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3º MÓDULO - CONTROLE DE PRAGAS EM AMBIENTE HOSPITALAR

A relação dos homens com as pragas urbanas remonta aos primórdios da


humanidade. E a luta por controlá-las é um desafio igualmente antigo. Tão antigo
quanto a convivência dessas pragas em instituições hospitalares e a sua tentativa de
lançar mãos de métodos empíricos conhecidos a cada época para tentar controlá-las.

Devido às condições de higiene e saneamento em geral, até meados do século


XX, problemas com pulgas, piolhos e percevejos de leitos eram frequentes em
hospitais. Somente após o término da segunda grande guerra mundial, como
consequência da descoberta das propriedades inseticidas do DDT, a abordagem
química do controle de pragas, tanto na agricultura como nas áreas urbanas, cresceu e
se fixou fortemente nos hospitais brasileiros.

Este fato, aliado à melhoria das condições higiênico-sanitárias e às mudanças


decorrentes da intensificação do processo de urbanização, provocou uma mudança no
perfil das pragas nos hospitais. Para exemplificar, pulgas, piolhos e percevejos são
raros hoje em dia, mas formigas, por exemplo, que eram pouco frequentes, tornaram-
se comuns.

Nos últimos anos, devido à ampliação do conhecimento sobre os riscos


toxicológicos e impactos ambientais dos inseticidas e raticidas, busca-se abordagens
mais seguras e menos impactantes. E apesar disso, a ocorrência de pragas em hospitais
ainda é um fato mundialmente comum, mas são poucos os estudos que apresentam
estatísticas de ocorrência de pragas em ambientes de saúde.

Quem esclarece esta e demais questões sobre o controle de pragas em


ambiente hospitalar é o biólogo Ronaldo Facury Brasil, pós-graduado em Gestão em
Saúde, Segurança e Meio Ambiente e Hotelaria Hospitalar, diretor técnico operacional
da PPV Controle de Pragas.

Quais são os principais fatores para o aparecimento de pragas em uma instituição de


saúde?

Para que possamos falar sobre esses fatores é importante que se fale sob o
conceito de praga. Por definição, praga “é qualquer organismo vivo que cause algum
tipo de transtorno ou prejuízo ao homem, quando ambos compartilham o mesmo
espaço”. Portanto, pode-se dizer que a barata que está dentro das tubulações nas

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ruas, por exemplo, não pode ser considerada praga, pois não está compartilhando o
mesmo ambiente conosco, e diríamos ainda, que estes indivíduos têm um papel muito
importante dentro do ecossistema urbano.

Outra importante informação que deve ser considerada é a diferença de


conceito entre ocorrência episódica e infestação de pragas. Uma ocorrência episódica
e isolada é aquela em que a praga encontra facilidade de acesso, entra no ambiente,
mas não encontra condições para o seu estabelecimento e desenvolvimento e acaba
morrendo ou apenas indo embora. Já uma infestação, a praga tem acesso às áreas e ali
encontram condições essenciais para se desenvolver. Estas condições são o que
chamamos de triângulo da vida ou o tripé dos A’s, que são os seguintes elementos:
Água, Abrigo e Alimento. Elementos importantes para sobrevivência de qualquer
organismo vivo.

E quais são as pragas mais comuns em hospitais?

Estudo efetuado na Polônia no período de 1990 a 1995 mostrou que a barata


Blatella germanica era o inseto mais freqüente nos Hospitais estudados ocorrendo em
71% dos mesmos. Outra barata, a Blatta Orientalis, e uma espécie de formiga
Monomorium pharaonis ocorreram em 40% e 17% da amostra respectivamente. Um
estudo semelhante e comparativo conduzido entre 2003 e 2004 mostrou a presença
das mesmas espécies, porém com nível de infestação menor do que o observado
anteriormente.

Pesquisa efetuada com 192 hospitais no estado de Nova Yorque, em 1995,


mostrou que 98% deles aplicavam inseticidas em suas instalações. Pesquisa efetuada
em 22 Hospitais americanos em 2003 mostrou que todos eles aplicavam inseticidas em
suas instalações apesar de 73% deles reportarem o uso de uma abordagem do
Controle Integrado de Pragas. Apesar de não ser perguntado em nenhum dos
questionários se os Hospitais tinham ocorrência de pragas, pode-se concluir pela
incidência de tratamentos com inseticidas que estes problemas existiam na quase
totalidade.

