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MERGEFOR V CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE ÚNICA


MAT1 I SIMPÓSIO INTERNACIONAL PLURIPROFISSIONAL DE SAÚDE

Dermatologia no contexto da saúde única: dermatofitose


felina de caráter zoonótico - Revisão de literatura

1 2
Hayana Sara Pereira Santos , Sabrina Brito Silva , Thaís Raylla Laurindo Sena

3 4
Barros , Antônio Augusto Nascimento Machado Júnior .
1UniversidadeFederal do Piauí (sarasantos@ufpi.edu.br), 2Universidade Federal do Piauí,
3Universidade Federal do Piauí , 4Universidade Federal do Piauí.

Resumo: A dermatofitose felina é uma dermatose micótica de caráter zoonótico que


acomete animais de companhia e o ser humano. Esta dermatose é causada por fungos de 3
diferentes gêneros, sendo esses: Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton. A espécie
Microsporum canis é a responsável por infectar felinos, que assim como o cão, é
reservatório desta espécie. Os fungos dermatófitos responsáveis por essa doença são
queratinofílicos, se alojando na pele, pelagem e garras desses animais para consumo da
queratina. A transmissão dessa dermatopatia pode se dar por contato direto com o animal
infectado ou indireto, com superfícies de contato ou objetos do animal. É a segunda maior
dermatopatia que infecta humanos no mundo, e é de grande interesse à saúde pública, sendo
necessário o conhecimento acerca dos sinais clínicos, diagnóstico, profilaxia e controle.
Esse estudo traz uma revisão de literatura sistemática acerca desses parâmetros.
Palavras-chave: Dermatofitose, Dermatologia, Felinos.
Área Temática: Saúde animal.

1. INTRODUÇÃO

Os estudos acerca das dermatoses de um modo geral passaram a estar em grande


evidência nas últimas décadas, dado que, por volta do século XX houve grandes descobertas
microbiológicas, o que consequentemente acarretou na transformação da área da
dermatologia em uma especialidade médica, aumentando assim os estudos que envolvem
esta temática, tanto envolta no conhecimento dos agentes causadores das dermatoses, como
quanto ao tratamento e medidas de controle e profilaxia das mesmas (RODRIGUES et al,
2009).
No contexto da medicina veterinária, é de suma importância a ênfase na área da
dermatologia, uma vez que se pode constatar que os casos de animais que apresentam
quadros de dermatoses na lida diária clínica está entre os motivos com os quais os tutores
mais procuram o atendimento veterinário para animais de companhia, chegando a
aproximadamente 30% das consultas em clínicas, valendo ressaltar que os quadros de
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incidências dermatológicas são elevados (PINHO et al, 2017).
A dermatofitose acomete não apenas animais de companhia, mas também a animais
de grande porte, como os bubalinos e bovinos, podendo ser mencionado também animais
ruminantes de médio porte, como os caprinos. Enfatiza-se, portanto, os casos de
dermatofitose em animais de companhia devido ao potencial zoonótico desta dermatose,
uma vez que o contato mais próximo no dia a dia do tutor com o animal aumenta a
probabilidade de infecção, que se dá por contato direto (PARMAR et al, 2018).
Contato este, que de modo geral, aumentou durante a pandemia, dado que com a
instauração de uma quarentena global, houve um grande aumento no número de adoções
dos animais de companhia, uma vez que neste período aumentou também os índices de
solidão, estresse e afins, ocasionados pela situação a qual passamos (DIVINO, 2020).
O estudo acerca da dermatofitose em animais da espécie felina, especificamente os
gatos, faz-se de suma significância dado que os mesmos podem, na maioria das vezes,
apresentar esta dermatose sem a presença de sintomas característicos da mesma, sendo
portanto, mais fácil a infecção pelo tutor devido o contato direto, bem como representando
risco há outros animais (LOPES e DANTAS, 2016).
Parâmetros que devem ser considerados na disseminação da dermatose, vão desde
fatores ambientais, como condições climática, à fatores higiênicos, sendo a higiêne um
parâmetro de suma importância na disseminação desta epidemiologia, já que em condições
de higiene precária, os fungos dermatófitos irão encontrar um ambiente favorável para sua
proliferação (FERNANDES et al, 1992).
Considerando que 3 a cada 10 infecções em humanos que se manifestam
dermatologicamente são de caráter zoonótico, ou seja, adquirida mediante ao contato direto
ou indireto com algum animal pré-infectado (ANDRADE e ROSSI, 2019), O trabalho aqui
apresentado, por meio de uma revisão na literatura, traz um apanhado de informações acerca
da dermatofitose felina e a importância desse conhecimento para a saúde única.

