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Arboviroses

do Brasil, por exemplo, registra-se o


Doenças emergentes e retorno da dengue e do cólera e a
reemergentes expansão da leishmaniose visceral
As doenças infecciosas emergentes e
Doença emergente é o surgimento ou a
reemergentes, de uma maneira geral,
identificação de um novo problema de
estão associadas aos seguintes fatores:
saúde ou um novo agente infeccioso
como, por exemplo, a febre hemorrágica  modelos de desenvolvimento
pelo vírus Ebola, a AIDS, ou econômico determinando alterações
microorganismos que só atingiam animais ambientais, migrações, processos de
e que agora afetam também seres urbanização sem adequada
humanos como o vírus da Febre do Nilo infraestrutura urbana, grande obras
Ocidental, o hantavírus e o vírus da como hidrelétricas e rodovias;
influenza aviária (A/H5N1).  fatores ambientais como
desmatamento, mudanças climáticas
A elevada letalidade da infecção justifica o
(aquecimento global), secas e
monitoramento da circulação do vírus e de
inundações;
seu impacto em humanos, embora a maior
parte dos casos relatados tenha decorrido  aumento do intercâmbio internacional,
de estreito contato entre aves e pessoas, que assume o papel de "vetor cultural"
e não haja ainda condições moleculares na disseminação das doenças
para a transmissão eficiente deste vírus de infecciosas;
pessoa a pessoa. incorporação de novas tecnologias
médicas, com uso disseminado de
Doenças reemergentes indicam mudança procedimentos invasivos;
no comportamento epidemiológico de  ampliação do consumo de alimentos
doenças já conhecidas, que haviam sido industrializados, especialmente os de
controladas, mas que voltaram a origem animal;
representar ameaça à saúde humana.  desestruturação/inadequação dos
Inclui-se aí a introdução de agentes já serviços de saúde e/ou desatualização
conhecidos em novas populações de das estratégias de controle de
hospedeiros suscetíveis. Na história recente doenças;
aprimoramento das técnicas de e reemergentes é o desenvolvimento de
diagnóstico, possibilitando diagnósticos pesquisa básica e aplicada na área, com
etiológicos mais precisos; envolvimento das universidades e dos
 processo de evolução de institutos de pesquisa, especialmente em
microrganismos: mutações virais, novas tecnologias de diagnóstico (incluindo
emergência de bactérias resistentes. técnicas de biologia molecular), pesquisa
Todos esses fatores podem favorecer o epidemiológica, e desenvolvimento de
aparecimento de novas doenças e fármacos e de vacinas.
alteração no comportamento
epidemiológico de doenças antigas,
Arboviroses
tornando o quadro sanitário mais complexo Arbovírus - vírus transmitidos em
do que a ideia de uma transição natureza, principalmente ou de modo
epidemiológica. importante, mediante transmissão biológica
Para o enfrentamento das doenças entre hospedeiros vertebrados suscetíveis
emergentes e reemergentes o por meio de artrópodes hematófagos ou,
fortalecimento da vigilância epidemiológica, entre estes, por meio da via transovariana
especialmente no que diz respeito à sua e, possivelmente, da via venérea.
capacidade de detecção precoce, tem um As arboviroses transmitidas pelo Aedes
papel fundamental. Médicos, enfermeiros, aegypti têm se constituído em um dos
médicos veterinários, e demais principais problemas de saúde pública no
profissionais da assistência devem ser mundo. A dengue é a arbovirose urbana
capacitados para identificar casos suspeitos de maior relevância nas Américas.
e auxiliar no processo de investigação e É transmitida por mosquitos do gênero
desencadeamento das medidas de Aedes e possui como agente etiológico o
controle. vírus dengue (DENV), com quatro
Outro desafio que as doenças emergentes sorotipos distintos.
e reemergentes colocam para a Saúde
Estima-se que 3 bilhões de pessoas
Pública diz respeito às normas de
estejam sob o risco de contrair a doença
biossegurança. Há um risco de que
e que ocorram, anualmente, 390 milhões
agentes etiológicos novos e com alta
de infecções e 20 mil mortes.
letalidade possam vir a ser utilizados como
armas biológicas, além da possibilidade real
do tráfego global de viroses, em poucas
Dengue
horas, de um continente a outro, através O vírus Dengue (DENV) é um arbovírus
das viagens aéreas (vírus transmitido por artrópodes) membro
da família Flaviviridae, gênero Flavivirus.