Aqui no Brasil, nós (MILANO e BRASIL) desenvolvemos dois estudos envolvendo


a participação relativa de cada grupo de pragas. O primeiro efetuado em 12 Hospitais
da cidade de São Paulo mostrou que, baratas, formigas e moscas ocorriam em todos os
Hospitais e eram os grupos mais freqüentes de pragas, representando mais de 70% do
total das pragas observadas. O segundo estudo foi desenvolvido sobre uma amostra de
24 Hospitais localizados na grande São Paulo: doze Hospitais foram avaliados no

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período entre 1994 e 1997 e outros doze no período entre 1998 e 2001. Os resultados
obtidos são mostrados abaixo.

Frequência relativa das ocorrências de diferentes grupos de pragas em duas


amostras de hospitais nos períodos de 1994 a 1997 e de 1998 a 2001.

No período de 1998 a 2001 observou-se uma redução de cerca de 20% no total


de ocorrências em relação ao período anterior. Nos dois períodos, formigas, baratas,
moscas e mosquitos representaram mais de 80% das ocorrências, porém observaram-
se alterações importantes na distribuição relativa destas pragas. De maneira geral
observou-se um aumento na frequência das espécies invasivas (insetos voadores
originados fora do ambiente hospitalar) em relação às eventualmente instaladas
dentro dos Hospitais.

Todos os Hospitais apresentaram ocorrências com formigas, sendo que


Tapinoma melanocephallum e Paratrechina longicornis foram as espécies mais
frequentes. Estes dados coincidem com levantamentos realizados em oito Hospitais do
Estado de São Paulo. Este estudo último mostrou que:

a. todos os Hospitais visitados apresentaram infestação de formigas. Sempre


ocorreram várias espécies, com a predominância de uma delas. O índice de infestação
variou de 16 a 61% dos pontos amostrados, atingindo 73% quando ocorreu a explosão
populacional de uma das espécies;

b. em um dos Hospitais localizado na região Sudeste, 16,5% das formigas


coletadas apresentaram bactérias patogênicas;

c. os berçários e as UTIs foram as alas com maiores índices de infestação;

d. as formigas mais comuns foram duas espécies introduzidas, destacando


Tapinoma melanocephalum e Paratrechina longicornis;

Neste estudo apenas dois Hospitais não apresentaram ocorrências com baratas
sendo que a espécie Blatella germanica que foi mais freqüente na primeira
amostragem, tornou-se menos frequente que a espécie Periplaneta americana na
segunda análise.

Todos os Hospitais apresentaram ocorrências de moscas sendo Musca


domestica a espécie mais frequente, porém diversas ocorrências de outras espécies,
algumas, inclusive pouco comuns, foram observadas. Chama a atenção o aumento de
9,9% para 22,1% na participação relativa das moscas entre a primeira e segunda
amostragem.

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Mosquitos representaram 9,4% das ocorrências na primeira amostragem e
12,5% na segunda. Na primeira amostragem a quase totalidade das ocorrências era do
mosquito Culex quinquefasciatus. Na segunda amostragem além desta espécie
surgiram ocorrências com Aedes aegypti.

Em quais áreas é mais comum o aparecimento de pragas

Pode-se dizer que a ocorrência com baratas, ratos e formigas está relacionada
às áreas onde são manipulados ou estocados os gêneros alimentícios ou então, onde
existam depósitos de resíduos gerados pelas áreas de produção de alimentos. As
ocorrências com formigas que normalmente são observadas em quartos de pacientes,
por exemplo, acontecem por muitas vezes por causa da oferta de soro glicosado e
outros resíduos que caem no ambiente ou que são deixados nos cestos de lixo.

É muito comum hoje em dia também, os acompanhantes dos pacientes


levarem alimento para dentro das unidades de internação, aumentando assim os
resíduos e os riscos das ocorrências. Outra prática principalmente nas maternidades,
quando das visitas, é a entrega de vasos de flores para os pacientes. Vários são os
relatos de colônias de formigas instaladas nestes vasos.

Portanto, não é verdadeira a afirmação de que exista uma correlação real entre
a espécie praga e o ambiente específico. As pragas por serem oportunistas e pela
necessidade biológica de perpetuação de sua espécie e sobrevivência, procuram as
condições ambientais oferecidas que favoreçam sua instalação e desenvolvimento.

Qual é a maneira mais correta e eficaz para controlá-las?

