segunda fase (62%
É um agonista mu, com atividade da dose disponível). Atua, então, com
como agonista kappa. Por sua ação rápido início de ação e duração pro-
nos receptores kappa, tem vantagens longada, permitindo a administração
na dor de origem visceral, como na a cada 12 horas. O perfil farmacodi-
cólica biliar ou doenças do pâncreas. nâmico é previsível e o alívio da dor
É um derivado da tebaína. Sua bio- ocorre após uma hora, persistindo por
disponibilidade oral é de 60% a 87%, cerca de 12 horas na formulação de
duas vezes maior do que a morfi- liberação cronogramada. Os efeitos
na (20% a 25%). A ingestão de ali- adversos são os mesmos dos outros
mento não altera a farmacocinética opioides. É disponível no Brasil em
da oxicodona. É metabolizada no fí- comprimidos de 10, 20 e 40 mg.
gado. É mais potente que a morfina
por via oral e a relação da sua dose Meperidina
com a morfina varia entre 1:2 e 3:4.
No Brasil, a oxicodona só é disponível É, aproximadamente, 10 vezes me-
em formulação prolongada. Dos seus nos potente que a morfina por via pa-
metabólitos, apenas a oximorfona renteral. Apresenta biodisponibilida-
tem demonstrado atividade opioide de de 30% a 50%, devido à grande
MANEJO DE OPIÓIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS 17

extração hepática na primeira pas-


sagem e à baixa absorção após uso SE LIGA! A recomendação atual da
oral. Após injeção IM, a absorção é OMS é que a meperidina não seja usa-
da para tratamento da dor aguda e mui-
bastante variável. Após administra-
to menos para a dor crônica, pois causa
ção EV, a meperidina é rapidamente vício, sendo o desenvolvimento de to-
e extensivamente distribuída para os lerância muito rápido, podendo ocorrer
tecidos. Possui tempo de ação muito mesmo com o uso de dose única.
curto, tornando-a inadequada para o
alívio da dor que, somado ao fato da
Fentanil Transdérmico
sua neurotoxicidade, torna-a não re-
comendável para tratamento da dor. É um potente agonista com meia-
Seu principal metabólito, a normepe- -vida longa, que não deve ser usado
ridina, é extremamente neurotóxico, para titulação rápida. O fentanil trans-
podendo levar a convulsões genera- dérmico deve ser considerado quan-
lizadas. Pela maior meia-vida do seu do o paciente já está em terapia com
metabólito, pode acumular-se rapi- opioide, com dor constante, mas com
damente. A maioria dos hospitais e pouca dor episódica. É indicado em
centros de saúde descontinuou o seu pacientes impossibilitados de usar a
uso por esta razão. Na insuficiência via oral (odinofagia e/ou disfagia); em
renal e hepática, há acúmulo de me- casos de náuseas e vômitos persis-
tabólitos da meperidina. Seu uso com tentes; em situações que podem levar
IMAO é catastrófico, causando au- à broncoaspiração (delírio); em casos
mento da temperatura, delírio e con- de intolerância à morfina e aos outros
vulsão. Causa taquicardia, redução da opioides; e por sua facilidade de uso.
contratilidade do miocárdio e diminui Pode ser usado em pacientes com in-
o débito cardíaco em 20%. Causa mi- suficiência renal e nos pacientes em
dríase, enquanto os outros opioides diálise, com cuidado quanto à titula-
causam miose. A meperidina sistê- ção de sua dose. É o opioide que me-
mica causa anestesia da córnea, mas, nos provoca constipação intestinal.
apesar de seu efeito anestésico local,
Como ocorre com todos os outros
causa irritação tissular.
opioides de ação longa, a dose-res-
gate deve ser feita com opioide de
ação curta, preferencialmente morfi-
na oral de ação rápida, pois ainda não
existe disponível no mercado brasilei-
ro fentanil oral de ação rápida. Pode
levar até 24 horas, após a colocação
do adesivo, para proporcionar uma
MANEJO DE OPIÓIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS 18

