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FISIOLOGIA DO PARASITISMO
FITOPATÓGENOS: ARSENAL ENZIMÁTICO
INTRODUÇÃO
resulta principalmente da toxina secretada pelo fungo; finalmente, nas galhas da coroa,
causadas em vários hospedeiros por Agrobacterium tumefaciens, os hormônios desempenham
papel relevante.
Dentre os fitopatógenos conhecidos, com exceção dos vírus e viróides,
aparentemente todos produzem enzimas, hormônios e, possivelmente, toxinas.
No caso dos vírus e viróides, esses agentes podem induzir as células do hospedeiro a
produzir diferentes substâncias, dentre as quais as enzimas utilizadas na replicação desses
organismos. A presença dessas substâncias químicas, mesmo que em quantidade elevada nem
sempre, no entanto, reflete a capacidade do patógeno em causar doença.
De uma maneira geral, as enzimas produzidas por fitopatógenos promovem a
desintegração dos componentes estruturais das células do hospedeiro, degradam
substâncias presentes nas células ou afetam diretamente o protoplasto.
1. ENZIMAS
Enzimas são proteínas de alto peso molecular, constituídas de longas cadeias de
aminoácidos, responsáveis pela catálise das reações metabólicas. Existe uma enzima específica
catalisando cada substrato envolvido. Normalmente, as enzimas são denominadas em
função do substrato ou reação que catalisam, através da adição do sufixo -ase. Por
exemplo, cutinases são enzimas que promovem a degradação da cutina e pectinases são
enzimas que degradam as substâncias pécticas. A ligação da enzima (E) ao seu substrato (S)
resulta na formação de um complexo enzima-substrato (ES). Em função dessa ligação, o
substrato é ativado e a reação química pode ocorrer; levando à formação do complexo enzima-
produto (EP), com a conseqüente liberação do produto (P) e a restauração da enzima ao seu
estado original. Reações químicas conduzidas a 25°C e catalisadas por enzimas podem ocorrer
l05-106 vezes mais rapidamente do que as mesmas reações não calisadas. Dependendo da
enzima, o número de moléculas de substrato catalisadas por uma única molécula da enzima por
segundo ("turnover") pode variar de 100 a mais de três milhões.
A produção de cutinases por microrganismos cultivados in vitro, tendo cutina como fonte
de carbono, não se constitui em prova da importância dessa enzima na infecção das plantas.
Dessa maneira, o papel da cutinase como fator na patogenicidade tem sido avaliado
principalmente através de estudos imunocitológicos e de transformação genética, bem como
através do uso de mutantes deficientes para cutinase e inibidores dessa esterase. Esses estudos
têm sido conduzidos, basicamente, em três interações hospedeiro-patógeno: Fusarium solani-
ervilha, Colletotrichum gloeosporioides-mamão e Alternaria alternata-pêra. No caso de F.
solani, por exemplo, estudos estruturais com hastes de ervilha, conduzidos com o auxílio da
microscopia eletrônica de varredura, mostraram que o fungo excretava, quando em contato
com o hospedeiro, o mesmo tipo de enzima identificada a partir de culturas mantidas in vitro.
Mutantes de C. gloeosporioides deficientes em cutinase mostraram-se altamente
patogênicos sobre a superfície injuriada de frutos de mamão. A doença, porém, não ocorre
quando os isolados são inoculados sobre a superfície intacta do fruto. A patogenicidade dos
mutantes no entanto, podia ser restaurada através do fornecimento de cutinase exógena.
Na natureza, C. gloeosporioides penetra a cutícula de frutos imaturos de mamão e
permanece subcuticularmente em estado latente no tecido, até após a maturação dos frutos.
Entretanto, em alguns casos, como na interação pepino-Colletotrichum lagenarium, as
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cutinases aparentam ser menos importantes do que a força mecânica para a penetração nos
hospedeiros.
No tocante aos estudos envolvendo a transformação genética de fungos, a transferência
do gene da cutinase de F. solani para Mycosphaerella sp., um patógeno que necessita de
ferimentos para penetrar no hospedeiro, produziu transformantes capazes de excretar a mesma
cutinase produzida por F. solani e infectar frutos de mamão intactos.
Através do emprego de técnicas de biologia molecular, foi possível verificar que esporos
fúngicos em fase inicial de germinação, quando na superfície do hospedeiro, excretam uma
pequena quantidade de cutinase pré-formada. Essa cutinase teria como função a liberação de
monômeros, a partir da cutícula da planta, os quais ativariam a transcrição do gene da cutinase,
com a conseqüente produção massal da enzima requerida para a penetração da cutícula. Após a
penetração, a quantidade de monômeros diminuiria levando, consequentemente, à paralisação
da transcrição gênica.
Finalmente, em função de sua importância para certos patógenos na penetração do
hospedeiro, a cutinase constitui-se em alvo potencial para o controle de doenças vegetais.
A desativação da enzima (inibição de sua ação e/ou síntese-excreção), em nível de
superfície do hospedeiro, evitaria a penetração e, consequentemente, protegeria as
plantas contra algumas doenças fúngicas. Essas idéias são suportadas pelos trabalhos
conduzidos com inibidores da cutinase (anticorpos e/ou organofosforados), principalmente nas
interações ervilha-F solani e mamão-C. gloeosporioides, onde a infecção foi evitada e as
plantas protegidas contra os respectivos patógenos. Em vista do exposto, um novo caminho
se abre para o controle de doenças fúngicas através do possível uso de compostos atuando
como antipenetrantes, os atuais fungicidas Organofosforados.
