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PROCESSO EPIDÊMICO

Profa. Dra. Rosana Rosseto de Oliveira


RELEMBRANDO...
Epidemiologia
 Ciência que estuda o processo saúde-doença em
coletividades humanas;
 Analisa a distribuição e os fatores determinantes das
enfermidades, danos à saúde e eventos associados à
saúde coletiva;
 Propondo medidas específicas de prevenção,
controle, ou erradicação das doenças;
 E fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao
planejamento, administração e avaliação das ações de
saúde.
Processo Epidêmico
 No século XVIII, o processo epidêmico era definido
da seguinte maneira: “dá-se o nome de doenças
epidêmicas a todas aquelas que atacam, ao mesmo
tempo e com características imutáveis um grande
número de pessoas”;
 Vem a ser uma relação linear entre o contexto social e
o aparecimento ou a produção de epidemias;
Processo Epidêmico
 Ocorre com uma sucessão de eventos que envolvem
ecossistemas (agente etiológico, hospedeiro e o
ambiente);
 Quando associamos esses elementos e entre eles
acontece um desequilíbrio que pode vir a resultar em
uma doença, então temos uma processo epidêmico;
AGENTE
AMBIENTE HOSPEDEIRO
ETIOLÓGICO

DESEQUILÍB
RIO

PROCESSO
DOENÇA
EPIDÊMICO
Conceitos - EPIDEMIA
 Definida como a elevação brusca, temporária e
significante acima do esperado da incidência de uma
determinada doença;

 Ocorrência de uma doença, transmissível ou não, em


patamares acima dos limites esperados para o período
em questão, isto é, acima do nível endêmico;
30.04.19 Ministério da Saúde informou que casos da doença já ultrapassam 450 mil. Oito estados
e o DF vivem epidemias localizadas.
Conceitos - ENDEMIA
 Refere-se a presença usual de uma doença, dentro
dos limites esperados, em uma determinada área
geográfica, por um período de tempo ILIMITADO;

 Exemplo: Doença de Chagas, malária,


esquistossomose , entre outras.
Conceitos - SURTO
 É um OCORRÊNCIA epidêmica, em que todos os
casos estão relacionados ente si e atingem uma área
pequena e delimitada;

 Exemplo: intoxicação alimentar em uma escola, após


ingestão de alimento contaminado;
Conceitos – PANDEMIA
 Epidemia de grande proporção, ultrapassando
continentes;

 Exemplo: peste bubônica na Idade Média, cólera no


século XIX, influenza logo após a Primeira Guerra
Mundial, e, mais recentemente, Aids.
 https://www.youtube.com/watch?v=r9r_VwoZvho
 https://www.youtube.com/watch?v=Sq5f1ex6NZs
A pandemia de 2009. O registro de 2.060 mortes no Brasil em
2009 ocorreu quando a vacina ainda estava em desenvolvimento.
Ela passou a ser aplicada em 2010, quando o governo brasileiro
anunciou que iria imunizar 92 milhões de pessoas.
 Uma determinada doença pode ser caracterizada
como:

 Presente em nível endêmico;


 Presente em nível epidêmico;
 Presente com casos esporádicos;
 Inexistente.
PROCESSO EPIDÊMICO
 Epidemeion – “visitar” , caráter de temporalidade,
de provisório, dos diversos aspectos da epidemia.

 Endemion – endemia, que traduziria o sentido de


“habitar o lugar”, nele residindo de longa data, ou
se instalando por longo tempo.
Endemia
 Ocorrência coletiva de uma determinada doença
que, no decorrer de um longo período histórico,
acometendo sistematicamente grupos humanos
distribuídos em espaços delimitados e
caracterizados, mantém a sua incidência constante,
permitindo flutuações de valores, como variações
sazonais.
Endemia
Endemias brasileiras...

• Hanseníase,
• Tuberculose,
• Malária (AC, AM, AP, RO, RR, PA, MA, PA,TO),
• Doença de Chagas (AC, AM, AP, RO, RR, PA, parte
do TO, MA e do MT),
• Leishmaniose...
Epidemia
 Ocorrência da doença em grande número de
pessoas ao mesmo tempo.

