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Reabilitação após
o câncer
D urante muito tempo, o único foco
do tratamento do câncer era a sobrevivên-
Fátima Bussinger auxilia paciente de câncer
ginecológico a voltar a ter uma vida sexual saudável
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“Recebemos pacientes com perfis e condições de câncer de pulmão”, enumera Rosana Lucena,
socioeconômicas diversos, o que exige a adapta- também fisioterapeuta do HC I. Mais um exemplo
ção do tratamento a cada realidade. Pacientes on- é o apoio à Enfermagem na orientação aos pacien-
cológicos com doenças cardíacas não podem ser tes laringectomizados sobre como manter a higiene
submetidos a grande esforço; os que moram longe das cânulas de traqueostomia e trocar o cadarço
têm dificuldade de vir várias vezes por semana ao de fixação.
hospital e, por isso, é preciso conciliar a rotina do Rosana frisa que o trabalho do fisioterapeu-
tratamento à sua disponibilidade. Com as crianças, ta deve estar inserido na atenção multidisciplinar.
investimos em abordagens lúdicas, por meio de jo- “O tratamento do câncer deve ser precedido de
gos e música, para a recuperação da autonomia se orientação aos pacientes sobre os sintomas e efei-
dar de forma divertida. Já com os idosos, a partici- tos que podem ocorrer. Isso requer uma equipe
pação dos familiares e cuidadores é fundamental”, multiprofissional (Fisioterapia, Psicologia, Terapia
revela a fisioterapeuta. Ocupacional e Serviço Social), que vai adaptar a
assistência ao contexto biopsicossocial do pacien-
te. Muitas vezes, lidamos com pacientes carentes,
“Os exercícios facilitam a que não têm condições financeiras de se deslocar
realização das tarefas do dia várias vezes por semana ao hospital. A conjunção
desses fatores implica diretamente o sucesso do
a dia sem precisar de ajuda. tratamento”. Ela ainda observa que a fisioterapia
também é fundamental durante os cuidados palia-
Em muitos casos, a melhora tivos, promovendo melhor qualidade de vida a pa-
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Celena Freire Friedrich, diretora de Fisiotera- radioterápico ou mesmo a associação de dois ou
pia do Hospital A. C. Camargo, de São Paulo, diz mais. Cabe ao fisioterapeuta oncológico saber o
que, apesar de as técnicas empregadas serem as momento ideal de instituir ou de amenizar o pro-
mesmas da fisioterapia em geral, o grande diferen- grama de atividade física, pois é preciso que este
cial da fisioterapia oncológica é o conhecimento seja condizente com as necessidades do paciente
adequado do profissional sobre a patologia e o tra- nas diferentes etapas do atendimento”, observa.
tamento. “É necessário que o fisioterapeuta saiba Ela defende que a atividade física melhora a
quais são as complicações e disfunções advindas resposta ao tratamento. “O paciente com câncer
do tratamento, seja ele cirúrgico, quimioterápico e geralmente se queixa de dor e fadiga, decorrentes
da própria doença e do tratamento. Esses efeitos
podem levá-lo a um quadro de depressão e redu-
“A realização de um ção do apetite, que consequentemente geram fra-
programa de atividade queza generalizada. A realização de um programa
de atividade física ativa mecanismos biológicos
física ativa mecanismos atuantes no sistema imunológico, contribui para a
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mann, presidente da Associação Brasileira de Fi- câncer, para evitar o aparecimento de danos físicos.
sioterapia em Oncologia (ABFO), é necessário que Mas, uma vez que a complicação ocorra, o pacien-
o trabalho do fisioterapeuta contemple também a te deveria ser encaminhado para a atenção básica
prevenção das sequelas. e para a média complexidade. Os profissionais que
“Quando falamos em reabilitação, estamos fa- atendem nesses locais são especialistas em outras
lando de um problema já instalado e na tentativa de áreas. Por isso, o conhecimento em oncologia de-
retornar a uma condição anterior. Mas acredito que veria ser mais disseminado”, afirma.
nosso grande objetivo é trabalhar na prevenção Ainda são poucas as instituições de ensino
das sequelas”, sustenta a fisioterapeuta, doutora no país que oferecem o curso de Fisioterapia em
em saúde pública. “A fisioterapia pode melhorar as Oncologia. De acordo com a presidente da ABFO,
condições do paciente para que ele suporte melhor grande parte desses cursos é anterior a 2009,
o tratamento. Um exemplo seria reduzir o quadro quando o Coffito reconheceu a especialidade. “Há
inflamatório de bursite no ombro de uma paciente iniciativas por parte das instituições de saúde em
que vai se submeter a uma cirurgia de mama na- oferecer uma visão mais aprofundada sobre a fisio-
quele mesmo lado”, comenta. terapia em oncologia, mas nós estamos ainda esta-
belecendo as diretrizes que definem a qualificação
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tura na garganta, o profissional ensina o paciente a a especialista, também doutora em Neurociências.
continuar se comunicando mesmo estando com o “Nossos índices de sucesso com a fala esofágica
tubo traqueal”, explica Mariana. têm atingido 60%. Quando o paciente não conse-
Para Elisabete Carrara de Angelis, diretora gue voltar a falar, implanta-se uma prótese na re-
de Fonoaudiologia do Hospital A. C. Camargo, o gião. Nessas situações, a capacidade de comuni-
trabalho do fonoaudiólogo deve começar antes do cação é recobrada em 90% dos casos.”
tratamento oncológico, orientando os pacientes a Segundo Mariana, entre os mais de 700 aten-
respeito de possíveis sequelas. “Muitos mostram- dimentos mensais aos pacientes internados no
se preocupados porque gostam de falar ou têm a INCA e os 400 realizados no ambulatório, também
voz como seu instrumento de trabalho, e acabam estão os pacientes que apresentam dificuldade
ficando temerosos em se submeter à cirurgia”, ex- com alimentação, principalmente em mastigar e en-
plica a fonoaudióloga. “Após o tratamento, o profis- golir. “A radioterapia e a quimioterapia podem cau-
sional vai ajudar a reabilitação da fala, melhorando sar a diminuição da produção da saliva e reações
a qualidade de vida dos pacientes”. inflamatórias na região da boca, conhecidas como
mucosites, o que gera alterações na mastigação.
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