Atualmente, a abordagem mais moderna de controle de pragas em instituições


de saúde é o controle integrado de pragas. Esta abordagem fundamenta-se na gestão
das ocorrências com pragas e no uso delas como indicadores ambientais. A cada
ocorrência devemos buscar entender as relações ecológicas entre as características
biológicas da praga e os fatores ambientais oferecidos no local do evento. Se
conseguirmos identificar os fatores determinantes e os corrigirmos o local tornar-se-á
ambientalmente resistente e aquela praga não voltará a aparecer enquanto as
condições desfavoráveis a ela forem mantidas.

É preciso ressaltar que o controle integrado visa, fundamentalmente, minimizar


a utilização de produtos químicos no controle. No estágio atual esta abordagem,
quando adequadamente adotada, permite a redução, em média, de 85% no volume de

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inseticidas aplicados e mais de 95% no volume de raticidas quando comparados com a
abordagem tradicional de aplicações periódicas. Este nível de redução é especialmente
importante em instituições de saúde, pois é fato cientificamente conhecido que
crianças e idosos são mais sensíveis aos efeitos diversos dos produtos químicos.
Crianças e idosos são a maioria do público destas instituições.

Nas situações onde for necessário o uso de produtos químicos a seleção deve
ser criteriosa. Existem centenas de marcas de produtos disponíveis no mercado
brasileiro. Na composição destes produtos entre trinta e quarenta diferentes tipos de
ingredientes ativos são utilizados. Dentre estes ingredientes existem produtos
reconhecidamente de toxicidade aguda alta, suspeitos de carcinogenicidade, suspeitos
de afetar negativamente a reprodução e o desenvolvimento e de interferir no
funcionamento do sistema endócrino.

Como devem ser empregados os produtos para o cuidado com pragas em locais
como Centro Cirúrgico, Nutrição, UTI?

Procedimentos de intervenção química são atualmente utilizados com


frequência pelas empresas de prestação de serviços de controle de pragas em vários
departamentos e setores críticos dos estabelecimentos de saúde, inclusive nos setores
como centro cirúrgico, material de esterilização, centro de nutrição, UTI e até
berçários.

É ainda muito forte a cultura de que o produto pode evitar a ocorrência ou a


entrada das pragas. Na realidade os produtos aplicados funcionam como um
“analgésico”. Eles, se bem utilizados, podem resolver a “dor”, mas não a “causa” ou a
“origem” dela. Deve-se lembrar ainda, que normalmente após qualquer intervenção
química, faz-se uma limpeza terminal das áreas tratadas, consequentemente, tudo ou
quase tudo que foi aplicado, é removido pela limpeza e o todo o trabalho vai
“literalmente para o ralo”.

Acreditamos que é muito mais inteligente evitar a entrada e reduzir os acessos


para as pragas e também, trabalhar no sentido de conscientização dos usuários dos
setores para que eles, durante suas atividades e atribuições diárias não criem
condições favoráveis para que as pragas se estabeleçam.

No entanto, a aplicação de produtos, em certos casos ainda é uma solução e se


ela for comprovadamente necessária, deve-se optar pela aplicação de produtos na
forma de iscas, pois este processo além de utilizar quantidades normalmente menores
de produtos, é mais segura e normalmente localizada.

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Com qual periodicidade deve haver este controle?

Cada Hospital, estabelecimento de saúde ou qualquer ambiente que receberá


um controle, deve ser analisado como um organismo diferente. Ele apresenta
realidades e particularidades que devem ser consideradas quando da elaboração de
um programa de controle de pragas. Inicialmente o estabelecimento deve passar por
uma avaliação técnica profunda, como um médico que faz uma primeira consulta em
um paciente. É necessário para que se faça o diagnóstico que se conheça muito bem o
seu paciente.

Com controle de pragas é situação é bastante semelhante, para que se possa


traçar um planejamento, é necessário uma boa avaliação das áreas que deverão ser
controladas. Deve-se também ter o cuidado de levantar informações do entorno do
estabelecimento e do histórico de ocorrências.

Quanto à periodicidade, o que se deve ter, não é frequência ideal pré-


estabelecida de aplicação e controle, mas sim, a frequência com a qual o profissional
de controle de pragas deverá monitorar e avaliar as ocorrências, para daí então traçar
estratégias específicas de controle para cada área. A frequência de visitas, assim como
o trabalho de aplicação deve ser dinâmico e cabe ao profissional técnico responsável
pelo controle de pragas determinar o que é melhor para aquele cliente ou
estabelecimento.

Por experiência, a periodicidade de visitas deve estar diretamente relacionada


ao porte (número de leitos) e a localização do Hospital. Normalmente estas visitas
podem ser semanais, quinzenais e em alguns casos mensais. Admitir que o Hospital
necessite de visitas diárias para controle, é acreditar que temos ocorrências com
pragas todos os dias. Portanto o planejamento deve ser revisto.

