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Governador

Cid Ferreira Gomes

Vice Governador
Domingos Gomes de Aguiar Filho

Secretária da Educação
Maria Izolda Cela de Arruda Coelho

Secretário Adjunto
Maurício Holanda Maia

Secretário Executivo
Antônio Idilvan de Lima Alencar

Assessora Institucional do Gabinete da Seduc


Cristiane Carvalho Holanda

Coordenadora da Educação Profissional – SEDUC


Andréa Araújo Rocha
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SUMÁRIO

I. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3

II. O ABACAXI NO BRASIL E NO MUNDO ............................................... 4

III. CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS

3.1. CLIMA ........................................................................................................ 5

3.2. SOLO ........................................................................................................... 6

IV. A PLANTA E SEU CICLO

4.1. A PLANTA .................................................................................................. 7

4.2. CICLO DA PLANTA ................................................................................. 9

V. VARIEDADES

5.1. PÉROLA ...................................................................................................... 11

5.2. SMOOTH CAYENNE ............................................................................... 11

5.3. OUTRAS CULTIVARES ........................................................................... 12

VI. MANEJO E PRODUÇÃO DE MUDAS

6.1. TIPOS DE MUDAS E SUAS CARACTERÍSTICAS ................................ 14

6.2. OBTENÇÃO E MANEJO DE MUDAS CONVENCIONAIS ................... 17

VII. PREPARO DO SOLO E CORREÇÃO DE ACIDEZ

7.1. PREPARO .................................................................................................. 19

7.2. CALAGEM ................................................................................................. 22

VIII. PLANTIO

8.1. SISTEMAS DE PLANTIO E ESPAÇAMENTOS .................................... 24

8.2. CÁLCULO DA QUANTIDADE DE MUDAS .......................................... 24

8.3. REALIZAÇÃO DA CURA ......................................................................... 26

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IX. IRRIGAÇÃO

9.1. NECESSIDADES HÍDRICAS DO ABACAXIZEIRO .............................. 27

9.2. MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO .................................................................... 28

X. MANEJO DA FLORAÇÃO

10.1. A FLORAÇÃO NATURAL E O SEU CONTROLE ................................. 29

10.2. TRATAMENTO DE INDUÇÃO FLORAL (TIF) ..................................... 30

XI. PRÁTICAS CULTURAIS PÓS-FLORAÇÃO

11.1. DESBASTE DE MUDAS ........................................................................... 32

11.2. PROTEÇÃO DO FRUTO CONTRA A QUEIMA-SOLAR ..................... 33

XII. COLHEITA ................................................................................................ 33

XIII. MANEJO DA SOCA (SEGUNDO CICLO) ............................................... 33

XIV. DOENÇAS E SEU CONTROLE ................................................................ 34

XV. SELEÇÃO, CLASSIFICAÇÃO, ACONDICIONAMENTO,

TRANSPORTE ....................................................................................................... 36

XVI. COMERCIALIZAÇÃO DO ABACAXI ..................................................... 39

XVII. BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 41

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I. INTRODUÇÃO

Originário do Brasil, o abacaxizeiro (Ananas comosus L. Merril) é uma planta de


clima tropical, cujo cultivo é feito em mais de 60 países. É monocotiledônea, herbácea e
perene da família Bromeliácea, com caule (talo) curto e grosso, ao redor do qual
crescem folhas estreitas, compridas e resistentes, quase sempre margeadas por espinhos
e dispostas em rosetas.
A planta adulta, das variedades comerciais, tem de 1,0 a 1,20m de altura e 1,0 a
1,5m de diâmetro. No caule insere-se o pedúnculo que sustenta a inflorescência e depois
o fruto. Cada planta produz um único fruto saboroso e de aroma intenso.
O fruto é utilizado tanto para o consumo in natura quanto na industrialização, em
diferentes formas: pedaços em calda, suco, pedaços cristalizados, geléias, licor, vinho,
vinagre e aguardente. Como subproduto desse processo industrial pode-se obter ainda:
álcool, ácidos cítrico, málico e ascórbico; rações para animais e a bromelina. A
bromelina é uma substância de alto valor medicinal, trata-se de uma enzima muito
utilizada como digestivo e antiinflamatório. Na culinária, o suco de abacaxi é utilizado
para o amaciamento de carnes. Além disso, os frutos do abacaxi são ótimas fontes de
cálcio, vitaminas A, B e C.
No âmbito social a cultura do abacaxi, destaca-se, também por oferecer um
número significativo de empregos no meio rural, estimando-se a ocupação de mais de
um homem para cada hectare cultivado, além da mão de obra usada nas etapas de pós-
colheita, distribuição, comercialização e industrialização de produtos de abacaxi,
destinados tanto para o mercado interno como para a exportação.
Nesse sentido, Crestani (2010) destaca que o grande sucesso do abacaxizeiro
como planta cultivada é decorrente da ampla adaptabilidade da espécie nas áreas
tropicais e subtropicais, elevada rusticidade, além da fácil e eficiente propagação
assexual e, principalmente, da grande aceitação e do apreço dos consumidores,
consagrando sua majestade entre as diversas frutas tropicais e justificando sua dispersão
por todo o mundo.

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II. O ABACAXI NO BRASIL E NO MUNDO

Segundo Reinhardt (2004) o abacaxi é uma das frutas tropicais mais saborosas e
apreciadas pelo consumidor nacional e internacional. Sendo, também, uma das frutas
tropicais mais cultivadas, tendo atingindo em 2004, uma produção mundial próxima a
15 milhões de toneladas, esta produção colocou o abacaxi em nono lugar entre todas as
frutas e em quarto entre as frutas tropicais atrás apenas da banana, do coco e da manga.
Segundo dados da FAO, em 2009, o cultivo de abacaxi concentrou-se em sete
países produtores que responderam por mais de 50% da produção mundial. Dentre estes
países o Brasil destaca-se como principal produtor mundial, na seqüência tem-se:
Filipinas, Tailândia, Costa Rica, Indonésia, China, Brasil e Índia.
Para Crestani (2010) foi observado nas últimas cinco décadas, no Brasil, o
crescimento constante da área cultivada e da produção total de abacaxi, refletindo o
crescente apelo e a expansão do mercado consumidor, sendo cultivados, no ano de
2008, em torno de 62.142ha dessa cultura, caracterizando a sexta lavoura entre as frutas
cultivadas no país.
Os dados do IBGE (2009) identificaram que a região Nordeste foi responsável
por 40,76% de toda a produção nacional de abacaxi e o volume produzido neste mesmo
ano foi de 1.470.995, correspondendo a uma área colhida de 60.176 hectares (Tabela 1).

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Dados recentes do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, publicado


em janeiro de 2011, revelam que foram plantados 55.533 hectares em todo Brasil,
obtendo uma produção de 1.448.875 frutos, com rendimento de 26,09 frutos/ha.

III. CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS

Ao se pensar no preparo da área para cultivo do abacaxi é necessário que a


escolha dessa área tenha início, pelo menos, 3 meses antes do plantio. É importante
conhecer as exigências da planta e, também, como serão realizados os tratos culturais
(capina, irrigação, adubação e colheita) para planejar o espaçamento e os carreadores.

3.1. CLIMA

O abacaxizeiro é uma planta de clima tropical, que apresenta ótimo


desenvolvimento de folhas e raízes e segundo Neves (2007) apresenta pico de
desenvolvimento a uma temperatura média de 28ºC, já temperatura de 18ºC causa
redução no crescimento e as inferiores a 12ºC, a sua paralisação. As geadas provocam
perda total em lavouras com frutos. É uma planta exigente em água, para a obtenção de
altas produções, embora tolere até dois meses de deficiência hídrica.
A planta é exigente em luminosidade, desenvolvendo-se melhor em regiões com
alta incidência de radiação solar, cuja faixa anual ótima está entre 2.500 a 3.000 horas,
ou seja, sete a oito horas de sol por dia (tempo de incidência direta da luz solar, isto é,
sem nuvens). A planta não tolera sombreamento, o que deve ser levado em conta na
escolha dos locais para o seu cultivo e no plantio consorciado com outras culturas.
Segundo Cunha (2003) o abacaxizeiro tem muitas características de plantas
adaptadas a clima seco (arquitetura: tipo de inserção e forma e constituição das folhas –
baixa densidade estomática, tricomas, tecido aquífero, raízes axilares), o que lhe
proporciona um uso eficiente de água e uma baixa taxa de transpiração. No entanto,
maiores rendimentos e frutos de melhor qualidade são obtidos quando a cultura recebe
água em quantidade suficiente para o crescimento das plantas e produção. Chuvas de
1.200 a 1.500 mm anuais, bem distribuídas ao longo dos meses, são consideradas
adequadas para a cultura. Em regiões que apresentam períodos secos prolongados, a
prática da irrigação torna-se, em geral, indispensável.

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Uma umidade relativa do ar média anual igual ou superior a 70% é a desejável,


mas a planta suporta bem variações moderadas deste fator climático. Porém, períodos de
umidade do ar muito baixa (menos de 50%) podem atrasar o crescimento inicial da
planta e provocar fendilhamento e rachadura em frutos durante a fase de maturação.
O porte baixo das plantas e o plantio em densidades elevadas, torna a cultura
pouco suscetível a danos devidos a ventos fortes, mas que, mesmo assim, podem
provocar tombamento de plantas e frutos e ferimentos nas folhas, principalmente
quando constantes. Já o granizo, quando intenso, pode causar danos à planta, mas, em
menor escala do que em outras culturas, dada à condição fibrosa e resistência das folhas
do abacaxizeiro e, principalmente, do fruto, que é ainda menos afetado.

3.2. SOLO

O abacaxizeiro é muito sensível ao encharcamento do solo, que pode prejudicar


o seu crescimento e produção. Portanto, boas condições de aeração e drenagem são
requisitos básicos para o seu cultivo, inclusive por favorecerem o desenvolvimento do
sistema radicular da planta (normalmente frágil e concentrado nos primeiros 15 a 20 cm
do solo). A má drenagem do solo favorece o apodrecimento de raízes e morte de
plantas, causada por fungos do gênero Phytophthora. Solos pesados também não são
indicados, porque neles as raízes se desenvolvem mal, especialmente na estação seca do
ano.
Segundo dados do Manual das Culturas – CATI, o abacaxizeiro prefere os solos
leves, de textura argilo-arenosa, razoavelmente profundos, com boa drenagem, de
topografia plana ou ondulada e com pH entre 4,5 e 5,5.
Áreas com incidência de nematóides devem ser evitadas, pela grande
suscetibilidade da planta a esses inimigos.
Nesse sentido, Neves (2007) apresenta alguns fatores limitantes ao cultivo
• Solos argilosos que apresentam trincas quando secos;
• Solos mal drenados que encharcaram por período superior a 1 ou 2 dias podem
causar a morte das raízes ou a ocorrência de doenças;
• Regiões sujeitas a geadas;
• Deficiência hídrica superior a 3 meses.

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Quanto aos aspectos nutricionais, trata-se de uma planta exigente, demandando,


normalmente, quantidades de nutrientes que a maioria dos solos cultivados não
consegue atender integralmente (exceção para alguns solos virgens, recém-desmatados
ou em pousio prolongado). Esta alta exigência resulta, em geral, na obrigatoriedade da
prática da adubação, nos plantios com fins comerciais.

IV. A PLANTA E SEU CICLO

4.1. A PLANTA

O abacaxizeiro (Ananas comosus L., Merrill) é uma planta monocotiledônea, da


família Bromeliácea, que possui, aproximadamente, 50 gêneros e 2.000 espécies. Algumas
dessas espécies têm valor ornamental, outras produzem fibras para fabricação de material
rústico (sacos, cordões), tecidos finos etc. A maioria dessas espécies é encontrada em
condições naturais de regiões tropicais das Américas, sendo que apenas algumas são
observadas em áreas de clima temperado.
O abacaxizeiro é formado de um caule ou talo, curto e grosso, em torno do qual
crescem folhas em forma de calha, estreitas e rígidas, em cujas bases podem ser encontradas
raízes axilares. O sistema radicular é fasciculado (em forma de “cabeleira”), superficial e
fibroso, encontrado, em geral, em profundidades de 0 a 30 cm e raramente a mais de 60 cm
da superfície do solo. A planta adulta das variedades comerciais mede 1,00 a 1,20m de altura
e 1,00 a 1,50 m de diâmetro.
As folhas são classificadas, segundo seu formato e posição na planta, em A, B (grupo
inferior – velhas e externas, já existentes na muda antes do plantio), C, D, E, F (grupo
superior – novas e internas, produzidas após o plantio (Figura 1). A folha D é a mais jovem
dentre as adultas e a fisiologicamente mais ativa de todas, sendo usada para se avaliar o
crescimento e o estado nutricional da planta e, por isso, o seu conhecimento é muito
importante para o manejo da cultura. Em geral, a folha D é a mais alta da planta, formando
um ângulo de 45 graus entre o nível do solo e um eixo imaginário que passa pelo centro da
roseta foliar, e apresenta os bordos da parte inferior perpendiculares à base, sendo assim fácil
de ser arrancada da planta.

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Figura 1: Distribuição das folhas do abacaxizeiro, de acordo com a idade (A – mais


velha; F – mais nova)
Fonte: Adaptado de Reinhardt (2004)

O pedúnculo desenvolve-se a partir do caule, e é a parte da planta que sustenta a


inflorescência e, posteriormente, o fruto. No pedúnculo encontram-se gemas axilares
latentes de folhas modificadas que dão origem a rebentos laterais, usados como material
propagativo.
Na maturidade, do centro da roseta foliar emerge a inflorescência, formada por
dezenas de flores individuais, inseridas em torno de um eixo, cada uma dando origem
ao fruto verdadeiro do abacaxi, que é do tipo baga. Desse modo, o que o abacaxizeiro
produz é uma infrutescência ou fruto composto ou múltiplo, denominado de sorose.
Os rebentos laterais ou mudas, que constituem o material para novos plantios,
desenvolvem-se a partir de gemas axilares localizadas no caule (chamados de rebentões)
e no pedúnculo (que são os filhotes). A coroa que surge no topo do fruto é uma planta
em miniatura, podendo ser considerada uma extensão do caule, e que também é usada
como material de plantio.
No caule insere-se também o pedúnculo que sustenta a inflorescência e
posteriormente o fruto. Este é um fruto composto ou múltiplo que resulta do
desenvolvimento da inflorescência, que consta de 100 a 200 flores individuais
arrumadas em espiral em volta de um eixo.
Rebentos ou mudas desenvolvem-se a partir de gemas axilares localizadas no
caule (rebentões) e no pedúnculo (filhotes).

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A B

Figura 2: Morfologia externa (A) e interna (B) do abacaxi


Fonte: Adaptado de Reinhardt (2004)

4.2. CICLO DA PLANTA

O ciclo total da cultura do abacaxi pode ser de 12 a 30 meses, em função do


manejo da cultura e do clima da região, e é dividido em três etapas. A primeira, a fase
vegetativa ou de crescimento vegetativo (que corresponde ao período de formação de
folhas e raízes), dura do plantio ao dia do tratamento de indução floral artificial (TIF) ou
da iniciação floral natural (Figura 3). Esta fase tem duração variável, mas, em geral,
corresponde de oito a 12 meses, ou um pouco mais, a depender da região. A segunda,
denominada de fase reprodutiva ou de formação do fruto, tem duração bastante estável
para cada região, sendo de cinco a seis meses. O primeiro ciclo completo da cultura
pode durar, portanto, de 14 a 18 meses, na região tropical brasileira. Existe, ainda, uma
terceira fase do ciclo, a de formação de mudas (filhotes e rebentões), que se sobrepõe,
parcialmente, à segunda fase. Pode ser chamada de fase propagativa e tem duração
variável de quatro a dez meses para mudas do tipo filhote, cuja formação se inicia no
período pré-floração, e de dois a seis meses para mudas do tipo rebentão. Estas últimas
dão origem ao segundo ciclo da planta, também conhecido como soca ou segunda safra.
A soca também passa por três fases, sendo a primeira seis a sete meses mais
curta do que a da primeira safra, o que determina um segundo ciclo com duração total
de apenas 12 a 13 meses. Caso sejam dadas condições adequadas para o
desenvolvimento dos rebentões da soca, poder-se-á obter uma terceira safra ou segunda
soca e, assim, sucessivamente. No entanto, no Brasil e em várias outras regiões do

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mundo, do ponto de vista comercial, explora-se, normalmente, apenas um a dois ciclos


da cultura do abacaxi.

