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FACULDADE DE EDUCAÇÃO DE

TANGARÁ DA SERRA

IARA DA SILVA DOMENICALI

A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA NOS CUIDADO PALIATIVO NA


COMPREENSÃO NA FINITUDE DA VIDA

Tangará da Serra
2021
IARA DA SILVA DOMENICALI

A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA NOS CUIDADO PALIATIVO NA


COMPREENSÃO NA FINITUDE DA VIDA

Tangará da Serra
2021
IARA DA SILVA DOMENICALI

A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA ATRAVÉS DO CUIDADO PALIATIVO NA


COMPREENSÃO DA FINITUDE E QUALIDADE DE VIDA

Aprovado em ___ de ________de _______

__________________________________________
Prof. Orientador:
Josiane Tomaz da Silva

__________________________________________
Prof.
Nome da Instituição

__________________________________________
Prof.
Nome da Instituição
AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a todos envolvidos para a construção deste artigo.


À minha família e amigos, por me incentivar a estudar psicologia, e ir a fundo sobre
a temática do luto.
Ao meu marido por ter paciência e ouvir consecutivamente sobre o artigo.
À minha amiga Luana e à professora Ana Flávia, pelas orientações adversas sobre o
tema e me acalmar diariamente.
A minha Orientadora Josiane Tomaz da Silva, por ter paciência e compreensão na
elaboração das ideias acerca do artigo.
A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA NOS CUIDADO PALIATIVO NA
COMPREENSÃO NA FINITUDE DA VIDA 1

DOMENICALI, Iara da Silva2


SILVA, Josiane Tomaz3

RESUMO

Este artigo visa apresentar a importância dos cuidados paliativos de modo a


ressaltar a singularidade do sujeito em seu processo de luto antecipatório.
Objetiva-se apresentar a construção da estrutura de cuidados paliativos composta
por paciente-equipe multidisciplinar, e o manejo do profissional psicólogo diante ao
luto do paciente terminal. Este artigo resulta de uma pesquisa bibliográfica a respeito
da temática cuidados paliativos na terminalidade da vida com contribuição da teoria
psicanalítica. Conclui-se que o cuidado paliativo é fundamental para que ocorra um
processo de finitude adequado para o indivíduo e seus familiares, de modo a
proporcionar o bem-estar e autonomia em todas as fases do morrer.

Palavras-Chave: Cuidado Paliativo. Psicologia Hospitalar. Enlutamento. Morte.

ABSTRACT

This article aims to present the importance of palliative care in order to emphasize the uniqueness of
the subject in his anticipatory mourning process. The objective is to present the construction of the
palliative care structure composed of a multidisciplinary patient-team, and the management of the
professional psychologist in the face of the dying patient's grief. This article is the result of a
bibliographical research on the theme of palliative care in the end of life, with a contribution from
psychoanalytic theory. It is concluded that palliative care is essential for an adequate finite process to
occur for the individual and their families, in order to provide well-being and autonomy in all phases of
dying.

KEYWORDS:Palliative care. Hospital Psychology. Mourning. Death

1
Trabalho de conclusão de curso apresentado na Faculdade de Educação de Tangará da Serra
2
Acadêmica do 10º período de Psicologia da Faest.
3
Prof. MS Josiane Tomaz da Silva docente da Faculdade de Educação de Tangará da Serra
6

INTRODUÇÃO

Neste artigo descreveu-se sobre a necessidade de proporcionar melhor


qualidade de vida e autonomia no caminho dos cuidados na fase da ortotanásia em
pacientes que desejam uma morte com dignidade e tendo o apoio dos familiares e
amigos. Descreveremos sobre a construção do cuidado paliativo e sua importância
em todos os campos de atuação do psicólogo, principalmente no momento de cuidar
da dor do indivíduo e de seus familiares, sendo ela emocional, orgânica e espiritual.
A ortotanásia é o cuidado para morrer, onde o indivíduo esteja em estado
terminal, a família e a equipe vai-se estabelecer meio para que o paciente tenha
uma qualidade de vida adequada até sua hora de morte, Marta (2010, p.01) contribui
que “Trata-se da ortotanásia, ou seja,da boa morte,da arte do bem morrer,atenta ao
fato de se respeitar o bem-estar global dos indivíduos a fim de garantir a dignidade
no viver e no morrer.”
A psicologia se ramifica em diversas áreas para atender as demandas
decorrente das necessidades que a humanidade foi adquirindo ao longo do tempo,
como a escolar,do trânsito,ambiental, forense, hospitalar. Uma das necessidades
que sucedeu- se foi área hospitalar de obter um apoio à psique do indivíduo que é
acometido por doenças incuráveis ou em estados elevados de doença que somente
o uso de medicamentos paliativos não são suficientes para dar algum suporte ao
longo dos sintomas que levam a morte. A psicologia Hospitalar tem englobado o uso
de cuidados paliativos em casos já em evolução avançada e outros que evoluíram
pouco a pouco como pacientes com o Vírus da imunodeficiência humana-HIV,
oncológicos, cardiovasculares, entre outros.
É necessário ressaltar que o cuidado paliativo é uma tríade composta de
paciente, equipe multidisciplinar e família, todos trabalhando para que haja um
processo de experiência e elaboração no momento do luto antecipatório e posterior
com a família e envolvidos.
O luto antecipatório é o termo utilizado para designar quando o sujeito está
com alguma doença terminal, ou seja, não há cura para o mesmo. Dessa maneira, o
luto antecipatório está dentro da estrutura do cuidado paliativo para auxiliar o
indivíduo para o ato de morrer com qualidade.
7