Uma estratégia fundamental para o
Este gênero compreende importantes
enfrentamento das doenças emergentes
patógenos humanos, dentre eles, o vírus responsáveis pela indução de imunidade
da Febre Amarela. contra os flavivírus.
DENV apresenta características antigênicas Esses epítopos definem a produção de
distintas que o diferem em quatro anticorpos específicos para o tipo viral,
sorotipos antigenicamente diferentes para o complexo da dengue e para o
(DENV 1-4). gênero flavivírus.
 MORFOLOFIA  Transmissão:
Os vírus da dengue são esféricos, A transmissão dos vírus da dengue
envelopados, com projeções na superfície. envolve mosquitos do gênero Aedes que
se infectam após picarem Indivíduos
O genoma é constituído por um RNA de
viremicos e transferem, pela picada, após
fita simples, polaridade positiva, protegido
replicação em seu organismo, o vírus ao
por um nucleocapsídeo icosaédrico,
indivíduo suscetível.
composto por um capsídeo (C) de
aproximadamente 30 nm. O único animal reservatório a participar no
ciclo transmissor dos vírus da dengue é o
Este nucleocapsídeo é circundado por
próprio homem.
uma membrana lipoprotéica derivada da
célula hospedeira, com proteínas do A transmissão se dá por fêmeas que ao
envelope (E) e proteínas da membrana se alimentarem de sangue para suprir
(M) ou pré-membrana (prM) inseridas nela. necessidades proteicas da oviposição,
infectam-se picando indivíduos virêmicos
Se replicam no citoplasma celular, após um
período de latência de 12 a 16 horas e esse
processo relaciona-se à proliferação de  Vetores:
organelas no retículo endoplasmático.
Os principais vetores da dengue sao
Os vírus da dengue entram nas células por mosquitos Aedes das espécies aegypti e
meio da endocitose mediada por albopictus.
receptores de membrana.
O Aedes aegypti é hoje considerado
A proteína E localiza-se nas espículas do cosmopolita, presente principalmente nas
envelope, e é fundamental para a ligação regiões tropicais e subtropicais, tendo
viral ao receptor de membrana e possui resistência limitada a baixas temperaturas e
os mais importantes domínios antigênicos altitudes elevadas.
dos vírus da dengue, os quais podem ser
detectáveis por anticorpos monoclonais.
Os domínios antigênicos de E contêm
epítopos, que são os maiores
É um mosquito urbano, facilmente 4º - Mosquito adulto: a pupa se transforma
encontrado em domicílios, e em áreas em mosquito e este sai do seu 'casulo' e
peridomiciliares está pronto para voar e precisa se
alimentar.
O Aedes albopictus é o vetor da dengue
na Ásia, se dispersa com facilidade nos Normalmente os mosquitos Aedes aegypti
ambientes rural, semissilvestre e silvestre, se alimentam de frutos e sucos de alguns
não dependendo dos locais de grande vegetais, mas após a cópula, a fêmea
concentração humana. precisa de sangue para que seus ovos
fiquem maduros.
Após se alimentar com sangue em 3 dias
 Ciclo biológico
ela põe seus ovos. O tempo médio de vida
1º - Ovo: A fêmea do Aedes põe seus ovos de um mosquito adulto é de 30 dias e
na água parada ou na borda de um local durante este período cada fêmea pode
que possa eventualmente ficar molhado. colocar cerca de 3000 ovos.
Elas preferem depositar seus OVOS
O mosquito tem hábitos diurnos, mas isso
dentro de recipientes que possam
não impede que aconteça voos durante a
acumular agua, mas um pouco acima da
noite e possiveis deposição de ovos ou
linha d'água.
picadas.
2º - Larva: ao entrar em contato com a
agua o ovo se transforma em larva, em
apenas 2 ou 3 dias e estas larvas são  Inoculação do vírus da dengue
bastante ativas e movem-se na agua,
Fagocitados pelas células dendríticas e
sendo facilmente reconhecidas. Embora o
transportados aos linfonodos regionais,
mosquito prefira a agua limpa para se
onde realizam a primeira replicação. Essa
reproduzir, ele pode se desenvolver até
multiplicação inicial resulta em viremia que
mesmo na agua suja e no esgoto
dissemina esse patógeno por todo o
doméstico e se alimenta de protozoários,
organismo, livre no plasma ou no interior
baterias e fungos presentes nesta água.
de monócitos.
