Doenças emergentes e retorno da dengue e do cólera e a reemergentes expansão da leishmaniose visceral As doenças infecciosas emergentes e Doença emergente é o surgimento ou a reemergentes, de uma maneira geral, identificação de um novo problema de estão associadas aos seguintes fatores: saúde ou um novo agente infeccioso como, por exemplo, a febre hemorrágica modelos de desenvolvimento pelo vírus Ebola, a AIDS, ou econômico determinando alterações microorganismos que só atingiam animais ambientais, migrações, processos de e que agora afetam também seres urbanização sem adequada humanos como o vírus da Febre do Nilo infraestrutura urbana, grande obras Ocidental, o hantavírus e o vírus da como hidrelétricas e rodovias; influenza aviária (A/H5N1). fatores ambientais como desmatamento, mudanças climáticas A elevada letalidade da infecção justifica o (aquecimento global), secas e monitoramento da circulação do vírus e de inundações; seu impacto em humanos, embora a maior parte dos casos relatados tenha decorrido aumento do intercâmbio internacional, de estreito contato entre aves e pessoas, que assume o papel de "vetor cultural" e não haja ainda condições moleculares na disseminação das doenças para a transmissão eficiente deste vírus de infecciosas; pessoa a pessoa. incorporação de novas tecnologias médicas, com uso disseminado de Doenças reemergentes indicam mudança procedimentos invasivos; no comportamento epidemiológico de ampliação do consumo de alimentos doenças já conhecidas, que haviam sido industrializados, especialmente os de controladas, mas que voltaram a origem animal; representar ameaça à saúde humana. desestruturação/inadequação dos Inclui-se aí a introdução de agentes já serviços de saúde e/ou desatualização conhecidos em novas populações de das estratégias de controle de hospedeiros suscetíveis. Na história recente doenças; aprimoramento das técnicas de e reemergentes é o desenvolvimento de diagnóstico, possibilitando diagnósticos pesquisa básica e aplicada na área, com etiológicos mais precisos; envolvimento das universidades e dos processo de evolução de institutos de pesquisa, especialmente em microrganismos: mutações virais, novas tecnologias de diagnóstico (incluindo emergência de bactérias resistentes. técnicas de biologia molecular), pesquisa Todos esses fatores podem favorecer o epidemiológica, e desenvolvimento de aparecimento de novas doenças e fármacos e de vacinas. alteração no comportamento epidemiológico de doenças antigas, Arboviroses tornando o quadro sanitário mais complexo Arbovírus - vírus transmitidos em do que a ideia de uma transição natureza, principalmente ou de modo epidemiológica. importante, mediante transmissão biológica Para o enfrentamento das doenças entre hospedeiros vertebrados suscetíveis emergentes e reemergentes o por meio de artrópodes hematófagos ou, fortalecimento da vigilância epidemiológica, entre estes, por meio da via transovariana especialmente no que diz respeito à sua e, possivelmente, da via venérea. capacidade de detecção precoce, tem um As arboviroses transmitidas pelo Aedes papel fundamental. Médicos, enfermeiros, aegypti têm se constituído em um dos médicos veterinários, e demais principais problemas de saúde pública no profissionais da assistência devem ser mundo. A dengue é a arbovirose urbana capacitados para identificar casos suspeitos de maior relevância nas Américas. e auxiliar no processo de investigação e É transmitida por mosquitos do gênero desencadeamento das medidas de Aedes e possui como agente etiológico o controle. vírus dengue (DENV), com quatro Outro desafio que as doenças emergentes sorotipos distintos. e reemergentes colocam para a Saúde Estima-se que 3 bilhões de pessoas Pública diz respeito às normas de estejam sob o risco de contrair a doença biossegurança. Há um risco de que e que ocorram, anualmente, 390 milhões agentes etiológicos novos e com alta de infecções e 20 mil mortes. letalidade possam vir a ser