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PEIB

PARQUE ESTADUAL DO IBITIPOCA


GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL – SEMAD
INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS – IEF
PROGRAMA DE PROTEÇÃO DA MATA ATLÂNTICA - PROMATA

BELO HORIZONTE – MINAS GERAIS


OUTUBRO – 2007
GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Aécio Neves da Cunha

SECRETÁRIO DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL - SEMAD
José Carlos Carvalho

SECRETÁRIO ADJUNTO DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL - SEMAD
Shelley de Souza Carneiro

INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS - IEF


Humberto Candeias Cavalcanti

DIRETORIA DE BIODIVERSIDADE
Célio Murilo de Carvalho Valle

DIRETORIA DE ÁREAS PROTEGIDAS


Aline Tristão Bernardes

GERÊNCIA DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO BRIGADEIRO


João Carlos Lima de Oliveira
EQUIPE TÉCNICA - IEF
Adélia Alves de Lima Silva
Denise Fontes Nogueira
Denise Maria Lopes Formoso
Élcio Rogério de Castro Mello
Infaide Patrícia do Espírito Santo
Maria Imaculada Carvalho Leão
Maria Margareth de Moura Caldeira
Olíria Fontani Villarinhos
Valéria Mussi Dias

PROMATA
Cláudia Martins de Melo
Cornelius Von Fürstemberg
Eduardo Eustáquio Grossi de Moraes
Mariotoni Machado Pereira
Ricardo Aguilar Galeno
Sônia Maria Carlos Carvalho
Thomas Inhetvin

EQUIPE DE ELABORAÇÃO – CIÊNCIAS NATURAIS


VALOR NATURAL
COORDENAÇÃO GERAL E DA AVALIAÇÃO ECOLÓGICA RÁPIDA
Gisela Herrmann

EQUIPE DE ELABORAÇÃO – CIÊNCIAS GERENCIAIS


TANIGUCHI CONSULTORIA
COORDENAÇÃO GERAL
Mario Taniguchi

COORDENAÇÃO TÉCNICA
Ivair Oliveira
Marcos Antônio Reis Araújo
EQUIPE TÉCNICA PRINCIPAL
MEIO BIÓTICO
Cláudia Maria Rocha Costa – Mastofauna
Eleonora Trajano – Fauna cavernícola
Fabrício Moreira – Formações campestres
Fátima R. Salimena – Formações campestres
Flávia Pellegueti Franco – Fauna cavernícola
Gisela Herrmann – Mastofauna
Gustavo Mascarenhas Maciel – Formações florestais
José Fernando Pacheco – Avifauna
Leonardo Viana da Costa e Silva – Formações florestais
Maria Elina Bichuette – Fauna cavernícola
Pedro Henrique Nobre – Morcegos
Pedro L. Viana – Formações campestres
Renato Feio – Anurofauna
Ricardo Parrini – Avifauna

MEIO FÍSICO
Alecia Silva Ladeira – Trilhas, solos e capacidade suporte
Carlos Schaefer – Solos, geologia, geomorfologia e trilhas
Lúcio Flávio Zancanella do Carmo – Solos, geologia, geomorfologia e trilhas

GEOPROCESSAMENTO
Eliana de Souza – Geoprocessamento do meio físico
Elpídio Inácio Fernandes Filho – Geoprocessamento do meio físico
Silvia Raquel de Almeida Magalhães – Mapeamento

USO PÚBLICO
Júnia Lúcio de Castro Borges
Thiago Tadeu Ferreira Gomes

SOCIOECONOMIA
Clarice de Assis Libâneo

GESTÃO DE PESSOAS
Juliana Gomes Rodrigues

EQUIPE DE APOIO
Jussara Santos Dayrell
Carla Santana Cassini
Eliana Faria de Oliveira
Leonardo dos Santos Rosa
Omar Junqueira
Página

1. APRESENTAÇÃO ................................................................................................. 1

1.1. Informações Gerais sobre a Unidade de Conservação ................................... 3

2. ENFOQUE ESTADUAL ......................................................................................... 8

2.1. Biodiversidade em Minas Gerais ..................................................................... 10


2.2. Ocupação do Território Mineiro e Uso do Solo ................................................ 14
2.3. A Crise da Biodiversidade em Minas Gerais ................................................... 14
2.4. Sistema Estadual de Unidades de Conservação ............................................. 15
2.5. A Representatividade ...................................................................................... 17
2.6. As Unidades de Conservação e o Turismo em Minas Gerais.......................... 18

3. DESCRIÇÃO DA REGIÃO DO ENTORNO DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO ... 21

3.1. Caracterização Ambiental do Entorno da Unidade de Conservação ............... 21


3.2. Aspectos Culturais e Históricos ....................................................................... 22
3.3. Socioeconomia e População do Entorno......................................................... 26

3.3.1. Aspectos Demográficos ............................................................................ 26


3.3.2. Atividades Predominantes......................................................................... 27

3.4. Uso e Ocupação do Solo e Problemas Ambientais Decorrentes ..................... 29


3.5. Planejamento e Programas Relevantes no Entorno ........................................ 33
3.6. Visão das Comunidades sobre a Unidade de Conservação ............................ 33
3.7. Alternativas de Desenvolvimento Econômico Sustentável para a Região ....... 35
3.8. Infra-Estrutura de Apoio no Entorno ................................................................ 36
3.9. Legislação Pertinente...................................................................................... 37

4. CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE AMBIENTAL DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO.. 39

4.1. Análises Temáticas ......................................................................................... 39

4.1.1. Clima......................................................................................................... 39
4.1.2. Hidrografia ................................................................................................ 42

v
Página

4.1.3. Geologia, Geomorfologia e Solos .............................................................. 41


4.1.4. Bioespeleologia ......................................................................................... 46
4.1.5. Flora.......................................................................................................... 53
4.1.6. Herpetofauna ............................................................................................ 65
4.1.7. Aves .......................................................................................................... 70
4.1.8. Mamíferos ................................................................................................. 73

5. CARACTERIZAÇÃO GERENCIAL DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO ............... 78

5.1. Estrutura Organizacional ................................................................................. 78


5.2. Pessoal ........................................................................................................... 79
5.3. Atividades Desenvolvidas na Unidade de Conservação .................................. 80

5.3.1. Proteção ................................................................................................... 80


5.3.2. Uso Público ............................................................................................... 83
5.3.3. Pesquisa ................................................................................................... 84
5.3.4. Educação e Interpretação Ambiental......................................................... 84
5.3.5. Relações com Entidades do Entorno ........................................................ 84

5.4. Situação Fundiária .......................................................................................... 85

6. TRADUÇÃO DO DIAGNÓSTICO PARA LINGUAGEM SISTÊMICA ...................... 88


7. DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA ..................................................................... 91
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 95

vi
As unidades de conservação (UC) constituem importante instrumento no esforço de proteger
o patrimônio natural, assegurando a conservação da biodiversidade e o uso público de
forma sustentável. Para que estas cumpram seus objetivos são mobilizados montantes
significativos de recursos para regularização fundiária, implantação de infra-estrutura de
defesa e uso, operação e manutenção.
O grau de efetividade de uma UC, isto é, o grau com que as UCs estão protegendo seus
recursos e alcançando seus objetivos e metas, é avaliado considerando-se elementos do
contexto como a vulnerabilidade, planejamento, insumos, processos e resultados. Assim,
uma gestão é eficaz quando o conjunto das ações, baseadas nas atitudes, capacidades e
competências particulares, permite cumprir satisfatoriamente os objetivos para os quais a
UC foi criada. Uma das medidas de avaliação da efetividade de manejo é a elaboração e a
implementação dos Planos de Manejo das unidades de conservação.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) define Plano de Manejo como
“documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma Unidade
de Conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da
área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas
necessárias à gestão da Unidade”. No contexto atual, a participação de agentes locais e, ou,
externos que tenham relacionamento com a área é altamente valorizada. Acredita-se que
essa postura favoreça a gestão da unidade de conservação na medida em que amplia as
relações de parcerias e aposta no comprometimento de outros atores na fiscalização da
unidade e de seu entorno, assegurando sua proteção.
De modo geral, os planos de manejo elaborados no Brasil têm recebido fortes críticas.
Milano (1997) ressalta a baixa qualidade e a mínima utilização dos que foram desenvolvidos
recentemente no país. Dourojeanni (2003) destaca como defeito comum nos planos de
manejo elaborados no Brasil a grande desproporcionalidade entre a parte descritiva, que é
muito extensa, e as partes analíticas e propositivas, muito breves, genéricas e de escassa
utilidade prática. Ressalta ainda a falta de realismo desses planos, em geral feitos para um
mundo ideal, sem limitações de recursos financeiros nem humanos.
Os ecossistemas são muito complexos e dinâmicos. Nossa compreensão sobre eles é
bastante limitada e, conseqüentemente, a nossa habilidade para predizer como responderão
às ações de manejo. Desse fato decorre boa parte do fracasso verificado com os atuais
planos de manejo de unidades de conservação.
Atualmente, recomenda-se que os ecossistemas e as espécies em unidades de
conservação sejam manejados de acordo com os pressupostos do manejo adaptativo. O

1
manejo adaptativo é aquele em que se aplica o conceito de experimentação ao desenho e à
implementação de políticas de recursos naturais e ambientais. Desde o início, são
formuladas hipóteses sobre o comportamento de um ecossistema que está sendo objeto do
manejo. Se os resultados esperados são alcançados, a hipótese é confirmada. Se os
resultados esperados não são alcançados e, em conseqüência, a hipótese não se confirma,
o manejo adaptativo possibilita o aprendizado, permitindo que futuras decisões se
beneficiem de uma melhor base de conhecimentos (Nyberg, 1999). No campo gerencial, o
seu equivalente é o ciclo PDCA, discutido no próximo tópico.
Após a etapa de diagnóstico, elabora-se uma modelagem de como funcionam os
ecossistemas da unidade de conservação. Esse modelo servirá para descrever a hipótese
sobre o comportamento do ecossistema que está sendo manejado. A partir da análise do
modelo, serão elaboradas as estratégias de manejo. Durante sua execução, será verificado
se os resultados esperados estão sendo alcançados e, conseqüentemente, se a hipótese de
trabalho é verdadeira. Caso a hipótese não se confirme, será possível, por meio de nova
análise do modelo, verificar em que ponto ela se equivocou e, com isso, aprender mais
sobre o funcionamento do ecossistema (Figura 1.1). Quanto mais conseguirmos incorporar a
dinâmica de sistemas no nosso modelo de funcionamento do ecossistema, maior será a
chance de construirmos hipóteses que se aproximem da realidade verificada em campo
(Araújo, 2007).

Figura 1.1 – Ciclo do manejo adaptativo.

Considerando que a degradação ambiental avança rapidamente e as informações que


embasam o manejo dos recursos naturais são precárias e considerando, ainda, que os
planos de manejo tradicionais burocratizam a fluidez e rapidez na tomada de decisões, o
Plano de Manejo do PEIB adotou as premissas do manejo adaptativo, que se fundamenta
na melhoria contínua das práticas de manejo e na aprendizagem com os resultados e com
os programas operacionais implementados. Em decorrência dessa premissa, a UC
gerencialmente será considerada como uma organização constituída por um conjunto de
pessoas que tem como objetivo comum à conservação dos recursos naturais em um

2
determinado espaço geográfico e não mais como um mero espaço geográfico para a
conservação da biodiversidade.
Desta forma, a elaboração do Plano de Manejo do Parque Estadual do Ibitipoca (PEIB) vem
para dar o suporte necessário a esta unidade de conservação na gestão de seus recursos,
uma vez que este se caracteriza por ser um documento de planejamento e gestão. Neste
Encarte 1 são apresentados os principais resultados dos diagnósticos realizados durante a
elaboração do Plano de Manejo do Parque Estadual do Ibitipoca (PEIB), referentes aos
esforços de campo e de escritório da Equipe de Ciências Naturais, sob a coordenação
técnica da Valor Natural, e da Equipe de Ciências Gerenciais, sob coordenação da
Taniguchi Consultoria Ltda. Já o Encarte 2 apresenta a missão da unidade, a visão, os
programas, diretrizes e ações necessárias para que os objetivos do PEIB possam ser
atingidos.
A partir dos relatórios temáticos finais e mapas elaborados durante os estudos, as
informações disponíveis foram utilizadas para a caracterização ambiental da região de
inserção do PEIB. Para facilitar a leitura do presente documento, também foram produzidas
sínteses dos relatórios temáticos com os principais resultados obtidos durante a Avaliação
Ecológica Rápida (AER). Desta forma, o objetivo é sintetizar em um único documento as
informações regionais e locais necessárias para a compreensão do contexto onde o PEIB
está inserido e como este contexto pode influenciar o planejamento e a gestão do Parque,
seu entorno e os recursos naturais da região. Assim, constituímos o Encarte 1 do Plano de
Manejo do PEIB.
A elaboração do Plano de Manejo do PEIB faz parte da implementação do Programa de
Proteção da Mata Atlântica (PROMATA-MG), um projeto de cooperação financeira oficial e
bilateral entre os governos brasileiro e alemão, que por meio do Instituto Estadual de
Florestas (IEF) e da agência alemã Kfw, tem como objetivos principais contribuir para a
proteção de remanescentes e recuperação de áreas degradadas da Mata Atlântica em
Minas Gerais, e oferecer condições para a proteção das Unidades de Conservação.

O Parque Estadual do Ibitipoca (PEIB) foi criado em 4 de julho de 1973, por meio da Lei
6.126, abrangendo os municípios de Lima Duarte na sua porção sul e sudoeste; Santa Rita
de Ibitipoca ao norte e Bias Fortes ao leste (Figura 1.2). Encontra-se entre as coordenadas
21º 42’S e 43º 54’W, com área de 1.488 ha. O PEIB está localizado no sul do Estado de
Minas Gerais, na região de planejamento do Estado, definida formalmente como “Zona da
Mata”, na microregião de Juiz de Fora. Lima Duarte, município que detém a maior área do
Parque, faz limite com Santa Bárbara do Monte Verde, Juiz de Fora, Pedro Teixeira, Bias
Fortes, Santa Rita do Ibitipoca, Santana do Garambéu, Andrelândia, Bom Jardim de Minas,
Olaria e Rio Preto.
A expressão Ibitipoca se origina de “ibi” (pedra) e “oca” (casa), gruta – montanha partida,
vulcão (Brandt Meio Ambiente, 1994), Talvez a expressão signifique “casa de pedra”,
aceitável pelos indianistas, por vezes divergentes, na interpretação dos topônimos tupis,
admissível pelo fato de ali existirem as grutas que podem ter servido de moradia aos
primeiros habitantes.
O PEIB situa-se numa disjunção do Complexo da Mantiqueira, no domínio fitogeográfico da
Floresta Atlântica. Inserida em meio à Cordilheira da Mantiqueira, em sentido paralelo a
Serra do Mar, a Serra do Ibitipoca constitui-se em uma elevação rochosa com altitudes
variando entre 1.200 e 1.784 m (Pico da Lombada), onde predominam vegetações

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Figura 1.2 – Localização do Parque Estadual do Ibitipoca, Lima Duarte, Minas Gerais.

campestres denominadas, genericamente, por campos de altitude. Seus campos


apresentam fisionomia com semelhanças aos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço,
em Minas Gerais e na Bahia, mas sua flora recebe forte influência de elementos da Floresta
Atlântica.
O parque está localizado perto de grandes centros urbanos, como as cidades de Belo
Horizonte e Juiz de Fora, em Minas Gerais e a cidade do Rio de Janeiro, no Rio Janeiro. O
acesso ao Parque é feito por via terrestre pela BR 267, que liga a cidade de Lima Duarte à
rodovia BR 040, próximo ao trevo para Juiz de Fora. De Lima Duarte segue-se 30 km de
estrada de terra até ao distrito municipal de Conceição de Ibitipoca, que está a 3 km da
portaria do Parque. O Parque está localizado a 80 km de Juiz de Fora, 260 km do Rio de
Janeiro, 340 km de Belo Horizonte e 470 km de São Paulo (Figura 1.3).
O Parque possui vários atrativos naturais, como mirantes, picos, grutas, praias, piscinas
naturais e cachoeiras de águas transparentes e escuras por causa da concentração de
matéria orgânica (Figura 1.4). Destacam-se na paisagem, as grutas dos Três Arcos, dos
Viajantes, do Pião e dos Coelhos, além de atrações como os Picos do Pião e da Lombada.

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Figura 1.3 – Localização do PEIB em reação aos grandes centros urbanos da região
Sudeste do Brasil.

O Parque possui uma infra-estrutura de apoio aos visitantes, composta de portaria,


estacionamento, área de camping, lanchonete e centro de visitantes.

Conforme informações coletadas pela equipe responsável pelo estudo das florestas durante
a Avaliação Ecológica Rápida, por meio de conversas com antigos funcionários do Parque,
de entrevistas com dois moradores do Distrito de Conceição de Ibitipoca e consulta a
antigos relatos de viajantes (Saint-Hilaire, 1974; Álvaro da Silveira, 1922), excluindo-se a
ocupação indígena, a presença humana na região se dá desde o século XVIII. No caso do
alto da Serra do Ibitipoca, a ocupação foi mais intensa no século XX, tendo sido usada
intensamente para a pecuária e retirada de madeira, reduzindo apenas quando se criou o
Parque.
Com as frentes bandeirantes em busca de ouro, diversas ocupações se desenvolveram na
região, entre elas Conceição do Ibitipoca. Nestas vilas estabeleceram-se algumas grandes
construções cujas estruturas baseavam-se principalmente na madeira. Com o garimpo, a
pecuária e a retirada de madeira, a região foi sendo ocupada e a paisagem foi se
modificando aos poucos.
Com a pecuária difundiu-se a prática do uso do fogo, queimando-se toda a vegetação
campestre e atingindo-se grande parte das florestas. Para se ter uma idéia da abrangência
da prática de atear fogo na vegetação, Álvaro da Silveira (1922) descreve que em sua visita

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Figura 1.4 – Principais atrativos naturais do Parque Estadual do Ibitipoca.

a Serra do Ibitipoca um de seus guias relatou que queimou uma extensa capoeira apenas
para achar alguns cavalos que haviam penetrado nela.
Segundo relato de pessoas entrevistadas, nos fins do século XIX e início do XX havia um
morador no alto da serra, que realizava plantios e possuía gado. Esta pessoa se
estabeleceu às margens do córrego Monjolinho, cujo nome derivaria da existência de um
pequeno monjolo que este proprietário possuía.
No início do século XX, a igreja tomou posse da serra e estabeleceu-se o que os moradores
locais definiram como um “logradouro da pobreza de Ibitipoca”. Apesar de a igreja ter
construído uma pequena capela para dias de festas nos anos de 1920-1930, o uso da terra

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era coletivo. Diversas cabeças de gado eram soltas na serra e o único manejo da pastagem
natural era a colocação de fogo, que queimava os campos e atingia as bordas das florestas.
Como a posse da serra era coletiva, a retirada de madeira era liberada e, segundo os
moradores entrevistados, um imensurável volume de madeira foi retirado das matas,
incluindo do interior da Mata Grande, que é o principal fragmento florestal do interior do
Parque. As madeiras eram arrastadas por bois, serradas na própria serra e embarcadas em
carros de boi até a Vila de Conceição de Ibitipoca. Entre as madeiras mais retiradas do local
estão a peroba (provavelmente Aspidosperma parvifolium ou A. spruceanum), o ipê-tabaco
(provavelmente Tabebuia alba), o murici (cf. Byrsonima laxiflora), além da candeia
(Eremanthus erythropappus), da qual se fez inúmeros mourões para cerca. Do ipê-tabaco
houve a referência que era a preferida para o posteamento.
Pelos relatos acima se percebe o grau de alteração ao que a área já esteve sujeita. Mesmo
ambientes atualmente cobertos por densa floresta, como a Mata Grande, estes já foram de
alguma forma, alterados pela retirada de madeira. Com a criação do Parque Estadual em
1973 e o aumento da fiscalização e do combate a incêndios, reduziu-se a pressão sobre a
cobertura vegetal e esta pode evoluir em sua dinâmica própria. Apesar da ocorrência de
alguns incêndios ao longo deste período, segundo funcionários antigos do Parque que
acompanharam o processo, uma extensa área florestada com predomínio de candeias no
passado era formada por vegetação campestre.
Este histórico de ocupação frente à atual estrutura florestal que se observa em diversas
áreas do Parque do Ibitipoca remete ao potencial de regeneração do ambiente natural.
Mesmo em um ambiente de aspectos físicos restritivos, a exemplo da deficiência nutritiva da
maior parte do solo da serra do Ibitipoca e de sua baixa temperatura média, o ambiente
florestal possui resiliência suficiente para se refazer, apesar do longo tempo necessário para
a regeneração.

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O Estado de Minas Gerais localiza-se entre os paralelos de 14º 13’ 58’’ a 22º 54’ 00’’ de
latitude sul e os meridianos de 39º 51’ 32’’ a 51º 02’ 35" oeste de Greenwich. Com uma área
de 588.384 km2, alinha-se entre as quatro maiores extensões da Federação, abaixo apenas
dos estados do Amazonas, Pará e Mato Grosso. Na América do Sul, supera a soma de
Paraguai e Uruguai, representando, também, mais de 20%, em relação à da Argentina e
75% do Chile. Dentro da região Sudeste, equivale a mais de 2 vezes a área de São Paulo e
de 13 vezes, a do Rio de Janeiro. É um estado central, que faz fronteira com os seguintes
estados: Bahia, ao norte e nordeste; Espírito Santo, leste; Rio de Janeiro, sudeste; São
Paulo, sul e sudeste; Mato Grosso do Sul, oeste e Goiás e Distrito Federal, noroeste. A linha
divisória totaliza extensões, em distância linear, de 4.727 km entre os pontos extremos;
1.248 km na direção leste - oeste e 986 km, na norte-sul (Fundação João Pinheiro, 1999).
É o estado brasileiro que tem o maior número de municípios, com um total de 853. A capital
é Belo Horizonte e abriga uma população superior a 2 milhões de habitantes, assumindo,
em termos populacionais, a quarta posição entre as capitais brasileiras, atrás de São Paulo,
Rio de Janeiro e Salvador. Quanto à agregação espacial, vigoram desde 1990, classificadas
pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as divisões regionais
denominadas Mesorregiões Geográficas, em número de 12, a que estão agregadas as 66
Microrregiões Geográficas.
Instituídas pelo Governo Estadual e tendo por objetivo atender às demandas de
planejamento e de descentralização funcional, são duas as divisões regionais ora em uso, a
saber: Regiões Homogêneas para Fins de Planejamento, em número de 10 e Associações
Microrregionais, 37.
No Censo 2000 do IBGE, a população brasileira atingiu a cifra de 169,6 milhões de
habitantes. No mesmo período, a população de Minas Gerais somou 17,8 milhões de
habitantes, com taxa de crescimento anual de 1,7%, concentrando-se 82% em áreas
urbanas e 18% nas áreas rurais.
Em 1998, para um total de 4,5 milhões de domicílios situados em áreas urbanas, 88,7%
foram servidos por abastecimento de água, 68,6% por esgoto sanitário e 67,5% por coleta
de lixo. Em 1996, havia 6.732 pré-escolas, 17.013 escolas de ensino fundamental, 1.852
escolas de nível médio e 121 instituições de nível superior, compreendendo cursos de
graduação, extensão e pós-graduação. Esses dados referem-se à rede pública e privada de
ensino.
Atualmente, a economia mineira encontra-se em estágio bastante avançado, que lhe
permite uma posição de destaque no conjunto das unidades da Federação. O produto

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interno bruto (PIB) fundamenta-se no desempenho de uma agropecuária moderna, num
parque industrial amplo e diversificado e num setor terciário, que oferece serviços à altura
dos bens produzidos (Fundação João Pinheiro, 1999). O Estado representa a terceira
economia do país, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1998, o PIB mineiro foi
de R$ 89,4 bilhões, correspondendo a 9,8% do PIB nacional e a um PIB per capta de R$
5.230. Em 2000, segundo o IBGE, o PIB brasileiro a preços correntes foi de R$1,089 trilhão
e Minas teria atingido um PIB de R$ 97,9 bilhões. O setor de serviços representa 50% do
PIB, a indústria 42% e o setor agropecuário 8%.
Sem embargo da extensa quantidade de itens, que compõem a pauta de produção, alguns
chamam a atenção pela expressiva representatividade, em relação ao Brasil e ao mercado
mundial. A vocação natural à concentração produtiva deve-se, em grande parte, às
peculiaridades do território mineiro, no que tange aos aspectos fisiográficos, locacionais e
infra-estruturais e à disponibilidade de recursos naturais e de matérias-primas. São
exemplos exponenciais de concentração: na pecuária, o rebanho bovino equivale a mais de
10% do total brasileiro e de 1% do total mundial; na agricultura, o café é tão significativo,
que condicionou a análise do comportamento do setor às expressões "com" ou "sem" café;
na indústria extrativa mineral, o minério de ferro, além de abastecer o mercado interno,
sobressai-se no comércio internacional e na indústria de transformação, a produção
siderúrgica alinha-se entre as maiores (Fundação João Pinheiro, 1999).
No entanto, como o Brasil, Minas Gerais também apresenta um grave quadro de
desigualdade social, com elevada disparidade de renda entre as classes sociais e entre
suas diversas regiões (Figura 2.1).

Fonte: ONU/PNUD, Atlas do Desenvolvimento Humano.

Figura 2.1 – Renda per capita para os municípios mineiros, 2000.

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Minas Gerais apresenta uma grande variedade geo-morfo-pedológica e climática em seu
território, o que reflete em uma rica diversidade de formações vegetais, constituindo um
mosaico de grande complexidade. Segundo o IBGE 1993, no Estado de Minas Gerais são
encontrados os biomas da Floresta Atlântica, do Cerrado e da Caatinga. As principais
tipologias florestais que ocorrem nesses biomas são: Floresta Ombrófila Densa, Floresta
Ombrófila Mista, Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Estacional Semidecidual, Floresta
Estacional Decidual, Savana (Cerrado), Savana Estépica (Caatinga).
Mata Atlântica – A Mata Atlântica estendia-se originalmente do Rio Grande do Norte aos
limites do extremo sul do Brasil, distribuindo-se continuamente ao longo da costa e sobre
superfícies interioranas. Apesar de ser uma estreita faixa costeira, adentrou as escarpas
ocidentais, em regiões onde a precipitação viabilizava a existência de florestas altas e
estratificadas, como em Minas Gerais e São Paulo. Antes da ocupação portuguesa, a mata
atlântica cobria aproximadamente 38% do território mineiro (Machado et al., 1998). Hoje,
está reduzida a pouco mais de 3% de seu tamanho original.
Estimativas preliminares sugerem para a mata atlântica uma diversidade botânica mínima
de 10.000 espécies, sendo que 53% das formas arbóreas e 64% das palmeiras são
endêmicas desse bioma. A diversidade faunística também é grande, tendo sido catalogadas
940 espécies de aves e 260 de mamíferos (73 endêmicas). Os níveis de endemismo são
ainda maiores para anfíbios. Das 183 espécies encontradas, 50% são endêmicas (Machado
et al., 1998).
A Lei Federal no 11.428/2006, em seu Art. 2o, define como integrantes do bioma Mata
Atlântica as seguintes formações florestais nativas e ecossistemas associados, com as
respectivas delimitações estabelecidas em mapa do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE, conforme regulamento: Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila
Mista, também denominada de Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta
Estacional Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual, bem como os manguezais, as
vegetações de restingas, campos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do
Nordeste.
A descrição das principais formações vegetais da Mata Atlântica foi baseada em Veloso et
al. (1991).

A Floresta Ombrófila Densa

Ocorrem pequenos agrupamentos de Floresta Ombrófila Densa, no vale do Rio Doce. Este
tipo de floresta é caracterizado por plantas, cuja altura varia entre 20 e 50m, além de lianas
lenhosas e epífitas em abundância. São encontradas em locais de elevadas temperaturas
(médias de 25 ºC) e alta precipitação, bem distribuídas no ano (máximo de 60 dias secos). A
Floresta Ombrófila apresenta uma estratificação vertical muito nítida, com a presença de
três estratos distintos: a abóbada ou dossel, o andar arbóreo e o estrato inferior, que possui
uma flora muito especializada em função da pouca quantidade de luz que atravessa o
dossel (espécies umbrófilas). Características típicas desta formação vegetal são a caulifolia,
as raízes tabulares e o grande número de epífitas (algas, fungos, liquens, bromeliáceas) e
lianas.
As espécies vegetais muito comuns nesta formação são: garapa (Apuleia leiocarpa); braúna
(Melonoxylon brauna); jequetibá (Cariana estelensis); cedro (Cedrela fissilis); jatobá
(Hymenaea courbaril); palmito (Euterpe edulis); quaresmeira (Tibouchina sp.).

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Floresta Ombrófila Aberta
Encontrada em pequenos trechos nos vales dos rios Doce, médio Jequitinhonha e Mucuri.
Sua existência está condicionada a áreas, que apresentam níveis elevados de temperatura
e umidade relativa. Sofre pouca restrição em relação à disponibilidade hídrica, com
conseqüente pequena caducifolia.
As espécies vegetais muito comuns nesta formação são: cedro (Cedrela fissilis); jatobá
(Hymenaea sp.); jacarandá (Machaerium sp.); vinhático (Platymenia foliosa); sucupira
(Diplotropis incexis); roxinho (Peltogyne confertiflora); jequitibá (Cariana sp.).

Floresta Ombrófila Mista


Também conhecida como mata-de-araucária é um tipo de vegetação do planalto meridional,
onde ocorria com maior freqüência. Apresenta disjunções florísticas, em refúgios situados
nas serras do Mar e Mantiqueira, muito embora no passado tenha se expandido bem mais
ao norte.
A composição florística deste tipo de vegetação é dominada pelos gêneros primitivos
Drymis, Araucária e Podocarpus.

Floresta Estacional Semidecidual


Essa formação é condicionada por duas estações climáticas bem marcadas, uma seca e
uma chuvosa (de novembro a março). A precipitação anual varia de 1000 a 1200 mm, e a
temperatura média anual de 17 a 24 ºC. Difere das formações ombrófilas pela porcentagem
de árvores (entre 20 e 50%), que apresentam perda de suas folhas na estação seca.
As espécies vegetais muito comuns nesta formação são: cedro (Cedrela fissilis); jatobá
(Hymenaea sp.); jacarandá (Machaerium sp.); vinhático (Platymenia foliosa); angico
(Parapiptadenia sp.), jequitibá (Cariniana sp.), ipês (Tabebuia spp.), Gonçalo Alves
(Astronium fraxinifolium) e sapucaia (Lecythis pisonis).

Cerrado (Savana)
É um tipo de vegetação amplamente distribuído pelo Brasil, cobrindo cerca de 1,3 milhões
de km2. Estende-se quase ininterruptamente do trópico meridional, na fronteira com o
Paraguai, até o equador. Essa formação vegetal, que ocupa aproximadamente 49% de
Minas Gerais, situa-se entre a floresta e o campo, tendo afinidade com ambos. O cerrado é
um tipo vegetacional xeromorfo, preferencialmente de clima estacional (com
aproximadamente seis meses secos), podendo não obstante ser encontrado, também, em
clima ombrófilo. A precipitação total anual da área varia de 700 a 1.750 mm e a temperatura
média anual, de 18 a 25 ºC. Sua flora é altamente adaptada às condições xerofíticas do
ambiente e contém muitas espécies endêmicas. As aproximadamente 600 espécies de
plantas vasculares estão distribuídas em 242 gêneros. A maioria das formações vegetais do
cerrado apresenta árvores de alturas variáveis (máximo de 12 m), relativamente distantes
umas das outras, cujas copas quase não se tocam. Sob elas estende-se um tapete
herbáceo, com predomínio de gramíneas. As árvores e arbustos apresentam galhos e
troncos tortuosos, casca grossa e folhas, em sua grande maioria, coriáceas. Essas
formações compreendem o campo, o campo limpo, o campo sujo, o campo-cerrado. Além
dessas, encontramos formações vegetais com características florestais como o cerradão, a
mata seca e a mata ciliar. A descrição das principais formações vegetais do Cerrado foi
baseada em Veloso et al. (1991).