3º - Pupa: Em cerca de 7 a 10 dias a larva
se transforma em pupa e adota uma
forma de vírgula e este estágio é mais  Resposta imune inata:
curto e dura somente dias até que o Controla a infecção primária do vírus, que
mosquito esteja pronto para 'nascer’. Elas estimulam a produção de IgM, detectáveis
não se alimentam nessa fase, apenas a partir do 4 dia dos sintomas e no 8º dia
respiram e movem-se mulo. entram em declínio novamente.
O IgG atingem altos valores em duas a três Perca de peso, náuseas, vômitos e diarreia
semanas mantem-se detectáveis por também podem se fazer presentes,
vários anos, conferindo imunidade contra o havendo ocorrência desta última em um
sorotipo infectante, provavelmente por percentual significativo dos casos.
toda a vida.
Essa lesão exantemática, presente em
grande parte dos casos, é
predominantemente do tipo
 Resposta imune humoral
maculopapular, atingindo face, tronco e
Fundamental para a prevenção e a cura membros, regiões palmares e plantares.
das infecções pelos vírus da dengue. A
Após a fase febril, grande parte dos
proteína E, parte do envelope viral, e o
pacientes recupera-se gradativamente,
alvo dominante dos anticorpos protetores
com melhora do estado geral e retorno do
contra a dengue. Esses anticorpos podem
apetite.
promover a lise de células infectadas ou
inibir a ligação dos vírus aos receptores
celulares com consequente neutralização Fase crítica: tem início com o declínio da
viral. febre (defervescência), entre o 3° e o 7°
dia do início da doença Os sinais de alarme,
quando presentes, ocorrem nessa fase.
 Manifestações clínicas
A maioria deles é resultante do aumento
As infecções por dengue podem ser
da permeabilidade capilar. Essa condição
assintomáticas ou sintomáticas. As
marca o início da piora clínica do paciente
infecções clinicamente aparentes estão
e sua possível evolução para o choque,
presente em aproximadamente 25% dos
por extravasamento plasmático.
casos e podem variar desde formas
oligossintomáticas a formas graves, Sem a identificação e o correto manejo
podendo levar o indivíduo ao óbito. Pode nessa fase, alguns pacientes podem evoluir
apresentar três fases clínicas: febril, crítica para as formas graves.
e de recuperação. Os sinais de alarme são assim chamados
por sinalizarem o extravasamento de
plasma e/ou hemorragias que podem levar
Fase febril: a primeira manifestação é a
o paciente a choque grave e óbito.
febre, geralmente acima de 38ºC, de início
abrupto e com duração de 2 a 7 dias, Os sinais de alarme são caracterizados
associada a cefaleia, astenia, mialgia, principalmente por:
artralgia e dor retro-orbitária. • dor abdominal intensa (referida ou à
palpação) e contínua;
• vômitos persistentes; • manifestações neurológicas, como
• acúmulo de líquidos (ascite, derrame agitação, convulsões e irritabilidade (em
alguns pacientes).
pleural, derrame pericárdico);
• hipotensão postural e/ou lipotímia; O choque ocorre na fase crítica da doença,
sendo geralmente de curta duração. Pode
• letargia e/ou irritabilidade; levar ao óbito em um intervalo de 12 a 24
• hepatomegalia maior do que 2cm abaixo horas ou à recuperação rápida (após
do rebordo costal; terapia antichoque apropriada). Destaca-se
que o comprometimento grave de órgãos
• sangramento de mucosa;
pode causar complicações, como
• aumento progressivo do hematócrito. hepatites, encefalites ou miocardites e/ou
Os casos graves de dengue são sangramento abundante, e ocorrer sem
caracterizados por sangramento grave, extravasamento de plasma ou choque
disfunção grave de órgãos ou óbvios.
extravasamento grave de plasma.