O método de cuidado paliativo surgiu para auxiliar no processo de aceitação da


situação, amenizar a dor dos envolvidos e adequar o período de morte perante ao
diagnóstico de doenças terminais, não se tratando de um prematuro “suicidio” ou
prolongado “manter a vida sobre aparelhos de ventilação mecânica", mas sim
melhorar a qualidade de vida do indivíduo trazendo benefícios à saúde e bem- estar
na finitude do indivíduo.
O cuidado paliativo é uma prática para o acolhimento desse indivíduo que está
em sofrimento por diversos motivos, tais como: a notícia da doença, pelo tratamento
intensivo e medicamentoso, vulnerabilidade psíquica e diversos fatores que envolve
a singularidade de cada sujeito. Podemos destacar que a família do indivíduo
também sofre em todo o processo de tratamento e luto, e a equipe multidisciplinar
que o acompanha também acomete algum grau de sofrimento.
Sendo o indivíduo integrado por aspectos orgânicos, psíquicos e espirituais.
Podemos salientar que é um estudo sempre em evolução, que eleva a consideração
de época, cultura, tradições do indivíduo e também o mais importante, o
acolhimento e capacidade de proporcionar ao indivíduo a participação ativa em seu
processo de finitude. Desse modo, é necessário o estudo dessa modalidade de
atendimento em psicologia para demonstrar sua área de desenvolvimento e sua
contribuição acerca do desenvolvimento do ciclo vital do ser humano na finitude.
O artigo é de base qualitativa bibliográfico, de forma que foi necessário uma
pesquisa bibliográfica, onde foram escolhidos artigos aleatórios a partir do tema de
cuidados paliativos, online dos portais da SCIELO e o portal de periódicos
eletrônicos de psicologia (PePSIC) sobre o tema em questão e autores como:
Simonetti (2004), Kubler Ross (1996), Gomes e Othera (2016), Hermes e Lamarca
(2021),contendo material impresso para o embasamento do estudo e artigos de
grandes ressalta sobre cuidados paliativos. Visando compreender e descrever
aspectos que envolvem o cuidado paliativo e suas vicissitudes no tratamento de
pacientes terminais, com o auxílio de artigos e livros.
8

1. CUIDADO PALIATIVO
A concepção sobre a morte e o luto é um tabu que vem a gerações sendo
transmitido e originam-se a partir das crenças e das tradições,Kübler-Ross (1996,p
19) pioneira no cuidado paliativo traz que “Há muitas razões para se fugir de encarar
a morte calmamente. Uma das mais importantes é que, hoje em dia, morrer é triste
demais sob vários aspectos, sobretudo é muito solitário, muito mecânico e
desumano”. Quando ocorre a morte de entes queridos ou amigos a dor é
inexplicável, e Segovia (2017) descreve a dor do luto sendo comparada a dor de
uma amputação de algum membro do corpo. Em centros de atendimento como
hospitais e clínicas viu-se a demanda de um atendimento que amparasse essa dor,
tanto dos familiares e da equipe que fez o atendimento, pois comumente ninguém
está preparado para a morte de um indivíduo próximo.
O Cuidado paliativo de acordo com a OMS é descrito da seguinte maneira:

“Em 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS), corroborando tais


preceitos, definiu cuidado paliativo como sendo “o cuidado ativo e total dos
pacientes cuja enfermidade não responde mais aos tratamentos curativos.
Controle da dor e de outros sintomas, o cuidado dos problemas de ordem
psicológica, social e espiritual são os mais importantes. O objetivo dos
cuidados paliativos é atingir a melhor qualidade de vida possível para os
pacientes e suas famílias”.(MARTA, 2010, p.01)

Ao passo que paciente e familiares se deparam com o diagnóstico final, é


impactante e necessário que tenha um apoio, e auxílio de um psicólogo hospitalar,
para que esta fase possa ser experienciada com o devido suporte terapêutico,
visando não intensificar a dor do paciente, com métodos de cura e sobrecarregá-lo
com informações sobre seu estado de saúde.

Seus princípios incluem: reafirmar a importância da vida, considerando a


morte como um processo natural; estabelecer um cuidado que não acelere
a chegada da morte, nem a prolongue com medidas desproporcionais
(obstinação terapêutica); propiciar alívio da dor e de outros sintomas
penosos; integrar os aspectos psicológicos e espirituais na estratégia do
cuidado; oferecer um sistema de apoio à família para que ela possa
enfrentar a doença do paciente e sobreviver ao período de luto.(HERMES;
LAMARCA ,2013, p.02).

O cuidado paliativo surgiu dessa demanda, a partir da necessidade de amparo


e acolhimento dos envolvidos, sendo uma modalidade de atendimento primordial em
9

casos de ortotanásia, ou seja, nos casos de morte em que o sujeito esteja em


situação irreversível de doença. Simonetti (2004) aponta que ainda é possível trazer
a satisfação ao paciente quando não há mais nada para fazer sobre a cura da
doença, e, portanto, proporcionar a autonomia do sujeito, levar em consideração
seus últimos desejos é algo essencial no que se refere aos cuidados paliativos, pois
devemos levar em consideração que o paciente não é somente um corpo biológico
que adoece, mas, que possui necessidades de ordem psicológica e espiritual.
Cuidados paliativos é um método que trabalha em conjunto com a equipe
multidisciplinar, família e paciente para alcançar um objetivo em comum: a melhora
da qualidade de vida do paciente que está em fase de aceitação da morte, mas,
neste caso uma morte com dignidade e aceitação do quadro por todos envolvidos.
Na área da Psicologia, os Cuidados Paliativos é uma modalidade na qual o
psicólogo trabalha para facilitar a compreensão do paciente sobre sua atual
condição de vida, procurando dar conforto para as suas angústias e desta
forma amenizar as dores emocionais, respeitando seu tempo diante da
aceitação da finitude de sua vida. (CRISTINA; SANSONI;EUGÊNIA, 2014, p.29)