Figura 3: Fases dos ciclos do abacaxizeiro (primeiro ciclo e soca)


Fonte: Adaptado de Reinhardt (2004)

V. VARIEDADES

Segundo Reinhardt (2004) todas as variedades de abacaxi de interesse frutícola


pertencem à espécie Ananas comosus var. comosus. Estima-se que mais de 50% da
produção mundial de abacaxi, são frutos da cultivar Smooth Cayenne (Caiena lisa),
originada a partir de material coletado em local próximo ao da cidade de Cayenne,
Guiana Francesa, e desenvolvida no Havaí. Esta variedade também é cultivada no
Brasil, sobretudo em Minas Gerais e São Paulo,. No entanto, no país predomina a
„Pérola‟, de origem nacional, ocupando mais de 75% da área cultivada.
Na escolha de uma cultivar de abacaxi para a implantação de plantios
comerciais, o agricultor deve considerar, entre outros fatores, a disponibilidade e
qualidade das mudas e o destino da produção. Para o mercado interno, consumo ao
natural e indústria de suco pode optar pela cultivar Pérola. Quando a produção se
destina ao mercado externo e indústria de compota, a „Smooth Cayenne‟ é mais
adequada, embora nos últimos anos frutos da variedade Pérola tem sido comercializada

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não apenas em países do MERCOSUL, mas também na Europa, em quantidades ainda


pequenas, com potencial de crescimento diante da demanda do mercado internacional
por frutas menos ácidas e mais suculentas.

5.1. PÉROLA

Esta é a cultivar mais plantada no Brasil,


onde também é conhecida como „Pernambuco‟
ou „Branco de Pernambuco‟. A planta possui
porte ereto, é vigorosa, tem folhas longas e
dotadas de espinhos nos bordos (Figura 4) e
pedúnculo longo (em torno de 30 cm).
Produzem muitos filhotes (5 a 15) presos ao
pedúnculo, muitos localizados próximo da base
do fruto, o qual apresenta forma cônica, casca
verdosa a pintada de amarelo (quando
fisiologicamente maduro), polpa branca, sucosa, Figura 4: Abacaxi Pérola

com sólidos solúveis totais de 14 a 16 ºBrix, e Fonte: Ceinfo (2002)

pouco ácida, agradável ao paladar brasileiro e


também, cada vez mais, ao do consumidor estrangeiro. O fruto pesa, em média,
de 1,2 kg a 1,5 kg, sendo muito bem aceito nos mercados de frutas frescas e na indústria
de sucos. Apresenta tolerância à murcha associada à cochonilha Dysmicoccus brevipes e
é suscetível à fusariose, doença causada pelo fungo Fusarium subglutinans.

5.2. SMOOTH CAYENNE

Conhecida popularmente como abacaxi havaiano ou “ananás”, é a cultivar mais


plantada no mundo, tanto em termos de área, quanto de faixa de latitude, tendo sido
considerada por muito tempo como a rainha das cultivares de abacaxi, porque possui
muitas características favoráveis. Trata-se de uma planta robusta (Figura 5), de porte
semi-ereto, cujas folhas não apresentam espinhos, a não serem alguns encontrados nas

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extremidades dos bordos da folha. O


fruto tem visual atraente, forma cilíndrica,
pesando, em média, de 1,5 kg a 2,0 kg, com
casca de cor parcialmente amarelo-alaranjada no
ponto de colheita, polpa amarela rica em
açúcares (13 a 17 ºBrix) e de acidez maior do
sob a forma de compotas, sobretudo de rodelas
em calda, e exportação como fruta fresca. A
planta produz poucas mudas do tipo filhote (0 a
4). Tem casca mais firme e polpa mais fibrosa
que a „Pérola‟, apresentando maior resistência Figura 5: Abacaxi Smooth Cayenne
ao transporte e melhor adaptação ao corte em Fonte: Ceinfo (2002)

fatias regulares no processamento industrial.


É bastante suscetível à murcha associada à cochonilha (Dysmicoccus brevipes) e
à fusariose (Fusarium subglutinans). Foi introduzida no Brasil, em São Paulo, na
década de trinta e, posteriormente, difundida para outros estados, como Paraíba, Minas
Gerais, Espírito Santo, Goiás e Bahia, onde a partir da década de sessenta, também
assumiu crescente importância econômica.
No entanto, hoje em dia, é muito reduzido o número de plantios desta variedade
no Norte e Nordeste do Brasil.

5.3. OUTRAS CULTIVARES

No mercado internacional do ano de 2004, a maior demanda e os melhores


preços são hoje pagos por frutos das variedades „Ouro‟ („Gold‟ ou „Golden‟) da
multinacional Del Monte e „Premium Select‟ da multinacional Dole. Ambos são
híbridos da „Smooth Cayenne‟, gerados no programa de melhoramento genético
conduzido pelo extinto Instituto de Pesquisas de Abacaxi do Havaí, mantido em
atividade durante décadas por estas e outras empresas. Os frutos destas variedades
apresentam aparência muito atrativa (formato cilíndrico, casca amarelo-ouro) e polpa
amarela, mais doce e menos ácida que a da ‟Smooth Cayenne‟. O plantio destas
cultivares é ainda dominado por poucas empresas, concentrando-se na Costa Rica,
Honduras, Filipinas e Equador.

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No Brasil, algumas outras cultivares de abacaxi são plantadas em escala


reduzida, atendendo predominantemente demandas de mercados locais e regionais. As
mais conhecidas são: Jupi, Boituva, Quinari, Rondon. A cultivar Jupi é muito similar à
„Pérola‟, da qual difere pelo formato mais cilíndrico ou arrendodado (menos cônico) do
fruto. Em plantios comerciais do Nordeste é comum esta variedade aparecer em
mistura, em lavouras de „Pérola‟, sendo mais conhecida nos Estados da Paraíba e
Pernambuco. Está sendo bem difundida no Tocantins, em Goiás e arredores de Brasília,
porque os agricultores e consumidores estão preferindo frutos de forma cilíndrica.
Quinari e Rondon são exemplos de variedades com cultivo e consumo restrito a
partes da região amazônica. „Boituva‟ era uma variedade bastante conhecida no Estado
de São Paulo, mas praticamente desapareceu devido a sua alta susceptibilidade à
fusariose.
Variedades novas, produtos dos esforços de instituições de pesquisa, são a
„Gomo-de-Mel‟, lançada pelo Instituto Agronômico de Campinas no final da década de
1990, e a „Imperial‟, lançada pela Embrapa Mandioca e Fruticultura em 2003. A
„Gomo-de-Mel‟ tem fruto com alto teor de açúcar (16 a 20 °Brix), mas a planta
apresenta espinhos bastante agressivos, e frutos pequenos e de aparência pouco atrativa,
o que tem dificultado a sua penetração no mercado.
A variedade „Imperial‟ é um híbrido resultante do cruzamento de „Perolera‟ com
„Smooth Cayenne‟, obtido em 1998, com resistência à fusariose e sem espinhos nas
folhas, que produz frutos de tamanho médio, com polpa amarela, bom teor de açúcares
(14 a 16 °Brix), acidez média e excelente sabor (Figura 7). A „Imperial‟ é recomendada
para plantio em regiões adequadas à abacaxicultura, principalmente onde a fusariose é
fator limitante para a produção. As recomendações técnicas utilizadas atualmente para
o cultivo do abacaxi podem ser aplicadas a essa nova variedade. Os frutos obtidos
podem ser destinados para o mercado de consumo in natura e para industrialização,
face às suas características sensoriais e físico-químicas.

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VI. MANEJO E PRODUÇÃO DE MUDAS

6.1. TIPOS DE MUDAS E SUAS CARACTERÍSTICAS

Os plantios de abacaxi são feitos com mudas de vários tipos, tais como a coroa
(brotação do ápice do fruto), os filhotes (brotações do pedúnculo, que é a haste que
sustenta o fruto), o filhote-rebentão (brotação da região de inserção do pedúnculo no
caule ou talo) e os rebentões (brotações do caule). Cada tipo possui as seguintes
características, vantajosas ou não, que devem ser consideradas quando da escolha e do
manejo do material de plantio (REINHARDT, 2004):

- Coroa:

Muda pouco disponível, pois acompanha o fruto na venda nos mercados de


frutas frescas; é menos vigorosa, de ciclo mais longo (do plantio à colheita), mais
facilmente afetada por podridões, sobretudo podridão negra (Chalara (Thielaviopsis)
paradoxa), mais uniforme em tamanho e peso, gerando também plantios com plantas de
porte e desenvolvimento mais uniformes.

- Filhote ou “muda de cacho” :

Muda de vigor e ciclo intermediários, menos uniforme que coroas, porém mais
uniforme que rebentões, de fácil colheita e grande disponibilidade, no caso da variedade
Pérola, a mais cultivada no Brasil.

- Rebentão:

Muda de maior vigor, ciclo mais curto, de colheita mais difícil, menor
uniformidade em tamanho e peso, de menor disponibilidade que os filhotes na variedade
Pérola, sendo o tipo de muda mais usado no caso da variedade Smooth Cayenne; é mais
suscetível à ocorrência de florações naturais precoces.

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- Filhote-rebentão:
Muda de produção limitada, apresenta características intermediárias entre filhote
e rebentão, podendo ser usada indistintamente com os dois últimos.

Figura 6: Tipos de mudas: filhote e rebentão são as mais utilizadas.


Fonte: EMBRAPA (2011)

- Muda de seccionamento do caule (“plântula”):

Muda produzida em viveiros, a partir de pedaços do talo (caule) das plantas


(técnica descrita no item seguinte); muda de melhor sanidade, sobretudo livre de
fusariose; com vigor e demais características (ciclo, grau de uniformidade) próximas
àquelas da coroa.
As mudas selecionadas devem ser plantadas no menor espaço de tempo
possível, para evitar a perda adicional de umidade e vigor. Não se deve eliminar as
folhas secas localizadas na base das mudas, pois essa pratica não ajuda o enraizamento e
pode favorecer a ocorrência da fusariose.
Deve-se ter muito cuidado quanto ao uso ou comercialização de mudas colhidas
da soca. Em geral, essas mudas são mais fracas e infestadas de pragas, o que pode
causar prejuízos futuros para o proprietário, compradores e até para a região.
(EMBRAPA, 2011)

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Após a colheita dos frutos, mudas sadias produzidas pelo seccionamento do


caule da planta ou do rebentão, cortados em discos (Figura 7) ou em pedaços, podem ser
usados. Esse método possibilita assegurar a sanidade das mudas e multiplicar o número
de mudas a partir de talos de plantas que já produziram. Nesses casos, procurar
orientação técnica (Embrapa Mandioca e Fruticultura, EBDA, CEPLAC, etc.).

Figura 7: Mudas sadias produzidas por seccionamento do caule: a) seções do caule em disco, b) viveiro e c) mudas de

seções do caule.
Fonte: EMBRAPA (2011)

- Muda produzida in vitro:

Muda obtida em laboratório por meio de técnicas de cultura de tecidos, de


excelente sanidade, muito mais cara, de uso mais restrito, importante para multiplicação
rápida de novas variedades geradas em programas de melhoramento genético (Figura 6).
Há, ainda, as mudas obtidas por métodos
que praticamente não têm tido aplicação no
Brasil, tais como o da destruição do meristema
apical (“olho”) de abacaxizeiros para estimular a
emissão precoce e mais numerosa de mudas do
tipo rebentão, e o do tratamento químico, que
visa transformar flores em mudas pela aplicação
de fitorreguladores do grupo das morfactinas,
Figura 8: Produção de mudas in vitro
realizada logo após o tratamento de indução
Fonte: Reinhardt (2004)
floral das plantas. Tais técnicas, desenvolvidas
em outros países (Havaí, Costa do Marfim,

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África do Sul, Austrália) para aumentar a disponibilidade de material de plantio


da cultivar Smooth Cayenne, não encontraram eco no Brasil devido às suas limitações
quanto à sanidade das mudas obtidas. As mesmas não oferecem a segurança desejada
com relação ao controle da fusariose, doença eminentemente “brasileira” e sem maior
relevância naqueles países.

6.2. OBTENÇÃO E MANEJO DE MUDAS CONVENCIONAIS

A muda de boa qualidade é a base para o sucesso do cultivo do abacaxi. Daí a


importância da utilização de mudas de boa procedência, isto é, que sejam sadias (livres
da fusariose e com baixa infestação de cochonilhas e ácaros) e vigorosas, colhidas em
plantios com boa sanidade, onde o número de plantas e frutos doentes tenha sido
mínimo. A seleção das mudas deve ser rigorosa, devendo-se descartar todas aquelas que
apresentarem o menor sinal de goma ou resina (Figura 7) e/ou danos mecânicos (quebra
do “olho”). Os tipos de mudas mais usados no Brasil são os filhotes ou mudas de cacho,
que aparecem logo abaixo da base do fruto, e os rebentões, que brotam do talo da
planta.

Figura 9: Cacho de filhotes mortos pela fusariose


Fonte: Reinhardt (2004)

Após a colheita dos frutos, as mudas do tipo filhote devem permanecer aderidas
à planta-mãe para continuarem o seu crescimento, a fim de que atinjam o tamanho
adequado (mínimo de 30 cm) para o plantio. Esta etapa é chamada de ceva, que pode ter
a duração de dois a seis meses.
Para melhorar o vigor e a sanidade das mudas durante a ceva, sobretudo em
plantios com plantas pouco vigorosas e com infestação alta de pragas, podem ser
recomendadas as seguintes práticas culturais: continuação da irrigação, em áreas

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irrigadas; pulverização com inseticida-acaricida para o controle das cochonilhas e


ácaros que infestam a cultura; adubação suplementar, via pulverização foliar, com uréia
a 3% e cloreto de potássio a 72%. Em plantas vigorosas, a adubação na fase de ceva tem
efeito mínimo sobre o crescimento das mudas, podendo ser dispensada.
Quando a maioria das mudas atingir o tamanho adequado para plantio, deve-se
fazer a sua colheita. No caso das mudas do tipo filhote, corta-se o pedúnculo com todo o
cacho, o que facilita o transporte e aumenta o rendimento do trabalho. Em seguida, os
filhotes são retirados do cacho, fazendo-se, nesta ocasião, uma seleção preliminar.
Eliminam-se todas as mudas doentes, com presença de goma, murchas e muito
pequenas. Algumas vezes aparece na base da muda um fruto em miniatura, que deve ser
arrancado nesta fase, para evitar que se constitua em foco de podridão da muda após o
plantio.
A colheita de mudas do tipo rebentão é mais difícil e mais exigente em mão-de-
obra, pois os rebentões estão firmemente ligados ao talo da planta-mãe, sendo
necessário um puxão lateral antes de arrancá-los.
A etapa seguinte, chamada de cura, consiste na exposição das mudas ao sol,
com a base virada para cima, durante três a dez dias. A cura visa cicatrizar a ferida que
ocorre quando a muda é destacada da planta, além de diminuir a população de
cochonilhas e ácaros. A cura também elimina o excesso de umidade das mudas,
reduzindo a ocorrência de podridões, sobretudo em períodos de clima úmido. Esta
prática é feita colocando-se as mudas sobre as próprias plantas-mães ou espalhando-as
sobre o solo em local próximo ao do plantio, de preferência com a sua base voltada para
cima.
As mudas curadas devem ser submetidas a uma seleção por tipo (separando-se
filhotes de rebentões) e por faixas de tamanho (30 a 40 cm; 40 a 50 cm, 50 a 60 cm),
para plantio em talhões separados. Durante a seleção deve ser efetuado um descarte
rigoroso de mudas defeituosas (com podridão, exsudação de resina ou lesões mecânicas)
ou com características diferentes do padrão da cultivar. Mudas contaminadas pela
fusariose devem ser queimadas ou enterradas, visando à redução de focos dessa doença.
Entretanto, mudas que possuem apenas folhas basais com seus bordos ou ápices secos
não devem ser eliminadas, desde que o cartucho central esteja em perfeito estado.
Caso se observe alta infestação com cochonilhas e ácaros, é recomendado o
tratamento das mudas por imersão, por três a cinco minutos, numa calda com

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inseticida-acaricida fosforado Tal tratamento normalmente não é eficaz para o controle


da fusariose, uma vez que mudas doentes não podem ser recuperadas por meio da
aplicação dos fungicidas disponíveis, que não tem efeito curativo.
No caso da cultivar Smooth Cayenne, que freqüentemente produz número
reduzido de mudas do tipo filhote, os rebentões têm que ser aproveitados como material
de plantio, tornando-se o seu manejo muito importante. Quando da colheita dos frutos,
em geral apenas um percentual relativamente pequeno (inferior a 40 %) das plantas
apresenta um ou, raras vezes, dois rebentões em formação. Após esta fase, os rebentões
continuam seu crescimento, atingindo tamanho adequado para plantio após período
bastante variável, com duração de dois a dez meses. Pode-se uniformizar e acelerar a
emissão e o desenvolvimento dos rebentões, procedendo-se um corte das plantas à
altura da base do pedúnculo (haste que sustenta o fruto e as mudas do tipo filhote), com
facão ou roçadeira. Tal prática feita após a colheita do fruto e das mudas do tipo filhote
facilita, ainda, a colheita dos rebentões.