O choque ocorre quando um volume Fase de recuperação: ocorre após as 24-
crítico de plasma é perdido pelo 48 horas da fase crítica, quando uma
extravasamento. Ocorre habitualmente reabsorção gradual do fluido que havia
entre o 4º e o 5º dia – no intervalo de 3 extravasado para o compartimento
a 7 dias de doença –, sendo geralmente extravascular se dá nas 48-72 horas
precedido por sinais de alarme seguintes. Observa-se melhora do estado
Os sinais de choque são: geral do paciente, retorno progressivo do
apetite, redução de sintomas
• pulso rápido e fraco; gastrointestinais, estabilização do estado
• hipotensão arterial; hemodinâmico e melhora do débito
urinário. Alguns pacientes podem
• pressão arterial (PA) convergente
apresentar um exantema, acompanhado
(diferença entre PAS e PAD ≤20mmHg
ou não de prurido generalizado. Bradicardia
em crianças – em adultos, o mesmo valor
e mudanças no eletrocardiograma são
indica choque mais grave);
comuns durante esse estágio
• extremidades frias;
• enchimento capilar lento;
 Diagnóstico
• pele úmida e pegajosa;
Os métodos virológicos compreendem o
• oligúria; isolamento viral por inoculação em culturas
celulares, de animais e mosquitos;
A detecção de antígenos virais por testes Em novembro de 2015, o governo
imunoenzimáticos e imunocromatografia; brasileiro, declarou Emergência Sanitária
de Importância Nacional, devido ao
A detecção do genoma viral por
aumento do número de casos de
transcrição reversa do seu RNA em DNA
microcefalia em bebês, sobretudo no
complementar, seguida de amplificação
Nordeste, o que levou a uma “guerra”
em cadeia pela polimerase (RT-PCR); ou
contra o Aedes aegypti considerado o
hibridização com sondas moleculares
principal vetor do ZIKV.
marcadas.
Em alguns estados da região Nordeste
houve um aumento de até 20 vezes no
 Profilaxia número de casos de recém-nascidos com
Limita-se o controle das epidemias dessa microcefalia.
virose às medidas de combate ao vetor No final deste mesmo ano, o vírus já havia
se espalhado por quase todo o país. O
Brasil foi o país mais afetado pelo ZIKV
Zika durante a epidemia nas Américas, tendo
seu início possivelmente em 2014.
É uma arbovirose causada pelovírus Zika
 Morfologia
(ZIKV), agente etiológico transmitido por
fêmeas dos mosquitos do gênero Aedes. O ZIKV carrega um genoma composto
formado por um RNA de fita simples com
No Brasil, o vetor comprovado até o
um tamanho de 10.749 nucleotídeos, que
momento é o mosquito Aedes aegypti.
codificam 3.419 aminoácidos.
A enfermidade aguda se caracteriza, mais
Contém duas regiões não codificantes (5 ′
frequentemente, por manifestações
AND 3 ′ NCR) e um capsídeo, além de uma
clínicas brandas e autolimitadas. Por isso,
proteína precursora de membrana,
muitas vezes, o sintoma que ocasiona a
envelope e proteínas não estruturais.
busca pelo serviço de saúde é o exantema
pruriginoso. A proteína E é uma proteína de superfície
envolvida no reconhecimento do receptor
No final de 2015, observou-se o aumento
e na fusão da membrana.
de casos de microcefalia nos estados de
Pernambuco e Paraíba. O estado de Ao entrar em contato com a pele, o vírus
Pernambuco foi o primeiro a relacionar pode infectar queratinócitos, fibroblastos e
que o possível aumento do número de células de Langerhans.
casos de microcefalia poderia estar Após a replicação do vírus em nível local,
relacionado com a infecção congênita pelo as partículas virais se disseminam entre a
ZIKV. região linfática e outros órgãos, incluindo o
sistema nervoso central, o sistema vetor, agora contaminadas, iniciando assim
miocárdico e musculoesquelético e a um novo ciclo.
placenta em mulheres grávidas.