11
Campo (Savana Gramíneo-Lenhosa)

Prevalecem nesta fisionomia, quando natural, os gramados entremeados por plantas


lenhosas raquíticas, que ocupam extensas áreas dominadas por hemicriptófitos e que, aos
poucos, quando manejados com a utilização do fogo ou pastoreio, vão sendo substituídos
por geófitos que se distinguem por apresentar colmos subterrâneos, portanto, mais
resistentes ao pisoteio do gado e ao fogo.
A composição florística é bastante diversificada, sendo seus ecóticos mais representativos
as plantas lenhosas: angelim-do-cerrado (Andira humilis), murici-rasteiro (Byrsonina spp.),
unha-de-vaca (Bauhinia spp.), capim-do-cerrado (Andropogon spp.), grama-do-cerrado
(Axonopus spp.). Além destes, ocorrem muitas nanofanerófitas raquíticas das famílias
Compositae, Myrtaceae, Melastomataceae.

Campo cerrado (Savana Arborizada)

Subgrupo de formação natural ou antropizado, que se caracteriza por apresentar fisionomia


nanofanerofítica rala e hemicriptofítica graminóide contínua, sujeito ao fogo anual. Estas
sinúsias dominantes formam fisionomia raquítica em terrenos degradados. A composição
florística, apesar de semelhante à Savana Florestada, possui ecótipos dominantes, que
caracterizam os ambientes de acordo com o espaço geográfico ocupado, sendo em Minas
Gerais o ecótipo dominante, o faveiro (Dimorphandra mollis).

Cerradão (Savana Florestada)

Subgrupo de formação vegetal, com fisionomia típica e característica, restrita a áreas


areníticas lixiviadas com solos profundos, ocorrendo em clima tropical eminentemente
estacional. Apresenta sinúsias lenhosas de micro e nanofanerófitos tortuosos com
ramificação irregular, providos de macrófitos esclerófitos perenes, ou semidecíduos, ritidoma
esfoliado corticoso rígido ou córtex maciamente suberoso, com órgãos de reserva
subterrâneos ou xilopódio.
Extremamente repetitiva, a sua composição florística reflete-se de norte a sul, em uma
fisionomia caracterizada por dominantes fanerofíticos típicos, como: pequi (Caryocar
brasiliensis), sucupira-preta (Bowdichia virgilioides), pau-terra-de-folhas-grandes (Qualea
grandiflora), pau-terra-de-folhas-pequenas (Qualea parviflora), angico-preto (Anadenanthera
peregrina) e pau-santo (Kielmeyera coriacea), entre outros.

Caatinga (Savana Estépica)

Ocupa a região norte de Minas, na divisa com a Bahia. A escassez e a grande irregularidade
das precipitações pluviais são características marcantes do bioma. A precipitação total anual
varia de 700 a 1.200 mm e a temperatura média anual, de 21 a 25 ºC. Sua vegetação é
típica das áreas de clima muito seco. As árvores ficam sem folhas na estação seca, para
evitar a perda de água; muitas delas apresentam espinhos, que as protegem da predação. A
caatinga ocupa 13% da área do Estado e compreende os seguintes conjuntos florísticos:

12
Caatinga arbórea: tem aparência florestal, com árvores que se distribuem espaçadamente
pelo terreno e alcançam alturas, que vão de 8 a 25 m.

Caatinga arbustiva arbórea: apresenta árvores, cuja altura varia de 6 a 12 m e também


arbustos espinhosos, que alcançam de um a três metros.

Caatinga hiperxerófila: constituída de plantas muito resistentes à dessecação local,


principalmente cactáceas, que ocupam afloramentos de calcário e ardósia.

Na fisionomia da vegetação de Minas Gerais destacam-se, também, os campos rupestres,


que ocorrem no alto das serras, geralmente em altitudes superiores a mil metros, como nas
serras do Espinhaço e da Mantiqueira. Há predomínio do extrato herbáceo, constituído por
gramíneas e mesclado de subarbustos e arbustos pequenos (0,5 m de altura). As famílias
de plantas mais comuns desse bioma são as melastomatáceas, eriocauláceas, velosiáceas,
compostas e orquidáceas. Do ponto de vista da biodiversidade, os campos rupestres são
muito importantes, pois concentram alto grau de espécies endêmicas. Em estudo realizado,
em um trecho da serra do Cipó, foram registradas cerca de 1.600 espécies de plantas.

Essa exuberante cobertura vegetal é acompanhada de uma extraordinária riqueza


faunística. Minas Gerais contribui, assim, para que o Brasil seja considerado, hoje, o país de
maior biodiversidade em todo o mundo. O Estado abriga boa parte da fauna brasileira
(Tabela 2.1).

Tabela 2.1 – Espécies de organismos em Minas Gerais, no Brasil e no mundo

Número de Espécies
Organismos
Minas Gerais Brasil Mundo

Mamíferos 190 524 4.809

Aves 780 1.678 9.881

Répteis 179 467 7.828

Anfíbios 156 600 4.780

Peixes 380 3.000 -

Fonte: Heywood et al. (1997); Costa et al. (1998); Machado et al. (1998); Wilson (1988); Mittermeier et
al. (2000).

13
Em conseqüência do processo de desenvolvimento verificado em Minas Gerais,
principalmente a partir de meados do século XX, a cobertura vegetal foi fortemente alterada,
com grande fragmentação da paisagem natural. Segundo Scolforo e Carvalho (2006), 33,8%
da cobertura vegetal nativa estão preservados e 1,99% da área do estado é ocupada por
reflorestamentos (Tabela 2.2). Em 1994, as áreas de pastagens representavam 38% da
superfície do Estado, enquanto a agricultura representava 6,5%.

Tabela 2.2 – Área da flora nativa no Estado de Minas Gerais em 2005

Fisionomia Área em 2005 (ha) Porcentagem (%)

Campo 3.872.318 6,60


Campo Rupestre 617.234 1,05
Campo Cerrado 1.501.992 2,56
Cerrado Sensu Stricto 5.560.615 9,48
Cerradão 355.011 0,61
Veredas 406.887 0,69
Floresta Estacional Decidual 2.040.920 3,48
Floresta Estacional Semidecidual 5.222.582 8,90
Floresta Ombrófila 224.503 0,83
Total 19.802.061 33,76
Fonte: Scolforo e Carvalho (2006).

Minas Gerais, como já foi destacado, detém uma extraordinária diversidade de paisagens, o
que se reflete na riqueza de sua flora e fauna. Mas todo esse patrimônio natural está
fortemente ameaçado. Como descrito acima, o processo de ocupação de muitas áreas do
Estado tem provocado uma grande fragmentação da paisagem natural, com uma crescente
erosão de sua diversidade biológica. A tendência futura é de perda ainda maior.
Essa devastação tem se refletido fortemente sobre a fauna e a flora silvestres. A lista das
espécies ameaçadas de extinção relaciona 178 espécies para a fauna e 537 para a flora
(Tabela 2.3) e a previsão é de que, numa revisão futura, os números irão aumentar ainda mais.
O incremento das atividades antrópicas, principalmente as agrícolas, com a conseqüente
destruição e fragmentação dos hábitats naturais, irá levar Minas Gerais a enfrentar, no
século XXI, uma grave crise, em relação à sua biodiversidade, comprometendo o patrimônio
natural das gerações presentes e futuras.

14
Tabela 2.3 – Espécies ameaçadas e presumivelmente ameaçadas de extinção em Minas
Gerais

Espécies Ameaçadas Espécie Espécies


Táxon Presumivelmente Ameaçadas
Categoria Total Ameaçada (% do total)
Fauna EX CP PE VU
Mamíferos 5 13 12 10 40 25 21,0
Aves 4 12 27 40 83 64 10,6
Répteis 0 3 2 5 10 15 5,6
Anfíbios 0 0 1 10 11 17 7,1
Peixes 0 1 0 2 3 32 0,8
Invertebrados 3 4 13 11 31 12 -
Total 12 33 55 78 178 165 -
Flora
Hepatophyta - 2 1 - 3 3 -
Bryophyta 2 2 1 1 6 1 -
Anthoceratophyta - 1 - - 1 -
Pteridophyta 2 - - 1 3 31
Gymnospermophyta - - - 1 1 -
Magnoliophyta 75 103 127 218 523 415 -
Total 79 108 129 221 537 450 -
Fonte: adaptado de Machado et al. (1998); Mendonça e Lins (2000).
EX = provavelmente extinta; CR = criticamente em perigo; EN = em perigo; e VU = vulnerável.

Milano (2001) define Sistema de Unidades de Conservação como “o conjunto organizado de


áreas naturais protegidas que, planejado, manejado e gerenciado como um todo é capaz de
viabilizar os objetivos nacionais de conservação”.
De acordo com a abordagem sistêmica, as propriedades de um sistema, são propriedades
do todo, que nenhuma das partes possui. Elas surgem das interações e das relações entre
as partes. Os sistemas apresentam características próprias e o aspecto mais importante do
conceito é a idéia de um conjunto de elementos interligados para formar um todo. O
todo apresenta propriedades e características próprias que não são encontradas em
nenhum dos elementos isolados.
Após sete anos de promulgação da lei que instituiu o SNUC, não se conseguiu, de fato, o
estabelecimento de um o conjunto organizado de áreas naturais protegidas, planejado,
manejado e gerenciado como um todo para viabilizar determinados objetivos de
conservação. A lei do SNUC propôs uma abordagem sistêmica, mas não se conseguiu
ultrapassar a abordagem mecanicista. O foco ainda é dirigido para as unidades individuais
que pertencem às diversas categorias de manejo.
A idéia de sistema compreende três características: 1) um conjunto de entidades chamadas
partes ou elementos; 2) alguma espécie de relação ou interação das partes; e 3) a visão de

15
uma entidade nova e distinta, criada por essa relação, que se consegue enxergar
focalizando o todo e não as suas partes. Na implementação do SNUC, conseguiu-se
avançar somente no tópico 1, ou seja, estabeleceu-se um conjunto de unidades de
conservação distribuídas em diversas categorias de manejo. Para implementar um
verdadeiro sistema de unidades de conservação, temos que avançar nos tópicos 2 e 3.
Temos que identificar e estabelecer relações entre as diversas unidades de conservação e o
sistema resultante destas relações tem que se constituir numa entidade nova e distinta,
cujos resultados são maiores do que a soma dos resultados das unidades individuais
(Araújo, 2006). As vocações naturais de cada unidade de conservação devem ser
identificadas e desenvolvidas tendo como foco a contribuição da referida unidade para o
alcance dos objetivos do Sistema Estadual de Unidades de Conservação.
Em 2000, foi promulgada a Lei no 9.985, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC). Essa lei estabelece critérios e normas para criação, implantação e
gestão das unidades de conservação. O SNUC é composto pelo conjunto das unidades de
conservação federais, estaduais e municipais que estejam de acordo com o disposto na lei.
Os objetivos nacionais de conservação estabelecidos no SNUC, que devem nortear as
ações das entidades envolvidas na gestão ambiental, são os seguintes:
1) contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos
no território nacional e nas águas jurisdicionais;
2) proteger as espécies ameaçadas de extinção em âmbito regional e nacional;
3) contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais;
4) promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;
5) promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no
processo de desenvolvimento;
6) proteger as paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;
7) proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica,
espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;
8) proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
9) recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
10) proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e
monitoramento ambiental;
11) valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
12) favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a
recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico; e
13) proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações
tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as
social e economicamente.

No início de 2006, as unidades de conservação pertencentes aos grupos de proteção


integral e de uso sustentável somavam 400 unidades, protegendo legalmente uma área de
4,5 milhões de hectares (Tabela 2.4). Isto representa 7,6% do território mineiro. O grupo de
proteção integral engloba 106 unidades e uma área de 900 mil ha (1,54% do território
mineiro). As unidades estaduais são 37, sendo nove estações ecológicas, duas reservas
biológicas, 23 parques, dois refúgios de vida silvestre e um monumento natural. Os parques
estaduais representam 90% da área protegida pelas de proteção integral. Por isso, devem
ter maior prioridade para implementação.

16
Tabela 2.4 – Síntese das unidades de conservação típicas presente em de Minas Gerais no
primeiro semestre de 2006

Total
Grupo Jurisdição o
N Área (ha)
Estadual 37 334.622
Municipal 38 4.849
Proteção Integral
Federal 9 569.746
Subtotal 84 909.217
Estadual 91 1.142.128
Municipal 131 1.838.684
Uso Sustentável
Federal 72 610.270
Subtotal 294 3.591.082
Total Geral 400 4.500.299
1/
Área total de MG 58.838.400
% do território de MG protegido por 7,6
Fonte: SEMAD (2006).
1/
Área oficial do Estado de Minas Gerais, segundo a Fundação João Pinheiro (2000).

O grupo de uso sustentável engloba 294 unidades e 4,5 milhões de ha (6,1% do território
mineiro). Os dados demonstram que o Sistema Mineiro de Áreas Protegidas é fortemente
assentado sobre as de uso sustentável, principalmente as da categoria de manejo das
Áreas de Proteção Ambiental (APAs). As APAs municipais se destacam com 1,8 milhões de
hectares, em segundo lugar vem as APAs estaduais com 1,1 milhão de hectares. Isto
implica que o IEF ou a SEMAD terá que desenvolver, o mais breve possível, know- how em
gestão de APAs. Implica também que uma destas instituições deverá ter um papel mais
ativo na capacitação dos municípios para a gestão de suas APAs.
Nos últimos dez anos houve um enorme progresso na criação de unidades de conservação
em Minas Gerais. Além de continuar criando novas áreas, um dos grandes desafios
impostos neste alvorecer do século XXI será o de gerir estas áreas como um verdadeiro
sistema.

Uma das características essenciais em qualquer sistema de áreas protegidas é a


representatividade. Representatividade significa a capacidade destes sistemas de proteger
exemplos de todos os tipos de ambientes naturais de um país/ estado ou região. Como a
biodiversidade ocorre em múltiplos níveis de organização, idealmente os sistemas de áreas
protegidas devem buscar englobar todos os genótipos, espécies e ecossistemas no interior
das áreas protegidas. Estudo preliminar realizado pela Coordenadoria de Monitoramento do
IEF mostra que as classes de vegetação presentes no Estado são representadas de forma
muito desigual nas das unidades de conservação. O campo rupestre tem 42% de sua
ocorrência em Minas Gerais protegido pelas unidades de conservação enquanto o cerradão
só tem 5,3% (Tabela 2.5).

17
Tabela 2.5 – Percentual de cada classe de vegetação representado nas UCs de Minas
Gerais em novembro de 2006

Total no Proteção Integral Uso Sustentável Total UCs


Estado de % da
Classes Minas o Área o Área % da o Área % da
N de Área N de N de
Gerais Prote- Prote- Área da Prote- Área da
UCs da UCs UCs
Área (ha) gida (ha) gida (ha) Classe gida (ha) Classe
Classe
Campo 3.872.318 35 123.610 3,2 57 136.031 3,5 92 259.641 6,7
Campo rupestre 617.234 22 174.740 28,3 30 86.694 14,0 52 261.434 42,4
Cerradão 355.011 - - 0,0 1 18.901 5,3 1 18.901 5,3
Cerrado ralo 1.501.992 21 18.657 1,2 23 58.439 3,9 44 77.096 5,1
Cerrado típico 5.560.615 26 158.973 2,9 36 453.306 8,2 62 612.280 11,0
Floresta decídua 2.040.920 11 72.418 3,5 8 65.279 3,2 19 137.697 6,7
Floresta ombrófila 224.503 3 27.197 12,1 6 143.727 64,0 9 170.924 76,1
Floresta semidecídua 5.222.582 59 133.690 2,6 189 564.019 10,8 248 697.709 13,4
Veredas 406.887 6 9.347 2,3 8 37.611 9,2 14 46.958 11,5
Subtotal vegetação nativa 19.802.062 75 718.632 3,6 214 1.564.007 7,9 289 2.282.640 11,5
Área total 58.673.863 75 902.863 1,5 214 3.778.784 6,4 289 4.681.647 8,0

Fonte: Coordenadoria de Monitoramento do IEF.

O Parque Estadual do Ibitipoca apresenta 767 ha de tipologias vegetais que podem ser
englobadas dentro e 485,3 ha que podem ser englobados na Floresta Ombrófila. Isto
equivale a 0,44% da área dos Campos Rupestres e 1,78% das Florestas Ombrófilas
protegidas nas unidades de conservação de proteção integral do Estado. Outros 247 ha
representam outras tipologias mapeadas no Estado.

O turismo é uma atividade socioeconômica de importância mundial com tendência de


crescimento. O ecoturismo é definido como “um segmento da atividade turística que utiliza,
de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a
formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente,
promovendo o bem-estar das populações envolvidas”. Aliado à participação ativa da
comunidade situada no entorno de uma unidade de conservação ajuda a transformar essa
população em protetora ambiental. O ecoturismo, nos parques nacionais e estaduais e no
entorno destas unidades, tem o potencial de conciliar economia e conservação, contribuindo
para a manutenção dessas unidades, beneficiando a população local.
O turismo brasileiro, de potencialidade bastante significativa, não conseguiu até hoje situar-
se em melhores patamares no cenário da economia nacional. Com suas privilegiadas
extensão territorial e riquezas naturais, o Brasil poderá entrar no cenário mundial como
destino turístico de expressiva importância, embora seja muito competitivo o mercado global
nesse setor. Apesar de a atividade turística acrescentar receita ao PIB brasileiro, ainda
assim, fica aquém do que poderia ser gerado. Como exemplo, para efeito de comparação,
cita-se dados apresentados no folheto World Ecotur’97. Alguns deles mostram a pujança
turística internacional de alguns países e a sua conseqüente geração de receitas.

18
Durante o ano de 1993, as atividades turísticas em todo o mundo faturaram
cerca de 3,4 trilhões de dólares, (...) gerando 205 milhões de empregos
a
diretos e indiretos. (...) Em 1993, o Brasil ocupava a 46 posição no ranking
mundial dos países receptores de turistas internacionais. (...) No mundo
inteiro, em 1994, foram registradas 528,5 milhões de entradas de turistas
envolvendo uma receita de US$ 321,5 bilhões, segundo dados da
Organização Mundial do Turismo - OMT. Em 1994, a atividade turística no
Brasil participou com 2,76% na composição do Produto Interno Bruto. (...).

Minas Gerais tem se destacado como pólo emissor de turistas, explorando principalmente a
venda de pacotes para o exterior e muitos outros destinos fora do nosso Estado. A atividade
turística no contexto socioeconômico deve ser analisada como uma via de mão dupla, tendo
duas grandes vertentes a serem consideradas, estudadas e operacionalizadas. Num
primeiro momento, devemos considerar, em uma vertente, o segmento de turismo emissivo,
e, noutra, o receptivo. A primeira é muito forte e organizada, tendo em vista que no Estado
existem mais de 500 agências. O segmento de turismo receptivo e disperso em todo o
nosso Estado, tem como principais atrativos as cidades históricas, as estâncias
hidrominerais e climáticas, o circuito do ouro (muitas vezes confundido com as cidades
históricas) e vários outros atrativos, roteiros ou circuitos. A maior concentração de agências
que operam o turismo receptivo está situada na região de Belo Horizonte, dentre elas as que
se intitulam ecoturísticas, numericamente reduzidas e que não suprem a demanda e as
expectativas de turistas da região metropolitana, do interior e de fora do Estado. Muitas
destas agências não possuem estruturas administrativas, operacionais e econômicas
condizentes para o atendimento em qualidade ao turista. Pacotes turísticos, muitas vezes,
são montados sem a qualidade que esses serviços devem ter.
Um dos objetivos do SNUC é promover a educação e interpretação ambiental, a recreação
em contato com a natureza e o turismo ecológico. Os parques presentes em Minas Gerais
apresentam grande beleza cênica e enorme potencial para o desenvolvimento do
ecoturismo. No entanto, estão muito aquém de realizar esse potencial. Na atualidade, o
Parque Estadual do Ibitipoca é o que apresenta a maior visitação no Estado (Figura 2.2).
Apresenta uma média anual de 33,6 mil visitantes. Em seguida vem o Parque do Rio com
uma média anual de 22,8 mil visitantes. O PERD apresentou grande potencial para atração
turística até meados da década de 1990. A partir de então, houve uma diminuição
significativa na visitação. O Parque Nacional do Caparaó, utilizado como referencial para os
parques estaduais, é a UC federal com maior visitação em Minas Gerais, tendo uma média
anual de 24,6 mil visitantes.
A Figura 2.2 demonstra que os parques estaduais apresentam um enorme potencial para o
desenvolvimento do ecoturismo. Os planos de manejo devem assumir essa premissa e
propor ações para o desenvolvimento do turismo nos parques estaduais de Minas Gerais
garantindo ao mesmo tempo a preservação dos recursos naturais presentes nessas unidades.
A atividade turística é um dos destaques na economia do sul do Estado, caracterizada pela
grande diversificação (Mousinho, 2005). Com a assinatura do Decreto no 43.321, de 8 de
maio de 2003, que dispõe sobre o reconhecimento dos Circuitos Turísticos de Minas Gerais,
começou a se delinear uma política de apoio às diversas formas de turismo no Estado,
sendo que atualmente, existem dez circuitos turísticos englobando cidades do sul do
Estado: Caminhos do Sul de Minas; das Águas; Serras Verdes do Sul de Minas; Montanhas
Mágicas; Terras Altas da Mantiqueira; Vale do Rio Preto; Serra do Ibitipoca; Vale Verde e
Quedas D’Água; Nascentes das Gerais e; Lago de Furnas. Além destes, ainda estão sendo
estruturados mais dois circuitos envolvendo cidades do sul de Minas: Circuito das Malhas e
Circuito Montanhas Cafeeiras (Mousinho, 2005).

19
60000
Ibitipoca Rio Doce Nova Baden Rio Preto
Itacolomi PN Caparaó Serra do Brigadeiro
50000
Número de Visitantes

40000

30000

20000

10000

0
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Ano

Figura 2.2 – Visitação anual nos parques estaduais abertos e no Parque Nacional do
Caparaó.

Como um reflexo da ocorrência de paisagens muitas vezes ainda bem conservadas na


região da Mantiqueira, o turismo rural ou ecológico, vem se desenvolvendo rapidamente nas
últimas duas décadas. Entretanto, grande parte das práticas dita de turismo “alternativo”
são, na realidade, modelos tradicionais de uso não-sustentável, que desconsideram os
impactos negativos sobre o meio ambiente ou sobre as unidades de conservação
existentes. Em alguns locais, a unidade de conservação é o principal atrativo turístico e
sofre uma pressão pela demanda crescente. Nesses casos configura-se um paradoxo, pois
a principal fonte de renda local (a unidade de conservação) é ameaçada pelos seus
principais beneficiários, que muitas vezes não têm uma visão clara sobre os danos
causados pela super exploração da unidade. A educação desses usuários e a negociação
permanente sobre os limites do uso sustentável são grandes desafios para a manutenção
da qualidade ambiental das unidades de conservação que se encontram sobre forte pressão
turística.

20
A região do Parque Estadual do Ibitipoca localiza-se hidrograficamente na região do Alto Rio
Grande e Alto Paraíba, no domínio da Serra da Mantiqueira. Nessa região, estão localizadas
as principais nascentes da bacia do rio Grande, que possui grande potencial hídrico,
refletido na presença de diversos rios de águas límpidas, cachoeiras e corredeiras, bastante
explorados pelo turismo. A localização estratégica do sul de Minas próxima a grandes
centros urbanos e a disponibilidade de uma malha viária relativamente bem conservada faz
com que o sul do Estado, bem como toda a região onde está localizado o Parque Estadual
do Ibitipoca, seja procurado como um dos pólos turísticos mais visitados do Estado.
O sul de Minas Gerais é uma das regiões economicamente mais dinâmicas do Estado, com
o segundo PIB (produto interno bruto) estadual, perdendo somente para a região Central
(Gomes, 2005). O Sul de Minas ocupa a primeira posição quando é analisado o PIB
agropecuário, um dos setores tradicionalmente mais dinâmicos da região. Por possuir uma
economia bastante diversificada, ocupa a terceira posição em relação ao PIB industrial e a
segunda, em relação ao PIB serviços (Mousinho, 2005). Entretanto, nos municípios mais
diretamente relacionados com o Parque Estadual do Ibitipoca, a participação do setor
agropecuário é menor, sendo que o turismo apresenta-se como um grande potencial. A
integração do Circuito Turístico de Ibitipoca aos demais circuitos do sul de Minas poderá
incrementar esse potencial.

No sul do Estado, onde o Parque Estadual do Ibitipoca está inserido, o relevo acidentado e a
grande amplitude altitudinal, com cotas altimétricas variando de 900 a 2.600 metros, deram
origem a um gradiente de comunidades naturais que se alternam entre as formações
vegetais da região, composta por um mosaico de diversas tipologias de florestas, Cerrado,
Campo Rupestre e Campo de Altitude.
O Parque Estadual do Ibitipoca é uma valiosa amostra da vegetação primitiva regional, pois
seus tipos fisionômicos principais, Candeial, Campo de Altitude, Campo Rupestre e Floresta
Estacional Semidecidual, encontram-se bem representados e preservados. Por este motivo
o Parque abriga uma notável diversidade de espécies de plantas, sendo algumas
endêmicas, em uma faixa territorial, relativamente pequena.

21
O Candeial, muito comum na região, é uma formação florestal com árvores de baixa
estatura (6 a 12 m de altura), de troncos suberosos, com predominância de liquens e
bromeliáceas, que ocorre normalmente nas áreas de transição entre a floresta e as
formações mais abertas, particularmente o Campo de Altitude. Seu nome deriva da espécie
predominante, a candeia (Eremanthus erythropappus), espécie típica de regiões de maiores
altitudes na região sudeste do Brasil. O Candeial ocorre, em geral, nos locais onde os solos
tornam-se gradualmente mais rasos, limitando o desenvolvimento da floresta. Na realidade,
o Candeial é considerado por alguns autores como uma faciação florestal do Campo
Rupestre uma vez que nessas fisionomias abertas a candeia também é comum como
árvore.
A formação vegetal predominante no sul do Estado é a Floresta Estacional Semidecidual,
que é também a tipologia que sofreu as mais fortes alterações em Minas Gerais. A Floresta
Ombrófila Mista, contendo exemplares de Araucaria angustifolia em grande número, se
apresenta em pequenas manchas, como disjunções florística da serra da Mantiqueira (Valor
Natural, 2003). A Floresta Ombrófila Densa ocorre do lado mineiro do maciço do Itatiaia. Por
fim, nas maiores altitudes e em solos rasos e pedregosos, ocorrem os Campos de Altitude,
característicos da Mantiqueira, com sua vegetação rala e baixa, mas com um número
significativo de espécies endêmicas (Valor Natural, 2003). Podem ser encontradas, ainda,
áreas com vegetação hidromórfica, além das formações antrópicas.
A terminologia estacional é uma condição das comunidades vegetais, cujo comportamento
fenológico (tocante à queda de folhas e brotação) está vinculado a mudanças nas condições
climáticas, ou seja, dois ciclos anuais bem distintos, um quente e chuvoso e outro frio e seco
(BRASIL, 2004). O conceito de semideciduidade refere-se à qualidade de determinadas
comunidades vegetais, em que de 20 a 50% de seus indivíduos, perdem parcialmente ou
totalmente suas folhas, por um determinado período de tempo, em resposta a condições
climáticas desfavoráveis, em geral períodos secos e frios (Brasil, 2004).
Em ambientes localizados em altitudes acima de 500 m, ocorre a Floresta Estacional
Semidecidual Montana, relativa a ecossistemas vegetais estruturados, onde a
estacionalidade climática, assegura uma semidecidualidade de alguns indivíduos arbóreos,
como uma forma adaptativa a condições adversas. As Florestas Estacionais Semideciduais
Montana, caracterizam-se por apresentar um percentual de caducifolia em torno de 20 a
50% e estão relacionadas com um clima tropical de altitude com duas estações anuais bem
definidas, uma chuvosa no verão e outra seca no inverno (Veloso et al., 1991). Esse tipo de
formação ocorre principalmente na face interiorana da serra dos Órgãos, no Estado do Rio
de Janeiro e na serra da Mantiqueira nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, ocupando
pequenas áreas em altitudes superiores a 500 m (Veloso et al., 1991).

A região sob estudo situa-se na Zona da Mata Mineira, de acordo com a classificação
adotada pelo Governo do Estado, mostrada na Figura 3.1 a seguir. No contexto da história
mineira, a Zona da Mata teve importante papel em distintas épocas, desde a colônia até
meados do século XX, primeiro com a exploração minerária e depois com a atividade
cafeeira.
Antes da chegada das bandeiras luso-brasileiras na área, por volta da primeira metade do
século XVIII, a região era habitada por ameríndios das tribos Puris, Coroados e Coropós.
Como é sabido, as bandeiras tinham como principais objetivos o aprisionamento de

22
Figura 3.1 – Macrorregiões de planejamento de Minas Gerais, segundo o Governo do
Estado de Minas Gerais.

indígenas para trabalhar nas fazendas de café da Capitania do Rio de Janeiro, além da
exploração de riquezas minerais – ouro e pedras preciosas. Entretanto, também
aproveitavam para medir o potencial de exploração das riquezas vegetais, especialmente
plantas medicinais e madeiras de lei, abundantes na região.
Foi no início do século XVIII que Minas Gerais vivenciou o maior crescimento de cidades,
em conseqüência da ampliação da mineração, de ouro e pedras preciosas, em diferentes
partes do Estado.
A produção era de tal maneira relevante que por volta do ano de 1703, construiu-se mais
uma rota ligando a região das minas ao Rio de Janeiro, facilitando o transporte dos minerais
extraídos. Tal rota, chamado de Caminho Novo, passava pela Zona da Mata Mineira e
contribuiu para o desbravamento e povoamento do território, antes formado por mata
fechada e habitada somente pelos indígenas.
De acordo com Mattos1/, até os idos de 1780, a região da Zona da Mata não havia merecido
nenhuma atenção especial para seu aproveitamento, por parte do governo geral,
principalmente porque não haviam aparecido indícios de ouro em suas matas. A própria

1/
MATTOS, Egberto. Além Paraíba na história da Capitania de Minas Gerais. In: SEBRAE/AeM Consultores
Associados Ltda. Diagnóstico Municipal de Além Paraíba, Rio de Janeiro, s.e., 1983 (mimeo).

