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Universidade Jean Piaget Angola

Faculdade de ciências da saúde

Licenciatura de Enfermagem

Trabalho de cuidados Paliativos

Distanasia
Introdução

A palavra distánasia inicialmente foi proposta por Morcache, em 1994, que pode ser
entendida como a manutenção da vida por meio de tratamentos desproporcionais, ou
seja, como sinônimo de obstinação terapêutica, levando a um processo de morrer
prolongado e com sofrimento físico ou psicológico.( Menz, 2007)

Afinal, o que é distanásia? Essa palavra, ainda estranha até para grande parte dos
profissionais da saúde, é conceituada pelo Dicionário Aurélio como “morte lenta,
ansiosa e com muito sofrimento”. Trata-se de um neologismo, de origem grega: o
prefixo dys significa ‘ato defeituoso’ ou ‘errado’ e a palavra thánatos significa morte.

A distanásia, portanto, é o prolongamento exagerado da agonia, sofrimento e morte de


um paciente.
Fundamentação teórica

A distanásia nos seus diferentes aspectos.

No aspecto pessoal, o indivíduo doente, que inicialmente teve seu processo de morte
prolongado em vista de uma possibilidade idealizada de cura, aos poucos passa a depender
completamente do processo tecnológico que o mantém, e a prorrogação constante da morte
se torna o único elo com a vida.

No aspecto familiar, ocorre uma dualidade psicológica: por um lado o prolongamento da vida
do ente querido, enquanto por outra o sofrimento perante a possibilidade constante e
repetitiva da perda, além do doloroso ônus financeiro em prol de um objetivo inalcançável.
ASPECTOS MÉDICOS

A opinião pública mundial já discutiu amplamente os casos de pacientes famosos que


foram mantidos "vivos" além dos limites naturais,, enquadrando essas condutas como
distanásicas. Nesse contexto, existem algumas visões no âmbito religioso e ético.
(PESSINI, 2009).

Segundo Pessini (2009), o moderno pensamento teológico defende que o próprio


Deus delega o governo da vida à autodeterminação do ser humano, e isto não fere
e não se traduz numa afronta à sua soberania. Intervir na vida humana não fere o
poder de Deus, se esta ação não for arbitrária.
Cabe desenvolver uma sabedoria em relação à aceitação e à
assimilação do cuidado da vida humana no sofrimento do adeus final.
De um lado a certeza de não matar, de outro, a visão para não adiar
pura e simplesmente a morte; Pessini se utiliza das palavras de Oliver
ao concluir a missão do médico "curar às vezes, aliviar
frequentemente, confortar sempre" (OLIVER apud PESSINI, 2009).
Aspectos Religiosos

Cultivar a sabedoria de integrar a morte na vida, como algo natural e


inerente à própria vida, é indispensável. A morte não é uma doença e não
deve ser tratada como tal. Pode-se ser curado de uma doença classificada
como mortal, mas não da própria mortalidade e finitude humanas; existir
não é uma patologia, e quando se esquece disso, cai-se na tecnolatria e
na absolutização pura e simples da vida biológica (PESSINI, 2007).
Exemplo: nesse sentido foi dado pelo papa João Paulo II. Quando foi
proposto a ele que voltasse para a UTI do hospital (Clínica Gemelli), o
pontífice, percebendo que sua vida chegava ao momento final, recusou e
simplesmente pediu: "Deixem-me partir para o Senhor" (Pastoral da
Família, 2009). Se o papa voltasse ao hospital e ficasse em uma UTI, sua
vida certamente poderia ser prolongada por vários dias, mas em que isso
o beneficiaria? O que se evitou aqui foi a distanásia.
O Equívoco do Tratamento Fútil da distanasia

Segundo Léo Pessini, a tecnologia de sustentação artificial de vida precisa ser usada
com sabedoria. Precisa-se dizer não à 'tecnolatria' e reconhecer que toda vida humana
chega a um término, e que esse final deve ser marcado pelo respeito e pela dignidade.
Segundo ele, a prática da distanásia continua forte e provavelmente aumentará no
futuro, à medida que mais tecnologia for introduzida no cuidado de pessoas ao final de
suas vidas. Aqui é preciso sabedoria ética para perceber que, em determinadas
situações, a vida de um ser humano está chegando ao final e desconsiderar essa
realidade é simplesmente um desastre (PESSINI, 2007).
Renato Sertã explica que talvez o conceito atual de distanásia seja "'tratamento
médico fútil', quando ministrado em pacientes portadores de graves moléstias, para as
quais não há solução facilmente identificável pela ciência médica" (SERTÃ, 2005, p. 32).
Nesse contexto, a futilidade do tratamento se explica por sua absoluta desnecessidade,
pois nada fará modificar o quadro do paciente, sendo, portanto irrelevante qualquer
procedimento ou medicamento, pois nenhum produzirá cura.
Os tratamentos têm sido categorizados como fúteis quando não atingem os objetivos
de adiar a morte; prolongar a vida; melhorar, manter ou restaurar a qualidade de
vida; beneficiar o paciente como um todo; melhorar o prognóstico; melhorar o
conforto do paciente, bem-estar ou estado geral de saúde; atingir determinados
efeitos fisiológicos; restaurar a consciência; terminar a dependência de cuidados
médicos intensivos; prevenir ou curar a doença; aliviar o sofrimento; aliviar os
sintomas; restaurar determinada função; e assim por diante (PESSINI, 2007, p. 62).
Assim, denomina-se tratamento fútil aquele que não apresenta nenhuma utilidade,
não traz benefício ao enfermo ou à sua família, não produz qualquer efeito, sendo seu
resultado indiferente para o quadro clínico ou para o bem-estar do paciente.Por mais
que a tecnologia progrida, com tendência a avançar, não trará consigo o dom da
imortalidade biológica. No caso dos pacientes sem perspectiva de recuperação, o uso
de recursos tecnológicos sendo assim para prolongar a vida, além de representar um

