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Ressignificando o morrer no centro de terapia intensiva: uma

experiência da psicologia existencial-fenomenológica1

Juliana Padilha2
Isaura Rocha Vilela3

RESUMO

Neste trabalho a dimensão psicológica coexiste com as dimensões biológica, social


e espiritual no adoecer humano. Oferece uma visão psicológica e cultural da morte
dentro do contexto do Centro de Terapia Intensiva de Adultos no Hospital São
Francisco em Belo Horizonte. Ressalta-se a importância do profissional psicólogo,
inserida no CTI SETIMIG sob a orientação existencial-fenomenológica. Com o intuito
de contribuir com a comprovação dos fenômenos subjetivos, os resultados tiveram
uma visão fenomenológica e quantitativa. Os atendimentos realizados deste serviço
registrados, do mês de Julho de 2009 a Junho 2010, consta o sexo, idade, data de
entrada e saída do paciente (com a soma dos dias de internação), se recebeu alta
ou foi a óbito, e o sistema orgânico do paciente afetado. Assim ao compreender, o
paciente e família, em sua totalidade, considerando e priorizando as experiências,
vivências subjetivas e o existir concreto do homem dentro do ambiente hospital, e
sua enfermidade, constata-se que a possibilidade da morte gera sofrimento e
angustia. A psicoterapia hospitalar existencial-fenomenológica pode determinar
mudanças significativas no quadro clínico ou tornar menos penosa sua internação. O
apoio emocional e as ações humanizadas, resgata o respeito à vida humana e à
preservação à dignidade no momento da morte.

Palavras-Chave: Morte. Psicologia hospitalar. Psicologia existencial-


fenomenológica.

Artigo Original:
Elaborado em: setembro / 2010.
Recebido em: dezembro / 2010.
Publicado em: dezembro / 2010.

1
Trabalho apresentado no Congresso de Psicologia Fenomelógico-Existencial | Fundação Guimarães
Rosa – 2010.
2
Psicóloga Hospitalar CTI SETIMIG no Hospital São Francisco (BH, MG). Graduada em Psicologia
pela na Universidade do Sagrado Coração, Bauru-SP (2004). Pós-graduada em Psicologia Hospitalar
pela PUC MINAS (2005). E-mail: jubapadilha@yahoo.com.br
3
Psicóloga Hospitalar CTI SETIMIG no Hospital São Francisco (BH, MG). Graduada em Psicologia
pela Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG (2001). Pós-graduada em Psicologia
Hospitalar pela PUC MINAS (2005). E-mail: isaura.vilela@yahoo.com.br
Biblioteca Virtual Fantásticas Veredas – Fundação Guimarães Rosa
Página web: www.fgr.org.br l E-mail: bibliotecafgr@fgr.org.br
2 Ressignificando o morrer no centro de terapia intensiva

INTRODUÇÃO

As atenções ao corpo doente devem ser compartilhadas, com o que tal enfermidade
também interfere no psiquismo do ser humano. Reconhecer e estudar a dimensão
psicológica como coexistente das dimensões biológica, social e espiritual no adoecer
humano é de fundamental importância.

O presente trabalho busca relatar a relevância da psicologia para humanização e


minimização do sofrimento gerado pela doença, hospitalização e principalmente a
morte, sendo conduzido e fundamentado na abordagem Existencial-
Fenomenológica. A proposta é de compreender o homem numa visão de totalidade,
através das variadas dimensões existenciais, considerando e priorizando as
experiências, vivências subjetivas e o existir concreto do homem dentro do ambiente
hospitalar associado com sua enfermidade biológica.

Do ser-ai, como ser-no-mundo, como ser-com, como aquele que é chamado


em suas possibilidades para realizar suas existências através do cuidado, é
cobrado por isso e sente culpa; aquele que sonha, faz planos, sabe que é
finito e se angustia diante da possibilidade do nada (SAPIENZA, 2004,
p.17).

Este relato de experiência foi desenvolvido dentro do CTI SETIMIG – Centro de


Terapia Intensiva de Adultos, fundado em 2006 e localizado no Hospital São
Francisco, Belo Horizonte – MG. O referido centro possui 18 leitos (Box separados
individualmente), equipados para atender todas as especialidades médicas de
ambos os sexos, usuários do mercado de saúde suplementar. A assistência é
realizada por uma equipe multidisciplinar (médicos, fisioterapeutas, nutricionistas,
psicólogos e enfermeiros), que atende a convênios, o que permite o acesso de uma
grande parte da população a um atendimento moderno e humanizado em terapia
intensiva.