VII. PREPARO DO SOLO E CORREÇÃO DE ACIDEZ

7.1. PREPARO

Um bom preparo do solo é fundamental para a cultura do abacaxi, visando


favorecer o desenvolvimento e aprofundamento do sistema radicular da planta,
normalmente limitado e superficial. Em áreas virgens, deve-se inicialmente remover a
vegetação, mediante o desmatamento, roçagem, destoca, encoivaramento e queima. Em
seguida, realizar a aração e gradagens nos dois sentidos do terreno, procurando atingir
uma profundidade de 30 cm, para facilitar o desenvolvimento das raízes. Em função de
dificuldades operacionais, alguns produtores, principalmente os pequenos, não fazem a
destoca, o que dificulta os trabalhos subseqüentes do preparo do solo, instalação e
condução da cultura. No entanto, vale ressaltar que, em diversos solos virgens é
preferível não efetuar arações e gradagens, mantendo a estrutura natural do solo e
procedendo ao plantio direto.
Em áreas já cultivadas, dispensa-se normalmente a destoca, mantendo-se as
demais operações. No caso de áreas anteriormente plantadas com abacaxi, deve-se
inicialmente proceder à eliminação dos restos culturais, mediante a sua incorporação ao

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solo após a decomposição parcial do material. Tal operação, normalmente trabalhosa,


tem a vantagem de incorporar ao solo um grande volume de massa vegetal (50 a 100
t/ha), restituindo os nutrientes remanescentes na vegetação e contribuindo para
melhorar o seu teor de matéria orgânica e as suas características físicas. Muitos
produtores fazem a opção pura e simples pela queima dos restos culturais, por ser
menos onerosa. Tal opção é tecnicamente apenas recomendável em áreas com histórico
de elevada incidência de pragas e doenças.

7.2. CALAGEM

Não obstante o reconhecimento do abacaxizeiro como planta acidófila, que


prefere solos ácidos, existem situações em que a calagem se faz necessária para a
cultura. É sempre recomendável, portanto, uma avaliação sobre a necessidade de
calcário (NC), definida a partir da análise do solo, que deve ser providenciada antes do
estabelecimento da cultura, de modo que a aplicação e incorporação do corretivo, se
indicada, possa ser feita com uma antecedência de 30 a 90 dias em relação ao plantio.
Se conveniente para o produtor, a aplicação e incorporação do corretivo
recomendado podem ser feitas quando das operações de preparo do solo (antes das
arações e/ou gradagens), o que contribui para melhor distribuição do material em
profundidade. Deve-se dar preferência aos calcários dolomíticos, considerando a
“avidez” do abacaxizeiro pelo magnésio. É muito comum, em algumas regiões, a
ocorrência de sintomas foliares de deficiência de Mg (as folhas velhas se tornam
amarelas, principalmente ao longo da parte central do limbo, permanecendo verde
apenas as áreas sombreadas por folhas mais jovens).
A calagem em excesso pode elevar o pH do solo a valores acima da faixa mais
adequada para a cultura (4,5 a 5,5), concorrendo para limitar a disponibilidade e a
absorção de alguns micronutrientes, como zinco, cobre, ferro e manganês, e para
favorecer o desenvolvimento de microorganismos prejudiciais à cultura, como fungos
do gênero Phytophthora.

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VIII. PLANTIO

A escolha da melhor época de plantio é crucial para o cultivo de abacaxi de


sequeiro. A época mais indicada é, em geral, o período de final da estação seca e início
da estação chuvosa. Isto corresponde ao período de janeiro a maio em regiões com
chuvas de inverno, a exemplo dos tabuleiros costeiros do Nordeste e Sudeste do Brasil,
e ao período de outubro a dezembro na região do Cerrado brasileiro. No entanto, em
plantios efetuados no segundo semestre do ano, deve-se atentar para executar o
tratamento de indução floral antes do mês de junho do ano seguinte, para evitar a
ocorrência da floração natural precoce em altas percentagens de plantas e a colheita dos
frutos em período de elevada oferta e, portanto, baixos preços (final de novembro a
meados de janeiro). A prática e a experiência local de cultivo de abacaxi são
importantes para definir as melhores épocas de plantio em cada região, contribuindo
para a produção de frutos nas épocas com condições de mercado mais favoráveis. Não
se deve esquecer que a disponibilidade local de mudas é outro fator relevante na
escolha da época de plantio.
Como a disponibilidade de umidade no solo que favorece o estabelecimento do
sistema radicular e, portanto, o crescimento inicial mais rápido das plantas, não é fator
limitante para a cultura irrigada, nestas condições o plantio do abacaxi pode ser feito
durante todo o ano, a depender da disponibilidade de mudas e da época em que se
deseja colher o fruto. Deve-se evitar, porém, os períodos de chuvas muito intensas, que
dificultam trabalhar o solo e podem propiciar incidência de doenças, bem como os
períodos mais frios do ano, que prejudicam o desenvolvimento das plantas. Pode ser
feito em covas (Figura 10), abertas com enxada ou enxadeta, ou em sulcos, dando-se
preferência aos sulcos, quando se dispõe de sulcador. Após a abertura das covas ou
sulcos, faz-se a distribuição das mudas para o plantio propriamente dito. A
profundidade das covas ou sulcos e, portanto, do plantio deve corresponder,
aproximadamente, à terça parte do comprimento da muda, tomando-se o cuidado de
evitar que caia terra no “olho” da mesma.

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Figura 10: Plantio em a) covas, b) sulcos e c) mudas plantadas com um terço do seu tamanho enterrado
Fonte: Adaptado de EMBRAPA (2011)

O plantio deve ser efetuado em quadras, separadas de acordo com o tipo e


tamanho das mudas, para facilitar os tratos culturais. No caso de se ter que plantar em
terrenos de declive acentuado, deve-se usar curvas de nível e outras práticas de
conservação do solo.
Quanto ao posicionamento do plantio, deve-se dar preferência à exposição leste,
evitando-se a exposição oeste que favorece a ocorrência de queima solar nos frutos.
Caso ocorra morte de mudas até dois a três meses após o plantio, pode-se fazer
um replantio com mudas sadias, que devem ter quase o mesmo tamanho das já
plantadas na mesma área.

8.1. SISTEMAS DE PLANTIO E ESPAÇAMENTOS

Os espaçamentos utilizados na cultura do abacaxi variam bastante de acordo


com a cultivar, o destino da produção, o nível de mecanização, o uso da irrigação e
outros fatores. Altas densidades de plantio favorecem a obtenção de elevadas
produtividades. Por outro lado, baixas densidades de plantio geralmente permitem a
produção de maior percentagem de frutos grandes, os quais tem preços mais altos.
Assim sendo, no Brasil as densidades de plantio variam, em geral, de 25 a 50 mil
plantas/ha, sendo as de 30 a 40 mil as mais freqüentes, representando um compromisso
entre tamanho médio do fruto e produtividade.
Os plantios podem ser estabelecidos em sistemas de filas simples ou duplas. Em
geral, o plantio em filas duplas deve ser associado ao uso de herbicidas para o controle
das plantas infestantes, uma vez que este sistema dificulta a capina manual entre as filas
que compõem cada fila dupla. O plantio em filas duplas deve ser alternado (plantas

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descasadas), isto é, as plantas de uma fila colocadas na direção dos espaços vazios da
outra fila (Figura 11).

Figura 11: Sistemas de plantio em filas simples e filas duplas


Fonte: Reinhardt (2004)

Os seguintes espaçamentos podem ser adotados: a) filas simples: 0,90 x 0,35 m


(31.745 plantas/ha), 1,00 x 0,30 m (33.333 plantas/ha), 0,80 x 0,35 m (35.714
plantas/ha), 0,90 x 30 m (37.030 plantas/ha), 0,80 x 0,30 m (41.660 plantas/ha). B) filas
duplas: 1,20 x 0,40 x 0,40 m (31.250 plntas/ha), 1,00 x 0,40 x 0,40 m (35.714
plantas/ha), 1,00 x 0,40 x 0,35 m ( 40.816 plantas/ha), 1,00 x 0,40 x 0,30 m (47.619
plantas/ha). Para a cv. Smooth Cayenne e plantios com irrigação recomendam-se as
densidades mais altas.
De uma maneira geral, os plantios mais adensados tendem a proporcionar
maiores produções por área, ainda que individualmente os frutos tendam a alcançar
pesos médios menores.

8.2. CÁLCULO DA QUANTIDADE DE MUDAS

O cálculo para determinar o total de mudas necessárias será realizado


acrescentando 10% como margem de segurança para prevenir perdas durante a
classificação das mudas.

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Exemplos:
Variedade Pérola – fileiras duplas e trabalho manual;
Total de plantas: 29.000 plantas/ha
Área a ser plantada – 3 ha: 29.000 x 3 – 87.000 mudas
Margem de segurança – 10% = 87.000 x 0.1 = 8.700 mudas
Total de mudas necessárias: 87.000 + 8.700 = 95.700 mudas

8.3. REALIZAÇÃO DA CURA

O objetivo da cura é realizar o controle natural da cochonilha, pois este não


sobrevive à ação direta dos raios do sol.
• Colha a muda
• Coloque as mudas de cabeça para baixo. As mudas são arranjadas lado a lado,
de cabeça para baixo, sobre as plantas de onde foram retiradas.
• Deixe as mudas expostas diretamente aos raios do sol. A base da muda fica
exposta diretamente aos raios do sol, por um período de até duas semanas.

IX. IRRIGAÇÃO

9.1. NECESSIDADES HÍDRICAS DO ABACAXIZEIRO

O abacaxizeiro é tido como uma planta com necessidades hídricas relativamente


reduzidas, se comparado com outras plantas cultivadas. A sua adaptação a condições de
deficiência hídrica decorre de uma série de características morfológicas e fisiológicas
típicas de plantas xerófilas, tais como: a) a capacidade de armazenar água na hipoderme
das folhas; b) capacidade de coletar água eficientemente, inclusive o orvalho, por suas
folhas em forma de canaleta; c) capacidade de reduzir consideravelmente as perdas de
água (transpiração) por meio de vários mecanismos.
A demanda de água do abacaxizeiro varia ao longo do ciclo da planta e a
depender do seu estádio de desenvolvimento e das condições de umidade do solo, pode
ser de 1,3 a 5,0 mm/dia. Um cultivo comercial de abacaxi exige em geral uma
quantidade de água equivalente a uma precipitação mensal de 60 a 150 mm. A faixa de
precipitação anual tida como ideal para a cultura do abacaxi situa-se entre 1000 e 1500

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mm bem distribuídos, tornando-se relevante a irrigação nos locais onde tal situação não
é alcançada.

9.2. MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO

Não se têm informações sobre restrições de métodos de irrigação para a cultura


do abacaxizeiro. Entretanto, a escolha criteriosa de um sistema de irrigação para uma
determinada área, envolve uma adequada caracterização dos recursos hídricos, solos,
topografia (declive), clima e do próprio elemento humano. Todos esses fatores
associados determinam as condições que deverão ser atendidas pelo sistema de
irrigação, permitindo estabelecer as alternativas que melhor se adaptem às mesmas e,
pelas análises técnica e econômica apropriadas, conduzir a uma escolha plenamente
satisfatória.
Existem basicamente quatro formas de aplicação de água que caracterizam os
principais métodos de irrigação: subsuperfície, superfície, localizada e aspersão.
De um modo geral, os sistemas de irrigação por subsuperfície e por superfície,
não são utilizados na cultura do abacaxi.
Dos sistemas de irrigação localizada de alta freqüência, o gotejamento é o mais
utilizado na cultura do abacaxi, principalmente onde a disponibilidade de água é
limitada, os custos de mão-de-obra são altos e as técnicas culturais são avançadas. É
utilizado comumente no Havaí associado ao uso de filme de polietileno para cobertura
do solo nas linhas de plantio visando reduzir a evaporação. Tem como principal
inconveniente o custo excessivamente elevado, em função da alta densidade de plantio
da cultura do abacaxi, visto que, para um hectare de abacaxi plantado em fileira dupla
no espaçamento de 0,90 x 0,40 x 0,30m, seriam necessários 77 linhas de gotejadores
espaçados de 0,30m, totalizando 7.700 metros/ha.
Já o sistema de irrigação por microaspersão, mesmo tendo também a mesma
faixa de eficiência e oferecendo melhores condições de adaptabilidade à cultura que a
irrigação por gotejamento, tem como inconvenientes a necessidade de elevação das
hastes suportes dos microaspersores a fim de possibilitar atingir uma área maior
aspergindo a água sobre a planta e, também, a necessidade de filtragem da água como
no gotejamento.

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Não se têm restrições à utilização de nenhum dos sistemas de irrigação por


aspersão acima citados, desde que sejam dimensionados corretamente, evitando-se com
isso que através dos respingos as partículas do solo atinjam a roseta foliar (olho da
planta), o que poderá resultar na inibição do desenvolvimento e até na morte da planta.
Quando da utilização dos equipamentos de pivô central, alguns produtores costumam
rebaixar as bengalas dos aspersores, aproximando-os mais das plantas.

X. MANEJO DA FLORAÇÃO

10.1. A FLORAÇÃO NATURAL E O SEU CONTROLE

A floração natural (não induzida artificialmente) do abacaxizeiro ocorre,


sobretudo, em períodos de dias mais curtos e temperaturas noturnas mais baixas,
portanto, principalmente nos meses de junho a agosto. Períodos de alta nebulosidade,
reduzida insolação e estresse hídrico, podem, às vezes, desencadear a diferenciação
floral natural em outras épocas do ano, a exemplo do outono (abril e maio) e da
primavera (outubro e novembro). A floração natural ocorre mais cedo em plantas mais
desenvolvidas. Plantas da cv. Pérola tendem a florescer mais precocemente que as das
cultivares Smooth Cayenne e Imperial.
Florações naturais precoces são indesejáveis, pois ocorrem, em geral, de
maneira bastante desuniforme nas plantações comerciais, dificultando o manejo da
cultura e a colheita, encarecendo o custo de produção. Podem também inviabilizar a
exploração da soca (segundo ciclo) e afetar a comercialização do produto, devido à
diminuição do tamanho médio dos frutos e à coincidência da maturação dos mesmos
com o período de safra (novembro a primeira quinzena de janeiro), quando a grande
oferta causa a redução dos preços.
A forte influência de condições climáticas, que variam de região para região e
de ano a ano (nebulosidade, insolação, chuvas), dificulta o controle de florações
naturais nas lavouras de abacaxi. A aplicação freqüente de adubos nitrogenados, a
exemplo da uréia, não surtiu efeito. Por outro lado, o produtor pode recorrer a alguns
cuidados no manejo da cultura, para diminuir a possibilidade de incidência de florações
naturais precoces nas suas plantações de abacaxi. Alguns destes cuidados são:

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• Evitar que as plantas atinjam porte elevado ou idade avançada até a época mais
crítica para a ocorrência da floração natural (junho a julho). Para tanto, o produtor deve
escolher combinações adequadas dos fatores época de plantio e tamanho (peso) das
mudas no plantio. Por exemplo, evitar plantios no período de outubro a dezembro, o que
é muito comum em regiões com chuvas de verão (Cerrado), pois tais plantas terão porte
médio a grande em junho do ano seguinte, sendo altamente suscetíveis à
incidência da floração natural. Recomenda-se efetuar os plantios a partir de janeiro ou
fevereiro, usando mudas menores nos primeiros plantios (estas terão crescimento mais
lento, devendo chegar com porte menor à época crítica), podendo usar-se qualquer
tamanho de mudas em plantios mais tardios.
• Evitar a utilização de mudas velhas para os plantios, pois tem sido observado
empiricamente que mudas velhas, mesmo quando relativamente pequenas, tendem a
tornar as plantas mais sensíveis à diferenciação floral natural.
• Evitar que produtos à base de etefon (Ethrel, Arvest ou similar), usados na fase
pré-colheita, para o amarelecimento uniforme da casca dos frutos, atinjam as mudas do
tipo filhote em fase de desenvolvimento das plantas. Em várias regiões produtoras do
país, têm sido observadas mudas emitindo suas inflorescências quando ainda em fase de
ceva, aderidas às plantas-mães, devido a aplicações destes fitorreguladores alguns dias
antes da colheita. Mesmo que estes filhotes não floresçam durante a ceva, eles não
deveriam ser usados para novos plantios, pois podem apresentar sensibilidade muito
grande aos estímulos naturais que induzem diferenciações florais precoces.

