Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
-1-
Olá!
Você está na unidade Doenças Infecciosas Virais. Conheça aqui os conceitos das principais doenças causadas
por vírus. Entenda a diferença entre as viroses emergentes e reemergentes que acometem o ser humano. Saiba
Aprenda, ainda, sobre as técnicas disponíveis para o diagnóstico dos vírus, bem como as terapias antivirais
multissistêmicas. Além disso, saiba quais as infecções podem ser prevenidas com vacinas e em quais
Bons estudos!
-2-
1 Viroses emergentes e reemergentes
Uma variedade de vírus emergentes e reemergentes com capacidade de infectarem seres humanos têm sido
identificados nos últimos anos. O reconhecimento desses microrganismos provavelmente está relacionado a uma
maior conscientização sobre o problema dos vírus emergentes, maior atenção para esses patógenos e
As viroses emergentes são aquelas que surgem com um efeito significativo sobre o ser humano, por sua
gravidade ao acometer o organismo, capacidade de deixar sequelas e impactos sociais relacionados à sua
prevalência. Três padrões gerais estão envolvidos no surgimento das viroses emergentes: reconhecimento de
um novo patógeno, aumento súbito de doenças causadas por um microrganismo endêmico e invasão de uma
nova população de hospedeiro. Como exemplo, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) (AFONSO
et al., 2010; BROOKS et al., 2014; PEDROSO e ROCHA, 2009). Já as viroses reemergentes são aquelas
previamente conhecidas e que foram tratadas e controladas, mas que voltaram a apresentar perigo para a
saúde humana. São doenças que reaparecem após uma redução expressiva. No Brasil, a dengue e a cólera são
Entre os principais agentes causadores de viroses emergentes e reemergentes, distribuídas por diferentes
regiões do mundo, estão o vírus Ebola, Nipah, HIV, Dengue, Zika, Chikungunyae Sars-CoV-2 (AFROUGH et al.,
-3-
1.1 Ebola
O vírus Ebola, pertencente à família Filoviridae e ao gênero Ebolavirus. é envelopado e possui genoma de RNA
viral de fita simples. Quatro espécies são consideradas patogênicas para o ser humano: Ebola-Zaire (EBO-Z),
Fique de olho
Em 1976 ocorreram duas graves epidemias de febre hemorrágica no Sudão e no Zaire que
resultaram na descoberta do vírus. Na época, houve mais de 500 casos e cerca de 400 mortes
relacionadas à febre hemorrágica clínica. Desde então, ocorreram surtos em Uganda (2000),
República do Congo (1995, 2001, 2002, 2003), Gabão (1994, 1996, 1997, 2002), África do Sul
(1996) e Sudão (2004) (BROOKS et al., 2014, LEVINSON, 2016).
O Ebola foi inserido na população humana pelo contato com fluidos e secreções de animais infectados. No
entanto, atualmente, a maioria dos casos manifesta-se a partir de transmissão secundária, pelo contato com
sangue ou secreções de pacientes. No início, a doença se caracteriza pela presença de febre, cefaleia, vômito e
diarreia. Após, ocorre sangramento do trato gastrointestinal, choque e coagulação intravascular disseminada.
Nos primeiros 3 a 6 dias, a infecção é mais rápida e letal, sendo que o período de incubação varia entre 2 a 21
dias. O vírus é associado a uma alta taxa de mortalidade, cerca de 50% (DE QUEIROZ SIMÕES, 2018; ERGONUL et
O diagnóstico de Ebola é realizado pelo isolamento do vírus ou detecção de aumento no título de anticorpos.
Entre as técnicas disponíveis, está a pesquisa do RNA viral (RT-PCR) em amostras de pacientes suspeitos, o
para detecção de anticorpos. Não há disponibilidade de vacina para a doença. Sendo assim, o uso de
equipamentos de proteção individual (EPIs) deve ser essencial ao entrar em contato com amostras ou suspeitos
-4-
1.2 Nipah
O vírus Nipah é um paramixovírus envelopado. Seu nome é originado de uma vila na Malásia, onde o primeiro
surto foi registrado entre 1998 e 1999. O vírus provoca encefalite, sendo que, no primeiro surto, ocorreram mais
de 250 casos de encefalite febril em trabalhadores de fazendas e matadouros. Na malásia não houve mais relatos
de surtos, entretanto, em outras partes do mundo, especialmente em Bangladesh e na índia, novos casos foram
relatados. Em 2018, um novo surto em Querala, na Índia, trouxe novamente à tona esse vírus emergente
A transmissão do vírus pode ocorrer por diferentes formas. Em Bangladesh, a seiva colhida a partir da
tamareira (planta) é frequentemente utilizada para consumo ou fermentação em bebidas alcoólicas. Um estudo
identificou que muitas vezes os morcegos se alimentavam da casca raspada da tamareira, contaminando a seiva
com saliva, urina e excrementos e essa foi a principal via de transmissão entre morcegos e humanos, associada a
alguns surtos naquela região. Também foram identificadas transmissão entre porcos e humanos. Em ambos os
casos, o vírus Nipah é geralmente transmitido pela saliva e escarro, sendo considerado, portanto o principal
mecanismo de transmissão (BANERJEE et al., 2019; LEVINSON, 2016). Os sintomas incluem febre com encefalite
e/ou comprometimento respiratório. Infecção assintomática foi relatada em 8% dos indivíduos diagnosticados
em um laboratório na Malásia. Alguns pacientes, menos de 10%, podem desenvolver encefalite de início tardio,
meses ou anos após a infecção inicial pelo vírus. Em alguns casos, os sobreviventes podem apresentar déficits
Alterações hematológicas, comuns da infecção, incluem trombocitopenia em cerca de 30% dos casos e
leucopenia em 11%. Em 40% dos pacientes, foram identificadas enzimas hepáticas elevadas. De forma
semelhante a outras formas de meningite viral, pleocitose linfocítica, com aumento de proteínas, pode ser visto
no líquido cefalorraquidiano (LCR). O diagnóstico da doença pode ser realizado por meio de duas técnicas. No
estágio inicial, o isolamento do vírus pode ser feito por técnica de biologia molecular (RT-PCR), com
amostras de swabs nasais e de garganta, amostras de LCR, urina ou sangue. Na fase convalescente, em que
enzimática no soro ou LCR pode ser realizada. Não há vacinas para o tratamento de infecção pelo vírus Nipah,
entretanto, podem ser utilizados anticonvulsivantes. Além disso, tratamento de suporte pode ser oferecido,
com ventilação mecânica e reabilitação (ANG et al., 2018; BANERJEE et al., 2019; LEVINSON, 2016).
