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UNIVERSIDADE DE PORTO

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA DO BRASIL


DOUTORADO EM BIOÉTICA

MARIA VALESKA BERARDO PESSOA DE SOUZA

ASPECTOS BIOÉTICOS DA ORTOTANÁSIA NOS


CUIDADOS PALIATIVOS

RECIFE - PE
DEZEMBRO 2022
VALESKA BERARDO

ASPECTOS BIOÉTICOS DA ORTOTANÁSIA NOS


CUIDADOS PALIATIVOS.

Monografia apresentada ao comitê de


seleção do Doutorado em Bioética.
Convênio da Universidade de Porto e o
Conselho Federal de Medicina do Brasil

RECIFE - PE
DEZEMBRO 2022
RESUMO

Objetivo: Identificar o percentual de pacientes com prognósticos reservados, internados em


enfermarias de cuidados paliativos e analisar as questões que impediram o cumprimento da
ortotanásia para evitar distanásia ao final da vida sob a visão bioética.
Método: Estudo transversal quantitativo e qualitativo por meio de análise de dados colhidos
por entrevista com profissionais de saúde e prontuários em enfermaria de Cuidados Paliativos
em duas Instituições sendo uma em Portugal e a segunda no Brasil.
ABSTRACT

Goals : To identify the percentage of patients with poor prognosis admitted to palliative care
wards and analyze the issues that prevented compliance with orthothanasia to avoid
dysthanasia at the end of life from bioethics optic.
Method: Quantitative and qualitative cross-sectional study through analysis of data collected
through interviews with health professionals and medical records in a Palliative Care ward in
two institutions, one in Portugal and the second in Brazil.
Introdução

É eticamente reprovável deixar de prestar cuidado porque a pessoa é idosa. Por outro
lado, exagerar nos procedimentos quando não levam a melhoria real é igualmente
censurável . Os critérios para realizar procedimento diagnóstico ou terapêutico em idosos
devem ser : Prognóstico; Qualidade de Vida e Estado Geral do Paciente. (CREMESP:
Bioética, Dilema e Diálogos Contemporâneos). Mesmo nesta publicação do Cremesp
notamos a falta do critério Respeito às decisões devidamente expressas do paciente idoso. A
pergunta é porque não há o respeito a tais decisões, muitas vezes documentadas? Que
questões éticas ou outras questões fazem o profissional de saúde realizar procedimentos
antiéticos no processo da morte? Como podemos criar um programa que assegure ao idoso
com doença incurável a plena obediência aos seus desejos expressos e humanize sua morte?

Temos no Brasil desde 2000 no Brasil um Programa de Humanização ao Nascer


(PHPN). Por que não existe um programa para a Humanização ao morrer? O que faz a
sociedade ocidental ter preconceito com a morte? Por que ainda não há um programa que
também fosse capaz de assegurar a abordagem mais humanizada nas etapas do final da vida,
da assistência à morte, na perspectiva dos direitos de cidadania e da bioética. Para isso, este
estudo se fundamenta nos princípios da beneficência, não maleficência, autonomia e justiça
que norteiam a ética biomédica, também conhecida como Bioética.

Em estudo multicêntrico relacionado à internação de 1671 idosos com mais de oitenta


anos em UTI de 24 hospitais Canadenses, realizado em 2015 por Heyland e col, apontou que
35% morreram naquela internação, que variou de três a vinte dias. No momento da morte
49% estavam recebendo ventilação mecânica assistida (VMA), drogas vasoativas (DVA) ou
diálise. O estudo indicou, ainda, que apesar de os pacientes possuírem diretivas de suas
vontades estas tiveram pouco impacto para impedir procedimentos invasivos, ineficientes,
de suporte à vida. (CREMESP REFLEXÕES ÉTICAS EM MEDICINA INTENSIVA).

Em sua obra “Sobre a morte e o morrer”, Kübler-Ross aborda questionamentos sobre


as reais demandas do paciente terminal e daqueles que os rodeiam, familiares, cuidadores e
profissionais de saúde, refletindo sobre como eles lidam com a situação. Muitas vezes o
doente está rodeado de pessoas que monitoram cada batimento cardíaco, mas não estão
dispostos a ouvir sobre suas necessidades, anseios e dúvidas. Os profissionais de saúde
adotam, comumente, uma abordagem tecnicista em detrimento da interação médico-paciente,
pois, entre outras razões, a morte quebra a falsa sensação de imortalidade. A autora descreve
diálogos que teve com pacientes terminais na tentativa de criar um vínculo mais humano e
estimular a reflexão de outros profissionais de saúde sobre o significado de seu trabalho e da
própria vida.