10.2. TRATAMENTO DE INDUÇÃO FLORAL (TIF)

A época do florescimento e da colheita do abacaxizeiro pode ser antecipada e


homogeneizada por meio da aplicação de certas substâncias químicas (fitorreguladores)
na roseta foliar (“olho” da planta) ou da sua pulverização sobre a planta. Esta técnica é
chamada de tratamento de indução floral (TIF), sendo uma prática cultural essencial
para o bom manejo e o sucesso econômico no cultivo do abacaxi. Quando bem
planejada e executada, permite uma melhor distribuição das operações e uso de mão-
de-obra na propriedade e a colheita de frutos em épocas mais favoráveis à sua venda.
O período de tempo entre o TIF e a colheita dos frutos na maioria das regiões
produtoras brasileiras é de 140 a 160 dias, quando a maturação do fruto coincide com

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período mais quente, e de 160 a 180 dias, quando a maturação acontece em época mais
fria. No Sul do país, com temperaturas mais baixas, o período pode ser mais longo que
seis meses.
A época mais adequada para a realização do TIF depende de diversos fatores,
incluindo o planejamento da data de colheita. Em geral, o TIF deve ser feito em plantas
com 8 a 12 meses de idade, o que resulta num ciclo da planta de cerca de 14 a 18 meses
até a primeira produção.
O TIF deve ser procedido em plantas com vigor vegetativo e porte adequados.
A experiência e o “olho” do abacaxicultor ajudam muito na escolha da época e tamanho
adequados das plantas para efetuar-se o TIF, em cada região. Para os menos experientes
os seguintes critérios podem auxiliar nesta definição: As plantas devem ter folhas „D‟
(esta folha é a mais alta na planta, e a de arranquio mais fácil, sendo, em geral aquela
fisiologicamente mais ativa) com comprimento superior a 90 cm e peso fresco superior
a 80 g, na cv. Pérola, e comprimento superior a 70 cm e peso fresco maior que 70 g, na
cv. Smooth Cayenne. Plantas com estas características têm normalmente a capacidade
de formar frutos de peso superior a 1,2 kg, quando não prejudicadas por longos
períodos de escassez de água durante a formação do fruto. Plantas muito pequenas não
devem sofrer este tratamento, pois não teriam condições de formar frutos de tamanho
adequado para o mercado de fruta fresca.
Na escolha da melhor época para a indução floral deve ser considerada também
a possibilidade de deslocar a colheita para período com preços mais favoráveis para os
frutos. Muitas vezes, antecipação ou retardamento por período relativamente curto (um
mês, por exemplo), pode representar aumentos consideráveis no preço do fruto e na
renda obtida pelo produtor.
Várias substâncias podem ser usadas com a finalidade de induzir a floração do
abacaxi. As mais comuns são o carbureto de cálcio e produtos à base de etefon (ácido
2-cloroetilfosfônico). O carbureto de cálcio é normalmente mais barato, sendo muito
usado por pequenos e médios produtores em todas as regiões produtoras brasileiras.
O carbureto de cálcio pode ser aplicado sob forma sólida ou líquida. No
primeiro caso, coloca-se de 0,5 a 1,0 g/planta, no centro da roseta foliar, a qual deve
conter água para permitir a dissolução do produto, resultando na liberação do gás
acetileno, o qual é o indutor floral propriamente dito. Para uso na forma líquida,
tomam-se as seguintes providências, passo a passo: em uma vasilha (barril ou balde)

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com capacidade para 20 litros e com tampa, colocam-se 12 litros de água limpa e fria (o
espaço que sobra é para a expansão do gás antes da sua diluição na água), põem-se
nessa água 50-60 g de carbureto de cálcio, fecha-se bem e agita-se. Espera-se, então,
até não se ouvir mais barulho (chiado) da reação. Em seguida, coloca-se a solução em
um recipiente (vasilha) que tenha mangueira ou em um pulverizador costal sem o bico
da mangueira (sem pressão) e aplicam-se 50 ml (copinho de café) da solução no “olho”
da planta, a qual não deve conter excesso de água para evitar que a solução indutora
derrame para fora do alcance do meristema apical (“olho”) da planta. Essa solução pode
ser preparada no próprio pulverizador costal. Podem ser utilizados recipientes maiores
(ex. tonéis de 200 litros) para o preparo da solução, elevando-se proporcionalmente a
quantidade de carbureto de cálcio a ser dissolvida. É importante que o recipiente esteja
bem fechado durante o preparo da solução indutora, efetuando-se a sua aplicação
imediatamente após.
O etefon (Ethrel, Arvest ou similar) pode ser aplicado no “olho” da planta, da
mesma forma que é feito com o carbureto de cálcio, ou em pulverização sobre as
plantas, na proporção de 50 mililitros da sua solução aquosa por planta. Prepara-se a
solução na concentração de 0,5 a 1,5 ml do produto comercial para cada litro de água,
mais uréia a 2 % do produto comercial e 0,30 a 0,35 g de hidróxido de cálcio (cal de
pedreiro) por litro de água. No caso deste produto, a operação deve ser repetida se
chover até seis horas após a aplicação. Um inconveniente às vezes observado em
resposta à indução floral com etefon, em certas épocas, é a redução do número de
mudas do tipo filhote produzido pelas plantas. Os indutores florais devem ser aplicados
à noite (entre as 20 horas e às 5 horas do dia seguinte) ou nas horas mais frescas do dia
(do amanhecer até às 09:00 horas ou no final da tarde), de preferência em dias
nublados, logo após o preparo das soluções. Nestas horas do dia e condições climáticas,
a planta absorve melhor os gases acetileno (carbureto de cálcio) e etileno (etefon), que
são os indutores florais propriamente ditos. Este cuidado é fundamental para assegurar
uma boa eficiência do TIF, podendo favorecer também a produção de um maior
número de mudas do tipo filhote.
Um cuidado adicional na cultura irrigada consiste na suspensão da irrigação
alguns dias antes do TIF, devendo ser retomada cerca de 24 a 48 horas após tal prática.
É bom lembrar, porém, que no caso da opção pelo uso do carbureto de cálcio na forma

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sólida, que pode haver a necessidade de uma irrigação moderada antes da aplicação do
produto, para garantir a água no “olho” da planta.
Uma indução floral bem feita deve dar uma eficiência superior a 90 %, o que
poderá ser facilmente observado cerca de 40 a 50 dias após a aplicação do indutor,
quando as inflorescências aparecem no centro da roseta foliar das plantas. Uma forma
de avaliação mais precoce da eficiência do TIF, a partir de cerca de três semanas após o
TIF, consiste na coleta manual das folhas mais jovens no ”olho” da planta, passíveis de
serem arrancadas (folhas “E” ou “F” ), para observar a presença de um alargamento
(abertura) e uma mudança de coloração branca - esverdeada para vermelho - esverdeada
na sua base, o que indica o surgimento da inflorescência na roseta foliar central da
planta.

XI. PRÁTICAS CULTURAIS PÓS-FLORAÇÃO

No período entre o término da floração do abacaxizeiro (cerca de 90 dias após a


data da indução floral) e a colheita do fruto, com duração variável de 60 a 90 dias, os
cuidados que o produtor deve ter com o abacaxizal referem-se basicamente à proteção
do fruto contra a queima-solar, a realização do desbaste de mudas do tipo filhote
(opcional) e, conforme as exigências do comprador dos frutos e do mercado, o controle
da maturação aparente do fruto (coloração da casca), além do controle moderado de
plantas infestantes para não prejudicar a realização destas práticas culturais.

11.1. Desbaste de mudas

Estudos recentes realizados na Embrapa Mandioca e Fruticultura resultaram na


recomendação de uma nova prática cultural a ser efetuada na semana posterior ao do
fechamento das últimas flores do abacaxizeiro, o que ocorre geralmente aos 90 a 100
dias após o tratamento de indução floral. Trata-se do desbaste de mudas do tipo filhote.
As pesquisas mostraram que a redução do número de mudas do tipo filhote na cv.
Pérola, que normalmente forma um cacho com mais de oito mudas por planta, resulta
num aumento do peso do fruto e do vigor das mudas remanescentes.
Segundo estudos realizados por Reinhardt (2004) a análise econômica do
desbaste indicou uma relação benefício/custo bastante positiva. O custo estimado desta

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prática foi de R$ 96,00 por hectare, considerando-se o uso de mão-de-obra


correspondente a oito Homem/Dia por hectare. O desbaste resultou num aumento médio
de 9,6% da produtividade, o que representou 4.320 kg de frutos por hectare.
Considerando-se um preço de R$ 0,19 por kg (preço médio pago pela indústria de suco
ou rodelas de abacaxi), isto resultaria numa renda adicional de R$ 820 por hectare,
representando um ganho de R$ 724 por hectare. As mudas eliminadas não significam
perdas em renda, pois no desbaste parcial, de baixa intensidade, apenas as mudas menos
desenvolvidas e vigorosas são removidas,
Em síntese, os resultados obtidos permitem a recomendação de se efetuar o
desbaste, eliminando-se pelo menos as mudas menos desenvolvidas e menos vigorosas,
o que resulta em maior vigor das mudas remanescentes e pequeno aumento do peso do
fruto.

11.2. Proteção do fruto contra a queima-solar

A queima-solar é uma anomalia de causa não parasitária, de incidência bastante


comum e importante nos plantios instalados em regiões sujeitas à ocorrência de
temperaturas elevadas durante o desenvolvimento do fruto. A queima resulta da
exposição de uma das partes do fruto à ação excessiva dos raios solares. Embora os
efeitos da queima-solar sejam mais evidentes em frutos que tombam para um lado, em
períodos quentes e ensolarados pode-se observar sintomas dessa anomalia na parte dos
frutos virada para o ocidente, isto porque a queima é devida à ação do sol poente.
Os primeiros sintomas externos da queima-solar caracterizam-se pelo
aparecimento de uma descoloração amarelada na casca do fruto que, com o passar do
tempo apresenta a cor marrom escuro (Figura 12). Em estádios mais avançados de
desenvolvimento podem ocorrer rachaduras entre os frutilhos da região afetada.
Internamente a polpa na região afetada torna-se mais translúcida do que a sadia e, com o
progresso da doença, assume consistência esponjosa, depreciando o valor comercial do
fruto.

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Figura 12: Frutos sadios (à direita) e com danos crescentes causados por
queima do sol.
Fonte: Reinhardt (2004)

Tendo em vista que a queima-solar pode causar perdas elevadas na produção de


frutos em épocas quentes e muito ensolaradas, esta anomalia deve ser controlada
mediante a implementação de medidas de proteção mecânica dos frutos, a partir da
semana seguinte ao do fechamento das últimas flores. Materiais como palha de plantas
invasoras, papel, papelão, ou pedaços de polietileno podem ser colocados sobre os
frutos a fim de protegê-los contra a ação dos raios solares. As folhas do próprio
abacaxizeiro também podem ser usadas como agente de proteção, amarrando-as acima
dos frutos.
Considerando que a queima-solar ocorre em maior intensidade no lado do fruto
voltado para o sol poente, a proteção mecânica deve ser efetuada, principalmente, sobre
o lado do fruto exposto ao sol da tarde. Pela mesma razão, no que diz respeito ao
posicionamento do plantio, a intensidade de queima-solar é menor em frutos de plantios
expostos ao leste, enquanto aqueles de plantios expostos ao oeste são mais afetados pela
anomalia.

XII. COLHEITA

A colheita é feita com facão, devendo o colhedor proteger as mãos com luvas de
lona grossa. O operário segura o fruto pela coroa com uma mão e corta o pedúnculo
três a cinco centímetros abaixo da base do fruto, de tal forma que apenas duas a quatro
mudas do cacho de filhotes sejam levadas para servirem de embalagem natural do fruto
(processo chamado “sangria”), permanecendo as demais mudas na planta para uso
como material de plantio. No entanto, as normas mais recentes de classificação e

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embalagem de abacaxi estabelecidas pelo Ministério da Agricultura, da Pecuária e do


Abastecimento (MAPA), determinam que os frutos sejam embalados em caixas de
papelão, devidamente identificados. Usando-se este tipo de embalagem, torna-se
desnecessário o uso de mudas em volta do fruto, além de se reduzir drasticamente a
perda de frutos na fase pós-colheita, que atualmente pode chegar a 20%.
Frutos que se destinarem a mercados próximos ou à indústria, sendo menos
suscetíveis à ocorrência de podridões, podem ser colhidos (“quebrados”) sem as mudas.
O mesmo é feito no caso da cv. Smooth Cayenne, por falta de mudas e por ter frutos
mais fibrosos e mais resistentes, sendo o transporte feito a granel (sem “embalagem” de
mudas), ou usando-se apenas camadas finas de capim entre as camadas de frutos.
Os frutos colhidos são entregues a outros operários que os transportam em
cestos, balaios, caixas ou carros de mão, forrados com capim seco ou palha, até o
caminhão. O carregamento dos frutos nos caminhões é tarefa difícil que exige mão-de-
obra treinada.

XIII. MANEJO DA SOCA (SEGUNDO CICLO)

Se o plantio for bem conduzido e as plantas apresentarem vigor e bom estado


fitossanitário, pode-se optar pela exploração da soca (segundo ciclo). Para tanto, devem
ser dadas as melhores condições possíveis para o desenvolvimento dos rebentões. Maior
uniformidade na emissão e desenvolvimento dos rebentões é obtida mediante a poda
leve das plantas (apenas as parte apical das folhas), o que aumenta a penetração de luz
ao talo, favorecendo a brotação das suas gemas (Figura 39).
Plantios afetados pela fusariose ou infestados pela cochonilha e/ou brocas,
representam focos perigosos para a disseminação destes problemas para outras
plantações, devendo ser eliminadas o mais breve possível após a colheita dos frutos.
Procurar a assistência técnica para a devida orientação.
A cultivar Smooth Cayenne é mais apropriada para a exploração da soca que a
cv. Pérola, sendo menos suscetível a perdas de frutos por tombamento, além de possuir
capacidade superior para a formação de frutos com pesos adequados, mesmo para
mercados mais exigentes.
A soca demanda manejo similar àquele recebido pelas plantas durante o
primeiro ciclo, sobretudo adubações, irrigação e tratos fitossanitários. Em geral, as

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quantidades de adubos podem ser reduzidas à metade das doses fornecidas no primeiro
ciclo, sem prejudicar o desenvolvimento e a produção. Recomenda-se parcelar a
adubação em duas aplicações, realizando-se a primeira antes da amontoa, a qual cobrirá
os adubos, e a segunda cerca de um mês antes da data do tratamento de indução floral.
A infestação da área por plantas daninhas é normalmente pequena, dada a
grande cobertura vegetal existente. Algumas capinas manuais são suficientes para o seu
efetivo controle. Por outro lado, os tratos fitossanitários devem ser os mesmos
aplicados no primeiro ciclo da cultura, com ênfase nas pulverizações sobre as
inflorescências em desenvolvimento até o fechamento das últimas flores, visando ao
controle da fusariose e da broca do fruto. Na cv. Smooth Cayenne, muito suscetível à
murcha do abacaxizeiro, as medidas para o controle químico das cochonilhas e ácaros
usadas no primeiro ciclo, devem ser repetidas na soca.
A indução floral é outra prática que, na soca, não difere daquela usual para as
plantas do primeiro ciclo, empregando-se as mesmas substâncias (o carbureto de cálcio
é a mais comum), concentração e modo de aplicação. No entanto, o desenvolvimento
da soca é mais rápido que o das plantas do primeiro ciclo, permitindo, em geral, a
realização do tratamento de indução floral aos seis a oito meses após a colheita da
primeira produção, resultando em um ciclo de apenas 12 a 14 meses. Muitas vezes, as
plantas da soca, originadas a partir de rebentões emitidos antes da colheita dos frutos do
primeiro ciclo, atingem mais cedo o porte adequado para a realização da indução floral.
Diante disso, pode ser vantajoso fazer a indução floral em duas etapas, separadas por
um período não superior a dois meses, e levando em consideração a escolha da melhor
época para a colheita e comercialização dos frutos.
Embora a produtividade da soca tenda a ser inferior à do primeiro ciclo, devido a
redução do peso médio e do número de frutos colhidos por hectare, a sua rentabilidade
pode ser similar àquela do primeiro ciclo, pois o seu custo de produção é também
inferior.

XIV. DOENÇAS E SEU CONTROLE

As pragas mais comuns são a broca do fruto (Thecla basalides) e a cochonilha


(Dysmicoccus brevipes), esta última causadora da "murcha do abacaxi".

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A broca do fruto é a larva de uma pequena borboleta que ataca a inflorescência,


cavando galerias e provocando o aparecimento de uma substância com aspecto de
goma. O tratamento pode ser feito com carbaril; paration metílico, diazinon, triclorfon
ou fenitrotion. A aplicação de inseticidas deve ser realizadas em 4 vezes, em intervalos
regulares, sendo a primeira aplicação após a emergência da inflorescência. Não
esquecer de observar o período de carência do produto.
A cochonilha é um inseto pequeno, sem asas, que se apresenta coberto por uma
espécie de farinha branca. Este inseto além de debilitar a planta pela sua ação sugadora
transmite o agente causal da doença murcha do abacaxi. O controle é feito eliminado-se
os restos culturais da safra anterior, com o uso de mudas de boa qualidade e se
necessário, tratando-se as mudas com inseticida. O controle químico nas plantas pode
ser feito utilizando-se os inseticidas paration metílico, diazinon ou vamidotion, de forma
preventiva aos 60, 150 e 240 dias após o plantio. Recomenda-se também realizar o
controle das formigas doceiras que ajudam na disseminação da cochonilha, realizando
um bom preparo do solo e usando o inseticida paration metílico.