23
conservação da floresta também era desejável, servindo como anteparo à saída ilegal das
riquezas das Minas Gerais. Devido a tal fato, a região era denominada de Áreas Proibidas.
O desbravamento e povoamento do território eram prioridades da Coroa na região, que
passou então a distribuir terras, sesmarias, que deram então origens a várias fazendas e
localidades. Estas fazendas sofreram influência da grande expansão cafeeira do Vale do Rio
Paraíba, na Província do Rio de Janeiro, transformando posteriormente a Zona da Mata em
referência na atividade. Nesse sentido, destacaram-se as cidades de Leopoldina,
Cataguases, Rio Preto e Juiz de Fora, essa última local onde se concentrava a produção
das fazendas para ser transportada e comercializada na Corte, cidade do Rio de Janeiro.
Paulatinamente a produção de café foi avançando sobre as matas nativas, reduzindo
aquelas que deram o nome inicial à área. Com grande número de escravos em cada
fazenda, a história local registra que em 1872 havia na Vila de Santo Antônio do Paraibuna
(atual Juiz de Fora) um total de 18.775 escravos para 11.604 homens livres. A partir de
meados do século XIX, a região viu chegar os imigrantes, de diversos países, que
posteriormente viriam a substituir os escravos libertos nas plantações de café.
O rápido crescimento das lavouras cafeeiras sobre a Zona da Mata, a partir de 1830, é
diretamente relacionado ao declínio da exploração do ouro, principalmente na Área Central
do atual Estado de Minas Gerais. A decadência das Minas gerou um intenso fluxo
migratório, com dispersão da população por todo o território mineiro, ainda nas últimas
décadas do século XVIII.
A partir de 1830, o café passa a ser o principal produto de exportação de Minas, sendo que
a Zona da Mata apresentava condições favoráveis para seu cultivo, dadas pela
disponibilidade de vastas terras férteis e pela abundância de escravos dispensados pela
mineração.
Apesar das vantagens e crescimento relacionados, a atividade cafeeira estava submetida
aos grupos relacionados ao beneficiamento e comercialização do café, externos à região.
Ademais, os estudos mostram que Minas Gerais nunca chegou a ser o primeiro Estado na
produção cafeeira do Brasil, estando sempre abaixo do Estado do Rio de Janeiro e mesmo
de São Paulo. Por outro lado, foi na Zona da Mata que se concentraram as principais
atividades industriais do Estado, com destaque para os ramos têxteis e alimentícios
(laticínios e açúcar), em especial na primeira metade do Século XX. Nessa época a cidade
de Juiz de Fora, que liderava como maior centro metropolitano da região chegou a ser
conhecida como a "Manchester Brasileira".
De acordo com estudos historiográficos, foi nessa mesma época que a prosperidade da
atividade cafeeira na Zona da Mata começou a declinar, enfraquecida também pela
superprodução de café no Brasil e a baixa dos preços do produto no mercado internacional.
Como forma de reverter esse quadro, prejudicial a todo o País, em 1931 o Conselho
Nacional do Café indicou a destruição de volumes excedentes e a proibição do plantio de
novos cafeeiros em todo o País.
Em 1962 foi iniciado o Programa de Erradicação de Cafeeiros Improdutivos, que destruiu
milhões de pés em todo o País até agosto de 1967, liberando grandes áreas para
implantação de culturas substitutivas. O maior impacto da política de erradicação em Minas
recaiu sobre a Zona da Mata, região que, como já comentado, apresentava um contexto de
terras agricultáveis desgastadas, com baixa produtividade e rentabilidade da atividade
cafeeira. Só nela foram erradicados 26 milhões de pés, representando 43% do Programa
em todo o Estado. Em decorrência da citada política, a região passou por um agravamento

24
de seus problemas de emprego e renda, em especial por não conseguir desenvolver
alternativas econômicas para ocupar a mão-de-obra liberada pela cafeicultura2/.
No caso específico da Zona da Mata, a proximidade com o Estado do Rio de Janeiro
também é um fator que afeta sua economia. Considerando que o Estado vizinho passou por
décadas de estagnação econômica, a região vem sendo afetada negativamente. Sabe-se
que o Rio de Janeiro veio perdendo presença no turismo nacional, nos últimos tempos, além
de que não desenvolveu um entorno agropecuário expressivo nem tem potencial para tanto.
Ademais, mostra dificuldades para atrair novas atividades industriais de porte,
principalmente devido ao chamado clima social.

OS MUNICÍPIOS DO ENTORNO DO PEIB

Apesar de atualmente fazerem parte da Zona da Mata, na classificação oficial, os municípios


do entorno do PEIB tem sua história muito próxima da região denominada Campos das
Vertentes, em especial por terem origem na Comarca do Rio das Mortes, com sede em São
João Del Rei.
A Comarca do Rio das Mortes3/, era habitada pelos belicosos índios Cataguases, o que
retardou o acesso a suas riquezas. Só a partir de 1693 iniciou-se seu desbravamento
efetivo, com a descoberta de ouro de aluvião nas proximidades dos rios São Francisco,
Doce e das Velhas. A região também se constituiu em rota para contrabando de ouro no
século XVIII, por um caminho que a partir de São João Del Rei, passava por Santa Rita de
Ibitipoca, pela localidade chamada Rancharia, por Conceição de Ibitipoca, pela área do Rio
do Peixe (então Lima Duarte), prosseguindo para Rio Preto e Paraíba do Sul.
A Secretaria de Estado da Cultura traz algumas informações sobre a fundação dos
municípios do entorno do PEIB. Bias Fortes desenvolveu-se, segundo reza a tradição, em
um antigo esconderijo de escravos, motivo pelo qual a povoação recém-surgida recebeu o
nome de "Quilombo". Foi elevado a município em 17 de dezembro de 1938. Posteriormente,
deu origem a Santa Rita de Ibitipoca, conforme os registros mostram.
O Plano Diretor de Conceição de Ibitipoca, elaborado pela Fundação João Pinheiro, traz
informações sobre a formação do município de Lima Duarte. De acordo com esta fonte: o
território do hoje município de Lima Duarte pertenceu no início de seu povoamento à imensa
Comarca do Rio das Mortes, com sede em São João Del Rei. Em 1881, foi discutido na
Assembléia Provincial o projeto de criação do município, elevando o distrito à categoria de
vila e anexando-lhe as freguesias de Conceição de Ibitipoca e Santo Antônio da Olaria. A lei
de desmembramento de Barbacena foi assinada em 3 de outubro de 1881, mas a instalação
do município só se deu posteriormente em 29 de dezembro de 1884, na Vila do Rio do
Peixe, que nessa data passou à categoria de cidade com o nome de Lima Duarte.
A história da vila de Conceição do Ibitipoca indica que a região foi visita pelas bandeiras
desde o século XVII, havendo vestígios de construções bandeirantes no povoado.
Na sede do município de Lima Duarte, as principais manifestações são dadas pelo carnaval
de rua, Folias de Reis, Encontro de cavaleiros, em 4 de julho, Exposição agropecuária, em 7
de setembro e a Gincana cultural, em novembro. Também foram citados como importantes
um grupo de dança afro e quatro bandas de música.
Em Conceição do Ibitipoca, distrito de Lima Duarte, a população reclama da mudança dos
hábitos culturais, iniciada a partir dos anos de 1980, com a chegada do turismo ao Parque e
região. De acordo com entrevistados, a vinda dos turistas trouxe novas culturas, hábitos e

2/
SEBRAE/AeM Consultores Associados Ltda. Diagnóstico municipal de Além Paraíba.
3/
Informações retiradas do site <http://www.cidadeshistoricas.art.br> , em artigo de autoria de Cristina Ávila.

25
informações, parte delas positiva parte negativa. A principal queixa está justamente na
perda das tradições locais, a substituição das festividades religiosas por outras que não tem
eco na cultura regional. Como exemplos destas perdas foram citados a Reza das almas, na
quaresma; o terço de S. Gonçalves; e o Jongo, mutirão que se fazia na colheita e plantio do
feijão, com cantigas ritmadas pelo barulho das enxadas.
O povoado de Mogol, em Lima Duarte, tem duas datas culturais importantes, de acordo com
os entrevistados: N. S. dos Remédios e Senhor Bom Jesus, em julho ou agosto. Sua igreja,
que guarda a imagem antes instalada no Pico do Pião, é datada de 1917. Já no município
de Santa Rita do Ibitipoca, os informantes indicaram como manifestações culturais
relevantes à festa de Santa Rita, padroeira do município, no dia 22 de maio; o Congado, em
12 de outubro; o aniversário da cidade, em 3 de março e o desfile das escolas, em 7 de
setembro. No distrito de Bom Jesus do Vermelho, a comemoração mais tradicional é a Festa
do senhor Bom Jesus, que ocorre no segundo final de semana de julho, há mais de 50 anos.
Por fim, no povoado do Moreiras existe a Festa de São Sebastião, em 27 de agosto, com
missa e procissão. Na localidade de Várzea do Santo Antônio há a festa de Santo Antônio,
no dia 13 de junho, considerada uma das maiores e mais tradicionais do município, com
cerca de 50 anos de existência e uma grande fogueira, com cerca de 20 m de altura, que
atrai visitantes de toda a região.

O Parque Estadual do Ibitipoca situa-se, como já mencionado, na Zona da Mata Mineira, na


microrregião de Juiz de Fora. No ano 2000, segundo dados do IBGE, a área sob estudo
contava com população total de 23.947 habitantes, dos quais 15.708, em Lima Duarte
(65,6% do total), 4.392 em Bias Fortes e 3.847 em Santa Rita de Ibitipoca. Esse total
representava apenas 0,13% dos habitantes de Minas Gerais.
Toda a região do PEIB tem maior percentual de homens, em média 51% do total da
população, situação inversa à encontrada no perfil de gênero de Minas Gerais, onde as
mulheres têm predomínio estatístico.
No que se refere às taxas de urbanização, a região também apresenta situação bem
diferente daquela apurada na média estadual. Enquanto em Minas Gerais, seguindo a
tendência verificada em todo o país nas últimas décadas, 82% da população reside em
zonas urbanas, na média da região sob estudo essa taxa cai para 63%.
Alguns municípios, inclusive, apresentam altas taxas de população residente na zona rural,
como é o caso de Bias Fortes (62%) e de Santa Rita de Ibitipoca (44%).
Considerando sua importância para o manejo do Parque, chama-se a atenção para
Conceição do Ibitipoca, distrito de Lima Duarte, que em 2000 tinha 258 domicílios e
população total residente de 930 pessoas.
Outro distrito relevante para a análise é Bom Jesus do Vermelho, município de Santa Rita
de Ibitipoca, com total de 148 domicílios e 549 habitantes na época do último Censo
Demográfico do IBGE.
É importante realçar que a região sob estudo apresentou, entre 1991 e 2000, taxas de
crescimento demográfico muito inferior à média mineira, o que pode indicar que os
municípios do entorno do PEIB vem sofrendo estagnação e mesmo desaceleração de seu

26
crescimento. Bias Fortes e Santa Rita de Ibitipoca, inclusive, tiveram taxas de crescimento
negativo nesse período, ainda que tenha havido crescimento da população urbana.
Esta tendência à estagnação foi confirmada nas entrevistas qualitativas com as lideranças
locais, que citaram sistematicamente a desaceleração das atividades econômicas e a falta
de oportunidades de emprego para jovens e adultos, contribuindo para o êxodo da
população, especialmente na zona rural.
Estimativas do IBGE para 2005 indicam uma população total de 24.191 pessoas na região
do entorno do PEIB, com pequeno crescimento no município de Lima Duarte e continuidade
do processo de decréscimo populacional em Bias Fortes e Santa Rita de Ibitipoca.
No que se refere à faixa etária da população, é possível perceber que a população da região
do PEIB, em comparação com Minas Gerais, apresenta maior incidência de pessoas nas
faixas etárias acima de 40 anos, incluindo idosos, não havendo diferenças significativas
entre os municípios.

Os dados secundários coletados e as entrevistas qualitativas realizadas junto às lideranças


locais apontaram que os municípios da região apresentam diferenças significativas em
termos das principais atividades econômicas e perfil empresarial encontrado.
Em linhas gerais, é possível afirmar que a atividade agropecuária sempre foi o sustentáculo
financeiro de grande parte do entorno, em especial considerando seu perfil majoritariamente
rural. Como se verá adiante, as atividades primárias da região são desenvolvidas em
pequenos estabelecimentos, sem uso de tecnologia e maquinário, com sistema de produção
familiar e voltado praticamente para a subsistência.
Ademais, as entrevistas com lideranças apontaram para a desaceleração do setor primário,
com a desativação de grande parte das lavouras e redução dos rebanhos bovinos, tanto
para corte quanto para leite, tradição regional.
Ainda assim, os dados do IBGE para o ano 2000 mostram que o setor primário é o que mais
ocupa mão-de-obra, respondendo por 59% da população ocupada de Bias Fortes, 35% da
de Lima Duarte e 58% da de Santa Rita de Ibitipoca.
A seguir, serão apresentadas algumas informações secundárias a respeito da agropecuária
regional, a partir de dados do IBGE, para que se possa ter uma visão mais clara da situação
encontrada. Vale destacar, entretanto, que alguns dados são relativos ao Censo
Agropecuário, que teve sua última edição em 1996, apresentando-se, portanto, bastante
defasados, mas únicos disponíveis para consulta.
A estrutura fundiária dos municípios da região do PEIB, em comparação com o perfil mineiro
aponta um predomínio dos pequenos estabelecimentos agrícolas na região, sendo a faixa
predominante aquela entre 10 e 100 hectares, que representam em média 66% do total de
propriedades.
Dos três municípios, Lima Duarte é o que apresentam estabelecimentos um pouco maiores,
registrando-se 20% entre 100 e 200 ha e 9% acima de 200 ha.
É importante realçar que tal perfil deve ter se alterado nos últimos anos, principalmente pela
compra de pequenas propriedades rurais no entorno do PEIB pela empresa UeM, formando
uma grande área contígua de preservação ambiental.

27
Em 1996, além de serem de pequeno porte, os estabelecimentos agrícolas do entorno do
PEIB trabalhavam de maneira totalmente rudimentar, sem uso de tecnologia, maquinário ou
técnicas de manejo e cultivo adequadas.
É possível confirmar, a partir destes dados, que os estabelecimentos rurais dos municípios
do entorno do Parque praticamente não fazem uso de maquinário, à exceção de alguns
poucos em Lima Duarte.
Quanto ao manejo e uso de tecnologias, não há prática de uso de assistência técnica,
irrigação, terraceamento ou cultivo em curva de nível, situando-se todos os indicadores em
níveis muito abaixo dos de Minas Gerais.
Por outro lado, é mais abundante na região o uso de adubos, químicos ou orgânicos, bem
como o uso de defensivos para controle de pragas e doenças, esses últimos usados, em
média, em 91% das propriedades.
Na região sob estudo, vê-se que é bem pequena a produção de lavouras permanentes,
praticamente insignificantes do ponto de vista comercial. As lavouras temporárias têm como
culturas mais significativas o milho e o feijão, sendo Lima Duarte o município com maior
produção e maior área plantada. A atualização dos dados para 2004 mostra que houve
pequena alteração na área plantada e produção total.
As entrevistas com lideranças indicaram que os principais produtos agropecuários do
município de Lima Duarte é o leite, favorecido pelo beneficiamento local, em vários
laticínios, como MB, Serra Negra e Sabor da Serra, entre outros.
Em Conceição do Ibitipoca, também o leite é o principal produto, seguido de milho e feijão
em pequena escala, voltados para a subsistência. Foi citada a atividade da piscicultura
como potencial em fase de expansão na região.
O leite produzido em toda a região é recolhido por caminhões e tanques de resfriamento, e
comercializado junto à cooperativa de Lima Duarte ou diretamente nas fábricas e laticínios.
Também se registra a comercialização em laticínios de Bias Fortes e Santa Rita de Ibitipoca.
A produção de hortigranjeiros é insignificante, sendo mencionado por entrevistados da área
de turismo a necessidade de adquirir estes gêneros na CEASA de Juiz de Fora. A situação
do município de Santa Rita do Ibitipoca é semelhante, com produção de leite comercializado
nos laticínios da região, ladeado por uma agricultura de subsistência. Bias Fortes apresenta
produção de feijão, milho e cana-de-açúcar, todos voltados para consumo próprio ou apoio à
pecuária. Da mesma forma que os outros dois municípios, o principal produto local é o leite,
comercializado na região e em Juiz de Fora. Vale acrescentar que a falta de diversificação
da pauta produtiva regional também é um problema que contribui para a baixa lucratividade.
De acordo com os informantes-chave, o leite é o principal produto de toda a região,
aumentando a concorrência e a dependência das grandes empresas do ramo.
Uma atividade que parece vir ganhando corpo na região é a silvicultura, com crescimento de
áreas plantadas nos municípios vizinhos ao PEIB. O principal produto na região é o carvão
vegetal e o município com maior quantidade produzida é Bias Fortes.
Como se vê, do total de 798 empresas cadastradas, 77% estão localizadas em Lima Duarte,
15,6% em Bias Fortes e os 7% restantes em Santa Rita do Ibitipoca. Os dados mostram que
todas as cidades estudadas têm como atividades principais o comércio e a prestação de
serviços, perfil típico de áreas urbanas, nas sedes municipais. Entretanto, diferenciam-se no
que se refere ao porte das empresas, bem como em relação à presença de atividades
industriais e ao desempenho do setor primário da economia.
Enquanto em Lima Duarte as empresas de alojamento e alimentação ocupam a segunda
posição quantitativa, seguidas das indústrias de transformação. Em Bias Fortes destacam-
se os outros serviços coletivos, sociais e pessoais, em segundo lugar. Já em Santa Rita de

28
Ibitipoca os estabelecimentos de transporte, armazenagem e alimentação são os destaques.
Somando-se as três cidades, as 798 empresas cadastradas empregavam juntas, 1.809
pessoas, das quais 822 assalariadas. O setor que mais emprega na região é, de fato, o de
comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos, com 40% do
total de postos de trabalho. Em segundo lugar vêm as indústrias de transformação, com
20%.
Em relação às atividades industriais, predominam na região a pequena indústria caseira,
especialmente dos ramos alimentícios. Outros ramos, como a olaria em Lima Duarte, vem
mostrando retração, com fechamento de unidades industriais. Especificamente em Lima
Duarte, os laticínios se configuram como o principal ramo industrial em atividade, tendo sido
citada também a produção de doces, fábrica de pré-moldados e serraria para
beneficiamento de eucalipto.
O Distrito de Conceição do Ibitipoca tem pequena produção, também voltada para os
alimentos caseiros, como licores, cachaça, doces e pães, com destaque para o tradicional
pão de canela. Também há um produtor de artesanato em madeira, que trouxe da região de
Prados a arte de esculpir animais. O artesanato em tear e trabalhos com esteiras, madeira
e tecelagem, que já foram importantes na região, parece ter perdido força e tradição.
Entretanto, há um grupo chamado Meninas de Ibitipoca que produz tear, crochê, fuxico e
quitandas em geral. Em Santa Rita do Ibitipoca e em Bias Fortes foi citado pelos
entrevistados apenas o beneficiamento dos derivados do leite como atividade industrial.
De um lado há Lima Duarte e Conceição do Ibitipoca, com maior desenvolvimento das
atividades comerciais e de apoio ao turismo. De outro, Santa Rita de Ibitipoca e Bias Fortes,
com comércio mais voltado ao atendimento da população local e baixa capacidade de
polarização. O distrito de Conceição do Ibitipoca é uma exceção no panorama regional, em
virtude de sua proximidade com o PEIB, tendo desenvolvido as atividades de apoio e
suporte ao turismo. Nesse sentido, apresenta pousadas, bares, restaurantes, lojas, serviços
de transporte, além de prestadores de serviço diversos, como pedreiros, caseiros,
faxineiras, jardineiros, carpinteiros, condutores ambientais etc.

Na região da Mantiqueira encontram-se cerca de 20% dos remanescentes de Mata Atlântica


de Minas Gerais. Entretanto, grande parte desses remanescentes é composta por ilhas de
florestas em uma matriz de propriedades rurais de pequeno porte. No entorno do Parque
Estadual do Ibitipoca esse modelo de ocupação se repete, sendo que quase 6.000 ha do
entorno mapeado é representado por pastagens (Tabela 3.1), e os aproximadamente
3.000 ha de Floresta estacional Semidecidual se apresentam na forma de pequenos
fragmentos e com alto grau de isolamento.
De uma maneira geral, o pequeno tamanho das propriedades tem justificado as críticas de
que a conservação dos remanescentes florestais poderá gerar impactos negativos na renda
dos pequenos produtores rurais e, conseqüentemente, na economia local. Para viabilizar a
conservação e ampliar a conectividade dos fragmentos remanescentes será necessário
estabelecer usos da terra compatíveis com a conservação e o desenvolvimento social e
econômico, além de urgentemente se criar mecanismos de incentivo financeiro para o
pequeno produtor rural manter a sua floresta intacta.

Nos últimos anos o turismo rural e ecológico vem sendo apontado como uma das
alternativas para as regiões menos densamente ocupadas, com uma economia pouco
desenvolvida. Entretanto, em quase toda região da Mantiqueira a capacitação para o setor e

29
o seu planejamento são deficitários. Para o Parque Estadual do Ibitipoca, a pressão advinda
da visitação turística (37 mil pessoas em 1997; 800 pessoas por final de semana) é uma das
principais ameaças. A localização do Parque, em um ponto relativamente próximo a grandes
centros urbanos, faz supor que essa pressão tenderá a aumentar ao longo dos anos,
principalmente à medida que a infra-estrutura local, como as estradas de acesso, melhorar.

Tabela 3.1 – Distribuição das tipologias vegetacionais na região do entorno (zona de


amortecimento) do Parque Estadual do Ibitipoca (PEIB), Minas Gerais

Tipologia Área (ha) Porcentagem (%)


Areial 162,00 1,62
Campo Rupestre 276,19 2,76
Campo Cerrado 547,69 5,48
Floresta Estacional Semidecidual 2.996,38 29,97
Floresta Ombrófila Densa 17,92 0,18
Pastagem/Agropecuária 5.998,00 59,99
Total 9.999,00 100%

Outro setor que tem apresentado um aquecimento nas regiões que ainda detém paisagens
naturais bem conservadas, como é o caso da Mantiqueira, é o imobiliário. No entorno do
Parque Estadual do Ibitipoca é possível observar a recente expansão da ocupação sobre as
áreas nativas, principalmente no sul do Parque em direção à Vila de Conceição de Ibitipoca.
Considerando o tamanho do Parque, pequeno para manter populações viáveis em longo
prazo de algumas espécies, é urgente adotar as medidas apontadas nesse plano de
manejo. Um delas refere-se a ações para conservar e aumentar a conectividade entre as
matas do entorno e as do interior do Parque. As matas externas ao parque, mais próximas
de seus limites, são florestas ombrófilas densas em bom estado de preservação, com
diversas conexões com as florestas do Parque. A conservação dessas conexões deve ser
uma das prioridades do manejo do Parque e alvo de atenção permanente por parte do IEF.
No entorno do Parque existem, ainda, algumas áreas de arenização (1,62% do entorno
mapeado), conseqüência das características do solo e do manejo inadequado,
principalmente por desmatamento e fogo. A fragilidade dos solos da região obriga a adoção
de uma pecuária menos impactante, inclusive com a supressão total do fogo como uma
forma de manejo das pastagens e a conservação da cobertura nativa, principalmente nas
áreas mais íngremes e áreas de preservação permanente (APP).
A partir de todos os dados levantados e elementos identificados ao longo do diagnóstico de
socioeconomia, foi possível mapear as principais áreas de pressão antrópica sobre o PEIB,
bem como traçar tendências de futuro para estas regiões.
Na reunião participativa com a comunidade, foram construídos em grupos os mapas de
pressão da área, identificando sua localização aproximada e tipo de pressão antrópica
ocorrente. A seguir, é apresentado o resultado consolidado das principais pressões internas
e externas do PEIB (Figura 3.2).
As principais áreas de pressão apontadas pelas lideranças foram: o distrito de Conceição do
Ibitipoca e todo o lado oeste do parque, considerando também as localidades de Rancharia,
Santana do Garambéu e Moreiras. Nessa região, as principais pressões relacionam-se ao
uso do fogo, falta de saneamento básico, turismo desordenado, caça, coleta de recursos
naturais e expansão urbana. A violência também foi mencionada, principalmente

30
relacionada às épocas de feriado e visitação intensa, conforme registros de ocorrências no
posto policial de Conceição do Ibitipoca.

Legenda ícones

Figura 3.2 – Mapa das pressões antrópicas do Parque Estadual do Ibitipoca (PEIB),
elaborado a partir da oficina participativa junto às comunidades do entorno do
PEIB, realizada durante a elaboração do Plano de Manejo do Parque.

31
Os principais problemas e pressões identificadas no entorno no Parque do Ibitipoca são os
seguintes:
1) Pressão urbana, principalmente em função do crescimento de Conceição de
Ibitipoca;
2) Precariedade das alternativas econômicas na maioria do entorno – especialmente
nos municípios de Bias Fortes e Santa Rita de Ibitipoca, onde predomina a agricultura de
subsistência, a topografia é desfavorável e não há benefícios advindos do turismo;
3) perda de tradições culturais com a vinda do turismo;
4) inexistência de relacionamento mais próximo parque / comunidades;
5) registro de desaceleração da atividade industrial na região nos últimos anos;
6) precariedade dos acessos aos povoados e distritos;
7) ausência de saneamento básico em toda a região – médias abaixo de Minas
Gerais;
8) lixo em todo o entorno, especialmente nas áreas de turismo intensivo;
9) iadequação e precariedade dos equipamentos públicos, na maioria das
localidades, ou sobrecarga dos existentes (caso de Conceição do Ibitipoca);
10) ausência de infra-estrutura de apoio e visitação em Bias Fortes e Santa Rita de
Ibitipoca;
11) caça em todo o entorno – citados paca, tatu, capivara;
12) coleta de bromélias e outras plantas – no parque e no entorno;
13) violência – citados roubos em Conceição do Ibitipoca, brigas em feriados e
comercialização e uso de drogas;
14) monocultura de eucalipto em crescimento no entorno, em direção a Santana do
Garambéu; e
15) presença de animais domésticos no parque e Conceição do Ibitipoca.
Considerando aspectos como as tendências demográficas e sociais identificadas na área
sob estudo, as taxas de crescimento populacional e a dinâmica econômica atual, é possível
que a região do PEIB possa viver, nos próximos 5 ou 10 anos, um aumento da pressão
urbana, já sendo registrados novos parcelamentos nas proximidades de Conceição de
Ibitipoca. Nesse processo estão incluídos os povoados de Rancharia, Moreiras e Mogol.
Ademais, outras tendências verificadas prometem ampliar a pressão futura sobre o PEIB,
notadamente:
1) Intensificação do êxodo rural pela venda de pequenas propriedades no entorno do
parque, com reflexos sobre as atividades econômicas rurais;
2) Aumento da demanda e incremento do turismo no parque e entorno, com suas
conseqüências e impacto sobre a infra-estrutura instalada, serviços públicos e
transformações na cultura e tradições locais.

32
Tal situação pode ser agravada pela inexistência de instrumentos de planejamento e
ordenação urbana eficientes nos municípios estudados, notadamente os planos diretores
urbanos e leis de uso e ocupação do solo.
Essa falta de legislação específica e sua ineficiente fiscalização têm conseqüências diretas
e imediatas na qualidade de vida da população da região, uma vez que torna permissível, ao
não coibir, as ocupações irregulares ou superestimadas de terrenos, sem a adequada infra-
estrutura e atendimento de serviços sociais.
Outro aspecto importante a ser considerado é a necessidade de maior presença do IEF na
região do entorno do parque por meio de parcerias e programas junto às comunidades que,
além de integrar as ações locais com os objetivos da unidade, poderiam tornar mais
participativo e efetivo o processo de cooperação minimizando a intensidade das pressões da
região sobre o PEIB.
Por fim, vale considerar que pode se acentuar na região, a reboque do processo instalado
no país e agravado nas grandes capitais e regiões de maior urbanização, o aumento da
violência e a extensão da criminalidade.
É dentro deste cenário que se coloca a implantação do Plano de Manejo do PEIB.
Localizado em área de confluência de três municípios, com perfis e realidade econômica
diferenciadas, com pressão do turismo de massa em Conceição do Ibitipoca e sem
atendimento adequado de saneamento no entorno. A Gerência do Parque Estadual do
Ibitipoca deve estar bem atenta para as possibilidades e desafios que podem ser
apresentados em médio prazo.

A pesquisa junto às lideranças locais buscou identificar a visão da comunidade sobre o PEIB
e a utilização do parque pela população, bem como relacionamento com sua administração.
Em primeiro lugar, tentou-se captar qual é o sentimento dos entrevistados em relação ao
Parque. Para tanto, solicitou-se que utilizassem apenas uma palavra para defini-lo. Foi
possível perceber que o sentimento predominante é extremamente positivo, ainda que
romantizado.
A tônica dos atributos citados é a beleza cênica, sendo o PEIB visto como local de
preservação da vida e liberdade. Algumas palavras ilustrativas ditas pelos entrevistados
foram: “amor à primeira vista”, “beleza”, “exuberância”, “ímpar”, “maravilhoso”, “mistério”,
“poder”, “salvação”, “templo” e “tranqüilidade”.
A primeira visão é, então, extremamente positiva, relacionada a seus aspectos naturais. Ao
se aprofundar nessas visões, entretanto, percebe-se que há diferenças entre os
entrevistados. Por um lado há aqueles que vêem o parque como salvação econômica da
região e, por outro, há aqueles que desconhecem sua realidade ou não tem opinião formada
sobre a unidade.
O maior contato com o PEIB, com mais conhecimento e também uma visão mais positiva
são encontrados no município de Lima Duarte e distrito de Conceição de Ibitipoca. A própria
proximidade com a portaria e os benefícios advindos do turismo são os responsáveis por
essa situação.

33
Nos demais municípios, as lideranças revelaram pouco conhecimento do parque, reforçadas
pela distância e dificuldades de acesso. De acordo com os entrevistados, os demais
municípios e povoados usufruem pouco do Parque em si, bem como de seus benefícios:
quase não recebem turistas e renda relacionados à visitação e ficam distantes da portaria,
sem acesso oficial e direto ao PEIB.
Muitos consideram que o parque é para os de fora, os turistas e “forasteiros” e não para a
população do entorno, os chamados “nativos”. O fato de se cobrar ingressos para a entrada
no Parque reforça essa visão, especialmente porque a entrada livre para a comunidade se
dá apenas nos dias de semana, quando estão trabalhando.
Os informantes disseram que a utilização do PEIB é dada quase que só entre os mais
jovens da comunidade, principalmente para lazer e caminhadas. Os mais velhos vão à Festa
do Cruzeiro / Santa Cruz, em 3 de maio, comemoração religiosa tradicional na região.
Além de não freqüentar o parque, vários entrevistados, também não tem conhecimento dos
problemas vividos pelo PEIB. Entre os que acompanham a questão, foram citados
problemas como: caça, falta de estrutura física e humana, turismo desordenado, acessos
precários, degradação devido ao excessivo número de visitantes, falta de educação do
público, falta do plano de manejo, falta de integração parque-entorno-comunidade, falta de
guias, lixo, inexistência de material de apoio como mapas, folders, sacolas para lixo, fogo,
topografia – fragilidade devido ao solo arenoso e trilhas – dificuldades de contenção e
manutenção.
Ao serem questionados a respeito do relacionamento da comunidade e suas entidades com
a administração do parque os entrevistados consideram que é pequeno o relacionamento,
tanto com os poderes públicos dos três municípios quanto com entidades, empresariado e
população em geral. O IEF é visto como uma instituição punitiva e pouco integrada com seu
entorno.
As lideranças ouvidas citam conflitos de interesses, tanto com os empresários da área de
turismo quanto com produtores rurais, pelas próprias necessidades de preservação da UC.
Apesar das queixas, as lideranças consideram que as relações estão melhorando.
Quanto ao relacionamento com visitantes, os entrevistados mencionaram que no passado
houve conflitos, por causa do choque cultural, mas que hoje está sendo superado. Aqueles
que trabalham com o turismo têm renda e bom relacionamento com os visitantes, ao passo
que, os demais, reclamam de incômodos como barulho, trânsito excessivo, baderna, uso de
drogas e lixo, notadamente no distrito de Conceição do Ibitipoca.
No caso das outras localidades pesquisadas, praticamente não há relacionamento com
visitantes, devido às distâncias e acessos precários, comuns em toda a região. Nas palavras
de um dos entrevistados: “Não tem relacionamento com os visitantes do Parque. Mogol está
a cerca de 40 km do Parque e a estrada é bem precária. Alguns poucos vêm conhecer a
igreja e a cachoeira que fica a 500 m do povoado. Às vezes nem passam pelo povoado para
ir à cachoeira”.
Buscou-se também saber dos entrevistados sua opinião a respeito dos benefícios que o
PEIB traz para a comunidade. À exceção das lideranças de Lima Duarte e Conceição de
Ibitipoca, os entrevistados dos demais municípios consideram que não há benefícios, pelos
motivos já mencionados. Entre os que consideram haver algum, foram citadas a geração de
renda advinda do turismo, da oferta de postos de trabalho no próprio PEIB e da obtenção de
benefícios para o município com a utilização do Parque, como a energia elétrica e o
calçamento da estrada.
Perguntados a respeito de sua visão sobre para que serve o parque nos dias atuais,
responderam que serve para preservação da flora e da fauna, em primeiro lugar, e visitação/

34
turismo, em segundo. A atividade de lazer também foi citada, além da utilização do parque
para pesquisas.

