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Tópicos Especiais em Cuidados Paliativos

Conteudista: Profª. Lívia Maria Rossatto


Revisão Técnica: M.ª Josiane Travençolo
Revisão Textual: Vanessa Dias

Material Teórico

Material Complementar

Referências
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Material Teórico

 Objetivos da Unidade:

Conhecer aspectos espirituais e psicológicos que cercam o processo da


morte.

Refletir sobre aspectos éticos que envolvem doenças sem possibilidade de


cura.

Respeitar vontade do paciente e seus familiares, bem como reconhecer


habilidades profissionais necessárias para o aconselhamento.

O Início do Fim

Antes de iniciarmos esse conteúdo, assista o vídeo sobre Cuidados


Paliativos da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, “O equilíbrio
é a grande arte dos Cuidados Paliativos”. Conteúdo curto e
esclarecedor sobre a temática em questão.

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O equilíbrio é a grande arte dos Cuidados Paliativos

O equilíbrio é a grande arte dos Cuidados


Paliativos
O equilíbrio é a grande arte dos Cuidados Paliativos, primeiro capitulo da
minissérie de quatro capítulos da ANCP Para assistir as demais vídeos da série,
ac...
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As questões pessoais que circundam o paciente no momento da morte estão relacionadas às


incertezas, falta de controle, medo e necessidades espirituais. Nesse momento, surgem
situações pessoais antigas que necessitam de apoio e, as horas finais geralmente são repletas
de tristeza e saudade.

Tal como o nascer, o morrer também é um momento ímpar. Familiares, amigos e cuidadores
viverão um momento de intenso sofrimento, independentemente de ter havido um “preparo”
para o fim.

Nessa ocasião, o uso de recursos terapêuticos de forma desenfreada deve ser avaliado pois
geralmente os efeitos são nocivos e poucos são os benefícios. Além disso, expõe o paciente e
seus familiares a mais dor e sofrimento do que a própria doença de base.

Essas situações geralmente acontecem em locais onde a morte não é aceita como um processo
natural ou quando os profissionais sentem-se inseguros legalmente. É importante ressaltar que
o uso desses recursos causa dependência do paciente em relação ao suporte hospitalar,
afastamento do contato com familiares e amigos, falta de privacidade e individualidade,
especialmente quando internados em unidades de terapia intensiva.

Nas últimas horas de vida observamos um declínio funcional intenso, sendo necessário
condutas e cuidados da equipe profissional. Nessa hora, o que queremos é promover conforto e
controle dos sintomas, suavizando os últimos momentos de vida.

O processo de morte é difícil de ser reconhecido, precisamos estar atentos que em determinado
momento da evolução da doença algumas situações são irreversíveis e os tratamentos não
devem objetivar o prolongamento da vida, que consequentemente trarão também o
prolongamento do sofrimento.

A avaliação clínica deve acontecer em um menor espaço de tempo e novas condutas devem ser
consideradas, sempre que necessária a intervenção.

É comum que, nos momentos finais, o paciente apresente-se mais desconectado da vida,
comunicando-se de forma prejudicada, alimentando-se e movimentando-se também com
dificuldade. As expressões não verbais tornam-se difíceis de serem interpretadas e podem
sugerir, muitas vezes, dor ou sofrimento.
É impossível que familiares e cuidadores não percebam a gravidade do quadro e, quando estão
preparados, esse momento é calmo e a espiritualidade, já tratada nessa unidade, pode auxiliar a
todos no momento de partida.

Os sintomas mais comuns nessa fase são anorexia, ausência de ingestão de líquidos,
imobilidade, sonolência, dor, abalos musculares involuntários (mioclônus), falência funcional,
colapso periférico e ronco da morte.

Nesses instantes finais, pode aparecer a agonia e todos os demais sintomas já apresentados
devem ser minuciosamente tratados e antevistos, sempre que possível. A prevenção é a melhor
medida. Além da terapêutica específica, medidas de conforto, bem como de apoio espiritual e
familiar, são fundamentais nessa fase.

Todos eles, pacientes e familiares, devem se sentir acolhidos, permanecerem continuamente


acompanhados uns dos outros e com apoio de profissionais, cabe aqui reforçar que em cuidados
paliativos pode haver a escolha do local da morte, hospital ou domicílio, o doente e familiares
devem discutir previamente o desejo, bem com o suporte necessário e recursos de apoio, tais
como estrutura domiciliar, familiar e do cuidador.