2. METODOLOGIA

Para a produção deste trabalho, foi utilizada a metodologia de consulta em bancos


de dados a partir das seguintes plataformas: Google acadêmico (Scholar Google), CAPES,
Pubmed e pela plataforma SciELO de modo digital. Utilizou-se como indexadores para a
pesquisa as palavras chave: Zoonose, dermatofitose, dermatologia e felinos. A pesquisa
abrangeu os últimos 12 anos, onde a partir dos materiais selecionados, filtrou-se aqueles
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considerados relevantes, totalizando 21 artigos utilizados para a produção da revisão
sistêmica.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 A RELAÇÃO ENTRE AGENTE ETIOLÓGICO E O HOSPEDEIRO

A dermatofitose tem como agente etiológico microrganismos do reino Fungi, mais


especificamente, os fungos. Esta dermatose caracteriza-se como uma micose que se dá
superficialmente na pele do felino, que pode progredir de acordo com as condições de
existência e proliferação que o fungo pode encontrar no organismo animal (LOPES e
DANTAS, 2016).
Os fungos dermatófitos que podem ser mencionados como agentes causadores da
dermatofitose, em geral, podem ser divididos de acordo com seus gêneros: Microsporum,
Trichophyton e Epidermophyton. Podendo estes, ter como hospedeiro tanto animais quanto
humanos, o que irá depender, em sua maioria, das condições e disponibilidade de acesso do
fungo ao indivíduo para iniciar a infecção (MEDEIROS, CREPALDI e TOGNOLI, 2009).
Dentro destes três gêneros, os fungos dermatófitos, podem ainda ser classificados em
espécies de acordo com o habitat no qual os mesmos se encontram antes de infectar o
hospedeiro principal, sendo estes: zoofílicos, para os fungos que se encontravam em um
outro animal hospedeiro primariamente, geofílicos para aqueles que possuíam o habitat
previamente na natureza (pastagens, solos e afins) e antropofílicos, sendo estes os que se
encontravam previamente em humanos (PERES et al, 2010).
As espécies mais frequentemente responsáveis por propagar as dermatopatias em
animais são: Trichophyton mentagrophytes, Microsporum canis e Microsporum gypseum,
sendo dessas, a M. Canis mais frequente quando trazemos ao contexto da dermatofitose em
animais de companhia, especialmente quando se trata da espécie felina (CANAVARI et al,
2017).
A espécie Microsporum canis, é do gênero Microsporum e possui classificação de
acordo com seu habitat primário como espécie-tipo zoofílica, sendo esta espécie descrita no
ano de 1902 e desde então passou a receber nomenclaturas a partir do seu hospedeiro, sendo
nos felinos também conhecida como Microsporum felinus (COUTINHO, 2009).
Visualmente, este fungo possui pigmento presente e bem característico na
visualização de suas colônias, sendo o anverso em tom mais esbranquiçado ou de coloração
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amarelada sendo perifericamente alaranjado e o reverso em tom amarelado mais próximo
ao laranja, podendo ser também em uma coloração mesclada em laranja e amarronzado
(ZAWADZKI, 2016).

Figura 1 (A, B): Morfologia de cultura de M. canis, onde: A equivale ao anverso e B ao reverso.

Fonte: Macedo, Silva & Camargo Jr, 2021.

Quanto a sua morfologia, a espécie M. canis apresenta características bem marcantes


e comuns ao gênero Microsporum de modo geral, como a presença de hifas que contém
septos (podendo chegar a 15 no total) e a presença de estruturas reprodutivas, tanto sexuadas
quanto assexuadas, sendo as mesmas chamadas respectivamente de macroconídios e
microconídios (COUTINHO et al, 2009).
É ao nível dos macroconídios, estrutura reprodutiva sexual desses fungos, que
possibilita em muito casos a identificação e diferenciação destas espécies de fungos do
gênero Microsporum, sendo as características mais marcantes na espécie M. canis: os
macroconídios em um aspecto afusados, enrugado, com uma parede grossa e característica
hialina e microconídios que apresentam suas paredes lisas e relativamente menor, sendo
estes não utilizados para identificar as espécies de Microsporum (LAKSHMIPATHY &
KANNABIRAN, 2010).
No nicho de animais domésticos e de companhia, os cães e gatos são os principais
reservatórios e fatores de preocupação quando se trata da dermatofitose de caráter
zoonótico, sendo o principal reservatório dentre estes, os felinos (MACEDO, SILVA &
JÚNIOR, 2021).
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Figura 2 (A,B): Imagem de microscopia eletrônica evidenciando os macroconídeos, bem como


algumas de suas características morfológicas.

