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REPÚBLICA DE ANGOLA

HOSPITAL REGIONAL DO LOBITO

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

ARBOVIROSES
AUTORES:
 JOAQUIM TEODORO RUBEM
 NEUSA SELESSU
 GENOVEVA EUGÉNIO
Interno da Especialidade de Medicina Geral e Familiar

LOBITO, 2023
LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

CHIKV – Chikungunya vírus


DENV – Dengue vírus
SCZ – Síndrome Congênita do Zika
ZIKV – Zika vírus
ÍNDICE
LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES.................................................................2

INTRODUÇÃO......................................................................................................4

AS ARBOVIROSES..............................................................................................5

Principais familias dos arbovirus......................................................................6

EPIDEMIOLOGIA.................................................................................................7

VECTOR E TRANSMISSÃO................................................................................8

SINTOMAS...........................................................................................................9

PREVENÇÃO.....................................................................................................10

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO.....................................................................11

DENGUE.............................................................................................................12

CHIKUNGUNYA.................................................................................................14

ZIKA VÍRUS........................................................................................................15

CONCLUSÃO.....................................................................................................18

REFERÊNCIAS..................................................................................................19
INTRODUÇÃO
As arboviroses são infecções virais causadas por arbovírus (do inglês,
“arthropode-borne virus”), transmitidas aos seres humanos através da picada
de vetores artrópodes hematófagos. Estima-se que cerca de 130 espécies
possam causar doenças infecciosas que, no último século, têm representado
constantes ameaças mundiais, alcançando grande relevância para saúde
pública.
As arboviroses estão associadas a grandes epidemias, tais como a
dengue, a chikungunya e, mais recentemente, a zika. Estas são doenças febris,
de carácter inespecífico e todas veiculadas pelos mesmos vectores (Aedes
aegypti e Aedes albopictus).
Observa-se nos últimos anos o aumento de transmissão viral dos
arbovírus nas regiões tropicais devido a factores como mudanças climáticas,
movimentos populacionais massivos, aumento das áreas desmatadas,
ocupação urbana desordenada e falta de políticas de saneamento adequadas e
abrangentes das áreas urbanas.
Parte do ciclo de replicação dos arbovírus (Arthropod-borne virus)
ocorre nos insetos, e eles podem ser transmitidos aos seres humanos e outros
animais pela picada de artrópodes hematófagos. O único continente onde os
arbovírus não são endêmicos é a Antártica. Esses vírus tendem a ter uma
distribuição geográfica e climática restrita, como parte de um subsistema
ecológico especial representado pelos vírus, vectores, hospedeiros
amplificadores e reservatórios.

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AS ARBOVIROSES
Arbovírus é o termo designado ao conjunto de vírus que são
essencialmente disseminados por meio de vectores artrópodes, normalmente
mosquitos hematófagos. Sendo assim chamados devido à parte do ciclo de
replicação viral ocorrer no organismo dos insetos. São responsáveis por causar
diversos tipos de doenças infecciosas que vêm sendo motivo de grande
preocupação por representarem alto risco à saúde pública mundial.
As arboviroses são infecções virais causadas por agentes
denominados arbovírus, transmitidas na natureza entre os hospedeiros
suscetíveis, através da picada de vectores artrópodes hematófagos. O termo
arbovírus designa os vírus que são veiculados pelos artrópodes, tais como
mosquitos, carrapatos e pulgas. Os arbovírus possuem uma ampla variação de
hospedeiros vertebrados e invertebrados, podendo infectar mamíferos, aves,
répteis e insetos (Karabatsos, 1985).
A grande maioria dos arbovírus que causam patologias em seres
humanos e outros vertebrados são compreendidos pelas famílias Togaviridae
(gênero Alphavirus) e Flaviviridae (gênero Flavivirus). Outros membros de
relevância para a saúde humana pertencem às famílias virais: Bunyaviridae,
Reoviridae e Rhabdoviridae. Dentre estas, calcula-se que estejam distribuídas
mais de 545 espécies, sendo que cerca de 150 estão associadas a infecções
em humanos.
Por apresentarem propriedade de aparecimento repentino e
disseminação a nível global, as arboviroses têm sido consideradas uma grave
e sucessiva ameaça, sobretudo, em regiões de clima tropical. Isto deve-se à
sua associação com o ambiente e a actuação humana, uma vez que, a
emergência e a reemergência de doenças infecciosas vêm sendo estimuladas
por modificações ecossistêmicas provocadas por ação antrópica. Tais
alterações estão relacionadas principalmente às actividades com fins lucrativos
ocasionando o processo de sinantropia, que favorece a propagação de insetos
vectores e a consequente transmissão dos agentes patogênicos ao homem.
A ocupação urbana caótica, as rápidas e constantes mudanças
climáticas, a globalização, os fluxos migratórios e serviços sanitários precários
também são factores que implicam na difusão viral.