Na busca do restabelecimento, a hospitalização pode ser um caminho a ser


percorrido, sem saber ao certo o seu resultado final, podendo ocorrer alta para casa
ou o óbito. Logo, o paciente admitido em um Centro de Terapia Intensiva, necessita
– como o próprio nome diz, de cuidados intensivos. Desta forma, são pacientes

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acometidos por estados críticos com risco de vida, insuficiências orgânicas graves,
ou sob potencial de desenvolvê-las (FREITAS, 2005). Vivenciam um momento
incerto na caminhada de sua restauração da saúde. E revela uma experiência única
regada de fantasias ameaçadoras, tanto para o doente quanto sua família.

No primeiro momento pode-se apontar que este sujeito sofre de despersonalização,


ou desqualificação existencial – deixando de ter significado, passando a ser um
diagnóstico, suas vontades são inibidas, intimidade invadida e o mundo de relações
rompidas (ANGERAMI-CAMON, 2003). Este paciente passa a utilizar apenas as
vestimentas oferecidas pelo CTI, alguns membros da equipe se referem ele com a
enfermidade que o acometeu ao invés de seu nome. O ambiente é artificial (muitas
vezes sem janelas e com ar condicionado), conectado á fios e máquinas, com
restrição alimentar e as visitas familiares são permitidas em horários curtos,
previamente estipuladas. No entanto, atualmente, com os belíssimos projetos de
humanização dos espaços hospitalares e capacitação de profissionais, observa-se a
transformação desta realidade.

Apesar disso, o Centro de Terapia Intensiva nunca deixará de ser um setor com
características marcantes, presença tecnológica avançada, rotina acelerada, clima
de apreensão, e, principalmente a situação de morte. Assim, exacerbando o estado
de “stress” e tensão para todos que estão experienciando, os colaboradores das
equipes de saúde, os pacientes e suas famílias – uma tríade em que todos estão
envolvidos na mesma luta, mas cada um a sua maneira.

Para aqueles que visitam seus entes queridos e para o próprio paciente, o CTI
remete às crenças negativas e finitude. Urizzi (2005) completa colocando que o
desconhecimento sobre as rotinas e o significado cultural do setor trazido da
sociedade definem o CTI como um ambiente assustador, sendo sua internação uma
sentença de morte.

Por isso, a falta de uma assistência adequada, que ajude diminuir o impacto da
doença e internação no CTI com os pacientes e família em estado crítico, pode
acarretar desconfianças, dificuldades na adesão dos regulamentos do hospital e
ainda mais sofrimento, desespero e desamparo (FREITAS, 2005).

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A avaliação e atendimento psicológico são as maneiras mais concretas do nosso


trabalho, pois é durante esta atividade que o psicólogo atua como facilitador do fluxo
de emoções e reflexões, detecta os focos de stress, sinaliza suas defesas, favorece
a compreensão dos processos que o acomete e respeita os limites, paciente e/ou
familiares (SEBASTIANE citado por ANGERAMI-CAMON, 2003). Desta forma, o
acolhimento e suporte ao paciente (alerta e comunicativo, seja através de expressão
verbal ou não) e aos familiares oferecem uma escuta diferenciada. Contribuindo
para a minimização do sofrimento durante a hospitalização no CTI e visa o bem
estar bio-psico-social do sujeito e dignidade para todos na hora da morte; ou seja,
proporcionar uma melhor elaboração de um possível luto.

A psicoterapia é breve e focal, de orientação Existencial-Fenomenológica, dirigida


para ressignificação do momento de crise através das possibilidades existenciais de
cada um; utilizando técnicas de respiração, relaxamento, e, sobretudo, o Diálogo
Socrático. Este se define como um diálogo, o qual o interlocutor “é guiado, passo a
passo, para que possa descobrir as verdades referentes ao ser humano e que se
manifestam através da própria vida por meio de suas palavras e ações” (RÚDIO,
2001, p.23). O autor complementa ainda que o diálogo é uma forma de ensinar o
indivíduo, através de perguntas que este responde – podendo chegar “a conclusões
que não foram transmitidas pela autoridade de alguém, mas encontradas pela
própria elaboração do pensamento de quem procura a verdade” (RÚDIO, 2001,
p.24).

O diálogo socrático segue este procedimento: primeiramente, uma questão é


enunciada em forma de pergunta. A maiêutica consiste em ajudar o interlocutor a
fazer, com a inteligência, uma busca para solucioná-la (RÚDIO, 2001, p.27).