Já Para Kovács , no contexto da bioética, a dificuldade em lidar com a questão da


morte e com doentes terminais decorre principalmente da confusão entre os conceitos de
eutanásia, ortotanásia e distanásia. Qual a diferença entre eutanásia, distanásia e ortotanásia?
A palavra eutanásia possui origem no termo grego eu-thanatos, que, segundo o Dicionário
Enciclopédico Luso-brasileiro Lello Universal, significa eu (boa) e thanatos (morte), sendo o
ato de apressar a morte dos doentes incuráveis, para lhes evitar o sofrimento da agonia. Foi
utilizada pela primeira vez na obra ``Historia vitae et mortis ``, em 1623, de autoria de
Francis Bacon (DINIZ, 2010, p. 403). Político, escritor e filósofo, Francis Bacon defendia
constituir dever da Medicina não apenas proporcionar saúde, mas também mitigar as dores e
sofrimentos. A prática da “boa morte” era tida por ele como a única providência cabível no
caso de doenças incuráveis de acordo com os ensinamentos de Sócrates
“o que vale não é o viver, mas o viver bem'' (DINIZ, 2010, p. 403)

Ao invés de deixar a morte acontecer a eutanásia age sobre a morte, antecipando-a.


Assim, a eutanásia só ocorrerá quando a morte for provocada em pessoa com forte
sofrimento, doença incurável ou em estado terminal e movida pela compaixão ou piedade.
Portanto, se a doença for curável não será eutanásia, mas sim o homicídio tipificado no art.
121 do Código Penal. A Distanásia tem origem grega, onde dis significa "afastamento" e
thanatos quer dizer "morte". Significa o prolongamento artificial do processo de morte e por
consequência a prorrogação também do sofrimento da pessoa. A distanásia é, portanto, a
morte lenta, prolongada, com sofrimento e agonia. Uma tendência a ver a vida de forma
quantitativa e biologizada, investindo todos os recursos possíveis para estendê-la ao máximo,
minimizando a qualidade dessa vida e negando a finitude da vida humana.
¨ A imagem da morte deve ser como um espelho que nos ensina ser a vida apenas um
sopro passageiro ¨ William Shakespeare ( 1608)
No final de 2006, o Conselho Federal de Medicina emitiu a Resolução 1.805/2006,
que permite ao médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a
vida do doente em fase terminal, respeitando a vontade da pessoa ou de seu representante
legal. A Resolução vem contribuir para a reflexão sobre uma futura normatização legislativa
sobre o tema, importante tanto para a atividade médica como para a sociedade brasileira. A
Ortotanásia, etimologicamente, significa "morte correta", onde orto = certo e thanatos =
morte. A morte correta é a morte pelo seu processo natural. Neste caso o doente já está em
processo natural da morte e recebe o cuidado do médico para que este estado siga seu curso
natural. Assim, ao invés de se prolongar artificialmente o processo de morte (distanásia),
deixa-se que este se desenvolva naturalmente (ortotanásia) aliviando dor , agonia e
sofrimento.

Somente o médico pode realizar a ortotanásia, e ainda não está obrigado a prolongar a
vida do paciente contra a vontade deste. Desta forma, diante de dores intensas sofridas pelo
paciente terminal, consideradas por este como intoleráveis e inúteis, o médico deve agir para
amenizá-las, mesmo que a consequência do processo seja a morte do paciente. (VIEIRA,
Tereza Rodrigues. Bioética e direito. São Paulo: Jurídica Brasileira, 1999, p. 90.)

Para o escritor Oscar Wilde :

“ Há momentos em que é preciso escolher entre viver a vida plenamente,


inteiramente, completamente ou assumir a existência degradante, ignóbil e falsa que o
mundo, na sua hipocrisia, nos impõe.”