-5-
1.3 HIV
adquirida (AIDS), onde há destruição de linfócitos T auxiliares (CD4). Os vírus HIV-1 e HIV-2 podem causar a
AIDS, porém o HIV-1 pode ser encontrado mundialmente, enquanto o HIV-2 é encontrado especialmente na
África Ocidental (BELOUKAS et al., 2016; TORTORA et al., 2016; LEVINSON, 2016). Ao infectar e destruir as
células TCD4+, o vírus provoca deficiência de imunidade celular, gerando susceptibilidade a infecções
oportunistas. O HIV é um retrovírus pertencente ao gênero Lentivirus e, possui genoma de RNA de fita simples
. Apesar de certos primatas serem infectados experimentalmente, os seres humanos são considerados os
hospedeiros naturais do HIV. O contato sexual e transferência de sangue contaminado são as principais
formas de transmissão. A forma vertical, de mãe para filho, também pode ocorrer, durante o parto ou
amamentação. Indivíduos com doenças sexualmente transmissíveis, como sífilis e herpes genital, em que há
presença de lesões ulcerativas, apresentam risco aumentado de infecção pelo HIV (BELOUKAS et al., 2016;
LEVINSON, 2016).
A epidemia provocada por HIV-1 continua sendo um problema de saúde pública global. Em 2014, cerca de 2,5
milhões de pessoas viviam com HIV na região europeia. Estima-se que metade das pessoas não seja
Latente
Intemediário
Tardio
Durante o período agudo, que inicia geralmente entre 2 a 4 semanas após a infecção, o quadro é semelhante à
mononucleose, com presença de febre, letargia, dor de garganta e linfadenopatia generalizada. No estágio
intermediário, em pacientes não tratados, o período latente tem duração de 7 a 11 anos. O paciente permanece
assintomático e a viremia pode ser baixa ou ausente. Apesar disso, uma síndrome, intitulada de complexo
relacionado à AIDS (ARC), pode ocorrer durante o período de latência. Nesse quadro, pode haver febre
persistente, fadiga, perda de peso e linfadenopatia. Já o estágio tardio da infecção, geralmente é a AIDS
propriamente dita, onde há uma redução do número de células CD4, para um nível abaixo de 200/µl (BELOUKAS
O diagnóstico do HIV pode ser realizado por ensaio imunoenzimático (ELISA) com detecção de anticorpos
contra o antígeno p24 do vírus no soro do paciente. O antígeno p24 é uma proteína de 24 Kilodaltons do
-6-
nucleocapsídeo do vírus. Alguns resultados falso-positivos podem ocorrer com esse teste, dessa forma o
diagnóstico definitivo dever ser obtido pelo teste de Western blot. Para rápido diagnóstico, pode ser utilizado o
teste rápido OraQuick que também detecta anticorpos em uma amostra de swab oral e que pode ser realizado
em domicílio. Os resultados ficam prontos em 20 minutos. Além desses métodos, o HIV pode ser isolado em
cultura de células a partir de amostras clínicas. Entretanto, a PCR é considerada a técnica mais sensível e
específica disponível para detecção de DNA do HIV em células infectadas (BELOUKAS et al., 2016; LEVINSON,
2016).
Não há cura, mas a supressão em longo prazo pode ser obtida. O tratamento é composto por diversos
antirretrovirais, pois um único medicamento não pode ser utilizado, devido à alta taxa de mutação que leva a
resistência a fármacos. No Brasil, desde 1996 o Sistema Único de Saúde (SUS) distribui o tratamento de forma
-7-
1.4 Dengue
A dengue é uma infecção causada por um flavivírus que é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Os
flavivírus são vírus de RNA de fita simples, também chamados de arbovírus, por serem transmitidos por
artrópodes. O vírus da dengue está distribuído em regiões tropicais por todo o mundo, sendo essas regiões
população. Presume-se que, mundialmente, cerca de 50 milhões de casos ocorram anualmente, com 400.000
quadros de febre hemorrágica (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016; MONTIBELER e DE OLIVEIRA, 2018).
Após a picada do mosquito, entre 3 e 14 dias, os sintomas clínicos se manifestam. Pode haver febre, mal-estar,
calafrios e cefaleia, com dor nas costas, articulações, músculos e globos oculares. A dengue é comumente
chamada de febre “quebra-ossos” devido a essas dores musculares e nas articulações. A febre clássica é
autolimitada, enquanto a febre hemorrágica apresenta quadro grave, com taxa de mortalidade próxima de 10%.