Visando a plena efetivação da UC, faz-se necessária à criação de alternativas que busquem
sua sustentabilidade, bem como a do entorno, procurando desvincular seu desenvolvimento
econômico e social à demanda de visitantes criada com a Unidade de Conservação,
evitando assim uma situação de dependência e criando outras frentes de desenvolvimento.
Entretanto, um dos maiores desafios encarados com a instituição de uma Unidade de
Conservação trata-se exatamente da junção dos objetivos da UC, geralmente
preservacionistas, e dos moradores do entorno, geralmente econômicos. Salvo exceções, o
processo de abertura da UC à visitação, ocorre em conformidade com os anseios da
comunidade e da instituição. Nestes casos específicos, o sentimento preservacionista passa
a ser coletivo na população, atingindo todos os atores envolvidos e gerando frutos
produtivos na sociedade. Ele cresce aliado ao sentimento de cidadania, de pertencimento
dos moradores locais. Neste estágio, observam-se práticas preservacionistas, idealizadas e
formatadas pela população, onde estas passam a gerar renda e propiciam uma melhor
qualidade de vida aos envolvidos. È possível aliar conservação e exploração econômica! O
turismo está aí para isso!
A gestão da Unidade de Conservação, na tentativa de criar e, ou, formatar alternativas de
desenvolvimento, depara-se com várias dificuldades no processo de concepção, como o
desinteresse da comunidade local, despreparo técnico-profissional dos funcionários, falta de
conhecimento da população quanto às suas vocações e insuficiência de recursos
financeiros que propiciem o progresso dessas atividades.
Dessa forma, a Unidade de Conservação pode transformar-se num centro de atração e
dispersão de oportunidades, abarcando todos os setores da sociedade, ao buscar a injeção
de recursos financeiros na região e ao inserir a comunidade no processo de
desenvolvimento econômico, tornando-se um elo entre as duas vertentes. No entanto, este
processo precisa ser fruto de um trabalho coletivo, entre a Unidade de Conservação,
comunidade local e empreendedores.
Assim, o incentivo a novas alternativas que promovam o desenvolvimento, deve pulverizar
as iniciativas a toda região, priorizando atividades econômicas desvinculadas da UC.
A estratégia fundamental para o desenvolvimento de atividades econômicas que visem a
sustentabilidade na região do Parque e entorno seria a inserção de projetos/programas de
formação técnico-profissional, destinada aos moradores locais. Além disso, programas de
financiamento a projetos de implementação de equipamentos de apoio ao turismo e outras
atividades econômicas, voltadas exclusivamente à comunidade local devem ser ofertados.
Somente uma maior qualificação profissional dos moradores e oportunidades de
investimento proporcionará condições dos mesmos inserirem-se no mercado de trabalho
gerado com a atividade turística ou outras atividades econômicas. Ao contrário, além dos
investimentos financeiros partirem de empreendedores externos, a mão-de-obra necessária
ao suprimento dos empregos criados precisará ser importada de outras cidades ou grandes
centros urbanos, por ocasião da maior especialização e menor custo com o aprendizado.
A geração de emprego e a renda para as comunidades locais podem vir de forma direta, por
meio dos segmentos turísticos tradicionais, como hotel, pousadas e restaurantes, e também
de forma indireta, por meio da agricultura orgânica e fruticultura - cultivo de legumes,
verduras e frutas, proporcionando subsídio alimentar sem agrotóxicos aos empreendimentos

35
turísticos ligados à alimentação e iniciando um ramo direcionado à agricultura orgânica,
respeitando, no entanto, as condições e limites ambientais da região.
Os visitantes procuram, além da diversão e entretenimento, objetos que aprisionem
lembranças do local visitado sejam das paisagens, ou da cultura local, por meio do
artesanato, roupas, apresentações artísticas, etc.
Na comunidade de Conceição do Ibitipoca, por exemplo, já se inicia um processo de
desenvolvimento do artesanato, mostrando, assim, a organização dos moradores locais
objetivando o desenvolvimento de atividades econômicas. Um dos produtos utilizados no
artesanato local é a sempre-viva que é utilizada de forma não sustentável. A elaboração de
uma proposta de uso sustentável da planta e o desenvolvimento de novos produtos poderia
aliar conservação com melhoria da qualidade de vida.
O aumento da visitação no Parque pode gerar alternativas de desenvolvimento para as
comunidades do entorno, por meio do ecoturismo, turismo de aventura, arvorismo, turismo
cultural e histórico, paisagismo, dentre outros; sendo necessário, a priori, a capacitação
técnica dos agentes executores das atividades, isto é, os moradores locais, a fim de atuar
como condutores ambientais, preocupados com a preservação do Parque em sua zona de
amortecimento.

O PEIB localiza-se, em sua maior parte, no município de Lima Duarte, entretanto foi em seu
distrito, Conceição do Ibitipoca, que o Parque constituiu sua sede e em contrapartida, o
distrito permitiu-se desenvolver para abrigar a demanda turística criada.
Por muito tempo em fase de estagnação econômica, o distrito de Conceição de Ibitipoca, um
dos antigos povoados de Minas, que mesclam sua história com o ciclo do ouro, depois da
agricultura desfruta agora do turismo. Com poucas construções, Conceição do Ibitipoca vai
ganhando novos contornos estruturais, por meio de pousadas, restaurantes e pontos
comerciais, com fins de abarcar a demanda turística crescente.
O desenvolvimento que a visitação do PEIB propiciou ao distrito tornou-se preocupante pela
forma desordenada ocorrida, em especial, na ocupação do solo. No entanto, a comunidade
de Ibitipoca, percebendo os problemas acarretados pela falta de estruturação, começou a se
organizar, a fim de melhorar o atendimento ao turista, buscando, concomitantemente, a
preservação do acervo cultural e natural da região.
Os proprietários de pousadas e restaurantes já demonstravam estas preocupações quanto à
melhoria da qualidade do atendimento e conforto das pousadas (Fundação João Pinheiro,
2000), passando a reaplicar os recursos obtidos com a atividade turística na ampliação dos
serviços e estruturas de seus empreendimentos. Constatou-se também a inicial procura por
lugares mais afastados da Vila, de forma a proporcionar maior conforto aos hóspedes e
proporcionar maior liberdade nas construções.
Atualmente, é visível a tendência do surgimento de novos empreendimentos nas áreas do
entorno do Parque, tanto fora da zona urbana da Vila, como no interior da Vila por meio de
investimentos em serviços e lazer dos estabelecimentos de hospedagem (hotéis e
pousadas).
Constata-se, também, o aumento do número de restaurantes e atendimentos culinários nos
próprios meios de hospedagem, contudo ainda de forma inexpressiva, pois a Vila já
apresenta demanda que justifica a melhoria e expansão destes empreendimentos. Percebe-
se uma tendência à melhoria do tipo de público, de poder aquisitivo mais elevado e

36
interessado em qualidade de serviço, de produto e de atendimento (FUNDAÇÃO JOÃO
PINHEIRO, 2000). As informações dos empreendimentos turísticos localizados no entorno
do PEIB, destinados à hospedagem, foram reunidas no relatório sobre socioeconomia.

Na Tabela 3.2 estão listadas as principais leis e decretos federais que devem ser
considerados para a gestão e manejo de Parques no Brasil. Os aspectos de cada lei
relacionados com essa categoria de Unidade de Conservação podem ser consultados no
relatório técnico de Socioeconomia do Plano de Manejo do Parque Estadual do Ibitipoca
(PEIB).

Tabela 3.2 – Legislação federal pertinente as Unidades de Conservação

Instrumento Legal Resumo


o
Lei n 4.771/65 Institui o Código Florestal
o
Decreto n 24.643/34 Trata do Código de Águas
o
Lei n 5.197/67 Lei de Proteção à Fauna
Constituição Federal de 1988 Trata da proteção ao Meio ambiente no Artigo 225,
Capitulo VI do Meio Ambiente
o
Lei n 6.938/81 Política Nacional de Meio Ambiente
o
Lei n 9.433/97 (Política Nacional de Recursos Hídricos)
o
Lei n 9.605/98 Lei de Crimes Ambientais
o
Decreto n 3.179/99 Regulamenta a lei de crimes ambientais
o
Lei n 9.985/00 Lei do SNUC
o
Decreto n 4.340/02 Regulamenta o SNUC
o
Decreto n 4.339/02 Institui os princípios e diretrizes para a implementação da
Política Nacional de Biodiversidade.
o
Resolução CONAMA n 013/90 Licenciamento no entorno das unidades de conservação.

Já na Tabela 3.3, estão listadas as principais leis e decretos estaduais que devem ser
considerados para a gestão e manejo dos Parques mineiros. Da mesma forma como
aplicado para a legislação federal, os aspectos de cada lei relacionados com essa categoria
de Unidade de Conservação podem ser consultados no relatório técnico de Socioeconomia
do presente Plano de Manejo do PEIB.

37
Tabela 3.3 – Legislação estadual pertinente as Unidades de Conservação de Minas Gerais

Instrumento Legal Resumo


Constituição do Estado de Minas Gerais Constituição do Estado de Minas Gerais
Declara de interesse comum e de preservação
permanente os ecossistemas das Veredas do Vale do
o Rio São Francisco e dá outras providências.
Lei n 9.375, de 12 de dezembro de 1986 o
Parcialmente alterada pela Lei n 9.682, de 12 de
outubro de 1988, que enquadra as Veredas como
áreas de preservação permanente (APP).
o Dispõe sobre a política florestal no Estado de Minas
Lei n 10.561, de 27 de dezembro de 1991
Gerais
Dispõe sobre a relação de espécies ameaçadas de
o
Lei n 10.583, de 3 de janeiro de 1992 extinção de que trata o art. 214 da Constituição do
Estado e dá outras providências.
Cria a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e
o
Lei n 11.903, de 6 de setembro de 1995 Desenvolvimento Sustentável, altera a denominação
da Secretaria.
Dispõe sobre a distribuição da parcela de receita do
produto da arrecadação do ICMS pertencente aos
municípios, de que trata o inciso II do parágrafo único
o
Lei n 12.040, de 28 de dezembro de 1995 do art. 158 da Constituição Federal, e dá outras
o
providências, alterada pela Lei n 12.428, de 27 de
o
dezembro de 1996, revogada pela Lei n 13.803, de
27 de dezembro de 2000.
o Reorganização do Conselho Estadual de Política
Lei n 12.585/97
Ambiental – COPAM
o
Deliberação Normativa COPAM n 85, de 30 de .Aprova a Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção
outubro de 1997 da Flora do Estado de Minas Gerais.
Estabelece as diretrizes para a cooperação técnica e
o
Deliberação Normativa COPAM n 29, de 9 de administrativa com os órgãos municipais de meio
setembro de 1998 ambiente, visando ao licenciamento e à fiscalização
de atividades de impacto ambiental local.
o Dispõe sobre a Política Estadual de Recursos
Lei n 13.199, de 29 de janeiro de 1999
Hídricos
Dispõe sobre a distribuição da parcela da receita do
o
Lei n 13.803, de 27 de dezembro de 2000 produto da arrecadação do ICMS pertencente aos
municípios
Dispõe sobre a política de proteção à fauna e à flora
o
Lei n 14.181, de 17 de janeiro de 2002 aquáticas e de desenvolvimento da pesca e da
aqüicultura no Estado e dá outras providências
Lei nº 14.309/02 Política Florestal e de Proteção à Biodiversidade
Lei 14.368/02 Política Estadual de Desenvolvimento do Ecoturismo
Estabelece normas, diretrizes e critérios para nortear
o
Deliberação Normativa COPAM n 55, de 13 de a conservação da biodiversidade de Minas Gerais,
junho de 2002 com base no documento: "Biodiversidade em Minas
Gerais: Um Atlas para sua Conservação”
o Regulamenta a Reorganização do Conselho Estadual
Decreto n 43.278/04
de Política Ambiental – COPAM

38
O clima da Serra do Ibitipoca é classificado como tropical de altitude mesotérmico, com
inverno frio e seco e chuvas elevadas no verão. Apresenta temperaturas médias de 12 a
15 oC na época mais fria e entre 18 a 22 oC na época mais quente. Além disso, a
precipitação pluviométrica está em torno de 200 a 500 mm ao mês nos períodos chuvosos,
principalmente de novembro a março, e em média, menos de 20 mm ao mês na época seca,
chegando a menos de 6 mm ao mês (Rodela e Tarifa, 2002).
Na Serra do Ibitipoca a influência do relevo sobre o clima é muito importante, pois a altitude
e a topografia são diferenciadas. As cristas anticlinais da serra se sobressaem localmente
em relação às áreas vizinhas, originando também um clima diferenciado (Rodela e Tarifa,
2002). Na área do parque existem basicamente três compartimentos topoclimáticos com
diferenciação, principalmente, de precipitação pluviométrica, temperaturas e umidades
relativas do ar: i) arredores da serra, abaixo de aproximadamente 1.200 a 1.300 m de
altitude; ii) áreas entre as escarpas de anticlinais, com altitudes aproximadamente entre
1.350 a 1.500 m; iii) escarpas de anticlinais, sendo áreas mais elevadas da Serra, acima de
aproximadamente 1.500 a 1.550 m de altitude e em alguns casos até mais de 1.700 m de
altitude (Rodela e Tarifa, 2002).
Comparado com as áreas vizinhas, o Parque Estadual do Ibitipoca apresenta maiores
índices de umidade, pluviosidade e temperaturas mais baixas. Apesar da maior umidade
observada no Parque, o período seco na região tem três meses de duração (Fundação João
Pinheiro, 2000) e pode representar uma grande ameaça para a integridade dos ambientes
do parque, pois aumenta significativamente os riscos de incêndios no entorno do Parque.

39
A principal drenagem da Serra do Ibitipoca é o Rio do Peixe, cujo afluente Rio do Salto
nasce na Serra, dividindo-a em duas faces ou flancos escarpados (Figura 4.1A). Na Serra
do Ibitipoca existe uma grande quantidade de pequenos córregos e riachos, mas apenas os
rios do Salto e Vermelho apresentam volume razoável e parte de seus leitos dentro da área
do Parque.

A B

Fotos: C. Schaefer.

Figura 4.1 – Cânion do Rio do Salto (A), logo a jusante de suas cabeceiras, expondo os
paredões quartzíticos em ambos os flancos, e o Rio do Salto (B), próximo a
Ponte de Pedra, evidenciando a cor de chá decorrente de ácidos orgânicos e
compostos ferruginosos coloidais que carreia em suspensão.

O rio do Salto percorre todo o vale central da serra no sentido sul numa distância
aproximada de 5 km, formando um verdadeiro cânion de encaixamento, entre as cotas
altimétricas de 1.650 e 1.050 m, vertendo ao sul. O rio Vermelho percorre no sentido norte,
numa distância aproximada de 2 km dentro da área do parque, entre as cotas altimétricas de
1.700 e 1.500 m de altitude, vertendo a noroeste.
A hidrografia está condicionada por controle estrutural, com vales encaixados em vertentes
abruptas de exposições rochosas, inclusive no leito dos cursos d’água (Figura 4.1B). A rede
de drenagem é fortemente encaixada e forma muitos níveis de encaixamento Quaternários.
Cânions e ravinas profundas são extremamente comuns em todo o Parque Estadual do
Ibitipoca, e o próprio sistema de grutas e cavernas quartzíticas revela uma paleodrenagem
mais ativa, pretérita, em níveis diferentes.
A rede de drenagem na Serra do Ibitipoca formou-se por controle estrutural da rocha e
relevo sendo, portanto, controlada principalmente pelas falhas e fraturas de direção NE-SW
(Correa Neto et al., 1993), enquanto os rios tributários apresentam direção ortogonal NW-SE
ou E-W. A drenagem da serra apresenta padrão em treliça, sob forte controle estrutural em

40
alguns trechos, evidenciado pelo traçado retilíneo e bruscas mudanças de curso. O controle
estrutural se faz sentir mesmo nas áreas dissecadas com padrão dendrítico de drenagem.
Durante o período chuvoso, complexos organo-metálicos formados por ácidos orgânicos e
compostos ferruginosos são iluviados do solo e carregados pelas águas formando os rios de
águas pretas (Benites, 2001) (Figura 4.1B). Inúmeras cachoeiras são formadas nos cursos
d’água do Parque e seu entorno, que associadas à qualidade e beleza das águas, atraem
uma grande parcela dos turistas, principalmente no verão.

A Serra do Ibitipoca localiza-se nos limites de dois domínios geomorfológicos sob forte
controle estrutural, denominados “Serra da Mantiqueira” e “Planalto de Andrelândia”. Esses
domínios são formados predominantemente por suaves colinas, pouco resistentes à erosão.
Em alguns locais, essas elevações suaves do terreno são intercaladas por cristas isoladas e
alongadas, com vales profundos e serras escarpadas de grandes dimensões. Nas bases
das encostas mais íngremes imensos colúvios arenosos são formados pelos solos
transportados ao longo das encostas de morros. O “Planalto de Andrelândia” está associado
a solos principalmente ácidos, saturados por alumínio e pouco férteis. As altitudes médias
variam em torno de 950 a 1.100 m, atingindo 1.300 m nas proximidades da Serra do
Ibitipoca.
A Serra do Ibitipoca, juntamente com a Serra Negra que lhe é vizinha, forma um dos
conjuntos de relevos mais elevados da região de Lima Duarte. Os contrafortes da Serra do
Ibitipoca são emoldurados por escarpas abruptas, sendo em parte formados com colúvios
arenosos ou recobertos por cascalheiras grosseiras, com mais de 5m de espessura.
No Planalto dissecado no entorno da Serra, as formas de relevo são predominantemente
colinosas, com morros de topos convexos até tabulares com vertentes convexizadas,
intercaladas por cristas alongadas e assimétricas. É comum a ocorrência de grandes
voçorocas, a maioria natural e estabilizada, com extensão e largura variáveis. Formam-se
geralmente nos contatos geológicos, zonas de falhas e fraturas e sempre relacionadas à
instabilidade dos mantos de intemperismo de rochas ricas em micas.
O relevo da Serra do Ibitipoca é condicionado pela estrutura e litologia, sendo constituído
por duas escarpas resultantes da erosão diferencial de rochas dobradas pela tectônica. As
grandes dobras formaram uma grande ferradura, característica marcante da paisagem do
Parque.
A dissecação mais homogênea e profunda nos gnaisses e migmatitos do Complexo
Mantiqueira e em rochas xistosas do Grupo Andrelândia, no entorno do parque, formou um
relevo de morros e colinas. A menor resistência e maior aprofundamento do intemperismo
sob a intensa ação morfoclimática nestas rochas gnáissicas propiciaram o atual realce
topográfico da Serra do Ibitipoca. O controle estrutural e litológico (principalmente os
dobramentos) predomina na Serra, em relação ao intemperismo (Rodela, 1998). O relevo
das áreas rebaixadas do entorno pode ser classificado como ondulado a forte ondulado,
enquanto o relevo da Serra varia de montanhoso a escarpado.
As duas escarpas do parque apresentam declividades variando de 15 a 45º, podendo
alcançar mais de 65º. Possuem vertentes extensas, com paredões abruptos de 300 m de
desnível, a leste (Figura 4.2). As altitudes variam de 1.350 a 1.650 m, sendo cerca de quase
1.000 m (nos vales ao sul) e 1.721 e 1.784 m nos pontos mais elevados da Serra,
respectivamente Pico do Pião, a leste, e o Pico do Ibitipoca, a oeste.

41
Foto: C. Schaefer.

Figura 4.2 – Escarpa de falha truncando a anticlinal de leste, com topos estruturais e
paredões. Os depósitos de sopés correspondem aos sedimentos Cenozóicos
mapeados como Qc, formados por colúvios arenosos de saias de escarpas.

Entre as duas escarpas desenvolveram-se relevos menos elevados, em torno de 1.200 a


1.400 m de altitude e, em menor declividade, formando alguns morrotes embutidos com
topos convexizados, devido ao controle local da sinforme, dobramentos ou litologia (gnaisse
xistoso na Mata Grande, por exemplo) (Figura 4.3).

Foto: C. Schaefer.

Figura 4.3 – Relevo de colinas e morrotes embutidos, sobre xistos e quartzo-xistos, com
vegetação de transição, com caráter savânico, em sucessão para Candeial e
Matas de maior porte. Região do Monjolinho.

42
Feições cársticas4/, formadas por lenta dissolução das rochas quartzíticas, ocorrem com
freqüência no PEIB, podendo resultar em pontes naturais, cavernas, cânions de paredes
verticais e dolinas5/ de abatimento. A serra abriga muitas cavernas, com potencial para
existência de mais de vinte, tendo sido registradas cerca de quinze pela Sociedade
Brasileira de Espeleologia (Rodela, 1998). O detalhamento do endocarste quartzítico do
Ibitipoca e da morfologia das cavernas em quatzitos encontra-se no relatório técnico do meio
físico.
O sistema que constitui o Distrito Espeleológico da Serra do Ibitipoca pode ser definido
pelas seguintes características: dissolução condicionada pelas estruturas de acamamento e
falhamento; predominância de desmoronamento em relação à dissolução; grandes salões
de abatimento; drenagem subterrânea sazonal, raros espeleotemas de sílica (SiO2),
sedimentação de material hipógeno ou epígeno no piso das cavernas, e, ou, áreas de
erosão intensa (aprofundamento rápido), causada pela circulação sazonal da água (Correa
Neto, 1997). Essas mesmas características podem ser consideradas para a gênese de
dolinas e pontes de pedra, acrescentando-se uma ação fluvial maior (Correa Neto, 1997).
A drenagem em muitas áreas da Serra do lbitipoca é essencialmente subterrânea. Essas
cavernas em quartzito são partes de redes hierarquizadas de drenagens subterrâneas. As
condições essenciais para a espeleogênese foram: 1) grande diferença entre os níveis de
base local e regional; 2) presença de camadas de rocha especialmente favoráveis aos
processos de sanding (rocha friável com permeabilidade aumentada) e piping (criação de
redes de condutos cilíndricos de diâmetro centimétrico) e; 3) ciclos sucessivos de
estabilidade e soerguimento. Diferenças na morfologia e tamanho das cavernas podem ser
explicadas por mudanças em um ou mais dos fatores acima.
O estudo do conjunto das formas de relevo possibilitou a identificação de sete unidades
geomorfológicas principais no Parque Estadual do Ibitipoca e duas no seu entorno, que
refletem condicionantes litológicas e a evolução da paisagem (Figura 4.4). A descrição
detalhada de cada uma das nove unidades geomorfológicas do Parque Estadual do Ibitipoca
e seu entorno estão no relatório técnico do meio físico. A Tabela 4.1 apresenta uma síntese
dos riscos ambientais associados a cada uma das nove unidades geomorfológicas.
O aumento da pressão do turismo no Parque Estadual do Ibitipoca tornou necessário um
maior detalhamento dos solos para a identificação das áreas críticas e de maior fragilidade,
necessária para o correto planejamento das trilhas e das vias de acesso e também para a
definição da capacidade de carga turística.
Pelo fato do Parque Estadual do Ibitipoca estar localizado nas cumeeiras quartzíticas da
Serra da Mantiqueira seus solos em geral são rasos, arenosos, pobres em nutrientes e ricos
em alumínio trocável. Conseqüentemente, a vegetação predominante é de pequeno porte,
exceto nos vales mais profundos e grotas, onde ocorre acúmulo de materiais. Somente nos
solos sobre o xisto ocorrem teores mais elevados de argila, situação observada na Mata
Grande onde as condições do meio físico permitiram o desenvolvimento de uma vegetação
florestal de maior porte.

4/
Cárstico: relevo desenvolvido em região calcária, devido ao trabalho de dissolução pelas águas subterrâneas e
superficiais. Caracteriza-se pela ocorrência de dolinas e cavernas (MINEROPAR, 2006).
5/
Dolina: cavidade natural em forma de funil, comunicada verticalmente a um sistema de drenagem subterrânea,
em região de rochas calcárias. Distinguem-se dois tipos: a) Dolina de dissolução, formada por água de
infiltração, alargando fendas; e b) Dolina de desmoronamento, formada por desmoronamento do teto de uma
caverna subterrânea. As dolinas atingem diâmetros de até 100 m, e profundidades de várias centenas de
metros (MINEROPAR, 2006).

43
Figura 4.4 – Mapa das unidades geomorfológicas do Parque Estadual do Ibitipoca (PEIB),
Minas Gerais.

44
Tabela 4.1 – Síntese dos riscos ambientais associados aos tipos de modelados e
respectivos ambientes pedológicos, no Parque Estadual do Ibitipoca

Formas (modelados) Riscos Ambientais


Alto, associado com quedas de blocos e enterramento de solos;
1. Escarpas e Paredões de
riscos associados à intervenção antrópica para retificação de
anticlinais
aceiros e construção de mirantes.
Severo, com erosão acelerada nas trilhas de acesso,
movimentos de massa, formação de ravinas e voçorocas sob
2. Grotas e Ravinas com feições intervenção antrópica decapitação dos solos. Grave risco de
cársticas deslizamentos; problemas de conservação de trilhas e grutas.
Área de importância na ciclagem de fósforo na Serra do
Ibitipoca, pela riqueza do guano de aves e morcegos.
Sem acesso por trilhas atualmente; moderado a alto, com risco
3. Morros e colinas embutidas em de erosão laminar acelerada se franqueado acesso de trilhas;
saprolitos de xistos risco de perda de espessa serrapilheira. Deve ser privilegiado
ao acesso pelas bordas, por meio de passarelas de madeira.
Severo, com graves problemas atuais de conservação das
4. Morros Residuais embutidos
trilhas. Evitar acesso de carro tracionado, podendo haver erosão
das vertentes internas
e assoreamento dos cursos d’água por desbarrancamento.
Alto, com erosão em sulcos, laminar e queda de blocos em
5. Topos estruturais de anticlinais escarpas íngremes. Problemas mais severos no entorno do Pico
do Pião.
Alto, com erosão em sulcos e voçorocas; área que deve ser
6. Vales de colmatação arenosos
vedado o acesso por trilhas.
7. Vertentes de interflúvio e
Alto, com erosão em sulcos.
rampas estruturais

Os solos no parque são muito ácidos (pH entre 3,5 a 4,2 em A1), com valores de saturação
de alumínio (Al) superiores a 80% no horizonte A1 e eletronegativos, tanto em substratos
quartzíticos quanto xistosos. Há uma remoção muito acentuada de bases pelo intemperismo
mineral, pela acidez orgânica. A capacidade de troca catiônica (CTC) existente é quase
exclusivamente atribuível à fração orgânica, em virtude da atividade muito baixa da fração
argila dos solos. A vegetação do complexo rupestre de altitude apresenta maior porte nos
locais onde as condições pedoclimáticas são menos desfavoráveis.
No entorno do parque, as áreas de arenização mapeadas em detalhe devem ser priorizadas
pelo IEF para incentivar pesquisas com reintrodução de espécies de campos arenosos, para
recuperação ambiental. Todas as saias florestadas da encosta leste e oeste do parque
devem ser mantidas em estreito controle de fogo, para evitar danos à zona tampão mais
importante do Parque. A remoção de candeia morta não deve ser priorizada no ambiente de
Mata baixa de Candeia, apenas para uso eventual do Parque, pois a ciclagem de nutrientes
é essencial em área de solos tão pobres e dessaturados, como mostram os resultados das
análises pedológicas.

45
Foram inspecionadas 14 cavernas localizadas na área do Parque ou no seu entorno
(Figura 4.7) para caracterizar a fauna de cavernas e avaliar o estado de conservação de
cada localidade. As principais características (bióticas e abióticas) de cada uma das
cavernas inventariadas são apresentadas na Tabela 4.2.

Figura 4.7 – Localização das cavernas inspecionadas durante a avaliação ecológica rápida.

46
Tabela 4.2 – Características bióticas e abióticas das cavernas do Parque Estadual de
Ibitipoca (PEIB), Minas Gerais

Desenvolvimento/
entradas/salões/ Grau de Visitação
Cavernas Zonação Ambientes Aporte de alimento
vegetação no entorno/ Preservação turística
altitude

150 m/três entradas


(alturas de cerca de Enxurradas carreiam Intensa,
Pisoteada (solo
6 m)/salões de pequenas Zona de entrada e Parede (rocha), matéria vegetal caverna fica a
arenoso),
Gruta dos dimensões/vegetação de penumbra/pequen solo (sedimento (galhos, folhiço)/sem 30 m da
pichações na
Coelhos mata úmida no entorno os espaços com inconsolidado, indícios de estrada
entrada (baixo
(muitas bromélias e zona afótica úmido) morcegos/ principal do
relevo na rocha)
árvores de pequeno ESCASSO Parque
porte)/1.436 m

Enxurradas carreiam
90 m/duas entradas matéria vegetal
(alturas de 15 m) e uma (galhos, folhiço) +
clarabóia (abertura no Parede, solo pequeno riacho Sem
teto) /salões altos, (sedimento subterrâneo/colônia visitação/
Gruta do Zona de entrada e
pequenos / vegetação de inconsolidado, de morcegos Ótimo apenas
Esse penumbra
mata úmida apenas na úmido), guano de frugívoros (guano pesquisadore
entrada. No entorno, andorinhão escasso)/ grande s
campo de altitude/1.585 acúmulo de guano
m de andorinhão/
ABUNDANTE

Extremamente
Depósitos de matéria
pisoteada,
orgânica carreados
riacho
por enxurradas na
assoreado,
Parede, solo entrada e nas Intensa até 5-
+ de 2 km/uma entrada e vandalismo na
(sedimento clarabóias (pouco 6 anos atrás /
clarabóias/salões de entrada
inconsolidado, abundante) No momento,
grandes dimensões/ Zona de entrada, (pichações)
Gruta das úmido), guano de fechada para
vegetação de mata penumbra e
Bromélias morcegos Riacho pequeno visitação
úmida no entorno (muitas afótica Salões que não
hematófagos, (desmoronam
bromélias e árvores de eram visitados -
fendas em blocos Guano de morcegos entos
pequeno porte)/1.590 m grau de
desmoronados hematófagos e evidentes)
preservação
frugívoros (principal).
bom (com
colônias de
ESCASSO
morcegos)

Intensa até 5-
70 m/duas entradas, teto Extremamente
Depósitos de matéria 6 anos atrás.
baixo/salões em forma pisoteada,
Zona de entrada, Parede, solo orgânica carreados No momento,
Gruta do de abóbada e vandalismo na
penumbra e (sedimento por enxurradas na fechada para
Martinian pequenos/vegetação de entrada
afótica (pequenos inconsolidado, entrada (pouco visitação
o mata úmida no entorno (pichações)
espaços) úmido) abundante)/ (desmoronam
(árvores de pequeno
SCASSO entos
porte)/1.350 m
evidentes)

+ de 500 m/uma entrada,


em desnível/riacho Bom, entretanto
Parede, solo Depósitos de matéria
subterrâneo/salões a
(sedimento orgânica carreados
grandes com muitos quiropterofauna Sem
Zona de entrada, inconsolidado, por enxurradas na
blocos é extremamente visitação/
Gruta das penumbra e úmido e seco), entrada (pouco
abatidos/vegetação de pobre / Recente Apenas
Casas afótica (grandes fendas, riacho abundante)/ poucos
mata úmida no entorno, (impacto) ou pesquisadore
salões) subterrâneo indícios de guano de
em recuperação, histórico? s.
(corredeiras e morcegos (secos e
desmatamentos
remansos) antigos)/ ESCASSO
próximos (árvores de
pequeno porte)/1.60 m

+ de 500 m/três entradas Pisoteada,


Depósitos de matéria pichações em
principais/salões grandes Parede, solo
orgânica carreados baixo relevo,
com blocos (sedimento
por enxurradas na restos de
abatidos/vegetação de Zona de entrada, inconsolidado,
entrada (pouco fogueira
Gruta dos mata úmida no entorno penumbra e úmido e seco), Intensa
abundante)/ poucos (acampamento
Moreiras (árvores de pequeno afótica (grandes fendas, riacho (fácil acesso)
indícios de guano de de
porte, bromélias, salões) subterrâneo
morcegos (secos e turistas)/Riacho/
samambaia-açu/ (remansos), blocos
antigos)/Rio/ assoreado.
sumidouro de pequeno abatidos
ESCASSO
riacho / 1365 m

Continua...