Uma orientação religiosa também pode ser fundamental para o conforto da família e deve ser
estimulado pelos profissionais, respeitando as crenças e a história de vida do paciente.

Mesmo considerando o despreparo e o desconhecimento sobre o processo de morte, a equipe


profissional deve estar preparada para reconhecer sintomas desconfortáveis e tratá-los com
atenção, interesse e, quando aplicável, com técnicas determinadas. Nesse momento, estamos na
maior limitação do ser humano – a proximidade do fim da vida – e, esse confronto interno
requer atendimento humanizado e respeito.

Aspectos éticos em cuidados paliativos


Como já apresentada, a evolução tecnológica que vivemos nas últimas décadas e o aumento da
expectativa de vida modificou todo o panorama de saúde da população, a causa de morte da
população deixou de ser por doenças infecto-contagiosas para ser por doenças crônico-
degenerativas, relacionadas tanto ao processo de envelhecimento celular quanto ao estilo de
vida que atualmente adotamos.

Assim, as discussões sobre a cura das doenças, bem como a qualidade de vida dos pacientes
portadores de doenças começam a surgir e, quanto mais a Medicina evolui em suas técnicas,
com o surgimento de novos medicamentos e equipamentos de manutenção da vida, maiores
serão os dilemas éticos, especialmente nas situações que não encontraremos a cura (PINTO,
2008).

Para tanto, é necessário conhecermos os quatro princípios bioéticos, que serão apresentados a
seguir.

Princípio da beneficência
Esse princípio traz o conceito de devemos tratar as pessoas como seres autônomos e que nosso
objetivo seja sempre agir em benefício do outro, nos abstendo de prejudicar o outro.

Em Cuidados Paliativos, os dois pilares do cuidado estão relacionados ao controle dos sintomas e
qualidade de vida do paciente.

Princípio da não maleficência


Esse princípio determina que não devemos, de forma intencional, ocasionar dano ao outro.

Em cuidados paliativos, o prolongamento da morte com sofrimento deve ser evitado, por
exemplo, com a não instituição de procedimentos invasivos e/ou agressivos que não trarão
benefícios aos pacientes.

Princípio da autonomia
Esse princípio determina que o paciente tem seus direitos de liberdade, privacidade, escolha
individual, liberdade da vontade e pertencimento a si mesmo (BEAU-CHAMP, 2002).

Em Cuidados Paliativos é um dos princípios melhor respeitados, considerando seres humanos


autônomos que devem decidir, por si só, os caminhos que querem seguir, orientados por um
profissional.

Assim, não submetemos o paciente ao paternalismo médico, onde o profissional define o


tratamento sem discuti-lo com o principal envolvido no processo terapêutico. O cuidado no fim
da vida é algo programado e compartilhado entre profissional, paciente e familiares, que
constroem um processo de morte baseado no respeito às experiências e desejos, pautada por
conhecimento técnico qualificado.

Atualmente, o termo “autonomia do paciente” vem sendo discutido


por diversos profissionais em diferentes áreas de atuação. Vale a pena
conhecer o “Caderno de Psicologia – Autonomia do Paciente: uma
questão para oncologia?” do Ministério da Saúde, em parceria com o
Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) no
link a seguir.

BVSALUD
VEJA EM BVSALUD 

Princípio da justiça
Nesse princípio, devemos considerar que os tratamentos médicos visam a cura e a probabilidade
de sucesso é o critério mais relevante. Nesse contexto, a justiça está em definir que recursos
médicos deverão ser utilizados e em casos de recursos definidos, que devem ser distribuídos
entre pacientes, o princípio norteador deve ser a chance de benefício para cada um deles. Assim,
não haverá desperdício de recursos.

Eutanásia e ortotanásia
A eutanásia é definida pelo abreviamento da vida, feito pela ajuda de terceiros, de forma a
amenizar a dor ou sofrimento de pacientes portadores de situações que não condizem com a
vida, na percepção do paciente. Trata-se de uma prática proibida no Brasil, classificada, em
nosso meio, como homicídio.

Deve ser diferenciada da ortotanásia, definido pelo ato de cessar o uso de recursos que
prolonguem artificialmente a vida quando não há mais chances de recuperação (por exemplo,
ressuscitação cardiopulmonar).