A Ortotanásia é definida, geralmente, entre a eutanásia (a abreviatura de vida) e


distanásia (o prolongamento da vida a todo custo). A ortotanásia, segundo Pessini, é a síntese
ética dos valores de “morrer com dignidade” e “respeito pela vida humana”. O paciente, sua
família e amigos, diante do iminente e inevitável óbito, são assistidos pela equipe profissional
para enfrentar os fatos com serenidade. Segundo Lepargneur, a ortotanásia consiste na
aceitação razoável da morte natural, incluindo suspender ou dispensar equipamentos de
suporte à vida e tratamento, mesmo quando o paciente está inconsciente. Esta opção não
dispensa medidas analgésicas ou eventual cuidado humano, com assistência religiosa e
psicológica. Assim, existe a opção de tornar o processo de morrer mais suave. Essa prática
surgiu no Reino Unido na década de 1960, iniciada por Cicely Saunders. Médica, assistente
social e enfermeira. Saunders enfatizou a importância do alívio da dor, de cuidados
biopsicossociais como também o suporte aos aspectos emocionais e espirituais.

Em seu Artigo Primeiro, a Declaração Universal dos Direitos Humanos diz:


“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados
de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade.” (https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos)
Sendo assim, o ser humano é livre ao nascer e ao morrer, com razão e consciência tem
seus direitos e dignidade reconhecidos. Sendo assim, a Distanásia como ato de desrespeito ao
direito de morrer naturalmente sem intervenções que o paciente discorde ou que prolongue o
tempo de vida em sofrimento e contra a vontade do paciente sendo é uma agressão à
dignidade humana. “Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte.”
(Sigmund Freud) Acontece que no término da vida, não basta o ser humano aceitar a própria
morte, a família passa a comandar com frequência os atos médicos e estes se vêem impelidos
a “salvar” a vida a qualquer custo, mesmo que este custo acarrete em tempo de vida sem
nenhuma qualidade e contra as decisões expressas pelo ser humano em seu direito de morrer
com dignidade e de acordo com suas crenças.

Em seu Artigo Segundo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos diz:


“Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo,
língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza,
nascimento, ou qualquer outra condição.” Fica claro neste artigo o direito, sem distinção de
qualquer espécie ou natureza, respeitando a liberdade do ser humano.

Na graduação de medicina muito é ensinado sobre os processos de adoecimento,


diagnósticos e tratamentos para prolongar e manter a vida. Mas aspectos relacionados à
preparação emocional e psicológica para o enfrentamento dos processos graves, terminais e
como devemos atender estes pacientes no término da Vida assim como aos seus familiares
são negligenciados, observando-se uma “desumanização” no atendimento ao paciente em seu
leito de morte. (BALSANELLI;SANTOS; SOLER, 2002). Quando, de acordo com a
Medicina Baseada em Evidências, existe um prognóstico reservado em curto período de
tempo ; sem cura e com muito sofrimento . A classe médica e os demais profissionais de
Saúde atuam sem protocolos e respaldo legal para promover a ortotanásia.
Desde a minha graduação em Medicina sempre me preocupei com esta falta de
preparo geral para respeitar ao que no meu tempo era conhecida como carta de últimas
intenções. Trabalhando com pacientes idosos em home care ou no Programa de Saúde da
Família também vi as últimas intenções de pacientes terminais serem completamente
ignoradas e em minha própria família precisei de muita ajuda para tentar respeitar as últimas
intenções de meu Pai em seu término que foi certamente mais prolongado do que ele queria,
porém consegui cumprir sua vontade de não ser submetido a VMA e que ele não tivesse dor
no final. Como médica pude estar ao seu lado em um quarto de hospital e ajudar na
preparação de seu corpo para o funeral e cremação. A terminalidade da Vida precisa ser mais
Humanizada, os atos heróicos sem bases em evidências científicas precisam ser refletidos.
Discutir os aspectos Bioéticos da Morte assistida com respeito às últimas intenções de
pacientes terminais para evitar a distanásia e oferecer uma morte humanizada é o objeto de
estudo proposto neste estudo.

O envelhecimento populacional é uma realidade em muitos países, inclusive no


Brasil, cuja população com mais de 60 anos tem aumentado acentuadamente nas últimas
décadas. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirma que, em 2030, o
grupo de 60 (sessenta) anos ou mais ultrapassará o de crianças até 14 anos. Ou seja, o Brasil
não é mais um país jovem. A qualidade de vida dos idosos muitas vezes é precária. Muitos
sofrem por anos as sequelas de doenças incuráveis e mesmo quando chegam em seu término
é frequente vermos as famílias e equipes de saúde realizando procedimentos que não alteram
a qualidade de vida dos pacientes e prolongam uma vida débil, muitas vezes dolorosa. O
idoso experimenta inevitavelmente um declínio funcional, progressivo e irreversível. Como
as funcionalidades são perdidas em diversas áreas, surge a principal consequência: a
fragilidade

