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MICOSES SUBCUTÂNEAS

Parte 1

 Profa Dra. Eveline Pipolo Milan


 Depto de Infectologia – UFRN
 evepipolo@gmail.com
ESPOROTRICOSE
HUMANA

 Profa Dra. Eveline Pipolo Milan


 Depto de Infectologia – UFRN
 evepipolo@gmail.com
MICOSES SUBCUTÂNEAS
Infecções crônicas, de natureza supurativa e granulomatosa,
podendo acometer epiderme, derme, subcutâneo e tec. músculo-
esquelético. Adquiridas pela inoculação de conídios do agente
etiológico por trauma transcutâneo.

Esporotricose

Micetomas
Cromoblastomicose
Feohifomicose
Lobomicose - Lacaziose
Rinosporidiose
Entomoftoromicose
ESPOROTRICOSE

 Esporotricose é uma micose subaguda ou crônica


 adquirida por inoculação traumática nos tecidos e,
eventualmente, inalação do fungo dimórfico do complexo
Sporothrix schenckii.
 Envolve geralmente tecidos cutâneos e subcutâneos,
mas ocasionalmente pode ocorrer em outros locais,
principalmente em pacientes imunocomprometidos.
ESPOROTRICOSE
 Micose de implantação (subcutânea) mais prevalente e
globalmente distribuída
 Sporothrix schenckii < 2007: espécie agente de
esporotricose humana e animal
 2007: Complexo Sporothrix schenckii (sensu stricto)
 S. schenckii, S. globosa, S. mexicana, S. pallida, S. luriei, S.
brasiliensis...
 As espécies são clinica, epidemiológica e geograficamente distintas
 Podem ser acometidos: gatos, cães, cavalos, vacas, camelos,
golfinhos, cabras, porcos, ratos, tatus, pássaros e humanos
 Esporotricose clássica:
 Transmitida por vegetais – “Doença dos criadores de rosas”
 Resulta em doença: Cutânea; Linfocutânea; Disseminada
Barros et al, Clin Microbiol Rev, 2011
S. brasiliensis é uma espécie emergente,

Rodrigues et al, Plos Pathogens, 2016


relacionada à doença transmitida pelo gato >
termotolerância > capacidade de transmissão
da levedura > virulência

As espécies ambientais em geral tem baixa ou


média virulência: S. schenckii, S. globosa, S.
mexicana, S. luriei, S. pallida
Rodrigues et al, Plos Pathogens, 2016
Casos de esporotricose felina em todo o mundo,
1952 - 2016

Gremião et al. Zoonotic Epidemic of Sporotrichosis: Cat to HumanTransmission. PLoS Pathog, 2017
Evolução espacial-temporal dos casos
de esporotricose felina no Brasil

Gremião et al. Zoonotic Epidemic of Sporotrichosis: Cat to HumanTransmission. PLoS Pathog, 2017
Potencial
zoonótico da
doença

1998: Primeira epidemia de espotricose zoonótica – Rio de Janeiro


Telles FQ et al. Fungal infections. Neglected endemic mycoses. Lancet Infect Dis 2017
Sporothrix brasiliensis - Fatores de virulência

 Melanina
 Protege a fase micelial contra condições ambientais desfavoráveis e
agentes fisicoquímicos (radiação UV, etc)
 Ações anti-oxidante e anti-TNF
 Aumenta a resistência do Sporothrix contra a fagocitose
 Termotolerância

Barros et al, Clin Microbiol Rev, 2011; Almeida-Paes et al, Plos One, 2016
Esporotricose em animais domésticos

 Felinos são muito susceptíveis à infecção;


 Sítios de infecção mais frequentes: membros, nariz e
orelha;
 Podem ser assintomáticos;
 Exuberância de células fúngicas nas lesões;
 Presença do fungo nas unhas dos felinos infectados;
 Em cães é uma doença autolimitada e responde bem ao
tratamento;