47
Tabela 4.2, Cont.

Desenvolvimento/
entradas/salões/ Grau de Visitação
Cavernas Zonação Ambientes Aporte de alimento
vegetação no Preservação turística
entorno/ altitude

Desenvolvimento /
entradas / salões / Grau de Visitação
Cavernas Zonação Ambientes Aporte de alimento
vegetação no entorno Preservação turística
/ altitude

+ de 150 m/túnel com


duas entradas e túnel
lateral/vegetação de Pisoteada,
Zona de entrada, Parede, solo Nenhum indício de pichações em
mata úmida no entorno
Gruta dos penumbra e (sedimento acúmulo de matéria baixo relevo, rio Intensa (fácil
(árvores de pequeno
Fugitivos afótica (pequena, inconsolidado, vegetal ou guano/ assoreado acesso)
porte, bromélias)/
no túnel lateral) úmido) MUITO ESCASSO
pequeno riacho
(ressurgência) / 1.370
m

Abrigo de grande
altura/ três arcos
convergentes/ Nenhum indício de
Solo (sedimento Pisoteada
Gruta dos vegetação de mata acúmulo de matéria Intensa (fácil
Zona de entrada inconsolidado,
Três Arcos úmida no entorno vegetal ou guano/ acesso)
seco)
(árvores de pequeno MUITO ESCASSO
porte, bromélias)/
1.375 m

40 m/uma entrada e
Pequenos acúmulos
clarabóias / vegetação Paredes, solo Pisoteada,
Zona de entrada e de matéria vegetal Intensa (valor
Gruta da de mata úmida no (sedimento extremamente
penumbra (salão que caem nas religioso-
Cruz entorno (árvores de inconsolidado, pichada em
pequeno) clarabóias/ cultural)
pequeno porte, úmido) baixo relevo
ESCASSO
bromélias)/1.595 m

Abrigo com pequena


fenda, 20 m/uma
entrada em forma de Sem
Paredes, solo
fenda/ vegetação de Zona de entrada e Pequenos acúmulos visitação/
Gruta do Zé (sedimento
mata úmida no entorno penumbra (fenda de matéria vegetal/ Ótimo apenas
Baú inconsolidado,
(árvores de pequeno pequena) ESCASSO pesquisadore
úmido e seco)
porte, muitas s
bromélias)/ 1.595
m/entorno do Parque

150 m/duas entradas


(túnel) altas (15 m)/ Pisoteada,
Pequenos acúmulos
riacho que a atravessa/ Paredes, solo pichações em
Gruta dos Zona de entrada, de matéria vegetal e
vários condutos (sedimento baixo relevo em
Viajantes penumbra e guano de
laterais/ vegetação de inconsolidado, todos os Intensa
afótica (condutos andorinhões (ao
Figura 4.8A mata úmida no entorno úmido e seco), condutos
laterais) longo do rio)/
(árvores de pequeno e riacho e margens laterais. Riacho
ESCASSO
grande porte, muitas assoreado
bromélias)/1.645 m

150 m/uma entrada/ Extremamente


corpos d’água no pisoteada e
Gruta do interior/ vários Paredes, solo Nenhum indício de pichada em
Zona de entrada,
Pião túneis/vegetação de (sedimento acúmulo de matéria baixo relevo e
penumbra e Intensa
mata úmida no entorno inconsolidado vegetal ou guano/ com tinta (em
Figura 4.8C afótica (túneis)
(árvores de pequeno seco) MUITO ESCASSO todos os túneis)
porte, bromélias)/1.653 Lixo em alguns
m locais

Abrigo/10 m/pequena
fenda/vegetação de Paredes, solo
Acúmulos de matéria
Gruta do mata úmida no entorno Zona de entrada e (sedimento
vegetal na entrada/ Pisoteada Regular
Monjolinho (árvores de pequeno e penumbra (fenda). inconsolidado
ESCASSO
grande porte, úmido)
bromélias) /1.646 m

+ de 400 m/duas
Gruta do entradas (uma grande
Manequinh e principal, em declive)/
Pouco acúmulo de Sem
o salões com blocos Paredes, solo
Zona de entrada, matéria vegetal (rio)/ visitação/
abatidos e sedimento/ (sedimento
(caverna de penumbra e manchas secas de apenas
vegetação de mata inconsolidado Ótimo
referência) afótica (salões de guano/fezes de acesso para
úmida no entorno úmido e seco),
abatimento) roedores e felinos/ pesquisadore
Figura 4.8B (árvores de pequeno e riacho
ESCASSO s
grande porte,
bromélias/ 1.417
m/entorno do Parque

48
A B

Fotos: M.E. Bichuette.

Figura 4.8 – Entrada e aspecto da vegetação do entorno da Gruta dos Viajantes (A); entrada
principal em declive da Gruta do Manequinho (caverna de referência) com
floresta de pequeno porte no entorno (B) e; condutos com solo pisoteado na
Gruta do Pião (C).

Todas as cavernas do PEIB e entorno possuem litologia em quartzito. Das 14 localidades


estudadas três são caracteristicamente abrigos, apesar de possuírem desenvolvimentos de
até 20 a 30 m (Gruta dos Três Arcos, Gruta do Zé Baú e Gruta do Monjolinho); oito
apresentam desenvolvimentos maiores do que 150 m e também zona afótica6/; seis
apresentam apenas zona de entrada e penumbra, com várias aberturas (entradas e
clarabóias).
Como ambientes potenciais para ocorrência da fauna, os principais são as paredes com
substrato rochoso e o solo (sedimento inconsolidado). Fendas não são muito comuns neste
tipo de rocha, e os pequenos riachos, quando presentes, apresentam assoreamento e não

6/
Zona afótica: zona de escuridão permanente.

49
formam substrato em suas margens para ocorrência de fauna. Em relação ao alimento, à
exceção da Gruta do Esse que apresenta um grande acúmulo de guano de andorinhões, as
outras 13 cavernas apresentam uma escassez alimentar acentuada, com acúmulo de
matéria vegetal sempre próxima às entradas e, em alguns casos, pequenos acúmulos de
guano de morcegos (na maioria dos casos antigos e secos).
Uma intensa visitação turística ocorreu até seis anos atrás (Gruta das Bromélias, Gruta do
Martiniano) ou ainda ocorre na maioria das cavernas. Essa visitação causa um impacto de
pisoteamento, que dizima a fauna de solo e impossibilita a entrada de alimento por
enxurradas devido à acentuada compactação do solo. Outro impacto da visitação é o
sonoro, o qual pode causar a fuga de morcegos de abrigos potenciais. O fato de a maioria
das cavernas ter acesso fácil facilita a visitação desordenada e, conseqüentemente, impacto
pelo pisoteamento ou pelo barulho da visitação.
A fauna cavernícola brasileira é atualmente a mais bem estudada da América do Sul, por
meio de levantamentos faunísticos, até estudos de comunidades e investigação detalhada
da biologia de diferentes táxons. Estima-se que mais de 1.200 táxons de invertebrados e
vertebrados terrestres e aquáticos (entre trogloxenos 7/, troglófilos8/ e troglóbios9/ - estes
últimos correspondendo a cerca de 10%) foram registrados até o momento (Dessen et al.,
1980; Trajano, 1987; Trajano e Gnaspini-Netto, 1991; Gnaspini e Trajano, 1994; Pinto-da-
Rocha, 1995; Trajano e Bichuette, dados não-publicados).
Durante a Avaliação Ecológica Rápida foram coletados e avistados 633 exemplares (264
coletados) distribuídos em 38 morfoespécies: 19 aranhas, três opiliões, um
pseudoescorpião, um amblipígeo, um diplópode, um inseto Thysanura, um coleóptero, dois
ortópteros, um heteróptero reduviídeo, três dípteros e seis vertebrados. Esse número de
espécies pode ser considerado baixo, caracterizando a fauna subterrânea do PEIB e
entorno como pobre. Diversos fatores devem ter influência nesta baixa riqueza de espécies:
i) Alimento escasso; ii) Impacto de visitação intensa (pisoteamento de substrato e
assoreamento de riachos; vandalismo nas paredes; poluição sonora causando fuga de
morcegos e conseqüente diminuição de aporte de alimento); iii) Altitude; e iv) Fatos
históricos (a serem definidos por meio de estudos de grutas do entorno).
A maior abundância (70,7%) coincidiu com os táxons mais ricamente registrados: aranhas
(238 indivíduos em 19 espécies) e opiliões (210 indivíduos em três espécies), configurando
os grupos mais comuns. Entre os mais raros, podemos citar os aracnídeos pertencentes ao
grupo dos Pseudoescorpiones (um indivíduo) e Amblypigy (um indivíduo) e o díptero
pertencente a família Keroplatidae (um indivíduo, troglófilo). Intermediário a estes grupos,
teria os grilos Ensifera (duas espécies e 75 indivíduos); os heterópteros Zelurus (uma
espécie, 43 indivíduos) e os dípteros Phoridae e Drosophilidae, incluindo formas larvais em
guano (duas espécies e 27 indivíduos).
Estes resultados caracterizam as cavernas do PEIB como o “paraíso das aranhas”, sendo
as espécies registradas as mesmas ocorrentes em outras cavernas brasileiras (e.g.
Enoploctenus, Isoctenus, Ctenus, Mesabolivar, Ochyrocera, Plato). Fato intrigante foi a não
ocorrência da aranha-marrom Loxosceles, comum em cavernas de diferentes regiões do

7/
Trogloxenos: são os organismos encontrados regularmente no meio subterrâneo, mas que necessitam retornar
periodicamente à superfície para completar seu ciclo de vida (esta é a categoria mais complicada, sendo
excluídos os “acidentais”).
8/
Troglófilos: são chamados de cavernícolas facultativos, capazes de completar seu ciclo de vida tanto no meio
subterrâneo quanto no epígeo, portanto incluindo tanto populações subterrâneas quanto epígeas da mesma
espécie. Compreendem a maioria dos invertebrados encontrados em cavernas brasileiras (principalmente os
aracnídeos).
9/
Troglóbios: espécies restritas ao meio subterrâneo, em geral com modificações associadas ao isolamento
neste ambiente, denominadas troglomorfismos. Há exemplos de espécies troglóbias em praticamente todos os
grupos animais com representantes terrestres e de água doce.

50
Brasil, de norte a sul. A altitude e as temperaturas mais baixas poderiam explicar a ausência
desta espécie (hipótese a ser testada).
Cabe aqui ressaltar a ocorrência de uma aranha troglóbia, em fase de descrição (Renner L.
Baptista, com. pess.), pertencente ao gênero Ochyrocera. Estas pequenas aranhas ocorrem
em sedimento inconsolidado em pequenas fendas entre a parede da rocha e o solo e
também no solo, o que as torna vulneráveis ao pisoteamento causado pelo turismo. Esta
espécie foi registrada em seis das 14 localidades estudadas, o que não as torna endêmicas
a uma localidade e sim ao maciço rochoso como um todo.
As três espécies de opiliões registradas são pertencentes a uma família recorrente em
cavernas brasileiras (Gonyleptidae). São animais tipicamente onívoros e apresentaram
abundância elevada em algumas localidades, com superposição de espécies em seis das
14 localidades. Uma das espécies de opilião (o Goniosomatinae Mitogoniella indistincta)
parece representar um animal trogloxeno, o qual utiliza as cavernas como abrigo e sítios de
reprodução, saindo no crepúsculo para se alimentar (hipótese a ser testada). As outras duas
podem representar animais troglófilos.
Dentre os insetos, os heterópteros reduviídeos do gênero Zelurus (tipicamente predadores,
troglófilo) não foram tão comuns (cinco cavernas das 14 estudadas), mas sua ocorrência
repete o que observamos em outras cavernas do Brasil. A larva carnívora de díptero da
família Keroplatidae foi registrada em uma única caverna de Ibitipoca (Gruta dos Coelhos),
outro fato intrigante já que também representam registros comuns nas cavernas de outras
regiões brasileiras. Grilos detritívoros dos gêneros Endecous e Eidmanacris (organismo
troglófilos) também são recorrentes em outras cavernas brasileiras e, no caso de Ibitipoca
apresentaram abundância relativamente elevada na Gruta dos Viajantes, que apresentou
substratos típicos para ocorrência destes animais (condutos laterais fechados, mais secos).
O único local que apresentou guano fresco de morcegos (hematófago e frugívoro) foi a
Gruta das Bromélias e, justamente nesta localidade foram registradas larvas troglóbias de
dípteros das famílias Phoridae e Drosophilidae (guano de hematófago) e o pseudoescorpião
da família Chernetidae (guano de frugívoro). Tal fato demonstra que a ausência deste tipo
de fonte de alimento nas outras cavernas deve representar uma restrição importante para a
fauna cavernícola. Fato também interessante foi o registro de um único exemplar de um
amblipígeo jovem (sem possibilidade de identificação) na Gruta do Manequinho.
Dentre os vertebrados, os morcegos foram pouco abundantes, incluindo as evidências da
presença destes (e.g. guano e colônia maternidade de Desmodus rotundus na Gruta
Bromélias; guano e colônia de morcego frugívoro, provavelmente Carollia, na Gruta do
Esse). Temos aqui um fato que deve ser considerado como prioridade, uma vez que os
recursos alimentares nas cavernas do PEIB são escassos. A pergunta é se o impacto da
visitação causou a fuga destes animais ou se trata de um fato histórico. Somente um estudo
mais aprofundado da quiropterofauna do Parque e de seu entorno poderá fornecer
respostas confiáveis e robustas.
Fato extremamente interessante é a ocorrência de andorinhões (grandes acúmulos de
guano) em algumas cavernas, o que contribui para a cadeia alimentar destes ambientes,
além de representar um registro interessante do ponto de vista biológico. O registro do
anuro Thoropa miliaris (Figura 4.9A) em três cavernas está relacionado com o fato destes
animais terem preferências por locais com substrato rochoso, configurando tipicamente um
animal acidental.
Os trilhos e fezes de paca (Rodentia), as pegadas e fezes de gatos do mato (Carnívora,
Felidae) registrados no interior da Gruta do Manequinho, além do registro de três “ninhos”
de tapetis próximos à entrada da caverna (um deles com um indivíduo – Sylvillagus
brasiliensis), representam observações às quais devemos ficar atentos. Esta caverna é a
única do Parque onde não foi observado nenhum tipo de impacto (localizada no entorno, em

51
trilha de acesso relativamente difícil) e, aparentemente, é importante para os mamíferos.
Como não foram registrados esses mamíferos nas outras cavernas, é importante testar se
tal fato está diretamente relacionado com o impacto da visitação nas outras cavernas do
Parque.
As cavernas são declaradamente locais de reprodução de diferentes espécies de
aracnídeos. Esse fato é óbvio para os organismos troglófilos ou cavernícolas facultativos
(aranhas Plato e Mesabolivar). Entretanto é interessante observar a abundância de ootecas
(57 ao todo) de uma aranha trogloxena, que é encontrada regularmente no meio
subterrâneo, mas que necessita retornar periodicamente à superfície, a Enoploctenus
(Figura 4.9B) e a abundância de opiliões cuidando de ovos ou de jovens recém-eclodidos
(65 indivíduos ao todo) (Figura 4.9C), sobretudo nas grutas dos Moreiras e dos Fugitivos.

A C

Fotos: M. E. Bichuette.

Figura 4.9 – Anuro (Thoropa miliaris), que tem preferência por locais com substrato rochoso,
registrado nas Grutas do Esse, do Pião e na Gruta dos Coelhos (A); Ootecas de
uma aranha trogloxena, Enoploctenus, coberta por sedimento na Gruta dos
Coelhos (B) e; Um opilião (Mitogoniella indistincta), protegendo os seus ovos na
Gruta dos Moreiras (C).

Em relação ao grau de preservação das cavernas e número de espécies, é interessante


observar que aquelas onde foram registradas as maiores riquezas são as que foram mais
visitadas até seis anos atrás (Gruta das Bromélias - 14 spp.) ou que ainda tenham visitação

52
intensa (Gruta dos Coelhos -18 spp.). Entretanto, nos dois casos, as espécies claramente
dominantes são os aracnídeos. Cabe aqui chamar a atenção para a Gruta do Manequinho, a
qual apresentou o mais alto grau de preservação e onde também foi registrado o único
exemplar do aracnídeo pertencente à ordem Amblypigy.

O Parque Estadual do Ibitipoca situa-se no domínio fitogeográfico da Floresta Atlântica.


Inserida em meio à Cordilheira da Mantiqueira, em sentido paralelo a Serra do Mar, a Serra
do Ibitipoca constitui-se em uma elevação rochosa com altitudes variando entre 1.100 e
1.782 m, onde predominam vegetações campestres denominadas, genericamente, por
campos de altitude. Seus campos apresentam fisionomia com semelhanças aos campos
rupestres da Cadeia do Espinhaço, em Minas Gerais e Bahia, mas sua flora recebe forte
influência de elementos da Floresta Atlântica.
Muitos autores não diferenciam nitidamente os Campos de Altitudes e os Campos
Rupestres, sendo que, para muitos, os Campos Rupestres nada mais são do que uma
variação fisionômica dos Campos de Altitudes, variando apenas pela exposição e
afloramento de rochas. De acordo com Brasil (2004), os Campos de Altitude são
caracterizados como sendo um tipo de vegetação campestre descontínua, associada à
afloramentos rochosos em todo o Brasil Central e Oriental. É vegetação arbustiva e, ou,
herbácea que ocorre no cume das serras com altitude elevadas, predominando o clima
subtropical e temperado. As comunidades florísticas próprias desse tipo de vegetação são
caracterizadas por grande número de endemismos.
Por outro lado, outros autores argumentam que os Campos Rupestres constituem uma
formação vegetal diferenciada dos Campos de Altitude (Ferri, 1980). Estes ambientes
representariam uma comunidade vegetal presente nas serras e altas montanhas de granito-
gnaisse, bem distribuída na porção leste do Brasil. Apesar de serem fisionomicamente
semelhantes, haveria uma nítida distinção florística entre as duas comunidades. As
formações campestres ocupam mais que 50% da área total do PEIB (Tabela 4.3;
Figura 4.10).
As formas florestais da Serra do Ibitipoca ocupam uma área menor que as formações
campestres (32% da área total do Parque) (Tabela 4.3). As florestas se distribuem ao longo
dos vales úmidos e concentradores de matéria orgânica, sendo compostas por diversas
espécies vegetais que também freqüentam sítios equivalentes existentes nas partes mais
baixas do entorno do Parque. A intensa umidade dos ventos que atingem a região da Serra
do Ibitipoca reflete na elevada densidade de plantas epífitas, representadas principalmente
por liquens e bromélias, além de orquídeas, pteridófitas e cactáceas, sendo que a
importância do Parque para conservação da diversidade dos líquens é reconhecida
internacionalmente. A ocorrência de altas densidades de epífitas constitui-se em um
importante aspecto ambiental, servindo como habitat para diversos animais, a exemplo de
insetos e anfíbios que utilizam a água acumulada nas rosetas das bromélias, além de ser
um elemento de identidade paisagística e visual do Parque Estadual do Ibitipoca.
A vegetação do Parque é representada por um mosaico bastante diverso, composto por
manchas de floresta ombrófila densa altimontana (mata nebular) e montana; floresta
estacional semidecidual montana; candeial; campos arenosos; campos rupestres arbustivos;
campos rupestres sensu stricto; campos encharcáveis; cerrado de altitude; formações
peculiares dos paredões abruptos, das entradas das cavernas e das margens dos cursos d’
água; samambaial, além dos campos gerais do entorno do parque. Nas áreas de transição
entre as florestas ombrófilas e as formações campestres do Parque, geralmente em locais

53
Tabela 4.3 – Distribuição das tipologias vegetacionais no Parque Estadual do Ibitipoca
(PEIB), Minas Gerais

Tipologia Área (ha) Porcentagem (%)


Campo Rupestre Arbustivo 354,75 23,40
Campo Rupestre sensu stricto 394,92 26,05
Campos Encharcados 17,39 1,15
Candeial 247,13 16,30
Cerrado de Altitude 12,84 0,85
Floresta Nebular/Floresta de Grota 290,87 19,19
Pastagem/Área Agrícola 3,64 0,24
Floresta Ombrófila Densa 194,45 12,83
Total 1.515,99 100%

Obs: a área total do Parque mapeada, com base nos trabalhos de campo, foi de 1.516ha. Essa área difere na
área total declarada no memorial descritivo do Parque (1.488 ha) (vide explicação no item sobre Situação
Fundiária). Devido a essas variações entre a área descrita no memorial e a localização dos aceiros em
campo, existe uma pequena variação no seu limite sul, abrangendo 3,64 ha de pastagens.

de solos mais rasos que impedem o desenvolvimento da floresta, ocorrem os candeiais.


Essa formação, característica da região, ocupa quase 17% da área total do Parque
(Tabela 4.3; Figura 4.10).
Em decorrência de gradientes altitudinais e relacionando-se direta e indiretamente a fatores
edáficos e à disponibilidade de umidade, diferentes formações vegetacionais são
observadas no Parque e seu entorno. Soma-se a esses fatores naturais, a pressão
antrópica a que a área esteve sujeita até a decretação do Parque, a qual resultou em
alterações na paisagem e criou ambientes em diferentes estágios de regeneração.
Apesar de ser possível individualizar algumas dessas formações vegetacionais, nem sempre
se verifica uma nítida divisão entre as mesmas. Por outro lado, em cada uma das tipologias
podem-se constatar variações fisionômicas decorrentes da composição de espécies, de
características específicas locais e do histórico de eventos. Em geral, à medida que se
abaixa a altitude, a riqueza de espécies vai aumentando. Assim, tem-se que as matas
nebulares apresentam menos espécies que a floresta ombrófila montana e estas vão
aumentando o número de espécies à medida que ocorrem em altitudes menores.

54
Figura 4.10 – Mapa da cobertura vegetal do Parque Estadual do Ibitipoca (PEIB), Minas
Gerais.

55
Além dos trabalhos da AER foram consultadas as pesquisas já desenvolvidas no Parque. A
síntese da revisão bibliográfica e a metodologia de coleta de dados se encontram no
relatório técnico sobre a vegetação do PEIB.
A Mata Grande é o principal agrupamento florestal no interior do parque, situando-se em um
conjunto de vales voltados para sul, de onde penetram frentes frias saturadas em umidade.
A vegetação arbórea se expande pelas bordas deste vale, alcançando os pequenos
talvegues da rede de drenagem que formam a hidrografia do parque. Gradativamente, o
conjunto arbóreo vai reduzindo seu porte à medida que se afasta do vale principal da Mata
Grande e aumenta a altitude.
A transição entre a floresta e o campo pode-se dar de forma brusca ou gradativa,
dependendo do modelo de ruptura do meio físico. Quando ocorre de maneira gradativa,
nota-se uma interpenetração de elementos próprios a ambos os ambientes, destacando-se
a freqüente ocorrência da candeia (Eremanthus erythropappus)10/, além de espécies
próprias deste ecótone11/, como por exemplo, algumas espécies das famílias Orchidaceae,
Ericaceae e Asteraceae (Pires, 1996).
Na faixa de transição gradativa entre a floresta e o campo é comum a presença de
gramíneas sob o dossel12/ formado, em sua maior parte, pelas copas das candeias. À
medida que se aproxima da floresta, as gramíneas vão reduzindo sua presença na
comunidade herbácea, enquanto outras espécies vão tornando-se mais presentes, com
destaque para as bromélias, ao mesmo tempo em que aumenta a diversidade arbórea e a
presença de indivíduos jovens de espécies florestais.
Em decorrência de gradientes altitudinais e relacionando-se direta e indiretamente a fatores
edáficos e à disponibilidade de umidade, diferentes formas florestais podem ser identificadas
na região do Parque Estadual do Ibitipoca e seu entorno. Soma-se a estes fatores naturais,
a pressão antrópica a que a área esteve sujeita até a decretação do parque em 1973, a qual
resultou em alterações na paisagem e criou ambientes em diferentes estágios de
regeneração.
Apesar de ser possível individualizar algumas tipologias florestais (Figura 4.11), nem sempre
se verifica uma nítida divisão entre elas. Por outro lado, em cada uma das tipologias podem-
se constatar variações fisionômicas decorrentes da composição de espécies, de
características específicas locais e do histórico de eventos. Em geral, à medida que se
abaixa a altitude, a riqueza de espécies vai aumentando. Assim, tem-se que as Matas
Nebulares apresentam menos espécies que a Floresta Ombrófila Montana e estas vão
aumentando o número de espécies à medida que ocorrem em altitudes menores.
De maneira geral, podem-se agrupar as florestas existentes no Parque Estadual do Ibitipoca
e arredores nas seguintes tipologias, conforme definição do IBGE (1992): Floresta Ombrófila
Densa, Floresta Ombrófila Densa Montana, Floresta Estacional Semidecidual Montana,
Candeial e Samambaial. A descrição e a caracterização detalhada de cada fitofisionomia
florestal do PEIB são apresentadas no relatório técnico sobre a vegetação do Parque.
Com base nos estudos já desenvolvidos no Parque Estadual do Ibitipoca foram observadas
274 espécies vegetais nos seus ambientes florestais. A Avaliação Ecológica Rápida
acrescentou mais 53, resultando em 327 espécies relacionadas para as florestas existentes

10/
A candeia é também referida como Vanillosmopsis erythropappa (DC.) Schultz-Bip., mas segundo Macleish
(1987), o nome científico atualizado seria Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish.
11/
Ecótone: transição entre dois ou mais sistemas ambientais diferentes.
12/
Dossel: parte da floresta formada pela copas das árvores que compõe o estrato superior da floresta.

56
A B

C D

E F
Fotos: L. V. C. Silva.

Figura 4.11 – Imagens do Parque Estadual do Ibitipoca (PEIB) representando a diversidade


de formações florestais que podem ser observadas na região do parque e
entorno. A - Interior da mata nebular onde se observam diversas plantas
epífitas; B - Solo da Mata Nebular completamente coberto por liquens; C -
Vista geral da área central do Parque Estadual do Ibitipoca com destaque
para a Mata Grande; D - Ambiente de Floresta Ombrófila Densa presente na
base do paredão da Serra do Ibitipoca, a jusante da “Janela do céu”; E -
Ambiente de Floresta Estacional Semidecidual na área da Fazenda do
Engenho, vizinha ao Parque Estadual do Ibitipoca; e F - Ambiente de candeial.
Nota-se a homogeneidade do estrato arbóreo e arbustos de Miconia coralina
no sub-bosque.

57
no interior do parque (Anexo I). Possivelmente, a maior parte das espécies presentes nos
ambientes florestais do Parque já foi identificada. Novos levantamentos florísticos poderão
ainda acrescentar mais algumas espécies, sem, no entanto, representarem acréscimos
significativos em termos numéricos.
Na área externa do parque o estudo de Salimena Pires et al. (1996) constataram a presença
de 279 espécies, tendo sido acrescentadas mais 66 espécies após o presente estudo,
resultando em 345 espécies. Há de se considerar que um esforço amostral bem maior já foi
dedicado aos estudos no interior do parque e que, caso esta mesma dedicação tivesse sido
aplicada ao entorno, muito provavelmente, um número ainda maior de espécies seria
relacionada para esta área.
Considerando o interior do Parque e seu entorno e ainda, que 131 espécies são comuns aos
dois locais, foram registradas um total de 541 espécies pertencentes a 84 famílias
botânicas. Dentre as espécies identificadas nos ambientes florestais da região do Parque
Estadual do Ibitipoca, nove são consideradas como ameaçadas de extinção em nível
estadual (Deliberação COPAM no 85 de 21/10/97) (Mendonça e Lins, 2000) (Tabela 4.4).

Tabela 4.4 – Espécies da flora ameaçadas de extinção com ocorrência referida para no
Parque Estadual do Ibitipoca e seu entorno, Lima Duarte-MG

Espécie Nome Popular Categoria de Ameaça


Ocotea odorifera Canela-sassafrás Em perigo
Euterpe edulis Palmito-juçara Vulnerável
Dicksonia sellowiana samambaiaçu/xaxim Vulnerável
Tabebuia alba Ipê-tabaco/ipê-da-serra Vulnerável
Neoregelia aff. oligantha Bromélia Vulnerável
Siningia tuberosa Vulnerável
Ocotea pulchella Canela Em perigo
Eremanthus erythropappus Candeia Presumivelmente ameaçada
Baccharis platypoda Alecrim-do-cerrado Presumivelmente ameaçada

Destas espécies relacionadas como ameaçadas ou presumivelmente ameaçadas, salienta-


se que aquelas referidas nesta última categoria (candeia e alecrim-do-cerrado) possuem
grande população na área do Parque e também em seu exterior. Com esta situação
populacional é provável que estas espécies sejam excluídas da lista oficial de espécies
ameaçadas em uma futura revisão.
No caso de Ocotea odorifera, Ocotea pulchella, Euterpe edulis e Siningea tuberosa estas
foram observadas em alguns locais do Parque em populações bem estruturas, com jovens e
adultos. Para Tabebuia alba apenas indivíduos jovens foram observados em ambientes
florestais das maiores altitudes do Parque, indicando um desequilíbrio populacional
decorrente provavelmente da intensa retirada de madeira a que esta espécie esteve sujeita
no passado. Já o samambaiaçu, Dicksonia sellowiana, foi observado em apenas um local no
interior da Mata Grande (coordenadas 0615375-E e 7598798-N), onde apresenta uma
população estável.
A distribuição das espécies não é homogênea ao longo de toda a área do parque. Algumas
são exclusivas das porções de maior altitude a exemplo de Psychotria velloziana, Clusia

58
criuva e Tabebuia alba, outras da faixa intermediária, como a candeia (Eremanhtus
erythropappus), o candeião (E. incanus), Miconia corallina e Schefflera angustissima, entre
outras. Outras ainda, apenas foram observadas nas porções mais baixas, no limite com
áreas externas. Este é o caso do pau-de-óleo (Copaifera langsdorffii), do jacatirão (Miconia
cinnamomifolia), da sangra-d’água (Croton urucurana), do palmito-juçara (Euterpe edulis) e
do coqueiro-jerivá (Syagrus romazzofiana). Existem ainda aquelas que apresentam
populações bem representadas em toda a área do parque, independente da altitude, a
exemplo do tipiá (Alchornea triplinervea) e da Pera glabrata.
Quanto às espécies arbóreas e aos ambientes florestais do Parque Estadual do Ibitipoca,
apenas duas espécies exóticas foram observadas: uma árvore de araucária (Araucaria
angustifolia) isolada em ambiente campestre e moitas de capim gordura (Melinis minutiflora),
em ambientes em estágios iniciais de regeneração com potencial de vir a ser florestas,
apesar de esta espécie ocorrer com mais freqüência em sítios em meio aos campos de
altitude.
Segundo relato de funcionários do parque, a árvore de araucária foi plantada por antigos
ocupantes da serra, antes da área ser decretada unidade de conservação. É um testemunho
histórico das atividades que havia na região e como tal poderá ser utilizada para resgatar
estes aspectos. Além disto, não se observou nenhum indivíduo jovem desta espécie,
indicando que ela não representa nenhuma ameaça como invasora. Portanto, conclui-se
que não há necessidade de eliminar esta planta.
No caso do capim gordura, esta espécie provavelmente colonizou a Serra do Ibitipoca na
época em que a área era utilizada como pastagens de gado. Segundo relatos, a incidência
deste capim vem reduzindo ao longo dos tempos, em parte devido às ações de erradicação
que funcionários têm implementado e também pela retomada de espécies nativas graças à
estabilidade ambiental local após a retirada do gado.
A presença do capim gordura é maior em ambientes campestres, mas em alguns locais é
acompanhado por plantas pioneiras arbóreas, indicando que o local apresenta potencial de
vir a ser uma floresta. Como sua presença atual é pequena, não se vê como justificável o
esforço em erradicar estas plantas.

