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1. EPIDEMIA E ENDEMIA
1960). De um lado, novas infecções ocorrem, lesões aparecem , tornam-se infecciosas e, mais
tarde, impossibilitam o aparecimento de novas lesões. Do outro lado, tecido infeccioso é
removido quando as lesões envelhecem e não mais formam esporos. Quando a infecção for mais
intensa que a remoção, a intensidade da doença crescerá rapidamente. Quando a remoção for
mais intensa que a infecção, a intensidade da doença deixará de aumenta e poderá mesmo
diminuir caso o hospedeiro, por exemplo, lance novas folhas. O ponto importante é que,
independentemente da doença estar aumentando ou diminuindo, os dois processos opostos –
infecção e remoção – ocorrem concomitantemente. A epidemiologia engloba estes dois
processos sendo apenas um detalhe o fato da quantidade de doença aumentar, diminuir ou
permanecer inalterada em função do tempo.
O termo epidemia e endemia estão relacionados com o balanço dos processos antagônicos
infecção e remoção. O primeiro deles, epidemia, refere-se a um aumento da doença numa
população de plantas em intensidade e/ou extensão, isto é, um aumento na intensidade-
severidade e/ou uma aumento na área geográfica ocupada pela doença. Os termos epidemia
explosiva e epidemia tardívaga, segundo Gaumann (1950) são usados para o aumento em
intensidade seja rápido ou lento, respectivamente. Este mesmo autor deu o nome de epidemia
progressiva àquelas epidemias que se caracterizam por um aumento em extensão e pandemia
àquelas epidemias progressivas que ocupam áreas extremamente grandes, de tamanho quase
continental. Apesar da definição de epidemia considerar apenas o aumento em intensidade da
doença, a epidemia – ciências das epidemias – estuda não somente doenças que aumentam como
doenças que diminuem, seja de intensidade, seja em extensão. Já endemia, além de ter uma
conotação geográfica, sendo sinônimo de doença sempre presente numa determinada área e
caracterizar-se por não estar em expansão, também implica em apresentar um balanço próximo
de neutro entre os processos de infecção e remoção, quando se considera um período de tempo
relativamente longo. Este balanço neutro significa coexistência entre hospedeiro e patógeno,
refletindo a constante presença de ambos em uma área, fato que se constitui na essência da
definição de doença endêmica (Vanderplank, 1975).
Apesar destas diferenças, epidemia não é o oposto de endemia, como considerado por
muitos. Não existe uma doença completamente endêmica de um lado e uma doença
completamente epidêmica do outro. Endemia e epidemia se misturam, exibindo uma variação
contínua entre os extremos (Vanderplank, 1975). Assim, uma doença endêmica, ou seja,
constantemente presente numa região e em equilíbrio com o seu hospedeiro pode, por fatores
diversos, como uma modificação momentânea do microclima, tornar-se epidêmica, vindo a
afetar muitos indivíduos, com grande intensidade, numa determinada área e num determinado
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tempo. Este fenômeno é referido como sendo um surto epidêmico de uma doença normalmente
endêmica e, caso ocorra periodicidade, é chamado de epidemia cíclica.
O termo mais recente, epidemia poliética (Zadoks, 1974), refere-se àquelas epidemias que
necessitam de anos para mostrar significativo aumento na intensidade de doença. Numerosos
exemplos ocorrem com doenças de hospedeiros perenes ou patógenos veiculados pelo solo.
O termo epidemia explosiva, tardívaga, cíclica, e poliética, além de endemia, estão
exemplificados na figura 2.
Ceratocystis fagacearum em carvalho pode ser comparada com a de C. ulmi em olmo (uma
árvore) (Figura 5), mas não deve ser comparada com doenças que incidem em hospedeiros
anuais (Figura 3) ou semi-perenes (cana-de-açucar e a doença de Fiji, Figura 5).
Endemia também apresenta duas faces: a face geográfica, significando doença indígena e
sempre presente numa determinada área, e a face de equilíbrio entre os processos de infecção e
remoção, significando que variações muito amplas na intensidade da doença não devem ocorrer.
Microcyclus ulei – seringueira, na região amazônica, durante a fase extrativista da cultura, é um
bom exemplo de endemia natural. O olho pardo do cafeeiro, causado por Cercospora coffeicola,
exemplifica doença endêmica em condições de plantio racional. Já Hemileia vastatrix, no mesmo
hospedeiro, apesar de sempre presente nas regiões produtoras, não exibe equilíbrio entre as fases
de infecção e remoção durante o ciclo anual da cultura. Ao contrário, periodicamente quando
condições favoráveis do ambiente predominam, o fungo multiplica-se rapidamente causando,
não raro, prejuízos de monta. A ocorrência sazonal de condições favoráveis ao desenvolvimento
do patógeno faz da ferrugem do cafeeiro um exemplo de epidemia cíclica (Figura 4).
Epidemias poliéticas caracterizam-se por apresentar a cada ano, ou a cada ciclo de cultivo,
um inóculo inicial mais elevado, envolvendo, predominantemente, hospedeiros perenes ou semi-
perenes (Figura 5) e/ou patógenos veiculados pelo solo.
Phytophthora infestans
Puccinia striiformis
Uromyces appendiculatus