PAES,R.A. Antígenos e Anticorpos na Esporotricose: Caracterização e Aplicações Diagnósticas.RJ, 2007


Gremião IDF et al. Zoonotic Epidemic of Sporotrichosis: Cat to HumanTransmission. PLoS Pathog 13(1): (2017
Patogenia

Sporothrix schenckii Inalação

Cutânea ou
Inoculação pele lesionada Extracutânea

Tecido subcutâneo Corrente sanguínea


Sistema linfático

Cutânea disseminada
Cutânea fixa
Linfocutânea
Engels, 2017
Quadro Clínico
 Curso clínico subagudo
 Formas cutâneas
 Linfocutânea (55%)
 Cutânea fixa (25%)
 Cutânea disseminada (5%)
 Imunodeprimidos
 Imunocompetentes
 Formas extracutâneas são infrequentes
 Pulmonar, meníngea, osteoarticular, disseminada, etc.
 Associação com imunossupressão (Aids, pesticidas,
alcoolismo crônico ou cepas mais virulentas)
Forma Linfocutânea

Forma Cutânea Fixa

Fonte: Ambulatório de Doenças Fúngicas – Hospital Giselda Trigueiro


Forma Cutânea disseminada

Fonte: Ambulatório de Doenças Fúngicas – Hospital Giselda Trigueiro


Forma Cutânea disseminada

Pereira et al, Rev Port Pneum, 2008


Formas extracutâneas

Seminars in Respiratory and Critical Care Medicine Vol. 36 No. 5/2015; foto da internet
Manifestações imunoalérgicas
 Eritema nodoso e multiforme, artralgia, mialgia, corioretinite,
monoartrite
 Sweet síndrome ou Reação Id-like ou Autoeczematização –
desenvolvimento de dermatite distante do sítio inicial da
lesão
 É uma reação imunoalérgica relacionada a várias
infecções fúngicas
 Reações de hipersensibilidade foram detectadas em duas
séries de pacientes do Rio de Janeiro
 10 de 35 pacientes (28,5%)
 87 de 645 pacientes (13,5%)

Queiroz-Telles et al, Lancet Infect Dis, 2017; Barros et al, Clin Infec Dis, 2011; Bernardes-Engemann
et al, Med Mycol, 2014; Lowether et al, Cutis, 2013.
Reações de hipersensibilidade

Fonte: Ambulatório de Doenças Fúngicas – Hospital Giselda Trigueiro


Fonte: Ambulatório de Doenças Fúngicas – Hospital Giselda Trigueiro
Fonte: Ambulatório de Doenças Fúngicas – Hospital Giselda Trigueiro
Fonte: Ambulatório de Doenças Fúngicas – Hospital Giselda Trigueiro
DURANTE O TRATAMENTO
PRÉ-TRATAMENTO

DURANTE O TRATAMENTO

Fonte: Ambulatório de Doenças Fúngicas – Hospital Giselda Trigueiro


FORMA CUTÂNEA FIXA C/
COMPROMETIMENTO
OCULAR
PRÉ-TRATAMENTO
DURANTE O TRATAMENTO
Quem tem risco para esporotricose?
 População em geral
 Proprietários e tutores de gatos
 Contato com animais não castrados
 Animais que vivem em casas e tem circulação livre no ambiente
 Crianças e donas de casa

 Risco ocupacional:
 Médicos veterinários e alunos de medicina veterinária
 Acumuladores de gatos
 Funcionários de CCZs
 Funcionários de Pet house ao dar banho em gatos
Distribuição de 106 casos de esporotricose
na Grande Natal/RN (out/16 a out/19)