A inspeção para o controle de pragas deve ser feita por qual departamento da
instituição?

As inspeções para controle de pragas devem ser efetuadas por profissionais


habilitados ou devidamente treinados com olhos não somente para a observação das
ocorrências das pragas, mas também com o objetivo de buscar as evidências que
possam justificar a sua presença nos ambientes.

Este suporte de treinamento pode e deve ser dado por profissionais que
prestam serviços para os estabelecimentos. Outra forma de obtenção de informações
das ocorrências seria a criação de um formulário ou uma central onde fossem
anotados os locais e as ocorrências, para que as ações pudessem ser adotadas.

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Num trabalho recentemente desenvolvido por nós, foram pesquisados 61
Hospitais na grande São Paulo e 35% deles responderam que o departamento de
Hotelaria Hospitalar está à frente dos trabalhos de controle de pragas. Foram também
citados setores como: segurança do trabalho, SND, higienização/governança,
manutenção e CCIH. A nossa experiência tem mostrado que todos os serviços
oferecidos pelo Hospital, que não os assistenciais, estão sob responsabilidade do
Hoteleiro Hospitalar e o controle de pragas é um deles.

Quais são as medidas preventivas para o seu controle?

Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, ser praga não é uma


característica inerente a determinadas espécies biológicas. Tecnicamente o conceito
de praga é “qualquer organismo vivo que cause algum transtorno ou prejuízo ao
homem quando ambos compartilham o mesmo ambiente”. Conforme se pode ver,
este é um conceito situacional que envolve três aspectos: uma espécie biológica, um
determinado ambiente e um juízo de valor por parte do homem.

Homem, ambiente e organismo vivo, contribuem cada um à sua maneira para a


situação de ocorrência de pragas. Entender claramente a forma como cada um destes
elementos participa do processo e como eles interagem entre si é a base para a
tomada de decisão sobre as ações que, uma vez implementadas, levarão ao controle e
prevenção da ocorrência.

A contribuição do organismo à situação de ocorrência de praga é bastante


restrita e envolve apenas o seu repertório genético e comportamental. Em outras
palavras o organismo está, sempre, simplesmente cumprindo o papel ecológico para o
qual foi selecionado ao longo da história evolutiva da sua espécie.

Por sua vez o homem participa do conceito num primeiro momento com a
avaliação do transtorno ou prejuízo causado pelo organismo. Aqui é interessante notar
que existe uma diferença fundamental entre os conceitos de praga agrícola e urbana.
No caso da praga agrícola o prejuízo é objetivo: é possível mensurar a perda nos
resultados da safra.

No caso da praga urbana, a avaliação do transtorno é às vezes fortemente


subjetiva e influenciada por aspectos culturais e psicológicos. Em algumas regiões da
Índia ratos são adorados como encarnação de deuses. Evidentemente para os que
acreditam nisto os ratos não são vistos como pragas. Por outro lado a reação humana
ao contato visual com alguns insetos e aranhas vai desde a absoluta indiferença até a
verdadeira fobia com resultados completamente diferentes em termos do transtorno
causado pela praga.
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Uma outra participação importante do homem no conceito de praga diz
respeito ao fato de que muitos hábitos e comportamentos corriqueiros podem ser
fortemente determinantes nas ocorrências de pragas. Exemplo disto é o descontrolado
aumento das populações de pombos urbanos em áreas onde o hábito de alimentá-los
é corriqueiro. O comportamento humano no que diz respeito ao saneamento e
higienização ambiental são, também, elementos, cuja importância na facilitação ou
dificultação das ocorrências com pragas, são reconhecidas há muito tempo. Muitos
destes hábitos e comportamentos são frutos do nível de informação (ou
desinformação) e da cultura individual das pessoas.

Nas organizações de maneira geral e nos hospitais em particular as políticas,


normas, procedimentos, manuais operacionais, boas práticas etc. têm por objetivo
sistematizar determinados comportamentos esperados dentro da organização. Estes
documentos informam. Porém, muitas vezes, para mudar hábitos e comportamentos é
preciso envolver a todos. Neste ponto treinamentos e campanhas de conscientização,
tecnicamente bem conduzidos, têm papel fundamental.