Outra forma de infecção do mosquito
Este vírus apresenta tropismo por células vetor se dá pela transmissão transovariana
do sistema nervoso, principalmente células ou vertical, passando da fêmea
progenitoras neuronais, alterando a contaminada aos seus descendentes sem
proliferação, migração e diferenciação, a necessidade de outro hospedeiro
gerando como consequência uma perda
 Patogenicidade
no desenvolvimento cerebral e alternando
sua viabilidade, o que pode explicar Os sinais e sintomas são caracterizados por
parcialmente a microcefalia e complicações início agudo de febre, exantema
neurológicas associadas. maculopapular, mialgia, conjuntivite não
purulenta, fadiga, artralgia, cefaleia e mal-
 Transmissão
estar e também pode ocorrer edema,
A transmissão vetorial do vírus se dá tosse seca e alterações gastrointestinais,
através da picada de mosquitos do gênero principalmente vômitos, um complexo de
Aedes, principalmente por Aedes aegypti sintomas que dificulta o diagnóstico
e Aedes albopictus. diferencial.
Também ocorre transmissão Estudos recentes indicam que mais de
transplacentária e transmissão perinatal, 50% dos pacientes infectados por Zika
com o RNA do ZIKV sendo encontrado no tornam-se sintomáticos. O período de
líquido amniótico e em amostras de sangue incubação da doença varia de 2 a 7 dias.
pareadas colhidas de neonatos e mães. Na maioria das vezes, a doença é
autolimitada, durando aproximadamente de
 Ciclo biológico
4 a 7 dias.
A infecção do mosquito vetor pelo ZIKV
Formas graves e atípicas são raras, mas
se inicia a partir da ingestão de partículas
quando ocorrem podem até evoluir para
virais infecciosas (presentes no sangue
óbito.
humano) durante o repasto sanguíneo.
A síndrome de Guillain-Barre normalmente
Após o período do repasto, há o período
se apresenta como paralisia muscular
de incubação que varia de oito a 12 dias
ascendente, progressiva, subaguda, com
para que o vírus possa replicar-se no
picos a cada quatro semanas e é
estômago do mosquito e chegar às
acompanhado por ausência de reflexos.
glândulas salivares.
Normalmente afeta os membros sem o
O vírus será inoculado em um novo envolvimento de nervos cranianos, mas
hospedeiro, durante um novo repasto
sanguíneo, pelas glândulas salivares do
pode progredir e afetar os nervos faciais e
também os músculos respiratórios. Chikungunya
A Microcefalia é uma anormalidade rara No Brasil, os primeiros casos autóctones
que pode causar deficiência intelectual, foram identificados em Oiapoque, estado
retardo no desenvolvimento, problemas do Amapá (Norte), e Feira de Santana,
motores, de visão e de audição, mas a estado da Bahia (Nordeste), em setembro
microcefalia é apenas a “ponto do iceberg”, de 2014. A realidade brasileira favoreceu a
diversos outros problemas podem ocorrer introdução e a expansão do vírus, já que
devido à síndrome congênita pelo ZIKV, o Aedes aegypti pode ser localizado em
como por exemplo, artrogripose, mais de 4.000 municípios, e o Aedes
esofagite, epilepsia, e más formações de albopictus, em 3.285.
diversos de órgãos. Poucos estados vivenciaram epidemias por
Gestantes infectadas, mesmo as chikungunya até o momento, no entanto,
assintomáticas, podem transmitir o vírus ao a alta densidade do vetor, a presença de
feto. Essa forma de transmissão da indivíduos susceptíveis e a intensa
infecção pode resultar em aborto circulação de pessoas em áreas
espontâneo, óbito fetal ou malformações endêmicas contribuem para a possibilidade
congênitas. de epidemias em todas as regiões do Brasil.

 Diagnóstico Chikungunya é uma doença de notificação


compulsória, conforme estabelecido na
O diagnóstico laboratorial das infecções Portaria 204 de 2016.
pelo ZIKV pode ser realizado por métodos
diretos que visam isolar ou identificar o  Morfologia
vírus ou por métodos indiretos, os quais É um vírus de RNA de fita simples
consistem na detecção de anticorpos composto por 11.600 nucleotídeos que
específicos do tipo IgM e IgG decorrentes codificam quatro proteínas não estruturais
da infecção. (nsP1-nsP4) e três proteínas estruturais (C,
 Profilaxia E1, E3).