- Controle de Doenças:

A fusariose do abacaxizeiro (Fusarium subglutinans) é a doença que mais causa


danos à cultura. O principal sintoma é a exsudação de goma a partir da região afetada.
Para o seu controle deve-se eliminar os restos culturais da safra anterior (incorporação
no solo ou queima); utilizar mudas sadias; durante o cultivo, identificar plantas doentes
e eliminá-las; pulverizar as inflorescências desde o seu aparecimento no olho da planta
até o fechamento das últimas flores com o fungicida Benlate 500 (30g/20l de água) a
intervalos de sete a 10 dias.
A podridão negra (Chalara paradoxa (De Seynes) Von Hohnel) é uma doença
de pós-colheita. O sintoma característico é o apodrecimento da polpa. Para o seu
controle deve-se colher os frutos com uma parte do pedúnculo (aproximadamente 2
cm); evitar ferimentos na superfície dos frutos; e se houver, proteger o ferimento
resultante do corte na colheita com fungicidas (Triadimefon, Benomyl ou Captan),
pincelando o pedúnculo do furto com o produto, não esquecer de verificar o período de
carência; e eliminar restos culturais nas proximidades das áreas onde os frutos são
processados.

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- Controle de Plantas Daninhas

As plantas daninhas devem ser controladas com capinas manuais (enxada),


roçadeiras manuais, cultivos à tração animal, uso de cobertura morta e herbicidas
recomendados para a cultura, à base de diuron, bromacil, simazina ou ametrina,
aplicados, de preferência, em pré-emergência das plantas daninhas. O uso de herbicidas
reduz a mão-de-obra e é o método mais eficiente. Em áreas infestadas por plantas
daninhas de difícil controle (tiririca, capim sapé, grama-seda etc) recomenda-se a
aplicação de herbicidas à base de glifosate. A cultura deve ser mantida livre de plantas
daninhas pelo menos até a indução floral.

XV. SELEÇÃO, CLASSIFICAÇÃO, ACONDICIONAMENTO,


TRANSPORTE

Após a colheita, frutos a serem exportados ou que sejam fornecidos para


mercados internos mais exigentes, devem ir para galpões, onde serão submetidos a
diversos cuidados conforme descritos a seguir:
a) O pedúnculo do fruto é reduzido para comprimento uniforme de cerca de 2 a 3
cm, eliminando-se as mudas do tipo filhote presentes, embora isto já possa ser feito no
momento da colheita.
b) A superfície dos cortes deve ser desinfetada, evitando-se a penetração de
fungos, sobretudo de Chalara paradoxa, causador da podridão-negra. Usam-se
fungicidas à base de tiabendazol, tiofanato ou captan, observando-se a legislação do país
importador. Alternativas ao uso de fungicidas são a aplicação de solução aquosa de
benzoato de sódio a 10% (peso/volume) ou a imersão do pedúnculo em água quente (54
°C) por três minutos. A aplicação de cera, diluída na solução fungicida ou na água
quente para 20%, pode auxiliar na conservação e melhoria da aparência dos frutos, mas
esta prática, que é bastante comum no caso da variedade Smooth Cayenne, ainda não
tem sido estudada em frutos da „Pérola‟.
c) Os frutos tratados devem sofrer mais uma seleção rigorosa, em
complementação àquela já efetuada no próprio campo, garantindo-se o fornecimento de
frutos dentro dos padrões exigidos pelo importador. A sua classificação inicial é feita

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com base no tamanho/peso. Dentro de cada classe, os frutos devem ser selecionados
com relação à maturação, à ausência de machucaduras ou deformações e às condições
da coroa (simples ou, no máximo, dupla, e aspecto fresco e viçoso).
d) A coroa não deve ser excessivamente comprida, inclusive para não dificultar
o acondicionamento do fruto na embalagem; em geral, o comprimento adequado é de 5
a 13 cm; às vezes, é aceito que a coroa seja aparada para ajusta-la à embalagem; caso
isto não seja permitido, deve-se selecionar frutos com coroas de tamanho adequado ou,
em último caso, efetuar a extirpação do meristema apical da coroa, com uso de uma
espátula, durante o desenvolvimento do fruto sobre a planta, quando a coroa atingir o
tamanho de cerca de 10 cm.
e) Cuidado especial deve ser tomado para separar frutos que estejam em estádio
de maturação real muito avançado, isto é, com translucidez da polpa superior a 50%.
Frutos suspeitos podem ser mergulhados num tanque com água e, caso afundem, devem
ser descartados.
f) Os frutos selecionados devem ser acondicionados em caixas de papelão (tipo
exportação) na posição vertical, sobre os pedúnculos (caixas com fundo duplo, com
perfurações nas quais o pedúnculo é afixado), ou na posição horizontal, alternando-se
fruto e coroa (o que permite maior número por embalagem). O número de frutos por
caixa depende da classe de peso/tamanho dos mesmos.
g) As caixas, depois de fechadas, devem ser rotuladas de acordo com a
legislação vigente. A seguir podem ser paletizadas, isto é, agrupadas em pilhas de
dimensões definidas, o que facilitará todas as operações seguintes, sobretudo o
transporte para os portos de embarque e durante a viagem até os centros consumidores
no exterior.
h) No Brasil, os frutos normalmente são transportados em caminhões sem
refrigeração até os portos marítimos, onde, finalmente, são colocados em containeres
refrigerados. A temperatura adequada para os frutos é de 8 a 12 °C, sendo, em geral,
preferível controlar a faixa de temperatura para 8 a 10 °C. A umidade relativa do ar
deve permanecer acima de 85% e o ar da câmara fria deve ser renovado a cada três a
quatro dias. Manejados da forma acima descrita, os frutos de abacaxi „Pérola‟ podem
ser conservados por cerca de 20 a 25 dias, permitindo atingir os mercados externos mais
longínquos, em condições de boa qualidade para consumo fresco.

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O transporte em caixas é realizado após os frutos serem classificados em


barracões de embalagem.

- Classificação dos frutos

O abacaxi para consumo de mesa é constituído pelo Grupo I, com frutos de


polpa amarela, e pelo Grupo II, com frutos de polpa branca. Os subgrupos, aplicáveis
somente ao abacaxi de polpa branca, são de acordo com a coloração da casca, descritos
a seguir:
• Verde ou verdoso: abacaxi que apresenta sua casca completamente verde.
• Pintado: abacaxi que apresenta até 25% de sua casca amarelo-alaranjada.
• Colorido: abacaxi que apresenta entre 25 e 50% de sua casca amarelo-
alaranjada.
• Amarelo: abacaxi que apresenta mais de 50% de sua casca amarela.
A classificação quanto ao peso define a classe ou categoria do abacaxi.
(TABELA 2)

Tabela 2: Classificação do abacaxi quanto ao peso


Fonte: Adaptado de Neves (2007)

Os subgrupos são constituídos em categorias: Extra, primeira, Segunda e


Terceira, conforme a quantidade do total de defeitos graves, expressos em percentagem.

- Descrição dos defeitos graves:

Lesão: qualquer dano de origem mecânica, por doença ou ataque de praga que
exponha a polpa.

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Podridão: dano por doença ou fisiológico que implique qualquer grau de


decomposição, desintegração ou fermentação dos tecidos.
Sem coroa: infrutescência que se apresenta sem a coroa.
Fasciação: deformação resultante do achatamento do ápice da infrutescência
pela emissão de rebentos na forma de leque.
Queimado do sol: infrutescência que apresenta área descolorida ou necrosada,
provocada pela ação do sol.
Imaturo: infrutescência colhida antes de atingir o teor de sólidos solúveis
mínimo, de 12º (doze graus) Brix.
Passado: infrutescência que apresenta avançado estágio de maturação ou
senescência caracterizada pela perda de firmeza.
Exsudado: infrutescência que apresenta depósitos de gomose na casca, causada
por fungos.
Mole: infrutescência sem firmeza da casca causada por fatores diversos.
Amassado: deformação ou amolecimento da infrutescência causada por ação
mecânica.
Chocolate: polpa escurecida, caracterizada pela cor marrom, de origem
fisiológica.
Injúria por frio: polpa escurecida em conseqüência de geada ou armazenagem
a baixa temperatura.

XVI. COMERCIALIZAÇÃO DO ABACAXI

- AS EXIGÊNCIAS DO MERCADO

Cada mercado define o produto de maior consumo e melhor remuneração. O


abacaxi Extra é encaminhado para mercados exigentes, onde os preços são mais
elevados. Os classificados como de Primeira e Segunda atendem os mercados das feiras
livres, “sacolões” e supermercados. Os de Terceira abastecem os mercados de menor
remuneração pela fruta.

- COMERCIALIZAÇÃO

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A quantidade de fruto a ser comercializada, o tamanho do mercado consumidor e


a forma de distribuição é que irão determinar o processo de comercialização.
Os frutos de mesa são mais valorizados e podem ser comercializados
diretamente pelo produtor em barracas ou veículos estacionados em local movimentado
e, também, em feiras e centrais de abastecimento.
Para atender “sacolões” e supermercados é necessário o oferecimento do fruto
durante todo o ano. Neste caso, o intermediário tem a vantagem de reunir diferentes
produtores para atender a esta exigência.

Figura 13: Comercialização do abacaxi


Fonte: Diversas

Para facilitar a comercialização dos frutos e obter preços mais compensadores


para o mercado in natura, recomenda-se (EMBRAPA, 2005):
a. Peso mínimo de 1,1 kg no período de safra e de 800 g na entressafra;
b. Frutos isentos de machucados;
c. Estágio de maturação, que deve variar com a distância do mercado
consumidor.
Análise de sazonalidade de preços nas principais Ceasas do Brasil indicam que o
período de diminuição de oferta e consequente melhora nos preços ocorre nos meses de
fevereiro a maio. Nos meses de junho a outubro tem-se os preços médios e nos meses de
novembro a janeiro temos os preços mais baixos da fruta.

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XVII. BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, O.A. de. Irrigação na cultura do abacaxi. Aspectos econômicos. Cruz


das Almas, BA: Embrapa Mandioca e Fruticultura. Circular Técnica 41

BENFICA, et al. Sistema De Produção De Abacaxi Para O Extremo Sul Da Bahia.


Embrapa Mandioca e Fruticultura. Sistema de Produção, 19. ISSN 1678-8796 Versão
Eletrônica Set/2011

CUNHA, Getúlio Augusto Pinto da. Abacaxi: manejo cultural e mercado. Fortaleza:
Instituto Frutal, 2003. 127 p. 1.Abacaxi – Cultivo. 2. Fruticultura. I. Título.

GRANADA, et al. Abacaxi: Produção, Mercado E Subprodutos. B.CEPBP.AC,E


CPuPrAit,ib Ca,u rvi.t ib2a2,, vn.. 222, , pn. . 420,5 j-u4l2./2d,e zju. l.2/d0e0z4. 2004
405

LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. Pesquisa Mensal


de Previsão e Acompanhamento das Safras Agrícolas no Ano Civil. Rio de Janeiro v.24
n.01 p.1-80 jan.2011

LIMA, Marcelo Mencarini. Havaí ou Pérola, eis a questão. Jornal do Produtor,


Brasília: EMATER/ DF, maiojun. 1994. Suplemento técnico I.

NASCENTE, et AL. CULTIVO DO ABACAXI EM RONDÔNIA. Embrapa


Rondônia. Sistemas de Produção, 3
ISSN 1807-1805 Versão Eletrônica Dez./2005

NEVES, Ivo Pessoa. Dossiê Técnico - Cultivo Do Abacaxi. Rede de Tecnologia da


Bahia – RETEC/BA. ABRIL/2007

REINHARDT, Domingo Haroldo. Abacaxi: produção, pós-colheita e mercado.


Fortaleza: Instituto Frutal, 2004. 139 p.

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SILVA, José Roberto da. O Cultivo do Abacaxi. Fortaleza: Instituto de


Desenvolvimento da Fruticultura e Agroindústria – FRUTAL / Sindicato dos
Produtores de Frutas do Estado do Ceará – SINDIFRUTA. 102p. Il.

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SUMÁRIO

I. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 2

II. ACEROLA NO BRASIL E NO MUNDO .................................................. 3

III. CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS ........................................................ 4

IV. ASPECTOS MORFOLÓGICOS ................................................................. 5

V. VARIEDADES ............................................................................................ 9

VI. PROPAGAÇÃO E POLINIZAÇÃO

6.1. PROPAGAÇÃO .......................................................................................... 11

6.2. POLINIZAÇÃO .......................................................................................... 15

VII. PREPARO DO SOLO E ADUBAÇÃO ..................................................... 18

VIII. PLANTIO .................................................................................................... 18

IX. MANEJO DA CULTURA .......................................................................... 19

X. COLHEITA E PÓS-COLHEITA ................................................................ 22

XI. PRAGAS E DOENÇAS ............................................................................. 24

XII. COMERCIALIZAÇÃO ............................................................................... 26

XIII. BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 28

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I. INTRODUÇÃO

Originária do mar das Antilhas, América Central, a acerola (Malpighia


emarginata D.C.), pelo seu inegável potencial como fonte natural de vitamina C e sua
grande capacidade de aproveitamento industrial, têm atraído o interesse dos fruticultores
e passou a ter importância econômica em várias regiões do Brasil (FREITAS et al.,
2006).
O cultivo em escala comercial dessa frutífera desenvolveu se em algumas
regiões tropicais e subtropicais do continente americano (Caribe, América Central,
Estados Unidos e Norte da América do Sul) e em alguns países onde o consumo é
elevado, como o Japão. A partir da década de oitenta, com a crescente demanda do
mercado externo, a acerola passou a ter importância comercial no Brasil, onde existem
plantios comerciais de pequeno e médio porte instalados na maioria dos estados.
No Brasil, a cultura distribui-se nas regiões Nordeste, Norte, Sul e Sudeste
(RITZINGER; RITZINGER, 2004), e a produtividade média dos pomares brasileiros é
de 29,65 toneladas de acerola por hectare ao ano, equivalente a 59,3 kg/planta/ano
(AGRIANUAL, 2010).
A acerola é comercializada principalmente na forma de polpa congelada e
fruto in natura e entra no mercado para os consumidores que preferem sucos naturais.
Devido ao seu alto teor de vitamina C, é considerado um produto de alta qualidade,
destacando-se no campo dos alimentos funcionais. Outros produtos de acerola que
podem ser encontrados no mercado interno são: acerola em pó, acerola com vitamina E,
cápsulas medicinais de vitamina C pura, geleias e doces (MANICA et al., 2003).
É caracterizada, também, pelo uso de mão-de-obra intensiva, principalmente nas
etapas de colheita e classificação dos frutos. Tratando-se de uma fruteira cuja produção
nas áreas irrigadas é quase ininterrupta, seu cultivo requer maior contingência de mão-
de-obra.
O cultivo da acerola nos projetos irrigados do Nordeste é de suma importância
social, para o pequeno fruticultor que terá o fluxo de caixa quase contínuo. Este
aspectos são importantes, uma vez que o pequeno fruticultor em geral não dispõe de
capital de giro.

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II. ACEROLA NO BRASIL E NO MUNDO

O cultivo da acerola vem acentuando de forma persistente e tem despertado


interesse entre os produtores e consumidores brasileiros ou estrangeiros, tanto em natura
ou outros subprodutos industriais.
O Brasil é o maior produtor, consumidor e exportador de acerola no mundo
existindo plantios comerciais em praticamente todos os Estados brasileiros. Contudo, é
na região nordestina, por suas condições de solo e clima, onde a acerola melhor se
adapta (EMBRAPA, 2001). Sucos concentrados de frutas nacionais, embalados em
garrafas de vidro ou de plástico, são populares com famílias brasileiras e seu
armazenamento é conveniente por não requerer refrigeração antes da sua utilização.
Este tipo de embalagem possibilita seu transporte e comercialização em todo o
território nacional (SOARES, et al., 2004). A polpa concentrado é obtida pela
desidratação que além de ser utilizada como um método de conservação, impedindo a
deterioração e perda do valor comercial, objetiva também o refinamento do alimento,
tendo-se como consequência a instalação de um novo produto no mercado
A importância econômica da acerola nas estatísticas é prejudicada pelo fato de
que exploração comercial é em escala recente, há pouca informação a seu respeito.
É fácil compreender, a sua grande importância econômica real e potencial, em termos
de exportação, uma vez que conquistaram europeus, japoneses e norte-americanos a
acerola será um produto de peso na pauta exportação.
Pode-se destacar, inclusive, que além da produtividade as características
químicas exigidas pelo mercado são fatores importantes para a ampliação do mercado
da acerola e seus subprodutos, essas características estão relacionadas na Tabela 1:

Tabela 1 - Algumas exigências de exportação de acerola para Europa e Japão.