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Os arbovírus actualmente registrados são classificados, de acordo com
suas características físico-químicas, em cinco famílias virais: Bunyaviridae,
Togaviridae, Flaviviridae, Reoviridae e Rhabdoviridae (Pinheiro et al., 1996). A
maioria pertence às três primeiras famílias citadas e são particularmente
importantes para saúde pública (Griffin, 2007; Gubler et al., 2007; Lindenbach
et al., 2007; Schmaljohn & Nichol, 2007).

Principais familias dos arbovirus

As arboviroses têm representado constantes ameaças mundiais,


alcançando grande relevância para saúde pública devido a uma gama de
factores que propiciam a amplificação da transmissão viral. Dentre estes
factores, encontram-se as mudanças climáticas drásticas, os desmatamentos
clandestinos e descontrolados, a migração e ocupação populacionais
desordenadas e as péssimas condições sanitárias encontradas em grande
parte do planeta aliados à diversidade de agentes infecciosos envolvidos, à

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variedade de manifestações clínicas apresentadas e à dificuldade de
implementação de medidas sanitário-educativas para prevenção da doença e
controle efetivo dos vectores (Cleton et al., 2012).
A clínica das arboviroses está associada a uma doença sistêmica
discreta que cursa com febre, calafrios, cefaleia, mialgias e outros sintomas
semelhantes ao da síndrome gripal. Na maioria das vezes, a doença não
costuma progredir além desse ponto. Entretanto, em alguns casos, o vírus
consegue alcançar tecidos-alvo críticos, como o cérebro, o fígado, a pele e os
vasos sanguíneos, podendo resultar em acometimentos mais graves mielite,
meningite, encefalite, hemorragia, choque (Murray et al., 2006).

EPIDEMIOLOGIA
O perfil epidemiológico dos arbovírus é muito complexo, devido à
especificidade do vector artrópode envolvido na transmissão e a possível
participação de humanos, bem como de animais reservatórios. Assim,
particularidades regionais são atribuídas às arboviroses, variando de acordo
com os atributos ecológicos, comportamentais de vectores, hospedeiros, dos
indivíduos em geral e dos aspectos climáticos. Associado a isso, o
aquecimento global é um factor que tem se mostrado influenciador no processo
de disseminação dos agentes patogênicos, visto que o calor excessivo interfere
diretamente no ciclo reprodutivo dos mosquitos vectores, reduzindo o período
de desenvolvimento larval e consequentemente, aumentando ligeiramente a
população de alados. As alterações ecológicas no ambiente natural dos
arbovírus provocam mudanças em seus ciclos, fazendo com que eles se
adaptem a novos reservatórios e se multipliquem ainda mais rápido.
Ademais, os arbovírus compreendem um grupo que, por natureza,
apresenta grande plasticidade genômica e alta periodicidade de mutações,
associados a diversos mecanismos de replicação, o que possibilita a
adequação a diversos tipos de hospedeiros vertebrados e invertebrados. Com
isso, o risco de emergência e reemergência das arboviroses em diferentes
regiões do planeta aumenta significativamente.