 Elevação progressiva crescente, inesperada e


descontrolada dos coeficientes de incidência de
determinada doença, ultrapassando e reiterando
valores acima do limiar epidêmico pré-
estabelecido.
Epidemia
 O número de casos que indicam a presença de uma
epidemia variará de acordo com o agente, tipo e
tamanho da população exposta, experiência prévia
ou ausência de exposição.
Tipo de EPIDEMIA

Epidemia por Epidemia


Fonte Comum Progressiva

Epidemia por
Epidemia
Fonte
Explosiva
Persistente
Epidemia por Fonte Comum
 Neste caso o fator extrínseco pode estar vinculado
pela água, por alimento ou pelo ar, não havendo
transmissão de pessoa para pessoa;

 Apresenta rápida progressão atingindo um pico de


incidência em um curto período de tempo, com
declínio na sequência;
Epidemia por Fonte Comum

Figura. Representação esquemática de dois tipos de curva epidêmica.


Fonte: Medronho, Bloch; Luiz; Werneck, 2011.
Epidemia por Fonte Comum
 Exemplo:

• Leptospirose, no municípios do Rio de Janeiro em


1996, devido as chuvas do verão;

 Trata-se geralmente de uma epidemia explosiva;


Epidemia Progressiva ou Propagada
 Progressão lenta;
 Transmissão ocorre de pessoa para pessoa;
 Vias respiratórias, sexuais ou vetores;
 Forma uma cadeia de transmissão do agente;
 Exemplos: gripe, malária, sífilis, raiva, dengue, entre
outras;
Figura. Curva de Epidemia propagada.
Fonte: Almeida Filho; Barreto, 2017.
Epidemia Explosiva
 Apresenta uma rápida progressão até atingir a
incidência máxima num curto espaço de tempo;
 Exemplo: intoxicações decorrentes da ingestão de
água, leite ou outros alimentos contaminados.
Epidemia por Fonte Persistente
 Exposição da população prolonga-se por um largo
lapso de tempo;

 Exemplo: Epidemias de febre tifoide devido à fonte


hídrica, acidentalmente contaminada pela rede de
esgoto.
Classificação do caso quanto a origem
 Casos Autóctones: são os casos de doença que
tiveram origem dentro dos limites do lugar em
referência ou sob investigação.
Classificação do caso quanto a origem

 Casos Alóctones: são os casos importados; o doente,


atualmente presente na área sob consideração,
adquiriu o seu mal em outra região, de onde emigrou.
A incidência de uma doença pode chegar ao
nível epidêmico através de 4 mecanismos:
 Importação e incorporação de casos alóctones:
populações formadas por grande número de pessoas
suscetíveis, com as quais a transmissão seja uma
possibilidade real;
 Ingresso de casos alóctones em áreas cujas condições
ambientais são favoráveis à propagação da doença;
A incidência de uma doença pode chegar ao
nível epidêmico através de 4 mecanismos:
 Modificações ocorridas na estrutura epidemiológica;
 Contato acidental com agentes infecciosos, toxinas
ou produtos químicos, estando sujeitos grupos de
indivíduos ou populações nas quais a incidência da
doença permanecia nula até então.
Curva Epidêmica
 É a representação gráfica geral de uma situação
epidêmica.

 Nesta curva genérica existem 06 elementos a estudar:


1.Incremento inicial de casos;
2. Egressão;
3. Progressão;
4. Incidência Máxima;
5. Regressão;
6. Decréscimo de incidência endêmica.
1.Incremento inicial de casos
 “Eventos em que o processo saúde-doença passa de
uma situação endêmica preexistente para uma
situação epidêmica.

 Ainda em nível endêmico, observa-se um incremento


do número de casos com o coeficiente de incidência
tendendo para o limite superior endêmico”.
2. Egressão
 “Surgimento dos primeiro os casos e termina quando
a incidência for nula ou quando o processo se
estabilizar num dado patamar de endemicidade,
caracterizando uma endemia”.

 Inicia na progressão e termina na regressão.


3. Progressão
 Estabelecida a epidemia, a fase inicial do processo;

 Descrita pelo ramo ascendente da curva epidêmica,


termina quando o processo epidêmico atinge seu
clímax;
4. Incidência Máxima
 Clímax;
5. Regressão
 Última fase na evolução de uma epidemia.
 O processo de massa tende a:
• retornar aos valores iniciais de incidência;
• estabilizar-se em patamar endêmico, abaixo ou acima
do patamar inicial;
• regredir até incidência nula, incluída aí a erradicação.
6. Decréscimo de incidência endêmica

 Quando o processo regride em nível endêmico;

 As ações de controle e vigilância continuam, a


endemicidade pode ser levada a patamares bastante
baixos, mais baixos do que aqueles vigentes antes da
eclosão da ocorrência epidêmica;

 Pode-se pensar inclusive na erradicação da doença.