Características Exigências

Coloração Vermelha

Sólidos solúveis (ºBrix) Mínimo de 7,0

Vitamina C (mg/100g) Mínimo de 1000mg/100g (Europa e Japão


Fonte: Frupex – Acerola para Exportação

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III. CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS

A aceroleira é uma planta rústica que se desenvolve bem em clima tropical e


subtropical, sendo resistente a temperatura próxima a 0ºC. A temperatura média anual
em torno de 25ºC é ideal para o seu cultivo. Um regime pluviométrico entre 1300 a
1500 anuais bem distribuídos proporciona uma maior produção de frutos com boa
qualidade. Podendo ser cultivado o ano todo e principalmente na estação chuvosa.
Possui crescimento lento e pode ser utilizada como planta ornamental.
Plantas adultas, cuja folhagem é persistente, têm-se mostrado resistentes a
temperaturas inferiores a 0ºC, comuns nas regiões Sul e Sudeste do país. Árvores
adultas suportam temperaturas em torno de –2ºC por curtos períodos, sem danos à sua
sobrevivência. Em períodos secos e frios, todavia, o desenvolvimento da planta
permanece estacionário, observando-se que temperaturas ao redor de 10ºC e inferiores a
esta determinam a queima de flores, causando sérios prejuízos à produção de frutos.
Quanto às plantas jovens, estas são mais sensíveis ao frio, não suportando temperaturas
inferiores a –1ºC. Com a ocorrência de chuvas e de temperaturas mais elevadas, o
crescimento vegetativo, o florescimento e a frutificação são acelerados. Em razão disso,
o período de maior frutificação acontece na primavera-verão. Precipitações pluviais
variando entre 1.200 mm e 1.600 mm, bem distribuídas ao longo do ano, são
consideradas ideais.
Em regiões com precipitações anuais inferiores a 800 mm a ocorrência de déficit
hídrico é mais pronunciada, sendo necessária a complementação do suprimento natural
de água com irrigação.
Os solos mais indicados para a acerola são os de textura argilo-arenoso,
profundos e bem drenados. Na escolha do solo, devem-se considerar suas propriedades
físicas, químicas e biológicas, pois destas dependerá o desenvolvimento da planta,
principalmente quanto à distribuição e vigor do sistema radicular.
A planta da acerola, devido à sua rusticidade, desenvolve-se bem em diversos
tipos de solos, preferindo, porém, aqueles férteis, profundos, bem drenados, podendo ser
cultivada tanto em solos arenosos como em argilosos, com preferência para os argilo-
arenosos. Os solos rasos, excessivamente pesados, encharcados e arenosos oferecem
restrições ao cultivo. Os arenosos, em geral, devem ser evitados, por apresentar menor
fertilidade, menor retenção de umidade, além de maior facilidade de infestação por

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nematóides. Solos compactos (muito argilosos) e limosos, sujeitos ao encharcamento e à


salinização, também não são recomendáveis, haja vista os problemas relacionados com
o desenvolvimento do sistema radicular, bem como os custos elevados com as práticas
de manejo, pois nos períodos de chuva é comum a má oxigenação das raízes, enquanto
que na seca a indisponibilidade de água é acentuada. Assim, os solos intermediários dos
grupos argilo-arenoso, franco-argilo-arenoso, franco-argiloso e franco são mais
desejáveis por permitir maior vigor, rendimento e longevidade da planta.
Independentemente do grupo citado, é importante considerar a profundidade e a
declividade.

IV. ASPECTOS MORFOLÓGICOS

A aceroleira pertence à família Malpighiaceae e gênero Malpighia, o qual é


formado por 39 a 41 espécies de arbustos e pequenas árvores, sempre verdes, a maioria
delas encontradas em estado nativo nas Antilhas, América Tropical, em grande parte do
México, América Central e Ilhas do Caribe, sendo cultivadas principalmente como
plantas ornamentais e poucas delas exploradas como espécies frutíferas.
Reino: Plantae
Divisão: Tracheophyta
Subdivisão: Spermatophytina
Classe: Angiospermae
Subclasse: Dicotyledonae
Ordem: Geraniales
Família: Malpighiaceae
Gênero: Malpighia
Espécie: Malpighia emarginata D.C.
É um arbusto ou uma árvore pequena, com tronco único, freqüentemente
ramificado, com pequeno ou médio porte. No caso do plantio comercial, as plantas são
mantidas a uma altura de 1,3 a 3,2 m, formando uma copa densa, constituída de
numerosos ramos lenhosos, espalhados e normalmente curvados para baixo. Quando as
plantas são cultivadas livremente, podem alcançar uma altura de 6 a 9 metros.
O crescimento da planta pode ser longitudinal ou lateral e desenvolve-se das
axilas das folhas, nos ramos do ano anterior ou nos ramos do mesmo ano. As

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ramificações terminais possuem de 15 a 30 cm de comprimento, com entrenós longos,


folhas longas e largas. As ramificações laterais surgem das axilas das folhas, têm
entrenós curtos, folhas agrupadas, mais curtas e estreitas.
O sistema radicular é formado por uma raiz pivotante ou por raízes axiais, sendo
que a maior parte delas está localizada na parte mais superficial do solo.
As folhas da planta são inteiras, opostas, de pecíolo curto, subpapiráceas a
papiráceas (consistência do papel), variavelmente obovadas (de forma ovada, mas com
a parte mais larga voltada para o ápice), em algumas plantas ovaladas ou elípticas-
lanceoladas, lisas ou onduladas, de coloração verde-pálida na face inferior. As folhas
estão localizadas sobre os brotos de ramificações terminais, de coloração verde-escura e
brilhante na face superior e verde-pálido na inferior, são simples, inteiras e tem posição
oposta, com pecíolo curto, de forma oval, ovalada, elíptica ou elíptico-lanceoladas,
geralmente compridas, com um comprimento médio de 4 a 6 cm, podendo variar de 2,2
a 10 cm; uma largura média de 1,23 a 2,62 cm e com uma variação de 0,6 a 4 cm; elas
têm um ápice obtuso e normalmente emarginado (pequena reentrância no ápice),
raramente agudo; base aguda a acuneada (forma de cunha). As folhas das ramificações
laterais são mais curtas, com 3 a 4,2 cm de comprimento e estreitas, com 1,7 a 2,1 cm
de largura. Existem plantas com e sem pêlos nas folhas e nos pequenos ramos.
As inflorescências e as flores podem tanto originar-se na axila das folhas dos
ramos maduros em crescimento, como também nas axilas das folhas do ramo recém
brotado, onde crescem isoladas ou em cachos de dois ou mais frutos. A planta forma as
inflorescências de coloração rosa, rosa-esbranquiçada, violeta-esbranquiçada a
vermelha, as quais estão dispostas em cimeiras axilares (inflorescências com
ramificação sempre terminal que acaba sempre em uma flor e com número definido de
ramos), pedunculadas, com 2-3 a 4-5 flores em média, podendo variar de 1 a 6; os
racimos (cachos) em forma de umbela (numerosas flores pedunculadas) se inserem na
mesma altura do eixo principal, com 1,5 a 2 cm de comprimento, chegando até 2,5 cm.
As flores (Figura 1) surgem sempre após um surto de crescimento vegetativo e
estão dispostas em pequenos cachos axilares, são de coloração (dependendo do clone)
branca, rósea-esmaecida, rosa-pálida a violeta esbranquiçada e, aparecendo na planta
depois de um surto de crescimento vegetativo, são originadas das axilas das folhas dos
ramos maduros ou das axilas das folhas dos ramos de brotações recentes ou novos; estas

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flores são hermafroditas ou perfeitas (flor masculina e feminina na mesma planta e na


mesma flor), pequenas, medindo transversalmente cerca de 1,2 a 2,5 cm.

Figura 1: Aspectos morfológicos da flor da aceroleira. a.


Pétala principal, b. Sépala, c. Glândula, d. estame, e. pistilo
Fonte: Adaptado de Gomes et al. (2001)

O cálice possui entre 6 a 10 pequenas sépalas sésseis (sem pedúnculo), de


coloração verde. A corola é formada por 5 pétalas persistentes, franjadas ou
irregularmente dentadas, algumas ou todas com glândulas sésseis, podendo ter de 6 a 10
por cálice, as pétalas com garras finas e de coloração verde, apresentando 10 estames
funcionais.
Os estames, em número de 10, são glabros (sem pêlos), bem formados, todos
sustentando na sua extremidade uma antera; tem os filetes unidos na sua base e são
todos funcionais.
O gineceu (parte feminina da flor) é tricarpelar, constituído de ovário globular,
glabro, súpero, fusionado, com 3 lóculos e 3 estilos; com estilo truncado ou obtuso no
ápice, mas raras vezes levemente uncinado (que produz ganchos na superfície); estilos
laterais grossos, levemente curvados, com 3 a 3,5 mm em média, podendo variar de 2,5
a 4 mm.
A aceroleira produz flores em abundância, contudo o índice de pegamento de
frutos é pequeno, o que se deve à baixa eficiência de polinização aberta. A iniciação
floral ocorre antes de 8 a 10 dias da emissão da gema, do aparecimento do botão floral à
antese (abertura) da flor, decorrendo, em geral, 7 dias e da antese até o amadurecimento

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do fruto cerca de 21 a 32 dias. A planta, quando originada de propagação vegetativa


(estaquia e enxertia) com irrigação e adubação, inicia seu florescimento depois de 5 a 7
meses do plantio da muda no campo. As mudas propagadas por sementes, nas mesmas
condições, florescem e frutificam depois do segundo ano. Em clima tropical, a planta
produz regularmente entre 9 e 12 anos de idade, enquanto em clima subtropical, uma
planta permanece em produção durante 12 a 15 anos depois de seu plantio no campo.
O fruto da acerola é uma pequena drupa carnosa, tripirenóide ou tricarpelada, de
forma ovóide deprimida a subglobosa, arredondada, ovalada ou cônica e, quando
maduro, de cor vermelha, roxa ou amarela, normalmente mais largo do que comprido; o
fruto tem um comprimento (altura) de 1 a 2,5 cm, variando de 1,82 a 4,11 cm de
diâmetro e peso de 3 a 8 gramas, mas os frutos maiores podem ter um peso de até 16,4
gramas.
As aceroleiras crescem isoladas ou em cachos de 2 ou mais frutos, sempre na
axila das folhas, notando-se que os frutos que crescem isolados geralmente são maiores
quando comparados com aqueles formados em cachos. Um fruto contém em sua polpa
cerca de 80% ou mais de suco, sendo que 60 a 70% deste suco é facilmente extraído.
O epicarpo é muito fino e delicado; a casca tem a superfície lisa ou
sensivelmente trilobada, tornando-se membranosa, muito fina e delicada, sendo
facilmente lesionada durante o manuseio incorreto do fruto maduro; a parte externa
apresenta-se de cor verde, quando o fruto está em desenvolvimento, passando para uma
cor amarelo-púrpura, amarelo-laranja, vermelho-alaranjada, vermelho a vermelho-
escura, quando está em plena maturação. O mesocarpo é formado por células grandes e
suculentas, com polpa macia, sucosa, ácida, subácida, ligeiramente doce, ou doce
acidulada em algumas variedades, de sabor agradável e bem característico.
No interior do fruto existem 3 caroços unidos no centro do mesocarpo, os quais
dão origem a 3 expansões laterais, que têm formas de asas ou cristas longitudinais, com
textura resistente e apergaminhada. Os caroços (reticulados e mais ou menos trilobados)
são duros e constituem o endocarpo, podendo ou não conter uma semente no interior de
cada um, formada por células alongadas e lignificadas, de fibras vasculares adjacentes,
sendo que a semente falta com muita freqüência, devido à ocorrência de anormalidades
no seu desenvolvimento, na formação do óvulo, pela deterioração do saco embrionário,
como falta de polinização, na ausência de fertilização, pelo abortamento do embrião ou
devido à incompatibilidade bem acentuada por auto-cruzamento. Cada semente está

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inserida num caroço reticulado, têm a forma ovóide, é pequena, com 2,5 a 5,1 mm de
comprimento por 1,8 a 3,2 mm de largura e mostra em sua extremidade mais estreita
uma saliência, que é a radícula embrionária, sendo constituída por 2 cotilédones
maciços, que encerram entre eles, na região axial e em conexão com a radícula, a
plântula ou meristema apical.
A planta tem capacidade para formar de 2 a 4 safras em clima subtropical, de 3 a
6 safras em clima tropical e, quando são adubadas, irrigadas e com uma condução
adequada, podem florescer e frutificar continuamente em clima tropical. Os frutos,
quando estão completamente maduros, desprendem-se facilmente da planta e caem no
solo, sofrendo lesões na casca e na polpa, principalmente por sua casca fina, delicada e
pelo seu alto conteúdo de suco na polpa.

V. VARIEDADES

A acerola é conhecida no Brasil há mais de 50 anos, mas seu cultivo em escala


comercial é recente. No Nordeste a área plantada, na maior parte foi instalada sem
que fosse necessário conhecimentos tecnológicos sobre as diversas variedades de
aceroleiras. Em quase todos os pomares pode ser observado uma escala acentuada de
formas e tipos de plantas, e isso tem causado muitas dificuldades aos produtores de
acerola, uma vez que a desuniformidade das plantas acarreta perdas na produtividade
dos pomares e na qualidade dos frutos. Pode-se encontrar no mesmo pomar, plantas
com crescimento distinto e árvores que produzem frutos em cacho e isolados, assim
como tamanho formato e coloração diferentes. Essas diferenças trazem problemas ao
produtor pois, as atividades agrícolas tornam-se difíceis, perante a diversidade de
respostas que se obtém de matrizes com características genéticas diferentes.
É necessário que os pomares sejam formados a partir de variedades
bem definidas, contendo características agronômicas e tecnológicas adequadas.
Tendo consciência da necessidade de instalação de pomares de aceroleiras
com germoplasma caracterizado e selecionado, alguns estados do Nordeste vêm
desenvolvendo pesquisas no sentido de introduzir, caracterizar, selecionar e difundir
plantas com qualidades agronômicas e tecnológicas comprovadoras e de interesse
comercial.

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A variedade ideal de acerola para cultivo em áreas irrigadas do Nordeste


teria que reunir características consideradas essenciais, com alto nível de produtividade
(próximo a 100 kg/planta/ano) e os frutos com coloração vermelha e peso superior a 8 –
10 gramas e teor de vitamina C acima de 2.000 mg/100g de polpa.
Dadas essas características, deve-se buscar a seleção de plantas desprovidas de
pêlo urticantes, que podem acarretar sérios problemas à operação de colheita, buscando
plantas que produzam frutos mais rígidos e resistentes ao transporte. É necessário que o
material selecionado possua resistência ou tolerância a esse fitopatógeno.
As variedades de acerola podem ser classificadas em doces, ácidas e sub-ácidas. Estes
tipos diferenciam-se principalmente pelos teores de açúcares - sólidos solúveis totais
(SST) e acidez total titulável (ATT) nos frutos maduros. As variedades doces são
indicadas para a mesa, as variedades ácidas são mais utilizadas na industrialização,
sendo que apresentam sabor pouco agradável, por conter teor de acidez elevado. Por sua
vez, as variedades sub-ácidas apresentam teores intermediários de açúcares e acidez,
podendo ser utilizadas para ambas as finalidade

VARIEDADES DOCES (Figura 2):

Manoa Sweet: Apresenta copa ereta e estendida. É vigorosa, prolífica e tem


tendência a produzir muita ramagem, líder, atingindo até 5m de altura. Seus frutos são
de coloração amarelo avermelhada quando completamente maduros. São doces, de bom
sabor. É recomendada para plantios caseiros.
Tropical Ruby: O hábito de crescimento lembra a anterior, necessitando de
controle para desenvolver tronco único. Não podada, pode atingir 5m de altura. Boa
produtora, seus frutos são idênticos aos da ManoaSweet.
Hawaiian Queen: Seu hábito de crescimento é ereto, esparramado e aberto.
Igualmente, deve ser conduzida de maneira a formar tronco único, o que pode ser
praticado cem menor esforço que as anteriores.

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Figura 2: Variedades doce de acerola. a. Manoa Sweet, b. Tropical Ruby, c. Hawaiian Queen
Fonte: Adaptado de Gomes et al. (2001)

VARIEDADES ÁCIDAS:

J.H.Beaumont: Este clone é compacto, baixo, com ramagens densas e hábitos


de crescimento que pode ser facilmente conduzido para formar arbusto de tronco único.
Tanto a produção de frutos como a de ácido ascórbico são boas. Fruto grande, com
coloração laranja avermelhada quando completamente maduros.
C.F.Rehnborg: A planta é de formação compacta, densamente ramificada,
podendo ser facilmente conduzida para formar tronco único. Embora altamente
produtiva, comparativamente seu teor em ácido ascórbico é baixo. Apresenta fruto
grande com coloração laranja avermelhada, passando a vermelho-escuro quando
completamente maduro.
F. Haley: Forma boas árvores para pomares, sendo facilmente conduzida para
formar tronco único, e tem hábito de crescimento ereto. Seus ramos são alongados, com
ramagem lateral não esparramada. Os frutos, de tamanho médio, têm coloração
vermelho-púrpura quando plenamente maduros. Esta variedade adapta-se melhor às
áreas mais secas.
Red. Jumbo: Possui tronco único e crescimento compacto; ramagem bem
distribuída e hábito de crescimento baixo. Embora seja arbusto baixo, a porcentagem de
frutificação é relativamente alta e o fruto grande, pesando 9,3g, em média; é de
coloração atrativa, passa do vermelho-cereja para o vermelho-púrpura quando em plena
maturação.
Maunawili: Embora não se destaque quanto ao conteúdo de ácido ascórbico,
demonstrou superior performance nas áreas bastante chuvosas e seu fácil e manejável
crescimento fizeram dela um clone desejável. Desenvolve tronco único e exige pouca
ou nenhuma posa; seus ramos são eretos e ao mesmo tempo compactos. As folhas

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geralmente pequenas e estreitas. Seus frutos são pequenos, vermelho-cereja e até


vermelho-púrpura quando bem maduros.