A discussão terminológica sobre os campos rochosos que se formam no alto das serras,
passou pelas descrições destas formações por Sampaio (1938), Barreto (1949) e
Magalhães (1956), sob a denominação de “flora alpina”. A linha de estudos fitogeográficos
utilizados para a classificação da vegetação brasileira, uma adaptação feita a partir de um
sistema internacional elaborado por Veloso (1992), atende aos tipos vegetacionais ou
classes de formações vegetais predominantes no território brasileiro. Entretanto, devido as
grandes escalas adotadas, este sistema não compreende vegetações que ocorrem em
situações especiais, como é o caso de comunidades localizadas em cotas mais altas como
os campos rupestres, que poderiam ser enquadradas na categoria de “comunidades
relíquias” de acordo com Veloso (1992).
Dessa forma, os campos do Parque Estadual do Ibitipoca representam, de acordo com esse
sistema de classificação, um refúgio vegetacional ou comunidade relíquia, que difere
florística e fisionomicamente da vegetação dominante na região, por características
geológicas e ecológicas, formando uma ilha destoante do reflexo normal da vegetação
clímax circundante.

59
Magalhães (1966) utilizou pela primeira vez o termo campos rupestres seguido por diversos
autores, que descreveram os campos de alto de serras sobre quartzito como Harley e Mayo
(1980), Ferri (1980), Rizzo (1981), Harley e Simmons (1986), Giulietti et al. (1987) e Giulietti
e Pirani (1988). O termo campos rupestres vem sendo vastamente empregado em
referência à vegetação que cobre a Serra do Espinhaço, que recebe clara influência
florística do Cerrado, Caatinga e, ou, Mata Atlântica, de acordo com a região. Fora das
abrangências da Serra do Espinhaço, este termo também vem sendo adotado. São também
considerados campos rupestres aqueles que ocorrem em afloramento quartzítico na
inserção do domínio fitogeográfico do Cerrado ou Mata Atlântica. Citam-se, no domínio do
cerrado, a região da Chapada dos Veadeiros e Serra dos Pirineus, no estado de Goiás
(Mendonça et al. 1998) e Serra da Canastra (Romero e Martins, 2001; Nakajima e Semir,
2001) em Minas Gerais. No domínio da Mata Atlântica, áreas expressivas de vegetação
campestre associada a afloramentos quartzíticos se encontram nas abrangências da Serra
Negra, município de Rio Preto, Minas Gerais (Salimena e Viana, obs. pess.) e no Parque
Estadual do Ibitipoca (Andrade e Souza, 1995; Rodela, 1996, 2000; Salimena, 1996, 1997).
Os campos rupestres constituem uma formação vegetal diferenciada dos campos de altitude
citados por Brade (1956), Ferri (1980), Martinelli et al. (1989) e Clark (1992). Campos de
altitude representam um tipo de comunidade presente nas serras e altas montanhas de
granito-gnaisse bem distribuídas na região leste do Brasil, nas abrangências do domínio
fitogeográfico da Mata Atlântica. Da mesma forma que os campos rupestres, os campos de
altitude apresentam sua vegetação altamente especializada, com alto grau de endemismo
vegetal (Martinelli et al. 1980).
Por estar inserido no domínio fitogeográfico da Mata Atlântica, o complexo campestre do
Parque Estadual do Ibitipoca, apesar de estar associado a afloramentos quartzíticos,
apresenta leve similaridade com os campos de altitude, referidos por Brade (1956) e
Martinelli et al. (1980) etc. Cita-se a presença expressiva de uma espécie de Chusquea
(C. riosaltensis) pertencente à seção Swallenochloa (Figura 4.12). De acordo com Clark
(1992), este táxon infragenérico está fortemente relacionado a áreas de campos de altitude.
A delimitação da vegetação adotada no presente documento foi baseada na classificação
proposta pela geógrafa Luciana Rodela (Rodela, 1998), com pequenas adequações
nomenclaturais resultantes da pesquisa bibliográfica e das investigações de campo da
Avaliação Ecológica Rápida. O histórico da pesquisa botânica no Parque encontra-se no
relatório técnico sobre a vegetação do PEIB.
Foram identificados os seguintes tipos vegetacionais para as formações campestres do
Parque Estadual do Ibitipoca: Campos arenosos, Campos rupestres arbustivos, Cerrado de
altitude, Campos rupestres (sensu stricto), Campos encharcáveis, Campos gerais e outras
formações peculiares como Paredões verticais, Cursos d´água e Entradas de cavernas.
Com base no levantamento florístico realizado durante a Avaliação Ecológica, somado à
compilação dos dados de herbário da Universidade Federal de Juiz de Fora, foram listadas
405 espécies de plantas vasculares apenas nas formações campestres do Parque Estadual
do Ibitipoca e seu entorno (Anexo I). As famílias com maior número de espécies foram
Asteraceae, com 83 spp., Poaceae, com 47 spp. e Melastomataceae, com 29 spp. Foram
encontradas 11 espécies presentes na Lista das Espécies Ameaçadas de Extinção da Flora
do Estado de Minas Gerais (Mendonça e Lins, 2000) (Deliberação COPAM no 085/97).

60
Foto: P. L. Viana.

Figura 4.12 – Chusquea riosaltensis, espécie de bambu encontrada apenas no Parque


Estadual do Ibitipoca (PEIB) e na Serra Negra, município de Rio Preto.

Campos Arenosos

Os campos com Cactaceae, propostos por Rodela (1998), foram aqui também considerados
uma fitofisionomia distinta, com o nome “Campos Arenosos”. Não apresentam forte distinção
florística em relação às demais formações campestres do parque, mas estão localizados em
área de relevante identidade geológica (Dias et al., 2002), que confere um aspecto
fisionômico peculiar à vegetação (Figura 4.13A).

Campos Rupestres Arbustivos

A delimitação dos campos rupestres arbustivos, proposta por Rodela (1998) inclui tanto
áreas com forte adensamento de candeias (Eremanthus erythropappus), aqui incluídas nas
unidades ambientais “Candeial” e “Candeial com Uso Intensivo”, quanto áreas de campos
rupestres arbustivos. Caracterizam-se pelo estrato herbáceo heterogêneo composto por
aglomerados de ervas, arbustos e, ou, subarbustos crescendo em fendas de rochas (Figura
4.13B e C). Freqüentemente se encontram indivíduos arbóreos esparsos de candeia
(Eremanthus erythropappus), que sustentam especializada flora liquênica (Marcelli, 1994).
Os campos rupestres arbustivos possuem fisionomia mais aberta em relação aos candeiais,
com presença marcante de Agarista spp., Panicum euprepes, Phyllanthus klotzkianus,
Pseudobrickelia brasiliensis, Sophronitis crispata e Vellozia intermedia. São freqüentes
afloramentos rochosos com característica vegetação rupícola a eles associada. O estrato
herbáceo é geralmente descontínuo e formado por espécies típicas de campos rupestres,
como exemplares de Velloziaceae, Eriocaulaceae e a Poaceae Panicum euprepes.

61
A B

C D

E F

G H
Fotos: P. L. Viana.

Figura 4.13 – Aspecto fisionômico de uma área Campos Arenosos, com destaque à
cactácea Arthrocereus melanurus subsp. Mangus (A); Campo Rupestre
Arbustivo (B); Campo Rupestre Arbustivo às margens do Rio do Salto (C);
Cerrado de Altitude (D); Campo Rupestre sensu stricto (E); Huperzia
treitubiensis freqüente em cotas acima de 1.600m de altitude (F); Lagoa Seca,
ilustrando os Campos Encharcáveis (G) e; Campos Gerais, situados no
entorno do Parque Estadual do Ibitipoca (H).

62
Cerrado de Altitude

A vegetação nomeada por Rodela (1998) de cerrado de altitude coincide com ocorrência de
solo com características edáficas específicas. Representam relevante identidade florística
em relação às demais formações campestres do parque, pela ocorrência de espécies típicas
de cerrado, como Aristida recurvata, Axonopus brasiliensis, Miconia albicans, Roupala
montana etc.

Campos rupestres (sensu stricto)

Essa formação vegetal caracteriza-se pelo estrato herbáceo graminóide contínuo composto
por densas populações de espécies de gramíneas misturadas a pequenas ervas,
subarbustos, arbustos ou pequenas trepadeiras e presença ocasional de elementos
arbóreos. Dentre as espécies freqüentes, notam-se as gramíneas Andropogon sp.,
A. leucostachyus, A. selloanus, Arstida torta, Axonopus fastigiatus, A. siccus, Ctenium
brevispicatum, Dichanthelium superatum, Panicum euprepes, Paspalum polyphyllum,
Sporobolus metalicolous, Schizachyrium tenerum, Trachypogon spicatus, T. vestitus etc.,
que predominam em todo o estrato herbáceo. Destacam-se na composição do estrato
herbáceo espécies de Eriocaulaceae (principalmente Paepalanthus elongatus), Velloziaceae
(Barbacenia flava, Vellozia albiflora, V. intermedia), Orchidaceae (Zygopetalum mackayi,
Habenaria rolfeana, Oncidium spp., Sophronitis crispata) e Droseraceae (Drosera montana).
Subarbustos ou arbustos como as Melastomataceae Cambessedesia hilariana,
Chaetostoma pungens, Microlicia cf. scoparia, Tibouchina martialis, as Asteraceae Ageratum
fastigiatum, Achyrocline satureioides, Baccharis tarchonanthoides, Chromolaena
decumbens, Senecio pohlii e diversas espécies de outras famílias, como Lobelia hilereiana e
Syphocampylus imbricatus (Campanulaceae), Chamaesyce caecorum (Euphorbiaceae),
Coccocypselum condalia (Rubiaceae) e Mandevilla tenuifolia (Apocynaceae), Myrsine
gardneriana (Myrsinaceae), Phyllanthus klotzchianus (Phyllanthaceae) se encontram
misturadas à densa massa de vegetação herbácea. Chama-se atenção à espécie de
pteridófita Huperzia treitubensis (Figura 4.13F) freqüente em quotas de altitude acima de
aproximadamente 1600 m. Espécies rupícolas são freqüentes onde há exposição e
afloramento da matriz rochosa nestas áreas. Dentre as espécies mais freqüentes observam-
se bromélias (Dyckia spp. e Vriesea cacuminis), orquídeas (Bifrenaria harrisoniae, Maxillaria
madida, Pleurothallis johanensis etc.), piperáceas (Peperomia decora e P. gallioides) e
demais espécies como Anthurium minarum, Doryopteris ornithopus, Nematanthus strigilosus
etc. Nota-se, nesses campos como ao longo de todo o curso do Rio do Salto, a presença de
grandes populações de uma espécie de bambu endêmica da região, Chusquea riosaltensis.
Este espécie é conhecida somente do Parque (localidade tipo) e da Serra Negra, área com
vegetação levemente similar a do Parque, que se localiza aproximadamente a 40 km de
distância. A presença desta espécie (pertencente à seção Swallenochloa) denota a forte
influência da Mata Atlântica na composição florística dos campos rupestres do Parque.

Campos encharcáveis

Nos platôs onde a drenagem é deficiente formam-se no período das chuvas brejos
temporários, os campos encharcáveis ou hidromorfos, com solos turfosos, ácidos e ricos em
matéria orgânica. São comuns espécies de Lentibulariaceae (Utricularia spp.,
Genlisea spp.), insetívoras como Droseraceae (Drosera spp.) entremeadas a Poaceae
(Panicum spp., Paspalum spp.), Cyperaceae (Bulbostylis spp.), pteridófitas (Lycopodielle

63
geometra) e briófitas. Esses campos surgem na parte norte do Parque tendo sua maior
representação na região da Lagoa Seca, que inclui algumas espécies totalmente adaptadas
à vida aquática como Nymphoides indica, diversas Eriocaulaceae, Apiaceae, Droseraceae,
entre outras.

Campos Gerais

Esta formação vegetal se encontra fora do limites do Parque, formando grandes extensões
de campos graminosos com freqüentes subarbustos, arbustos e arvoretas retorcidas. As
espécies vegetais que compõe a flora destes campos são, em sua maioria, espécies típicas
do bioma Cerrado. Observa-se expressiva diversidade vegetal, principalmente espécies
herbáceas, como as gramíneas Andropogon bicornis, Aristida recurvata, Axonopus siccus,
A. brasiliensis, Ctenium cirrhosum, Echinolaena inflexa, Eragrostis polytricha, E. solida,
Paspalum eucomum, P. polyphyllum, Schizachyrium microstachyum, S. sanguineum,
S. tenerum etc. A família Asteraceae é bem representada por subarbustos e arbustos
(Chromolaena spp., Eramanthus spp., Gochnatia spp., Inulopis camporum, Koanophyllum
myrtiloides, Lessingianthus pycnostachyus, Pterocaulon sp. etc.), assim como
Melastomataceae (Cambessedesia espora, Miconia albicans, M. ligustroides etc.),
Myrtaceae (Eugenia bimarginata, Myrcia splendens e Psidium cinereum) e Malpighiaceae
(Banisteriopsis campestris, Byrsonima intermedia, B. subterrânea e Heteropterys umbellata).
Outras espécies relevantes são Erythroxylum campestre, E. suberosum, Lippia sericea,
Solanum lycocarpum, Tocoyena formosa, Zeyheria montana etc. Fato notável é a expressiva
diversidade vegetal verificada nas áreas aqui denominadas campos gerais durante a
Avaliação Ecológica Rápida. Foram inventariadas 82 espécies de plantas vasculares numa
área de aproximadamente 1.200 m2. Todos os pontos amostrados no interior do Parque, em
campos rupestres, mostraram valores de riqueza vegetal menores que os campos gerais.
Enfatiza-se a necessidade de medidas efetivas de proteção dessas áreas campestres.
Durante os trabalhos de campo foi constatada intensa atividade antrópica sobre esses
campos, desde supressão total da vegetação para plantio de eucalipto até fortes atividades
pecuaristas, incluindo queimadas periódicas e pisoteio intenso.

Nos paredões quartzíticos verticais (Figura 4.14A), comuns nos limites leste do parque, são
freqüentes as Amaryllidaceae Hippeastrum e Zephyrantes, assim como a curiosa
Gesneriaceae Sinningia tuberosa. Pouco se conhece da composição florística desses
ambientes dadas à dificuldade de acesso.
Os numerosos cursos d’água que correm para o Rio do Salto abrigam em suas margens
uma flora bastante restrita a estes habitats, úmidos e sombreados (Figura 4.14B), onde são
freqüentes espécies de Lentibulariaceae, Xyridaceae, Droseraceae e Eriocaulaceae,
freqüentemente associadas a almofadas de briófitas.
Nas entradas de grutas, verifica-se uma vegetação bem adaptada a ambientes com pouca
luminosidade (Figura 4.14C). Citam-se espécies de samambaias, como Adiantum spp.,
Asplenium spp., Arachnoides denticulata, Diplazium sp. e Pteris spp., espécies de aráceas
(Anthurium spp.) e também a curiosa Gesneriaceae Sinningia tuberosa. Muitas espécies de
musgos e pteridófitas revivescentes (Selaginella spp.) também são freqüentes nestes
ambientes.

64
A B

C D
Fotos: P. L. Viana.
Figura 4.14 – Vista dos paredões verticais, que abrigam flora peculiar (A); Ao longo dos
cursos d’água a vegetação também é peculiar, composta por macrófitas
aquáticas e espécies saprófitas ou carnívoras (B); Nas entradas de cavernas,
se concentram diversas espécies adaptadas a ambientes sombreados,
exemplificadas por espécies de pteridófitas e briófitas (C) e; Planta de
Siningia tuberosa fixada em rocha em área de grota (D).

ANFÍBIOS
Dentro do Parque e seu entorno foram amostrados de maneira sistemática 10 ambientes.
Além disso, várias áreas internas do Parque foram amostradas aleatoriamente, no entanto
sem receber denominações específicas devido ao acaso das informações ou pouca
relevância em relação à presença de espécies. A descrição de cada unidade ambiental
amostrada, metodologia e resultados, em geral, podem ser obtidos no relatório sobre a
herpetofauna do PEIB. Os pontos de amostragem foram escolhidos com base nas diferentes
formações vegetais do Parque e do seu entorno, respeitando os locais de preferência do
grupo dos anfíbios.
Durante a Avaliação Ecológica Rápida (AER) foram registradas 14 espécies de anfíbios,
distribuídas nas famílias: Bufonidae (1), Hylidae (10) e Leptodactylidae (3). O ambiente que
apresentou maior riqueza de espécies foi a Lagoa do Sr. Nelson (14 espécies), seguido pela
Lagoa Seca (13 espécies) e Mata Grande (12 espécies). A diversidade de espécie

65
registrada durante a AER foi extremamente baixa. Isto se deve, ao fato, das viagens terem
sido realizadas durante período não propício à observação de anfíbios. O período mais
favorável seria ao longo de meses com alta concentração pluviométrica e temperaturas mais
elevadas, entre os meses de setembro e janeiro, já que essa é a época reprodutiva
preferencial da maioria das espécies de anfíbios anuros.
Com base nos diversos estudos já desenvolvidos no Parque Estadual do Ibitipoca, podem
ser relacionadas para esta unidade e seu entorno 39 espécies de anfíbios (Anexo II). Dentre
estas espécies diagnosticadas, pode-se destacar quatro delas que apresentam alguma
relevância taxonômica, zoogeográfica e, ou, conservacionista:
Physalaemus rupestris: espécie endêmica dos campos hidromorfos localizados na região
da Lagoa Seca, sendo observada na Unidade apenas nos ambientes de água parada e, ou,
pouco corrente em matas de galeria nas nascentes do rio Vermelho e Rio do Salto, em
cotas altimétricas próximas a 1.650 m. Esta espécie, dentre todas da unidade, parece
representar um endemismo real, pois apresenta bastante especificidade com as feições
desta região do Parque, que parecem não se repetir em outras serras vizinhas. Apesar
deste endemismo, parece apresentar uma população bem estabelecida nestes ambientes,
pois vários indivíduos podem ser diagnosticados nos primeiros meses da época mais quente
e chuvosa do ano. Esta espécie foi considerada como “vulnerável” em Minas Gerais, status
este de ameaça que deve ser intensificado na revisão prevista para este ano, devido ao
caráter de endemismo restrito (Figura 4.15A).
Bokermanohyla feioi: espécie também descrita a partir de exemplares do Parque,
apresentou características morfológicas distintas de B. nanuzae, espécie irmã que ocorre na
Serra do Cipó. Nesta Unidade, foi observada ocupando arbustos e arvoretas do sub-bosque
de riachos, em vários trechos de matas de galeria da unidade. Por ser uma espécie típica de
ambientes de matas de galerias, acredita-se que seja bem provável sua dispersão por
ambientes contíguos fora da unidade, podendo não representar assim um endemismo tão
real como no caso de P. rupestris (Figura 4.15B).
Bokermanohyla ibitipoca: espécie também típica de matas de galerias da unidade foi
recentemente diagnosticada em outras regiões serranas do sudeste do Brasil, como o
Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, na Zona da Mata de Minas Gerais e no Parque
Estadual de Pedra Azul no Espírito Santo, ainda que maiores estudos sejam necessários
para se confirmar estes dados. Esta espécie foi considerada como “vulnerável” em MG,
status este de ameaça que deve ser abrandado na revisão prevista para este ano, devido ao
fato de ter sido encontrada em outras unidades no sudeste do Brasil (Figura 4.15C).
Hylodes amnicola: espécie diurna descrita a partir de exemplares coletados no Parque
ocupa diferentes cotas altimétricas e representa uma das espécies mais ouvidas ao longo
das cachoeiras, riachos e córregos na Unidade. Ocorre tanto em trechos no interior de
matas como em ambientes abertos, mesmo sob forte insolação. Também foi registrada no
sul de MG, próximo à cidade de Aiuruoca, e certamente também ocorre em ambientes do
entorno que apresentem riachos nas mesmas condições das matas de galeria contíguas à
unidade (Figura 4.15D).
A Lagoa do Sr. Nelson, um ambiente bastante antropizado localizado fora dos limites do
Parque, apresentou o maior número de espécies. Esse fato provavelmente se justifica pelo
fato dessa lagoa estar localizada em cota altimétrica mais baixa (mais favorável aos anfíbios
de uma maneira geral), e por apresentar ambientes antropizados com diferentes feições e
estágios de sucessão, favorecendo sua ocupação por uma maior diversidade de espécies.
No entanto, a grande maioria delas são espécies de baixa especificidade ambiental e
grande plasticidade, não estando representadas por espécies indicadoras de ambientes
mais preservados.

66
A B

C D

Figura 4.15 – Espécies de anfíbios anuros registradas no Parque Estadual do ibitipoca


durante a elaboração do Plano de Manejo do Parque. A - Physalaemus
rupestris (Foto: R. Murta); B - Bokermannohyla feioi vocalizando (Foto: R.
Feio); C - Bokermannohyla ibitipoca (Foto C. Cassini) e; D - Hylodes amnicola.
Foto: R. Feio.

Em relação à Lagoa Seca, destacam-se espécies exclusivas em todo o Parque, como


Phrynohyas imitatrix, Scinax squalirostris (Figura 4.16A) e Elachistocleis ovalis, o que
reforça a singularidade deste ambiente em relação a todos os demais na Unidade. A Mata
Grande caracteriza-se por apresentar grande heterogeneidade ambiental, favorecendo
assim, a ocupação por espécies com exigências distintas daquelas de outras matas de
galeria da unidade. Esta formação apresenta espécies indicadoras de qualidade ambiental,
típicas de regiões serranas do Complexo da Mantiqueira, além de espécies exclusivas desta
área, como Phasmahyla cochranae, Hyalinobatrachium eurygnathum, H. uranoscopum
(Figura 4.16B), Scinax luizotavioi e Proceratophrys melanopogon. Dentre estas, as espécies
de Phasmahyla cochranae, H. eurygnathum, H. uranoscopum e Proceratophrys
melanopogon são mais exigentes com relação ao ambiente, requerendo habitas mais
preservados para sua ocorrência. Leptodacylus cunicularius foi encontrado nos ambientes
“Camping” e “Lagoa Seca”, sendo também observada nos candeiais próximos ao camping,
ocupando preferencialmente poças formadas por córregos temporários. Neste local foram
registradas três espécies: Leptodactylus cunicularius (Figura 4.16C), Thoropa miliaris e
Eleutherodactylus juipoca (Figura 4.16D). Esta área é importante, mesmo devido à baixa
diversidade de espécies, já que é o ambiente preferencial do Leptodacylus cunicularius.

67
A B

C D

Fotos: R. Feio

Figura 4.16 – Espécies de anfíbios anuros registradas no Parque Estadual do ibitipoca. A -


Scinax squalirostris; B - Hyalinobatrachium uranoscopum; C - Leptodactylus
cunicularius e; D - Eleutherodactylus juipoca.

Duas espécies de bufonídeos foram coletadas dentro do parque (Bufo schneideri e Bufo
rubescens), mas não foi observado nenhum comportamento reprodutivo, como vocalização,
amplexo ou girinos dessas espécies. Aparentemente, eles se reproduzem nas regiões de
baixa altitude e antropizadas, próximo à vila de Conceição do Ibitipoca, assim como Bufo
ictericus, que foi apenas observado em ambientes do entorno. As feições dos ambientes
abertos definidos como “candeiais” parece não influenciar diferencialmente na composição
de anfíbios, sendo mais determinante a presença e a formação ou não de poças
temporárias, ou de outros ambientes úmidos como afloramentos e folhiços do que
propriamente a concentração de candeias.
Os estudos sobre os anfíbios anuros do PEIB revelaram que quatro espécies foram
descritas a partir de exemplares do Parque (Physalaemus rupestris, Bokermanohyla
ibitipoca, Bokermanhyla feioi e Hylodes amnicola) (Caramaschi et al., 1990, 1991; Pombal-Jr
et al., 2002). Outras duas espécies são, até o momento, endêmicas do PEIB (Physalaemus
rupestris e Bokermanohyla feioi) e duas estão na Lista Vermelha da Fauna Ameaçada de
Extinção de Minas Gerais, no nível de ameaça “vulnerável” (Bokermanohyla ibitipoca e
Physalaemus rupestris) (Machado et al., 1998).

68
RÉPTEIS

O diagnóstico dos répteis (serpentes e lagartos) não foi uma das prioridades durante os
estudos da Avaliação Ecológica Rápida. Entretanto, algumas informações foram resgatadas
em trabalhos anteriores desenvolvidos no Parque Estadual do Ibitipoca. Ainda que a
composição de espécies de répteis possa ser considerada como bastante preliminar alguns
dos dados obtidos podem ser úteis para subsidiar propostas de zoneamento e ações
efetivas de proteção e manejo do Parque.
São conhecidas, para o Parque Estadual do Ibitipoca 18 espécies de répteis divididos pelas
famílias Colubridae (9), Viperidae (3), Gekkonidae (1), Gymnophtalmidae (1), Leiosauridae
(2), Scincidae (1) e Tropiduridae (1) (Anexo II). Destas, destacam-se Heterodactylus
imbricatus, lagarto típico de folhiço de mata, encontrado apenas na Mata Grande e
Echinanthera cephalostriata, espécie de serpente até certo ponto rara, com muitos poucos
registros conhecidos do sudeste do Brasil.
Dentre as serpentes peçonhentas, podemos destacar a cascavel – Crotalus durissus e as
jararacas – Bothrops jararaca (Figura 4.17) e B. neuwiedi que podem apresentar risco de
acidente ofídico para humanos no Parque. A cascavel, apesar de apresentar um veneno
com potente ação neurotóxica, apresenta algumas características comportamentais que
diminuem o risco de acidentes como, por exemplo, a preferência de freqüentar locais
abertos, tornando-se mais facilmente distinguíveis nos ambientes, além do fato de, quando
inervada, agitar vigorosamente o chocalho, provocando um ruído que também facilita seu
diagnóstico no campo. Já as jararacas (Bothrops jararaca e B. neuwiedi), são serpentes
comuns na região, e no parque já foram diagnosticadas na Mata Grande. Por ocorrerem
geralmente camufladas no folhiço de mata, e por demonstrar agressividade com botes
sucessivos sem algum ruído que possa servir de alarme ao turista, constituem-se nas
espécies com maior potencial para acidentes ofídicos no Parque.

Foto: R. Feio

Figura 4.17 – Uma das serpentes que ocorre no Parque Estadual do Ibitipoca (PEIB),
Bothrops jararaca, que pode representar risco de acidentes para turistas,
funcionários do Parque, pesquisadores e moradores locais.

69
Os colubrídeos chamados de cobras-cipó (Thamnodynastes sp. e Tropidodryas striaticeps)
e a Phyllodryas olferssi (cobra-verde), apesar de serem serpentes opistóglifas que podem
apresentar algum risco de envenenamento em humanos, não representam perigo efetivo,
pois são serpentes que parecem ser raras regionalmente e dificilmente são observadas por
apresentarem hábitos noturnos ou extremamente furtivos, mantendo-se imóveis ou fugindo
velozmente pela vegetação, evitando assim serem diagnosticadas.
Mesmo assim recomenda-se que sejam feitos procedimentos preventivos contra acidentes
ofídicos, seja para os turistas ou pesquisadores, como disponibilizar informações em
folhetos e cartilhas, e manter sempre atualizadas informações sobre procedimentos de ação
e os locais mais próximos para o encaminhamento de pessoas eventualmente acidentadas
(Conceição de Ibitipoca ou Lima Duarte) que possuem o soro antiofídico específico
(anticrotálico e antibotrópico).