Enquanto a cutícula recobre a parte aérea das plantas, a superfície dos órgãos
subterrâneos é, geralmente, recoberta por uma camada protetora, que tem a suberina, um
polímero insolúvel associado com ceras solúveis, como componente principal. Essa camada
também se forma nos tecidos em resposta à injúria mecânica ou quando os mesmos ficam
expostos devidos, por exemplo, à abscisão de folhas e frutos. A suberização dos tecidos evita
a difusão de água e nutrientes e, provavelmente, evita a penetração de patógenos em
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compreende a região entre as paredes de células vizinhas; parede primária, localizada entre a
membrana plasmática e a lamela média, formada, somente em células em ativo processo de
crescimento, após a divisão celular ser completada; parede secundária, localizada
internamente à parede primária, formada após o término da expansão celular.
A celulose mostra-se como uma substância cristalina e insolúvel em sua forma nativa. A
degradação desse polímero, com a produção final do monossacarídeo glicose, resulta da ação
de diferentes celulases.
Derivados do ácido cinâmico são constituintes comuns das paredes celulares, sendo que
o mais comum é a lignina, principalmente em plantas lenhosas.
A deposição de lignina ocorre após a maturação da parede celular, em substituição às
moléculas de água, podendo ligar-se covalentemente aos outros constituintes poliméricos,
dando rigidez à parede. A degradação enzimática da lignina, embora não completamente
esclarecida, e catalisada por ligninases.
As paredes celulares podem também apresentar proteínas, cujo conteúdo (em geral <10%)
varia com o tipo de célula e condições ambientais. Dentre as proteínas encontradas nas
paredes, têm-se as glicoproteínas ricas em hidroxiprolina (GRHP), também denominadas
extensinas. Essas proteínas têm uma aparente função estrutural. A degradação enzimática
dessas extensinas por proteases, no entanto, parece pouco viável devido ao baixo número de
ligações suscetível à ação enzimática da protease.
Com exceção dos vírus e viróides, fitopatógenos podem produzir um grande número de
enzimas (pectinases, celulases, hemicelulases, ele.) capazes de degradar os polímeros
estruturais das paredes celulares. Embora ainda não tenham sido demonstradas para qualquer
combinação hospedeiro-patógeno, as EDP estão provavelmente envolvidas na maioria das
doenças de plantas. A contribuição dessas enzimas na patogenese pode envolver a
extensiva destruição dos tecidos vegetais por patógenos necrotróficos (por exemplo,
enzimas pectolíticas), bem como alterações específicas localizadas nas paredes celulares por
patógenos biotróficos (por exemplo, glicanases e glicosidases). Essas enzimas (EDP) têm sido
estudadas em Botrytis fabae, Colletotrichum lindemuthianum, Erwinia carotovora, E.
chrysanthemi, Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici, Pseudononas solanacearum, Puccinia
graminis f. sp. tritici, Rhizoctonia solani e Verticillium albo-atrum. Embora estejam ligadas à
degradação dos componentes da parede, a comprovação do envolvimento das EDP na
patogênese deve preencher alguns critérios, como: capacidade do patógeno em produzir as
EDP in vitro; detecção das EDP em tecido infectado; correlação da produção das EDP com
patogenicidade; alterações nas paredes de tecidos infectados observáveis com o uso de técnicas
de microscopia; reprodução das alterações na parede ou sintomas da doença com o uso de EDP
purificadas.
Dentre as EDP as enzimas pectolíticas são as mais estudadas no tocante ao papel na
patogênese. Uma das razões para esse interesse deve-se ao tratamento de tecidos vegetais
com pectinases purificadas, o que ocasiona a separação das células e morte das mesmas.
Esse processo ocorre durante o desenvolvimento de muitas doenças, principalmente nas
podridões moles onde os tecidos perdem a rigidez. A separação das células, chamada
maceração, é devida à destruição da integridade estrutural da lamela média,
principalmente por pectinases (endopoligalacturonases e endopectatoliases). A morte celular
ocorre, aparentemente, devido ao enfraquecimento da parede celular primária, em virtude do
rompimento das ligações entre os resíduos de ácido galacturônico, o que ocasiona o
rompimento ou alteração da permeabilidade seletiva da membrana plasmática sob condições
de estresse osmótico. As pectinases podem também ser mais prejudiciais às células do que
o enfraquecimento das paredes celulares.
Estudos sobre o papel das celulases e hemicelulases bacterianas e fúngicas na
patogênese são escassos e não mostram um claro relacionamento entre degradação dos
polímeros celulose/hemicelulose e patogênese, como no caso da degradação dos polímeros
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pécticos. As evidências sugerem que a degradação da parede celular, pelo menos nos
estágios iniciais, envolve a degradação da pectina e hemiceluloses, com a conseqüente
exposição das microfibrilas de celulose à ação das celulases. A importância da degradação
das hemiceluloses na patogênese, porém, permanece obscura.
A degradação enzimática da lignina é característica de fungos saprófitas, na maior
parte basidiomicetos, envolvidos na decomposição de madeira. Embora vários
fitopatógenos, principalmente ascomicetos/deuteromicetos e algumas bactérias, produzam
pequenas quantidades de ligninases, a habilidade desses microrganismos em degradar a lignina
tem sido pouco investigada.
Diferentes tipos de lipídios (compostos formados por ácidos graxos) são encontrados nas
células vegetais: óleos e gorduras, principalmente nas sementes, ceras, na cutícula,
fosfolipídios e glicolipídios, nas membranas. Várias bactérias e fungos podem degradar esses
compostos através da ação de enzimas lipolíticas (lipases , fosfolipases , etc.), liberando
ácidos graxos que podem ser utilizados diretamente por esses fitopatógenos.