Por outro lado, as características ambientais são o grande determinante em


muitas ocorrências com pragas em hospitais. Dentre estas características as condições
do entorno do hospital são determinantes dos níveis e tipos de pressão de invasão a
que o mesmo estará sujeito especialmente no caso de insetos voadores e
eventualmente roedores. Além disto, a estrutura física dos diversos ambientes e
equipamentos existentes em um hospital são de um grau de complexidade impar
quando comparados com a maioria das outras estruturas urbanas. Esta complexidade
cria, dentro destes ambientes, vários locais de abrigo e, eventualmente, pontos de
entrada ou de oferta de água e/ou alimento ao longo desta estrutura física para que
populações de pragas possam se instalar e manter dentro do hospital.

Edificações e equipamentos sofrem a inexorável ação do uso e do tempo e vão


se deteriorando. Com isto a manutenção, que inicialmente era muito mais preventiva,
vai se tornando cada vez mais apenas curativa. Rapidamente chega-se ao ponto em
que há necessidade de se priorizar entre as próprias ações curativas. Com isto,
pequenas falhas pontuais de manutenção passam a ocorrer e é nestas pequenas falhas
que o ambiente vai se tornando favorável às pragas.

O pequeno buraco formado pelo rejunte de azulejo que soltou e não foi
reposto ou uma pequena trinca que surgiu num canto escondido de uma parede
podem servir de abrigos para grupos de baratas ou colônias de formigas. O pequeno
vazamento que só deixa um pouco úmido o armário embaixo de uma pia pode criar as
condições necessárias para alguns tipos de moscas e baratas. O espaço deixado na

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parede ao redor de um novo cano que foi instalado pode servir de porta de entrada
para uma invasão por roedores.

A importância da limpeza do ambiente no controle de pragas é do


conhecimento de todos. De maneira geral nossos hospitais mantêm programas e
procedimentos de limpeza bastante satisfatórios. Ocorre que frações muito pequenas
de resíduos podem servir de atrativo e/ou alimento para muitas das espécies pragas
em hospitais. Assim, um único farelinho de biscoito ou uma gota de soro glicosado,
que não comprometem a limpeza, podem servir de atrativo e alimento para formigas e
baratas, por exemplo. Somente a avaliação da frequência com que este tipo de
ocorrência acontece permite determinar se há necessidade, ou não, de alguma
alteração no procedimento de limpeza.

Outro aspecto ambiental importante diz respeito aos resíduos gerados pela
atividade hospitalar. Sabe-se que boa parte do lixo urbano é de natureza orgânica e
está, portanto, sujeita ao processo de decomposição. Este é o mecanismo ambiental
que garante que os nutrientes acumulados pelos organismos ao longo de sua vida
sejam devolvidos ao ambiente após a sua morte. Com isto estes nutrientes tornam-se
novamente disponíveis aos novos organismos vivos. Muitas das espécies envolvidas
em situações de ocorrência de pragas cumprem este papel ecológico: são
decompositoras.

Assim qualquer resíduo de natureza orgânica gerado no hospital pode servir de


atrativo alimentar e de estímulo para que diferentes organismos cumpram a função
ambiental para que foram programados ao longo do processo evolutivo. Por esta razão
os cuidados no processamento dos resíduos no hospital podem criar situações
ambientais que contribuem ou dificultam determinadas ocorrências com pragas e,
portanto devem ser considerados no respectivo Programa de Gestão.

Como está o controle de pragas atualmente junto ao Ministério da Saúde, ANVISA,


ou seja, quais legislações asseguram este controle e a prevenção?

A Resolução - RDC nº 18, de 29 de fevereiro de 2000 dispõe sobre Normas


Gerais para funcionamento de Empresas Especializadas na prestação de serviços de
controle de vetores e pragas urbanas. As exigências legais dizem respeito às
instalações das empresas, ao transporte dos produtos, à destinação das embalagens e
às rotinas de trabalho, além da obrigatoriedade de um responsável técnico. Assim, as
Empresas Especializadas somente podem funcionar, depois de devidamente
licenciadas junto à Autoridade Sanitária ou Ambiental Competente em nível estadual
ou municipal.

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Recentemente, a Consulta Pública nº 76, de 23 de dezembro de 2008 colocou
em discussão a atualização deste regulamento. Em seu item 4.2 o novo regulamento
em diz explicitamente que “a prestação de serviço de controle de vetores e pragas
urbanas somente pode ser exercida por empresa especializada, sendo obrigatória a
contratação e/ou licitação específica e independente de outros serviços de quaisquer
naturezas”. Por controle de vetores e pragas urbanas a nova norma entende o
“conjunto de ações implementadas, visando impedir que vetores e pragas urbanas se
instalem ou reproduzam no ambiente. Incluem-se neste conceito os termos “Controle
integrado de pragas urbanas” e/ou “Manejo Integrado de pragas urbanas” e
denominações semelhantes”.

