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CUIDADOS PALIATIVOS

EXCERTOS DE:
1 - O papel do psicólogo na equipe de cuidados paliativos junto ao paciente com
câncer* - Ana Paula de Queiroz Ferreira**; Leany Queiroz Ferreira Lopes**;
Mônica Cristina Batista de Melo*** Núcleo de Saúde, Curso de Psicologia, Faculdade
Maurício de Nassau
Cuidado Paliativo é a prática multiprofissional que busca oferecer ao paciente fora
de possibilidade de cura um atendimento que integre todas as dimensões do ser,
visando atingir uma melhor qualidade de vida para o doente e sua família.
De acordo com o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo Cuidado
Paliativo significa:
Aliviar os sintomas, a dor e o sofrimento em pacientes portadores de doenças
crônicas, progressivas, avançadas, degenerativas, incuráveis ou doenças em estágio
final. O cuidado visa ao paciente em sua globalidade de pessoa humana, na
tentativa de oferecer foco e significado na qualidade de vida (Conselho Regional de
Medicina do Estado de São Paulo, 2008, p.580).
A palavra paliativo é derivada do vocábulo latino pallium, que significa manto,
cobertor, expressando um propósito de proteção contra as intempéries do caminho.
Portanto, Cuidado Paliativo pode ser entendido como Cuidado de Proteção, dentro de
uma visão holística das várias dimensões do ser humano (Floriani & Schramm, 2007).
Os Cuidados Paliativos tiveram sua origem no Reino Unido, na década de1960, a
partir da criação do St. Christhopher Hospice, em Londres, pela médica, enfermeira
e assistente social Cicely Saunders, com a finalidade de organizar um corpo de
conhecimentos que possibilitasse oferecer uma assistência mais humanizada tanto para
pacientes quanto para seus amigos e familiares, no período que antecede a morte;
surgindo como uma nova proposta terapêutica que pudesse ser associada à assistência
biomédica tecnicista vigente (Kovács, 2008a; Silva, 2010).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu em 1990 os Cuidados
Paliativos como uma modalidade de assistência, definindo que os cuidados paliativos
são aqueles voltados à valorização da vida dos pacientes e de seus familiares
ajudando-os a lidar com a doença na sua fase final, mediante a prevenção e alívio
do sofrimento, identificado precocemente (Remedi, Mello, Menossi & Lima, 2009).
... sem o intuito de prolongar a vida por meios artificiais (onde não haja
diminuição da dor e do sofrimento) ou abreviá-la.
...o paciente com câncer tem a dor como um dos sintomas que mais interfere na sua
qualidade de vida (QV), influenciando no humor, na mobilidade, no sono, na
ingestão de alimentos e nas atividades da vida diária, além de outros sintomas
como anorexia, depressão, dispnéia, constipação e ansiedade afetando as relações
sociais, familiares e de trabalho (Graner et al., 2010; Peres, Arantes, Lessa & Caous,
2007; Silva, Lopes, Trindade & Yamanouchi, 2010).
PSICOLOGIA
A psicologia é uma das profissões da saúde cuja inclusão em equipes de
acompanhamento de pacientes com câncer é regulamentada por lei. A Portaria nº
3.535 do Ministério da Saúde, publicada no Diário Oficial da União em 14 de outubro
de 1998, determina que toda equipe responsável pelo tratamento de pessoas com câncer