VI. PROPAGAÇÃO E POLINIZAÇÃO

6.1. PROPAGAÇÃO

A aceroleira pode ser propagada por via sexuada (através de sementes), via
assexuada (através de enxertia e estaquia).

- PROPAGAÇÃO VIA SEXUADA

Semeadura:

A propagação por via sexual provoca uma serie de problemas no pomar, uma
vez que são observados baixo índice de germinação das sementes, segregação dos
caracteres genéticos que por sua vez influenciara nas características relativas ao vigor,
conformação da copa e produtividade da planta, bem como no tamanho, formato,
coloração e sabor dos frutos, e rendimento de ácido ascórbico. Baixa é a germinação das
sementes a aceroleira. A germinação varia de 20 a 30%. A perda do poder germinativo é
rápido, as sementes mantém até 3 meses de idade um poder germinativo de 47%, de
20% aos 6 meses e 10% aos 12 meses.
As sementes devem ser colhidas de plantas que apresentem boa produtividade,
em matrizes selecionadas. As plantas devem ser vigorosas, produtivas e isentas de
pragas e doenças, devendo as sementes ser retiradas dos frutos, completamente
maduros, que são lavados e em seguida sobre uma peneira sob jato de água corrente e
secas à sombra por 3 a 5 dias.
A semeadura pode ser feita em qualquer época do ano onde será implantado o
pomar com irrigação. Em outras condições é preferível semear de 4 a 6 meses antes do
plantio no campo de forma a coincidir com inicio da estação chuvosa. A semeadura
pode ser realizada diretamente em recipientes ou em canteiros para posterior repicagem
para aqueles.

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Semeadura em recipientes

Os principais recipientes utilizados são sacos plásticos de dimensões variando de


10x25cm a 18x30cm, recomenda-se sacolas de25x30cm. As sementes são semeadas em
profundidade de 1 a 2 cm em numero de 5 a 10 por cada sacola, pois o percentual de
germinação é baixo, cerca de 20%. O substrato usado deve conter de duas a três partes
de terriço ou terra fértil misturadas com uma parte de esterco de curral curtido.

Semeadura em canteiros

Os canteiros que servirão para a aceroleira devem possuir as seguintes


dimensões: 1 a 1,2m de largura por 10 a 20 de comprimento e 0,10 a 0,15m de altura.
Em cada metro quadrado de canteiro deve-se colocar 3 a 5 litros de esterco de
curral curtido, 80 a 150 g de superfosfato simples e 30 a 50g de cloreto de potássio.
Esses adubos devem ser misturados com a terra do canteiro. Após 5 dias as sementes
são semeadas em sulcos de 1 a 2cm de profundidade e distanciados de 10 a 20cm entre
si e a sementes distribuídas em fileiras continuas dentro do sulco.
A emergência das plântulas em qualquer situação ocorre após 18 a 30 dias
dependendo das condições climáticas do local. O plantio no campo deve ser feito com
as mudas apresentando 25 a 35 cm de altura.

- PROPAGAÇÃO VEGETATIVA VIA ASSEXUADA.

Estaquia

A estaquia é um dos processos de propagação vegetativa, que consiste em


destacar qualquer parte da planta mãe que tenha capacidade de desenvolver e formar um
novo individuo.
Ela está baseada na faculdade de regeneração dos tecidos e na emissão de raízes,
assim a habilidade que tem um caule para emitir raízes vai depender da planta e do
tratamento subseqüente. Portanto, ela é função de da interação de fatores inerentes
contidos em suas celular – como as substâncias transportáveis produzidas nas folhas e

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gemas, de cofatores do enraizamento – cuja fonte estariam também nas folhas, e de


fatores externos do meio ambiente como a luz, temperatura, umidade e oxigênio.
A estaquia em aceroleira apresenta inúmeras vantagens em relação a propagação
sexuada, entre elas destacam-se a precocidade da produção, a obtenção de clones e a
simplicidade e rapidez na produção de mudas. Com relação a enxertia, não apresenta o
problema da incompatibilidade entre enxerto e porta enxerto. Mostra porem o
inconveniente de não produzir raiz pivotante e sim raízes adventícias, que muitas vezes
pode limitar a perfeita fixação da planta ao solo. A produção por estaquia apresenta a
formação de pomares mais uniformes, visto que todas as plantas descendem de uma
mesma matriz.
Utilizam-se estacas lenhosas com 2 pares de folhas, de 15 a 20cm de
comprimento, enterrando-se 1/3 em terra misturada com areia. Após 60 dias,
transplantar para sacos plásticos, levando a campo com 8 meses.

Porta-enxerto:

Porta-enxertos são as plantas em cuja haste é feito o enxerto, sustentando e


fornecendo água e nutrientes por meio das raízes. Sua propagação é feita mediante a
semeadura dos caroços, que são retirados de frutos maduros, lavados para a retirada da
casca e polpa, e secos à sombra.
Considerando que o número de caroços com sementes viáveis é baixo, entre 20 a
50%, recomendasse aumentar na mesma proporção a quantidade de caroços a semear. A
semeadura pode ser feita em linhas ou espalhando os caroços ao acaso em caixas de
madeira, plástico ou isopor contendo um substrato poroso, bem drenado, geralmente
constituído por areia lavada e vermiculita na proporção, em volume, de 1:1. Em
seguida, os caroços devem ser coberto com uma camada de 1,0 cm de substrato e
colocado em local sombreado e protegido. O início da emergência das plântulas ocorre
duas a três semanas após a semeadura, sendo repicadas para sacos de polietileno preto
contendo o substrato de crescimento quando apresentarem de dois a três pares de folhas.
Após a repicagem, as plantas em desenvolvimento devem ser conduzidas em
viveiros, com luminosidade natural em torno de 50%. As plantas estão aptas a serem
enxertadas quando o porta - enxerto atingir o diâmetro aproximado de um lápis (7 mm)
a uma altura de 15 a 20 cm da superfície do solo.

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Enxertia

As mudas propagadas por enxertia apresentam um sistema de raízes mais


vigoroso e por isso mais agressivo, explorando assim um maior volume de solo. Alem
disso a presença da raiz pivotante, da muda enxertada, confere um maior sustentação da
planta ao solo. O enxerto é a parte da planta que dará origem à copa, responsável pela
produção de frutos. A enxertia é feita com o auxílio de um canivete, sendo a garfagem
em fenda cheia o método mais utilizado em acerola. Os garfos devem ser semilenhosos,
com 3 a 4 gemas, isentos de pragas e doenças e coletados de diferentes variedades
compatíveis para plantio intercalado no pomar evitando que predomine a
autopolinização, que pode levar a uma menor produção de frutos.
Para que a enxertia seja bem sucedida é importante que os garfos tenham o
mesmo diâmetro dos porta-enxertos na região do enxerto. Além disso, recomenda-se
que seja realizada durante os meses quentes do ano, quando as plantas estão em pleno
desenvolvimento vegetativo, que favorece o pegamento. A compatibilidade, que é uma
condição básica para que a planta enxertada possa externar toda a sua função produtiva.
O processo inicia com decepa da porta-enxerto entre 15 a 20 cm de altura e o
corte da base do garfo em forma de cunha ou bisel (A). Em seguida, é feita uma incisão
vertical no portaenxerto (B) e o ajuste do garfo nesta incisão (C). Posteriormente, é feito
o amarrio do enxerto com uma fita de polietileno (D) e a sua proteção com saco plástico
para evitar o ressecamento, mantendo-o até a emissão das brotações (E). A muda deve
estar apta para plantio cerca de 90 dias após a enxertia, com ramos primários
desenvolvidos e folhas maduras (F). Sob condições adequadas, espera-se uma
percentagem de pegamento superior a 70%.

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Figura 3: Variedades doce de acerola. a. Manoa Sweet, b. Tropical Ruby, c. Hawaiian Queen
Fonte: Adaptado de cultura da acerola (2007)

6.2.POLINIZAÇÃO

As flores apresentam cinco sépalas verdes, em cuja base estão localizadas de seis
a dez glândulas grandes, produtoras de óleo, cinco pétalas franjadas, de coloração
variando de branca a diferentes tonalidades de rosa, dez estames (órgão reprodutor
masculino) e três carpelos unidos na base formando o ovário com três estiletes e
estigmas (órgão reprodutor feminino). Em geral, os estigmas estão situados na mesma
altura das anteras (A) ou, conforme observado em alguns genótipos, um pouco acima
das mesmas (B), como forma de prevenir a autopolinização. A flor permanece aberta
durante um único dia, período em que está receptiva à polinização. Apesar da
proximidade entre anteras e estigmas, os grãos de pólen liberados pelas anteras
dependem de insetos polinizadores para que cheguem até os estigmas e fecundar a flor.
Os grãos de pólen são pegajosos, não sendo dissemináveis pelo vento nem pela ação da
gravidade. (RITZINGER, 2004)

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Figura 4: Morfologia da flor de acerola


Fonte: Adaptado de Ritzinger (2004)

Insetos Polinizadores

Segundo estudos do mesmo autor abelhas da família Apidae, especialmente dos


gêneros Centris (A) e Epicharis (B), têm sido relatadas como principais polinizadores
da aceroleira. São insetos de vida solitária, que constróem seus ninhos, geralmente, em
cavidades no solo.
As abelhas Irapuá (Trigona spp.) também têm sido observadas visitando as
flores da aceroleira com certa freqüência, porém sua eficiência na polinização é
questionável. As abelhas melíferas (Apis mellifera) não são atraídas pelas flores da
aceroleira, possivelmente pela ausência ou baixa concentração de néctar.
A polinização é realizada quando as abelhas visitam as flores para coletar pólen
ou óleo (C). Durante as visitas, a abelha segura-se na flor com suas patas medianas e
traseiras, enquanto coleta o óleo das glândulas com as patas dianteiras. Nesta posição, a
parte ventral do seu corpo toca anteras e estigmas, ficando o pólen aí aderido. O
movimento das abelhas entre flores da mesma planta e entre plantas de diferentes
genótipos leva à autopolinização e polinização cruzada, respectivamente, sendo que esta
última tende a favorecer uma maior produção de frutos.
Para uma maior eficiência na polinização da aceroleira, recomendam-se medidas
que possam preservar e aumentar as populações dos insetos polinizadores, que na sua
maioria são abelhas nativas. Destacam-se a conservação de áreas com a vegetação
natural e a não pulverização de pesticidas quando as plantas estiverem em
florescimento.

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Figura 5: Polinização da acerola


Fonte: Adaptado de Ritzinger (2004)

VII. PREPARO DO SOLO E ADUBAÇÃO

Compreende operações de roçagem, destoca, aração, gradagem e preparo da rede


de drenagem, se necessário. O terreno deve ser arado e gradeado para que possa
oferecer as condições mínimas necessárias ao desenvolvimento inicial da planta. A
aração é feita com máquinas ou, no caso das áreas de pequenos fruticultores, com tração
animal.
A fertilização é uma prática essencial, uma vez que a aceroleira apresenta
elevada demanda de nutrientes em função das várias safras anuais. Além disso, deve-se
considerar que a maioria dos pomares de acerola no Brasil estão implantados em solos
com baixos teores de nutrientes, especialmente em relação ao fósforo.
Para a recomendação correta da quantidade de adubos a serem utilizados deve
ser feita a análise química e física do solo a ser utilizado.

VIII. PLANTIO

O plantio é feito preferencialmente, no início ou durante a estação chuvosa;


havendo possibilidade de irrigação, o plantio pode ser feito em qualquer época do ano,
exceto no inverno em regiões com temperaturas inferiores a 15ºC.
Segundo Ritzinger (2010) em um pomar de aceroleira, o espaçamento entre
plantas é escolhido em função do nível de manejo a ser adotado (mecanizado ou não),
do porte da variedade (ereto ou globular) e da maior ou menor fertilizadade do solo. Os
espaçamentos mais utilizados variam de 4,0 m a 6,0 m de distância entre as linhas de

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plantio e de 3,0 m a 4,0 m entre plantas na linha, o que permite combinações de


espaçamentos de 4,0 m x 3,0 m até 6,0 m x 4,0 m, com densidade de 833 a 416
plantas/ha , respectivamente.

IX. MANEJO DA CULTURA

Para que a aceroleira produza bem, algumas práticas culturais são essenciais
como o controle de plantas daninhas, adubações (baseadas na análise do solo), podas de
formação e de limpeza, e irrigação (em regiões onde ocorre déficit hídrico nos meses
mais quentes do ano).

9.1. Podas de Formação e Corretivas

As podas na cultura da acerola são fundamentais, em regiões tropicais a planta


chega até 9 safras/ano, com colheitas diárias. Podas de formação, limpeza e drásticas
bem executadas facilitarão os tratos culturais e na colheita.
Após o pegamento da muda no local definido, serão necessárias podas de
formação para conduzi-las em haste única até a altura de 30-40 cm do solo. Esta
haste após podada a gema apical, deverá ficar entre 50 a 60 cm de altura, sendo com isto
estimulada a brotação das gemas laterais. Estas gemas originarão ramos laterais dos
quais serão escolhidos 3 ou 4 ramos eqüidistantes, com alturas diferentes na metade
superior da haste permitindo simetria e equilíbrio físico entre os ramos.
Também é importante podas corretivas a fim de eliminar as brotações que
surgem nos três ou quatro ramos principais, especialmente os que se dirigem para o
solo. Esta poda é para evitar que os ramos cubram o solo na área da projeção da copa e
atrapalhe na prática de cultura – irrigação, adubação e cobertura morta.
É necessário eliminar as brotações nas pernadas ou ramos principais até dez
centímetros a partir do tronco, inclusive as que se voltam para o interior da copa a fim
de que fique mais aberta no centro e arejada. Marty e Pennock (1965) ressaltam que isso
permitirá maior penetração de luz solar no dossel vegetal, atingindo ramos e folhas no
seu interior.

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A poda de ramos indesejáveis deve ser feita assim que necessária para evitar que
a planta gaste energia com ramos que mais tarde terão que ser podados. Se feito isto
tardiamente, poderá determinar a formação de uma copa defeituosa.
A poda drástica tem sido executada uma vez ao ano, quando a planta já adulta,
encontra-se em repouso vegetativo, o que acontece no período de chuva
no Norte/Nordeste ou no inverno para outras regiões.
Essa poda é feita visando reduzir a altura da copa em 1,5 a 2,0m, cortando os
galhos mais vigorosos e mal localizados, facilitando a operação de colheitas que se
concentram na primavera e verão.
A poda corretiva deverá ser feita após cada ciclo fenológico de produção ou
quando necessária, de modo a manter as plantas na altura padrão do pomar. Não
se recomenda as podas destinadas a estimular a frutificação, pois ainda carece de
estudos, e pesquisas antes que tal prática possa ser implementada em pomares
orientados para a produção comercial.
É de forma generalizada, que as aceroleiras com maior volume de copa são mais
produtivas. Daí a necessidade de agir com cautela no que concerne às podas de
frutificação, pois geralmente diminuem o volume da copa da planta o que em algumas
espécies prejudicam a produção.
A poda de limpeza é feita durante toda a vida útil das aceroleiras e torna
indispensável a manutenção da conformação desejada. Devendo ser feita quando a
planta estiver se flores e frutos, sempre que necessário.

9.2. Irrigação

A irrigação na cultura da acerola tem sido usada especialmente em regiões com


problemas de insuficiência e/ou má distribuição de chuvas (abaixo de 1.600mm anuais).
Á medida que se reduz a disponibilidade de água, diminui o crescimento do sistema
radicular e da parte aérea da planta, porém a água em excesso provoca diminuição da
qualidade do fruto, reduzindo os teores de vitamina C. o uso da irrigação de forma
racional permiti no mínimo a duplicação da produção e o aumento no número de safras.
Segundo Scaloppi (1986), a escolha dos sistemas de rega depende de uma série
de fatores técnicos, econômicos e culturais com as condições específicas da
propriedade: 1) recursos hídricos (potencial hídrico, situação topográfica, qualidade e

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custo da água); 2) topografia; 3) solos (características morfológicas, retenção hídrica,


infiltração, características químicas e variabilidade espacial); 4) clima (precipitação,
ventos e evapotranspiração potencial); 5) culturas (sistema e densidade de plantio,
profundidade efetiva do sistema radicular, altura das plantas exigências agronômicas e
valor econômico); 6) aspectos econômicos (custos iniciais, operacionais e de
manutenção); 7) fatores humanos (nível educacional, poder aquisitivo, tradição, etc.).
Os tipos de irrigação mais utilizados são: aspersão convencional, microaspersão,
gotejamento, e por tubos perfurados (Xique-xique), por sulco de infiltração com bacias
de captação na projeção da copa e irrigação por mangueira no mesmo estilo.
Os sistemas de irrigação por sulcos e gotejamento são indicados para
solos argilo-arenosos; já os sistemas de aspersão e microaspersão se prestam melhor aos
solos arenosos e areno-argilosos.