Disto conclui-se que toda instituição de saúde deve manter contrato de serviço
de controle de pragas com empresa especializada. Deve, também, manter
documentação que comprove as atividades desenvolvidas.

Outro aspecto importante diz respeito aos produtos utilizados. Qualquer


inseticida ou raticida deve obrigatoriamente ter registro na ANVISA e este registro tem
um período de validade. No site deste órgão é possível consultar o número de registro
dos produtos legalizados. A prática de consultar periodicamente este site é
importante, pois um levantamento recente com 156 marcas comerciais mostrou que
11% dos produtos ou não tinham registro ou estavam com registro vencido.

A cargo de qual departamento fica a Gestão de Controle de Pragas?

Num trabalho recentemente desenvolvido por nós, em 2008, foram


pesquisados 61 hospitais localizados na grande São Paulo e uma das perguntas foi a
qual departamento o controle de pragas estava ligado, e 35% deles responderam que
o departamento de Hotelaria Hospitalar está à frente da gestão dos trabalhos de
controle. Foram também citados setores como: segurança do trabalho, SND,
higienização/governança, manutenção e CCIH. A nossa experiência tem mostrado que
todos os serviços oferecidos pelo Hospital, que não os assistenciais, estão atualmente,
sob a responsabilidade do Hoteleiro Hospitalar e o controle de pragas é um deles.

Em que ponto a Enfermagem pode contribuir para o controle de pragas dentro de


hospitais, clínicas, laboratórios?

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Dentro da estrutura destas Instituições, os profissionais de Enfermagem têm
papel fundamental que vai além do suporte clínico. Por estarem continuamente
deslocando-se pela instituição, estes profissionais são verdadeiros sentinelas. São
estes profissionais que muitas vezes detectam problemas de manutenção, limpeza,
rouparia, etc. e acionam as ações corretivas necessárias. São olhos que vêem múltiplos
aspectos da instituição. No que diz respeito ao controle de pragas esta contribuição
pode ser resumida basicamente em três aspectos:

- atenção às ocorrências, registro e informação das mesmas;

- atenção às mudanças ambientais que podem favorecer as ocorrências;

- adoção de procedimentos que não criem situações favoráveis às pragas.

Além da falta de higiene, transmissão de microrganismos e comprometimento da


imagem da instituição, essas pragas podem causar danos em equipamentos e na
rede elétrica, por exemplo?

É fato que as pragas podem ocorrer principalmente em ambientes com falta de


higiene, mas já nos deparamos com inúmeros casos de ocorrências de pragas em
Centros Cirúrgicos, por exemplo, que a princípio, eram locais extremamente limpos e
organizados. Quanto à transmissão de doenças devido à presença de pragas, também
é notório que as pragas podem transmitir várias patologias, mas não podemos
esquecer que o grande responsável pelo aumento e manutenção de níveis elevados de
infecção hospitalar ainda são as pessoas. As pragas em muitos casos aparecem como
as grandes vilãs desta história e isso nem sempre é verdade. Logicamente que sua
presença, para grande maioria das pessoas, está sempre associada à falta de higiene e
com isso pode prejudicar a imagem do estabelecimento de saúde, daí a importância de
se ter um trabalho que busque minimizar as ocorrências ao longo do tempo. Deve-se
buscar a redução da probabilidade de visualização de ocorrências pelos usuários e
colaboradores.

A cidade de São Paulo tem registrado um aumento significativo das ocorrências


com roedores, por exemplo. Em apenas seis anos, os registros de reclamações de
ocorrência de roedores aumentaram em mais de 10 vezes, como mostram os dados
coletados junto a um site da Prefeitura:

Por consequência, os casos de danos a cabos elétricos e cabines de distribuição


de energia por causa do ataque dos roedores também têm aumentado. Vários são os
casos de curto-circuito em cabines de força e também com equipamentos. Um bom

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processo de monitoramento das ocorrências e principalmente um trabalho de
fechamento de todos os possíveis acessos são fundamentais para evitar as ocorrências.

Durante muito tempo o controle de pragas urbanas foi baseado exclusivamente na


aplicação de defensivos químicos. Hoje, como está este cuidado quando falamos em
serviços de saúde?

A abordagem do controle de pragas mudou bastante nos últimos anos


especialmente em consequência da crescente preocupação pública com segurança e
com o meio ambiente.