tenha, entre seus profissionais, um psicólogo (Sampaio & Löhr, 2008, p.56).
...norteadores da prática do psicólogo: a promoção do controle da dor e de outros
sintomas estressantes; o trabalhar a questão da morte como um processo natural; o
oferecimento de um sistema de suporte à família, que possibilite a exata compreensão
do processo da doença em todas as fases; oferecer um sistema de suporte que permita ao
paciente viver tão ativamente quanto possível, na busca constante para manter sua
autonomia; integrar o aspecto clínico com os aspectos psicológico, familiar, social e
espiritual ao trabalho; unir esforços de uma equipe multidisciplinar para oferecer o
cuidado mais abrangente possível; ter sempre em foco que a melhora da qualidade de
vida pode influenciar positivamente no tempo que resta ao doente e que o cuidado deve
ser iniciado precocemente (Academia Nacional de Cuidados Paliativos, 2007; Conselho
Regional de Medicina do Estado de São Paulo, 2008; Juver, 2007).
O psicólogo deve estar atento em detectar os conteúdos envolvidos na queixa, no
sintoma e na patologia, permitindo assim uma atenção integral e a identificação de
desordens psíquicas que geram sofrimento, estresse e também aos mecanismos de
defesa negativos que costumam surgir; isso favorece a reorganização da vivência de
doença e o uso de recursos adaptativos no sentido de manter o paciente
participativo no processo de tratamento (Othero & Costa, 2007).
...devem estar presentes no trabalho do psicólogo a empatia e a escuta acolhedora
verbal e não-verbal, permitindo que o paciente possa confrontar com seus
conteúdos internos, suas angústias e sentimentos em geral, para que a partir daí
inicie o processo de aceitação, elaboração e superação no que diz respeito ao
adoecimento. A escuta permite ao psicólogo identificar as reais demandas do paciente
(Othero & Costa, 2007).
O psicólogo neste contexto atua para alargar o canal de comunicação entre o
paciente, seus familiares e a equipe multidisciplinar, para que se permita: identificar
as necessidades do paciente e da família, visando aumentar seu bem-estar;
conhecer os temores e anseios do paciente, buscando oferecer medidas de apoio
pautadas em seus valores culturais e espirituais; mediar oportunidades para que
sejam tratados assuntos pendentes como despedidas, agradecimentos e
reconciliações; facilitar a relação entre profissional de saúde, paciente e familiares
(Academia Nacional de Cuidados Paliativos, 2009).
A autonomia individual é um dos valores centrais na fundamentação dos cuidados
paliativos na busca de um modelo bioético. Por conseguinte, é fundamental que nos
cuidados destinados ao paciente oncológico, o psicólogo promova junto à equipe e
aos familiares o respeito aos direitos desse paciente de fazer suas próprias escolhas,
oferecendo informações claras sobre a doença e sua evolução e respeitando seus limites
de compreensão e tolerância emocional; o que favorece a competência do mesmo para o
exercício de sua autonomia para fazer as escolhas necessárias a sua vida e ao seu
tratamento, mantendo assim sua dignidade. Portanto, decisões fundamentais devem ser
discutidas com o doente ou seu representante legal, sendo respeitada sua vontade
(Araújo & Linch, 2011; Oliveira & Silva, 2010.