analgesia eficaz; logo, deve-se fazer 4. ROTAÇÃO DOS


analgesia com morfina de ação rápida OPIOIDES
até que seu efeito comece. Cada ade-
A mudança ou troca de um opioide por
sivo tem ação por 72 horas, ação que
outro, mesmo sem a previsão de retor-
se mantém até 18 horas após sua re-
nar ao seu uso, é chamada de rotação
tirada. Os adesivos estão disponíveis
de opioide. Consiste na mudança de
no mercado nas doses de 12, 25, 50
um opioide por outro de mesma po-
e 100µg.
tência, utilizando uma tabela de equi-
valência analgésica para obter melhor
Buprenorfina resposta analgésica e menos efeitos
adversos. A rotação é baseada na ob-
Possui uma farmacologia complexa e
servação clínica que a resposta indivi-
é variavelmente descrita na literatura
dual varia de opioide para opioide, e a
como um agonista parcial no receptor
mudança de opioide pode levar a um
opioide mu com alta afinidade, mas
melhor balanço entre a analgesia obti-
baixa atividade, com antagonismo
da e seus efeitos adversos.
adicional no receptor kappa e em ou-
tros receptores opioides. Existem várias tabelas de equivalên-
cia analgésica de doses para a rota-
Como agonista parcial, pode ter um
ção de opioides, que são utilizadas
efeito teto para analgesia, mas a ex-
para reduzir o risco de uma overdo-
periência clínica com doses mais altas
se ou de dosagem insuficiente. Estas
para o tratamento da dor é limitada.
tabelas se apresentam como um guia
Como agonista parcial de alta afinida-
de orientação, devido às variabilida-
de, a buprenorfina tem a capacidade
des individuais, situações clínicas, di-
de induzir a abstinência se for admi-
ferenças de respostas analgésicas e
nistrada a pacientes que já são fisi-
dos efeitos adversos, que dificultam
camente dependentes de uma droga
o surgimento de uma tabela única
agonista pura, e isso complica o ma-
de uso universal. A titulação da dose
nejo de pacientes que mudaram para
deve ser individual, com aumento pro-
essa droga quando já dependiam fi-
gressivo e reavaliações frequentes.
sicamente de outro opioide. Pode ser
útil em pacientes com câncer e em
pacientes com insuficiência renal. Indicações
• Efeitos adversos intoleráveis;
• Eficácia analgésica insatisfatória
com aumento das doses;
MANEJO DE OPIÓIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS 19

• Interações medicamentosas po- analgésica de doses, no entanto, o


tencialmente perigosas; Guia de Cuidados Paliativos traz a
tabela de conversão para morfina via
• Preferência ou necessidade por
oral como padrão.
outra via de adminstração;
Ao realizar a conversão de opioides,
• Mudança no quadro clínico geral as doses podem ser ajustadas para
(p. ex., má́ absorção, interrupção cima ou para baixo para o melhor
da dieta oral, suspeita de abuso de controle dos sintomas do paciente.
medicamentos etc.); É necessário um cuidado especial
• Disponibilidade e custos. quando se altera entre os opioides
em doses mais elevadas ou quando a
dose do primeiro opioide foi aumen-
Deve-se avaliar fatores como comor- tada rapidamente, pois esses pacien-
bidades, alergias, condição psicosso- tes apresentam maior risco de efeitos
cial, se o paciente está internado ou em adversos.
tratamento ambulatorial, idade e outros
medicamentos em uso, tentando ob- No momento da rotação de morfina
servar todos os fatores que possam in- para outro opioide, se a dor estiver
fluenciar no sucesso dessa estratégia. controlada, normalmente se faz a re-
dução da dose equianalgésica em 25-
50%. Quando a dor não se encontra
Como fazer a rotação? controlada, a redução da dose deve
ser menor ou inexistente, podendo-
Como dito anteriormente, exis-
-se aumentar a dose equianalgésica
tem várias tabelas de equivalência
em até 50%.