Um controle vetorial eficaz depende de Estas últimas são o capsídeo e duas


uma abordagem integrada que envolva a glicoproteínas do envelope (E1 e E2).
eliminação de criadouros de Aedes Este vírus se replica em várias células
aegypti, aplicação de larvicidas e aplicação aderentes, incluindo células endoteliais e
de inseticidas para matar os mosquitos epiteliais, fibroblastos e macrófagos.
adultos
Normalmente, durante a fase aguda, o
vírus ocorre no músculo esquelético e nas
articulações, causando sintomas. O vírus
apresenta tropismos por fibroblastos, haver melhora da artralgia (com ou sem recorrências)
persistência ou agravamento desta, incluindo
miócitos e hepatócitos. poliartrite distal, e tenossinovite hipertrófica pós-
aguda nas mãos (mais frequentemente nas falanges e
 Vetor e transmissão punhos), e nos tornozelos. Síndrome do túnel do carpo
Possui os mesmos vetores e o mesmo modo de pode ocorrer como consequência da tenossinovite
transmissão. hipertrófica, sendo muito frequente nas fases pós-
aguda e crônica. O comprometimento articular
 Ciclo de transmissão costuma ser acompanhado por edema de intensidade
variável. Podemos ainda encontrar astenia, recorrência
Possui dois ciclos de transmissão distintos: ciclo do prurido generalizado e exantema maculopapular,
enzoótico/silvático e urbano. além do surgimento de lesões purpúricas. Alguns
pacientes podem desenvolver doença vascular
No primeiro o vírus é transmitido por várias espécies
periférica, fadiga, alopécia e sintomas depressivos.
de mosquito do gênero Aedes a primatas não-humanos
Caso os sintomas persistam por mais de 3 meses após
(macacos) especialmente na África, e o homem pode
o início da doença, estará instalada a fase crônica.
eventualmente se infectar quando entra em ambientes
de florestas. Fase crônica: Caracterizada pela persistência ou
recorrência dos sinais e sintomas, principalmente dor
O ciclo de transmissão urbano envolve duas espécies
articular, musculoesquelética e neuropática, sendo
de mosquitos altamente antropofílicas A.aegypti e A.
esta última muito frequente nessa fase. A prevalência
albopictus além do homem. Se repete por ter os
da fase crônica é bastante variável, podendo atingir
mesmos vetores, e também só a fêmea com
mais de 50% pacientes. Os principais fatores de risco
capacidade de inocular o vírus
para a cronificação descritos até esse momento são:
 Patogenicidade idade acima de 45 anos, artropatia preexistente e
maior intensidade do quadro na fase aguda
As infecções por chikungunya possuem altas taxas de
Gestantes Em relação às gestantes, a infecção pelo
ataque. Estudos mostram que os valores podem variar
CHIKV não modifica o curso da gravidez. Não há
de 75-95%, indicando que um número importante de
evidências de efeitos teratogênicos, embora haja raros
indivíduos acometidos por chikungunya apresenta
relatos de abortamento espontâneo. Mães acometidas
manifestações clínicas.
por chikungunya no período perinatal podem
A doença no paciente pode evoluir em três fases: febril transmitir o vírus aos recém-nascidos no momento do
ou aguda, pós-aguda e crônica. A fase aguda da doença parto. Ao que tudo indica, a cesariana não altera o risco
tem duração de 5 a 14 dias. A fase pós-aguda tem um da transmissão e o vírus não é transmitido pelo
curso de até 3 meses. Se os sintomas persistirem por aleitamento materno.
mais de 3 meses após o início da doença, considera-se
 Diagnóstico
instalada a fase crônica. Em mais de 50% dos casos, a
artralgia torna-se crônica, podendo persistir por anos. Achados laboratoriais anormais podem incluir
trombocitopenia leve (> 100.000/mm3), leucopenia e
Alguns pacientes podem apresentar casos atípicos e
transaminases, discretamente elevadas. O diagnóstico
graves da doença, que podem evoluir para óbito com
laboratorial específico é feito por meio das tentativas
ou sem outras doenças associadas, sendo considerado
de isolamento viral bem com a RT-PCR que também
óbito por chikungunya.
tem sido utilizada com sucesso no diagnóstico da
Fase aguda: Também conhecida como fase febril, é infecção.
caracterizada principalmente por febre alta de início
 Profilaxia
súbito (>38,5ºC) e surgimento de intensa poliartralgia,
geralmente acompanhada de dorsalgia, exantema, Atualmente a única forma de prevenir a infecção pelo
cefaleia, mialgia e fadiga, com duração variável. Afeta vírus chikungunya em larga escala é o controle vetorial
todos os grupos etários e ambos os sexos. Essa fase dos transmissores Aedes aegypti e Aedes albopictus ou
pode durar de dias a algumas semanas. uso de proteção individual como repelentes e etc.