No método de Cuidados Paliativos, o primeiro tratamento ou a primeira escuta


é direcionada ao paciente, pois é ele que necessita da atenção no caso clínico, e o
psicólogo precisa auxiliar nas questões que são levantadas pelo paciente, que
requer ser ouvido, se expressar, ou o ato mais simples de compreender e oferecer
suporte à dor silenciosa do paciente. Nestes casos, de modo geral, pode ser “o
melhor remédio” que o paciente necessita para se acalmar e assimilar todos os
processos em torno de sua condição de vida. Simonetti (2004), afirma que o
atendimento com o paciente não precisa ser estruturado ou fixado em um tema em
questão, mas sim no assunto que o paciente mostra interesse, possivelmente
questões que o sensibilize em sua vida e em seus ciclos de vínculos e relações
sociais, tais como, a família, trabalho e futuro. Um futuro simbólico neste caso, que
permite ao paciente reelaborar questões do passado e pensar em como seria futuro,
em certos casos não tem a temática sobre a morte em questão.

2. ACEITAÇÃO DE SUA FINITUDE E MEDICAMENTOS


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O paciente passa pelas etapas de luto antecipado para que haja uma aceitação
do caso clínico, que é primordial para conseguir ter uma melhora na qualidade de
vida e subsequente na finitude estabelecida pela doença.

“Na verdade, a atuação em cuidados paliativos fica entre dois limites


opostos, onde, de um lado, a convicção profunda de não abreviar a vida, de
outro, a visão de não prolongar a agonia, o sofrimento e a morte. Assim,
entre o não matar e o não prolongar, situa-se o cuidar. Como se é ajudado
para nascer, o homem precisa ser também ajudado no momento do morrer.”
(PORTO E LUSTOSA, 2010, p. 17)

O luto é descrito por etapas que envolvem a rotina do sujeito, e Segovia (2017),
apresenta que a maioria dos autores que falam sobre o luto citam diversas etapas,
mas há um consenso sobre a compreensão de que se trata de um processo que
deve ser elaborado pelo indivíduo e sua singularidade de aceitação de perda.
O importante é comunicar ao paciente que nem tudo está perdido; que não
vai abandoná-lo por causa de um diagnóstico; que é uma batalha que tem
que se travar juntos- paciente, família e médico-, não importa o resultado
final.(KÜBLER-ROSS, 1996, p.41)

No processo do luto, convencionou-se que este acontece em cinco fases que


são: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação, e será pontuado cada etapa
para maior compreensão do processo de luto.
O primeiro estágio, a negação, é o sentimento perante ao diagnóstico,
geralmente de negação da realidade, demonstração de indignação sobre a doença e
sintomas, "A negação pode adotar diferentes formas, e nem sempre é
exclusivamente verbal” (SEGOVIA, 2017, p.35). A dor emocional e dor física, tomam
a forma de unidade neste momento de negação pois, a dor que o paciente se queixa
pode ser física mas, na maioria dos casos essa mesma dor também pode ser
referente às informações e diagnósticos recebidos e o impacto causado por estes,
assim aumentando os sintomas presente no organismo do sujeito. Tal impacto, se
relaciona com os significados sociais historicamente concebidos sobre a
saúde-doença, a morte e o viver, que de modo geral, localiza a doença e a morte
somente em suas facetas negativas e destrutivas, produzindo mais sentimentos
hostis do que de enfrentamento e elaboração do processo de luto. A autora
Kübler-Ross (1996) define a negação como uma defesa temporária em alguns
casos, de modo que o indivíduo não consegue acreditar por muito tempo que vá
11

morrer, mas que está recusa da situação atual seja contribuinte para o indivíduo ter
um planejamento de vida, mesmo que tenha ciência da sua finitude.
A elaboração perante este período de aceitação e recolocação do paciente
terminal, vem com o passo de entendimento da situação real e concreta sobre a
morte que dá a oportunidade de como se reposicionar perante a vida.Segundo
Segovia (2017, p.37) “Resolver essas tarefas de forma adequada pode lhe
proporcionar o desenvolvimento de habilidades que o sobrevivente antes não tinha,
facilitando a percepção de um novo sentido para a vida”.
A segunda fase do luto é a raiva, ressentimento sobre a doença terminal e sua
perda gradativa da autonomia, de modo que estes sentimentos sejam direcionados
para todos envolvidos : família, amigos, profissionais, e até a si mesmo; por
questionamentos, injúrias, não aceitação de cuidados no dia-dia ou medicamentos,
nesta fase Kübler-Ross( 1996, p.91) contribui relatando sobre uma paciente que
estava nesta fase, “As pessoas ao seu redor, em lugar de entender a origem de sua
mágoa, assumiam as dores e começavam a rejeitá-la mais ainda” Ressaltado a
importância do profissional de psicologia trabalhar essa questão com a família.
A terceira fase é composta pela barganha, o paciente no ato de tentativa de
conseguir adquirir uma qualidade de vida e tempo entre sua finitude, usa-se da
barganha com os que estão em volta de si, como os médicos, capelães, Deus, com
os mais variados tipos de promessas. A autora Kübler-Ross (1996) contribui que o
paciente faz uso da barganha para que tenha um adiamento de sua morte, sendo
essa fase do luto muito mascarada pela fala do paciente, somente percebida por
observações com a equipe hospitalar quando o mesmo tenta comprar alguns dos
funcionários por meio da barganha.
A quarta fase é elaborada pela depressão, onde todas as outras fases são
sublimadas para a depressão, e ocorre o entendimento da situação atual, da saúde
física e a perda da esperança que vá ter melhoras ao longo da sua finitude. O
paciente tende a ficar triste onde compreende que ao ser compelido a tentar lutar
para vida mesmo que esteja pronto para aceitar que vá morrer, é um paradoxo
confuso mas indispensável para que o mesmo consiga chegar na aceitação e tenha
uma morte com qualidade de vida e bem- estar emocional.
12

