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5205/1981-8963-v13i01a234924p126-136-2019
Verri ER, Bitencourt NAS, Oliveira JAS et al. Profissionais de enfermagem: compreensão sobre...
ARTIGO ORIGINAL
PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM: COMPREENSÃO SOBRE CUIDADOS
PALIATIVOS PEDIÁTRICOS
NURSING PROFESSIONALS: UNDERSTANDING ABOUT PEDIATRIC PALLIATIVE CARE
PROFESIONALES DE ENFERMERÍA: COMPRENSIÓN SOBRE LOS CUIDADOS PALIATIVOS PEDIÁTRICOS
Edna Regina Verri1, Natalia Aparecida Santana Bitencourt2, Jéssica Aires da Silva Oliveira3, Randolfo dos
Santos Júnior4, Hélida Silva Marques5, Mariana Alves Porto6, Debora Grigolette Rodrigues7
RESUMO
Objetivo: investigar a compreensão e a prática dos profissionais de
enfermagem sobre os cuidados paliativos pediátricos. Método: trata-se de estudo qualitativo, exploratório e
descritivo, em um Hospital Escola Materno-Infantil com 30 profissionais de Enfermagem. Utilizaram-se, para
a coleta de dados, questionário sociodemográfico e entrevista semiestruturada. Submeteram-se os dados à
técnica de Análise de Conteúdo. Resultados: apresentaram-se, pelos profissionais, dificuldades relacionadas
à compreensão da filosofia e aos objetivos dos cuidados paliativos e dificuldade em atuar com pacientes
pediátricos que estão sob esse cuidado, destacando-se os sentimentos de fracasso e de tristeza ao lidarem
com a situação. Empregam-se, com isso, como estratégias de enfrentamento, o distanciamento afetivo do
paciente e de sua família, a espiritualidade e o oferecimento, ao paciente, de um atendimento diferenciado
e humanizado. Conclusão: salienta-se a necessidade da inclusão de cuidados paliativos na formação
acadêmica dos profissionais, favorecendo o conhecimento do tema e preparando o profissional para lidar
com a morte e o morrer, assim como a necessidade de um espaço nas instituições de saúde que proporcione
acolhimento frente às dificuldades dos profissionais que atuam nesse contexto. Descritores: Cuidados
Paliativos; Pediatria; Enfermagem Pediátrica; Morte; Adaptação Psicológica; Humanização da Assistência.
ABSTRACT
Objective: to investigate the understanding and practice ofpediatric palliative care. Method: it is a
qualitative, exploratory and descriptive study, in a Maternal-Infant School Hospital with 30 Nursing
professionals. A sociodemographic questionnaire and semi-structured interview were used to collect data. The
data was submitted to the Content Analysis technique. Results: professionals presented difficulties related to
the understanding of the philosophy and objectives of palliative care and difficulties in working with pediatric
patients under this care, highlighting the feelings of failure and sadness in dealing with the situation. As a
coping strategy, the affective detachment of the patient and his family, the spirituality and the offer to the
patient of a differentiated and humanized care are used as coping strategies. Conclusion: it is necessary to
include palliative care in the academic training of professionals, favoring the knowledge of the subject and
preparing the professional to deal with death and dying, as well as the need for a space in the health
institutions that provide shelter for the difficulties of professionals working in this context. Descritores:
Palliative Care; Pediatrics; Pediatric Nursing; Death; Adaptation, Psychological; Humanization of Assistance.
RESUMEN
Objetivo: investigar la comprensión y la práctica de los profesionales de enfermería sobre los cuidados
paliativos pediátricos. Método: se trata de un estudio cualitativo, exploratorio y descriptivo, en un Hospital
Escuela Materno-Infantil con 30 profesionales de Enfermería. Se utilizaron, para la recolección de datos,
cuestionario sociodemográfico y entrevista semiestructurada. Se sometieron los datos a la técnica de Análisis
de Contenido. Resultados: se presentaron, por los profesionales, dificultades relacionadas a la comprensión
de la filosofía y a los objetivos de los cuidados paliativos y dificultad en actuar con pacientes pediátricos que
están bajo ese cuidado, destacándose los sentimientos de fracaso y de tristeza al lidiar con la situación. Se
emplean, con ello, como estrategias de enfrentamiento, el distanciamiento afectivo del paciente y de su
familia, la espiritualidad y el ofrecimiento, al paciente, de una atención diferenciada y humanizada.