Na abordagem tradicional a expectativa de controle sempre foi, basicamente,


função direta da aplicação de defensivos químicos. A ideia que sustentava esta
abordagem é a seguinte: usando o inseticida correto, obtém-se o controle das pragas.
Como consequência quantidades consideráveis de defensivos químicos foram
aplicados no meio ambiente eliminando diversos organismos que não eram alvo do
controle.

Ao mesmo tempo estas aplicações em massa pressionaram aos organismos


alvo a desenvolver mecanismos biológicos de resistência a estes defensivos e também
a se esconderem cada vez mais.

Recentemente uma abordagem de Controle Integrado de Pragas começou a ser


desenvolvida como uma alternativa, tecnicamente viável e ecologicamente correta
para o controle de pragas em ambientes sensíveis. O Controle Integrado significa uma
mudança conceitual básica no que diz respeito ao controle de pragas: defensivos
químicos não são os únicos meios de controle, é possível integrar diferentes
ferramentas para obter o controle.

Quais as principais mudanças que você sentiu no controle de pragas em hospitais?

Podemos falar sobre o sistema que nós desenvolvemos em nossa empresa para
atender os Hospitais e os estabelecimentos de saúde. O Sistema PPV aplica todas as
ferramentas utilizadas no Controle Integrado de Pragas, assim o controle é
consequência de um conjunto de medidas que visam reduzir as oportunidades de
invasão e instalação das pragas. O trabalho envolve o monitoramento contínuo das
infestações, a criação de obstáculos ambientais e a intervenção cultural de modo a
orientar os usuários acerca de comportamentos que favorecem as infestações.

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O programa também contempla a utilização de defensivos químicos, mas estes
são considerados como uma ferramenta única e adicional. São utilizados, apenas, onde
e quando efetivamente indispensáveis. Os tipos de defensivos e sistemas de aplicação
são dimensionados levando em conta as características de ocupação de cada área,
buscando direcionar as intervenções aos focos ou principais rotas de invasão das
pragas. Assim, o impacto ambiental é reduzido ao mínimo necessário para manter as
populações sob controle.

O Sistema PPV foi desenvolvido com a preocupação de mensurar os processos


biológicos envolvidos nas flutuações populacionais em qualquer infestação por pragas.
Ao longo dos anos trabalhamos no desenvolvimento e aprimoramento de modelos de
infestação por pragas em diferentes ambientes. Estes modelos permitem prever
algumas ocorrências e, assim, adotar medidas preventivas. Ao longo dos anos o
conhecimento acerca das relações entre determinadas espécies de pragas e aquele
ambiente específico aumenta. Como consequência, mais e mais ocorrências podem ser
previstas e prevenidas.

O principal resultado decorrente da utilização do Sistema PPV é que, ao longo


dos anos as populações de pragas vão assumindo dimensões cada vez menores
exigindo cada vez menos a utilização de defensivos químicos para o seu controle.

Quais seriam as ‘principais’ boas práticas a serem adotadas pelo hospital para o
controle de pragas urbanas?

Conforme vimos anteriormente, as pragas precisam de acesso, água, alimento e


abrigo para invadirem e se instalarem em um ambiente. Assim, quaisquer medidas que
restrinjam a oferta destes elementos podem ser consideradas boas práticas. Neste
sentido bons procedimentos de limpeza e higiene dos ambientes combinados com um
bom programa de manutenção predial e um sistema eficiente de gestão das
ocorrências de pragas e ações de correção ambiental são a nosso ver os fatores
determinantes no sucesso de um programa de controle de pragas urbanas em
hospitais.

Fonte: http://portaldaenfermagem.com.br/entrevistas_read.asp?id=31

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CONTROLE INTEGRADO DE PRAGAS É O MAIS EFICAZ EM HOSPITAIS, ALÉM DE
GARANTIR A AUSÊNCIA DE PRAGAS, APRESENTA MELHOR CUSTO-BENEFÍCIO

Assim como em outros ambientes que comportam uma grande circulação de


pessoas, o hospitalar (hospitais, clínicas, enfermarias, laboratórios, núcleos de saúde,
etc.) requer atenção especial quando o assunto é controle de pragas. É preciso que
esses locais estejam livres da presença de vetores mecânicos para que sejam seguros e
propícios à cura de enfermidades.