Cabe ainda descrever o conceito de distanásia que é exatamente o contrário da ortotanásia,


quando se utilizam medicamentos, técnicas e equipamentos para prolongar a vida do paciente.
A diferença está, basicamente, na intenção. Na eutanásia, o que se pretende é aliviar o
sofrimento alheio por meio de utilização de recursos que cessem o sofrimento por meio da
morte (utilização de técnicas e drogas que abreviem a vida). Já na ortotanásia, a intenção é não
prolongar o curso natural da vida por meio de técnicas e equipamentos que, de certa forma,
possam prolongá-la (como, por exemplo, melhorar a nutrição, utilizar respirador, submeter o
paciente após uma parada cardíaca a manobras de ressuscitação).

Não cabe ao profissional infringir a legislação, mas devemos, na medida do possível, entender
as necessidades do paciente. Talvez esse seja também um dos grandes dilemas em cuidados
paliativos, e hoje sua direção está em definir cuidados que promovam conforto garantindo o
curso natural da doença e do processo de morte.

Tecnologia sustentadora da vida em UTI


A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é o local, no ambiente hospitalar, para onde se direcionam
os pacientes que necessitam de cuidados especiais, provocados por doenças agudas ou
complicações de doenças crônicas, ou que tenham alto risco de agravo ou mortalidade. Nesse
local, o paciente é monitorado todo o tempo.

Conforme já abordado, o avanço tecnológico ocasionado nas últimas décadas trouxe para esse
ambiente recursos que, por vezes, são utilizados como suporte artificial de vida ao paciente. São
equipamentos que, quase sempre, substituem a função do órgão ou sistema e que, quando
utilizados, podem prolongar a vida do paciente.

Nesse contexto, também surgem profissionais que indicam tais procedimentos ou


equipamentos, pessoas que não foram preparados para enfrentar o fim da vida, mas sim, para
serem suporte na busca constante à cura das doenças e a melhoria das condições de saúde da
população.

Por isso, apesar de estarmos sempre buscando a cura, é impossível tentar adiar a morte quando
o corpo, por meio de sinais e sintomas, evidência que não há mais viabilidade biológica para
continuar. Nesse processo, outras dimensões psicológicas, espirituais, sociais devem ser
consideradas e assistidas pela equipe.
Não é um momento fácil tampouco agradável. Mesmo vivenciando isso diariamente, os
profissionais da UTI precisam encarar a assistência técnica ao paciente bem como todo o apoio
ao familiar. E nesse momento também nos deparamos com nossas próprias crenças e
experiências pessoais e profissionais que determinarão o impacto em nossas vidas e aí,
distanciar-se, é mais fácil.

Há ambiguidade no conceito de cuidados intensivos e cuidados paliativos. Pacientes sob


cuidados intensivos estão tentando viver e os profissionais ali estão tentando salvar e prolongar
a vida, os equipamentos, medicamentos e técnicas complexas são rotina.

Já os pacientes sob cuidados paliativos estão em busca de conforto, sabem o futuro, sem saber o
tempo. Os profissionais envolvidos estão em busca de conforto e alívio (tanto físicos como
emocionais), controle da dor e outras reações desconfortáveis em busca de melhorar na
qualidade de vida do paciente até o seu fim; os objetivos são os mesmos mas, as prioridades são
diferentes, portanto fica a pergunta: na UTI cabe realizar cuidados paliativos?

A resposta é simples, não é o local que define o cuidado. Muitos pacientes estão na UTI sem
possibilidade de cura e serão submetidos a cuidados paliativos. As famílias nem sempre são
comunicadas com transparência sobre o prognóstico de situações que levaram o paciente à UTI
e a cobrança pela manutenção da vida é ainda maior e a aceitação de morte mais difícil.

Há de ser revisto, também, se todos os pacientes que vão para a UTI deveriam mesmo ser
direcionados para lá. Quantos desses pacientes tem, verdadeiramente, indicação de
monitorização e tratamento agressivo? Desses, quantos apresentam no decorrer de sua
evolução dados inequívocos de que não mais se beneficiarão de estar na UTI? Quantos desses
efetivamente sairão da UTI?

A realidade nos mostra que, muitas vezes, o caminho hospitalar ainda é cultural e há falta de
profissionais e equipes habilitados em cuidados paliativos para avaliação e definição do melhor
local para o paciente estar. Nesse sentido parece mais apropriado lançar um novo olhar para o
velho problema.

Uma vez que a morte é um processo iminente para pacientes internados nesse local não seria
razoável que a equipe de UTI estivesse preparada para paliar, obtendo habilidades específicas em
comunicação e manejo de conflitos, planejamento da postura frente ao paciente/família a partir
de cada novo problema, observando o exercício da autonomia, geralmente tão pouco valorizado
nesse ambiente.