DOSE EQUIVALENTE DE MORFI-


DROGA RAZÃO DE CONVERSÃO
NA ORAL
OPIOIDES ORAIS FRACOS
Codeína 60mg 6mg 10:1
Tramadol 100mg 20mg 5:1
OPIOIDES ORAIS FORTES
Morfina de Liberação Cronograma- 1:1 (MLC deve ser prescrita de
10mg
da (MLC) 10mg 12/12h)
Oxicodona oral 10mg 20mg 1:2
OPIOIDES FORTES PARENTERAIS
Morfina IV ou SC 5mg 15mg 1:3
Fentanil IV ou SC 1mg 30mg 1:30
Tabela 1. Tabela de conversão de opioides para morfina
MANEJO DE OPIÓIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS 20

Para todas as drogas colocadas do Se o paciente faz uso de até 100mg


lado esquerdo da tabela, existirá uma diários de morfina oral, a taxa de con-
dose equivalente de morfina oral. Com versão para metadona é de 4:1, ou
isso, é possível converter qualquer seja, a metadona é quatro vezes mais
dose desses medicamentos para uma forte do que a morfina. No entanto, se
dose equivalente de morfina oral e, ele faz uso de 101 a 300mg, a taxa
posteriormente, para uma dose equi- de conversão é alterada para 8:1 e,
valente de outro medicamento que se acima de 301mg, essa taxa passa
queira utilizar. A dose do medicamen- para 12:1. Mas por que existe essa
to será a dose diária que o paciente diferença na taxa de conversão? Se
usa, ou seja, a dose de 24 horas. a taxa de conversão fosse sempre a
Ao observar a codeína, por exemplo, mesma, por exemplo, 4:1, o paciente
tem-se que a dose diária dela é de que usa doses mais altas de morfina
60mg. A razão de conversão para a oral também acabaria usando doses
morfina oral é de 10:1, ou seja, a mor- mais altas de metadona, mas devido
fina é 10 vezes mais forte que a co- à sua liberação errática, o risco de in-
deína. Dessa forma, se a dose diária toxicação com doses maiores é muito
da codeína é de 60mg, a de morfina alto. Dessa forma, quanto mais alta a
oral será de 6mg. dose de morfina, maior a margem de
segurança que eu preciso ter para o
Uma particularidade que existe nes- uso da metadona.
se processo é a metadona, pois ela é
um opioide forte de liberação errática. No entanto, quando é preciso fazer a
Dessa forma, a depender da dose de conversão contrária, ou seja, de me-
morfina oral usada em 24h, a taxa de tadona para morfina oral, estamos
conversão para metadona é diferen- saindo de uma droga de liberação er-
te. Deve-se seguir, então, a seguinte rática para uma droga mais “segura”,
tabela: então a relação metadona/morfina
será sempre de 1:3.
Tabela de conversão da Morfina Oral para
Metadona Como dito anteriormente, toda vez
Dose de Morfina Oral Razão de conversão que se realiza a rotação de opioides,
24h (morfina/metadona) as doses podem ser ajustadas para
Até 100mg 4:1 cima ou para baixo de acordo com o
101 a 300mg 8:1 controle da dor do paciente. No caso
Mais que 301mg 12:1 da conversão de morfina oral para
Tabela de conversão de Metadona metadona, assim como nas outras
para Morfina Oral
drogas, se o paciente estiver com a
Metadona/Morfina 1:3
dor controlada, a dose da metadona
Tabela 1. Tabela de conversão de opioides para
morfina
pode ser reduzida em 25-50%; por
MANEJO DE OPIÓIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS 21