Fonte: Atlas de Micologia Veterinária, 2019.

Nos felinos, os fungos dermatófitos não fazem parte da microbiota normal ao nível
da sua pele. Nestes animais quando jovens, é possível visualizar em sua maioria as
manifestações clínicas, uma vez que o sistema imune destes animais ainda está em processo
de evolução. Já nos felinos de idade mais avançada, percebe-se mais casos assintomáticos
da dermatose (MACEDO, SILVA & JÚNIOR, 2021).
Onde esses animais se infectam, na maioria das vezes, por acesso a rua e a outros
animais, tendo contato direto ou indireto com o fungo em seu caráter zoofílico, ou em menor
incidência em contato com o fungo geofílico (BAJWA, 2020). Sendo a forma infectante
desses fungos por meio dos seus esporos, também chamado de artrósporo, que são
fragmentos das hifas desses fungos em esporos com especialização infectante.
Uma grande parte dos casos de infecção por trauma também é relatado, dado que
comportamentalmente, os indivíduos da espécie felina tendem a se envolver em brigas com
outros felinos, principalmente em animais não castrados. Por isso, gatos com acesso livre à
rua, têm mais probabilidade de contaminação, uma vez que consequentemente têm mais
contato com outros animais infectados, sejam eles assintomáticos ou sintomáticos
(BAJWA, 2020).
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3.2 ETIOLOGIA DA DERMATOFITOSE NO BRASIL

A dermatofitose é relatada como mais susceptível em ambientes de clima tropical,


desenvolvendo-se bem em países que apresentam características de um mesclado entre o
quente e o úmido, principalmente quando esses fatores são visualizados em associação a
baixas condições higiênicas, falta de saneamento básico, dentre outros (PARMAR, 2018).
Dada as características que tornam o Brasil um país tropical, bem como a amplitude
territorial do mesmo, é possível observar que há também atrelada a essas características,
uma variação da flora dermatofítica, considerando também a grande variedade climática e
cultural dentro do próprio país, o que propicia o aparecimento de espécies variadas dos
fungos do gênero Microsporum, sendo a M. canis mais observada nas regiões de latitudes
acima de 15° (PORTO et al, 2021).
Transmitidas tanto por contato direto, como por contato indireto, as dermatofitoses
são distribuídas de forma cosmopolita, ou seja, por todo o mundo. Esta dermatopatia se
apresenta como o 3° maior distúrbio de pele ocorrente em crianças de até doze anos de
idade, estando na 2º posição quando se trata de indivíduos adultos (SILVA et al, 2019).
A dermatofitose, como doença zoonótica tem crescido na mesma dimensão que o
contato entre humanos e animais, dado que nos últimos anos o mesmo aumentou
gradativamente, tendo os animais conquistado espaço nas residências não apenas em
quintais, como nos espaços de maior frequência do tutor, como: sofá, cama, cozinha
(BOTTEON & BALDA, 2015).
Sendo assim, a transmissão por contato direto não é o fator de maior incidência de
contaminação, mas também o contato indireto, dado que os esporos do fungo podem ser
depositados em superfícies de contato, bem como em brinquedos do animal, escovas,
caminhas, recipiente alimentar, dentre outros. Outro fator que pode ser considerado
predisponente para o fluxo de circulação do fungo é que muitos gatos, bem como seres
humanos acometidos, não apresentam sintomas da dermatopatia (SILVA et al, 2019).
Aponta-se aproximadamente, nos últimos 20 anos, que a dermatofitose acomete
mais da metade dos humanos que tiveram contato com animais infectados, em suma aqueles
assintomáticos, principalmente felinos (BIER et al, 2013), o que atribui ao médico
veterinário, não apenas o tratamento dos felinos infectados, mas também um papel social,
médico e educacional referente a saúde única, uma vez que é fundamental o alerta e
orientação acerca da facilidade de transmissão desta dermatopatia, cuidados e medidas
profiláticas para amenizar ou restringir a transmissão zoonótica.
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3.4 MANIFESTAÇÃO CLÍNICA EM FELINOS E HUMANOS