Dessa forma, vale reforçar que os cuidados paliativos não excluem, em nenhum momento, os
cuidados intensivos. São cuidados complementares!

Antes de tentarmos mudar a cultura podemos enfrentar as dificuldades que nos impedem
profissionalmente de atuarmos pelo alívio do sofrimento dos pacientes que, por estarem na UTI,
são privados de uma morte digna, sofrendo dor, longe de seus familiares e em situação de
abandono social e espiritual.

As discussões e a preparação de novos profissionais deve ser pautada em uma Unidade de


Cuidados Paliativos dentro da UTI, com equipes que se complementem, e que o olhar sob o
cuidado seja revisto no sentido de promover uma melhor assistência, especialmente para os
pacientes terminais.

Sedação paliativa

Por ser uma terapêutica que remete o profissional dilemas éticos


assistenciais, o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo, no
ano de 2011, disponibilizou o Parecer Coren –SP GAB nº 023/2011.
Assunto: Sedação Paliativa em Oncologia. Leia e se informe mais sobre
o assunto.
COREN-SP

VEJA EM COREN-SP 

É sabido que pacientes sob cuidados paliativos que estão em fase avançada da doença,
oncológica ou não, apresentam diversos sintomas que provocam sofrimento, sejam eles físicos
(dor, dispneia, constipação), psicossociais (medo, angústia, delirium) e espirituais
(desesperança).

Assim, os profissionais devem estar atentos ao tratamento mas também devem considerar que
esses sintomas geram ainda mais angústia e sofrimento, tanto ao paciente quanto aos seus
familiares e assim, determinar precocemente a introdução de sedação paliativa como uma opção
de tratamento.

Há aqui de se diferenciar a sedação paliativa da eutanásia mascarada ou suicídio assistido; tal


procedimento não tem o objetivo de abreviar a vida tampouco de acelerar sua morte, a principal
intenção é o alívio dos sintomas e da angústia, tanto do paciente, quanto dos familiares.
Não há padrão específico na indicação da sedação, bem como nos medicamentos utilizados.
Cabe discutir que a sedação não é analgésica, portanto, não se utilizam analgésicos potentes
como sedação paliativa e sim medicamentos sedativos, que poderão “deprimir” o paciente e
levá-lo, como propriamente dito, a quadro de sedação com alívio da dor.

A sedação paliativa tem dois efeitos: o desejado reduz os sofrimentos físicos e psicológico e o
indesejado pode diminuir o tempo de vida do paciente. O princípio do duplo efeito (MENEZES et
al., 2019) torna a sedação paliativa moralmente aceita uma vez que a intenção (alívio do
sofrimento) tem mais importância que a consequência (diminuição do tempo de vida, privação
da consciência) no julgamento ético desse procedimento.

A indicação de sedação paliativa deve ser criteriosa e, na maioria das vezes, não é administrada
de forma primária, contínua e profunda. A administração de uma medicação sedativa não
significa supressão permanente do nível de consciência. Novamente, o objetivo dessa sedação é
aliviar o estresse e promover conforto e o nível de sedação deve ser titulado em função de cada
paciente e do alívio de seu sintoma ou estresse (sedação proporcionada).

A prescrição da sedação paliativa envolve geralmente a avaliação das emoções, dor total e
sofrimento, que dificulta a abordagem com a família sobre o procedimento e a decisão de
implementação.

Em cuidados paliativos, três situações clínicas distintas podem ser avaliadas para a
implementação da sedação:

1 Doença avançada terminal com sintomas refratários.

2 Quadro agudo ameaçador da vida em tempo curto.

3 Morte iminente com sofrimento intenso.

Antes de implementar essa prática, alguns questionamentos ajudarão o profissional a indicar a


sedação (ANCP, 2013):
1 Todos os esforços foram feitos para identificar e tratar as causas reversíveis
geradoras do sofrimento?

2 Interconsultas foram realizadas com equipe em Cuidados Paliativos e/ou com outros
especialistas?

3 Todas as abordagens não farmacológicas já foram aplicadas, como, por exemplo,


técnicas de relaxamento e distração para ansiedade e dispneia?

4 Todos os outros tratamentos farmacológicos foram aplicados, como, por exemplo,


titulação adequada de opioides no caso de dispneia ou dosagem adequada de
neurolépticos para o delírio agitado?

5 Sedação intermitente foi considerada nos casos de delirium potencialmente


reversíveis ou nos casos de sofrimento psicoexistencial extremo?

6 Os objetivos da sedação foram explicados e discutidos com o paciente e seus


familiares?

