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REVISÃO DE LITERATURA

Dermatofitose por Microsporum canis e Microsporum gypseum:


revisão de literatura
Dermatophytosis caused by Microsporum canis and Microsporum gypseum: literature review
Ana Lúcia Pascoli - Médica Veterinária, MSc., Doutoranda na FCAV-Unesp Jaboticabal. Professora da Universidade Regional de Blu-
menau, FURB. E-mail: anapascoli@hotmail.com
Ana Carolina Bortolatto - Médica Veterinária autônoma, Itajaí-SC.
Nazilton de Paula Reis Filho - Médico Veterinário, Mestrando na FCAV-Unesp Jaboticabal.
Marília Gabriele Prado Albuquerque Ferreira - Médica Veterinária, MSc. Doutoranda na FCAV-Unesp Jaboticabal.
Andrigo Barboza De Nardi - Médico Veterinário, Prof. Dr. do Departamento de Clínica e Cirurgia da Universidade Estadual Paulista,
FCAV-Unesp Jaboticabal.

Pascoli AL, Bortolatto AC, Reis Filho NP, Ferreira MGPA, De Nardi AB. Medvep Dermato - Revista de Educação Continuada em Dermatologia
e Alergologia Veterinária; 2014; 3(9); 206-211.

Resumo
Dermatofitoses nos animais domésticos são infecções fúngicas causadas por Microsporum sp. e Trichophyton sp.
Embora aproximadamente 30 espécies causem infecções de pele em mamíferos e aves, poucas espécies são roti-
neiramente isoladas. Microsporum canis é o dermatófito zoofílico provavelmente melhor adaptado ao gato, mas é a
causa mais comum da dermatofitose canina. É uma antropozoonose, com especial importância na saúde pública.
Os dermatófitos são fungos com capacidade de invasão dos tecidos queratinizados em humanos e animais, ori-
ginando uma infecção denominada dermatofitose. É mais comum em climas tropicais e temperados, particular-
mente, em países com áreas de condições climáticas quentes e úmidas, com maior incidência no outono e inver-
no. Podem ocorrer em cães jovens que vivem em coletividade ou em cães com idade avançada que apresentam
imunodepressão. A lesão cutânea pode ser localizada, multifocal ou generalizada. Pode haver prurido mínimo a
discreto e, ocasionalmente intenso. As lesões incluem áreas de alopecia circular, irregular ou difusa, com graus va-
riáveis de descamação. Os pelos remanescentes podem parecer curtos ou quebrados. Outros sinais em cães e gatos
incluem eritema, pápulas, crostas, seborreia e paroníquia ou onicodistrofia de um ou mais dígitos. O diagnóstico
definitivo baseia-se em exame físico, exame com luz ultravioleta (lâmpada de Wood), microscopia direta, cultura
fúngica e identificação final do patógeno. Os animais positivos para esta infecção devem ser tratados e mantidos
em quarentena devido à natureza infectante e zoonótica da doença. O tratamento e o controle são particularmente
importantes e podem ser tópico e sistêmico, sendo de suma importância a descontaminação do ambiente.

Palavras-chave: dermatofitoses, zoonose, Microsporum sp

Abstract
Dermatophytoses domestic animals are fungal infections caused by Microsporum sp. and Trichophyton sp. Althou-
gh about 30 species cause skin infections in mammals and birds, few species are routinely isolated. Microsporum
canis is a zoophilic dermatophyte probably better suited to the cat, but it is the most common cause of canine
ringworm. Other dermatophytes are also isolated from dogs as Microsporum gypseum and Trichophyton men-

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tagrophytes. It is a anthropozoonosis particular importance in public health. Dermatophytes are fungi that have
the capacity to invade keratinized tissues of humans and animals, causing an infection called dermatophytosis. Is
more common in tropical and temperate climates, particularly in countries with areas of hot and humid climatic
conditions, with higher incidence in the fall and winter. It can occur in young dogs living in community or in dogs
with advanced age who have immunosuppression. Skin damage can be localized, multifocal or generalized. The-
re may be minimal to mild itching and occasionally intense. In general, lesions include circular areas of alopecia,
diffuse or irregular, with varying degrees of desquamation. The remaining hair may seem short or broken. Other
signs in dogs and cats include erythema, papules, crusts, and seborrhea or paronychia onychodystrophy of one
or more digits. Definitive diagnosis is based on physical examination, with ultraviolet light, direct microscopy,
fungal culture, and final identification of the pathogen. The treatment and control are particularly important and
can be topical and systemic. It should also be decontaminated environment. The animals to be treated and main-
tained in quarantine due to the infectious nature of the disease and zoonotic.