Fase pós-aguda: Nessa fase, normalmente a febre
desaparece, mas existem relatos de recorrência. Pode
Ciclo urbano: A última epidemia urbana
Febre amarela ocorreu no Estado do Acre, em 1942.
Doença infecciosa febril aguda, O ciclo urbano envolve mosquitos Aedes
imunoprevenível, de evolução abrupta e aegypti fêmeas que são hematófagas
gravidade variável, com elevada letalidade devido às necessidades proteicas
nas suas formas graves. O agente relacionadas à oviposição.
etiológico é transmitido por artrópodes
Elas se infectam após picarem indivíduos
(vetores), da família Culicidae,
virêmicos e transferem o vírus, através da
habitualmente conhecidos como mosquitos
picada, ao homem suscetível,
e pernilongos.
determinando um ciclo.
 Morfologia
A viremia em seres humanos costuma ser
Os flavivírus são esféricos, envelopados, curta, perdurando por apenas 3 a 5 dias
com projeções em sua superfície e após o aparecimento dos sintomas. Depois
medem de 40 a 80 nm de diâmetro. da picada infectante, o vírus multiplica-se
Os flavivírus entram nas células após no aparelho digestivo do mosquito,
ligação da proteína E viral a um receptor disseminando-se pelos diferentes tecidos
de membrana, provavelmente uma do inseto.
glicoforina. A chegada do vírus às glândulas salivares,
Em seguida, a partícula é englobada por após um período de incubação
pinocitose, ficando o vírus dentro de um denominado extrínseco, de 7 a 11 dias,
endossoma. determina o início do período de
transmissão viral pelo mosquito, que passa
O envelope funde-se à membrana do a transmiti-lo por toda a vida.
endossoma e o capsídeo viral é lançado no
citoplasma.  Modo de transmissão

 Ciclo de vida Não há transmissão de pessoa a pessoa. O


vírus é transmitido pela picada dos
Ciclo silvestre: No Brasil, a febre amarela mosquitos transmissores infectados.
silvestre é endêmica na Região Amazônica Apenas as fêmeas transmitem o vírus, pois
e no Planalto Central. Tratase de uma o repasto sanguíneo provê nutrientes
doença de macacos que, ao se infectarem, essenciais para a maturação dos ovos e,
costumam ter alta mortalidade. O macaco consequentemente, a completude do ciclo
guariba (Alouatta) e o macaco-prego gonotrófico.
(Cebus) são sensíveis à infecção viral, que
costuma resultar em morte do animal. No ciclo urbano, a transmissão ocorre a
partir de vetor urbano (Ae. aegypti)
infectados.
 Manifestações clínicas • Período de infecção – dura cerca de 3
dias; tem início súbito e sintomas
O espectro clínico da febre amarela pode
inespecíficos, como febre, calafrios,
variar desde infecções assintomáticas até
cefaleia, lombalgia, mialgias generalizadas,
quadros graves e fatais.
prostração, náuseas e vômitos.
As formas leves ou infecções
• Período de remissão – ocorre declínio
assintomáticas representam a maioria dos
da temperatura e diminuição da
casos. O quadro clínico clássico caracteriza-
intensidade dos sintomas, provocando uma
se pelo início súbito de febre alta, cefaleia
sensação de melhora no paciente. Dura de
intensa e duradoura, inapetência, náuseas
poucas horas até, no máximo, 2 dias.