Conclusión: se destaca la necesidad de la inclusión de cuidados paliativos en la formación académica de los
profesionales, favoreciendo el conocimiento del tema y preparando al profesional para lidiar con la muerte y
el morir, así como la necesidad de un espacio en las instituciones de salud que proporcione acogida frente a
las dificultades de los profesionales que actúan en ese contexto. Descritores: Cuidados paliativos; Pediatría;
Enfermería Pediátrica; Muerte; Adaptación Psicológica; Humanización de la Atención.
1,2
Especialistas, Faculdade Regional de Medicina/FUNFARME. São José do Rio Preto (SP), Brasil. E-mail: ednaverri@hotmail.com ORCID iD:
https://orcid.org/0000-0002-7394-1368; E-mail: bitencourtnatalia@hotmail.com ORCID iD: https://orcid.org/0000-0002-0611-1428;
3,6
Mestres, Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto/FAMERP. São José do Rio Preto (SP), Brasil E-mail:
jessica.aires17@hotmail.com ORCID iD: http://orcid.org/0000-0001-8634-1639; E-mail: mariana_aporto@hotmail.com ORCID ID:
https://orcid.org/0000-0003-2742-3153; 4Doutor, Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto/FAMERP. São José do Rio Preto (SP),
Brasil E-mail: randolfojr@yahoo.com.br ORCID iD: https://orcid.org/0000-0002-8029-0188; 5,7Especialistas, Faculdade de Medicina de São
José do Rio Preto/FAMERP. E-mail: helidasamy@yahoo.com.br ORCID iD: https://orcid.org/0000-0002-2552-3233; E-mail:
deboragrodrigues@yahoo.com.br ORCID iD: https://orcid.org/0000-0003-3670-8433
Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 13(1):126-36, jan., 2019 126
ISSN: 1981-8963 https://doi.org/10.5205/1981-8963-v13i01a234924p126-136-2019
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que esta criança esteja, cuidar da gente que pegamos muito amor, mas entra
porque eles são anjos e é isso. (P1) naquela questão de separar o que é
É, vivenciar é meio complicado, né?! [...] E trabalho, porque, quando a criança sofre
a gente tem que buscar, eu acho que em acabamos sofrendo junto, mas precisamos
Deus, em cada religião, eu não sei, ser forte para confortar a família
fortificar nossa mentalidade, que é nossa também. É um tanto difícil, mas no dia a
cabeça, que é nosso psicológico e nosso dia vamos aprendendo a lidar. (P16)
coração, porque se isso conforta a família, Necessita-se, para que o paciente receba
a criança, a gente também tem que se o suporte para viver tão ativamente quanto
confortar. (P2) possível e obtenha uma morte digna, que a
Eu tenho um pensamento diferente em equipe demonstre carinho, respeito e
relação à morte, talvez por conta de prontidão para estar ao seu lado na
religião, é claro que se é com a gente é
iminência da morte. Informa-se, pela
diferente, mas eu vivencio esse processo,
literatura, que, apesar da relevância dessa
assim, que a gente cumpriu o nosso
tempo, que todo mundo tem um tempo
temática, muitos profissionais evitam o
diante do que Deus tem planejado para contato verbal com pacientes terminais por
cada um de nós, e eu acredito que, se não conseguirem lidar com os sentimentos
chegou aquele momento, a gente tem que relacionados à situação de finitude.26
aceitar a vontade de Deus; muita dor, [...] nossa, é péssimo, a gente nunca quer
muito sofrimento que eu sei que não é tá aqui, a gente sempre quer tá na folga,
fácil, mas, a gente precisa, de alguma é horrível, nossa, é péssimo, imagina a
maneira, se apegar em alguma religião, mãe, né [...] se eu pudesse não tá aqui na
em algo que vai nos fazer o melhor, que hora, eu não estaria. (P3)
vai nos fazer aceitar e tentar ter um Evidencia-se, ante o exposto, para a