25

22
Número de casos

20
18
17

15

10
10
8
7
6
4
5 4 4
2
1
0 0 0 0
0
2016 2017 2018 2019

jan-mar abr-jun jul-set out-dez Linha do tempo


VARIÁVEL NÚMERO DE
PACIENTES
Sexo N
Masc 27
Fem 78
IDADE N
Faixa etária 09-85
Média 46
Zona administrativa  N
Oeste (Cidade da Esperança, Quintas, Nova 36
Cidade, Cidade Nova, Felipe Camarão,
Planalto, Bom Pastor)
Sul (Lagoa Nova, Nova Descoberta, Pitimbu, 24
Capim Macio, Neópolis, Dix-Sept Rosado,
Ponta Negra, Capim Macio, Conj, Pirangi, N.
Parnamirim)
Norte (N.Sra Apresentação, Pajuçara I, Potengi, 16
Santa Catarina, Panatis, Nova Natal, Igapó)
Leste (Centro, Petrópolis, Mãe Luiza) 4
* Parnamirim, S. Gonçalo do Amarante, Ceará 16
Mirim, Extremoz
Tipo de exposição  N
Arranhadura por gato 56
Mordedura por gato 15
Gato doente – sem contato traumático 9
Gato saudável – sem contato traumático 7
Sangue de gato 1
Inalatória 1
Tempo de desenvolvimento da lesão  N
De zero a 15 dias 42
De 16 dias a 2 meses 25
Forma clínica  N
Cutânea fixa 28
Cutânea disseminada 1
Pulmonar 1
Linfocutânea 52
Linfocutânea + Ocular 1
Reação de hipersensibilidade (eritema nodoso, 18
eritema polimorfo, síndrome de Sweet)
Diagnóstico N 
Exame direto e/ou cultura 50

Histopatológico 5
Exclusivamente Clínico 53
Tratamento  N
Itraconazol 101
Iodeto de potássio 4
Anfotericina B 1
Desfecho N 
Cura 90
Em tratamento 12
Óbito 1
Destino do gato N 
Desapareceu 8
Doente 9
Doente/Falecido 13
Doente/Tratado 21
Doente/Sacrificado 21
Doente/Recolhido ao CCZ 3
Não tratado – gato 5
assintomático
Diagnóstico
BIOPSIA
HISTOPATOLÓGICO

• Exame Micológico direto


• Cultura
• Histopatológico
• Processo granulomatoso e piogênico misto. Colorações
PAS e Gomori variáveis (leveduras em forma de charuto).
Exame micológico direto
Cultura - macroscopia
Complexo Sporothrix schenckii

Aspecto macromorfológico da
Aspecto macromorfológico da
colônia após 11 dias de incubação
colônia após 7 dias de incubação
a 30 °C (fase filamentosa) em Ágar
a 37 °C (fase leveduriforme) em
Sabouraud Dextrose + 0,05
Ágar BHI (meio de conversão).
mg/mL de cloranfenicol.
Cultura - microscopia
Complexo Sporothrix schenckii

Aspecto micromorfológico da colônia após Aspecto micromorfológico da colônia após


11 dias de incubação a 30°C (fase 11 dias de incubação a 37°C (fase
filamentosa) em Ágar Sabouraud Dextrose leveduriforme) em Ágar Sabouraud
+ 0,05 mg/mL de cloranfenicol. Conídios Dextrose + 0,05 mg/mL de cloranfenicol.
arranjados em forma de “pétalas de Blastoconídios em “forma de charuto”.
margarida”.
Tratamento
• Itraconazol – 1ª escolha nas formas cutâneas;

• Iodeto de Potássio - opção em países mais pobres;

• Anfotericina B – casos graves

• Duração: 3 a 6 meses de tratamento (2-4 sem após


remissão);
Tratamento - Recomendações
ISDA, 2007
Controle da esporotricose humana e animal
 Notificação
 Educação para posse responsável de animais domésticos

 Controle da população animal - Castração em massa? Qual


o impacto na redução da doença em animais e em
humanos?
 Definição dos casos passíveis de tratamento
medicamentoso
 Quando tratar? Onde tratar? Com que tratar? Por quanto tempo
tratar?

 Disponibilização de medicamentos-Quem?
Casos
diagnosticados

Obrigada!!!
Casos não
diagnosticados

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