Entre as principais pragas a serem controladas em ambientes hospitalares


estão:

Formigas (Monomorium pharaonis, Tapinoma melanocephallum e Paratrechina


longicornis)

Baratas (Blatella germanica e Blatta Orientalis)

Pombos

Moscas

Ratos

Estes são transmissoras em potencial de bactérias, fungos, protozoários e vírus


maléficos à saúde, sobretudo em casos de cirurgia e internação.

O controle em hospitais é muito parecido com o realizado em outros


ambientes, como hotéis e restaurantes. Mas há um fator de alto risco: lá encontram-se
pessoas, quase sempre, delicadas e mais susceptíveis à contaminações.

Controle de Pragas, ANVISA e Legislação

O controle de pragas neste ambiente deve atender a diversas normas da Anvisa


(Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e Ministério da Saúde, como ISO 22000, BPF
e HACCP. Para tanto, o sistema mais indicado é o MEP (Manejo Ecológico de Pragas).

Essa é uma abordagem mais segura e bem menos impactante, pois a cada
ocorrência busca-se a compreensão das relações ecológicas entre as características
biológicas da praga e os fatores ambientais oferecidos no local do evento. Ou seja, a
identificação da praga e seus hábitos, a análise detalhada do ambiente infestado e dos
fatores que permitiram que ela se instalasse e a adequação do local, por meio de ações

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mecânicas e conscientização dos envolvidos, fará com que haja uma redução, em
média, de 85% no volume de inseticidas aplicados e mais de 95% no volume de
raticidas quando comparados com a abordagem tradicional de aplicações periódicas.

Quando necessário o uso de inseticidas, a escolha e a aplicação devem ser


criteriosas. Geralmente, a técnica utilizada é a “iscagem”. Esses fatores caracterizam o
Controle Integrado como uma técnica com um ótimo custo-benefício.

Outra importante ferramenta para assegurar a salubridade do ambiente é a


análise microbiológica do Ar. Essa é uma avaliação de qualidade, realizada por meio
dos níveis de contaminação e poluição em ambientes climatizados e com intensa
circulação de pessoas.

As pragas, geralmente, são encontradas em ambientes hospitalares devido à


facilidade de acesso, por meio de vedação incorreta de telas e janelas, rachaduras,
ralos sem proteção, recebimento e armazenamento inadequados de alimentos,
infiltrações, falta de manutenção em encanamentos e tubulações, descarte e manejo
de resíduos inadequados, além da falta de limpeza. Tudo isso, fornece água, abrigo e
alimentos às pragas: tudo o que elas precisam para sobreviver e reproduzir.

Cada ala dos hospitais apresenta particularidades e realidades diferentes.


Portanto, para traçar um programa de controle eficiente, é preciso que passem por
uma análise minuciosa, sem desconsiderar o entorno do estabelecimento. Assim como
a periodicidade – que deve estar diretamente ligada ao porte do estabelecimento, o
controle deve ser feito por empresas qualificadas para o atendimento.

Além dos problemas de saúde, as pragas podem ser responsáveis por outro
tipo de prejuízo: danos em equipamentos e na rede elétrica. Roedores, por exemplo,
podem roer cabos elétricos e causar curto-circuitos.

RDC nº 18, de 29 de fevereiro de 2000

O controle de pragas efetivamente só pode ser realizado por empresas


especializadas que atendem a todas as diretrizes da RDC nº 18, de 29 de fevereiro de
2000. As exigências legais dizem respeito às instalações das empresas, ao transporte
dos produtos, à destinação das embalagens e às rotinas de trabalho, além da
obrigatoriedade de um responsável técnico. Assim, essas empresas só podem atuar se
devidamente licenciadas junto à autoridade sanitária ou ambiental competente
estadual ou municipal.

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Em 2008, a resolução foi atualizada: No item 4.2 da Consulta Pública nº 76, de
23 de dezembro de 2008, diz: a prestação de serviço de controle de vetores e pragas
urbanas somente pode ser exercida por empresa especializada, sendo obrigatória a
contratação e/ou licitação específica e independente de outros serviços de quaisquer
naturezas.

Assim, conclui-se que toda instituição de saúde deve manter contrato de


serviço de controle de pragas com empresa especializada.

Ainda em relação às normas, outro aspecto importante diz respeito aos


produtos utilizados. Qualquer inseticida ou raticida deve obrigatoriamente ter registro
na Anvisa e este registro tem um período de validade. No site do órgão
(portal.anvisa.gov.br) é possível consultar o número de registro de todos os produtos
legalizados.

Fonte: https://www.biomax-mep.com.br/controle-integrado-de-pragas-eficaz-em-hospitais/

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