É extremamente importante ressaltar que, não é uma atuação psicológica dentro dos
moldes da prática clínica. O espaço de encontro entre o psicoterapeuta e o cliente, o
chamado “setting” terapêutico, não é tão definido, nem tão preciso (ANGERAMI-
CAMON, 2004). Normalmente, a intervenção do psicólogo hospitalar, em alguns
casos, é interrompido por colaboradores da equipe (enfermeiros, médicos, pessoal
da limpeza, entre outros), ou a pessoa enferma não se apresenta em condições
físicas adequadas, – como a impossibilidade de manter um dialogo, em razão das

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dores ou efeitos de medicação, por exemplo. Então, o profissional em psicologia


enfrenta diariamente limites institucionais, os quais fazem parte da rotina e não
deverão ser percebidos como empecilho para os atendimentos, mas sim como
desafios.

OBJETIVOS

Os objetivos deste relato são oferecer a visão da morte dentro do contexto do CTI a
partir de uma orientação Existencial-Fenomenológica. Compreender o papel da
psicologia inserida num Centro de Terapia Intensiva, bem como ressaltar a
importância do profissional neste contexto. E apresentar o lado fenomenológico e
quantitativo desse trabalho.

METODOLOGIA

Na busca de compreender os fenômenos subjetivos, foi possível realizar um estudo


quantitativo do serviço de psicologia no CTI Setimig (a partir das médias mensais no
período de Julho 2009 a Junho 2010), associado à fenomenologia, que visa
apreensão dos fenômenos existenciais. Entende-se por fenômeno, tudo aquilo
percebido pelos sentidos e que se revela à consciência. Assim, a fenomenologia se
interessa pelo tempo presente; sem realizar interpretações, no entanto, analisa o
significado (o sentido) que o indivíduo atribui a uma situação vivencial, ou seja,
busca compreender os fenômenos pela observação direta e não por meio de teorias
(RUDIO, 2001).

O método fenomenológico vai buscar o sentido do ser na forma em que este dá


diretamente e imediatamente, ao seu modo (FEIJOO, p. 37, 2000).

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com o intuito de contribuir com a comprovação dos fenômenos subjetivos, de que


trata, muitas vezes, a Psicologia Hospitalar, foi possível medir os atendimentos
realizados deste serviço, durante o período do mês de Julho de 2009 a Junho 2010
– constando o sexo, idade, data de entrada e saída do paciente (com a soma dos
dias de internação), se recebeu alta ou foi a óbito, e o sistema orgânico do paciente
afetado.

MASCULINO

FEMININO

GRÁFICO 1: Sexo dos pacientes internados no CTI Setimig, no período Julho de 2009 a Junho 2010.

Neste período registrou-se 444 pacientes, com uma média de internação de 9,42
dias/paciente, (ou atendimentos) admitidos e abordados juntamente com sua família,
os quais 48% do sexo masculino e 52% feminino (GRAF. I), e a média de idade foi
de 65,3 anos no período supra citado (GRAF. 2).

0,25
0,2
0,15
0,1
0,05
0

GRÁFICO 2: Idade dos pacientes internados no CTI Setimig, no período Julho de 2009 a Junho 2010.

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O diagnóstico em si, ou seja, a patologia que afetou o usuário e o trouxe ao CTI


Setimig, não se revela fator decisivo no momento do atendimento psicológico, todos
os pacientes e suas famílias receberão suporte psicológico quando necessário;
porém nos casos de Intoxicação exógena (suicídio), terão um acompanhamento
mais específico. Portanto, foi possível considerar, alguns sistemas biológicos
afetados, como mostrado no Gráfico 3.

Sepse
Auto-Exterminio
Trauma
Pós-Operatório
Sistema
Respiratório
Afetado
Neuroólgico
Cardiológico
0 5 10 15 20 25 30

GRÁFICO 3: Diagnósticos mais freqüentes dos pacientes internados no CTI Setimig, no período
Julho de 2009 a Junho 2010.

Independente do diagnóstico, para os membros familiares e para o paciente,


estar/freqüentar o CTI revela-se perturbador e angustiante, principalmente pelo fato
da morte iminente. Partindo deste princípio, observa-se durante os atendimentos
psicoterápicos que as pessoas passam por alterações e exacerbações emocionais.
Os sentimentos mais freqüentes são: angústia, o medo intenso da perda (de si e do
outro), impotência, rompimento do cotidiano, ansiedade, agressividade, entre outros.