Os sintomas iniciais são semelhantes ao da dengue clássica, porém desenvolve choque e hemorragia,
preexistentes não neutralizantes, devido a uma infecção anterior com um sorotipo diferente do vírus. Ou seja,
acontece devido à produção de grandes quantidades de anticorpos de reação cruzada durante uma segunda
infecção de dengue (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016). Acredita-se que o processo ocorra do seguinte
modo: o paciente se recupera do quadro de dengue clássica, causada por um dos quatro possíveis sorotipos do
vírus da dengue, produzindo anticorpos contra esse sorotipo. Quando o indivíduo é infectado por outro sorotipo
do vírus, ocorre uma resposta de memória diferente e, grandes quantidades de anticorpos de reação cruzada
contra o primeiro sorotipo são produzidas, resultando ao final em choque e hemorragia (LEVINSON, 2016).
O diagnóstico pode ser realizado por meio do isolamento do vírus em cultura celular, por testes sorológicos
para detecção de anticorpos e pela reação em cadeia da polimerase com transcriptase reversa (RT-PCR).
Entretanto, o diagnóstico sorológico pode ser difícil, devido à possibilidade de reações cruzadas dos anticorpos
IgG com antígenos heterólogos de outros flavivírus. Não existe medicamento antiviral para dengue. A febre
hemorrágica pode ser tratada com reposição de líquidos. Os surtos devem ser controlados pelo extermínio dos
mosquitos, com uso de inseticidas e drenagem de águas paradas (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016).
-8-
1.5 Zika
O vírus zika é um flavivírus transmitido por mosquito. O vírus pertence à família Flaviviridae, juntamente com
os vírus da dengue, febre amarela, encefalite japonesa e encefalite do Nilo. Foi isolado, pela primeira vez, em
1947, de um macaco rhesus febril na floresta Zika em Uganda, sendo, posteriormente, identificado em mosquitos
Aedes africanus nesse mesmo local. Os primeiros casos de infecção humana foram relatados em 1954 na Nigéria
O vírus geralmente é contraído durante uma refeição sanguínea do mosquito. Após a picada, o vírus se replica
dentro do hospedeiro e é transmitido a um reservatório animal durante a próxima refeição. Outras formas de
transmissão incluem congênita, perinatal e sexual. O período de incubação em humanos varia entre 3 e 12 dias.
Em cerca de 80% dos casos a infecção é assintomática, entretanto, todas as idades são susceptíveis. Na presença
de sintomas, o quadro clínico inclui erupção cutânea, febre, artralgia, mialgia, fadiga, dor de cabeça e
conjuntivite. Pode haver formigamento e dormência dos membros inferiores. Sequelas mais graves foram
associadas à infecção pelo vírus. Os relatos de bebês nascidos com microcefalia aumentaram acentuadamente
durante um surto de zika no Brasil. Entretanto, não há consenso sobre a real associação de infecção pelo vírus e
Quando os pacientes apresentam febre aguda, erupção cutânea, mialgia ou artralgia após uma viagem recente a
uma área de transmissão contínua do vírus, a análise deve ser realizada para Zika, Chikungunya e Dengue. As
técnicas podem ser baseadas em PCR ou sorologia. Para um diagnóstico preciso, recomenda-se que a coleta de
material biológico deva ser realizada até cinco dias após a infecção. Não há vacina disponível e o tratamento
inclui repouso, reposição de líquidos, administração de antipiréticos e analgésicos (DE QUEIROZ SIMÕES, 2018;
-9-
1.6 Chikungunya
O vírus chikungunya possui genoma de RNA de fita simples, é envelopado e membro da família dos
togavírus. É transmitido por mosquitos do gênero Aedes, tanto Aedes aegypti quanto Aedes albopictus. O vírus
foi isolado, pela primeira vez, em 1952, na Tanzânia. Em 2004, ganhou grande repercussão por ter se espalhado
da África para o sul da Ásia, provocando diversas epidemias que afetaram milhões de pessoas. No Brasil, os
primeiros casos foram registrados em agosto de 2010, na cidade de São Paulo. Já em 2015, tornou-se doença de
notificação obrigatória. Em 85% das infecções, os pacientes apresentam sintomas, com aumento súbito de
temperatura, entre 39° e 40°, após um período de incubação de 2 a 4 dias. Associado a febre, há presença de
poliartralgia, especialmente nos punhos e tornozelos. Geralmente os pacientes são imobilizados pela dor.
Erupção cutânea também é frequente, podendo ser pruriginosa em até 50% dos pacientes (DE QUEIROZ
O diagnóstico pode ser realizado com isolamento do vírus em cultura de células, pela técnica de RT-PCR e
por testes sorológicos. Linfopenia, trombocitopenia, creatinina e transaminases hepáticas elevadas são achados
comuns no diagnóstico laboratorial. Anti-inflamatórios não esteroidais podem ser utilizados para alívio da febre
- 10 -
1.7 Coronavírus (CoV)
Os coronavírus (CoV) são vírus de RNA de fita simples envelopados que se replicam no citoplasma do
hospedeiro. São chamados dessa forma porque, em microscopia eletrônica, são observadas partículas com
espículas proeminentes, as quais formam uma estrutura semelhante a uma coroa ao seu redor. Os coronavírus
causam diversas infecções respiratórias em seres humanos e outros animais, incluindo 15% dos resfriados
comuns e SARS (síndrome respiratória aguda grave). Existem diferentes tipos de CoV, classificados nos grupos
alfa, beta, gama e delta. Os CoV são transmitidos por aerossóis respiratórios. A infecção ocorre por todo o
mundo e surtos ocorrem especialmente no inverno (LEVINSON, 2016; MADIGAN et al., 2016; VELAVAN e
MEYER, 2020).