utilizados como armas biológicas, além da possibilidade real do tráfego global de viroses, em poucas Dengue horas, de um continente a outro, através O vírus Dengue (DENV) é um arbovírus das viagens aéreas (vírus transmitido por artrópodes) membro da família Flaviviridae, gênero Flavivirus. Uma estratégia fundamental para o Este gênero compreende importantes enfrentamento das doenças emergentes patógenos humanos, dentre eles, o vírus responsáveis pela indução de imunidade da Febre Amarela. contra os flavivírus. DENV apresenta características antigênicas Esses epítopos definem a produção de distintas que o diferem em quatro anticorpos específicos para o tipo viral, sorotipos antigenicamente diferentes para o complexo da dengue e para o (DENV 1-4). gênero flavivírus. MORFOLOFIA Transmissão: Os vírus da dengue são esféricos, A transmissão dos vírus da dengue envelopados, com projeções na superfície. envolve mosquitos do gênero Aedes que se infectam após picarem Indivíduos O genoma é constituído por um RNA de viremicos e transferem, pela picada, após fita simples, polaridade positiva, protegido replicação em seu organismo, o vírus ao por um nucleocapsídeo icosaédrico, indivíduo suscetível. composto por um capsídeo (C) de aproximadamente 30 nm. O único animal reservatório a participar no ciclo transmissor dos vírus da dengue é o Este nucleocapsídeo é circundado por próprio homem. uma membrana lipoprotéica derivada da célula hospedeira, com proteínas do A transmissão se dá por fêmeas que ao envelope (E) e proteínas da membrana se alimentarem de sangue para suprir (M) ou pré-membrana (prM) inseridas nela. necessidades proteicas da oviposição, infectam-se picando indivíduos virêmicos Se replicam no citoplasma celular, após um período de latência de 12 a 16 horas e esse processo relaciona-se à proliferação de Vetores: organelas no retículo endoplasmático. Os principais vetores da dengue sao Os vírus da dengue entram nas células por mosquitos Aedes das espécies aegypti e meio da endocitose mediada por albopictus. receptores de membrana. O Aedes aegypti é hoje considerado A proteína E localiza-se nas espículas do cosmopolita, presente principalmente nas envelope, e é fundamental para a ligação regiões tropicais e subtropicais, tendo viral ao receptor de membrana e possui resistência limitada a baixas temperaturas e os mais importantes domínios antigênicos altitudes elevadas. dos vírus da dengue, os quais podem ser detectáveis por anticorpos monoclonais. Os domínios antigênicos de E contêm epítopos, que são os maiores É um mosquito urbano, facilmente 4º - Mosquito adulto: a pupa se transforma encontrado em domicílios, e em áreas em mosquito e este sai do seu 'casulo' e peridomiciliares está pronto para voar e precisa se alimentar. O Aedes albopictus é o vetor da dengue na Ásia, se dispersa com facilidade nos Normalmente os mosquitos Aedes aegypti ambientes rural, semissilvestre e silvestre, se alimentam de frutos e sucos de alguns não dependendo dos locais de grande vegetais, mas após a cópula, a fêmea concentração humana. precisa de sangue para que seus ovos fiquem maduros. Após se alimentar com sangue em 3 dias Ciclo biológico ela põe seus ovos. O tempo médio de vida 1º - Ovo: A fêmea do Aedes põe seus ovos de um mosquito adulto é de 30 dias e na água parada ou na borda de um local durante este período cada fêmea pode que possa eventualmente ficar molhado. colocar cerca de 3000 ovos. Elas preferem depositar seus OVOS O mosquito tem hábitos diurnos, mas isso dentro de recipientes que possam não impede que aconteça voos durante a acumular agua, mas um pouco acima da noite e possiveis deposição de ovos ou linha d'água. picadas. 