outro lado, caso o paciente persista


com dor, essa dose pode ser aumen- 30mg de metadona. O uso da metado-
na é feito de 8 em 8 horas, dessa forma,
tada em até 50%. Carla fará uso de 10mg de metadona a
cada 8 horas, resultando nos 30mg/dia.
Caso a dor de Carla seja controlada no
SE LIGA! A conversão de morfina para uso da metadona, os médicos podem
metadona deve passar por um período optar pela redução dessa dose para 15
de adaptação. No primeiro dia, deve-se a 22,5mg/dia. Caso a dor de Carla per-
administrar um terço da dose de meta- sista, os médicos podem aumentar essa
dona e dois terços da dose de morfina; dose diária para até 45mg.
no segundo dia, dois terços da dose de
metadona e um terço da dose de mor-
fina; e no terceiro dia, a dose completa
de metadona, suspendendo a morfina. 5. DICAS DE PRESCRIÇÃO
Mesmo após a rotação, algumas vezes DOS OPIOIDES
deve-se utilizar a morfina como dose de
resgate, pelo fato da sua ação ser mais Para o uso dos opioides na prática clí-
rápida que a ação da metadona. nica, é importante conhecer algumas
dicas para uma melhor prescrição.
• Aumento gradual: é essencial que
NA PRÁTICA! Carla, 48 anos, possui seja feito o aumento gradual da
um câncer gástrico com metástase para dose da droga devido ao risco de
esôfago, duodeno e pulmão, já sem op- intoxicação e de efeitos adversos
ções de tratamento. Há 1 ano, sente
fortes dores no estômago, inicialmente que essas drogas trazem, mesmo
amenizadas com o uso de morfina oral que se esteja diante de uma ur-
25mg de 4 em 4 horas. Com o passar gência médica – a dor.
do tempo, Carla passou a apresentar
episódios muito frequentes de náusea e • Dose resgate: este é outro pon-
vômitos, que estão altamente relaciona- to fundamental. Toda vez que se
dos à morfina oral. O médico paliativista,
em conjunto com a médica oncologista
prescreve uma analgesia continu-
de Carla, optaram por retirar a morfina ada, principalmente com opioides,
oral e introduzir a metadona, no intuito deve-se prescrever uma dose de
de controlar as náuseas e oferecer maior resgate. Essa dose de resgate será
conforto para paciente. Para realizar a
conversão, primeiramente os médicos 1/6 da dose diária total de morfi-
calcularam qual seria a dose diária (em na oral. Todas as vezes que a dose
24 horas) que Carla utilizava de morfi- de resgate for utilizada, o paciente
na oral, multiplicando 25mg por 6, vis-
to que ela faz uso do opioide de 4 em
deve ser reavaliado em 15 minu-
4 horas, resultando em 240mg/dia. De tos, se a via de administração for
acordo com a tabela, os médicos obser- endovenosa ou parenteral, e em
varam que a razão seria de 8:1 e divi- 30 min caso a via de administração
diram as 240mg diárias de morfina oral
por 8, resultando em uma dose diária de seja oral. É importante observar se
MANEJO DE OPIÓIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS 22

o paciente está fazendo mais de 3 a dose das 23h para 30mg e sus-
usos de dose de resgate por dia ou pender a dose das 3h para que ele
se ele está fazendo uso de doses não precise interromper o sono.
de resgate em intervalos de tempo
• Substituição de um opioide fra-
muito curtos (de 15 em 15 minu-
co por um forte: existe uma ten-
tos), pois caso isso esteja aconte-
dência global de substituir opioi-
cendo, é provável que a analgesia
des fracos (Codeína e Tramadol)
basal desse paciente não esteja
por opioides fortes em baixas do-
sendo efetiva e, assim, o médico
ses (ex. Morfina 5mg, VO, 6x/dia
pode avaliar a mudança do manejo
e Oxicodona, 10mg, 2x/dia). Isso
da dose diária da medicação.
ocorre porque tem se observado
que opioides fortes em baixas do-
SE LIGA! O profissional deve observar o ses têm melhor efeito analgésico
momento do dia em que o paciente sen- que opioides fracos, mas com me-
te necessidade do uso da dose de res-
gate. Será que essa necessidade é em nos efeitos adversos.
algum momento de maior mobilização
do paciente (tomar banho, realizar fisio-
• Efeitos colaterais: é necessário o
terapia), ou algum momento de maior conhecimento dos efeitos colate-
emoção, como a chegada de um fami- rais mais importantes e frequen-
liar? Caso isso esteja acontecendo, não é tes, bem como quais opioides es-
necessário o aumento da dose diária da
droga, basta aumentar a dose daquele tão relacionados a esses efeitos
momento em que o uso da dose de res- colaterais.
gate é frequente.
◊ Opioides que mais causam
náuseas e vômitos: Trama-
• Dose noturna: na fase de controle dol e Codeína são os opioides
da dor, o paciente deve ser instru- mais nauseantes. A morfi-
ído a acordar durante a noite para na também pode apresentar
tomar a medicação no horário cor- esse efeito, embora com uma
reto mesmo que ele esteja sem frequência menor, e a meta-
dor. Após essa fase, a última dose dona é a opção via oral menos
de morfina de liberação imediata nauseante.
antes de dormir pode ser admi-
nistrada dobrada, para que o pa- SE LIGA! A mesma mão que prescreve
ciente não precise acordar no meio um opioide, prescreve um antiemético,
se necessário.
da noite para tomar a medicação.
Por exemplo: se o paciente recebe
15mg de morfina às 3, 7, 11, 15,
19 e 23 horas, pode-se modificar
MANEJO DE OPIÓIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS 23