Keywords: dermatophytosis, zoonosis, Microsporum sp

Introdução e Revisão de Literatura tofíticas em seres humanos (6). Estima-se que 10 a


15% da população humana poderá ser infectada por
Estima-se que os casos de dermatologia veteri- estes microrganismos no decorrer de sua vida (7).
nária representam de 30 a 75% de todos os casos A espécie felina se comporta como a principal
atendidos na clínica médica de pequenos animais, espécie carreadora assintomática de artrósporos der-
como queixa principal ou secundária. Dentre as der- matofíticos (8). Esta espécie de dermatófito está muito
matoses que acometem as diversas raças existentes, bem adaptada em gatos, e em cerca de 90% dos ani-
estão as dermatofitoses, que são um grupo de mi- mais infectados não se encontram lesões aparentes (9).
coses cutâneas produzidas por fungos dos gêneros Este estado de portador assintomático dos gatos
Microsporum sp., Trichophyton sp. e Epidermophyton domésticos é de extrema importância, sendo estes
sp., que penetram no extrato córneo invadindo os reservatórios que representam potencial risco de
pelos, as unhas e a camada córnea da pele (1). infecção para a população humana e, portanto uma
As dermatofitoses são micoses superficiais cau- preocupação de saúde pública (10).
sadas por fungos filamentosos, hialinos e septados Dados epidemiológicos indicam que essas mico-
denominados de dermatófitos (2). Sendo as derma- ses estão entre as zoonoses mais comuns do mundo
tofitoses infecções contagiosas com elevada preva- no homem, sendo considerado o terceiro distúrbio de
lência e caracterizadas como zoonoses, não é raro pele mais comum em crianças com menos de 12 anos
observar o homem acometido por essa enfermidade e o segundo da população adulta (3). Com incidência e
(3). São comumente observadas em climas tropicais prevalência variando em função do clima e dos reser-
e temperados, particularmente em países com áreas vatórios naturais (11). A enfermidade parece ser mais
de condições climáticas quentes e úmidas (1). comum em climas tropicais e temperados, com áreas
Podem ocorrer em cães jovens que vivem em co- de condições climáticas quentes e úmidas (1) e com
letividade ou em cães com idade avançada que apre- maior incidência nos meses de outono e inverno (11).
sentam imunossupressão, os quais podem apresentar O reservatório dos dermatófitos zoofílicos são
alopecia progressiva, localizada ou generalizada (4). os animais, servindo assim como fonte de infecção
tanto para os animais como para o homem, porém
Etiologia a transmissão de dermatófitos antropofílicos do ho-
O Microsporum canis é o principal agente causa- mem para animais é rara (12,13).
dor de dermatofitose em cães e gatos, com porcen- Devido ao seu carácter geofílico, o Microsporum gyp-
tagens de 87,2% e 50%, respectivamente (5), sendo seum é o agente mais encontrado em casos esporádicos
responsável por cerca de 15% das afecções derma- de dermatofitose em homens e animais (14). Em um es-