COMPOSIÇÃO X FORMAÇÃO VEGETACIONAL

Os campos de altitude do Parque são de extrema relevância no contexto da avifauna


regional. Estes ambientes campestres dos topos de montanhas do Sudeste do Brasil são
reconhecidos como importantes centros de endemismo da flora e da fauna (Eiten, 1992;
Safford, 1999). Algumas das espécies ocorrentes neste biótopo possuem distribuição
fragmentada (insulada em cada topo) ao longo do Complexo da Serra da Mantiqueira. Cada
uma dessas populações encerra em si um patrimônio de ordem genética e histórica-
biogeográfica.
No Ibitipoca foram observados os seguintes habitats altimontanos e respectivas aves
indicativas: áreas sem afloramentos rochosos com um tapete herbáceo-graminoso com
taquaras (Synallaxis spixi) ou sem taquaras (Nothura maculosa); áreas rochosas com ervas
e arbustos rupícolas (Anthus hellmayri) e áreas com aglomerados de arbustos e pequenas
árvores esparsas (Sicalis citrina).
Dentre as espécies assinaladas nos campos de altitude do Parque, quatro delas possuem
um padrão de distribuição associado às montanhas do Sudeste do Brasil: o beija-flor
Stephanoxis lalandi, o tiranídeo Knipolegus nigerrimus, o caminheiro Anthus hellmayri e o
sanhaçu Stephanophorus diadematus. A ocorrência destas em baixadas ou encostas nos
vales se verifica apenas ao sul do paralelo 23º S ou sazonalmente em migrações parciais e
incipientes de cunho altitudinal.
Os censos conduzidos neste biótopo resultaram na amostragem de 41 espécies. Outras oito
foram assinaladas fora dos períodos estritos de censo e nove outras, também não
censadas, foram detectadas (à distância) apenas em estreita associação com as matas de
galeria e matas nebulares que permeiam a paisagem.
As cinco espécies mais numerosas nos censos efetuados nos campos de altitude foram, a
partir da mais abundante: o andorinhão Streptoprocne zonaris (54 cm de envergadura), o
periquitão Aratinga leucophthalma (32 cm de comprimento), o caminheiro (Anthus hellmayri,
14,8 cm), o tico-tico (Zonotrichia capensis, 15 cm) e a maria-preta (Knipolegus nigerrimus,
17,5 cm).
Bandos do andorinhão, um insetívoro aéreo, e do periquitão foram notados em
deslocamentos ostensivos sobre os campos. O primeiro deles utiliza as grutas e abrigos do
Parque na primavera para nidificação e no restante do ano como dormitório coletivo. O

70
periquitão, uma das espécies mais conspícuas e numerosas localmente pode ser notada
vocalizando e sobrevoando indistintamente todos os habitats do Parque. A reprodução dos
periquitões na entrada das grutas do Parque é conhecida (Andrade, 1992).
É possível que a população do caminheiro Anthus hellmayri, um pequeno insetívoro de solo,
no Parque (indivíduos/ área) seja a maior de todo o Sudeste. Esta informação se confirmada
tornar-se-á num dos superlativos da Unidade. O táxon presente no Sudeste (Anthus
hellmayri brasilianus) pode no futuro provar ser uma espécie em separado da forma típica
austral (B. M. Whitney, com. pess.). O tico-tico Zonotrichia capensis, um pequeno onívoro de
solo e arbusto, se faz presente mesmo nas partes mais altas. O mesmo pode ser notado
nas proximidades do Pico das Agulhas Negras (P. N. do Itatiaia) na mesma cadeia, ou nas
distantes elevações andinas.
Os dois mais importantes registros para a avifauna campestre do Parque na campanha de
março de 2006 foram o bacurau-da-telha Caprimulgus longirostris, de hábitos noturnos, e o
pequeno tiranídeo Polysctictus superciliaris. Ambos estão correlacionados, sobretudo, aos
campos rupestres e campos de altitude no Sudeste brasileiro (Sick, 1997, Vasconcelos et
al., 2003). O bacurau-da-telha ou bacurau-rupestre representa um interessante caso de
colonização vigorosa de um novo habitat. Após permanecer 117 anos sem ser registrado no
Brasil, o citadino bacurau foi redescoberto no topo da Serra do Caparaó em 1941 e, em
seguida, foi constatado como habitante regular dos telhados de grandes cidades (Sick,
1959). Ambos estão ausentes da lista prévia do Parque (Andrade, 1997); porém, o papa-
moscas-de-costas-cinzentas Polystictus superciliaris já fora registrado na “Janela do Céu”
em 1996 (Vasconcelos et al., 2003). O mesmo é considerado “quase-ameaçado” em nível
global (Birdlife International, 2000).
Um total de 74 espécies foi registrado habitando especialmente, em trânsito ou sobrevoando
os campos de altitude (Anexo II). Exatas 53 espécies durante a campanha de março.
Dezessete espécies foram assinaladas apenas neste habitat.
O ambiente florestal, a mata, abriga a mais diversificada avifauna dentre os biótopos
representados no Parque. Os censos conduzidos nas duas florestas existentes (Mata
Grande e Portaria) resultaram na amostragem de 104 espécies (Anexo II). Outras dez
espécies foram assinaladas no ambiente fora dos períodos estritos de censo e 17 outras,
também não censadas, foram detectadas apenas forrageando ou sobrevoando áreas de
candeial na proximidade dessas duas matas.
As cinco espécies mais numerosas nos censos efetuados nas florestas foram, a partir da
mais abundante: o tangará Chiroxiphia caudata (15 cm), a maracanã Primolius maracana
(41 cm de comprimento), o pula-pula (Basileuterus culicivorus 12,2 cm), a choquinha-lisa
(Dysithamnus mentalis, 11 cm) e o pula-pula-assoviador (Basileuterus leucoblepharus,
14,4 cm). Todas, com exceção da maracanã, são habitantes do sub-bosque da mata. O
pula-pula-assoviador é semiterrícola, forrageando a pouca altura ou no solo.
A composição das aves encontradas no ambiente florestado revela um componente
característico de Mata Atlântica montícola. Estas espécies endêmicas à Mata Atlântica,
ocorrem no Sudeste especialmente nas cadeias da Mantiqueira e da Serra do Mar (Stotz et
al., 1996, Pacheco e Bauer, 1999). Exemplos dessa vinculação são: Macropsalis forcipata,
Phaethornis eurynome, Stephanoxis lalandi, Ramphastos dicolorus, Piculus aurulentus,
Drymophila ochropyga, Synallaxis ruficaplla, Phyllomyias griseocapilla, Neopelma
chysolophum, Hylophilus poicilotis e Tangara desmaresti.
Por meio de interpolação dos dados reunidos na presente campanha e nas campanhas
prévias e avaliação dos dados disponíveis sobre movimentação migratória, sobretudo, nas
regiões Sudeste e Sul (Sick, 1979; Sick, 1984; Willis, 1988; Belton, 1994; Chesser, 1994;
Pacheco e Gonzaga, 1994; Chesser, 1997; Bauer, 1999) foi possível inferir acerca do status
e da eventual sazonalidade das 274 espécies registradas para o Parque e zona de

71
amortecimento (Anexo II). O relatório sobre a avifauna do PEIB apresenta maiores detalhes
sobre o efeito da sazonalidade sobre a avifauna do Parque.
Ao tempo da lista de Andrade (1997) quatro espécies relacionadas para o Parque (Penelope
obscura, Amazona vinacea, Campephilus robustus e Pyroderus scutatus) constavam da
então em vigor “Lista oficial de espécies da fauna brasileira ameaçada de extinção”,
segundo portaria no 1.522, de 19 de dezembro de 1989 do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, publicada no Diário Oficial da
União de 22 de dezembro de 1989 (Bernardes et al., 1990). Andrade (1997), por desaviso,
não mencionou Campephilus robustus.
Andrade (1997) mencionou que oito das espécies do Parque haviam sido recém incluídas
na “Lista de espécies ameaçadas de extinção da fauna do Estado de Minas Gerais” (Minas
Gerais, 1996), ainda em vigor. No entanto, uma das espécies mencionadas, o pintassilgo
Carduelis magellanica não consta da referida deliberação. Andrade (1997) ainda mencionou
que quatro das espécies do Parque teriam sido consideradas vulneráveis ou quase
ameaçadas por Collar et al. (1994), portanto, em nível global: Ara maracana (agora no
gênero Primolius, esta a única Vulnerável), Baillonius baillonius (agora no gênero
Pteroglossus), Drymophila ochropyga e Muscipipra vetula. Em verdade, haviam sete
espécies listadas para o Parque (Andrade, 1997) tratadas sob categorias de ameaçada ou
quase ameaçadas em Collar et al. (1992; 1994). Foram omitidos Amazona vinacea
(ameaçado) e dois quase-ameaçados: Piculus aurulentus e Dysithamnus stictothorax. Este
último possivelmente um registro errôneo.
A única espécie ocorrente no Parque constante da nova lista nacional de aves ameaçadas
da fauna brasileira ameaçada de extinção é o papagaio-de-peito-roxo Amazona vinacea, na
categoria Vulnerável (Pacheco, 2005). Globalmente, Amazona vinacea esteve como
Ameaçado – uma categoria acima de Vulnerável (Birdlife International, 2000) e mais
recentemente como Vulnerável (Birdlife International, 2004). A espécie consta oficialmente
como “ameaçada” no nível estadual devido aos seguintes critérios: destruição do habitat,
populações pequenas e isoladas; exploração predatória (Minas Gerais, 1996).
Duas outras espécies ameaçadas (categoria Vulnerável) no nível estadual (Minas Gerais,
1996) não foram igualmente registradas diretamente pelo pesquisador responsável pela
Avaliação Ecológica Rápida, nesse e em estudos anteriores, na região do Parque: o uru ou
capueira (Odontophorus capueira) e o araçari-banana (Pteroglossus bailloni), ambas as
espécies endêmicas do bioma Mata Atlântica. A primeira delas, um fasianídeo florestal,
gregário e terrícola pressionado pela caça, é conhecida de alguns moradores e guardas-
parque, mas parece haver um consenso que a mesma esteja desaparecida da região há 25-
30 anos. Essa situação parece ser recorrente, como um todo, na Zona da Mata de Minas
Gerais (Ribon e Simon, 1998, Vasconcelos, 1999).
O araçari-banana (Pteroglossus bailloni), um pequeno tucano de 35 cm e 140 g, singular
pelo colorido intensamente amarelado, consta há quase duas décadas como globalmente
quase-ameaçado (Collar e Andrew, 1988; Collar et al., 1992, 1994; Birdlife International,
2000, 2004). Guix et al. (2000), com base na perda de habitat, na depleção e no isolamento
das populações e persistência da captura para servir ao comércio ilegal nos últimos 20
anos, por toda a Mata Atlântica, sugerem a inclusão da espécie na categoria globalmente
vulnerável. O “tucaninho-amarelo” é conhecido de alguns moradores e guardas-parque, mas
os relatos sugerem que o mesmo seja atualmente desaparecido ou bastante raro na região
do Ibitipoca. A zoóloga Claudia Costa (com. pess.) acredita ter observado a citada espécie
no Parque na campanha de março de 2006.
A partir da atual lista de aves, nove espécies de ocorrência no Parque e entorno constam da
lista oficial de animais ameaçados do Estado (Minas Gerais 1996): Spizaetus tyrannus,
Penelope obscura, Odontophorus capueira, Amazona vinacea, Macropsalis forcipata (M.

72
creagra na deliberação), Pteroglossus bailloni (Baillonius bailloni na deliberação),
Campephilus robustus, Pyroderus scutatus e Sicalis flaveola. O gavião-pega-macaco
Spizaetus tyrannus e o bacurau-tesoura-gigante Macropsalis forcipata foram integrados à
lista a partir da campanha destinada a subsidiar o Plano de Manejo.
Cinco espécies da lista atual (Anexo II) são tratadas como táxons quase-ameaçados (a
parte das categorias de ameaça), em nível mundial, na última das revisões da Lista
Vermelha de animais ameaçados (IUCN, 2006): Primolius maracana, Piculus aurulentus,
Drymophila ochropyga, Phyllomyias griseocapilla e Polystictus superciliaris (Tabela 4.5).

Tabela 4.5 – Espécies de aves do Parque e áreas limítrofes consideradas ameaçadas ou


quase ameaçadas de extinção ou meramente avaliadas desde 1989. IBAMA
1989 (sem categorias: Bernardes et al., 1989), ICBP (Collar et al., 1992),
Minas 1996 (Minas Gerais, 1996), Birdlife 2000 (Birdlife International, 2000),
Birdlife 2004 (Birdlife International, 2004). Categorias: EN (Endangered,
ameaçado); VU (vulnerable, Vulnerável); NT (near threatened, quase
ameaçado); LC (least concern, menos interesse)

Ibama ICBP Minas BirdLife Brasil BirdLife


Nome Popular Espécie
1989 1992 1996 2000 2002 2004
Jacuaçu Penelope obscura X – VU – – LC
Uru *Odontophorus capueira – – VU – – LC
Gavião-pega-macaco Spizaetus tyrannus – – EN – – LC
Macaranã-verdadeira Primolius maracana – NT – VU – NT
Papagaio-de-peito-roxo *Amazona vinacea X V/R EN EN VU VU
Bacurau-tesoura-gigante Macropsalis forcipata X NT EN – – LC
Araçari-banana *Pteroglossus bailloni – NT VU NT – NT
Pica-pau-dourado Piculus aurulentus – NT – NT – NT
Pica-pau-rei Campephilus robustus X – EN – – LC
Choquinha Drymophila ochropyga – NT – NT – NT
Piolhinho-serrano Phyllomuias griseocapilla – – NT – NT
Papa-moscas Polystictus superciliaris – NT – NT – NT
Tesoura-cinzenta Muscipipra vetula – NT – – – LC
Pavó Pyroderus scutatus X – EN – – LC
Canário-da-terra Sicalis flaveola – – VU – – LC

Durante a Avaliação Ecológica Rápida foram registradas, por meio dos diferentes métodos
diretos (visualização, vocalização, fotos, vestígios e captura - no caso de morcegos), 20
espécies de mamíferos distribuídas em onze famílias: Phyllostomidae (7); Vespertilionidae
(1); Callitrichidae (1); Cebidae (1); Atelidae (1); Pithecidae (1); Tayassuidae (1); Canidae (2)
Felidae (1); Hydrachaeridae (1); Agoutidae (1); Leporidae (1); Erithizontidae (1) (Anexo II),
dos quais cinco encontram-se ameaçados de extinção no Brasil (IBAMA, 2003). A presença
de capivara (Hydrochaeris hydrochaeris) e do porco-espinho (Coendou prehensilis), o
primeiro próximo à mata da Pousada Canto da Vida, e o segundo identificado por espinhos
visualizados dentro do Parque, foi comprovada nesse estudo.
Foram avistadas duas espécies de primata, um canídeo (Figura 4.18A), dois roedores, um
porco e um lagomorfo. Por vocalização foram identificadas duas espécies de primatas e um

73
A B

C D

Figura 4.18 – Registros diretos de mamíferos no Parque Estadual do ibitipoca (PEIB). A -


Raposa registrada na unidade ambiental “Mosaico de campos arenosos e
matas nebulares” (Foto: G. Herrmann); cachorro-doméstico (B), lobo-guará
(C) e onça-parda (D) fotografada por meio de armadilha fotográfica, todas as
fotos obtidas no aceiro do limite norte do Parque Estadual do ibitipoca (PEIB).
Fotos: Valor Natural.

canídeo. Por indícios indiretos foram identificados um canídeo (pegada e fezes), um roedor
(pegadas), um lagomorfo (ninho, pegadas e carcaça), e um porco-espinho (espinhos). Por
coleta foram capturados 213 indivíduos de oito espécies de morcegos. Entre todas as
espécies Sturnira lilium foi a mais abundante com 104 capturas, seguida por Desmodus
rotundos com 96 capturas, sendo o restante com uma representatividade muito inferior em
todos os ambientes amostrados.
Apenas duas espécies foram registradas com armadilhas fotográficas, capturadas pela
mesma câmara instalada no aceiro. No total foram feitos seis registros do lobo-guará em
dias alternados (Figura 4.18B) e dois registros da onça parda (Figura 4.18C), ambos no
mesmo dia. Os registros foram obtidos na unidade ambiental de campo rupestre. Além
dessas espécies, a câmara registrou a presença de um cachorro doméstico, o que é
preocupante, devido ao local onde a espécie foi registrada, no aceiro no limite norte do
Parque. Esses animais, além de causarem zoonoses nos animais nativos, podem significar
pressão de caça para os mamíferos do Parque (Figura 4.18D). Embora com baixa eficiência
de resultados, a identificação de espécies, por meio de armadilhas fotográficas, com
requerimentos de áreas de grande extensão, e espécies ameaçadas de extinção, revela a
importância do Parque e seu entorno para a conservação da mastofauna de Minas Gerais.

74
Por meio de entrevistas e informações consideradas confiáveis, foi relatada a existência de
26 espécies, três das quais não foram registradas pelos estudos conduzidos por
pesquisadores dentro do Parque ou no entorno (tamanduá-mirim, mão-pelada e lontra). É
importante ressaltar que duas dessas três espécies foram citadas por todos os
entrevistados. Chama atenção os relatos de redução de avistamentos do veado-mateiro. A
lontra (Lutra longicaudis) é considerada praga no entorno, especialmente para os
piscicultores, sendo alvo de medidas de contenção. O furão conhecido na região como
irarinha, também foi citado por três entrevistados, com descrição precisa e posterior
reconhecimento de imagens.
Um fato curioso é o grande número de grupos da espécie Callicebus personatus (sauá ou
guigó), que podem ser ouvidos em todos os fragmentos de mata visitados. No estudo
conduzido por Girardi (2004), a espécie foi a mais abundante, com densidade muito superior
à encontrada em outras regiões. O pequeno tamanho da área de uso requerido por essa
espécie e a capacidade de sobreviver em pequenos fragmentos são algumas das
justificativas para a presença maciça da espécie na região. Paralelamente, avistamento ou
informações da presença do macaco-prego são raros na região, ao contrário do que é
geralmente observado em outras localidades. Apenas em uma das entrevistas foi relatado
um avistamento de Cebus. De acordo com Girardi (2004), o tamanho dos fragmentos
florestais, incluindo a Mata Grande, é pequeno para manter grupos dessa espécie, em geral
composto por muitos indivíduos, além da exigência de territórios grandes. O grupo de Cebus
registrado nesse estudo tinha apenas três indivíduos, muito menor do que o observado em
outras localidades.
Um grupo de bugio (Alouatta guariba) com cerca de dez indivíduos foi avistado
atravessando a estrada da mata da Portaria para a mata da Pousada Canto da Vida
(Figura 4.19). Nesse grupo foi detectada a presença de filhotes. A mata da Portaria é
conectada a Mata Grande por matas ciliares e matas nebulares, permitindo trocas genéticas
entre grupos do Parque e entorno.

Foto: L. V. C. Silva

Figura 4.19 – Grupo de bugios cruzando a estrada próxima à entrada da pousada Canto da
Vida.

75
Embora um indivíduo do muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) tenha sido registrado
no Parque do Ibitipoca, o levantamento conduzido por Melo e Ferraz (2004) não comprovou
a presença do muriqui. Acredita-se que o registro de indivíduo relatado por algumas
pessoas tenha sido um fato isolado, possivelmente uma fêmea que tenha migrado para
formar outro bando. Os levantamentos realizados no entorno por meio de entrevistas não
revelou indícios da presença da espécie na região.
Também merece destaque a presença de espécies que exercem diferentes papéis na
cadeia alimentar, indicando uma fauna de mamíferos bem estruturada, com espécies de
herbívoros a predadores de topo. Essa estrutura dá suporte ao desenvolvimento de
processos ecológicos essenciais para manutenção das comunidades florísticas e faunísticas
no Parque. As armadilhas instaladas na Mata Grande por Girardi (2004) permitiram a
identificação de espécies de carnívoros de médio e grande porte, oferecendo um bom
controle de presas, e favorecendo a diversidade. Além dos predadores, Girardi (2004)
identificou espécies frugívoro-onívoras de diferentes portes (Chrysocyon brachyurus, Cebus
apella, Cerdocyon thous, Callithirx penicillata, Eira barbara, Nasua nasua, Conepatus,
Didelphis) herbívoros-frugívoros (Pecari tajacu, Alouatta guariba e Callicebus personatus),
frugívoros-granívoros (Agouti paca e Sciurus aestuans), insetívoro-onivoros (Cabassous) e
herbívoros-pastadores (Sylvilagus brasiliensis). Essas espécies, além de favorecer a
manutenção da estrutura da floresta, mantêm o equilíbrio do ecossistema. Conforme
atestado por diversos autores, a presença de uma diversidade de espécies em cada nível
trófico favorece a regulação das populações, o que favorece a diversidade de espécies.
A presença da onça-parda (Puma concolor) merece destaque por tratar-se de espécie que
requer grandes áreas de uso, e que comumente desaparece de pequenos fragmentos. No
levantamento realizado por Girardi (2004), foram detectados dois indivíduos na Mata Grande
que, de acordo com a autora, é provável que se trate de um macho e uma fêmea. O
presente estudo identificou um animal adulto no limite norte do Parque, não sendo possível
identificar o sexo. Embora a área do Parque não seja suficiente para manter indivíduos da
espécie, o fato de haverem registros nesse intervalo de tempo atesta que a área é
efetivamente ocupada por esse felino e que o mesmo tem conseguido atender seus
requerimentos de habitat na região. É importante ressaltar a existência de grandes
extensões de mata no entorno do Parque, ampliando em mais de o dobro a disponibilidade
de áreas para a espécie, especialmente a sudeste do Parque.
Paradoxalmente à presença da onça, os relatos dos funcionários e moradores locais alertam
para a redução no avistamento de lobos no Parque. Girardi (2004) sugere a realização de
estudos para verificar uma possível redução da população e uma vulnerabilidade da espécie
na região. Nesse estudo foram registradas fezes e pegadas em diversas localidades do
Parque, com identificação de uma possível latrina no aceiro, perto da cerca da divisa norte
do Parque. Foram também identificados fezes e pegadas na cachoeirinha e na lombada e
vocalização na Mata Grande. Com esses indícios, é possível que não haja redução da
população, mas um afastamento das áreas de construção devido à redução da oferta de
alimento oferecido com o fechamento do camping e a instalação de coletores de lixo mais
pesados.
A diversidade da fauna de Chiroptera no Parque Estadual do Ibitipoca é bastante baixa, com
um total de oito espécies identificadas durante os levantamentos. Embora não tenham
dados para o Parque e entorno na literatura, os estudos realizados em locais próximos,
como no município de Juiz de Fora e no município de Rio Preto (Serra do Funil)
apresentaram uma riqueza muito maior, com 15 e 18 espécies respectivamente, com
esforço de captura semelhante.
Num total de 213 capturas, foram registradas oito espécies de quirópteros sendo sete
Phyllostomidae e um Vespertilionidae. Entre todas as espécies Sturnira lilium, foi a mais

76
abundante com 104 capturas, seguida por Desmodus rotundos com 96 capturas, sendo o
restante com uma representatividade muito inferior em todos os ambientes amostrados.
A maior diversidade da fauna de Chiroptera encontrada no Parque foi na trilha abandonada
atrás do centro de visitantes. A trilha encontra-se em estágio de regeneração com espécies
pioneiras. Nesta localidade foram registradas cinco espécies e o maior índice de captura de
Carollia perspicillata, espécie cuja dieta é composta por espécies de Piperaceae, em
especial do gênero Piper.
O maior índice de captura em todo o Parque foi da espécie Sturnira lilium representando
48,82% das ocorrências. Esse mesmo padrão foi observado em outras localidades como na
Serra do Caraça (Falcão et al., 2003) e no Parque Estadual de Intervales (Passos et al.,
2003). A predominância de Sturnira lilium encontrada pode estar relacionada aos gradientes
de altitude e a presença de espécies da família Solanaceae, cujos frutos são a base da dieta
da espécie. Sturnira lilium é considerado o principal dispersor de sementes de Solanum. A
maior incidência de Sturnira lilium ocorreu em áreas florestais próximo ao centro de
visitantes e casas de pesquisa, próximo à estação meteorológica. Neste local foi observada
uma alta atividade da espécie com grande incidência de fêmeas lactantes. O local é
bastante favorável à espécie por apresentar uma ampla variedade de recursos alimentares e
vários abrigos naturais.
Na Gruta das Bromélias foram capturados 96 indivíduos de Desmodus rotundus, um
indivíduo de Carollia perspicillata e um de Diphylla ecaudata. Desmodus rotundus é comum
em ambientes de caverna formando às vezes grandes populações e não representa uma
espécie ameaçada ou rara. No entanto chama atenção a diferença observada nas medidas
biométricas da população de Desmodus rotundus do Ibitipoca em relação aos padrões
observados para a espécie em outras localidades. Tal fato pode estar relacionado à altitude
que nesta localidade é de aproximadamente 1.400 m, caracterizando assim um item
importante a ser estudado e monitorado.
Até o momento foram registradas 41 espécies de mamíferos para o Parque Estadual do
Ibitipoca e seu entorno (Anexo II). O Parque tem uma especial importância para a fauna de
primatas da região. Apesar de ser uma unidade de conservação pequena, com pouco mais
de 6 km de comprimento por pouco mais de 3 km de largura, abriga três dos seis gêneros
de primatas da Mata Atlântica, dois dos quais estão ameaçados de extinção na categoria
vulnerável (Hirsh e Subira, 1994). Por serem mamíferos arbóreos, os primatas dependem
completamente da Mata Grande e das matas ciliares, que favorecem a conexão, ainda que
tênue com as matas do entorno do Parque.

77
Administrativamente o PEIB está subordinado ao Instituto Estadual de Florestas - IEF do
Estado de Minas Gerais. O IEF é uma autarquia vinculada à Secretaria de Estado de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - SEMAD. No exercício de suas atribuições, o IEF
observa as deliberações emanadas do Conselho Estadual de Política Ambiental - COPAM,
do Conselho Estadual de Recursos Hídricos - CERH e as diretrizes da Secretaria de Estado
de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - SEMAD.
Do IEF, a UC recebe os recursos destinados à sua implantação e manejo e também as
orientações quanto às operações orçamentárias, financeiras e contábeis, bem como os
recursos de manutenção e aqueles destinados aos contratos e serviços.
A subordinação do PEIB à Administração Central ocorre de forma direta com a Diretoria de
Áreas Protegidas (DIAP) e a Gerência de Gestão de Áreas Protegidas (GEARP), alocadas
na sede do IEF em Belo Horizonte, de onde emanam as orientações técnicas para
preservação, conservação e proteção da biodiversidade das espécies vegetais e animais,
bem como a manutenção do equilíbrio ecológico dos ecossistemas de domínio do Estado.
A gestão da Unidade está sob a supervisão do Escritório Regional na Zona da Mata,
sediado na cidade de Ubá e sua direção sob a responsabilidade do gerente.
Para execução de suas atividades, o parque conta com uma estrutura organizacional
composta por cinco áreas de resultados: técnica, uso público, administrativa/financeira,
manutenção/operação e segurança.
A unidade técnica é responsável pelos serviços de pesquisa e vistoria externa.
A unidade de uso público realiza serviços de ecoturismo, educação e interpretação
ambiental e integração com o entorno.
A unidade administrativa/financeira coordena os serviços administrativos e financeiros da
UC.
A unidade de manutenção/operação executa atividades de limpeza, conservação,
manutenção, infra-estrutura, almoxarifado e transporte.
A unidade de segurança realiza serviços de fiscalização interna e externa ao parque e os
serviços de portaria.

78
Atualmente, o Parque Estadual do Ibitipoca, conta com 25 funcionários, apresentando uma
carência de nove funcionários para suprirem às necessidades de gestão da
unidade,segundo dados da gerência. Existe também a necessidade de capacitação dos
mesmos para atividades específicas, como fiscalização, atendimento ao público, resgate,
entre outros.
O objetivo da Gestão de Pessoas é promover o desenvolvimento profissional dos servidores,
individualmente e em equipe, de forma a estimular a obtenção de metas de alto desempenho e
a promoção da cultura da excelência dentro de um clima organizacional harmônico.
Dentre seus enfoques principais destacam-se:
 o levantamento das competências e
dos requisitos básicos dos cargos;
 avaliação do perfil e do desempenho
dos servidores;
 capacitação da força de trabalho
desenvolvendo competências que
contribuam para a melhoria de
desempenho das pessoas e da
organização; e
 comunicação eficaz e cooperação
entre as pessoas de diferentes
setores e localidades.

Nesta perspectiva, a gestão de pessoas procura desenvolver o comprometimento dos


servidores, conscientizando-os das suas responsabilidades e potencialidades de modo que
eles realizem as suas atividades com dedicação e empenho, procurando ir além da
descrição de sua função, tendo em vista sempre a realização dos objetivos da sua área e a
missão organizacional.
O Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) para os servidores-chave do Parque Estadual
do Ibitipoca pode ser estruturado pelo esquema abaixo:

79
1) Realizar um seminário no PEIB com objetivo de divulgar o planejamento
estratégico para todos os servidores, levantar idéias, propor ações de melhoria e estimular o
comprometimento de todos no cumprimento dos resultados esperados.
2) Estabelecer metas do parque que sejam comuns a todos os funcionários. Ex:
metas de qualidade, de desempenho, de atendimento, comunicação interna, ampliação e
fortalecimento de parcerias, educação ambiental, entre outros.
3) Reunir semanalmente os servidores para analisar as atividades realizadas e
programar a semana seguinte. Pode ser por setor e conduzido pelo responsável da área. O
gerente deve organizar e dirigir estas reuniões.
4) Definir projetos específicos conduzidos por equipes multidisciplinares utilizando os
potenciais dos servidores. Definir metas, responsáveis, equipe, prover recursos e cobrar
resultados.
5) Reconhecer idéias e, ou, ações dos servidores que geram resultados por meio de
elogios, homenagens e premiações.
6) Estabelecer mecanismos de comunicação para contatos construtivos entre
gerente e funcionários.
Na Tabela 5.1. está a relação atual de todos os servidores que prestam serviços para o
Parque Estadual do Ibitipoca.

O Parque está equipado com alguns veículos (uma motocicleta, dois caminhonetes, um jipe
e três veículos médios) que são utilizados nas ações de fiscalização e apoio à pesquisa.
No entanto, o processo de fiscalização não acontece de forma ordenada e as
conseqüências da falta de planejamento, para essa atividade, são refletidas no alto grau de
impacto sobre a fauna, a flora e sobre o meio físico (em especial as cavernas), apontados
nos diagnósticos.

OCORRÊNCIA DE FOGO

Incêndios florestais são ameaça permanente à fauna e flora de uma unidade de


conservação, trazendo sérios danos ao meio ambiente pela supressão e empobrecimento
dos recursos naturais existentes.
Registros históricos revelam a eficácia do plano de prevenção e combate a incêndios
florestais do PEIB, que tem mantido sob controle esta ameaça. O último incêndio registrado
no parque foi em 1999. Diversas situações favoráveis têm contribuído para isso: relevo,
desfavorecendo o acesso a algumas áreas; alto índice de umidade relativa do ar; existência
de fazendeiros que têm iniciativas quanto a conservação, principalmente, não fazendo uso
do fogo; ONGs que atuam no entorno do parque; existência de GPAmbs que atuam na área
do Parque; existência de brigada voluntária; existência de corporações do Corpo de
Bombeiros (Juiz de Fora e Barbacena); e existência de infra-estrutura no PEIB – Sala de
Primeiros Socorros.

80
Tabela 5.1 – Relação dos servidores do Parque Estadual do Ibitipoca (PEIB)

Funcionários do IEF
Local de
No Nome Idade Função/Contrato Função/Exercida Escolaridade Horário Admissão
Trabalho
Alcino
40 Encarregado de 8 às
1 Ribeiro Guarda-parque I 4a série 1/4/1986 PEIB
anos Campo 17 horas
Campos
Alvino 66 Guarda-parque I 8 às
2 Carelli Porteiro 4a série 14/2/1982 PEIB
anos 17 horas

Clarice
Analista
Nascimento 29 3o grau 8 às
3 Ambiental/ Eng. Gerência Técnica 14/7/2006 PEIB
Lantelme anos completo 17 horas
Florestal
Silva
Carlos
43 Serviços gerais 8 às
4 Hoberto Guarda-parque I 1o grau 5/5/1986 PEIB
anos Manutenção/Porteiro 17 horas
Filho
Heloisa
Marta 44 8 às
5 Guarda-parque I Servente 7a série 6/7/1989 PEIB
Ribeiro de anos 17 horas
Paula
Herly de 65 8 às
6 Guarda-parque I Servente 4a série 1/4/1980 PEIB
Ávila anos 17 horas
João Carlos
44 Analista de 3o grau/ 8 às
7 Lima de Gerente de UC 16/5/1986 PEIB
anos Floresta e Biod. II AMUC 17 horas
Oliveira
João de
53 Ajudante de Serviços gerais 8 às
8 Oliveira da 4a série 20/1/1980 PEIB
anos Serviços Gerais Manutenção/Porteiro 17 horas
Cunha
José
40 8 às
9 Antonio da Viveirista I Porteiro 4a série 4/12/1984 PEIB
anos 17 horas
Silva
José
48 Serviços gerais 8 às
10 Espedito Guarda-parque I 4a série 5/5/1986 PEIB
anos Manutenção 17 horas
Ribeiro
José Ribeiro Serviços Gerais
49 8 às
11 Fernandes Viveirista II Manutenção/ 4a série 1/7/1976 PEIB
anos 17 horas
Guarda-parque
Nelson
43 Encarregado Geral/ 4a série 8 às
12 Aguiar de Guarda-parque I 5/5/1986 PEIB
anos Motorista incompleta 17 horas
Paula
Pedro Serviços gerais
41 Oficial de 8 às
13 Gonçalves Manutenção/ 4a série 2/7/1990 PEIB
anos Serviços Gerais I 17 horas
de Oliveira Porteiro
Sebastião 51 8 às
14 Motorista II Motorista 4a série 1/7/1976 PEIB
Fábio Lage anos 17 horas
Walter
42 8 às
15 Ribeiro Guarda-parque I Porteiro 4a série 5/5/1986 PEIB
anos 17 horas
Fernandes

81
Pessoal Terceirizado – Adservis Multiperfil Ltda. – Parque Estadual do Ibitipoca
Local de
No Nome Idade Função/Contrato Função/Exercida Escolaridade Horário Admissão
Trabalho
Antonio Vicente 49 8 às
1 Porteiro Porteiro 4a série 00/00/1994 PEIB
de Paula Barra anos 17 horas
Carlos Augusto 30 8 às
2 Porteiro Porteiro 2o grau 00/00/1994 PEIB
Ribeiro anos 17 horas
João Batista Serviços Gerais
40 8 às
3 Fernandes Porteiro Manutenção/ 4a série 00/00/1995 PEIB
anos 17 horas
Teixeira Guarda-parque
Assessor
Joaquim 31 2o grau 8 às
4 Supervisor Administrativo/ 2/4/2001 PEIB
Eduardo Pereira anos técnico 17 horas
Financeiro
Guarda-parque/
José Aloísio da 36 Auxiliar de 2o grau 8 às
5 Auxiliar 00/00/1994 PEIB
Silva anos Serviço incompleto 17 horas
Administrativo
José Geraldo 30 8 às
6 Servente Guarda-parque 1o grau 00/00/1994 PEIB
dos Santos anos 17 horas
Maria
31 8 às
7 Auxiliadora dos Servente Servente 1o grau 00/00/1995 PEIB
anos 17 horas
Reis

Funcionários MGS – Minas Gerais Administração e Serviços


Local de
No Nome Idade Função/Contrato Função/Exercida Escolaridade Horário Admissão
Trabalho
Elias Gomes de 43 8 às
1 Vigia Guarda-parque 2o grau 00/00/2005 PEIB
Amorim anos 17 horas
Luiz Carlos 46 8 às
2 Vigia Guarda-parque 2o grau 00/00/2004 PEIB
Oliveira anos 17 horas

Funcionários Convênio – Prefeitura Municipal de Lima Duarte


Local de
No Nome Idade Função/Contrato Função/Exercida Escolaridade Horário Admissão
Trabalho
Delma Patrícia 34 2o grau/ 8 às
1 Secretária Secretária 10/4/2006 PEIB
Miranda Reis anos Magistério 17 horas

82
Contudo, é fundamental estar atento a aquelas situações desfavoráveis que expõem a
vulnerabilidade do parque, quais sejam: uso do fogo para manejo do solo no entorno do
Parque, principalmente, na área de campo; relevo muito acidentado, que dificulta ações de
combate, principalmente, dado à existência de clarabóias; grande número de visitantes;
deficiência quanto ao número de funcionários; alguns veículos não-específicos para a área;
falta de um programa contínuo de educação ambiental; falta de um programa de fomento na
área de divisa do Parque para a criação de aceiro verde; ocorrência de descargas elétricas
naturais; existência de material leve característica de campos naturais; intensidade e
velocidade elevada dos ventos; carência de viatura do Corpo de Bombeiros para as
atividades de prevenção.
Medidas de fiscalização, educativas e de combate a focos de incêndios são desenvolvidas
permanentemente por funcionários do IEF e dos GPAmbs na área de abrangência do PEIB,
por meio de um Plano Conjunto Emergencial de Prevenção e Combate a Incêndios no
Parque Estadual do Ibitipoca/entorno.