Nos felinos, a dermatofitose pode se manifestar em sua maioria, com sinais clínicos
leves, como um recente comportamento de coceira por parte do animal e leve vermelhidão,
o que pode ser percebido e tratado pelo tutor nos primeiros sinais. Em casos de maior
presença de sintomas, vê-se a manifestação da dermatofitose em forma de lesões na pele do
animal, que podem vir acompanhadas de áreas descamadas com crostas e alopecias que
podem ser tanto generalizadas ou focais, podendo em alguns casos apresentar dermatite
miliar (BOTTEON & BALDA, 2015).
Em alguns casos, pode-se ter em conjunto um pseudomicetoma, quando o fungo
invade a pele do animal em uma agressão que perfurando camadas mais profundas ocasiona
granuloma, sendo este caso bem raro na clínica de felinos, o que não exclui a possibilidade
de se ter (BOTTEON & BALDA, 2015), bem como a formação de nódulos devido a ação
fúngica (LOPES & DANTAS, 2016).
Ao longo da infecção, pode-se perceber lesões hiperpigmentadas, pápulas e
pústulas, sendo estes sinais clínicos mais observados nos membros torácicos do animal,
cauda e cabeça, mas em muitos casos pode apresentar também lesões na região dos
membros pélvicos, principalmente na região coxal do animal, do ventre e tórax (ROMANI
et al, 2020).
Uma diferença de lesões que podem ser perceptíveis entre o cão e o gato, ambos
reservatórios desse dermatófito, é que ao contrário dos cães, em felinos as lesões ocorrem
de modo mais irregular pela extensão da pele do animal, enquanto que no cão, geralmente
se dá de forma mais regular e concentrada, pelos quebradiços e visualmente desgastados
(MEDEIROS, CREPALDI & TOGNOLI, 2009).
Quando infectados, os humanos apresentam sinais clínicos por meio de lesão
avermelhadas, em sua maioria, que recebem nomenclatura e classificação de acordo com a
região de manifestação do fungo no corpo do hospedeiro, sendo as mesmas descritas de
modo geral como "tineas" (ANDRADE & ROSSI, 2019).
As lesões, ou tineas, em humanos podem ser: tinea capitis, que se instalam na região
dos cabelos, tinea corporis, que se instala pela extensão corporal, tinea cruris (inguinal),
tinea manus (mãos), tinea pedis (pés) e t. unguium, que se instalam por baixo das unhas
(SILVA et al, 2019).
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Figura 3: Pseudomicetoma em felino, condição que acomete raramente tanto a essa espécie, quanto a canina.

Fonte: BOTTEON & BALDA, 2015.

Figura 4: Lesões causadas por dermatófitos em felino, onde: A- alopecia, B-hiperpigmentação.

Fonte: Paryuni, Indarjulianto & Widyarini, 2020.

Ressalta-se que a manifestação clínica desta dermatopatia, bem como de outras, é


influenciada também pelos mais variados fatores, como grau de infecção, sistema imune do
hospedeiro, resistência do fungo, dentre outros, o que induz que nem todos os animais ou
humanos infectados manifestam os mesmos sinais, ou na mesma frequência.
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Figura 5: Tinea corporis anular na face

Fonte: PAULO, 2021. ProntoPele, revista online:


https://prontopele.com.br/2021/08/10/dermatofitose-conheca-essa-infeccao-fungica-da-pele-unhas-
e-cabelos/

3.5 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da dermatofitose não pode ser fechado apenas baseando-se nos sinais
clínicos que um paciente apresenta, isso pois os sintomas e sinais perceptíveis em um
paciente, podem ser confundidos com outras doenças dermatológicas semelhantes. No caso
da dermatofitose felina, há uma gama de exames diagnósticos que podem ser realizados em
virtude de que não haja casos de superdiagnóstico (ROMANI et al, 2020).
O mesmo deve ser realizado com base na anamnese, histórico do animal adjunto a
exames laboratoriais que possibilitem a visualização microscópica do fungo, bem como o
isolamento por cultura (MACEDO, SILVA & JÚNIOR, 2021).
Atualmente não há um exame chave ou padronizado para o diagnóstico da
dermatofitose em felinos, tendo que ser realizado mais de um teste, na maioria das vezes
(BAJWA, 2020).
Dentre os variados métodos que podem ser utilizados, a dermatoscopia é bem
comum na lida diária, dado que a mesma não se dá por processo invasivo e auxilia bem no
diagnóstico uma vez que os achados a partir desta técnica se diferem dos achados de felinos
acometidos por outras dermatopatias ou por nenhuma (BAJWA, 2020).
Para o diagnóstico da M. canis, espécie de interesse do estudo, é frequentemente
citada a técnica de lâmpada de Wood, feito normalmente na etapa de triagem, dado que 5 a
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cada 10 casos de infecção por M. canis o fungo não se apresenta fluorescente na luz
ultravioleta. Nesta técnica, os pelos e pele se apresentam em tom esverdeado, o que orienta
o clínico em qual parte realizar a coleta de pelagem para mais exames (MACEDO, SILVA
& JÚNIOR, 2021).