O paciente está prestes a perder tudo e todos a quem ama. Se


deixarmos que exteriorize seu pesar, aceitará mais facilmente a situação e
ficará agradecido aos que puderem estar com ele neste estado de
depressão sem repetir constantemente que não fique
triste.(KÜBLER-ROSS, 1996, p.101)

Esta depressão da quarta fase do luto, não é a depressão patológica, que


possui vários sintomas, a depressão do luto é a melancolia, e o período de duração
não caracteriza como a depressão patológica.
O processo de aceitação é concluído como última fase do luto, quando o
indivíduo consegue se recolocar perante as escolhas que facilite sua melhoria, de
modo que a melancolia inicial do processo de finitude seja menos latente no
decorrer de escolhas, que venha proporcionar qualidade de vida e bem-estar clínico.
Não podia compreender como um paciente chega a um ponto em que a
morte nada mais que um grande alívio e que se torna mais fácil morrer
quando se é ajudado a desapegar-se de todos os relacionamentos
importantes da vida.(KÜBLER-ROSS, 1996, p.131)

Podemos ressaltar que o processo de luto e suas fases para entender a


situação de morrer e morte é singular,e o luto antecipatório é o paciente terminal
passar pelas fases do seu próprio luto. Segundo Worden (2013,p.146) “Muitas
mortes acontecem com algum prenúncio e é durante esse período de antecipação
que o indivíduo inicia a tarefa do luto e começa a vivenciar as várias respostas do
luto”.
A autora Kübler-Ross (1996) ressalta que entre o processo do luto definido
pelas etapas que foi ressaltada até aqui, se obtém uma que interliga todas, a
esperança, de maneira que ela é o ponto de força para o indivíduo até o final,em
particular em momentos difíceis. Essa esperança de alguma cura, de que os
médicos vão achar algum medicamento que vai curá-lo,o mesmo possa voltar para a
rotina que tinha antes da doença. Sendo essa esperança um método de
enfrentamento, onde não deve-se ser alimentado e nem ceifado pelos profissionais e
familiares.
A medicamentação neste quesito é a ferramenta que auxilia nas dores e não
em tratamento que possa prolongar este período de dor que é inadequado, pois são
quadros de casos terminais, em que a extensão da vida, remete à ampliação do
tempo da dor e do sofrimento, e que a cura já não se encontra mais como uma
13

possibilidade, para kübler-Ross (1996, p.33) “Nossa meta não é deveria ser dispor
de especialistas para pacientes moribundos, mas treinar pessoal hospitalar para
enfrentar serenamente tais dificuldades e procurar soluções”. A dor física pode ser
combatida com medicamentos para que trabalhemos com a dor psicológica do
paciente, mas, Simonetti (2004) descreve que muitos médicos e familiares tem
receio do uso de certos fármacos, em decorrência de possível dependência de
medicamentos conhecido como "drogadição", sendo considerado uma falha nos
tratamentos atuais, visto que não faz sentido no caso de pacientes terminais.
Porto e Lustosa (2014,p.10) fazem uma importante pontuação sobre essa
questão, que também pode ser considerada uma forma de proporcionar "Qualidade
de vida no processo da morte e prolongamento da vida não deveria estabelecer uma
relação de incompatibilidade, e sim de complementaridade. É o fazer tudo que é
possível, e parar no limite do tolerável.”
O ato do psicólogo fica definido por duas dimensões: não prolongar a dor mas,
proporcionar qualidade de vida nos momentos finais do paciente, uma qualidade que
convém com a individualidade e subjetividade do paciente.Em certos casos Porto e
Lustosa (2010) mencionam que o sujeito tem direito de recusa de atendimento, por
se sentir ameaçado e almejar terminar os dias sem acompanhamento e com
dignidade, da maneira que preferir. Onde o sujeito obtém a escolha de atendimento
e a sua escolha seja não obter um direcionamento de cuidados paliativos.
A dignidade do indivíduo é a chave mestra para o cuidado paliativo, de forma
que o paciente tenha autonomia e compreensão de todo o processo que está
passando, fazendo com que tenha confiança na equipe e em si mesmo, se
conhecendo neste processo de finitude e compreendendo questões ligadas às suas
crenças, cultura, expectativas e modo de viver.
A preocupação com a humanização hospitalar tem como principal meta a
dignidade do ser humano e o respeito por seus direitos, visto que a pessoa
humana deve ser considerada em primeiro lugar. A dignidade da pessoa,
sua liberdade e seu bem-estar são fatores a serem ponderados na relação
entre o doente e o profissional de saúde (PORTO E LUSTOSA, 2010, p.13)
A autonomia de escolhas sobre sua saúde,a opção de escolhas e possíveis
questões sobre tratamentos se configura diretamente ao paciente de forma que
tenha-se uma via transparente de comunicação entre todos envolvidos no caso
clínico.
14