COVID-
19
Uma doença pode estar presente em:

 Nível Epidêmico;
 Nível Endêmico;
 Com casos esporádicos;
 Inexistente.
Nível Epidêmico
 é uma alteração, espacial e cronologicamente
delimitada, do estado de saúde-doença de uma
população, caracterizada por uma elevação
progressivamente crescente, inesperada e
descontrolada dos coeficientes de incidência de
determinada doença, ultrapassando e reiterando
valores acima do limiar epidêmico preestabelecido.
Nível Endêmico
 A doença ocorre de forma constante em
agrupamentos humanos distribuídos em espaços
delimitados e caracterizados, num determinado
período de tempo, permitidas flutuações cíclicas ou
sazonais.
Para entender nível endêmico considera-se:

 Frequência média;
 Desvio padrão;
 Frequência máxima esperada;
 Frequência mínima esperada;
 Distribuição das medidas de incidência mensal
média;
 Limite superior e inferior;
 Faixa de incidência normal esperada e faixa
endêmica
Frequência média
 Frequências altas e baixas alternam-se no mesmo
período (ano, mês, semana, dia);
 Espera-se que venham ser observados em anos
posteriores valores aproximados das médias
encontradas;
 Incidência mensal média = média aritmética das
incidências de um período ou série.
Frequência média
Desvio padrão – “S”
 A distribuição das médias nas frequências das
doenças podem apresentar variações sazonais =
desvio padrão;
Como calcular o desvio padrão de 3,5,2,1,3,4,6,9,3

 O primeiro passo para o cálculo do desvio padrão é calcular a média dos


valores. Isso é feito dividindo por 9 a soma dos valores. Assim
(3+5+2+1+3+4+6+9+3)/9 = 36/9 = 4

 O segundo passo é calcular (xi - média)², onde xi é cada um dos valores.


Assim (3-4)² = (-1)² = 1
(5-4)² = (1)² = 1
(2-4)² = (-2)² = 4
(1-4)² = (-3)² = 9
(3-4)² = (-1)² = 1
(4-4)² = (0)² = 0
(6-4)² = (2)² = 4
(9-4)² = (5)² = 25
(3-4)² = (-1)² = 1
Como calcular o desvio padrão de 3,5,2,1,3,4,6,9,3

 O terceiro passo é somar esses quadrados. Assim


1+1+4+9+1+0+4+25+1 = 46
 E dividir por 9, que é o total de números. Resulta
46/9
 Esse valor é chamado de variância.
 Finalmente, o desvio padrão é a raiz quadrada da
variância, isto é, raiz quadrada de 46/9 = (raiz46) ~
2,2608.
Frequência máxima esperada
 Probabilidade para um período X

 Fmáx = Fméd + 1,96 x Desvio Padrão

 A constante 1,96 = 97,5% probabilidade


Frequencia mínima esperada
 Tem 97,5% de probabilidade;

 F mínima = F média – 1,96 X S (desvio padrão).


Distribuição das medidas de incidência mensal
média

 Põe-se números brutos ou coeficientes de incidência


mensal média de uma doença no gráfico;

 Une-se os pontos;

 Terá uma linha poligonal de incidência mensal média


da doença em estudo.
Limite superior e inferior da incidência
normal
 Conjunto formado pelas medidas de incidência
mensais máximas ou mínimas;
 São calculadas para todo ciclo de variação e unidas
mês a mês sob forma de um gráfico;
 Probabilidade de acerto de 97,5%;
 Isto significa que apenas 2,5% das frequências
possam ultrapassar os valores do limite superior da
incidência normal.
Faixa de incidência normal esperada
 Tem 95% de probabilidade;

 Espera-se que 95% dos coeficientes de incidência


observáveis ao longo de um período deverão situar-
se dentro da faixa de incidência normal;
Faixa de incidência normal esperada
Faixa endêmica
 Característica de uma determinada doença, referente
a uma determinada população em uma determinada
época.

 É o espaço entre os limites (limite superior e inferior


endêmico).
Faixa endêmica
Ações que devem ser feitas...