Figura 6: Aplicação da técnica de lâmpada de Wood em felino.

Fonte: CUNHA, 2020. Dermatologia Veterinária. https://dermatologia-


veterinaria.com/examesrealizados/

O isolamento de cultura fúngica, ajuda a fechar de modo mais conclusivo o


diagnóstico de dermatofitose, bem como possibilita ver a espécie causadora de modo mais
completo, confirmando que há a infecção, podendo ser essa uma técnica definitiva
(MORIELLO, 2014). O uso do teste de PCR é uma alternativa que pode ser empregada
devido a confiabilidade no diagnóstico, porém ainda não é uma técnica amplamente
difundida (BOEHM & MUELLER, 2019).
A biópsia também é uma opção diagnóstica para a dermatofitose, que apesar de ser
considerada uma técnica invasiva e pouco utilizada para este diagnóstico, apresenta alta
taxa de confiabilidade (BOEHM & MUELLER, 2019).
Vale ressaltar que, apesar de ser uma zoonose, a dermatofitose felina, quando
diagnosticada e tratada, permite com que humanos e felinos convivam em harmonia,
preservando a saúde pública (NINO, CASSOL & BASSANI, 2017).
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3.6 PROFILAXIA E CONTROLE

Dado que a dermatofitose é uma doença de caráter zoonótico de importância para a


saúde pública, faz-se necessário medidas de profilaxia e controle, que podem ser tomadas
a partir de medidas ativas educacionais de conscientização acerca dessa dermatologia, não
apenas para tutores como para população em geral, dada a transmissão tanto direta como
indireta.
Para a população, conhecer os parâmetros da doença se faz importante no combate
da mesma, seja de forma profilática, no controle e tratamento (MACEDO, SILVA &
JÚNIOR, 2021).
Segundo Andrade & Rossi (2019), vê-se como sugestão simples para a contenção
da transmissão da dermatofitose, evitar contato físico com o hospedeiro, uma vez que a
transmissão se dá também por contato direto, o que não é viável na prática já que muitos
dos felinos que apresentam infecção por dermatófitos tendem a não ter sintomas visíveis,
bem como a frequência de interações entre humanos e felinos, mesmo para aqueles que
não possuem pet em casa, impossibilitando a alternativa da falta de contato entre os
mesmos, bem como entre felinos uns com os outros e com o ambiente em si, no caso de
felinos com acesso a rua.
Para casos de animais já infectados, a medida de controle é pautada em diagnóstico
que especifique a espécie, bem como isolar o animal de outros para que não haja uma
disseminação do fungo, mapeamento dos locais que o animal andou para que assim possa
evitar recidivas da dermatopatia e transmissão aos demais, bem como a higienização dos
ambientes que o animal teve e tem contato (MEDEIROS, CREPALDI & TOGNOLI, 2009).
Vale ressaltar que é importante, nesses casos, políticas públicas para controle e
prevenção, uma vez que nem todos os animais têm acesso a saúde, e visto que tanto doenças
dermatológicas, como outras, tendem a acometer em sua maioria a população de rua, onde
não se tem bem um controle de diagnóstico e tratamento.

4. CONCLUSÃO

Em virtude do caráter zoonótico, a dermatofitose felina é uma doença de suma


importância para a saúde pública, sendo o segundo maior problema dermatológico a
acometer humanos, o que reforça a necessidade de cuidados de diagnóstico, prevenção e
controle acerca dos felinos, reservatório mais acometido pela dermatose e maior
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responsável pela taxa de transmissão da mesma a humanos. Ressaltando a necessidade de
políticas públicas de prevenção e atendimento a animais em situação de rua, bem como
conscientização social de modo educativo acerca da etiologia, patogenia, cuidados e
diagnóstico da mesma, que chegue a todas as camadas sociais.

5. REFERÊNCIAS

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