◊ Opioides com maior tendên- • Antidepressivo ou anti-


cia a provocar crises convul- convulsivante: útil para
sivas: os opioides, por si só, já dor neuropática. Não há
reduzem o limiar convulsivo nenhuma diferença clara
do paciente, e os medicamen- na eficácia entre os dois
tos que mais apresentam esse tipos de medicamen-
efeito são o Tramadol e a Me- tos para essa indicação,
tadona, devendo ser evitados mas é importante clinica-
em pacientes que já possuem mente lembrar que ge-
uma tendência à ocorrência ralmente a amitriptilina
de crises convulsivas. causa mais sono do que a
◊ Terapia Adjuvante: os pa- gabapentina.
cientes em uso de opioides • Corticosteroides: favore-
podem se beneficiar de te- cem o controle de náuse-
rapias adjuvantes para o seu as, melhora do apetite e
melhor conforto. Algumas op- qualidade de vida por cur-
ções são: to prazo. Considere prote-
• AINE: útil para dor óssea, ção gástrica e monitore a
dor no fígado, infiltração glicemia. As opções mais
de tecidos moles ou dor utilizadas são dexameta-
inflamatória. Tem como sona e prednisolona.
efeitos colaterais a ul- ◊ Potencializadores da ação
ceração gastrointestinal de opioides: não existe be-
ou sangramento, insufi- nefício relevante na associa-
ciência renal e retenção ção entre um opioide fraco e
de líquidos. Considerar um opioide forte ou entre dois
proteção gástrica nestes opioides fortes para uso con-
pacientes. tínuo. Entretanto, Paracetamol
ou Dipirona podem trabalhar
sinergicamente com opioides.
Por exemplo, a associação
de Paracetamol com Codeína
pode provocar um alívio de até
50% da dor em 4-6 horas. A
associação de morfina com di-
pirona também apresenta óti-
mos resultados no controle da
dor.
MANEJO DE OPIÓIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS 24

SAIBA MAIS!
Os patchs transdérmicos são medicações em forma de adesivos que não rebaixam tanto o
limiar convulsivo do paciente, podendo ser utilizados por aqueles pacientes que já possuem
uma tendência a crises convulsivas. Os patchs transdérmicos mais comuns são o de fentanil
e o de buprenorfina.
Quando usar Patch Fentanil Transdérmico: deve ser utilizado apenas quando a dor do
paciente estiver estável, visto que dura cerca de 24 horas para o adesivo alcançar um estado
estacionário de analgesia, de modo que as doses não podem ser alteradas rapidamente. Por
isso, quando a via oral não estiver mais disponível, geralmente nos últimos dias de vida, não é
indicado iniciar Fentanil Patch, visto que pode demorar muito para atingir o estado estacioná-
rio. Além disso, uma vez retirado adesivo, pode levar 12-18 horas para os efeitos cessarem.
Quando usar Patch Buprenorfina Transdérmico: o uso da Buprenorfina é indicado para
pacientes com dor moderada a grave, sendo uma opção segura e efetiva para o tratamento
da dor crônica oncológica e não oncológica. Além da posologia ser confortável, sendo a troca
necessária apenas a cada 7 dias, seu uso não requer ajuste de dose para pacientes idosos
e nem com insuficiência renal, não causando desregulação imunológica, nem em hormônios
sexuais. O efeito máximo da droga, quando usada pela primeira vez, pode levar até 3 dias,
portanto, deve-se prescrever analgesia de ação curta nos primeiros 3 dias. A buprenorfina é
o único opioide que apresenta um teto para a depressão respiratória quando utilizada isola-
damente. Apesar disso, os efeitos da Buprenorfina podem ser completamente revertidos pela
Naloxona.
Como foi dito acima, o efeito desses adesivos pode demorar a surgir e pode não ser suficien-
te. Dessa forma, o uso da terapia adjuvante pode se fazer necessária, seguindo o mesmo
padrão já visto anteriormente.