Em 2019, um novo CoV foi identificado em pacientes com pneumonia grave em Wuhan, na China. Foi designado
como Sars-CoV-2 por também provocar síndrome respiratória grave. A doença causada pelo vírus foi
denominada Covid-19 porque os primeiros casos foram relatados ainda no ano de 2019. Assim como Sars-Cov
(vírus que causou síndrome respiratória aguda grave na China em 2002), o Sars-CoV-2 é do grupo beta, e não há
vacinais disponíveis para ambos os vírus (VELAVAN e MEYER, 2020; ZHOU et al., 2020). Os sintomas iniciais são
semelhantes a um quadro gripal, com presença de febre, tosse, congestão nasal, fadiga e outros sintomas
respiratórios. Porém, com a evolução da doença, os pacientes podem apresentar dispneia e um quadro similar ao
de pneumonia. 23 a 32% dos indivíduos com Covid-19 precisam de tratamento em unidade de terapia intensiva
(UTI). A taxa de letalidade da doença é estimada entre 3% e 20% (BAUD et al., 2020; LAKE, 2020; SUN et al.,
2020).
O diagnóstico é realizado por biologia molecular, com técnica de RT-PCR. Os indivíduos se tornam suspeitos
quando apresentam tosse e febre, com ou sem falta de ar. Amostras do trato respiratório superior são coletadas,
sendo as mais comuns os swabs de garganta ou nasais. O escarro também pode ser utilizado. Em casos em que
os pacientes estão internados, podem ser utilizados aspirados endotraqueais ou lavados broncoalveolares
(SINGHAL, 2020). Kits de testes rápidos, para diagnóstico imunológico, também podem ser aplicados para
detecção de anticorpos. Entretanto, a PCR deve sempre ser realizada como teste confirmatório por permitir a
detecção da presença do vírus (LI et al., 2020). Até o momento, não há tratamento disponível para Covid-19. As
terapias são utilizadas para aliviar os sintomas, evitando o sofrimento dos pacientes. Nos casos leves deve-se
controlar a febre e a tosse, mantendo os pacientes hidratados e bem nutridos. Já em quadros mais graves, pode
- 11 -
Assista aí
https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2
/cc034d88bb6f850aafa15b294b757ff0
- 12 -
2 Principais doenças causadas por vírus: viroses entéricas
Os vírus entéricos podem provocar várias doenças que acometem os seres humanos e são disseminados por
meios hídricos, especialmente pelo esgoto, tendo um significativo impacto na saúde pública. Os indivíduos
infectados podem eliminar uma grande quantidade de partículas virais nas fezes (até 1011 partículas virais
/grama). Sendo assim, o saneamento básico, com acesso a água potável e esgoto tratado, são de extrema
importância, podendo reduzir significativamente os casos de doenças infecciosas virais. Os principais vírus
entéricos associados a doenças humanas são o Enterovírus (EV) Adenovírus (AdV), Rotavírus (RV) e Norovírus
2.1 Enterovírus
Os enterovírus possuem genoma de RNA de fita simples e são membros do gênero Enterovirus, da família
Picornaviridae. Nesse gênero, existem 12 espécies, sendo que 7 foram associados a doenças humanas. Os
enterovírus são associados a diversas condições clínicas, como conjuntivite, gastroenterite, miopericardite,
pancreatite e hepatite, entre outras. Apesar de ter sido relatada transmissão por via respiratória, são
especialmente transmitidos por via fecal-oral. Os poliovírus, vírus de Coxsackie, ecovírus e o vírus da hepatite A
estão entre os principais pertencentes a esse gênero (FALEYE et al., 2016; JUBELT e LIPTON, 2014; LEVINSON,
2016).
Os enterovírus infectam principalmente o trato gastrointestinal. Sobrevivem nessa região, expostos ao ácido
gástrico, por serem estáveis em condições ácidas (pH 3 a 5). Podem ser eliminados através das fezes por um
grande período após a infecção. Nos locais onde há contaminação da água pelo esgoto sanitário, são
especialmente transmitidos por via fecal-oral. Os sintomas variam conforme sorotipo, carga viral, tropismo
tecidual, porta de entrada e sistema imunológico do indivíduo (MURRAY et al., 2014; STAGGEMEIER et al., 2015).
O diagnóstico pode ser realizado pelo isolamento dos vírus em cultura celular, sorologia e técnicas de biologia
molecular. Não há vacina para os enterovírus, o tratamento é de suporte e sintomático (BROOKS et al., 2014;
LEVINSON, 2016).
- 13 -
2.2 Adenovírus
Os adenovírus podem acometer o sistema respiratório, gastrointestinal e urinário. São um grupo de vírus
icosaédricos não envelopados com genoma de DNA de fita dupla. São classificados em cinco gêneros, sendo
que todos os adenovírus humanos pertencem ao gênero Mastadenovírus (BROOKS et al., 2014; MADIGAN et al.,
2016).
Esse tipo de vírus só pode se replicar de forma adequada em células de origem epitelial. Sendo assim, eles
infectam e se replicam nas células epiteliais do trato respiratório, do trato urinário, do trato gastrintestinal e das
conjuntivas. Por se replicarem nas células intestinais, os adenovírus podem ser encontrados nas fezes. Dois
sorotipos, 40 e 41, foram associados à gastroenterite infantil e podem ser encontrados em grande quantidade em
fezes diarreicas. Entretanto, metade das infecções causadas por adenovírus são assintomáticas e a maior parte se
As amostras devem ser coletadas no início da doença, nas fezes, na urina, com swab de garganta, da conjuntiva
ou do reto, dependendo da doença clínica. O diagnóstico pode ser realizado por meio do isolamento do vírus
em cultura celular, por técnica de sorologia para detecção de anticorpos e por PCR para identificação do
microrganismo. Não há tratamento antiviral disponível. A prevenção é a melhor forma de impedir a infecção,
principalmente através da adequada lavagem das mãos (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016).