A predominância de fragilidade e a existência de multimorbidade e perdas funcionais,


aumentam com a idade avançada e impactam na sobrevida dos idosos, com implicações na
suscetibilidade e evolução à morte. O cuidado adequado para o alívio da dor e sintomas
decorrentes do estágio avançado de uma doença, deve fornecer suporte psicossocial e
espiritual desde o diagnóstico de uma doença incurável até o luto da família. Sendo assim, a
disposição de cuidado ao idoso inclui não só a atenção à sua saúde, mas também o
envolvimento da família. A atenção à saúde do idoso em fase final de vida tem como meta
cuidar na perspectiva de proporcionar melhor qualidade de vida, prevenção e alívio do
sofrimento. Desta forma, o cuidado a que nos referimos insere-se no âmbito da reflexão
bioética. A abordagem ética nos cuidados ao fim de vida envolve ações de escuta, diálogo,
compaixão, manutenção da esperança, dentro da relação de cuidado, respeitando ao máximo
o grau de autonomia e atendimento das necessidades espirituais do indivíduo. (Oliveira SG,
Pacheco STA, Nunes MDR, Caldas CP, Cunha AL, Peres PLP Bioethical aspects of the care
provided to older adults DOI: http://dx.doi.org/10.12957/reuerj.2020.47321)

A legalização da morte assistida envolve justificativas centradas no paciente, como


alívio de sofrimento e dor (princípio da beneficência e não maleficência), o direito do
paciente de morrer como quiser (princípio da autonomia) e misericórdia (princípio da
justiça). Inclusive, a sedação paliativa pode ser usada até a morte; pode ser breve ou
intermitente. É informado pelo desejo do paciente, ocorrendo quando um sintoma refratário
permaneceu presente antes do início da sedação, sendo uma solicitação de alívio de
sofrimento. Assim, o paciente fica mais envolvido no processo de tomada de decisão,
garantindo assim a preservação dos princípios da autonomia e da justiça. (Oliveira SG,
Pacheco STA, Nunes MDR, Caldas CP, Cunha AL, Peres PLP Bioethical aspects of the care
provided to older adults DOI: http://dx.doi.org/10.12957/reuerj.2020.47321)

Alguns estudos recentes abordam as preferências atuais dos idosos nas tomadas de
decisões em seus cuidados de fim de vida considerando os princípios bioéticos. As decisões
de cuidados em fim de vida devem refletir as preferências atuais dos pacientes e de suas
famílias, sendo importante que sejam bem informados sobre todos os cuidados possíveis para
alívio de sofrimento frente à doenças incuráveis e progressivas. Avaliar as escolhas pessoais
do paciente e de sua família, antecipar situações e planejar o cuidado são ações que indicam
qualidade no cuidado no final da vida. Compartilhar objetivos de cuidado e discuti-los no
contexto de uma consulta ambulatorial com o médico do paciente e equipe parece ser um
passo inicial importante no processo de planejamento para cuidados de fim de vida. No
entanto, é frequentemente observado que as discussões não ocorrem em tempo hábil sobre as
preferências ou valores dos idosos, o que interfere na eficácia dos cuidados de fim de vida.
(Oliveira SG, Pacheco STA, Nunes MDR, Caldas CP, Cunha AL, Peres PLP Bioethical
aspects of the care provided to older adults (http://dx.doi.org/10.12957/reuerj.2020.47321)
Como parte do planejamento avançado na prestação de cuidados de fim de vida, os
idosos e suas famílias podem ser mais bem envolvidos em conversas sobre quais riscos valem
a pena correr e quais podem evitar, decidindo quais resultados e riscos eles e suas famílias
estão dispostos a buscar e os que desejam evitar, pois muitas vezes suas preferências não são
consideradas na realização dos procedimentos e cuidados por falta de conhecimento dos
profissionais sobre essas questões referentes ao planejamento avançado da morte natural.