3. A MELHORA DA QUALIDADE DE VIDA


Neste momento de finitude, o cuidado paliativo pode fornecer a melhora da
qualidade de vida, autoconhecimento, aceitação e entendimento de sua condição,
alívio de dores físicas; emocionais; dignidade no momento, o que requer atenção e
veracidade neste ato, pois, o paciente pode se sentir enganado e por consequência
romper o vínculo paciente/psicólogo. Assim, Arantes (2019,p.94) pontua: “O que
mata é a doença e não a verdade sobre a doença”.
Segundo Simonetti (2004), o interesse que a equipe multidisciplinar e o
psicólogo demandam ao caso e ao paciente pode resultar em melhorias no caso
clínico, influenciando no seu bem-estar psicológico e físico. Em virtude do
acolhimento e da aceitação do método cuidado paliativo, quanto mais precoce o
atendimento, maiores são as chances de se ter a qualidade de vida e até um
prolongamento com qualidade.
A comunicação, especialmente de notícias difíceis, é outro pilar de
majoritária importância. Deve-se buscar a comunicação aberta e ativa, em
um processo de confiança e vínculo com o paciente e a família,
considerando-se sempre a disponibilidade de informações através da
verdade lenta e progressivamente suportável. Ressalta-se que o trabalho -
para ser efetivo - deve ser feito em equipe interdisciplinar, propiciando a real
melhoria da qualidade de vida de pacientes e familiares. (GOMES E
OTHERA, 2016, p.05).

A qualidade de vida é um termo muito amplo, pois ela é singular ao sujeito e


sua compreensão de mundo.. As autoras Gomes e Othera (2016), realizaram um
estudo feito em 2010 em que os pacientes que fizeram o uso do método cuidado
paliativo tiveram melhoria de quadro clínico e foi possibilitado o aumento de três
meses de vida a mais comparado aos que não utilizaram o método, além de
apresentarem melhora de humor e maior capacidade adaptativa ao ambiente e
estratégias de tratamento. Ainda, vale ressaltar alguns procedimentos utilizados em
estudo realizado no Hospital Premier, definidos como meios para lidar com cuidados
paliativos.

“Controle impecável de dor e outros sintomas; Conforto; Prevenção de


agravos e incapacidades; Promoção da independência e autonomia;
Manutenção de atividades e pessoas significativas para o doente; Ativação
de recursos emocionais e sociais de enfrentamento do processo de
adoecimento e terminalidade; Ativação de redes sociais de suporte; Apoio e
orientação à família e cuidadores.”(GOMES E OTHERA, 2016, p.07).
15

4. ESTRUTURAÇÃO DO CUIDADO PALIATIVO E SUAS RAMIFICAÇÕES NO


PACIENTE, EQUIPE MULTIDISCIPLINAR E FAMÍLIA

O manejo desse paciente deve ser cauteloso, auxiliar no combate e prevenção


dos sintomas, ter uma intervenção social e espiritual do contexto do paciente, sendo
uma validação do sujeito no seu contexto social e demonstrar que o mesmo ainda
pode tomar decisões importante a respeito de si mesmo no meio familiar, financeiro
e a construção das crenças e fortalecimento de vínculos religiosos por meio de
orações com os pacientes religiosos e indagações , disponibilizar apoio à família e
dar autonomia e independência ao paciente, de modo que, este possa atribuir
sentido novamente a sua vida. Gomes e Othera (2016) afirmam que a Organização
Mundial de Saúde- ( OMS) disponibiliza de uma classificação de quatro níveis, de
países de acordo com o nível de desenvolvimento do método cuidado paliativo, em
que o Brasil se encontra em terceiro de modo que ainda precisa evoluir e
estabelecer leis e segmentos a seguir sobre determinados padrões no cuidado
paliativo. Gomes e Othera (2016, p.162) enfatizam que “faz-se importante registrar
que não há leis constitucionais sobre os Cuidados Paliativos no Brasil” mas,
possivelmente com a demanda aumentando de pacientes e profissionais há de se
obter mudanças.

Ao lidar com a morte de frente, o profissional em muitos casos, não está


preparado psicologicamente para este “choque”, ao passo que o cuidado paliativo é
composto por uma tríade paciente/equipe multidisciplinar/ família, e o psicólogo deve
dar assistência também a equipe, como afirmam as autoras sobre a necessidade de
um enfoque nessa ligação entre paciente e equipe.

Esse profissional tem como papel identificar maneiras de troca entre


paciente, família e com a unidade de cuidados, objetivando a promoção de
uma boa adesão aos cuidados propostos, em um nível controlado de
desgaste profissional e pessoal entre essa tríade, através de uma
comunicação eficiente. (PORTO; LUSTOSA, 2010, p.14).

Ao mesmo tempo, a compatibilidade de sentimento transmitido pelo paciente é


sentido pelos profissionais, sendo necessário um apoio terapêutico, para lidar com
as questões próprias desenvolvidas pela constante dor das perdas obtidas pelo
16

processo da doença, sendo essa dor passada de paciente a paciente nos


atendimentos para com os profissionais. Devemos lembrar da singularidade do
indivíduo que sofre, ao passo que Porto e Lustrosa (2010, p.91) ressaltam “Saber
que a morte é inevitável não exime o sujeito da dor deste momento. Além dos
cuidados físicos, os profissionais de saúde precisam aprender a cuidar dos aspectos
emocionais”.
O psicólogo vai se deparar com diversas demandas, vindo do paciente, da
família e equipe, sendo uma “ponte” entre relacionamentos que visam a melhoria do
paciente terminal, buscando entender e compreender as queixas, sintomas,
possíveis problemáticas que emergem no decorrer do processo de aceitação e
autonomia do indivíduo,sendo necessário também, que haja uma noção do quadro
evolutivo para acolher familiares e orientar a equipe envolvida. Genovia (2017)
aponta como podemos lidar com a autonomia do indivíduo de forma simples, “Não
se trata de decidir por ele, mas de tentar, por meio do entendimento, despertá-lo e
colocá-lo em uma situação em que ele mesmo seja capaz de utilizar seus próprios
recursos”.
Ao passo que o psicólogo propicia a autonomia e acolhimento ao paciente, o
mesmo deve estar aberto a aceitar sua condição e querer entender a dor que o
mesmo está sentindo. Simonetti (2004 apud. Kaplan e Sadock, 1995) traz diretrizes
ao lidar com o manejo do paciente de forma não invasiva, são denominadas sete
diretrizes: a primeira, seja transparente ao paciente de forma integral, sem esconder
os fatos; a segunda, dê ao paciente a fala, quais queixas e seus temores, dê a
certeza que não vai ser abandonado; a terceira, a autonomia e ajude nas definições
de qualidade de vida; a quarta é fundamental manter a esperança nesta fase de
finitude; a quinta, faça ver não somente a cura, mas sim o momento que ainda resta
de forma sutil; sexta, esteja em harmonia com as vontades do paciente e da família,
e a última, sétima, evitar o distanciamento ao final da vida do paciente.
Essas orientações são primordiais para todos os atendimentos, para que o
paciente tenha um acompanhamento tranquilo e agradável.A morte é um momento
forte e marcante para todos, de forma que é perceptível abandono em certos casos,
e a equipe multidisciplinar pode se deparar com o luto antecipatório, de alguns
integrantes, ao passo que criou-se laços e vínculos com os pacientes. Simonetti
17