gasto desnecessário, impõe mais sofrimento tanto aos doentes quanto aos familiares .
Ainda de acordo com Pessini, um tratamento não deve ser apresentado ao
paciente ou ao representante legal como uma opção quando:

1) Não altera o estado vegetativo persistente da pessoa

2) Não muda as doenças ou deficiências que tornam impossível a sobrevivência de


um bebê para além da infância;

3) Deixa permanentemente comprometidas as capacidades


neurocardiorrespiratórias do paciente, sua capacidade para relacionamento ou
como sujeito moral;

4) Não ajuda a libertar o paciente da dependência permanente de suporte


completo de cuidados intensivos (PESSINI, 2007, p. 177).
Consequências da distanasia

O Excesso Terapêutico

O avanço das tecnologias à disposição da medicina tem originado não apenas


benefícios à saúde das pessoas, mas, também em alguns momentos, todo esse
aparato tecnológico e inovador pode passar a afetar a dignidade da pessoa enferma.
Esses avanços englobam, sobretudo, o controle do processo de morte, a adoção de
suporte vital e manutenção artificial da vida quando o quadro é de doença
irreversível, já em estado terminal. Avaliando biologicamente, alguns órgãos do
corpo humano podem ser mantidos em funcionamento artificial por um tempo
quase indefinido, sem que haja alguma perspectiva de cura, ou mesmo, melhora.
Devido a esses procedimentos terapêuticos que nenhum benefício trazem, há
situações em que o ser humano é relegado ao segundo plano, juntamente com
a sua dignidade, e os tratamentos médicos empregados se tornam o foco. A
atenção passa a ser direcionada ao procedimento, à tecnologia e não como
realmente deveria ser, à pessoa enferma, para a qual a finitude da vida se
aproxima. Existem situações clínicas em que estão utilizando desse estado
vegetativo do paciente serve até mesmo para justificar as pesquisas que se
realizam com esses pacientes, pois passam a classificar essa classe de
humanos como não pessoas pelo estado em que elas se apresentam.
A excessiva dor e a lesão à dignidade da pessoa humana

Deve haver uma consciência de como se aplicar os recursos disponíveis


sem que isso interfira no ciclo natural da vida e no modo como ele
termina, uma vez que as pessoas têm direito a uma morte tranquila,
digna. O homem precisa encarar a morte não como resultado de um
fracasso, de uma falha médica, mas sim como o fim de um ciclo que se
inicia no momento do nascimento.
A dignidade da pessoa humana, como axioma do vigente ordenamento
jurídico, como valor máximo (PERLINGIERI, 2007) impõe um tratamento
mais cauteloso com a pessoa enferma, na tentativa de amenizar suas
dores em vez de submetê-la a um tratamento cada vez mais sofrido, já
que a doença caminha para o estado terminal. É necessário diferenciar a
dor do sofrimento, pois essa distinção obriga a perceber que a
disponibilidade de tratamento da dor em não justifica a continuação de
tratamentos médicos fúteis. A continuação de tais cuidados poderia
simplesmente estar impondo mais sofrimento ao paciente terminal.
CONCLUSÃO

Depois de várias pesquisas realizadas pelo grupo, concluímos que muito se discute sobre
eutanásia e suicídio assistido, mas a distanásia ainda não tem tanto espaço. Percebe-se porém que
esta discussão deveria ser mais recorrente, já que a cada dia é possível notar sua presença nos
hospitais pelo mundo todo, principalmente nas UTI´s. Mesmo que o nome não seja utilizado, a
distanásia está presente mais frequentemente do que deveria.

Portanto, o cuidado paliativo pode ser considerado uma alternativa para a distanásia. Prover
cuidados mais amplos e ao mesmo tempo mais singulares, pode ser muito importante quando se
fala em pacientes portadores de doença em processo terminal, tentando amenizar e transformar o
processo de morte.
OBRIGADO
FIM

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