Uma comunicação mais efetiva aumenta o melhor cuidado ao final da vida. Outra
questão importante que merece ser discutida é a preferência dos idosos quanto ao local de sua
morte. Quase metade dos familiares acredita que o idoso preferiria que a morte ocorresse em
sua casa; no entanto, o local mais comum de óbito é o hospital, principalmente a UTI.
Portanto, a adoção de estratégias para garantir um atendimento centrado na pessoa que reflita
os objetivos, valores e preferências de cada indivíduo torna-se essencial para melhorar os
cuidados e para respeitar a autonomia dos idosos nos cuidados no fim da vida. (Oliveira SG,
Pacheco STA, Nunes MDR, Caldas CP, Cunha AL, Peres PLP Bioethical aspects of the care
provided to older adults DOI: http://dx.doi.org/10.12957/reuerj.2020.47321)

Segundo Oliveira et al. os desafios encontrados no cuidado ao idoso em fim de vida


para preservar os princípios bioéticos e a dignidade humana são os seguintes: a prestação de
cuidados para apoiar os familiares e idosos; manter uma equipe de saúde trabalhando de
forma coesa; ouvindo atentamente os pacientes e familiares; e a prevenção e cuidados
agressivos e carregados de tecnologia, procedimentos cirúrgicos, assim como evitar a
polifarmácia e o risco de aumento de efeitos adversos desnecessários. Tais desafios são
importantes pela preservação dos princípios da beneficência, não maleficência, autonomia e
justiça. Além desses desafios, há também o sofrimento psicológico, a presença de ansiedade,
depressão, síndrome de desmoralização, desejos de morte, estados anedóticos, desamparo e
desesperança são identificados. Observa-se que o trabalho e os cuidados ao final da vida, não
é realizado na perspectiva do alívio do sofrimento e morte; e nos hospitais faltam ações de
saúde diante do sofrimento psíquico dos idosos internados com falta da aplicação dos
princípios bioéticos para melhorar a qualidade da assistência à saúde prestados aos idosos em
fim de vida.
Introduzida em 1955 pelo psiquiatra húngaro Michael Balint, a medicina centrada no
paciente leva em consideração as melhores evidências científicas para a atenção ampliada ao
paciente. Baseia-se na antiga escola de medicina grega de Cós que tem como preceitos :
● Valorizar a escuta para perceber os anseios do paciente e responder às suas
necessidades.
● relação terapêutica médico-paciente.
● Ir além do modelo biomédico
● Colaborar na compreensão e validação da perspectiva biopsicossocial do
paciente.
A autonomia é uma propriedade construída durante seu desenvolvimento moral desde
o nascimento e estabelecida quando o sujeito se torna apto a tomar decisões por si mesmo.
Caracteriza-se pela capacidade de decisão e de comando sendo capaz de estabelecer e seguir
as próprias regras. O Código de Ética Médica veda ao médico deixar de garantir ao paciente
decidir livremente sobre sua pessoa e bem-estar. Vedado desrespeitar o direito do enfermo
(ou representante legal) de decidir sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas.
O Estatuto do Idoso garante aos idosos todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana. A perda progressiva da funcionalidade no idoso e o final da vida precisam ser
tratados com naturalidade pelos responsáveis pelo atendimento do idoso. O acolhimento ao
geronte, promovendo a ortotanásia em lugar da distanásia, deve partir da tomada conjunta de
decisões, envolvendo profissionais de saúde , familiares, cuidadores e o maior interessado, o
paciente.A Bioética é o local de diálogo entre o saber científico e simbólico. Uma
intersecção entre os problemas da vida real , da prática clínica , raízes filosóficas, religiosas,
políticas e jurídicas. (CREMESP: Tópicos de Bioética em Geriatria)

Sociedades médicas nacionais, internacionais e bioeticistas compreendem que ,


quando as medidas de SAV não puderem mais oferecer controle da doença e apenas irão
prolongar o processo sofrido da morte podem ser limitadas ou retiradas e não é , neste caso,
eutanásia. A retirada do SAV permite a evolução natural do processo de morte, com menor
sofrimento do paciente sob cuidado paliativo. Quebrar o estigma da medicina moderna, com
avançados aparatos biotecnológicos que por vezes torna mais sofrido o processo de morte e o
desumaniza, é um desafio necessário. O Cuidado Paliativo emerge como segurança a
qualidade de vida no término, minimizando o sofrimento físico , psíquico e afetivo de
pacientes e familiares e necessário para assegurar a dignidade do paciente e sua autonomia.
(CREMESP:Reflexões éticas em medicina intensiva )
Justificativa