e mialgia. O sinal de Faget (bradicardia
acompanhando febre alta) pode ou não • Período toxêmico – reaparece a febre,
estar presente. Nas formas leves e a diarreia e os vômitos têm aspecto de
moderadas, os sinais e sintomas duram borra de café. Instalase quadro de
entre 2 e 4 dias, que geralmente são insuficiência hepatorrenal caracterizado por
aliviados com tratamento sintomático, icterícia, oligúria, anúria e albuminúria,
antitérmicos e analgésicos. acompanhado de manifestações
hemorrágicas: gengivorragias, epistaxe,
Nas formas graves, cefaleia e mialgia
otorragia, hematêmese, melena,
ocorrem com maior intensidade e podem
hematúria, sangramentos em locais de
estar acompanhadas de náuseas e vômitos
punção venosa e prostração intensa, além
frequentes, icterícia, oligúria e
de comprometimento do sensório, com
manifestações hemorrágicas, como
obnubilação mental e torpor, havendo
epistaxe, hematêmese e metrorragia. O
evolução para coma e morte. O pulso
quadro clínico típico caracteriza-se por
torna-se mais lento, apesar da temperatura
manifestações de insuficiência hepática e
elevada. Essa dissociação
renal, tendo em geral apresentação
pulsotemperatura é conhecida como sinal
bifásica, com um período inicial prodrômico
de Faget.
(infecção) e um toxêmico, que surge após
uma aparente remissão. Após o período  Diagnóstico
de remissão dos sintomas, que pode levar
O diagnóstico específico depende do
de 6 a 48 horas entre o 3o e o 5o dia de
isolamento viral, da demonstração de
doença, ocorre o agravamento da icterícia,
antígenos ou do genoma viral e da
insuficiência renal e fenômenos
resposta humoral desenvolvida contra esse
hemorrágicos de maior intensidade, em
vírus pelos pacientes infectados. O
muitos casos, evoluindo para óbito em
diagnóstico pode ser feito com rapidez e
aproximadamente uma semana.
alta sensibilidade pela detecção do genoma
viral em sangue e outros materiais clínicos
ou fragmentos de órgãos, pela reação em Os agentes podem ser infecciosos ou não
cadeia da polimerase precedida por infecciosos e são necessários, mas nem
transcrição reversa do RNA viral em DNA sempre suficientes, para causar a doença.
(RT-PCR). Os agentes não infecciosos podem ser
químicos ou físicos. Os fatores do
 Profilaxia
hospedeiro são os que determinam a
Embora a zoonose que determina casos exposição de um indivíduo, sua
de febre amarela silvestre não possa ser suscetibilidade e capacidade de resposta e
controlada, a ocorrência de casos humanos suas características de idade, grupo étnico,
pode ser prevenida com o uso de vacina constituição genética, gênero, situação
(YF-17D). Também é importante prevenir socioeconômica e estilo de vida. Por último,
o aparecimento de surtos urbanos e, para os fatores ambientais englobam o
tanto, faz-se necessário monitorizar os ambiente social, físico e biológico.
índices de infestação por vetores, com
Nesse modelo se baseia a cadeia de
eliminação de criadouros e uso de
infecção. O Modelo de Componentes
inseticidas para prevenção do ciclo urbano.
Causais é um modelo de multicausalidade
A vacina antiamarílica está indicada em que se aplica a todo tipo de doenças.
indivíduos com mais de 6 meses de idade,
Conforme esse modelo, a doença se
sendo ministrada em dose única pela via
produz por um conjunto mínimo de
parenteral e com reforço a cada 10 anos,
condições que agem em sintonia. Todas as
como parte da rotina do Programa
possíveis condições ou eventos são
Nacional de Imunização nas zonas
denominados causas componentes (A, B,
endêmicas, de transição e de risco
C, D, E, F, G, H, I, J).
potencial, bem como para todas as
pessoas que se deslocam para zonas O conjunto mínimo de condições que age
endêmicas. em sintonia e causa a doença é
denominado causa suficiente.
Tríade epidemiológica Desse modo, uma causa suficiente é um
A tríade epidemiológica – para alguns conjunto de causas componentes,
tríade ecológica das doenças– é composta nenhuma das quais é supérflua. Uma causa
por hospedeiro, agente e meio ambiente. suficiente representa um mecanismo
O "desequilíbrio" desses "sistemas" leva ao causal de doença: a doença inicia-se
surgimento e/ou aumento de casos de quando se completa uma causa suficiente.
doenças. Os fatores que representam causas
A Tríade Epidemiológica é o modelo componentes de doença incluem os
tradicional de causalidade das doenças fatores do agente, hospedeiro e ambiente
transmissíveis. da tríade epidemiológica, assim como
também do modelo de determinantes da
saúde.

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