- 14 -
2.3 Rotavírus
Os rotavírus são a causa mais comum de gastroenterites virais, especialmente entre crianças de 6 a 24 meses de
idade. Possuem um genoma de RNA de dupla-fita segmentado e são classificados em 5 espécies. Esses vírus
exigem uma grande diversidade de hospedeiros. A maior parte foi isolada de animais recém-nascidos com
Os sintomas clínicos incluem diarreia, febre, dor abdominal e vômitos, resultando em desidratação. O período de
incubação é entre 3 e 10 dias e a excreção viral nas fezes pode permanecer por 50 dias após o início da diarreia.
Estima-se que, anualmente, ocorram de 3 a 5 bilhões de episódios de diarreia em crianças menores de 5 anos de
idade, especialmente na África, Ásia e América Latina, resultando em cerca de 1 milhão de mortes (BROOKS et al.,
O diagnóstico pode ser realizado pela detecção do rotavírus nas fezes com radioimunoensaios ou ensaios
imunoenzimáticos (ELISA) e pela genotipagem do vírus por PCR. Duas vacinas disponíveis estão disponíveis
contra o rotavírus e ambas contêm vírus vivos e são administradas de forma oral. O tratamento da gastroenterite
é sintomático, ou seja, com reposição de líquidos e eletrólitos por vias intravenosa ou oral (BROOKS et al., 2014;
LEVINSON, 2016).
- 15 -
3 Principais doenças causadas por vírus: viroses
dermotrópicas
As viroses dermotrópicas são causadas por vírus dermotrópicos, ou seja, vírus que tem afinidade seletiva
para pele e mucosas. Esses vírus podem provocar dois tipos de lesões mucocutâneas: local, quando o vírus
permanece no local de infecção e, sistêmica, quando se dissemina de forma sistêmica pelo organismo. Vários
Herpesvírus se enquadram nessa categoria. São conhecidos cerca de 100 tipos de herpes-vírus, que assim são
denominados devido à aparência disseminada (herpética) das úlceras do herpes labial. Essa família de vírus tem
como característica a capacidade de provocar infecções latentes. Nestas, após a doença aguda, segue-se um
período assintomático, onde o vírus permanece em estado quiescente (latente). Se o indivíduo for exposto a um
agente estimulante ou houver imunossupressão, ocorre a reativação da replicação viral e, portanto, a doença.
Todos os herpes-vírus possuem estrutura semelhante, o genoma é composto por DNA de dupla-fita linear. Os
principais vírus desse grupo associados a doenças dermotrópicas são os herpes-vírus simples 1 e 2, o vírus
- 16 -
3.1 Herpes-vírus simples 1 e 2
O herpes-vírus simples tipo 1 (HSV-1) e o herpes-vírus simples tipo 2 (HSV-2) podem ser diferenciados por duas
características: tipo de antígeno e o local das lesões. Embora não seja regra, em geral, as lesões causadas por
HSV-1 estão localizadas acima da cintura, enquanto as lesões causadas pelo HSV-2 abaixo da cintura (LEVINSON,
O HSV-1 é principalmente transmitido por vias orais e respiratórias, sendo que a infecção normalmente ocorre
na infância. Alguns estudos mostram que, aproximadamente, 90% da população dos Estados Unidos já foi
infectada. O vírus pode causar gengivoestomatite aguda, herpes labial recorrente, ceratoconjuntivite (ceratite) e
encefalite, especialmente em adultos. As lesões são constituídas de vesículas dolorosas, de curta duração,
localizadas próximas à margem externa dos lábios, podendo ser confundido com aftas devido à semelhança das
lesões. O HSV-1 geralmente permanece latente no gânglio do nervo trigêmio e, pode ter sua recorrência ativada
por exposição excessiva à radiação ultravioleta do sol, questões emocionais e alterações hormonais associadas à
O HSV-2 é transmitido especialmente por contato sexual. Pode causar herpes genital, encefalite neonatal e
meningite asséptica. O número de infecções pelo vírus tem aumentado de forma acentuada nos últimos anos. O
HSV-2 pode ser diferenciado do HSV-1 por sua constituição antigênica e seus efeitos em culturas celulares. O
vírus fica latente em uma região diferente de HSV-1, no gânglio do nervo sacral, próximo à base da medula
espinhal. O herpes genital se caracteriza por lesões vesiculares nas áreas genitais e anais. As infecções também
podem ser assintomáticas, podendo ser uma fonte de infecção para outras pessoas. O contato com lesões
vesiculares no canal do parto pode dar origem ao herpes neonatal. Nesse, pode haver desde uma doença grave,
como encefalite, até lesões mais brandas e infecções assintomáticas. A doença pode ser prevenida pela realização
de cesariana em mulheres que apresentam lesões ativas ou culturas virais positivas. Já a meningite asséptica
frequentemente é autolimitada, branda e com poucas sequelas (LEVINSON, 2016; TORTORA et al., 2016).
Para o diagnóstico, o vírus pode ser isolado de lesões herpéticas, sendo encontrado em lavados de garganta, no
LCR e nas fezes. Técnicas de biologia molecular (PCR) e sorologia podem ser empregadas no diagnóstico.
Diversos fármacos antivirais são eficazes contra as infecções pelo HSV. Como exemplo, aciclovir, que é o
medicamento empregado para encefalite e doença sistêmica provocada por HSV-1 e, infecções neonatais
causadas por HSV-2. Entretanto, nenhum medicamento de infecção primária pode prevenir recorrências, pois
não apresentam efeito sobre o estado latente (LEVINSON, 2016; TORTORA et al., 2016).
- 17 -
3.2 Varicela-zóster (VZV)
sorotipo que causa varicela (catapora) e zóster (cobreiro). A varicela é a doença primária e o zoster é a forma
recorrente. O vírus infecta a mucosa do trato respiratório superior e se dissemina pela corrente sanguínea até a
pele, onde a erupção vesicular típica ocorre (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016).