O Parque Estadual do Ibitipoca é um dos parques mais visitados no Estado de Minas Gerais
e talvez até do País, em decorrência de sua relevante gama de atrativos turísticos já
consolidados e conhecidos. Alguns deles incluem as grutas presentes dentro do território do
Parque, sendo que algumas se encontram fechadas à visitação, mas são visitadas
clandestinamente.
O PEIB passou por um longo processo de visitação crescente e desordenada na última
década (Botelho, 2005) e na tentativa de ordenação por parte da Instituição, gerou-se certa
tensão entre a gestão do Parque e a comunidade, principalmente com os proprietários dos
equipamentos turísticos, dependentes do grande fluxo de turistas que o parque absorvia.
Nos últimos anos, o PEIB tem limitado o número de visitantes, sendo necessária prévia
reserva para visitação, em especial para os interessados em utilizar a área de camping, que
comporta um número restrito de visitantes. É importante considerar que o PEIB passa por
um intenso processo de reformas e as dependências físicas disponíveis não estão sendo
utilizadas em sua plena capacidade.
De acordo com a portaria no 36, de 3 de abril de 2003, deliberada pelo Conselho de
Administração e Polícia Florestal de Minas Gerais em novembro de 2000, estabeleceu-se os
limites de visitação em:
- 300 visitantes nos dias de semana/800 finais de semana e feriados;
- 10 barracas dias de semana/15 finais de semana e feriados; e
- 30 veículos todos os dias.
A portaria também determina o número de visitantes na área de camping em dez barracas,
contando o máximo de 30 visitantes, nos dias de semana; e 15 barracas, com máximo de 45
visitantes, nos finais de semana.
Ao se tratar das atuais atividades de lazer praticadas no parque, observa-se que a mais
utilizada é o trekking, ocorrida em toda a extensão do Parque com o objetivo de visitação a
todos os atrativos. A prática dessa atividade permite maior autonomia de movimentação e
liberdade de carga pelos praticantes, podendo acarretar impactos visíveis a curto e médio
prazo, pelo pisoteio a animais e plantas abertura de focos de erosão, deposição de lixo e
extração de rochas, plantas e animais durante o trajeto.

83
A contemplação e fotografia de paisagem são proporcionadas por vários mirantes naturais
oficiais ou não-oficiais, dispersos pelo território do parque. Os mirantes são procurados,
tanto por visitantes amadores da fotografia, quanto por fotógrafos profissionais. No PEIB, em
especial, existem alguns mirantes que proporcionam a contemplação do horizonte e, até
mesmo, dos municípios limítrofes ao parque.

A pesquisa científica é outra importante atividade executada no PEIB, que contribuem para
o manejo e conservação da unidade e desenvolvimento do entorno, uma vez que buscam a
informação sistematizada da biodiversidade específica do Parque.
Existem diversos trabalhos em andamento sendo desenvolvidos, principalmente, por
Instituições de Ensino, como Universidade de Juiz de Fora (UFJF), Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as quais efetuam
pesquisas em diversas áreas do conhecimento.
Realizar uma pesquisa científica em UC envolve um processo de normatização que está
regulamentado na Portaria 014, de 4 de abril de 2000. A documentação solicitada encontra-
se disponível no site do IEF: <http://www.ief.mg.gov.br> ou pode ser solicitado na Gerência
de Projetos e Pesquisas da Diretoria de Biodiversidade.
O pesquisador receberá a licença para realização do projeto na Unidade de Conservação e
terá acesso a alojamento, e outras infra-estruturas pré-agendadas com a gerência do
Parque.
Após a pesquisa o pesquisador deve submeter uma cópia do trabalho, digital e impressa ao
IEF.

O Parque não conta com um programa de educação e interpretação ambiental que possa
promover o uso sustentável dos recursos naturais. O Centro de Visitantes se encontra
desatualizado e é preciso que os recursos didáticos (fitas de vídeo, folders) sejam
atualizados. Vale ressaltar que durante a elaboração do presente plano de manejo o referido
centro estava em fase de reestruturação.

Não existe um programa do parque para promover o relacionamento com as entidades do


entorno. Neste sentido, é preciso criar formas concretas e relacionamento com os diversos
atores sociais, desenvolvendo parcerias que não se restrinjam ao município de Conceição
de Ibitipoca, mas antes, sejam realizadas em todo o entorno do parque, considerando os
três municípios que o circundam, seus povoados e suas áreas rurais.

84
Este trabalho deverá basear-se em três premissas fundamentais, quais sejam:

• que o parque não pode ser considerado como ilha de conservação ou reserva
natural isolada, uma vez que as atividades exercidas nas áreas de seu entorno
influenciam direta ou indiretamente na conservação ambiental e equilíbrio ecológico
como um todo;
• que as atribuições da gestão do parque, em região tão cercada de pressões
antrópicas como esta, não possa se limitar àquelas definidas formalmente. Ao
contrário, algumas ações devem ser desencadeadas e implementadas pela própria
administração da Unidade, em parceria com os poderes públicos municipal, estadual
e federal, além de entidades e organizações não-governamentais instaladas na
região; e
• que o Parque Estadual do Ibitipoca deve constituir-se em um dos instrumentos do
desenvolvimento da região sob estudo, por meio, por exemplo, do ecoturismo, como
maneira eficaz de contribuir para a sobrevivência das comunidades localizadas em
sua área de entorno e impedir a utilização predatória de seus recursos naturais.
Nesta linha, deve-se considerar a filosofia de que a motivação econômica é um dos
melhores fatores da mudança no trato ecológico.

Para isso é preciso: estruturar o parque em seus aspectos estratégicos e gerenciais


objetivando construir uma nova visão na região buscando mais conhecimento da
comunidade para se obter maior envolvimento.
A integração efetiva com as comunidades do entorno poderá ser feita por meio de ações de
informação, divulgação, consulta e participação na tomada de decisões, educação
ambiental, oferta de cursos de capacitação, lazer, atividades esportivas e culturais.
É importante também fortalecer a articulação interinstitucional, considerando os atores PEIB,
Prefeituras Municipais, entidades da sociedade civil e comunidades.
Na relação com o entorno é preciso destacar a participação do PEIB no projeto Corredor
Ecológico da Mantiqueira, composto por 41 municípios, uma iniciativa da ONG Valor
Natural que visa incentivar a ligação entre as unidades de conservação existentes na região.
Esta ligação pode ser feita por florestas ou por outros espaços com usos do solo
compatíveis com a conservação da natureza.
A iniciativa ainda encontra-se em fases de Planejamento, onde estão sendo discutidas cinco
linhas estratégicas, a partir das quais será desenvolvido o Plano de Ação do Corredor
Ecológico da Mantiqueira, incentivo ao uso sustentado da terra, propostas de políticas
públicas e incentivos de apoio a conservação, fortalecimento e ampliação das unidades de
conservação, comunicação, informação e mobilização, fomento à pesquisa para suporte às
iniciativas de conservação no corredor.

Segundo informações do IEF, o Parque Estadual do Ibitipoca encontra-se 100%


regularizado. Porém, os títulos dos imóveis da área que compõe o parque precisam ser
devidamente reunidos e arquivados.
De acordo com a Lei 6.126, de 4/7/1973, o Parque teria uma área de aproximadamente
1.488,70 ha. O memorial descritivo, contido na referida lei, descreve o perímetro do Parque,
referindo-se na maioria das vezes, confrontações entre propriedades particulares. Como não

85
foi realizado o levantamento fundiário, é impossível transcrever o perímetro exato do
Parque. Durante os trabalhos de campo realizados para elaboração do plano de manejo e
no levantamento de dados secundário, constatou-se que existem diversos perímetros do
parque, cada um com uma área.
O mapa em formato digital (shape) do limite do Parque, disponibilizado pelo IEF, apresenta
uma área de 1.516 ha. Entretanto, em discussão com os técnicos que gerenciam o parque,
foi constatado que este limite precisa ser revisto.
Durante as campanhas de Avaliação Ecológica Rápida foi percorrido, praticamente, todo o
perímetro do Parque reconhecido pelos os técnicos do IEF, com o auxílio de GPS. Este
trabalho resultou na localização de alguns marcos colocados na ocasião do mapeamento
topográfico realizado pelo Sr. José Feres Azzi Filho, em dezembro de 2002, que definia uma
área total do parque de 1.923,50 ha. No levantamento realizado durante a Avaliação
ecológica Rápida chegou-se a uma área de aproximadamente 1.667 ha (Figura 5.1;
demonstrando o limite levantado em campo e o disponibilizado pelo IEF).
Em decorrência destes fatos, recomenda-se que seja realizado um levantamento topográfico
utilizando uma estação total para que possa, não só levantar com precisão a área do
parque, como também, definir a situação fundiária, item fundamental para definição dos
possíveis desapropriações futuras.

Limite disponibilizado pelo IEF.


Área de 1.516 ha

Limite elaborado a partir de avaliação


em campo com apoio dos técnicos do
IEF. Área de 1.667 ha
Foi percorrido todo o acero do Parque
e localizados alguns marcos.

Área declarada no memorial descritivo


do parque: 1.488,70 ha

Figura 5.1 – Variação dos perímetros do Parque Estadual do Ibitipoca a partir de diferentes
interpretações.

86
O parque deve levar em conta a possibilidade de expansão nas áreas do entorno mostradas
na Figura 5.2, por representarem ecossistemas bem preservados que possuem
continuidade com as formações hoje protegidas. Na área indicada ao norte (1), a crista
quartzítica que se prolonga depois da Janela do Céu é área de forte interesse para
conservação ambiental, sem qualquer uso agrícola atual ou potencial. Esta avaliação
permite indicar a importância de aquisição das áreas 1 e 2 e incorporação ao patrimônio do
Parque. Já para a área 3 sugere-se a negociação com o proprietário para criação de uma
Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).

Figura 5.2 – Áreas potenciais para expansão do Parque Estadual do Ibitipoca e, ou,
criação de outras áreas protegidas na região. O mapa mostra também os
focos de arenização no entorno do PEIB.

87
De acordo com Araújo (2007), uma melhoria significativa na qualidade dos planos de
manejo elaborados no Brasil, será conseguida com a utilização dos pressupostos do manejo
adaptativo. Após toda a etapa de elaboração do diagnóstico, deverá ser realizada uma
modelagem de como os ecossistemas da unidade de conservação respondem as pressões
e ameaças. Este modelo deverá descrever a hipótese sobre o comportamento do
ecossistema que está sendo manejado. A partir da análise do modelo, serão elaborados os
programas de manejo. Durante a execução futura dos programas de manejo será verificado
se os resultados esperados estão sendo alcançados e conseqüentemente se a hipótese de
trabalho é verdadeira. Caso a hipótese não se confirme, será possível por meio de nova
análise do modelo, verificar em qual ponto nossa hipótese de trabalho está equivocada e,
conseqüentemente, aprender mais sobre o funcionamento do ecossistema sob manejo.
A partir das informações levantadas no diagnóstico, foi construído um modelo (Figura 6.1)
demonstrando como as pressões e ameaças interagem para produzir a degradação dos
ecossistemas no PEIB. Para elaboração desse modelo utilizou-se a linguagem sistêmica. A
utilização do método sistêmico permite alcançar um maior nível de aprendizado, o que está
de acordo com a filosofia do manejo adaptativo. Permite também um questionamento dos
modelos mentais, ou seja, das idéias profundamente arraigadas nas mentes dos gestores
que influenciam seu modo de encarar o mundo e suas atitudes que acabam por impedir uma
visão mais ampla da realidade e a busca de soluções sustentáveis e definitivas.
Nas representações sistêmicas existem dois elementos básicos: enlaces (círculos de
causalidade) reforçadores (R) e enlaces de balanceamento (B). Os enlaces reforçadores
geram crescimento ou colapso exponencial. Os enlaces equilibradores geram as forças de
resistência que acabam limitando o crescimento, mantém a estabilidade e realizam o equilíbrio.
Como mostrado na Figura 6.1, o enlace reforçador nunca ocorre só. No exemplo abaixo
temos a relação entre o enlace reforçador e balanceador. O incremento do turismo leva ao
aumento do número de pessoas visitando o PEIB. A beleza cênica do parque propicia um
elevado grau de satisfação nos visitantes, que por sua vez, relatam essa experiência para
outras pessoas (boca a boca) o que leva ao incremento no número de pessoas visitando o
parque. Esse círculo de causalidade tende a levar a um aumento exponencial no número de
pessoas visitando o PEIB. Por outro lado, o maior número de pessoas visitando o parque
leva a uma compactação do solo, erosão das trilhas e degradação do PEIB, o que contribuiu
para diminuição da beleza cênica. Isso leva, no determinado espaço de tempo, à diminuição
da satisfação do visitante e conseqüentemente na limitação do número de pessoas visitando
o PEIB.

88
Beleza cênica

Boca a boca

Degradação
do PEIB
Número de Pessoas
R Visitando o PEIB
B

Grau de
Compactação do Erosão das
satisfação
solo trilhas

Figura 6.1 – Enlaces, reforçador (R) e balanceador (B), atuando sobre o número de pessoas
visitando o PEIB.

Como relatado no exemplo acima, o incremento do turismo no PEIB resulta num maior
número de pessoas visitando o parque, com seus respectivos enlaces reforçadores e
balanceador já descrito. A divulgação boca a boca leva ao reforço no incremento do turismo
no PEIB, enquanto a diminuição da beleza cênica provocada pelo excesso de visitantes leva
a limitação do turismo (Figura 6.2).
O incremento do turismo também leva ao aumento na coleta de espécimes da flora e ao
aumento da caça. Isso provoca a diminuição no número de indivíduos, o que limita a
expansão dessas pressões. A diminuição de indivíduos tem como resultado a diminuição no
tamanho das populações. Com isso temos menos colonizadores, maior restrição
demográfica levando a um reforço na diminuição das populações. A redução das
populações reforça a diminuição na riqueza de espécies do PEIB. Com isso, temos a
diminuição nas interações positivas entre espécies, como polinização, dispersão de
sementes etc., que reforça a diminuição nas populações de algumas espécies.
Por outro lado, a diminuição na riqueza de espécies leva ao alívio nas interações negativas,
como competição, predação e etc. Isso permite o aumento nas populações de espécies
sobreviventes, propicia o aparecimento de nichos vazios a serem ocupados, o que limita a
diminuição na redução da riqueza de espécies. A presença de mais colonizadores também
reforça a ocupação de nichos vazios e propicia o efeito de resgate nas populações
depauperadas geneticamente, o que também limita a diminuição na riqueza de espécies.
Os incêndios florestais levam ao aumento da savanização do PEIB, que por sua vez é mais
suscetível a novos incêndios, reforçando sua ocorrência. No entanto, a ocorrência de
incêndios freqüentes leva à diminuição do material combustível, o que contribui para limitar
a ocorrência de novos incêndios. A ocorrência de incêndios pode beneficiar algumas
espécies dos campos rupestres que dependem desse tipo de distúrbio.
O incremento do turismo resulta também num aumento da pressão urbana da vila de
Conceição do Ibitipoca sobre o parque. Isso leva a maior fragmentação do entorno, redução
do hábitat, perda de indivíduos que reforçam outros enlaces já descritos.

89
Perda de hábitat

Susceptibilidade
Turismo PEIB

Espécies populações
pirófilas
R Savanização

Pressão urbana CI
Incêndios

B Presença de B
cachorros
R Diminuição Mat
Combustível

Fragmentação do
Coleta/ Caça entorno
perturbação
Divulgação B
< Beleza cênica
Boca a boca
Perda de indivíduos Perda de hábitat
Redução do Hábitat
Erosão das
trilhas
Número de Pessoas
R Visitando o PEIB B
Diminuição dos recursos

Mudança na
drenagem
Grau de Aumento da competição
Compactação do Intra e inter-específica
satisfação
solo

Poucos
Restrições
Colonizadores
demográficas Interações positivas Efeito de resgate
Baixo acesso restringidas
aos fragmentos
R
R >=< Riqueza de espécies
Nichos vazios ocupados
Redução nas populações

B
Auto acesso
aos fragmentos
Interações negativas Explosão populacional
aliviadas sobreviventes
+Transeuntes/
Colonizadores
Baseado em Hammitr & Cole, 1998; Desouza, 2001 in Araujo, 2007

Figura 6.2 – Modelo sistêmico demonstrando a interação entre as pressões e a degradação


dos ecossistemas do PEIB.

Como em toda construção de modelo, se as observações realizadas no PEIB não validarem


a teoria implícita no modelo, significa que ele precisa de refinamento ou mesmo revisão. No
entanto, isso já se constituirá num importante passo dentro do ciclo do manejo adaptativo.
Além disso, na abordagem sistêmica o fundamental é a alavancagem, ou seja, a
identificação de pontos onde as ações e mudanças trarão resultados significativos e
duradouros.

90
Na região do Parque Estadual do Ibitipoca, as grandes variações de altitude e solo, com a
conseqüente diversidade de formações vegetais, condicionaram uma grande diversidade
biológica. Essa importância foi reconhecida no Estado e nacionalmente. No nível nacional, o
projeto “Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade da Mata
Atlântica e Campos Sulinos”, desenvolvido pelo Projeto de Conservação e Utilização
Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (PROBIO) do Ministério do Meio Ambiente
(MMA, 2000), destacou a Serra da Mantiqueira e a região do Ibitipoca como uma área de
extrema importância biológica para conservação da Mata Atlântica brasileira.
No nível estadual, a Serra do Ibitipoca foi considerada uma área de extrema importância
biológica pelo projeto “Definição de Prioridades para Conservação da Biodiversidade do
Estado de Minas Gerais”, desenvolvido em 1998 pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente
de Minas Gerais (SEMAD) e instituições parceiras. A justificativa para a inclusão foi a
diversidade de habitats, a existência de anfíbios endêmicos e aves e mamíferos ameaçados
de extinção (Tabela 7.1). Dentre as recomendações para a área citava-se o monitoramento
da fauna, a ampliação dos limites do Parque Estadual do Ibitipoca e, a realização de
estudos para avaliar o impacto do turismo sobre a biodiversidade local. O mesmo estudo
apontou o turismo como a atividade econômica que mais exercia pressão antrópica sobre o
Parque.
No mesmo estudo, toda a região da Mantiqueira, onde o Parque está inserido, foi
considerada uma área especial para conservação da biodiversidade, ou seja, uma área
onde ocorrem espécies com distribuição restrita ao local. A justificativa para a inclusão foi a
alta riqueza de espécies de fauna e flora raras, endêmicas ou ameaçadas. As principais
pressões identificadas foram: o desmatamento, o turismo desordenado e a agricultura. A
importância da Serra da Mantiqueira para conservação da biodiversidade da Mata Atlântica
também teve reconhecimento internacional quando foi decretada a Reserva da Biosfera da
Mata Atlântica (RBMA), em 1992, pela UNESCO. A Mata Atlântica, como um todo, também
foi considerado um hotspot, ou seja, está entre as 25 regiões do mundo mais ricas em
endemismos de espécies e mais ameaçadas.
A importância biológica do complexo da Mantiqueira também levou à adoção de estratégias
regionais para a sua conservação. Desde 2004 está em curso o processo para
implementação do Corredor Ecológico da Mantiqueira. Essa iniciativa, coordenada pela
ONG Valor Natural, abrange 42 municípios da porção mineira da Mantiqueira, incluindo o
município de Lima Duarte onde se localiza grande parte do Parque Estadual do Ibitipoca.

91
Tabela 7.1 – Número total e de espécies ameaçadas de extinção do Estado de Minas Gerais
existente no parque Estadual do Ibitipoca

Endêmicas Ameaçadas
Grupo Biológico (Táxon) Total
ao Parque em MG
Plantas vasculares em ambientes florestais 327* - 09
Plantas vasculares formações campestres** 405*** **** 11
Fauna de invertebrados de cavernas 32 - -
Anfíbios 39 2 2
Répteis 18 - -
Aves 274*** - 9
Mamíferos 41*** - 8
Líquens***** IND 1 -
Total - 3 39
* = número de espécies de plantas em ambientes florestais do entorno: 345. Total de espécies florestais no
parque e entorno: 541.
** = desse total, 15 são pteridófitas (samambaias, avencas etc.).
*** = Parque Estadual do ibitipoca e entorno.
**** = no parque ocorre uma espécies de bambu,Chusquea riosaltensis, e uma de cactus Arthrocereus
melanurus subsp. magnus, com registro apenas no Parque e na região vizinha da Serra Negra.
***** = esse grupo não foi alvo de estudos específicos durante a Avaliação Ecológica Rápida, mas devido a
importância do registro de uma espécie com endemismo restrito ao Parque, o líquen Cladonia ibitipocae, foi
incluída na tabela.
IND = indefinido.

A região foi selecionada para criação do Corredor Ecológico devido a existência de


importantes fragmentos florestais de Mata Atlântica e pela existência de uma importante
rede de unidades de conservação formada pelo Parque Nacional de Itatiaia, Parque
Estadual da Serra do Papagaio, Parque Estadual do Ibitipoca, APA Fernão Dias, APA Serra
da Mantiqueira, Floresta Nacional de Passa Quatro e diversas reservas particulares (RPPN).
A Serra do Ibitipoca, juntamente com a Serra Negra que lhe é vizinha, forma um dos
conjuntos de relevos mais elevados da região do município de Lima Duarte. Em decorrência
de gradientes altitudinais e relacionando-se direta e indiretamente a fatores edáficos e à
disponibilidade de umidade, diferentes formações vegetacionais são observadas no Parque
e seu entorno. A vegetação é representada por um mosaico bastante diverso, composto por
manchas de floresta ombrófila densa altimontana (mata nebular) e montana; floresta
estacional semidecidual montana; candeial; campos arenosos; campos rupestres arbustivos;
campos rupestres sensu stricto; campos encharcáveis; cerrado de altitude; formações
peculiares dos paredões abruptos, das entradas das cavernas e das margens dos cursos d’
água; samambaial, além dos campos gerais do entorno do Parque.
Comparado com as áreas vizinhas, o Parque da Serra do Ibitipoca apresenta maiores
índices de umidade e pluviosidade e temperaturas mais baixas. A intensa umidade dos
ventos que atingem a região da Serra do Ibitipoca é refletida na elevada densidade de
plantas epífitas, representadas principalmente por liquens e bromélias, além de orquídeas,
pteridófitas e cactáceas. Devido a sua importância para conservação da diversidade de
líquens, o Parque foi recomendado à IAL (International Association for Lichenology) para
compor um catálogo das localidades do mundo que apresentam interesse de conservação
dos líquens.

92
Em termos vegetais, o Parque é uma valiosa amostra da vegetação primitiva regional, pois
seus tipos fisionômicos principais, Candeial, Campo de Altitude, Campo Rupestre e Floresta
Estacional Semidecidual, encontram-se bem representados e preservados. Por este motivo
o Parque abriga uma notável diversidade de espécies de plantas, sendo algumas
endêmicas, em uma faixa territorial, relativamente pequena. Exemplo de importante
endemismo restrito e a espécie de líquen Cladonia ibitipocae, como uma população limitada
a uma pequena área dentro do parque.
A vegetação predominante no Parque, os campos, é bastante rica. Apenas nas formações
campestres do Parque Estadual do Ibitipoca e seu entorno foram listadas 405 espécies de
plantas vasculares. Entre as espécies campestres, 11 são classificadas como ameaçadas
de extinção em Minas Gerais.
Quanto às florestas, nove são consideradas ameaçadas de extinção em Minas Gerais,
sendo duas delas também ameaçadas nacionalmente: Ocotea odorifera e Dicksonia
sellowiana (xaxim), sendo que a primeira é referida na lista nacional das espécies
ameaçadas, publicada pelo IBAMA, como Ocotea pretiosa, que é sinonimia da Ocotea
odorifera.
A diversidade de formações vegetais do PEIB, considerado um ambiente relictual,
condiciona a diversidade de fauna. No Parque ocorrem várias espécies raras, como a onça
parda, o lobo guará, o guigó, os macacos barbado, sauá e saguis, o papagaio do peito roxo,
o coati, o andorinhão-de-coleira-falha, entre outros.
O Parque Estadual do Ibitipoca destaca-se como área prioritária para conservação de
anfíbios. Foram registradas 39 espécies, sendo que quatro espécies foram descritas a partir
de exemplares coletados no Parque (Physalaemus rupestris, Bokermanohyla ibitipoca,
Bokermanhyla feioi e Hylodes amnicola); duas espécies são endêmicas da unidade
(Physalaemus rupestris e Bokermanohyla feioi) e; duas espécies são consideradas
ameaçadas de extinção em Minas Gerais (Bokermanohyla ibitipoca e Physalaemus
rupestris). O Parque abriga, ainda, 18 espécies de répteis destacando-se Heterodactylus
imbricatus, lagarto típico de folhiço de mata, encontrado apenas na Mata Grande e
Echinanthera cephalostriata, espécie de serpente até certo ponto rara, com muitos poucos
registros conhecidos do sudeste do Brasil.
O Parque tem uma especial importância para a fauna de primatas da região. Apesar de ser
uma unidade de conservação pequena, com pouco mais de 6 km de comprimento por pouco
mais de 3 km de largura, abriga três dos seis gêneros de primatas da Mata Atlântica, dois
dos quais estão ameaçados de extinção na categoria vulnerável. Também merece destaque
a presença de espécies que exercem diferentes papéis na cadeia alimentar, indicando uma
fauna de mamíferos bem estruturada, com espécies de herbívoros a predadores de topo.
Essa estrutura dá suporte ao desenvolvimento de processos ecológicos essenciais para
manutenção das comunidades florísticas e faunísticas no Parque. A presença da onça-
parda (Puma concolor) merece destaque por tratar-se de espécie que requer grandes áreas
de uso, e que comumente desaparece de pequenos fragmentos. A sua ocorrência sinaliza
que os ambientes do Parque possuem boa conexão com os fragmentos florestais do
entorno.
Os campos de altitude do Parque também são de extrema relevância no contexto da
avifauna regional. Os ambientes campestres dos topos de montanhas do sudeste do Brasil
são reconhecidos como importantes centros de endemismo da flora e da fauna. A algumas
espécies ocorrem em populações isoladas em cada em cada topo ao longo da serra
Mantiqueira, encerrando em si um patrimônio de ordem genética e histórico-biogeográfica.
Um total de 74 espécies de aves foi registrado habitando especialmente, em trânsito ou
sobrevoando os campos de altitude do Parque. Dentre as espécies registradas, quatro delas
possuem um padrão de distribuição associado às montanhas do Sudeste do Brasil: o beija-

93
flor Stephanoxis lalandi, o tiranídeo Knipolegus nigerrimus, o caminheiro Anthus hellmayri e
o sanhaçu Stephanophorus diadematus.
As cinco espécies mais numerosas nos censos efetuados nos campos de altitude foram, a
partir da mais abundante: o andorinhão Streptoprocne zonaris, o periquitão Aratinga
leucophthalma, o caminheiro (Anthus hellmayri) o tico-tico (Zonotrichia capensis,) e a maria-
preta (Knipolegus nigerrimus). Bandos do andorinhão e do periquitão foram notados em
deslocamentos ostensivos sobre os campos. O primeiro deles utiliza as grutas e abrigos do
Parque na primavera para nidificação e no restante do ano como dormitório coletivo,
demonstrando a importância dessa unidade de conservação para a espécie. O periquitão,
uma espécie também muito abundante localmente, pode ser notado vocalizando e
sobrevoando indistintamente todos os habitats do Parque, com sítios de reprodução na
entrada das grutas.
É possível que a população do caminheiro Anthus hellmayri, no Parque seja a maior de todo
o sudeste brasileiro. O táxon presente na região sudeste (Anthus hellmayri brasilianus) está
sendo revisto e no futuro vir a ser considerada uma espécie distinta da forma típica austral,
o que, se comprovado, reforçará a importância do Parque para a proteção dessa espécie. O
tico-tico Zonotrichia capensis, um pequeno onívoro de solo e arbusto, se faz presente
mesmo nas partes mais altas. O mesmo pode ser notado nas proximidades do Pico das
Agulhas Negras (Parque Nacional do Itatiaia) na mesma cadeia, ou nas distantes elevações
andinas. Uma inusitada e moderada concentração do montícola maria-preta Knipolegus
nigerrimus, um pequeno insetívoro de solo e arbustos, indica a possibilidade de ocorrer
concentrações pré-migratórias de caráter local.
Apesar das peculiaridades da composição da avifauna dos campos, o ambiente florestal é o
que abriga uma fauna mais diversificada dentre os ambientes representados no Parque. Os
censos conduzidos nas duas florestas existentes (Mata Grande e Portaria) resultaram na
amostragem de 104 espécies. Outras 10 espécies foram assinaladas no ambiente fora dos
períodos estritos de censo e 17 outras, também não censadas, foram detectadas apenas
forrageando ou sobrevoando áreas de candeial na proximidade dessas duas matas.
A partir da atual lista de aves, nove espécies de ocorrência no Parque e entorno constam da
lista oficial de animais ameaçados do Estado (Minas Gerais 1996): Spizaetus tyrannus,
Penelope obscura, Odontophorus capueira, Amazona vinacea, Macropsalis forcipata (M.
creagra na deliberação), Pteroglossus bailloni (Baillonius bailloni na deliberação),
Campephilus robustus, Pyroderus scutatus e Sicalis flaveola. O gavião-pega-macaco
Spizaetus tyrannus e o bacurau-tesoura-gigante Macropsalis forcipata foram integrados à
lista a partir da campanha destinada a subsidiar o Plano de Manejo. A única espécie
ocorrente no Parque constante da nova lista nacional de aves ameaçadas da fauna
brasileira ameaçada de extinção é o papagaio-de-peito-roxo Amazona vinacea.
Além da importância biológica, o Parque Estadual do Ibitipoca apresenta uma grande
relevância espeleológica. Com suas 30 cavernas, o parque possui uma das maiores grutas
endo-quartzíticas do mundo, a Gruta das Bromélias, com mais de 3.000 metros de extensão
mapeados, proposta para inclusão como Patrimônio Geológico Mundial da UNESCO.
Apesar da riqueza das grutas, sua fauna de invertebrados pode ser considerada pobre em
termos de diversidade. Entretanto as suas grutas abrigam populações de alguns aracnídeos
relativamente raros, pertencentes ao grupo dos Pseudoescorpiones e Amblypigy e um
díptero da família Keroplatidae.

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