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ANÁLISES
AMBIENTAIS
Introdução
Saúde humana e degradação ambiental são dois temas globais em
ampla discussão no momento. Nesse contexto, é importante examinar
as diversas conexões potenciais entre esses dois tópicos. Teoricamente,
quanto mais rica a biodiversidade, maior a variedade de patógenos
que circulam na fauna, aumentando a probabilidade de infectarem
o ser humano. Entretanto, pesquisas têm demonstrado o contrário,
que mais espécies significam menos doenças, como se diluíssem os
vetores. Assim, uma vasta biodiversidade é garantia de proteção para
espécies que evoluem juntas; o problema surge apenas quando há
um desequilíbrio ou perturbação do sistema natural, resultando em
novas patologias, com saltos interespécies, passando a incluir muitas
vezes o ser humano.
Neste capítulo, você vai ter a oportunidade de entender as estreitas
relações entre degradação ambiental e saúde humana e suas consequên-
cias a curto e longo prazos, além da importância da educação ambiental
na redução do problema.
2 Saúde humana e educação ambiental
Redução da biodiversidade
A degradação ambiental tem nítido efeito sobre a saúde humana e, portanto,
tem sido uma preocupação eminente. Os biomas estão sendo devastados em ve-
locidade ascendente e as áreas de preservação que restam acabam sendo muito
simplificadas. A degradação do ecossistema resulta em extinção de diversas
espécies e, como agravante, em extinção de predadores de topo, abalando a
cadeia alimentar e consequentemente privilegiando espécies mantenedoras
de patógenos. Tais espécies, facilmente adaptáveis às mudanças ambientais,
aproximam-se mais facilmente do ser humano, que passa a fazer parte de um
ciclo, tornando-se hospedeiro acidental de um ciclo originalmente silvestre.
Muitas patologias emergentes e reemergentes estão ligadas diretamente ao
desmatamento e ocorrem onde áreas suburbanas se espalham para terras
recém-desmatadas. Também podem ser causadas pela caça e por associação
a mercados de vida selvagem e criação intensiva de animais. Alguns vetores
aumentam a incidência em terras recentemente desmatadas, como aqueles
que causam patologias como malária, dengue, a doença de Lyme e o vírus
do Nilo Ocidental.
“Ao conduzir estradas para florestas, fragmentar ecossistemas, minerar em
áreas remotas e incentivar o comércio global, não estamos apenas destruindo
Saúde humana e educação ambiental 3
a vida selvagem, mas criando as condições perfeitas para que novas doenças
surjam e se voltem contra nós” (VIDAL, 2020, tradução nossa). Para Johnson et
al. (2020), os elementos de risco associados ao transbordamento e surgimento
de novas patologias são os mesmo desencadeantes da redução da população
silvestre e do risco de extinção, tais como: domesticação de animais, invasão
humana em habitats ricos em biodiversidade selvagem e caça de animais
silvestres. O risco de propagação de vírus em larga escala é sustentado pela
probabilidade de interações animal–humano.
Poluição atmosférica
O sistema respiratório superior é o primeiro a responder negativamente à
poluição atmosférica, apresentando inativação do batimento ciliar e alteração
do olfato. Assim, doenças se desenvolvem e enfermidades pré-existentes são
agravadas. Uma das mais comuns nesse caso é a asma brônquica, que ocorre
devido à resistência das vias aéreas. Assim, crises asmáticas se devem ao
estreitamento dos bronquíolos decorrente do aumento da mucosa e do espes-
samento das secreções. Após a crise, os bronquíolos retornam ao tamanho
6 Saúde humana e educação ambiental
Poluição hídrica
A poluição hídrica afeta diretamente a saúde humana. São diversas as atividades
humanas que prejudicam a qualidade da água, como atividade agrícola, indus-
trial e mineradora, o despejo de efluentes domésticos, o deposito inadequado
de resíduos sólidos, entre outros.
O efeito direto da poluição hídrica na saúde humana não é recente. Em 1854,
o médico britânico John Snow investigou as causas de uma epidemia de cólera
na região central da cidade de Londres. Ele observou que no seu bairro havia
duas empresas fornecedoras de água diferentes, a Southwark e a Lambert.
Assim, relacionou os doentes com o local de abastecimento e demonstrou
que a cólera era transmitida pela água fornecida pela empresa Southwark,
que captava água do rio Tâmisa na parte mais poluída, enquanto a Lambert
captava água do rio Tâmisa antes da ejeção de excrementos (JOHNSON, 2008).
As patologias transmitidas pela água aos seres humanos decorrentes da
poluição hídrica podem ser classificadas conforme a forma de transmissão:
Assim, essas doenças resultam da baixa qualidade da água utilizada para beber,
para a higiene e outras finalidades. Entre as patologia estão diversas doenças
entéricas e diarreicas, doenças parasitarias, virais e bacterianas. Além disso,
altas concentrações de nutrientes, como nitratos, podem resultar em patologias
como metemoglobinemia infantil (síndrome do bebê azul), câncer de estomago,
distúrbios de tiroide, defeitos congênitos e distúrbios reprodutivos (BRASIL, 2013).