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VECTOR E TRANSMISSÃO
Os arbovírus são mantidos na natureza por meio de ciclos de
transmissão complexos, abrangendo espécies de hospedeiros vertebrados e
artrópodes hematófagos que participam como vetores desses vírus. O ciclo
epidemiológico é caracterizado por parte do mecanismo de replicação viral
passar-se necessariamente no organismo do vector, onde o vírus mantém-se
durante todo o ciclo de existência do artrópode.
O vírus, para ser classificado como um arbovírus, necessita preencher
os seguintes critérios:
(1) Ser capaz de infectar vertebrados e invertebrados;
(2) Iniciar viremia em hospedeiro vertebrado por período de tempo
suficiente para permitir a aquisição do vírus pelo vetor invertebrado;
(3) Produzir infecção persistente nas glândulas salivares dos vectores
invertebrados de modo a promover a propagação do vírus para outros animais
hospedeiros (Murray et al., 2006).
Deste modo, um ciclo completo de infecção ocorre, conforme ilustra a
FIGURA I.

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De modo geral, mosquitos, carrapatos, flebotomíneos, ácaros e outros
artrópodes hematófagos actuam como transmissores dos vírus para
hospedeiros vertebrados susceptíveis que passam a ser agentes dispersores e
fontes de infecção para outros vectores. A transmissão ocorre pela picada do
vector fêmea em seres susceptíveis que podem realizar um período de viremia,
no qual mais vectores estão sujeitos à infecção ao praticarem a hematofagia.
Além disso, o vírus pode ser transmitido entre artrópodes durante a cópula ou
por via transovariana.
Diversos factores associados interferem para que a transmissão seja
eficiente, sobretudo mudanças ecológicas por acção antrópica que podem
originar novos reservatórios levando o vírus a adaptações que favoreçam a sua
prevalência. Ligado a isso, o número populacional de vectores, a
vulnerabilidade dos hospedeiros, a capacidade de multiplicação do vírus e a
aptidão vetorial dos artrópodes contribuem para a propagação constante dos
arbovírus.

SINTOMAS
A localização e intensidade da reprodução viral que começa a ocorrer
logo após a infecção, durante o período de incubação, indicarão o
aparecimento dos sintomas clínicos apresentados pelas arboviroses. O modo
característico da infecção pode variar conforme o tipo de arbovírus causador da
doença e as diferenças de tropismo, ou seja, a reação do hospedeiro ou de
seus órgãos em resposta a um estímulo externo. Frequentemente são
registradas altas taxas de morbidade e mortalidade por arboviroses,
especialmente pelo facto de que diversos quadros graves são diagnosticados
somente após grandes epidemias.
De modo geral, as arboviroses podem provocar a apresentação de
quatro formas clínicas diferentes, sendo elas a doença febril, artralgia e
erupções na pele, síndromes neurológicas e síndromes hemorrágicas. Todavia,
podem ser observados casos assintomáticos ou com sintomas inespecíficos
nas infecções causadas por diferentes tipos de arbovírus, principalmente na
fase aguda, tornando difícil o diagnóstico preciso.

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Dentre as manifestações clínicas, a doença febril pode manifestar-se
desde a forma leve e indiferenciada à moderada e grave, acompanhadas por
sintomas comuns à síndrome gripal, como dor retro orbital, mialgia e cefaleia. A
artralgia apresenta-se normalmente de forma vaga, podendo causar dores em
uma ou mais articulações e aparecimento de exantemas. A síndrome
neurológica é evidenciada com meningites e/ou encefalites agudas,
provocando paralisia, crises convulsivas, alterações comportamentais, entre
outros. Já as manifestações da síndrome hemorrágica incluem petéquias,
hemorragia e choque associado à redução intensa de plaquetas.

PREVENÇÃO
Sabendo que as arboviroses são causadas por vírus cujo principal
vetor é um artrópode, os dois principais métodos preventivos são o
desenvolvimento de medidas farmacológicas ou imunoprofiláticas e o controle
de vetores.