...cuidado para não ocupar o lugar de mais um elemento invasivo no processo de


tratamento, mas de facilitador no processo de integração do paciente, da família e da
equipe multidisciplinar, mantendo como foco o doente (não a doença) e a melhora
na qualidade de vida do paciente (não o prolongamento infrutífero do seu
sofrimento).
Um dos objetivos primordiais do atendimento psicológico é mostrar ao paciente que
o momento vivido pode ser compartilhado, estimulando e buscando seus recursos
internos, para assim atenuar sentimentos como de solidão e derrota, e trabalhar
com ele o sofrimento psíquico (que inclui ansiedade, depressão, perda da dignidade
e seus medos), num compartilhar de cumplicidade e favorecendo a ressignificação
desta experiência que é o adoecer.

2 -  Psicologia Hospitalar e Cuidados Paliativos - Gláucia Porto1; Maria Alice


Lustosa2 Centro de Pós Graduação, Sta Casa da Misericórdia do RJ
Eutanásia X Mistanásia X Distanásia: A Morte em Discussão
Os defensores da eutanásia enfatizam a questão da qualidade de vida do paciente,
considerando fútil e até mesmo imoral prolongar vidas sem qualidade, sem condições
dignas de serem vividas. Defendem que, nessas circunstâncias, estabelecer critérios que
levem a uma possível prática da eutanásia voluntária, não significa desrespeitar a vida
considerada sagrada, pois as condições da existência natural já teriam se esgotado.
Dentro da prática médica e dos sistemas de saúde costuma-se ocorrer um evento que é
confundido com a eutanásia, sendo por muitos teóricos chamado de eutanásia social:
trata-se da mistanásia. O paciente é levado à morte por abandono, erro médico ou má
prática da medicina, seja por motivos econômicos, sociais ou científicos. Esta prática é
impregnada de maldade, tanto nos motivos que levam à sua prática quanto à intenção de
quem a realiza.
Assim, o conceito de eutanásia passa não só por uma transformação de ordem
conceitual, mas também jurídica. Esta transformação acarreta fundamentalmente o
problema da distinção entre o que é lícito e o que não é, entre o que é liberdade para
morrer e o que é o dever de salvar vidas, bem como o direito de viver e/ou de uma boa
morte. Quando a terapia médica não consegue mais a restauração da saúde, tratar para
curar torna- se uma futilidade. Daí o imperativo ético de parar o que é inútil, fútil,
intensificando-se os esforços para manter a qualidade de vida. Cuidar é parte do
tratamento, e esquecer-se disto faz cair na obsessão da vida biológica, na obstinação
terapêutica da distanásia (Pessini, 1999).
 Ortotanásia e Boa Morte: A Morte Contemporânea
Contrapondo ao modelo da morte moderna, eminentemente curativa, no qual o doente
não é ativo, a nova modalidade de assistência chamada de morte contemporânea, vem
valorizar os desejos do enfermo. Neste caso o termo empregado é chamado de
ortotanásia (orto=correto) que significa morte em seu tempo certo. Isto é, sem
abreviar e sem prolongar desproporcionalmente o processo de morrer. Mais
recentemente passou-se a utilizar este termo por traduzir uma maior sensibilidade ao
processo de humanização da morte e alívio das dores, não incorrendo em
prolongamentos abusivos com a aplicação de meios geradores de sofrimentos adicionais
(Pessini, 2004). Os limites da ação do médico frente aos desejos do doente, torna
possível a deliberação sobre o período de vida ainda restante, a escolha de
procedimentos e a despedida das pessoas de suas relações, a partir do suporte de
uma equipe multidisciplinar (Menezes, 2004).
A ortotanásia, segundo a visão de alguns autores, é a terceira via entre a eutanásia e a
distanásia, pois oferece ao paciente as condições necessárias para o entendimento de sua
finitude e o prepara para partir em paz e sem sofrimento.Essa prática não apressa e nem
prolonga o processo de morrer, mas proporciona condições de vida durante esse
período, aliviando todos os tipos de sofrimentos (físico, espiritual e emocional) e
permitindo um maior contato com as pessoas queridas do seu convívio a fim de
proporcionar a despedida sem culpas e dúvidas.
Uma perspectiva que surge como uma alternativa a esse modelo é a abordagem dos
cuidados paliativos. Diferentemente do paradigma de cura da ciência médica, os
cuidados paliativos valorizam a qualidade de vida do paciente e, por isso, têm como
princípio fundamental o cuidado integral e o respeito à autonomia do paciente em
relação ao processo de morrer.
Não há solução para a morte, mas se pode ajudar a morrer bem, com dignidade,
facilitando os processos de finalização. O que se propõe como cuidados no fim da vida
são de que não deveria haver atitudes autoritárias e paternalistas, e sim movimentos de
solidariedade, compromisso e compaixão. O grande desafio é permitir que se viva com
qualidade a própria morte; que se tenha uma “boa morte”.
Assim, a possibilidade de se morrer com dignidade traz uma discussão muito relevante
para os dias de hoje. Qualidade de vida no processo da morte e prolongamento da vida
não deveria estabelecer uma relação de incompatibilidade, e sim de complementaridade.
É o fazer tudo que é possível, e parar no limite do tolerável.
 