Diversos contaminantes orgânicos e inorgânicos também exercem impac-
tos na saúde humana, como os metais mercúrio, cobre e zinco, encontrados
naturalmente no meio ambiente. A longa exposição a elevados teores desses
metais pode resultar em consequências diretas aos seres humanos. O cádmio
está relacionado a distúrbios de função renal e fragilização óssea, o que resulta
em fraturas. O mercúrio inorgânico tem sido relacionado a doenças coronárias,
danos renais e distúrbios imunológicos. O chumbo tem sido relacionado com
problemas no desenvolvimento de fetos, vômitos, lesões celebrais, lesões nos
rins, danos ao sistema nervoso, distúrbios sanguíneos e morte. O arsênio, por
sua vez, pode resultar em cânceres e lesões na pele, enquanto o cobre provoca
irritação estomacal, náusea, vômito e diarreia (BRASIL, 2013).
8 Saúde humana e educação ambiental
Poluição do solo
A contaminação do solo afeta direta e indiretamente a saúde humana, seja
pela contaminação decorrente de dejetos humanos, diferentes resíduos sólidos
e utilização de agrotóxicos. O acúmulo de agrotóxicos tem o potencial de
promover a absorção de elementos minerais, sobretudo em solos expostos,
o que reduz seu grau de fertilidade. Se estiverem presentes no solo, nos
alimentos, na água ou no ar, podemos absorvê-los por ingestão, contato
com a pele ou inalação.
No Brasil, a Lei nº. 11.936, de 14 de maio de 2009, proibiu a fabricação, a
importação, a exportação, a manutenção em estoque, a comercialização e o uso
de diclorodifeniltricloretano (DDT) (BRASIL, 2009). Um questão preocupante
era a bioacumulação e biomagnificação do DDT na cadeia alimentar. Inseticidas
organoclorados podem permanecer no solo por mais de três décadas após sua
aplicação. Um dos efeitos no organismo humano é decorrente da atuação no
sistema nervoso central, o que pode resultar em distúrbios sensoriais e da
atividade da musculatura involuntária, perda de equilíbrio e depressão dos
centros vitais, particularmente da respiração. A intoxicação aguda pode levar
a cloracne, cefaleia, doença de Alzheimer, tonturas, convulsões, insuficiência
respiratória, câncer de pâncreas, potencialização de tumores cancerígenos
pré-existentes, câncer de próstata, câncer de mama, câncer de pâncreas e
óbito (GOBBO, 2019).
3 Educação ambiental
A educação ambiental é uma necessidade em todos os segmentos. Nos noticiários
atuais e recentes — brasileiros ou mundiais — pelo menos um dos temas a seguir
estará presente: epidemia, queimadas, desmatamento, seca e/ou desabasteci-
mento, tráfico de espécies exóticas ou animais silvestres, extinção de espécies,
poluição atmosférica, doenças emergentes ou reemergentes, entre outras ações
antropogênicas que são consequências da exploração irrestrita e irresponsável
do meio ambiente. Isso deixa ainda mais clara a necessidade de se falar sobre as
alterações decorrentes da ação antrópica, com o intuito de formar uma mentalidade
sustentável. No Brasil, a legislação que determina as metas da educação ambiental
é a Lei nº. 9.795, de 27 de abril de 1999 (BRASIL, 1999), o que demonstra que a
preocupação em reverter as ações antropogênicas não é recente. Em seu artigo
5º, ela estipula como os objetivos fundamentais da educação ambiental:
Art. 15 [...]
I — definição de diretrizes para implementação em âmbito nacional;
II — articulação, coordenação e supervisão de planos, programas e projetos
na área de educação ambiental, em âmbito nacional;
III — participação na negociação de financiamentos a planos, programas e
projetos na área de educação ambiental.
A Figura 3 retrata a poluição hídrica, que pode ser evitada pela conscien-
tização da importância da água e os efeitos negativos à saúde da população.
Novamente, a educação ambiental pode ser um instrumento eficaz para evitar
ou reduzir a poluição da água.
[...] até 2030, garantir que todos os alunos adquiram conhecimentos e habilida-
des necessárias para promover o desenvolvimento sustentável, inclusive, entre
outros, por meio da educação para o desenvolvimento sustentável e estilos de
vida sustentáveis, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção de uma
cultura de paz e não violência, cidadania global, e valorização da diversidade
cultural e da contribuição da cultura para o desenvolvimento sustentável.
[...] até 2030, melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando
despejo e minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos,
reduzindo à metade a proporção de águas residuais não tratadas, e aumentando
substancialmente a reciclagem e reutilização segura globalmente.
[...] até 2025, prevenir e reduzir significativamente a poluição marinha de
todos os tipos, especialmente a advinda de atividades terrestres, incluindo
detritos marinhos e a poluição por nutrientes.
[...] reforçar a parceria global para o desenvolvimento sustentável complementa-
da por parcerias multissetorias, que mobilizem e compartilhem conhecimento,
experiência, tecnologia e recursos financeiros para apoiar a realização dos
objetivos do desenvolvimento sustentável em todos os países, particularmente
nos países em desenvolvimento.
Figura 5. Sistematização dos potenciais efeitos na saúde relacionados aos impactos e riscos
ambientais causados pelo desastre de Mariana.
Fonte: Freitas et al. (2019, documento on-line).
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BRASIL. Lei nº. 11.936, de 14 de maio de 2009. Proíbe a fabricação, a importação, a
exportação, a manutenção em estoque, a comercialização e o uso de diclorodifeniltri-
cloretano (DDT) e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 15 maio 2009.
Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2009/lei-11936-14-maio-2009-
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Leituras recomendadas
ANDRADE, A. L. M.; LIMA, E. R.; GOMES, A. C. A. A importância do desenvolvimento de projetos
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Saúde humana e educação ambiental 17
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