2º - Larva: ao entrar em contato com a agua o ovo se transforma em larva, em apenas 2 ou 3 dias e estas larvas são Inoculação do vírus da dengue bastante ativas e movem-se na agua, Fagocitados pelas células dendríticas e sendo facilmente reconhecidas. Embora o transportados aos linfonodos regionais, mosquito prefira a agua limpa para se onde realizam a primeira replicação. Essa reproduzir, ele pode se desenvolver até multiplicação inicial resulta em viremia que mesmo na agua suja e no esgoto dissemina esse patógeno por todo o doméstico e se alimenta de protozoários, organismo, livre no plasma ou no interior baterias e fungos presentes nesta água. de monócitos. 3º - Pupa: Em cerca de 7 a 10 dias a larva se transforma em pupa e adota uma forma de vírgula e este estágio é mais Resposta imune inata: curto e dura somente dias até que o Controla a infecção primária do vírus, que mosquito esteja pronto para 'nascer’. Elas estimulam a produção de IgM, detectáveis não se alimentam nessa fase, apenas a partir do 4 dia dos sintomas e no 8º dia respiram e movem-se mulo. entram em declínio novamente. O IgG atingem altos valores em duas a três Perca de peso, náuseas, vômitos e diarreia semanas mantem-se detectáveis por também podem se fazer presentes, vários anos, conferindo imunidade contra o havendo ocorrência desta última em um sorotipo infectante, provavelmente por percentual significativo dos casos. toda a vida. Essa lesão exantemática, presente em grande parte dos casos, é predominantemente do tipo Resposta imune humoral maculopapular, atingindo face, tronco e Fundamental para a prevenção e a cura membros, regiões palmares e plantares. das infecções pelos vírus da dengue. A Após a fase febril, grande parte dos proteína E, parte do envelope viral, e o pacientes recupera-se gradativamente, alvo dominante dos anticorpos protetores com melhora do estado geral e retorno do contra a dengue. Esses anticorpos podem apetite. promover a lise de células infectadas ou inibir a ligação dos vírus aos receptores celulares com consequente neutralização Fase crítica: tem início com o declínio da viral. febre (defervescência), entre o 3° e o 7° dia do início da doença Os sinais de alarme, quando presentes, ocorrem nessa fase. Manifestações clínicas A maioria deles é resultante do aumento As infecções por dengue podem ser da permeabilidade capilar. Essa condição assintomáticas ou sintomáticas. As marca o início da piora clínica do paciente infecções clinicamente aparentes estão e sua possível evolução para o choque, presente em aproximadamente 25% dos por extravasamento plasmático. casos e podem variar desde formas oligossintomáticas a formas graves, Sem a identificação e o correto manejo podendo levar o indivíduo ao óbito. Pode nessa fase, alguns pacientes podem evoluir apresentar três fases clínicas: febril, crítica para as formas graves. e de recuperação. Os sinais de alarme são assim chamados por sinalizarem o extravasamento de plasma e/ou hemorragias que podem levar Fase febril: a primeira manifestação é a o paciente a choque grave e óbito. febre, geralmente acima de 38ºC, de início abrupto e com duração de 2 a 7 dias, Os sinais de alarme são caracterizados associada a cefaleia, astenia, mialgia, principalmente por: artralgia e dor retro-orbitária. • dor abdominal intensa (referida ou à palpação) e contínua; • vômitos persistentes; • manifestações neurológicas, como • acúmulo de líquidos (ascite, derrame agitação, convulsões e irritabilidade (em alguns pacientes). pleural, derrame pericárdico); • hipotensão postural e/ou lipotímia; O choque ocorre na fase crítica da doença, sendo geralmente de curta duração. Pode • letargia e/ou irritabilidade; levar ao óbito em um intervalo de 12 a 24 • hepatomegalia maior do que 2cm abaixo horas ou à recuperação rápida (após do rebordo costal; terapia antichoque apropriada). Destaca-se que o comprometimento grave de órgãos • sangramento de mucosa; pode causar complicações, como • aumento progressivo do hematócrito. hepatites, encefalites ou miocardites e/ou Os casos graves de dengue são sangramento abundante, e ocorrer sem caracterizados por sangramento grave, extravasamento de plasma ou choque disfunção grave de órgãos ou óbvios. extravasamento grave de plasma. O choque