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Assim, as doenças infecciosas provocadas por arbovírus têm se
mostrado relevantes por representarem um grande problema de saúde pública.
Isto deve-se ao facto dessas doenças serem altamente capazes de causar
epidemias extensas, gerando também impacto econômico significativo e
comprovado nas regiões afetadas.
A notável complexidade de associação existente entre o hospedeiro,
reservatórios e mosquitos vetores, pouco conhecida na maior parte dos casos,
representa um grande desafio. Os transmissores responsáveis pelas
arboviroses de emergência constante estão amplamente distribuídos, tornando
frequente e inevitável o contato humano com esses vetores. Aliado a isso,
diversos factores ambientais como o crescimento urbano caótico, poluição de
rios e ausência de investimentos sanitários contribuem para a disseminação
dos mosquitos, caracterizando também um empecilho no combate a esses
vetores.
Desse modo, campanhas de educação sanitária, a fim de reorientar a
população acerca de hábitos que devem ser praticados para evitar doenças
causadas por arbovírus, associadas ao fortalecimento dos programas de
vigilância entomológica e epidemiológica representam as principais
ferramentas no controle e prevenção de arboviroses. Da mesma forma, o
aprofundamento em pesquisas e estudos para maior conhecimento sobre a
biologia dos arbovírus, suas interações e impactos no ambiente, agregariam
ações no desenvolvimento de vacinas bem como na melhoria das condições
gerais das populações de risco, direcionando estratégias preventivas contra
arboviroses.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
O diagnóstico categórico e objectivo de vários tipos de arboviroses tem
representado um enorme desafio para a saúde pública.
No contexto epidemiológico vírus como Encefalite Equina do Leste
(EEEV), Encefalite Equina Venezuelana (VEEV), Mayaro (MAYV),Rocio
(ROCV) e Dengue (DENV) já foram notificados como circulantes e emergentes
em diferentes regiões. Todavia, as manifestações clínicas similares entre
arboviroses, como a síndrome febril inespecífica, dificultam os processos de

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diagnóstico e muitas vezes, algumas doenças infecciosas são confundidas com
outras.
Outro facto que interfere na avaliação diagnóstica acurada diz respeito
às extensas reações cruzadas que podem ocorrer nos testes sorológicos
empregados como técnicas de detecção do vírus infectante em hospedeiros
vertebrados. Contudo, esse método de diagnóstico laboratorial continua sendo
utilizado. Além dele, técnicas virológicas para tentativa de isolamento e
identificação viral também são empregados, tal qual métodos de biologia
molecular como a transcrição reversa seguida por reação em cadeia de
polimerase que têm se mostrado eficientes devido a sua alta sensibilidade,
especificidade e rapidez.
As etapas de diagnóstico e detecção arboviral são fundamentais para o
desenvolvimento de recursos de controle e tratamento efetivos. Uma vez que,
ainda não existem métodos de tratamento específicos contra a maioria dos
vírus responsáveis por provocar arboviroses. Na maior parte dos casos, o
médico opta pelo tratamento sintomático, indicando medicamentos que
minimizem os sintomas causados pela arbovirose, o que mascara a evolução
do quadro clínico e consequentemente, aumentam a negligência em relação a
essas infecções.

DENGUE
A dengue é uma doença febril que pode apresentar desde infecções
leves ou assintomáticas, até quadros hemorrágicos capazes de levar ao óbito,
além disso a doença ainda não conta com um tratamento específico e a
medicação é feita com analgésicos e antitérmicos, incluindo ingestão de
líquidos. Actualmente, é a arbovirose mais importante que afeta o homem,
especialmente em climas tropicais, onde o mosquito vetor é favorecido
(BRASIL, 2002).
Existe uma vacina para dengue que foi liberado pela Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (ANVISA) e que possui uma eficácia geral de 65%,
ainda não está disponível no Sistema Único de Saúde, requer a aplicação de 3
doses e tem melhor resultado em pessoas que já tiveram contato com o vírus
da dengue (CHIARELLA, 2016).