Intoxicação por opioide metástase cerebral e efeito adver-


so de outras drogas. Em particular,
A intoxicação por opioides pode estar
alguns desses sinais podem estar
relacionada tanto a dose, quanto ao
presentes em pacientes que estão
próprio opioide que o paciente está
de fato morrendo, em vez de estar
usando. Devido a isso, todas as vezes
em intoxicação por opioide. Nes-
que houver suspeita desse quadro, é
ses casos, os sintomas devem ser
necessária uma avaliação inicial, que
paliados, e não necessariamente
consiste em, primeiramente, descar-
descontinuar o opioide.
tar outras causas.
• Se trata realmente de uma in-
SE LIGA! A presença de depressão do
toxicação? Deve-se excluir ou- sensório sem pupila puntiforme é indi-
tras causas reversíveis além de cativa de que a causa do rebaixamento
toxicidade por opioides, como, por do nível de consciência não é pelo opioi-
de em si.
exemplo, sepse, hipercalcemia,
MANEJO DE OPIÓIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS 25

• Qual a causa mais provável de Na intoxicação moderada, o pacien-


uma intoxicação por opioide? te já apresenta certa confusão men-
As causas mais comuns ocorrem tal, mioclonia, espasmos musculares,
quando o paciente recebe uma sonhos vívidos, alucinações e se en-
dose maior do opioide, acidental- contra agitado. A conduta adequada
mente; possui ou desenvolve al- vai depender da via de administração
gum dano renal ou hepático, im- desse opioide:
pedindo secreção ou metabolismo
• Formulação de liberação imediata:
do opioide; responde à terapia ad-
omitir próxima dose e reiniciar com
juvante, levando a uma menor ne-
dose menor (ex: reiniciar com 1/3
cessidade de opioide; se encontra
da dose);
desidratado, com episódio de vô-
mitos e/ou diarreia; possui dor que • Formulação de liberação aumen-
não é responsível a opioides (nes- tada: considerar converter para
se caso, outras drogas analgésicas formulações de liberação (de 4 em
devem ser usadas); ou utiliza asso- 4 horas), reduzir a dose, retitular e
ciado ao opioide outras drogas que reidratar;
juntas levem à depressão do SNC, • Infusão subcutânea: parar por 4
como por exemplo, Benzodiazepí- a 6 horas e reavaliar. Se houver
nicos e Antidepressivos Tricíclicos. melhora, reiniciar o uso com dose
reduzida;
Manejo da intoxicação por • Patch transdérmico: procurar aju-
opioides: da com equipe de Dor e Cuidados
Para saber qual a conduta mais ade- Paliativos.
quada para o paciente que se encon-
tra intoxicado, é necessário classificar Na intoxicação grave, o paciente já
a intoxicação nos graus leve, modera- apresentará uma depressão respi-
do e grave de acordo com a sintoma- ratória, com frequência inferior a 8 a
tologia apresentada. 10 ipm, além de hipotensão e perda
Na intoxicação leve, o paciente pode da consciência. Nesse caso, deve-se
apresentar vômitos, sonolência au- suspender o uso do opioide imedia-
mentada e pupila puntiforme. A con- tamente e considerar o uso do Nalo-
duta, nesse caso, é a redução da xone na dose de 0,4 a 2 mg por via
dose do opioide em 1/3, associada à endovenosa. O Naloxone é um anta-
hidratação do paciente sempre que gonista de opioide, mas sua meia-vi-
possível. da é muito curta, devendo ser repeti-
do em intervalos de 2-3 minutos até
MANEJO DE OPIÓIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS 26

a melhoria do padrão respiratório do


paciente. O efeito do Naloxone pas-
sa rapidamente, por isso, o paciente
deve ser mantido em observação por
mais 30 minutos e novos boulos da
droga devem ser administrados, se
necessário. A bomba de infusão pode
ser necessária.