O VZV é transmitido por gotículas respiratórias e pelo contato direto com as lesões. A varicela é altamente
contagiosa na infância. O quadro clínico é caracterizado por erupção vesiculosa generalizada da pele e das
mucosas. O zóster é uma doença grave e incapacitante que acomete adultos e indivíduos imunocomprometidos
, onde as lesões são semelhantes às da varicela. A varicela é a doença aguda, que ocorre após o contato inicial
com o vírus, já o zóster corresponde à resposta do hospedeiro a reativação do vírus da varicela presente, em
Para o diagnóstico de varicela-zóster, a técnica de PCR é a escolhida por sua sensibilidade, especificidade e
rapidez. O DNA do vírus pode ser detectado na saliva, nos líquidos das vesículas, em raspados de pele ou em
material de biópsia. Testes sorológicos também podem ser empregados. Em crianças imunocompetentes,
nenhuma terapia antiviral é necessária. Os adultos com casos moderados e graves geralmente são tratados com
aciclovir. Esse medicamento também pode impedir a evolução para doença sistêmica em pacientes
imunossuprimidos infectados por varicela e interromper a progressão do zóster em adultos (BROOKS et al.,
- 18 -
3.3 Vírus Epstein-Barr (EBV)
O EBV é o agente etiológico da mononucleose infecciosa aguda e está associado a carcinoma nasofaríngeo,
linfomas de Burkitt, linfomas de Hodgkin e não Hodgkin. Possui dois principais tipos (A e B) com genoma de
DNA. O linfócito B é a principal célula-alvo do EBV e, após a infecção dessas células, o vírus entra em estado
A principal forma de transmissão do EBV é pela saliva. Em países desenvolvidos, a infecção ocorre de forma
precoce na infância e, cerca de 95% dos adultos possuem anticorpos contra o vírus. O EBV causa uma infecção
persistente na orofaringe, boca e garganta. Após disseminação sanguínea, passam a infectar células B. A
ocorre hepatite e, em alguns pacientes, também pode ocorrer encefalite. Entre 2 e 3 semanas, geralmente ocorre
recuperação de forma espontânea (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016; TORTORA et al., 2016).
O diagnóstico envolve duas abordagens: a hematológica, onde há presença de linfocitose e linfócitos atípicos
no esfregaço e, a imunológica, com a utilização de testes sorológicos. Nessa última, podem ser utilizados o teste
de anticorpos heterofílicos e os testes de anticorpos específicos para o EBV. Quando não há complicações,
nenhuma terapia antiviral é necessária para tratar a mononucleose infecciosa. Quando há risco de vida, o
aciclovir pode ser utilizado em altas doses, embora tenha pouca eficácia contra o EBV (BROOKS et al., 2014;
LEVINSON, 2016).
Assista aí
https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2
/f8d316101b01cdfa281209d10c8c0a40
- 19 -
4 Principais doenças causadas por vírus: viroses
congênitas e multissistêmicas
As viroses congênitas acometem os indivíduos desde ou antes do nascimento. As principais são causadas pelo
Citomegalovírus, pelo Parvovírus B19 e pelo vírus da Rubéola. Nas viroses sistêmicas, os vírus possuem
capacidade de se instalar em qualquer tecido ou órgão, provocando lesões em diferentes regiões e tecidos do
organismo. Os principais agentes causadores são o vírus do sarampo e da caxumba (BROOKS et al., 2014;
LEVINSON, 2016).
O CMV apresenta um único sorotipo com estrutura e morfologia similar aos outros HSV. Possui genoma de DNA e
apresenta o maior conteúdo genético dentre os herpes-vírus humanos. Os citomegalovírus são os agentes
causadores das mais comuns infecções congênitas. Em indivíduos imunocomprometidos, é uma causa
O CMV pode ser transmitido por diferentes vias. Para crianças, pode ser transmitido pela placenta, canal do
parto, amamentação ou saliva. Em adultos, pode ser transmitido sexualmente, pois o vírus está presente no
sêmen e na secreção do colo uterino. Além disso, pode ser transmitido pelo sangue, durante transfusões e
transplantes de órgãos. As infecções do feto e do recém-nascido podem ser graves, podendo causar a doença de
inclusão citomegálica. Essa doença é caracterizada por células gigantes multinucleadas, com acentuadas
inclusões intracelulares. Nela, diversos órgãos são acometidos e a infecção generalizada resulta em alterações
congênitas. Os sintomas incluem microcefalia, convulsões, surdez, icterícia e púrpura. O desenvolvimento dos
órgãos no feto ocorre durante o primeiro trimestre de gestação. Sendo assim, as anormalidades são mais comuns
quando o feto é infectado durante esse período. Em crianças e adultos, com exceção dos imunocomprometidos, a
infecção é geralmente assintomática. O CMV entra em estado latente especialmente em monócitos, podendo
persistir por anos nos rins. A reativação em células do colo uterino pode ocasionar a infecção no recém-nascido
No diagnóstico do CMV pode ser utilizada a PCR, que detectam o vírus replicante, a sorologia para detecção de
anticorpos e o isolamento em cultura celular, embora esse último não seja empregado na rotina diagnóstico
devido ao tempo necessário para que ocorram as mudanças citológicas. Alguns medicamentos podem ser
empregados no tratamento de infecções causadas por CMVs, como o ganciclovir, valganciclovir, foscavir,
- 20 -
4.2 Parvovírus B19
O parvovírus B19 é um vírus não envelopado com genoma de DNA de fita simples. É patogênico para os seres
humanos e possui tropismo pelas células progenitoras eritroides. Esse vírus causa eritema infeccioso, anemia
aplástica e infecções congênitas. Indivíduos infectados adquirem imunidade permanente contra reinfecção
O B19 é transmitido especialmente por via respiratória, embora a transmissão também possa ocorrer por via
apresentações clínicas:
• Eritema infeccioso
Ou síndrome da bochecha esbofeteada, que é uma doença branda comum em crianças em idade escolar.