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A transmissão ocorre através da picada da fêmea infectada pelo vírus
DENV que possui quatro sorotipos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4.
Como os anticorpos de cada sorotipo não conferem proteção para os três
demais, cada pessoa pode infectar-se até quatro vezes. Além disso, pessoas
que, em momento anterior, já foram infectadas pela dengue, se comparadas
com pessoas que nunca contraíram o vírus, correm maior risco de evoluir a
doença para sua forma grave (SANTA CATARINA, 2021).
A transmissão do vírus compreende dois ciclos: um intrínseco que é o
ciclo do vírus no organismo humano, sendo que seu período varia entre o
primeiro ou sexto dia da doença; e um extrínseco, que é o ciclo no vetor A.
aegypti, na qual o vírus se multiplica em um período de oito a doze dias e,
então, migra para as glândulas salivares do mosquito. A partir deste momento,
o mosquito está apto para transmitir o vírus até o final de sua vida, que varia
entre seis a oito semanas, podendo infectar até 300 pessoas durante este
período (TIMERMAN; NUNES; LUZ, 2012).
Os DENV são os únicos arbovírus que se adaptaram aos seres
humanos e ao ambiente doméstico, a tal ponto que o ciclo silvestre não é mais
necessário para a sua manutenção, deste modo no presente momento o ciclo
de transmissão da dengue nas grandes cidades envolve exclusivamente os
seres humanos e os mosquitos vetores (LOPES; NOZAWA; LINHARES, 2014).
Considerada uma das mais relevantes questões de saúde pública no
mundo, a dengue é responsável por, aproximadamente, 390 milhões de
infecções todos os anos ao redor do mundo (ANDRIOLI; BUSATO; LUTINSKI,
2020). Assim como a maioria das arboviroses, a dengue possui direta relação
com centros urbanos, principalmente de países em desenvolvimento. Há
também outros fatores determinantes como migrações, precarização dos
sistemas de saúde, assim como altas temperaturas e índices pluviométricos
(BARBOSA et al., 2012).
Recentemente, em 2019, os casos de dengue excederam 2 milhões de
registros e apesar da queda de registros em 2020 e 2021 é necessário
considerar a possibilidade de subnotificação devido a actual pandemia de
COVID-19 que se instalou no país em 2020. A razão disso se deve a alguns
factores, em primeiro lugar, pela manifestação clínica de ambas doenças
apresentarem semelhanças, mas também, pelo receio da população em buscar

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atendimento médico, assim propiciando que o número de casos reais da
doença seja maior que o notificado (RABIU et al., 2021).

CHIKUNGUNYA
O vírus responsável pela febre chikungunya (CHIKV) é um Alphavirus
da família Togaviridae. Foi isolado pela primeira vez na Tanzânia no início da
década de 1950 e desde então o vírus é associado a surtos e epidemias, tendo
ocorrido em 2004 nas ilhas da Reunião um importante surto da doença na qual
foram confirmados mais de 244 mil casos e 203 mortes (SILVA, N. et al., 2018).
A febre chikungunya é uma arbovirose causada pelo vírus CHIKV e
que apresenta sintomas que podem ser semelhantes a outras arboviroses
como a dengue e zika. Os sintomas incluem febre, mialgia e cefaléia, porém na
febre chikungunya a artralgia é mais marcante, podendo persistir por meses e
até anos em alguns pacientes (AZEVEDO; OLIVEIRA; VASCONCELOS, 2015).
Também transmitida pelo mosquito A. aegypti, a doença, em sua forma
aguda, pode apresentar febre alta, dores nas articulações e erupções
cutâneas, já na sua fase subaguda é caracterizada pela persistência da dor
articular. (SANTA CATARINA, 2021).
Após infectar o mosquito vetor, o vírus CHIKV deve se replicar e
alcançar as glândulas salivares do mosquito em um período de até 10 dias
para que se torne apto a infectar os humanos (SILVA JR. et al., 2018).
Nos humanos, após a picada pelo mosquito Aedes infectado, o vírus
CHIKV é fagocitado por células dendríticas no tecido subcutâneo e migra para
os linfonodos (FIGUEIREDO, M.; FIGUEIREDO, L., 2014).
Devido a capacidade do vírus de se replicar em diferentes tecidos do
corpo, como o tegumento, sistema nervoso, articulações, fígado entre outros,
as manifestações clínicas acabam sendo muito variadas, podendo apresentar
diferentes sintomas (AZEVEDO; OLIVEIRA; VASCONCELOS, 2015).
Em pacientes com comorbidades, como idosos e crianças, podem
ocorrer casos graves, e eventualmente fatais. A transmissão de mãe para filho
não é comum, porém nos casos registrados em que os recém nascidos foram
infectados houveram manifestações graves da doença incluindo encefalopatia
em 90% dos casos.