ocorre quando um volume Fase de recuperação: ocorre após as 24- crítico de plasma é perdido pelo 48 horas da fase crítica, quando uma extravasamento. Ocorre habitualmente reabsorção gradual do fluido que havia entre o 4º e o 5º dia – no intervalo de 3 extravasado para o compartimento a 7 dias de doença –, sendo geralmente extravascular se dá nas 48-72 horas precedido por sinais de alarme seguintes. Observa-se melhora do estado Os sinais de choque são: geral do paciente, retorno progressivo do apetite, redução de sintomas • pulso rápido e fraco; gastrointestinais, estabilização do estado • hipotensão arterial; hemodinâmico e melhora do débito urinário. Alguns pacientes podem • pressão arterial (PA) convergente apresentar um exantema, acompanhado (diferença entre PAS e PAD ≤20mmHg ou não de prurido generalizado. Bradicardia em crianças – em adultos, o mesmo valor e mudanças no eletrocardiograma são indica choque mais grave); comuns durante esse estágio • extremidades frias; • enchimento capilar lento; Diagnóstico • pele úmida e pegajosa; Os métodos virológicos compreendem o • oligúria; isolamento viral por inoculação em culturas celulares, de animais e mosquitos; A detecção de antígenos virais por testes Em novembro de 2015, o governo imunoenzimáticos e imunocromatografia; brasileiro, declarou Emergência Sanitária de Importância Nacional, devido ao A detecção do genoma viral por aumento do número de casos de transcrição reversa do seu RNA em DNA microcefalia em bebês, sobretudo no complementar, seguida de amplificação Nordeste, o que levou a uma “guerra” em cadeia pela polimerase (RT-PCR); ou contra o Aedes aegypti considerado o hibridização com sondas moleculares principal vetor do ZIKV. marcadas. Em alguns estados da região Nordeste houve um aumento de até 20 vezes no Profilaxia número de casos de recém-nascidos com Limita-se o controle das epidemias dessa microcefalia. virose às medidas de combate ao vetor No final deste mesmo ano, o vírus já havia se espalhado por quase todo o país. O Brasil foi o país mais afetado pelo ZIKV Zika durante a epidemia nas Américas, tendo seu início possivelmente em 2014. É uma arbovirose causada pelovírus Zika Morfologia (ZIKV), agente etiológico transmitido por fêmeas dos mosquitos do gênero Aedes. O ZIKV carrega um genoma composto formado por um RNA de fita simples com No Brasil, o vetor comprovado até o um tamanho de 10.749 nucleotídeos, que momento é o mosquito Aedes aegypti. codificam 3.419 aminoácidos. A enfermidade aguda se caracteriza, mais Contém duas regiões não codificantes (5 ′ frequentemente, por manifestações AND 3 ′ NCR) e um capsídeo, além de uma clínicas brandas e autolimitadas. Por isso, proteína precursora de membrana, muitas vezes, o sintoma que ocasiona a envelope e proteínas não estruturais. busca pelo serviço de saúde é o exantema pruriginoso. A proteína E é uma proteína de superfície envolvida no reconhecimento do receptor No final de 2015, observou-se o aumento e na fusão da membrana. de casos de microcefalia nos estados de Pernambuco e Paraíba. O estado de Ao entrar em contato com a pele, o vírus Pernambuco foi o primeiro a relacionar pode infectar queratinócitos, fibroblastos e que o possível aumento do número de células de Langerhans. casos de microcefalia poderia estar Após a replicação do vírus em nível local, relacionado com a infecção congênita pelo as partículas virais se disseminam entre a ZIKV. região linfática e outros órgãos, incluindo o sistema nervoso central, o sistema vetor, agora contaminadas, iniciando assim miocárdico e musculoesquelético e a um novo ciclo. placenta em mulheres grávidas. Outra forma de infecção do mosquito Este vírus apresenta tropismo por células vetor se dá pela transmissão transovariana do sistema nervoso, principalmente células ou vertical, passando da fêmea progenitoras neuronais, alterando a contaminada aos seus descendentes sem proliferação, migração e diferenciação, a necessidade de outro