(2004, p.141) relembra uma fala freudiana: "É o cuidado que uma pessoa presta a
outra a partir de sua presença em pessoa” ao ato de cuidar e dar atenção, que é o
essencial para a humanização desse momento delicado. Ao ver que o procedimento
de cuidar de um paciente terminal pode causar cansaço, irritação e desânimo, o
profissional deve aprender como conviver com esses fatores diários, e resistir ao
impulso de evitar ou minimizar o contato. Ao se deparar com essa temática, os
autores trazem uma descrição da atitude tomada pelos profissionais aos pacientes
terminais.
A dificuldade em lidar com a morte é mencionada nos textos, o que faz com
que muitos profissionais encontrem alternativas para não se deparar com a
situação: mascaram a morte, fogem dos pacientes terminais, não falam com
o paciente sobre o assunto, não criam vínculos e dispensam um tratamento
pouco individualizado. (HERMES; LAMARCA, 2013,p.09)

As visitas são indispensáveis e reconfortantes, em casos de crianças, o


aconselhável é verificar com a mesma, se sente confortável para se deparar com o
ente, já que uma visita de criança e familiares traz alegria e consolo ao ente que
está em processo terminal, de modo que neste momento, o psicólogo deve auxiliar
na demanda e trazer familiares do paciente. Simonetti (2004, p.141) afirma: “Cuidar
de uma pessoa em estado terminal é potencialmente uma oportunidade de
crescimento tanto para a família como para o paciente”, dessa maneira, é primordial
o apoio e encorajamento da família para a construção do bem-estar clínico e
psicológico.
A humanização no atendimento é indispensável a todo ser humano, sendo este
em sua totalidade ou parcialmente, a psicologia hospitalar vem para fazer esta
função com o amparo, em todos os casos, mas principalmente com pacientes
terminais com a contribuição dos cuidados paliativos, que inclui sua tríade de
atendimento, como os autores trazem:
Humanizar é garantir à palavra a sua dignidade ética. Ou seja, para que o
sofrimento humano e as percepções de dor ou de prazer no corpo sejam
humanizados, é preciso tanto que as palavras expressadas pelo sujeito
sejam entendidas pelo outro quanto que este ouça do outro palavras de seu
conhecimento. A humanização depende de nossa capacidade de falar e
ouvir, do diálogo com aqueles que nos cercam (PORTO; LUSTOSA, 2010,
p.12)

5. A MORTE E PERCEPÇÃO DE MORRER


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A fase de morrer com qualidade e dignidade, o ato de morrer em si pode


impactar tanto a equipe que pode ver a morte como um ato de fracasso profissional
como a família com a perda de um ente querido. Podemos verificar duas demandas
posteriores à morte do indivíduo, e as duas precisam ser trabalhadas de maneira a
dar suporte a facilitar a aceitação e demonstrar em toda administração a situação de
respeito, conforme Arantes ( 2019, p.47) “O verdadeiro herói não é aquele que quer
fugir do encontro com sua morte, mas sim aquele que reconhece como sua maior
sabedoria”, ter empatia e autenticidade ao lidar com a dor do próximo, sendo ele
profissional ou familiar.
O luto começa com a comunicação à família, e deparamos como a questão de
como passar essa notícia adiante, e ao transmitir a notícia de morte, os profissionais
buscam o auxílio do psicólogo, um embasamento de fala e manejo da situação de
forma que cause aflição em todos incluídos nesta função. Para Sevonia (2017, p.43)
“A falta de preparo dos profissionais na hora de manejar o luto das famílias é uma
barreira difícil de ser superada no momento em que essas pessoas iniciam o
processo do luto”. Ao comunicar, o profissional precisa ter um preparo individual para
que haja um manejo desse luto, não se pode deixar passar uma “frieza” ao lidar com
o assunto, essa comunicação tem que ser autêntica e simples, deixando claro que
foi feito tudo na medida do possível ao paciente, para que não traga consequências
negativas para os familiares, como desestabilização, sentimentos de culpa, raiva etc.
Possivelmente, há casos de silêncio e aceitação no ato de comunicação da
morte, deve-se observar como Senovia (2017, p.41) descreve que “os esforços para
inibir os sentimentos podem piorar o processo de luto”o que, provavelmente é
produto de uma cultura em que o revelar os sentimentos é sinal de fraqueza,
podemos verificar quando ocorre este fator, no momento em que toda a família do
paciente recebe a notícia.
O fato de lidar com as perdas consecutivas, no ato de morrer é uma dor imensa
de modo que não somente o paciente sinta essa dor, mas todos envolvidos como:
família, amigos, equipe multidisciplinar.
Significa ter que lidar com a perda: perda do corpo saudável, da relatividade
autonomia, que lhe proporciona, perda da imagem corporal, da
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independência, do status social, da autoestima, de seus projetos para o


futuro, ou seja, a perda de si.(GASPAR, 2011, p.114)