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Apesar dos sintomas de febre e artralgia serem um ótimo indicativo
para a confirmação da doença, vários pacientes suspeitos vivem em áreas
endêmicas de dengue, existindo a possibilidade de erros no diagnóstico. A
confirmação laboratorial rápida é fundamental para que se tenha ações de
controle e uma condução clínico laboratorial adequada (HONÓRIO et al.,
2015).
A infecção pelo vírus chikungunya acaba por agravar algumas
comorbidades durante a fase aguda da infecção, além disso doenças renais e
auto-imunes também parecem ser exacerbadas durante a fase aguda
(FARIAS; PIRES; CAMPOS, 2019).
A transmissão vertical do vírus chikungunya é observada apenas em
casos em que se apresenta viremia materna, podendo levar a graves
complicações, deste modo o CHIKV confere um risco para partos virêmicos
que deve ser levado em consideração no caso de um surto de chikungunya
(GÉRARDIN et al, 2008).
Um risco importante relacionado com a febre chikungunya é a
possibilidade de estabelecer um ciclo silvestre da doença entre espécies de
macaco presentes no território nacional e o mosquito vetor, tornando
impossível a erradicação dessa arbovirose no país (DONALISIO; FREITAS,
2015).
A semelhança entre os sintomas destas arboviroses mencionadas, que
dificultam o diagnóstico e a abordagem terapêutica, também é considerado um
factor relevante. Além disso, a variedade de espécies de primatas na África e a
grande extensão territorial brasileira que dificulta a vigilância e testes
laboratoriais em todo território (HONÓRIO et al., 2015).

ZIKA VÍRUS
O vírus zika (ZIKV) é um arbovírus da família Flaviviridae e do gênero
Flavivirus, é classificado como um vírus de fita simples de RNA e tem como
principal vetor os mosquitos A. aegypti e A. albopictus. Foi isolado pela primeira
vez em um macaco-rhesus no final da década de 1940 em Uganda na África
Oriental e, até acontecer uma importante epidemia na Polinésia Francesa, os
casos registrados em humanos eram raros (LUZ; SANTOS; VIEIRA, 2015).

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O vírus da zika apresenta a condição de ser mais termoestável que o
vírus da dengue, podendo conferir para o seu sucesso em causar pandemias,
já que apresenta a capacidade de resistir a condições ambientais
desfavoráveis (PETTERSSON et al., 2016).
A principal forma de infecção pelo ZIKV é através da picada da fêmea
infectada do gênero Aedes (ESPOSITO; FONSECA, 2016). Porém, pode
também ser transmitido sexualmente, verticalmente e via transfusão
sanguínea.
Os sintomas geralmente se apresentam em uma forma leve da doença,
caracterizada por febre baixa e irritações na pele e estima-se que
aproximadamente 20% dos casos apresentam sintomas (ZHANG et al., 2017).
Apesar disso, é possível que, quando presentes, os sintomas sejam variados
como: exantema maculopapular pruriginoso, febre, artralgia, mialgia, entre
outros (SANTA CATARINA, 2021).
A zika é uma doença autolimitante em crianças e adultos, como coloca
Weaver (2018), entre 90 e 100% dos casos sintomáticos estão presentes
erupção macular ou maculopapular e, apesar de artrite e artralgia serem mais
característicos da febre chikungunya, aproximadamente 65% dos casos
sintomáticos de ZIKV também apresentam estes sintomas. Complicações que
envolvem a Síndrome de Guillain-Barré (SGB) são extremamente raras, mas já
foi observado durante um surto na Polinésia Francesa nos anos de 2013 e
2014 que a cada 10.000 pessoas infectadas 2,4 desenvolveram a SGB (SAIZ
et al., 2017).
O primeiro grande surto da infecção pelo zika vírus ocorreu no ano de
2007 na ilha de Yap na Micronésia, se dispersando para o Sudeste Asiático
através do oceano pacífico (KINDHAUSER et al., 2016). Até o momento, o
Brasil é o país que teve o maior registro de número de casos de ZIKV no
mundo e, também, o maior número de casos de microcefalia e outras doenças
relacionadas à malformação do feto.
A vigilância em escala nacional dispõe de algumas dificuldades como,
por exemplo, pelos muitos casos assintomáticos e pela circulação do vírus em
locais com outras arboviroses de sintomas semelhantes, como a dengue e a
chikungunya (FARIA et al., 2017).