7 A sedação foi consensual (paciente, família e equipe)?

É importante ressaltar que antes da implementação o paciente e/ou familiares devem receber
toda a informação e o profissional deve estar respaldado para o procedimento. Trata-se de um
consentimento, seja do paciente quando este tiver responsabilidade para defini-lo, ou de seus
familiares, no caso de pacientes que já não podem mais decidir sozinho a terapêutica
recomendada. As medicações mais utilizadas na sedação são (ANCP, 2013):

Benzodiazepínicos (midazolam, diazepam, lorazepam).

Neurolépticos (levomepromazina, clorpromazina, haloperidol).


Barbitúricos (fenobarbital).

Anestésicos (propofol, ketamina).

A medicação acima descrita pode ser utilizada associada, em diferentes apresentações (soro,
associações, bolus). Após o início da sedação, é necessário:

Reavaliar os sintomas quanto ao tipo e a dose da medicação escolhida de forma


individualizada, com monitorização contínua para ajustes quando necessários.

Utilizar escala de Ramsay para avaliar a titulação da dose sedativa.

Manter as medidas de higiene e conforto e medicações para controle de dor


(opioides).

Suspender medicações não essenciais (vitaminas, hormônios tireoidianos etc.) ou


tratamentos médicos ineficazes para o bem-estar do paciente.

Atentar para retenção urinária e impactação fecal (fecaloma), que geram grande
desconforto nos pacientes sedados.

Orientar os familiares quanto aos sinais do processo da morte: ronco da morte


(sororoca), cianose de extremidades, mudança da cor da pele, hipotensão e
diminuição da diurese.

Fornecer suportes psicológico e espiritual a família.

Proporcionar presença da equipe que cuida, compreensão, privacidade e


disponibilidade.

A seguir, a escala de Ramsay que apresenta os níveis de avaliação para tomada de decisão na
utilização da sedação paliativa (NOGUEIRA et al. 2012):
Quadro 1 – Escala de Ramsay

Nível I Agitado, angustiado

Nível II Tranquilo, orientado e colaborativo

Nível III Resposta a estímulos verbais

Nível IV Resposta rápida a estímulos dolorosos

Nível V Resposta lenta a estímulos dolorosos

Nível VI Sem resposta

Fonte: FERREIRA, 2006

A morte
A morte é tema paradoxal: por um lado, seduz e serve de inspiração a artistas, transparecendo
em todas as linguagens artísticas; por outro, provoca medo, fuga e terror. De acordo com a
percepção individual, pode significar ausência ou permanência, finitude ou eternidade.
Nascimento e morte são processos igualmente naturais. Genericamente, seres vivos são regidos
por determinismo biológico, pois nascem, crescem, amadurecem e morrem (VICENSI, 2016).

Nesse contexto, é impossível garantir o preparo para esse momento. Apesar de um processo
natural nenhum de nós, profissionais ou não, estamos preparados para a finitude da vida e esse
é, certamente, um dos principais dilemas da humanidade.

Suporte ao paciente e à família na fase final da doença e o apoio na


fase de luto
Nos momentos finais da vida, tanto o paciente quanto seus familiares merecem total apoio e
atenção da equipe profissional. Já abordamos nessa unidade a necessidade de se considerar a
família como uma unidade de cuidados, que merece avaliação constante e cuidados especiais,
principalmente no momento da partida do seu ente querido.

Quando falamos em perdas não nos referimos necessariamente à morte, mas perdas psíquicas,
físicas, materiais, entre outras. A perda está relacionada à privação de algo ou alguém, no caso do
ser humano, algo insubstituível e repleto de emoções acompanhará esse fim.

A morte humanizada é abordada por Kübler-Ross (2005) e Saunders (2004), que escreveram
sobre cuidados aos pacientes e familiares na aproximação da morte, acolhendo o sofrimento. O
paciente volta a ser centro da ação, resgatando seu processo de morrer (ARIES, 1977; KOVACS,
2007). O desenvolvimento da tanatologia, como área de estudos proposta por Kübler-Ross,
aborda a morte como significante da existência, por isso tratada com respeito, humildade, sem
banimento ou banalização. A morte é conselheira e o profissional seu aprendiz.

As fases do luto são descritas por Klüber-Ross (2005) como negação, raiva, barganha,
depressão e aceitação. Nem todos viverão todas as fases e não precisamos enquadrar os
familiares nas fases descritas, sendo essas apenas um norte para os profissionais de saúde.
Franco (2008) também descreve as fases do luto de forma diferente, sendo o reconhecimento da
perda, reagir à separação (expressividade emocional), recordar e reexperienciar a pessoa
perdida/relacionamento (objetos, fotos), abandonar velhos apegos/elaboração, reajustar para
se mover adaptativamente ao novo, sem esquecer o velho e reinvestir.