Para Kubler-Ross (2000), os membros da família e os pacientes apresentam muitas


vezes alguns estágios no processo de enfrentamento da morte, os quais se
observam no dia-a-dia do CTI, através dos atendimentos e do acompanhamento do
boletim médico (quando o médico orienta quanto ao estado clínico e o tratamento do
paciente juntamente do visitante): Negação e isolamento – a pessoa se defende da
idéia da morte, recusando como realidade; num primeiro momento após o choque e
tal notícia, a pessoa procura iludir-se, fazer de conta que não está acontecendo com

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ela; a negação à proximidade da morte é uma etapa importante para a aceitação e


construção de um luto. A raiva ocorre quando não é mais possível manter convicto o
primeiro estágio de negação, a partir daí surgem sentimentos de raiva, revolta,
mágoa, ressentimento (coloca sua revolta diante da notícia). A barganha é uma
tentativa de adiamento da morte, o sujeito tenta ser bem comportado na esperança
de que isso lhe traga a cura. A depressão ocorre quando já tem consciência que a
finitude está próxima (se recolhe vivenciando uma enorme sensação de perda). A
aceitação é sinônimo de conformidade, a pessoa aceita a morte porque acredita que
a luta acabou e o corpo já não mais resiste. Desta forma, as necessidades dos
sujeitos variam desde o início da doença até depois do óbito, e estas fases são
mutáveis e não devem ser vistas como uma regra.

A morte existe em todo contexto hospitalar, segundo Torres e Guedes (1991, p.56)
“a temática da morte é marcada e caracterizada por um conflito, uma dualidade
entre duas forças opostas – uma realidade e uma necessidade”. Assim, este
fenômeno universal e característico a todos os seres da Terra, apresenta-se como
fonte de temores, angústias e ansiedades para o homem, deixando-o uma questão
de finitude.

Descobrir o sentido da morte não é mais misterioso do que descobrir o


sentido da própria existência. Algum tipo de violência, velhice ou doença
pode facilmente nos colocar em contato com ela, seja como uma
possibilidade ou uma facticidade. A medicina se encarrega de cuidar desse
mistério e de contra ele lutar, mesmo sabendo que pode apenas ganhar
algumas batalhas, pois não há nenhum alento para vencê-la (DIAS citado
por FEIJOO, p. 273, 2010).

Pois, o seu ter-de-morrer e o não-poder-mais-ser, angustia o ser humano, assim, o


psicólogo deverá ser capaz de apoiar, compreender e direcionar-se humanamente,
auxiliando no processo da doença e na possibilidade da morte. Deste modo, nunca
deixando de adaptar-se aos conhecimentos médicos e fisiológicos. A essência desta
atuação é a humanização do atendimento com a constante parceria da morte e
morrer com o sofrimento, crise, dor, história de vida pregressa (CHIATTONE citado
por ANGERAMI-CAMON, 2000).

Embora, a necessidade de uma internação no CTI é em geral determinada por um


evento ameaçador, ocorrido de modo inesperado, ainda existe a cultura de que o

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CTI é o local da morte. Apesar disso, no período analisado, com 444 pacientes
internados, as altas representaram 79% e óbitos 21% dos casos. Tais porcentagens
vêm reforçando a idéia de que este é um setor, onde as pessoas permanecem em
busca do restabelecimento da saúde de forma intensa, ou como se costuma definir
“há vida, há chance”, e não um lugar para meramente morrer. Como a temática da
morte aflige os usuários, acontece à desmistificação deste conceito trazido, através
do fato real e numérico (GRAF. 4).

ÓBITOS ALTAS

GRÁFICO 4: Resultado final das internações no CTI Setimig, no período Julho de 2009 a Junho 2010.

Segundo Lemos e Rossi (2002), considerando a cultura dos envolvidos neste


ambiente hospitalar, o CTI é entendido como um lugar desconhecido e assustador,
que, ao mesmo tempo, significa o recurso de recuperação da saúde, representa
também o elo entre a beira do abismo, ou seja, expressa estar entre a vida e a
morte, pode ser uma ida sem volta.

Num outro momento observa-se o desejo da morte, pois a internação se caracteriza


prolongada (ultrapassando um mês ou mais), a recuperação é lenta, e a piora é
súbita. Tanto o paciente quanto sua família anseia pelo retorno ao lar, como isso vai
se revelando cada vez mais prolongado e o desgaste físico-emocional é grande de
ambas as partes. Eliminar logo o sofrimento é aceitar a morte como descanso
merecido. E muitas destas famílias optam em permanecerem no Box do paciente no
momento da partida, de maneira lúcida, preparada e amorosa.

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Para Dias apud Feijoo (2010), “a essa humanização da medicina dá-se o nome de
Boa Morte”, a qual depende de alguns princípios, como saber quando a morte está
se aproximando e compreendê-la, possuir dignidade e privacidade, ter acesso a
informações, a suporte espiritual e emocional, ter oportunidade de despedidas, entre
outras.