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Pelas proporções do surto ocorrido no Brasil em 2015, bem como pela
associação da doença à casos de microcefalia, a Organização Mundial de
Saúde (OMS) declarou situação de Emergência de Saúde Pública de Interesse
Internacional no dia 1 de fevereiro de 2016 (LESSLER et al., 2016).
Mortes pela doença são raras e geralmente ocorrem em pacientes com
comorbidades, sendo assim, a principal preocupação relacionada ao vírus zika
é quanto a sua associação a ocorrências de casos de microcefalia. Além disso,
também pela possível ligação a outras malformações do feto, como
calcificações intracranianas, comprometimento ocular, hipoplasia do tronco
cerebral entre outros (LESSLER et al., 2016).
Assim como com outras arboviroses, o combate ao ZIKV se dá
principalmente através do controle do mosquito vetor, medida crucial, já que a
doença carece de vacina eficaz e tratamento específico para redução do
período de viremia (SAIZ et al., 2017).

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CONCLUSÃO
Com este estudo bibliográfico foi possível concluir que as Arboviroses
apesar de se comparadas a outras doenças demonstrarem uma parte ínfima
dos casos de óbito em âmbito global as mesmas não podem ser subestimadas
pois geram problemas que vão além da saúde dos infectados, gerando intrigas
políticas e sociais.
As arboviroses são de grande relevância na saúde pública, devido a
uma série de factores, que vão desde a diversidade de agentes infecciosos
envolvidos e a pluralidade de manifestações clínicas, até a inexistência de
apoio laboratorial eficiente, a inexistência de medidas imunoprofiláticas para a
maioria das infecções correntes e a dificuldade na implementação e
manutenção de medidas educativas e sanitárias.
As arboviroses são um problema de saúde pública e revelam a grande
necessidade da mobilização de recursos de pesquisa no âmbito técnico-
biológico, envolvendo os grupos, agências e instâncias responsáveis por
pesquisas científicas, além da actuação de órgãos como o Ministério da Saúde
para que haja aplicação contínua e actualização das medidas de controle
existentes. Também é necessário o engajamento da sociedade na busca pelos
direitos à saúde, no compromisso de auxiliar a combater e erradicar os vetores
por meio de mobilização social, ou seja, a participação do cidadão junto à sua
comunidade, através do controle mecânico para extinção dos depósitos com
água parada, impedindo que os mosquitos tenham acesso e se reproduzam.
Campanhas de educação sanitária precisam ser constantes e a
vigilância deve ser reforçada como parte de programas eficazes de controle
das doenças em humanos e animais domésticos, além da essencial
minimização da participação de vetores.

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REFERÊNCIAS
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VASCONCELOS, Pedro Fernando da Costa. Risco do chikungunya para
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Revista da Faculdade de Ciências Médicas de Sorocaba, v. 18, n. 2, p.
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18, p. 283-285, 2015.
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v. 49, n. 5, p. 535-536, 2016.
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CAMPOS, Eugenio de Moura. chikungunya fever and mental illness: a
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7. FARIAS, Luís Arthur Brasil Gadelha; PIRES, Roberto da Justa;
CAMPOS, Eugenio de Moura. chikungunya fever and mental illness: a
poorly understood relationship needing additional study. Archives of
Clinical Psychiatry (São Paulo), v. 46, p. 113-113, 2019.
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da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 50, n. 5, p. 583-584,
2017.
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13. SAIZ, Juan-Carlos et al. zika virus: what have we learnt since the start of
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