hospedeiro gerando como consequência uma perda Patogenicidade no desenvolvimento cerebral e alternando sua viabilidade, o que pode explicar Os sinais e sintomas são caracterizados por parcialmente a microcefalia e complicações início agudo de febre, exantema neurológicas associadas. maculopapular, mialgia, conjuntivite não purulenta, fadiga, artralgia, cefaleia e mal- Transmissão estar e também pode ocorrer edema, A transmissão vetorial do vírus se dá tosse seca e alterações gastrointestinais, através da picada de mosquitos do gênero principalmente vômitos, um complexo de Aedes, principalmente por Aedes aegypti sintomas que dificulta o diagnóstico e Aedes albopictus. diferencial. Também ocorre transmissão Estudos recentes indicam que mais de transplacentária e transmissão perinatal, 50% dos pacientes infectados por Zika com o RNA do ZIKV sendo encontrado no tornam-se sintomáticos. O período de líquido amniótico e em amostras de sangue incubação da doença varia de 2 a 7 dias. pareadas colhidas de neonatos e mães. Na maioria das vezes, a doença é autolimitada, durando aproximadamente de Ciclo biológico 4 a 7 dias. A infecção do mosquito vetor pelo ZIKV Formas graves e atípicas são raras, mas se inicia a partir da ingestão de partículas quando ocorrem podem até evoluir para virais infecciosas (presentes no sangue óbito. humano) durante o repasto sanguíneo. A síndrome de Guillain-Barre normalmente Após o período do repasto, há o período se apresenta como paralisia muscular de incubação que varia de oito a 12 dias ascendente, progressiva, subaguda, com para que o vírus possa replicar-se no picos a cada quatro semanas e é estômago do mosquito e chegar às acompanhado por ausência de reflexos. glândulas salivares. Normalmente afeta os membros sem o O vírus será inoculado em um novo envolvimento de nervos cranianos, mas hospedeiro, durante um novo repasto sanguíneo, pelas glândulas salivares do pode progredir e afetar os nervos faciais e também os músculos respiratórios. Chikungunya A Microcefalia é uma anormalidade rara No Brasil, os primeiros casos autóctones que pode causar deficiência intelectual, foram identificados em Oiapoque, estado retardo no desenvolvimento, problemas do Amapá (Norte), e Feira de Santana, motores, de visão e de audição, mas a estado da Bahia (Nordeste), em setembro microcefalia é apenas a “ponto do iceberg”, de 2014. A realidade brasileira favoreceu a diversos outros problemas podem ocorrer introdução e a expansão do vírus, já que devido à síndrome congênita pelo ZIKV, o Aedes aegypti pode ser localizado em como por exemplo, artrogripose, mais de 4.000 municípios, e o Aedes esofagite, epilepsia, e más formações de albopictus, em 3.285. diversos de órgãos. Poucos estados vivenciaram epidemias por Gestantes infectadas, mesmo as chikungunya até o momento, no entanto, assintomáticas, podem transmitir o vírus ao a alta densidade do vetor, a presença de feto. Essa forma de transmissão da indivíduos susceptíveis e a intensa infecção pode resultar em aborto circulação de pessoas em áreas espontâneo, óbito fetal ou malformações endêmicas contribuem para a possibilidade congênitas. de epidemias em todas as regiões do Brasil.
Diagnóstico Chikungunya é uma doença de notificação
compulsória, conforme estabelecido na O diagnóstico laboratorial das infecções Portaria 204 de 2016. pelo ZIKV pode ser realizado por métodos diretos que visam isolar ou identificar o Morfologia vírus ou por métodos indiretos, os quais É um vírus de RNA de fita simples consistem na detecção de anticorpos composto por 11.600 nucleotídeos que específicos do tipo IgM e IgG decorrentes codificam quatro proteínas não estruturais da infecção. (nsP1-nsP4) e três proteínas estruturais (C, Profilaxia E1, E3).
Um controle vetorial eficaz depende de Estas últimas são o capsídeo e duas