Vigilância e controle permanentes;

Observação por pessoal habilitado;

Coleta e registro de dados bioestatísticos;

Acompanhamento da incidência;
ISOLAMENTO VERTICAL X HORIZONTAL

 Existem diversas intervenções em saúde pública


passíveis de realização que visam o controle de um
surto de uma doença infecciosa.

 Dentre elas, podem ser tomadas medidas de


isolamento de pacientes, quarentena e contenção
comunitária (também chamada de isolamento
social).
QUARENTENA
 Quarentena - restrição de atividades ou a separação de
pessoas que não estão doentes, mas que podem ter sido
expostas ao agente infeccioso, com o objetivo de monitorar
os seus sintomas e assegurar a detecção precoce da doença.
(WHO, 2020d)

 Teve sua origem em Veneza (Itália), no século XIV, onde os


navios que chegavam de portos infectados pela praga eram
obrigados a permanecer ancorados por 40 dias antes do
desembarque, na tentativa de se evitar uma epidemia.
(CDC, 2012)
ISOLAMENTO VERTICAL X HORIZONTAL

 Uma vez que não seja mais possível identificar todos os


infectados nem os seus contatos a tempo de retardar a
propagação da doença, o próximo passo pode envolver medidas
de contenção comunitária, principalmente em situações na qual
não existem vacinas e/ou tratamento adequado.
(Wilder-Smith; Chiew; Lee, 2020)

 Existem, na prática, duas estratégias para estabelecer o controle


comunitário: a supressão (também conhecida por isolamento
social horizontal) e a mitigação (isolamento social vertical).
(Ferguson et al., 2020)
ISOLAMENTO HORIZONTAL
 O isolamento horizontal é uma forma de
distanciamento social na qual ocorre a restrição de
circulação do maior número de pessoas possível. 

 Diversas atividades são paralisadas, ocorrendo, por


exemplo, o fechamento de escolas e diversos
comércios, permanecendo apenas os serviços
essenciais, como hospitais, farmácias e
supermercados. Esse tipo de isolamento busca frear de
forma mais severa a transmissão de uma doença.
ISOLAMENTO VERTICAL
 O isolamento vertical é uma forma de distanciamento
social em que é impedida a circulação de pessoas
pertencentes a um grupo de risco de determinada doença.

 Assim, indivíduos que podem, por exemplo, desenvolver a


forma mais grave de uma doença são isolados, a fim de se
impedir o contágio. Já os indivíduos menos vulneráveis
continuam a realizar normalmente suas atividades.
BLOQUEIO TOTAL OU LOCKDOWN

 Nesse cenário, todas as entradas do perímetro são


bloqueadas por profissionais de segurança.

 Além disso, ninguém tem permissão de entrar ou


sair do perímetro isolado. O objetivo é mesmo
interromper qualquer atividade por um curto
período de tempo.
Organização Mundial da Saúde e as epidemias

• Criação do Regulamento Sanitário Internacional ou RSI


(2005) - Acordo com 196 países Estados- Membros da
Organização

• Boletim epidemiológico semanal mundial


Informações epidemiológicas sobre casos e surtos de doenças
sob o Regulamento Sanitário Internacional (febre amarela, peste,
cólera) e também sobre outras doenças transmissíveis .

• Iniciativa Emergências preparação, resposta


- Diante das pandemias de gripe => esquemas de
monitoramento e ação
- São eventos imprevisíveis, mas recorrentes que podem ter
consequências mundiais significativas
Referências
 Medronho, RA; Bloch, KV; Luiz, RR; Werneck, GL. Epidemiologia. 2 Edição. São Paulo,
2011. Editora Atheneu.
 Pereira MG. Epidemiologia: teoria e prática. Guanabara-Koogan: Rio de Janeiro, 2012.
 MARSIGLIA, Regina Giffoni; BARATA, Rita Barradas; SPINELLI, Selma
Patti. Determinação social do processo epidêmico. Saude soc. , São Paulo, v. 27, n. 4,
p. 1004-1012, outubro de 2018. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0104-12902018000401004&lng=en&nrm=iso>. acesso em 30 de
setembro de 2019. http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902018000032.
 Almeida Filho, N; Barreto, ML. Epidemiologia & Saúde: Fundamentos, Métodos, Aplicações.
Guanabara-Koogan: Rio de Janeiro, 2017.
 ROUQUAYROL, Maria Zélia; ALMEIDA FILHO, Naomar de.Epidemiologia & saúde. Rio
de Janeiro: MEDSI, 2003.

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