A síndrome caracteriza-se por uma erupção vermelha-brilhante que é mais saliente nas bochechas,
Que também pode ser desenvolvida por crianças com anemia crônica.
• Artrite
Especialmente em mulheres. Durante a gravidez, o vírus pode representar risco para o feto
• Hidropisia fetal
• Anemia crônica
LEVINSON, 2016).
Os testes disponíveis para o diagnóstico incluem PCR e hibridização in situ de tecido fixado. Além desses, a
sorologia e imuno-histoquímica podem ser empregadas. Não existe vacina para o tratamento da infecção por
- 21 -
4.3 Vírus da rubéola
O vírus da Rubéola é um membro da família dos togavírus. Possui um genoma de RNA de fita simples com um
único tipo antigênico. Esse vírus é o agente causador da rubéola e da síndrome da rubéola congênita. O vírus é
transmissível por via respiratória e transplacentária e o período de incubação varia entre 2 e 3 semanas
A infecção inicial ocorre na parte nasal da faringe e nos linfonodos locais. Após, o vírus se dissemina pelo sangue,
atingindo os órgãos internos e a pele. A infecção leva a imunidade permanente, ou seja, não ocorre reinfecção
por rubéola. Inicialmente, os indivíduos apresentam febre e mal-estar, seguido de erupção maculopapular e
síndrome da rubéola congênita, malformações significativas podem ocorrer como resultado da viremia materna
e da infecção fetal. As alterações ocorrem em todo o organismo, envolvendo principalmente o coração, os olhos, e
o encéfalo. Algumas crianças podem continuar a excretar o vírus durante meses após o nascimento (LEVINSON,
O vírus pode ser cultivado em culturas celulares, entretanto, por produzir pouco efeito citopático, outras
técnicas são utilizadas para o diagnóstico, como o ensaio de ELISA e a PCR. Para prevenir a doença, as crianças
devem ser imunizadas com a vacina MMR ou tríplice viral, para sarampo, rubéola e caxumba. O tratamento é
sintomático, com o uso de antitérmicos e analgésicos (LEVINSON, 2016; TORTORA et al., 2016).
- 22 -
4.4 Vírus do sarampo
O vírus do sarampo apresenta um único sorotipo de RNA genômico. Embora várias espécies possam ser
infectadas experimentalmente, os seres humanos são os únicos hospedeiros naturais do vírus. O sarampo é uma
doença caracterizada por erupções maculopapulares que ocorre principalmente na infância (BROOKS et al.,
Trata-se de uma doença altamente contagiosa que se dissemina por via respiratória. Ocorre mundialmente,
geralmente com surtos a cada 2 ou 3 anos. A Após infectar o trato respiratório superior, o vírus se dissemina
pela corrente sanguínea infectando as células reticuloendoteliais, onde se replicam novamente. Posteriormente,
também através da corrente sanguínea, o vírus infecta a pele. Indivíduos que já tiveram a doença desenvolvem
imunidade permanente. O quadro clínico é caracterizado por uma fase inicial em que há presença de febre,
conjuntivite, coriza e tosse. Após, surge à erupção na face, que progride de forma gradual até atingir todo o
corpo. O sarampo pode ter complicações graves, como encefalite, pneumonia e panencefalite esclorosante
subaguda, uma doença fatal rara do sistema nervoso. Além disso, em mulheres grávidas leva ao aumento do risco
Geralmente, o diagnóstico se baseia no quadro clínico. Porém, pode ser realizado através do isolamento do
vírus em cultura celular, por sorologia para detecção de anticorpos e ensaio de PCR. Não há tratamento
para o sarampo. Como forma de prevenção, deve ser realizada a imunização com a vacina viva atenuada
Assista aí
https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2
/7ec97e841b6a33fdd05d24f67e496c39
- 23 -
4.5 Vírus da caxumba
A caxumba é causada por um vírus que possui um único sorotipo com genoma de RNA. Assim com o sarampo,
é transmitida pelo ar, sendo altamente contagiosa. Ocorre em todo o mundo, com pico de incidência durante o
inverno. A caxumba ocorre principalmente na infância e é uma doença caracterizada por edema da glândula
Fique de olho
No senso comum, acredita-se que a caxumba unilateral pode ser seguida por infecção no outro
lado. Entretanto, a caxumba ocorre apenas uma vez, pois os indivíduos infectados
desenvolvem imunidade permanente. Casos posteriores podem ser provocados por outros
vírus, como parainfluenza, além de bactérias e pedras nos ductos (sialolitíase) (LEVINSON,
2016; MADIGAN et al., 2016).
O vírus infecta o trato respiratório superior e se dissemina pela corrente sanguínea até as glândulas parótidas, os
testículos, os ovários, o pâncreas e, alguns casos, as meninges. Após um período de incubação de 18 a 21 dias, um
estágio inicial de febre, mal-estar e anorexia é seguido por edema unilateral ou bilateral das glândulas parótidas.
Cerca de 30% das infecções são subclínicas. Entre os casos sintomáticos, aproximadamente 50% dos pacientes
desenvolvem edema das glândulas salivares. O aumento da glândula está associado a dor. Além disso, a caxumba
pode causar meningite asséptica, mais frequente em homens do que mulheres. Os testículos e ovários também
podem ser acometidos, especialmente após a puberdade. Entre 20 e 50% dos indivíduos do sexo masculino
infectados pelo vírus desenvolvem orquite, sendo que a complicação é frequentemente dolorosa. O testículo
pode atrofiar em decorrência de necrose por compressão, entretanto raramente resulta em esterilidade
- 24 -
Figura 1 - Inflamação da glândula parótida
Fonte: Corbac40, Shutterstock, 2020
#PraCegoVer: Na imagem temos a representação de um menino com a glândula parótida inflamada, sintoma
O diagnóstico de caxumba geralmente é realizado de forma clínica. Entretanto, o vírus pode ser isolado em
cultura celular em amostras de saliva, líquor e urina. Ensaios de PCR e sorologia também podem ser
empregados. Além disso, um teste cutâneo com base na hipersensibilidade tardia pode ser utilizado para
detectar infecção prévia, porém há preferência pelos métodos sorológicos. Não há tratamento para a caxumba.