uma abordagem integrada que envolva a glicoproteínas do envelope (E1 e E2). eliminação de criadouros de Aedes Este vírus se replica em várias células aegypti, aplicação de larvicidas e aplicação aderentes, incluindo células endoteliais e de inseticidas para matar os mosquitos epiteliais, fibroblastos e macrófagos. adultos Normalmente, durante a fase aguda, o vírus ocorre no músculo esquelético e nas articulações, causando sintomas. O vírus apresenta tropismos por fibroblastos, haver melhora da artralgia (com ou sem recorrências) persistência ou agravamento desta, incluindo miócitos e hepatócitos. poliartrite distal, e tenossinovite hipertrófica pós- aguda nas mãos (mais frequentemente nas falanges e Vetor e transmissão punhos), e nos tornozelos. Síndrome do túnel do carpo Possui os mesmos vetores e o mesmo modo de pode ocorrer como consequência da tenossinovite transmissão. hipertrófica, sendo muito frequente nas fases pós- aguda e crônica. O comprometimento articular Ciclo de transmissão costuma ser acompanhado por edema de intensidade variável. Podemos ainda encontrar astenia, recorrência Possui dois ciclos de transmissão distintos: ciclo do prurido generalizado e exantema maculopapular, enzoótico/silvático e urbano. além do surgimento de lesões purpúricas. Alguns pacientes podem desenvolver doença vascular No primeiro o vírus é transmitido por várias espécies periférica, fadiga, alopécia e sintomas depressivos. de mosquito do gênero Aedes a primatas não-humanos Caso os sintomas persistam por mais de 3 meses após (macacos) especialmente na África, e o homem pode o início da doença, estará instalada a fase crônica. eventualmente se infectar quando entra em ambientes de florestas. Fase crônica: Caracterizada pela persistência ou recorrência dos sinais e sintomas, principalmente dor O ciclo de transmissão urbano envolve duas espécies articular, musculoesquelética e neuropática, sendo de mosquitos altamente antropofílicas A.aegypti e A. esta última muito frequente nessa fase. A prevalência albopictus além do homem. Se repete por ter os da fase crônica é bastante variável, podendo atingir mesmos vetores, e também só a fêmea com mais de 50% pacientes. Os principais fatores de risco capacidade de inocular o vírus para a cronificação descritos até esse momento são: Patogenicidade idade acima de 45 anos, artropatia preexistente e maior intensidade do quadro na fase aguda As infecções por chikungunya possuem altas taxas de Gestantes Em relação às gestantes, a infecção pelo ataque. Estudos mostram que os valores podem variar CHIKV não modifica o curso da gravidez. Não há de 75-95%, indicando que um número importante de evidências de efeitos teratogênicos, embora haja raros indivíduos acometidos por chikungunya apresenta relatos de abortamento espontâneo. Mães acometidas manifestações clínicas. por chikungunya no período perinatal podem A doença no paciente pode evoluir em três fases: febril transmitir o vírus aos recém-nascidos no momento do ou aguda, pós-aguda e crônica. A fase aguda da doença parto. Ao que tudo indica, a cesariana não altera o risco tem duração de 5 a 14 dias. A fase pós-aguda tem um da transmissão e o vírus não é transmitido pelo curso de até 3 meses. Se os sintomas persistirem por aleitamento materno. mais de 3 meses após o início da doença, considera-se Diagnóstico instalada a fase crônica. Em mais de 50% dos casos, a artralgia torna-se crônica, podendo persistir por anos. Achados laboratoriais anormais podem incluir trombocitopenia leve (> 100.000/mm3), leucopenia e Alguns pacientes podem apresentar casos atípicos e transaminases, discretamente elevadas. O diagnóstico graves da doença, que podem evoluir para óbito com laboratorial específico é feito por meio das tentativas ou sem outras doenças associadas, sendo considerado de isolamento viral bem com a RT-PCR que também óbito por chikungunya. tem sido utilizada com sucesso no diagnóstico da Fase aguda: Também conhecida como fase febril, é infecção. caracterizada principalmente por febre alta de início Profilaxia súbito (>38,5ºC) e surgimento de intensa poliartralgia, geralmente