Pode-se apontar, portanto, que algumas ações terapêuticas, como o toque, a


conversa, a informação técnica referente ao setor, a informação biológica referente
ao cliente e a empatia dos profissionais ajudam muito amenizar os efeitos nocivos
da internação em CTI, evidenciando, assim, os aspectos positivos para os clientes e
seus familiares, do processo de internação (LEMOS E ROSSI, 2002).

Assim, a pessoa, independente de quem seja, merece ser atendida com carinho,
competência e cortesia, atender o indivíduo como um todo e não apenas seus
órgãos, e principalmente, agir com humanização dentro de um hospital (MEZZOMO,
2003).

A família deste indivíduo criticamente enfermo também tem direito a toda atenção da
equipe, é necessário compreender, administrar e minimizar a dor, angústia e
conflitos deste momento. O trabalho da psicologia dentro do CTI Setimig traz
satisfação, pois viabiliza a minimização do sofrimento psíquico-físico do outro,
gerado por uma condição única e regada de estigmas negativos.

Tratar de todas as dores de um paciente que sofre no corpo e na alma é a tarefa


mais gratificante, as dificuldades são muitas e o desafio motiva; o resultado positivo
é a maior alegria que se pode experimentar, seja com a alta ou óbito, pois de
alguma forma houve nossa ajuda (MACIEL et al., 2007).

Deste modo, apegados na fé e religião, associado com os constantes suportes


psicológicos, a familiaridade do ambiente e criação de vínculos afetivos com a
equipe, as famílias e o paciente, vão se mostrando mais fortalecidos para
enfrentarem o sofrimento e a virtualidade da morte.

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CONCLUSÃO

Pode-se concluir que a Psicologia Existencial-Fenomenológica inserida no contexto


hospitalar contribui muito para a fidedigna compreensão da existência humana,
associado aos equipamentos tecnológicos sofisticados e o atendimento no CTI. As
ações humanizadas resgatam o respeito à vida humana e à preservação à dignidade
no momento da morte.

O trabalho vem respeitar a individualidade de cada ser lá inserido, bem como,


preservar seus direitos. O apoio emocional, ao doente e a seus familiares, pode
determinar mudanças significativas no quadro clínico ou tornar menos penosa sua
internação.

REFERÊNCIAS

ANGERAMI-CAMON, V. (org) Psicologia da saúde. São Paulo: Editora Pioneira,


2000.

______. Psicologia hospitalar: teoria e prática. São Paulo: Pioneira, 2003.

______. Tendências em psicologia hospitalar. São Paulo: Thomson, 2004.

FEIJOO, A.M. (org) Tédio e finitude: da filosofia a psicologia. Belo Horizonte:


Fundação Guimarães Rosa, 2010.

______. A escuta e a fala em psicoterapia: uma proposta fenomenológica-


existencial. São Paulo, 2000.

FREITAS, K.S. Necessidades de familiares em unidades de terapia intensiva:


análise comparativa entre hospital público e privado. Tese de Mestrado, Faculdade
de Enfermagem da Universidade de São Paulo, 2005.

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12 Ressignificando o morrer no centro de terapia intensiva

KUBLER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer: O que os doentes terminais tem para


ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos e aos seus próprios parentes. São Paulo:
Martins Fontes, 2000.

LEMOS R., ROSSI L. O significado cultural atribuído ao centro de terapia intensiva


por clientes e seus familiares: um elo entre a beira do abismo e a liberdade. Revista
Latino-americana Enfermagem, v.10, n.3, p. 345-357, maio/jun. 2002.

MACIEL, G. MOTA, G. PIMENTEL, S. Tempo de Amor: a essência da vida na


proximidade da morte. São Paulo, Editora Difusão Paulista: 2007.

MEZZOMO, A. Fundamentos da humanização hospitalar: uma versão


multiprofissional. São Paulo: Edições Loyola, 2003.

SAPIENZA, B. T. Conversando sobre terapia. São Paulo: Ed. Paulus, 2004.

RUDIO, F.V. Diálogo maiêutico e psicoterapia existencial. São José dos Campos:
Novo Horizonte, 2001.

URIZZI, F. Vivencia de familiares de pacientes internados em terapia intensiva: O


outro lado da internação. Dissertação de mestrado apresentada pela Faculdade de
Enfermagem de Ribeirão Preto da USP, 2005.

TORRES, W.C. GUEDES, W.G. A morte no contexto hospitalar. Revista de


psicologia hospitalar, n.2 jun./dez. p.56-60, 1991.

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