Em todos os casos de verificação de possíveis não aceitação do luto, queixa de


culpa ou algo semelhante, deve-se realizar um pedido de um acompanhamento
terapêutico especializado para o luto, para a família ou indivíduos próximos. Para
Sevonia (2017, p.57), “Em muitos casos, o apoio emocional é a grande e única ajuda
que nós, profissionais de saúde, podemos oferecer ao paciente e à sua família”.
Podemos visualizar o desgaste emocional dos profissionais envolvidos com
pacientes terminais, de forma que eventualmente estes se deparam com a morte de
pacientes, e ao passo que, conforme Hermes e Lamarca (2013, p.08) “Quando a
morte é inevitável a sensação que aparece é o de fragilidade deste "poder de curar",
causando em muitos profissionais a sensação de fracasso profissional”. A
humanização não deve somente ser direcionada ao paciente, mas também aos
profissionais médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, nutricionistas,
fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicólogos.
O sentimento de abandono que experimentamos quando morre um paciente
que atendemos é desolador.Somado ao fato que estarmos alquebrados na
dor da perda de si, temos ainda uma família que aguarda ansiosa por
alguma forma de conforto e amparo. E a sensação que muitas vezes me
invade é de o paciente , após a morte é quem passa a cuidar de nós com as
coisas deixadas e ensinadas durante o período de
convivência.(ANGERAMI CAMON, 2004, p.96)

Disponibilizar a abertura de fala para todos é crucial para um ambiente e


acolhimento adequado pois, eventualmente uma equipe preparada psicologicamente
pode fazer um manejo adequado e eficaz.

6. O LUTO ANTECIPATÓRIO E A PSICANÁLISE FREUDIANA


A psicologia vem proporcionar auxílio ao sujeito ao deixar ele falar sobre as
suas demandas e medos ao decorrer do processo de internação e saúde- doença,
suas vivências ao longo de sua vida e questões que o prendem na aceitação de sua
finitude. A autora Kübler-Ross (1996) descreve ao longo das entrevistas no livro
Morte e Morrer,sobre as melhorias que obtiveram os pacientes que foram ouvidos
no decorrer dos seminários sobre morte e morrer ,sobre as hospitalizações e manejo
dos profissionais, bem-estar emocional e preparo ao lidar com situações de
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mal-estar decorrente da doença elevando a importância de ser ouvida a dor do


sujeito em sua terminalidade.
A partir da concepção de finitude e de morte, compreendemos que o sujeito
acometido nesta situação precisa se auto analisar ou se possível que tenha um
apoio terapêutico para elaborar esse luto no seu inconsciente de maneira que
compreenda a situação que se encontra e elabore um luto adequado. Conforme
Kübler-Ross (1996 ,p.55) “Como somos todos imortais, em nosso inconsciente, é
quase inconcebível reconhecermos que também temos de enfrentar a morte” ,
sendo um processo de construção do paciente como analisando .
“Afirma veementemente que o inconsciente não retém representações
negativas, ou seja, não seria possível falar de uma representação
propriamente direta da morte, uma vez que esta deveria significar ausência
da vida.” (Freud 1915/1996 Apud. CAMPOS, 2013, p.14)

Desse modo, o luto sem características presentes no inconsciente deve ser


elaborado e manifestado pelo sujeito, podemos utilizar o modelo psicanalítico de
cura pela fala, trabalhando todo conteúdo latente que esse sujeito enfrente em sua
finitude, trazido no decorrer de seu adoecimento. Gaspar( 2011, p.113) traz que “As
principais fontes de sofrimento são os pensamentos, as lembranças,as esperanças,
os sentimentos,as crenças e os sentidos.O sofrimento surge quando há
desesperança,desespero, perda de sentido frente a própria existência”.
O preparo para esse luto e finitude é conturbado e singular, à luz da terapia
psicanalítica pode-se trabalhar em focalizar a libido, a procura de outro objeto de
desejo já que o objeto anterior foi perdido, de modo que o sujeito compreenda ser
necessário essa troca de lugar de direcionamento do libido.

O trabalho de simbolizar e elaborar a perda, reencontrando novos caminhos


para o desejo, leva certo tempo e envolve algum pesar. É por meio desse
percurso que esses objetos de amor podem ser desinvestidos e o sujeito
passa a encontrar novos substitutos. Evidentemente, esse processo não é
tão simples, pois envolve não apenas encontrar um objeto substituto, mas
elaborar as fantasias conscientes e inconscientes que são ativadas com a
perda de objeto. O processo de luto é, portanto, um redimensionamento das
fantasias e defesas do psiquismo, em busca de um novo equilíbrio de
forças. ( CAMPOS, 2013, p.16)

O manejo é singular pois, cada sujeito é único, e neste processo em volta da


humanização e da procura de conhecer as vivências do paciente vai se fazendo o
21

trabalho de qualidade de vida na finitude e a compreensão do objeto perdido na


formulação da associação livre. Para Campos (2013, p.16): “Desse modo, uma
perda poderá trazer uma nova significação para um conjunto de fantasias e afetos
inconscientes do sujeito.” A associação livre será o meio adequado para o
enfrentamento desse luto e finitude, e para Silva e Cardoso (2020 ,p.28) “Será por
meio da fala, do discurso do analisando, que os medos e angústias poderão ser
analisados, assim como a possibilidade de interpretação de sonhos trazidos pelos
pacientes.”
O processo de luto antecipatório é dar um manejo a uma dor física e
emocional, contribuir com uma melhoria e reconstrução do modo de vida do sujeito
doente, mas que para isso ocorra o mesmo deve estar aberto para o acolhimento
desse luto e sintomas.