Saiba mais sobre Elisabeth Kubler-Ross e sua obra em relação a morte


com o artigo “Uma releitura da obra de Elisabeth Kubler-Ross”,
publicado na Revista Ciência & Saúde Coletiva.
SCIELO

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2729

Uma releitura da obra de Elisabeth Kubler- OPINIÃ


Ross OPINIO
A reappraisal of the works of Elisabeth Kubler-
Ross

Selene Beviláqua Page 1 / 4


Maria
ChavesCecília
Afonso de1
Souza Minayo 2

VEJA EM SCIELO 

Considerações Finais
Ao estudar a Unidade, o aluno se depara com questões éticas e com sensações advindas do
processo de morte.

É fato que não somos preparados para encarar o fim quer seja na vida pessoal ou na profissional,
e toda nossa formação é pautada nos cuidados que mantenham a vida e não é fácil aceitar que
não somos definidores desse processo.

Mas, podemos exercer nossos cuidados voltados para o respeito e autonomia, considerando os
reais desejos e necessidades do paciente e de seus familiares e podendo oferecer apoio e
conforto no âmbito espiritual e psicológico que norteiam os momentos finais de vida do
paciente.

Para isso, é necessário que o profissional compreenda que o processo de nascer, viver e morrer
é complexo e a qualidade de vida deve prevalecer nesse pensamento “filosófico”. Por um lado,
queremos viver e nos prepararmos para a finitude da vida, a única certeza da vida.
Por fim, é necessário refletir que a morte não é só um processo biológico e faz com que todos os
envolvidos nesse processo e luto tenham consciência e sabedoria para enfrentá-lo.
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Material Complementar

Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados


nesta Unidade:

Sites

Manuais de orientação para os Cuidados Paliativos


O Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais disponibilizou no ano de 2020 três volumes
de manuais de orientação para os Cuidados Paliativos, voltados a melhoria dos cuidados aos
pacientes que necessitam dessa assistência. Acesse o link e baixe o material.

ACESSE

Leitura
Sentidos de vida e morte: reflexões de pacientes em cuidados paliativos
Convido a realizar a leitura do artigo “Sentidos de vida e morte: reflexões de pacientes em
cuidados paliativos”, tendo como autores Ho mann et al., mostram que a finitude não é o
sentimento principal nos cuidados paliativos e sim outros fatores que aflige esse paciente. Vale a
pena conferir!

SCIELO
VEJA EM SCIELO 

Manual de Cuidados Paliativos


O Hospital Sírio-Libanês em parceria com o Ministério da Saúde disponibilizou no ano de 2020
um Manual de Cuidados Paliativos com temas com temáticas que contribuirão com seu
conhecimento nesse plano de cuidados. Acesse o link e baixe o material.

CUIDADOSPALIATIVOS
VEJA EM CUIDADOSPALIATIVOS 
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Referências

ACADEMIA NACIONAL DE CUIDADOS PALIATIVOS (ANCP). Manual de cuidados paliativos. Rio de


Janeiro: Diagraphic, 2013. Disponível em: <http://biblioteca.cofen.gov.br/wp-
content/uploads/2017/05/Manual-de-cuidados-paliativos-ANCP.pdf>. Acesso em: 14/06/2021.

ARIES, P. História da morte no Ocidente. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.

BEAUCHAMP, T. L.; CHILDRESS, J. F. Princípios de ética biomédica. São Paulo: Edições Loyola,
2002.

COFEN. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução nº 564/2017, de 6 de novembro de


2017. Novo Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Novo Código de Ética dos
Profissionais de Enfermagem, [S. l.], 11 jun. 2017. Disponível em:
<http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-5642017_59145.html>. Acesso em:
05/07/2021.

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO (COREN-SP). Parecer nº Gab. 023 /


2011, de 15 de março de 2011. Sedação Paliativa em Oncologia, São Paulo, 15 mar. 2011. Disponível
em: <https://portal.coren-sp.gov.br/wp-
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VICENSI, M. do C. Reflexão sobre a morte e o morrer na UTI: a perspectiva do profissional. Rev.


bioét. (Impr.), [s. l.], v. 24, ed. 1, p. 64-72, 2016. Disponível em:
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em: 05/072021.

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