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tudo, foi observado que dos 250 cães atendidos no Ser- Em relação às raças, cães Yorkshire terrier e gatos
viço de Dermatologia do Hospital de Clínicas Veteri- de pelos longos, parecem ter uma maior prevalên-
nárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, cia (23), porém as razões para a predisposição de tais
apenas 2% apresentaram Microsporum gypseum (15). raças ainda não estão totalmente esclarecidas (24).
Nos casos de dermatofitose em humanos cerca Possivelmente os pelos alongados facilitam as con-
15% são causados pelo M. canis, sendo na maioria des- dições ótimas de temperatura e umidade para que as
sas infecções adquiridas dos gatos. Aproximadamen- estruturas fúngicas fiquem protegidas contra a disse-
te 50% de humanos expostos a gatos infectados, sinto- cação, favorecendo assim sua propagação (25).
máticos ou assintomáticos, adquirem a infecção (16). Animais de até 12 meses parecem ter uma maior
Pacientes com dermatopatias são aconselhados predisposição quanto à infecção por dermatófitos,
por seus médicos a se desfazerem de seus animais de porém autores não relataram uma significância es-
estimação, mesmo sem a confirmação laboratorial do tatística com relação à faixa etária (26).
diagnóstico etiológico da doença, que é essencial na Algumas circunstâncias podem dar origem a
conduta profilática das dermatofitoses humanas. As- infecções sistêmica fúngicas, tais como a adminis-
sim, a interação entre médicos e médicos veterinários tração prolongada de antibióticos, radiação, terapia
é necessária para a preservação tanto da saúde huma- por esteróides, câncer, terapia imunossupressora,
na quanto da saúde animal, viabilizando a relação en- drogas citotóxicas e deficiências imunes (27).
tre o ser humano e os animais domésticos sem prejuí-
zo do equilíbrio social e ecológico do meio urbano (6). Sinais Clínicos
Atualmente, em algumas cidades e regiões do O felino doméstico é a única espécie capaz de
mundo, o Microsporum canis predomina na casuís- “portar” o Microsporum canis sem apresentar lesões
tica de dermatofitose humana, o que confirma sua de pele. Em cães, as lesões são mais frequentes e apa-
importância como zoonose (17). rentes e podem aparecer em qualquer parte do cor-
Com relação às dermatofitoses, os animais as- po, principalmente na cabeça e patas (9).
sintomáticos apresentam uma grande importância, A lesão cutânea pode ser localizada, multifocal ou
pois estes são portadores silenciosos de fungos der- generalizada. Pode haver prurido mínimo a discreto e,
matofíticos, o que dificulta o rompimento do ciclo ocasionalmente intenso. Em geral, as lesões incluem áre-
epidemiológico da doença (18,19). as de alopecia circular (figura 1), irregular ou difusa, com
Estudos evidenciaram um maior acometimento graus variáveis de descamação. Os pelos remanescentes
de machos da espécie felina e canina (1,20). Porém podem parecer curtos ou quebrados. Outros sinais em
autores referem inexistir predisposição sexual para cães e gatos incluem eritema, pápulas, crostas, seborreia e
a infecção (21,20,22). paroníquia ou onicodistrofia de um ou mais dígitos (28).

A B
Figura 1 - [A] Felino, macho, S.R.D., com 30 dias de idade, apresentando alopecia irregular, não pruriginosa acometendo região craniana frontal
esquerda estendendo-se até a ponte nasal. O diagnóstico foi realizado com lâmpada de Wood. [B] O mesmo felino com 60 dias de idade, apre-
sentando repilação quase que completa da região acometida, após instituição do tratamento. Fonte: Marília Gabriele Prado Albuquerque Ferreira