A parte mais crítica deste processo consiste na redefinição de si mesmo,


feito pelo paciente na fase final da vida. Neste momento, a redefinição
significa apagar a visão que se tinha da pessoa que costumava ser, e
desenvolver novas concepções de si próprio, que incluem as limitações
impostas pela doença e as mudanças físicas, emocionais e cognitivas
(SANTOS; YAMAMOTO; CUSTÓDIO, 2018, p.11).

O luto antecipado com o sujeito acometido com a doença e o luto com a família
se encontra no processo de fases de elaboração do luto, onde se é formulado e
reelaborado o ato de morrer para o sujeito. De acordo com Vargas e Netto (2021,),
são 5 fases do luto estabelecido pela autora e fundadora do cuidados paliativos
Elisabeth Kubler-Ross “passa pelos estágios de negação, raiva, barganha,
depressão e por último a aceitação.” Vale lembrar da singularidade do indivíduo
neste caso, podendo essas fases do luto serem diferenciadas ou puladas na
organização do luto do sujeito.
Essa estruturação de luto pode se adequar como uma reestruturação da psique
do sujeito, pois o mesmo tem que se adaptar com a finitude estabelecida e com seus
conflitos internos, compostos de todas as demandas que o mesmo traz na bagagem
interna, e que precisam se ajustar à nova realidade.

O sofrimento ocorre quando a integridade do ego está sob ameaça. O alívio


do sofrimento acontece quando essa ameaça é cessada. Não é possível
cuidar adequadamente dos pacientes considerando apenas as suas dores
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corporais. Quem sofre, sofre por inteiro.Sofrer é uma experiência de existir,


e o alívio começa com o cuidar em toda a dimensão do ser. (GASPAR,
2011, p.113)

Podemos destacar também que em certos casos não ocorra a elaboração


desse luto precoce, por inúmeros motivos como: a morte do paciente, o não
consentimento de um tratamento psicoterapêutico, os casos de pacientes em coma,
o hospital não ter o acolhimento de um psicólogo e entre outros fatores. Ainda,
pode-se ocorrer bloqueios emocionais futuros, por não manejo psicológico, de
acordo com os autores Santos, Yamamoto e Custódio (2018, p.14)“O luto
complicado seria, portanto, uma complicação do luto normal, que levaria o enlutado
à não resolução do processo”.
Na terapia psicanalítica podemos observar que a melancolia - que atualmente
pode-se igualar a uma depressão não patológica, está interligado ao processo de
luto complicado, o autor Campos (2013, p.16) enfatiza: “Além do luto patológico, em
que esse trabalho se cronifica e cristaliza, temos, também, um paralelo com a
patologia melancólica”. Quando o sujeito em estágio terminal ou alguém da família
se estagnar em uma fase de desenvolvimento, pode ocorrer as consequências de
sintomas somatizadores ao sujeito ou seus próximos, bem como, o surgimento de
condições de sofrimento psíquico.
Um luto bem preparado é quando, de acordo com Santos, Yamamoto e
Custódio (2018):
“Esse momento pode ser percebido quando o enlutado já consegue fazer
planos sem a pessoa que morreu, por exemplo, dando uma continuidade à
sua vida, podendo pensar de forma menos dolorosa no ente perdido, sem
os sintomas físicos e comportamentais do luto, superando muitas vezes o
sentimento de culpa que vem acompanhando o indivíduo durante o
processo (p.14).”

O processo do luto é singular e se obtém diversas manifestações em todos


envolvidos, com o auxílio do psicólogo vai-se dar ressignificações próprias a cada
fase do luto e se oportunizar que todos envolvidos tenham essa evolução de
aceitamento do momento e conclua a formação de um luto bem preparado no viver a
vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Este trabalho teve como objetivos uma definição dos aspectos que envolvem o
cuidado paliativo, de maneira a demonstrar a singularidade do sujeito terminal.
Discorre-se também uma análise do processo de aceitação, de saúde-doença no
luto e o forte abalo psicológico que acarreta ao sujeito, mudando toda a estrutura de
vida e significações. O psicólogo é o principal facilitador no ambiente hospitalar para
o acompanhamento da formação do luto e cuidados paliativos em conjunto com a
equipe e família, e colabora com a tríade paciente - equipe multidisciplinar- família
em questões ligadas ao fator saúde-doença e bem-estar psicológico.
Ao trabalhar sobre a temática do luto no cuidado paliativo podemos observar
como a morte atinge psicologicamente todos envolvidos, desse modo focalizando
nos profissionais da saúde surge a necessidade de apoio psicológico desde a
formação até o âmbito hospitalar no dia-dia, e ao paciente toda a construção em
auxiliar o mesmo a se adequar ao processo de finitude.
O luto antecipatório é uma fase que ressalta todo a vivência do sujeito, por ser
singular e único cada evolução e passo para sua finalidade. Deste modo a terapia
psicanalítica vem para contribuir de maneira que o indivíduo veja seu processo de
forma clara e finalize sua construção de mundo, e saber de forma a obter uma
qualidade de vida na terminalidade que se encontra, formando e significando um
novo sentido de vida na sua finitude.
Podemos destacar a falta de estudos atualizados em cuidados paliativos no
país, pois ocorre a carência de uma melhoria da qualidade de vida do sujeito em
terminalidade e a cada dia surgem mais pacientes que necessitam desse
atendimento, ocorrendo em diversos níveis sociais e isso demanda de muitos
profissionais que englobe essa demanda, e resulte em uma construção de melhoria
do morrer.
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