acompanhada de dorsalgia, exantema, Atualmente a única forma de prevenir a infecção pelo cefaleia, mialgia e fadiga, com duração variável. Afeta vírus chikungunya em larga escala é o controle vetorial todos os grupos etários e ambos os sexos. Essa fase dos transmissores Aedes aegypti e Aedes albopictus ou pode durar de dias a algumas semanas. uso de proteção individual como repelentes e etc. Fase pós-aguda: Nessa fase, normalmente a febre desaparece, mas existem relatos de recorrência. Pode Ciclo urbano: A última epidemia urbana Febre amarela ocorreu no Estado do Acre, em 1942. Doença infecciosa febril aguda, O ciclo urbano envolve mosquitos Aedes imunoprevenível, de evolução abrupta e aegypti fêmeas que são hematófagas gravidade variável, com elevada letalidade devido às necessidades proteicas nas suas formas graves. O agente relacionadas à oviposição. etiológico é transmitido por artrópodes Elas se infectam após picarem indivíduos (vetores), da família Culicidae, virêmicos e transferem o vírus, através da habitualmente conhecidos como mosquitos picada, ao homem suscetível, e pernilongos. determinando um ciclo. Morfologia A viremia em seres humanos costuma ser Os flavivírus são esféricos, envelopados, curta, perdurando por apenas 3 a 5 dias com projeções em sua superfície e após o aparecimento dos sintomas. Depois medem de 40 a 80 nm de diâmetro. da picada infectante, o vírus multiplica-se Os flavivírus entram nas células após no aparelho digestivo do mosquito, ligação da proteína E viral a um receptor disseminando-se pelos diferentes tecidos de membrana, provavelmente uma do inseto. glicoforina. A chegada do vírus às glândulas salivares, Em seguida, a partícula é englobada por após um período de incubação pinocitose, ficando o vírus dentro de um denominado extrínseco, de 7 a 11 dias, endossoma. determina o início do período de transmissão viral pelo mosquito, que passa O envelope funde-se à membrana do a transmiti-lo por toda a vida. endossoma e o capsídeo viral é lançado no citoplasma. Modo de transmissão
Ciclo de vida Não há transmissão de pessoa a pessoa. O
vírus é transmitido pela picada dos Ciclo silvestre: No Brasil, a febre amarela mosquitos transmissores infectados. silvestre é endêmica na Região Amazônica Apenas as fêmeas transmitem o vírus, pois e no Planalto Central. Tratase de uma o repasto sanguíneo provê nutrientes doença de macacos que, ao se infectarem, essenciais para a maturação dos ovos e, costumam ter alta mortalidade. O macaco consequentemente, a completude do ciclo guariba (Alouatta) e o macaco-prego gonotrófico. (Cebus) são sensíveis à infecção viral, que costuma resultar em morte do animal. No ciclo urbano, a transmissão ocorre a partir de vetor urbano (Ae. aegypti) infectados. Manifestações clínicas • Período de infecção – dura cerca de 3 dias; tem início súbito e sintomas O espectro clínico da febre amarela pode inespecíficos, como febre, calafrios, variar desde infecções assintomáticas até cefaleia, lombalgia, mialgias generalizadas, quadros graves e fatais. prostração, náuseas e vômitos. As formas leves ou infecções • Período de remissão – ocorre declínio assintomáticas representam a maioria dos da temperatura e diminuição da casos. O quadro clínico clássico caracteriza- intensidade dos sintomas, provocando uma se pelo início súbito de febre alta, cefaleia sensação de melhora no paciente. Dura de intensa e duradoura, inapetência, náuseas poucas horas até, no máximo, 2 dias. e mialgia. O sinal de Faget (bradicardia acompanhando febre alta) pode ou não • Período toxêmico – reaparece a febre, estar presente. Nas formas leves e a diarreia e os vômitos têm aspecto de moderadas, os sinais e sintomas duram borra de café. Instalase quadro de entre 2 e 4 dias, que geralmente são insuficiência hepatorrenal caracterizado por aliviados com tratamento sintomático, icterícia, oligúria, anúria e albuminúria, antitérmicos e analgésicos. acompanhado de manifestações hemorrágicas: gengivorragias, epistaxe, Nas formas graves, cefaleia e mialgia otorragia, hematêmese, melena, ocorrem com maior intensidade e podem hematúria, sangramentos em locais de estar acompanhadas de náuseas e vômitos punção venosa e prostração intensa, além frequentes, icterícia, oligúria e de comprometimento do sensório, com manifestações hemorrágicas, como obnubilação mental e torpor, havendo epistaxe, hematêmese e metrorragia. O evolução para coma e morte. O pulso quadro clínico típico caracteriza-se por torna-se mais lento, apesar da temperatura manifestações de insuficiência hepática e elevada. Essa dissociação renal, tendo em geral apresentação pulsotemperatura é conhecida como sinal bifásica, com um período inicial prodrômico de Faget. (infecção) e um toxêmico, que surge após uma aparente remissão. Após o período Diagnóstico de remissão dos sintomas, que pode levar O diagnóstico específico depende do de 6 a 48 horas entre o 3o e o 5o dia de isolamento viral, da demonstração de doença, ocorre o agravamento da icterícia, antígenos ou do genoma viral e da insuficiência renal e fenômenos resposta humoral desenvolvida contra esse hemorrágicos de maior intensidade, em vírus pelos pacientes infectados. O muitos casos, evoluindo para óbito em diagnóstico pode ser feito com rapidez e aproximadamente uma semana. alta sensibilidade pela detecção do genoma viral em sangue e outros materiais clínicos ou fragmentos de órgãos, pela reação em Os agentes podem ser infecciosos ou não cadeia da polimerase precedida por infecciosos e são necessários, mas nem transcrição reversa do RNA viral em DNA sempre suficientes, para causar a doença. (RT-PCR). Os agentes não infecciosos podem ser químicos ou físicos. Os fatores do Profilaxia hospedeiro são os que determinam a Embora a zoonose que determina casos exposição de um indivíduo, sua de febre amarela silvestre não possa ser suscetibilidade e capacidade de resposta e controlada, a ocorrência de casos humanos suas características de idade, grupo étnico, pode ser prevenida com o uso de vacina constituição genética, gênero, situação (YF-17D). Também é importante prevenir socioeconômica e estilo de vida. Por último, o aparecimento de surtos urbanos e, para os fatores ambientais englobam o tanto, faz-se necessário monitorizar os ambiente social, físico e biológico. índices de infestação por vetores, com Nesse modelo se baseia a cadeia de eliminação de criadouros e uso de infecção. O Modelo de Componentes inseticidas para prevenção do ciclo urbano. Causais é um modelo de multicausalidade A vacina antiamarílica está indicada em que se aplica a todo tipo de doenças. indivíduos com mais de 6 meses de idade, Conforme esse modelo, a doença se sendo ministrada em dose única pela via produz por um conjunto mínimo de parenteral e com reforço a cada 10 anos, condições que agem em sintonia. Todas as como parte da rotina do Programa possíveis condições ou eventos são Nacional de Imunização nas zonas denominados causas componentes (A, B, endêmicas, de transição e de risco C, D, E, F, G, H, I, J). potencial, bem como para todas as pessoas que se deslocam para zonas O conjunto mínimo de condições que age endêmicas. em sintonia e causa a doença é denominado causa suficiente. Tríade epidemiológica Desse modo, uma causa suficiente é um A tríade epidemiológica – para alguns conjunto de causas componentes, tríade ecológica das doenças– é composta nenhuma das quais é supérflua. Uma causa por hospedeiro, agente e meio ambiente. suficiente representa um mecanismo O "desequilíbrio" desses "sistemas" leva ao causal de doença: a doença inicia-se surgimento e/ou aumento de casos de quando se completa uma causa suficiente. doenças. Os fatores que representam causas A Tríade Epidemiológica é o modelo componentes de doença incluem os tradicional de causalidade das doenças fatores do agente, hospedeiro e ambiente transmissíveis. da tríade epidemiológica, assim como também do modelo de determinantes da saúde.