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Em casos raros, os gatos apresentam dermatite crosporum gypseum, apresenta anverso amarelo ou
miliar ou nódulos na derme. Outras manifestações castanho, com bordas brancas e friáveis, e o reverso
em cães incluem furunculose e foliculite facial se- amarelo ou marrom-avermelhado (35). Na avaliação
melhante à piodermite nasal, quérions no membro microscópica das colônias pode-se observar macro-
ou face e nódulos na derme do tronco (28). conídeos fusiformes, rugosos, de parede grossa, com
As modificações cutâneas nas dermatofitoses de até 15 septos para Microsporum canis e macroconíde-
origem animal em humanos são variáveis e a maio- os em forma de canoa, rugosos, de parede fina, com
ria ocorre em áreas do corpo que entram diretamen- até seis septos para Microsporum gypseum (30,35).
te em contato com o animal, como braços, couro ca- Atualmente técnicas moleculares, como o PCR, vêm
beludo e tronco (16). sendo estudadas com o intuito de identificar especifica-
mente o patógeno causador da dermatofitose, essa de-
Diagnóstico terminação auxiliará o clínico na instituição da terapia
O diagnóstico definitivo baseia-se em uma sé- mais adequada para aquele agente específico (24,36).
rie de etapas, observações e exames como, exame Ao exame histopatológico podem ser visualizadas
físico, Lâmpada de Wood, coleta do material para alterações compatíveis com perifoliculite, foliculite, fu-
microscopia direta, cultura fúngica e identificação runculose, dermatite superficial perivascular ou inters-
final do patógeno (29,30). ticial, orto ou paraceratose epidérmica e folicular (30,28).
A lâmpada de Wood é um método diagnóstico usual O diagnóstico diferencial das dermatofitoses in-
para infecção dermatofítica. Neste, na presença da luz clui dermatite miliar em gatos, e para cães, deve-se
ultravioleta os pelos contendo Microsporum canis apre- considerar as foliculites, furunculoses e outras cau-
sentam fluorescência amarelo-esverdeada. Sendo um sas de alopecias (28).
teste de triagem simples, porém devido à baixa sensibili-
dade deve-se ter cuidado com resultados falso-positivos Tratamento
e falso-negativos (29,21). Contudo, apenas 30% a 80% Como as dermatofitoses são zoonoses, o trata-
dos Microsporum isolados apresentam fluorescência e, mento e o controle são particularmente importantes
em alguns estágios, o Microsporum canis emite pouca ou em carnívoros domésticos. A maior parte dos ani-
nenhuma fluorescência (31,32). Por estas razões, uma mais deve ser tratada e mantida em quarentena devi-
leve fluorescência pode ser indicativa de infecção, po- do à natureza infectante e zoonótica da doença, o que
rém na sua ausência não pode ser descartada (32). facilitará também a descontaminação ambiental (30).
A abordagem inicial do paciente deve contemplar Se as lesões estiverem limitadas em número e exten-
o raspado de pele, para exclusão de dermatites parasi- são, o tratamento com xampu de Miconazole pode ser
tárias, e coleta de pelos, realizando-se o exame direto eficaz, devendo ser usados regularmente de uma a duas
e posterior isolamento fúngico em meio de cultura. O vezes por semana (30,35,37). Para as lesões muito loca-
isolamento pode ser realizado em Ágar Dextrose Sa- lizadas, a aplicação de pomada, creme ou gel, a base de
bouraud, que não dispõe de inibidores de microflora derivados de Azolados é igualmente possível (30,35,37).
ou em Ágar Mycosel, que é um meio mais seletivo, por A tosa é discutível, porém acredita-se que esta pos-
possuir substâncias como ciclohexemida e cloranfeni- sa reduzir a contaminação ambiental (38). Essa opção
col (33,34). Outro meio utilizado para o crescimento torna-se interessante para lesões generalizadas, pois
de dermatófitos é o Dermatophite Test Medium (DTM), permite eliminar os pelos que são reservatórios de es-
que foi formulado para diferenciar dermatófitos de poros fúngicos. No caso de lesões localizadas, a tosa
fungos contaminantes (34,35). Visto que, o crescimen- realizada com tesoura, alguns centímetros em torno da
to de dermatófitos resulta em produtos metabólicos lesão, é, com frequência suficiente, pois a passagem da
alcalinos e a cor do meio muda para vermelho. Porém, máquina de tosa poderia agravar as lesões (30,37,38).
outros meios devem ser usados em combinação com o Contudo, a terapia sistêmica é rotineiramente ne-
DTM, pois alguns fungos contaminantes também po- cessária visto que hifas e artrósporos penetram pro-
dem induzir uma mudança de cor (35). fundamente nos folículos pilosos e nos fios de cabelo.
A morfologia colonial é um dos critérios utiliza- Diferentes fármacos estão disponíveis, como griseo-
dos para identificação dos isolados em meio de cul- fulvina na formulação micronizada (25 a 60 mg/kg,
tura. O Microsporum canis apresenta anverso branco VO, a cada 12 horas durante 6 semanas), na formu-
ou amarelado com periferia laranja-claro, e reverso lação ultramicronizada (2,5 a 5 mg/kg, VO, a cada
laranja-amarelado ou marrom-alaranjado. Já o Mi- 12-24 horas) e, na suspensão pediátrica (10 a 25 mg/