Durante minha carreira em medicina atuando em cuidado ao idoso prestei assistência


a vários pacientes em seus últimos meses de vida. Apesar de estarem conscientes, com
autonomia para decidir sobre sua morte e expressarem oralmente diante da família e outros
profissionais de saúde ou mesmo deixando suas vontades por escrito, raras vezes assisti a
família e também equipes de saúde cumprirem o que os idosos desejavam em seu leito de
morte. A grande maioria foi levada para cuidados intensivos e morreram como não
desejavam, em leitos de UTI, sem presença de familiares e por vezes com VMA, DVA e
diálise, como mostrou o estudo citado na introdução deste trabalho.
A pergunta que sempre me fiz como médica e como ser humano sempre foi:
Por que este paciente não teve seus últimos desejos cumpridos?
Mesmo com meu pai, foi difícil cumprir todos os seus desejos, precisei me impor
como médica e como filha para realizar ao máximo o que meu pai expressou. Assisti colegas
de Saúde cometendo Distanásia. Precisei recorrer à Lei para garantir os direitos de meu Pai.
Me coloco na situação de todos os pacientes idosos que atendi que não tiveram seu
direito de morrer como queriam obedecidos. Me proponho a entender melhor os entraves da
Ortotanásia nos pacientes em cuidados paliativos no Brasil e em Portugal. Desejando obter as
respostas para a pergunta que norteia este trabalho e colaborar para a criação de uma
proposta que possa garantir ao paciente em cuidado paliativo o direito à Morte Humanizada.
Ter seus desejos respeitados que geralmente, segundo minha experiência em 25 anos atuando
como médica são: Morrer em Casa , não morrer em UTI de Hospital, não prolongar seu
sofrimento e ter sua fé e crenças respeitadas em seus últimos dias, partindo sem dor e perto de
seus entes queridos.

Problema

Quais são as interfaces entre os princípios bioéticos e os cuidados de saúde prestados


aos pacientes em cuidados paliativos?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BALSANELLI, A.P; SANTOS, K.J.; SOLER, Z.O.S.G. O Trabalho do Enfermeiro em


Unidades Complexas: um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado
diário de pacientes com risco de morte.Revista Nursing, São
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BATIGÁLIA, F. Degraus do Pensamento Científico. Estratégias para Exemplificar as Etapas


do Método Cientifico. Editora DiLivros, Rio de Janeiro , 2019.

BRASIL. Ministério da Saúde. Manual do Programa Nacional de


Humanização da Assistência Hospitalar – PNHAH. Brasília: PNHAH, 2002.
Disponível em http: www.saude.sp.gov.br/resources/gestor/.../manual_PNHAH.pdf . Acesso
em 05 de janeiro de 2023.

CREMESP , Câmara Técnica de Geriatria do Cremesp. Tópicos de Bioética em Geriatria.


Cremesp 1ª Edição. São Paulo, 2022

CREMESP. Coordenadores: Pereira , A ; Marques , J. Bioética: Dilema e Diálogos


Contemporâneos. Cremesp . São Paulo, 2018 .

CREMESP. Coordenadores : Azevedo R ; Ayer R . Reflexões Éticas em Medicina Intensiva.


Cremesp. São Paulo, 2018.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS


(https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos)

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 7: responsabilidade civil. 25.
ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

KOVACKS, M.J.. Educação para a morte. Psicologia: ciência e profissão, 25, pp.484-497.,
2005

OLIVEIRA SG, PACHECO STA, NUNES MDR, CALDAS CP, CUNHA AL, PERES PLP
Bioethical aspects of the care provided to older adults DOI:
http://dx.doi.org/10.12957/reuerj.2020.47321)
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FREEMAN T . Medicina Centrada na Pessoa , transformando o método clínico. ARTMED 3ª
Edição. São Paulo, 2017.

VIEIRA, Tereza Rodrigues. Bioética e direito. São Paulo: Jurídica Brasileira, 1999, p. 90

NORMAS ABNT

● Folha: tamanho A4;


● Capa (NBR 14724);
● Folha de aprovação;
● Margem: 3 cm para as margens superior e esquerda
e 2 cm para as margens inferior e direita;
● Fonte: Arial ou Times New Roman ou Arial (tamanho 12) em cor preta;
● Itálico: usa-se em palavras e expressões de outros idiomas;
● Espaçamento: 1,5 no texto e 1,0 para citações com mais de três linhas;
● Alinhamento: Justificado;
● Paginação (NBR 14724);
● Sumário (NBR 6027);
● Citações e notas (NBR 6023 e NBR 10520);
● Referências bibliográficas.

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