9.3. Cultura intercalar

O plantio de culturas intercalares é viável em pomares de aceroleiras voltadas a


exportação, embora esta prática esteja sujeita a algumas restrições. A principal delas diz
respeito ao método de irrigação utilizado: a consorciação só é possível quando se adota
a irrigação por aspersão ou se for feita no período de chuvas. Nesta época ela pode
tornar-se pouco atraente, devido à irregularidade temporal e espacial das precipitações,
tal como ocorre, na região Nordeste. O plantio intercalado de aceroleira com outras
fruteiras – Principalmente a mangueira – apesar de já ter sido praticado em áreas
irrigadas n Nordeste, requer maiores conhecimentos técnicos.
Embora não apresente maiores problemas nos primeiros anos de cultivo, o
consórcio entre aceroleiras e mangueiras, pode tornar-se bastante difícil, principalmente
depois que as mangueiras iniciam a produção econômica ou quando as copas das
fruteiras consorciadas começam a se interceptar. Sérias dificuldades se fazem sentir na
tentativa de compatibilizar a irrigação, a adubação e as pulverizações. Estas práticas são
especificas de cada cultura e devem ser executadas em épocas predeterminadas, então
vai haver uma hora que o produtor terá de eliminar a cultura secundária, para não
prejudicar a produtividade da fruteira consorciada considerada principal.
Outro fator que define a espécie da cultura a ser consorciada com a acerola é o
sistema de irrigação adotado. Nas irrigações por sulco ou aspersão, as limitações

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restringem-se apenas às espécies de cultura passíveis de consorciação. Se a irrigação é a


localizada, a intercalação de culturas, só pode ser feita entre plantas ao longo da fileira.
Porem se o produtor dispuser a movimentar as linhas laterais dos sistemas de irrigação
localizada – gotejamento, microaspersão, tubos perfurados, será possível intercalar
outras culturas entre as fileiras de aceroleiras.
O alto padrão de qualidade exigida pelo mercado importador de frutas frescas,
não é aconselhável a prática da consorciação, já que o produtor de acerola para
exportação deve dispensar atenção máxima à obtenção de frutas que atendam aos
padrões internacionais de qualidade. Caso isso não aconteça esse produtor terá
dificuldades de competir num mercado cada vez mais exigente. Porém, a consorciação
deverá ser incentivada durante a fase de formação do pomar de acerola, como uma
forma de amortizar ou agilizar o retorno dos investimentos realizados, e a adoção desse
sistema poderá ser útil principalmente em pequenas áreas, associando-se a aceroleira
com culturas de ciclo curto e tendo em vista, o incremento da renda e da remuneração
do fruticultor, bem como o aproveitamento da mão-de-obra familiar.

X. COLHEITA E PÓS-COLHEITA

A colheita dos frutos da aceroleira destinados ao consumo in natura ou de sucos


para fins de exportação deve ser feita de maneira criteriosa, pões o sucesso na
comercialização do produto. Por isso os frutos devem ser colhidos, sempre nas horas de
temperatura mais amena.
Os colhedores devem ser treinados e conscientizados da importância de evitar
que as acerolas sofram pancadas ou danos mecânicos, uma vez machucados ou
lesionados terão o processo de deterioração acelerado.
O fator determinante do ponto de colheita é o destino que se pretende dar aos
frutos. No caso de congelamento ou processamento, os frutos deverão ser colhidos
com coloração vermelho intensa, mas ainda firmes para suportar o manuseio. Neste
estádio o fruto apresenta elevado teor de açúcar, baixa acidez e menos teor de vitamina
C, entretanto ainda supera cerca de 20 a 30 vezes os frutos cítricos tidos como ricos em
vitaminas C.
Os frutos podem ser colhidos no inicio da maturação (verde, verde amarelado ou
até o início da pigmentação vermelha) quando se destina a fabricação de produtos em

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pó, cápsulas, concentrados para o enriquecimento de outros alimentos; deve ser efetuada
duas a três vezes por semana, ou diariamente, dependendo do pique de produção, para
evitar que caiam depois de determinado ponto de maturação.
As acerolas destinadas a mercados consumidores distantes devem ser colhidas
“de vez”, já as vendidas aos mercados locais e indústrias processadoras devem ser
colhidas maduras.
Os frutos, principalmente maduros, devem ser acondicionados nas caixas de
colheita em poucas camadas, pois o peso das camadas superiores pode provocar o
rompimento da casca dos frutos colocados em posição inferior. Deve-se utilizar caixa de
PVC de tamanho pequeno, que permitam coluna de frutos até 15cm. No caso de utilizar
caixas de PVC tradicionais, preferir as com aberturas laterais ou então protegê-las com
plástico esponjoso para evitar injúrias mecânicas no transporte e fissuras provocadas
pela grade da caixa.
A operação colheita é, sem dúvida, uma das mais delicadas e de maior custo no
cultivo de acerola. No auge da safra e em pomares quase ou já em produção plena, uma
pessoa colhe cerca de 40 a 50kg/fruta/dia.
A lavagem dos frutos deve ser feita em esteiras rolantes adequadas para o uso de
jatos d’água fria sobre os frutos.
Seu congelamento deverá ser após a seleção e lavagem, levados para câmara ou
túnel de congelamento em recipientes que permitem a passagem uniforme de fluxo de ar
frio pelos frutos. O congelamento deve ser realizado no menor espaço de tempo
possível. No processo de congelamento lento ocorrem alterações físicas muito drásticas
no produto, principalmente formação de cristais de gelo, que podem perfurar as células,
liberando enzimas responsáveis pela degradação dos principais constituintes (açúcares,
vitaminas, entre outros) e provocam alterações indesejáveis na cor (amarelecimento).
A conservação dos frutos dura algum tempo quando armazenados em recipientes
hermeticamente fechados e em temperaturas de refrigeração de 7ºC.
Estudos indicam que ao se tentar conhecer a perda de vitamina C da acerola
durante a transformação em geléia, verificou que, após o cozimento, o suco conserva
alto teor de vitaminas. Esse ponto é importante poissegundo o autor em geral o
cozimento tende a destruir a vitamina C, no caso da acerola o teor se manteve.
No congelamento assim como na refrigeração, utiliza a diminuição da
temperatura para prolongar o período de conservação dos frutos, porém devido a baixa

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temperatura, ocorre a formação de cristais de gelo nos tecidos, implicando na


paralisação, quase por completo e irreversível, de toda a atividade metabólica e na
morte da célula seja por congelamento lento ou rápido. Quando o congelamento é lento
seguido de descongelamento apresenta uma desestruturação à polpa, permitindo sua
utilização apenas em industrias de processamento. Quando se utiliza o congelamento, o
tempo de armazenamento se prolonga consideravelmente, viabilizando inclusive a
exportação para os países mais distantes.

XI. PRAGAS E DOENÇAS

Apesar da rusticidade da acerola, a incidência de algumas pragas de maior ou


menor interesse econômico tem sido observada com freqüência nas áreas irrigadas do
submédio São Francisco, destacando-se, na estação seca, a dos pulgões.

- Pulgões

Podem causar sérios prejuízos à planta. Ao sugarem a parte final dos ramos,
provocam seu murchamento e morte, o que força a planta a gerar brotos laterais.
Controle - pulverizações de óleo mineral emulsionável, na concentração de 1 a
1,5% em água. Os pomares irrigados por aspersão sobre a copa têm apresentado, em
geral, menor índice de infestação.

- Bicudo

Faz sua oviposição no ovário das flores e nos frutos em desenvolvimento dos
quais se alimenta nas primeiras etapas de seu crescimento. Em geral os frutos atacados
pelo bicudo ficam deformados.
Controle - Pulverizar com paration na época do florescimento, repetindo-se a
pulverização após dez dias; observadas as recomendações do fabricante; recolher e
enterrar todos os frutos caídos no chão e eliminar as outras espécies do gênero
Malpighia existentes nas proximidades do pomar.

- Nematóides

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É a de maior importância econômica. A aceroleira é muito sensível ao ataque de


nematóides, principalmente os do gênero Meloidogyne. As plantas atacadas
enfraquecem e apresentam menor desenvolvimento, tanto da parte aérea como das
raízes, que encurtam e engrossam.
Controle - Obter mudas sadias, produzidas em solos não infestados com
fitonematóides, e utilizar leguminosas como Crotalaria spectabilis e Crotalaria
paulinea para posterior incorporação ao solo.
Poderá ocorrer também o ataque de cochonilhas e cigarrinhas ainda não
identificadas, porém de controle simples. Em geral esses insetos são controlados, sem
maiores custos, ao se proceder às pulverizações para o combate das pragas de
importância econômica.
Em certas épocas do ano, a mosca-das-frutas, Ceratitis capitata, causa prejuízos
aos frutos da acerola. Recomenda-se a utilização de paration ou óleo mineral para o
controle das cochonilhas e de enxofre para o controle dos ácaros, além de produtos à
base de fenthion, como isca ou em pulverização, contra a mosca-das-frutas.
As principais doenças que surgem nas plantações de acerola são:

- Antracnose

Constitui-se na mais difundida enfermidade da acerola no Brasil, podendo afetar


folhas, ramos e frutos. Em folhas tanto em mudas quanto em plantas adultas, os
sintomas característicos da antracnose são manchas esbranquiçadas, com estreito halo
marrom circundando a área necrosada.
Com o progresso da doença os tecidos centrais da mancha se fragmentam e
caem, deixando uma perfuração no limbo foliar. Em plantas em fase de frutificação o
fungo causador da antracnose (Colletotrichum gloeosporioides) pode infectar os frutos,
causando manchas pequenas, enegrecias, as quais podem aumentar área necrosada. Os
frutos afetados não se prestam para a exportação, caracterizando elevados prejuízos para
os produtores.

- Mancha castanho

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É causada pelo fungo Cercospora sp. Esta enfermidade é restrita as folhas e


caracteriza-se pela formação de manchas freqüentemente localizadas no ápice ou nas
bordas do limbo foliar, de coloração castanho, às vezes parda, circundada por um típico
halo clorótico.

- Verrugose

A enfermidade se caracteriza por rugosidade nas folhas, principalmente na


superfície superior, algumas vezes acompanhado por nervuras das olhas. Em infecções
severas as folhas podem apresentar o limbo retorcido. É nos frutos, entretanto, onde os
prejuízos, são mais notórios. As rugosidades decorrentes da infecção afetam o
desenvolvimento normal dos frutos, provocando distorções e atrofiamento. Os frutos
podem não atingir a maturidade ou terem seu aspecto externo totalmente comprometido.
O agente causador da verrugose é o fungo Sphaceloma sp.

- Cercosporiose

Esta doença caracteriza-se pela presença de tecido morto como pontuações


medindo de 1 a 5 mm de diâmetro, arredondadas e, às vezes, irregulares, nas duas faces
das folhas, que amarelecem e caem. Os produtos químicos a base de cobre controlam a
doença.

XII. COMERCIALIZAÇÃO

Os frutos de acerola não destinados ao congelamento devem ser conservados por


refrigeração à temperatura de 7º C a 8º C e à umidade relativa igual ou superior a 90%.
Nestas condições, ocorre uma redução acentuada da atividade respiratória dos
frutos, tornando mais lento o processo de deterioração, o que possibilita a sua
conservação por um período de até 10 dias a partir da colheita, viável apenas para
mercados mais próximos.
Se a acerola for destinada a mercados distantes, sobretudo à exportação, será
preciso recorrer ao seu armazenamento sob congelamento a temperaturas iguais ou
inferiores a 20º C, a única forma de conservá-la por período mais longo, sem perdas

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mais significativas de sua qualidade, inclusive com a melhor conservação do seu


conteúdo em vitamina C.
Tem sido constatado que acerolas colhidas verdes, semi-maduras e maduras, não
alteraram algumas das suas características químicas como acidez, pH, teores de sólidos
solúveis totais e de ácido ascórbico, quando mantidas a temperaturas de –19ºC a –21ºC
por um período de até 40 dias.
No entanto, mesmo a temperaturas tão baixas, podem ocorrer mudanças físicas,
bioquímicas, microbiológicas e nutricionais, que variam em função do tempo e da
temperatura de armazenamento dos frutos congelados.
A acerola é comercialmente explorada na forma de produtos processados ou “in
natura”, o mercado possui crescimento constante na área do beneficiamento, com
utilização da fabricação de polpa, purê, concentrado, geléia, suco, xarope, compota,
conserva, cápsulas de vitamina C pura e produtos liofilizados.
Do quantitativo de produção brasileira 40% destinam-se ao mercado externo.
Isto significa que, considerando-se o período 1996-97, um total estimado em 17.112 t de
frutos foi transformado em diversos produtos de exportação, compreendendo: polpa
integral, polpa concentrada, acerola em pó (14% de vitamina C) e acerola ultra-filtro.

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XIII. BIBLIOGRAFIA

AGRIANUAL: anuário da agricultura brasileira. São Paulo: FNP Consultoria e


Comércio, 2010. 520 p.

EMBRAPA. Acerola – A cereja tropical. Folheto explicativo. Novembro/2001

GOMES, et AL. Morfologia floral e biologia reprodutiva de genótipos de


aceroleira. Scientia Agricola, v.58, n.3, p.519-523, jul./set. 2001

RITZINGER, R.; RITZINGER, C.H.S.P. Acerola: aspectos gerais da cultura. Cruz das
Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, 2004. 2p. (Boletim Técnico)

RITZINGER, et al. Polinização da Aceroleira. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e


Fruticultura Tropical, 2004. 2p. (Boletim Técnico)

RITZINGER, et al. Recomendações de calagem e adubação para aceroleira. Cruz


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SCALOPPI, E.J. Critérios básicos para seleção de sistemas de irrigação. Informe


Agropecuário, Belo Horizonte. v. 12, n. 139, 1986. p. 54-63.

SIMÃO, S. Cereja das Antilhas. In: SIMÃO, S. Manual de Fruticultura. São Paulo:
Agronômica Ceres, 1971. cap.15, p. 477-485.

SOARES, L. M. V.; SHISHIDO, K.; MORAES, A. M.M.;MOREIRA, V. A.


Composição mineral de sucos concentrados de frutas brasileiras. Ciência e Tecnologia
de Alimentos, v. 24, n. 2, p.202-206, 2004.

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Hino Nacional Hino do Estado do Ceará

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas Poesia de Thomaz Lopes


De um povo heróico o brado retumbante, Música de Alberto Nepomuceno
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Terra do sol, do amor, terra da luz!
Brilhou no céu da pátria nesse instante. Soa o clarim que tua glória conta!
Terra, o teu nome a fama aos céus remonta
Se o penhor dessa igualdade Em clarão que seduz!
Conseguimos conquistar com braço forte, Nome que brilha esplêndido luzeiro
Em teu seio, ó liberdade, Nos fulvos braços de ouro do cruzeiro!
Desafia o nosso peito a própria morte!
Mudem-se em flor as pedras dos caminhos!
Ó Pátria amada, Chuvas de prata rolem das estrelas...
Idolatrada, E despertando, deslumbrada, ao vê-las
Salve! Salve! Ressoa a voz dos ninhos...
Há de florar nas rosas e nos cravos
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido Rubros o sangue ardente dos escravos.
De amor e de esperança à terra desce, Seja teu verbo a voz do coração,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido, Verbo de paz e amor do Sul ao Norte!
A imagem do Cruzeiro resplandece. Ruja teu peito em luta contra a morte,
Acordando a amplidão.
Gigante pela própria natureza, Peito que deu alívio a quem sofria
És belo, és forte, impávido colosso, E foi o sol iluminando o dia!
E o teu futuro espelha essa grandeza.
Tua jangada afoita enfune o pano!
Terra adorada, Vento feliz conduza a vela ousada!
Entre outras mil, Que importa que no seu barco seja um nada
És tu, Brasil, Na vastidão do oceano,
Ó Pátria amada! Se à proa vão heróis e marinheiros
Dos filhos deste solo és mãe gentil, E vão no peito corações guerreiros?
Pátria amada,Brasil!
Se, nós te amamos, em aventuras e mágoas!
Porque esse chão que embebe a água dos rios
Deitado eternamente em berço esplêndido, Há de florar em meses, nos estios
Ao som do mar e à luz do céu profundo, E bosques, pelas águas!
Fulguras, ó Brasil, florão da América, Selvas e rios, serras e florestas
Iluminado ao sol do Novo Mundo! Brotem no solo em rumorosas festas!
Abra-se ao vento o teu pendão natal
Do que a terra, mais garrida, Sobre as revoltas águas dos teus mares!
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; E desfraldado diga aos céus e aos mares
"Nossos bosques têm mais vida", A vitória imortal!
"Nossa vida" no teu seio "mais amores." Que foi de sangue, em guerras leais e francas,
E foi na paz da cor das hóstias brancas!
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo


O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
- "Paz no futuro e glória no passado."

Mas, se ergues da justiça a clava forte,


Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!

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