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kg, VO, a cada 12 horas); Cetoconazol (10 mg/kg, tratamento pelo proprietário (42).
VO, a cada 24 horas, ou dividido em 2 vezes por dia, A descontaminação do ambiente é uma etapa
durante 3 a 4 semanas) e Fluconazol (2,5 a 10mg/kg, indispensável para evitar recontaminações, visto
VO ou IV, a cada 24 horas para cães, e 10mg/kg, VO que já foi demonstrado que o Microsporum canis
ou IV, a cada 24 horas para gatos) (30,28,37,38). persiste no ambiente por mais de um ano. Camas
O fármaco de escolha para o tratamento das der- e utensílios contaminados devem ser desinfetados
matofitoses causadas pelo Microsporum canis atual- com solução de Hipoclorito, Formol ou Enilconazol
mente é a Griseofulvina, contudo vale ressaltar seu diluído, semanalmente (35,37).
potencial teratogênico quando utilizada nos primei-
ros dois terços da gestação. Como opção para os ca-
sos nos quais o fármaco não for eficiente, pode-se
utilizar o Cetoconazol ou Itraconazol (37,39). Considerações Finais
O Itraconazol parece ser eficaz no tratamento das
dermatofitoses de cães e gatos. Podendo ser uma O dermatófito Microsporum canis é o principal
opção em caso de resistência ou toxidade à Grise- responsável pela maioria das afecções dermatofíti-
ofulvina, ou quando os animais não podem tolerar cas em cães, gatos e seres humanos. A espécie felina
o Cetoconazol (40). Por causar menos efeitos cola- se comporta como a principal espécie carreadora
terais e apresentar eficácia semelhante ou maior, o assintomática de artrósporos dermatofíticos, em
Itraconazol é preferível ao Cetoconazol, apesar de índices que variam de 8 a 88% dos casos, devido à
seu custo elevado. A dose preconizada em gatos po- adaptação do fungo a essa espécie.
sitivos ao M. canis é 10mg/Kg a cada 24 horas e em Para evitar a disseminação é necessária uma
cães é 10 a 20mg/Kg em intervalos de 48 horas (6). rigorosa higiene além do isolamento dos animais
O acompanhamento terapêutico regular é uma infectados, que devem ser afastados de animais e
etapa indispensável ao tratamento. A reavaliação da pessoas saudáveis. A manipulação desses animais
condição clínica é feita pelo aspecto da pele e/ou pe- deve ser feita com luvas de borracha descartáveis,
los e por cultura fúngica. O tratamento geralmente é lavando-se as mãos após a manipulação.
longo, porém deve ser continuado até a obtenção de O tratamento tem como objetivo erradicar o fungo
uma cultura fúngica negativa (37). Em casos resisten- do ambiente e dos portadores doentes e assintomáticos
tes, a cultura fúngica poderá ser repetida semanal- através do corte do pelo, descontaminação ambiental
mente, e o tratamento deve ser continuado por até com desinfetantes, terapia antifúngica sistêmica e tó-
dois a três resultados negativos, consecutivos (38). pica para combater as infecções por Microsporum sp.
Recentemente a vacina Biocan M® passou a ser uma Os proprietários devem ser informados sobre a
alternativa interessante para o tratamento e/ou preven- importância da identificação dos animais portadores e
ção da dermatofitose de cães e gatos. Esta pode ser uti- dos cuidados de manejo e higiene que estes pacientes
lizada à partir dos três meses de idade do paciente. Sua requerem para se evitar a transmissão desta zoonose.
via de administração é injetável sendo a aplicação intra-
muscular para cães e subcutânea para gatos. A dose para
ambos é de 1 ml, sendo recomendada a aplicação da pri-
meira dose no dia 0, a segunda dose no dia 14 e a terceira Referências
dose 24 dias após a aplicação da segunda dose (41).
Embora a vacina Biocan M® seja específica para 1. Cavalcanti MDP et al. Frequência de dermatófitos e fun-
Microsporum canis, alguns autores observaram a sua gos saprófitas em caninos e felinos com sintomatologia
sugestiva de dermatopatia micótica atendidos no Hospital
atuação em todos os fungos detectados na pele dos Veterinário da UFRPE. Revista Clínica Veterinária mar/abr.
gatos, onde os pacientes tratados com Itraconazol e 2003; 43:24-28.
com a vacina Biocan M®, apresentaram o mesmo re- 2. Cavalcante PDSC. Caracterização das dermatofitose canina e
sultado, porém com a vantagem da vacina propor- felina e manutenção de cepas Dermatofíticas IN VITRO. Dis-
cionar excelente praticidade por ser aplicada por sertação (Mestrado: Ciências Veterinárias) Programa de Pós-
-graduação em Ciências Veterinárias da Faculdade de Vete-
via subcutânea, em três doses, assegurando uma rinária da Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza; 2006.
correta dosagem. Já a administração do Itraconazol
3. Pinheiro ADQ et al. Dermatofitose no meio urbano e a co-
é por via oral e deve ser realizada diariamente por existência do homem com cães e gatos. Revista da Socie-
35 dias, o que pode dificultar a realização correta do dade Brasileira de Medicina Tropical 1997; 30(4):287-94.

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