SE LIGA! O uso de Naloxone pode le-


var à suspensão aguda do opioide e fa-
zer com que a dor do paciente piore à
medida que o efeito do opioide é rever-
tido. Portanto, o Naloxone deve ser uti-
lizado somente em casos de toxicidade
severa.
MANEJO DE OPIÓIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS 27

MANEJO DA INTOXICAÇÃO POR OPIOIDE

INTOXICAÇÃO
POR OPIOIDE

LEVE MODERADA GRAVE

Confusão, mioclonia,
Vômito, sonolência Depressão respiratória (FR
espasmos musculares,
aumentada, pupila < 8-10 ipm), hipotensão,
alucinações, agitações,
puntiforme perda de consciência
sonhos vívidos

Reduzir a dose do Parar opioide e


opioide em 1/3 e Liberação Liberação Infusão Patch considerar o uso de
garantir boa hidratação imediata aumentada subcutânea transdérmico Naloxone

Considerar
converter para
Parar por 4-6h
Omitir próxima formulação Procurar ajuda
e reavaliar.
dose e reiniciar de liberação com equipe de
Se melhora,
com dose imediata, Dor e Cuidados
reiniciar com
menor reduzir a Paliativos
dose menor
dose, hidratar,
retitular
MANEJO DE OPIÓIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS 28

MANEJO DE OPIOIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS

Inibição das vias nociceptivas


Visa a melhora da qualidade de vida
Abertura dos canais e cálcio + inibição dos
do paciente
canais de cálcio controlados por voltagem.
Suporte familiar CUIDADOS Mecanismo de
Desinibição de outras vias neuronais
PALIATIVOS OPIOIDES ação
Alívio da dor e outros sintomas
Inibição da entrada de cálcio  redução da
Afirmar a vida e reconhecer a morte liberação de neurotransmissores
como processo natural Hiperpolarização  redução da excitabilidade
neuronal
Como fazer
Mu (µ)
Conversão de morfina oral para Ativado pela morfina
metadona:
Maior importância clínica: inibição das vias
Metadona possui liberação errática nociceptivas e redução de neurotransmissores
Receptores pré-sinápticos
Deve-se seguir uma tabela com razão
de conversão diferenciada Kappa (k)
De metadona para morfina, a razão de ROTAÇÃO Dor visceral e nocicepção térmica
conversão é sempre de 1:3 DE OPIOIDES
Conversão de dose para morfina Delta (δ)
oral e posteriormente para o opioide de Dor mecânica e inflamatória
desejo SELEÇÃO
DOS
Fazer ajuste de dose se necessário OPIOIDES
Confirmar e buscar causa
Usar tabela de conversão
Leve
Atentar para
Indicações populações Reduzir dose e hidratar
especiais
Intoxicação Moderada
Mudança no quadro clínico Pacientes mais velhos Depende da via de administração
Preferência ou necessidade de outra
Doença renal Grave
via de administração
Eficácia analgésica insatisfatória Morfina é contraindicada Suspender opioide e considerar naloxone

Efeitos adversos intoleráveis Insuficiência hepática

Disponibilidade e custos Os opioides de metabolização hepática Efeitos colaterais


devem ter suas doses espaçadas
Aumento gradual
Prescrição
Dose resgate

Dose noturna
MANEJO DE OPIÓIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS 29

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
UpToDate - Cancer pain management with opioids: Optimizing analgesia, Russell K.
UpToDate - Cancer pain management: General principles and risk management for patients
receiving opioids, Russell K.
UpToDate - Use of opioids in the management of chronic non-cancer pain, Richard Rosenquist.
Manual de Cuidados Paliativos ANCP, 2ª edição.
Guia de Bolso de Cuidados Paliativos
Manual do Residente de Clínica Médica, 2ª edição.
Dor e Cuidados Paliativos: enfermagem, medicina e psicologia.
MANEJO DE OPIÓIDES EM CUIDADOS PALIATIVOS 30

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