conforto sobre a morte. (P15)
maioria dos profissionais, que a morte ainda
Frisa-se, em meio às atribuições dos é considerada um tabu, portanto, lidar com
profissionais, que suas ações e interações a mesma é um desafio diário. Relaciona-se,
ocorrem com o paciente e seus familiares muitas vezes, a morte de pacientes ao
desde a sua chegada ao hospital, até a sua fracasso profissional e não se associa a uma
saída, seja ela por alta ou por óbito. circunstância inerente à vida. Percebe-se
Destacou-se esse vínculo afetivo entre os que, para a equipe de Enfermagem, não é
entrevistados, sendo apontado como fator fácil lidar com a morte, e isso faz com que
que dificulta ainda mais a elaboração do alguns desses profissionais tentem fugir da
processo de morte da criança ou do situação ou do cuidado destes pacientes.27
adolescente.22
Estratégias de enfrentamento
[...] é muito difícil, tem que ter um
psicológico, a gente tenta, o máximo, ser Adverte-se que profissionais de saúde,
o profissional, até certo ponto, mas não atuantes em Cuidados Paliativos, podem
tem como, a gente é ser humano, [...] estar vulneráveis ao estresse ocupacional
querendo ou não, como a gente fica muito devido à complexidade das situações
tempo com a criança e a pessoa fica aqui vivenciadas diariamente como: a morte, o
muito tempo, a pessoa se apega muito na processo de finitude e a angústia familiar.
gente [...] tem que ter um psicológico Buscam-se, dessa forma, pelos profissionais,
muito grande e assim, às vezes, a gente
estratégias de enfrentamento para encarar
consegue, às vezes, não, ou quando passa
ou fugir das situações ameaçadoras ou
ou quando a gente vai para casa, a gente
desaba lá em casa para não ter que tá
estressantes.28
passando na frente da mãe, né? (P6) Pode-se definir o enfrentamento como
[...] é muito angustiante, eu procuro alterações de comportamento para conduzir
muito dar conforto para família, se ela me demandas específicas que podem ser vistas
der abertura, conversar com eles, só que, como sobrecarga; assim, agem como um
assim, é muito angustiante para equipe e conjunto de respostas comportamentais,
para família porque, assim, são pessoas diante de situação, gerador de estresse na
que, normalmente, você tem um contato tentativa de se adaptar.29
longo, não é uma criança que chegou aqui
Afirmou-se, diante da pergunta "Quais
hoje e morreu de tarde, você entendeu? É
um contato longo. Você fala assim: “você estratégias pessoais você utiliza para lidar
tem que ser profissional”, tudo bem, você com esse processo?”, pelos participantes.
é profissional, você tenta ser profissional, Olha, eu não fico pensando [...] eu preciso
mas, gente, não dá. Você vive meses, você desligar, eu não posso levar as coisas daqui
conversa meses [...]. (P8) para lá, então, eu não penso, eu desligo,
[...] é difícil lidar com a morte, às vezes não fico comentando, essas coisas e sou
ficamos tanto tempo com aquele paciente bastante católica, então, acredito que
essa parte ajuda. (P20)
Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 13(1):126-36, jan., 2019 133
ISSN: 1981-8963 https://doi.org/10.5205/1981-8963-v13i01a234924p126-136-2019
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Aceito: 06/12/2018
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Correspondência
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https://doi.org/10.5205/1981-8963- Edna Regina Verri
v8i10a10123p3797-3805-2014 Rua Doutor Fernando Magalhães, 315, Ap. 61
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