Cuidados Paliativos
Os Cuidados Paliativos não dizem respeito primordialmente a cuidados institucionais,
mas trata-se, fundamentalmente, de uma filosofia de cuidados que pode ser utilizada em
diferentes contextos e instituições. Pode ocorrer no domicílio da pessoa portadora de
doença crônica-degenerativa ou em fase terminal, na instituição de saúde onde está
internada ou no hospice, uma unidade específica dentro da instituição de saúde
destinada exclusivamente para esta finalidade (Pessini, 2004) .
... O papel do psicólogo hospitalar em cuidados paliativos é dar um novo
direcionamento aos critérios concernentes à qualidade, ao valor e ao significado da
vida. É dar condições ao doente de lidar com essa situação e redescobrir o sentido
da vida no momento vivenciado por ele. A doença e a morte trazem imbuídos esses
propósitos. Cabendo ao psicólogo e toda equipe multiprofissional de saúde em
cuidados paliativos tentar decifrá-los, através de cuidados que visem acolher,
preservar, acarinhar e dar condições físicas, mentais, espirituais e sociais, além de
preservar ao máximo a autonomia funcional do paciente (Figueiredo & Bifulco,
2008)
3 - Psicol. cienc. prof. vol.21 no.4 Brasília Dec. 2001 http://dx.doi.org/10.1590/S1414-
98932001000400006  
Psicologia e ética em cuidados paliativos - Déborah Azenha de Castro*
...para o paciente terminal uma das questões do medo da morte pode ser o domínio
da dor, isto é, temem o sofrimento relacionado com o processo de morrer que ameaçam
a integridade pessoal.
Este sofrimento é pessoal. Está ligado aos valores da pessoa. A sua história de vida
portanto, esta diretamente relacionada com a qualidade de vida.
Para se ter uma melhor acuidade em relação a estes pacientes, é necessário que a equipe
que esta cuidando destes faça a distinção entre a dor que este paciente esta sentindo
e o sofrimento que lhe está causando.
Todos da equipe médica (médico, enfermeiras, psicólogos, assistentes sociais, religiosos
etc.) devem, entretanto, refletir sobre este sofrimento, que muitas vezes, na agonia
programada por terapêutica que somente se utiliza para cumprir o papel de se fazer tudo
o que for possível, não se preocupando em prestar atenção em realmente dar vazão aos
sentimentos, a romper a conspiração do silêncio que se faz nessa relação (Pessini,
2000).
Por isso, a importância da Psicologia em estudar o ser humano no sua forma mais
íntima. Através do conhecimento da verdade a respeito de si mesmo, ou seja, da
personalidade; liberta o ser humano, na medida em que conheça as forças de seu
inconsciente e possa levar uma vida mais racional, satisfatória e produtiva (Wertheimer,
1970).
Na realidade, em cada uma das nossas buscas pessoais de respostas, valores e de um
estilo de vida adequado, nos confrontamos com questões que nos levam a atingir uma
maturidade pessoal maior.
Passa a Psicologia, então, como área de conhecimento e atuação imprescindível no
acompanhamento de pacientes e de sua família em todas as fases do tratamento,
ajudando-os a lidar com os aspectos envolvidos com o diagnóstico de doenças que
estão associadas à idéia de morte, sofrimento e solidão.
A eficácia dessa atuação passa a ser relevante para auxiliar os pacientes a
aderirem aos diferentes tipos de tratamento e a lidar com os efeitos colaterais
destes em seu dia a dia.
A atuação do psicólogo, portanto, é importante tanto em nível de prevenção,
quanto em nível das diversas etapas por que passam os pacientes crônicos
terminais 

Pessoas com doenças crônicas terminais estão geralmente frágeis, vulneráveis e


assustadas, necessitando de um compromisso forte de que não sofrerão nenhum dano
pelos cuidados que lhes serão proporcionados.
O princípios da justiça implicam no conceito da imparcialidade, isto é, acesso do
paciente a um nível adequado de tratamento de saúde e distribuição igual dos recursos
disponíveis de tratamento.
As pessoas têm o direito de receberem cuidados de saúde igualmente a outras. E,
portanto estão também relacionadas as tomadas de decisão de quanto ao uso de
tratamento para prolongar a vida, devido ao alto custo que estes tratamento impõem.
Pode servir também para limitar a autonomia. Aquilo que o paciente deseja, escolhe ou
acredita ter o direito pode não ser permitido no contexto de maior benefício. Isto se faz
necessário para manter os valores particulares sobre os quais a sociedade está baseada.
Os profissionais de saúde possuem por outro lado, obrigações éticas para com o
paciente em virtude de sua função profissional, mas também tem o direito de
permanecer autênticos em suas próprias crenças e consciência moral. As tomadas de
decisão, portanto, devem ser bastante flexíveis para conciliar estas cresças sem
comprometer os direitos legais dos pacientes ( Koseki e Bruera, 1996).
O cuidado em lidar com a pessoa é produto de longa vivência, amplo e
diversificado estudo e principalmente uma grande e profunda compreensão de si
mesmo.

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