Porém, pode ser feita a prevenção por meio da imunização com a vacina viva atenuada. Duas imunizações são
recomendadas, uma aos 15 meses e um reforço dos 4 aos 6 anos (LEVINSON, 2016; MADIGAN et al., 2016).
é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• compreender os conceitos de viroses emergentes e reemergentes e, os vírus associados a essas doenças;
• aprender sobre as principais viroses entéricas e dermotrópicas, sendo capaz de diferenciar seus
microrganismos correspondentes;
• conhecer as principais viroses congênitas e multissistêmicas, bem como as terapias disponíveis para
cada doença;
• conhecer para quais doenças virais existem vacinas;
• aprender sobre os diferentes diagnósticos que podem ser empregados.
- 25 -
• conhecer para quais doenças virais existem vacinas;
• aprender sobre os diferentes diagnósticos que podem ser empregados.
Referências
AFONSO, Paula Serejo et al. DOENÇAS EMERGENTES, REEMERGENTES E NEGLIGENCIADAS: REVISÃO DE
AFROUGH, B.; DOWALL, S.; HEWSON, R. Emerging viruses and current strategies for vaccine intervention.
Ang, Brenda S. P.; Lim, Tchoyoson C.C.; Wangf, Linfa. Nipah Virus Infection. Journal of Clinical Microbiology, v.
BANERJEE, Sayantan et al. Nipah virus disease: A rare and intractable disease. Intractable & Rare Diseases
BASLER, Christopher F.; WOO, Patrick Cy. Editorial overview: Emerging viruses. Current opinion in virology, v.
5, p. v, 2014.
BAUD, David et al. Real estimates of mortality following COVID-19 infection. The Lancet infectious diseases,
2020.
BELOUKAS, Apostolos et al. Molecular epidemiology of HIV-1 infection in Europe: An overview. Infection,
BOSCH, A.; GUIX, S.; SANO, D.; PINTÓ, R. M. New tools for the study and direct surveillance of viral pathogens in
BROOKS, Geo F. et al. Microbiologia Médica de Jawetz, Melnick & Adelberg-26. AMGH Editora, 2014.
DE QUEIROZ SIMÕES, Rachel Siqueira. Virologia Humana e Veterinária. Thieme Revinter Publicações LTDA,
2018.
ERGONUL, Onder et al. (Ed.). Emerging infectious diseases: clinical case studies. Academic press, 2014.
FALEYE, Temitope Oluwasegun Cephas; ADEWUMI, Moses Olubusuyi; ADENIJI, Johnson Adekunle. Defining the
Enterovirus Diversity Landscape of a Fecal Sample: A Methodological Challenge?. Viruses, v. 8, n. 1, p. 18, 2016.
JUBELT, Burk; LIPTON, Howard L. Enterovirus/picornavirus infections. In: Handbook of clinical neurology.
- 26 -
LAKE, Mary A. What we know so far: COVID-19 current clinical knowledge and research. Clinical Medicine, v.
LEE, Paul J.; KRILOV, Leonard R. Dengue and Chikungunya. Pediatrics in Review, v. 37, n. 4, p. 179-181, 2016.
LI, Zhengtu et al. Development and clinical application of a rapid IgM-IgG combined antibody test for SARS-CoV-2
MONTIBELER, Everlam Elias; DE OLIVEIRA, Daniel Ribeiro. Dengue endemic and its impact on the gross national
MORILLO, S.G.; TIMENETSKY, M.C.S.T. Norovírus: uma visão geral. Rev. Assoc Med Bras, v. 57, n. 4, p. 462-467,
2011.
MURRAY, P.R.; ROSENTHAL, K.S.; PFALLER, M.A. Microbiologia Médica 7ed. p. 258-272, RJ, 2014.
saneamento e moradia em áreas periurbanas de Guarulhos, SP. Rev Bras Epidemiol., v. 15, p. 188-197, 2012.
PEDROSO, Enio Roberto Pietra; ROCHA, Manoel Otavio da Costa. Infecções emergentes e reemergentes. Rev Med
PLOURDE, Anna R.; BLOCH, Evan M. A literature review of Zika virus. Emerging infectious diseases, v. 22, n. 7,
p. 1185, 2016.
SINGHAL, Tanu. A review of coronavirus disease-2019 (COVID-19). The Indian Journal of Pediatrics, p. 1-6,
2020.
STAGGEMEIER, R.; BORTOLUZZI, M.; HECK, T.M.S.; LUZ, R.B.; FABRES, R.B.; SOLIMAN,M.C.; RIGOTTO, C.;
BALDASSO, N.A; SPILKI, F.R.; ALMEIDA, S.E.M.. Animal and human enteric viruses in water and sediment
samples from dairy farms. Journal Agricultural Water Management, v. 152, p. 135-141, 2015.
SUN, Pengfei et al. Understanding of COVID-19 based on current evidence. Journal of medical virology, 2020.
TORTORA, Gerard J.; CASE, Christine L.; FUNKE, Berdell R. Microbiologia-12ª Edição. Artmed Editora, 2016.
VELAVAN, Thirumalaisamy P.; MEYER, Christian G. The COVID-19 epidemic. Trop Med Int Health, v. 25, n. 3, p.
278-280, 2020.
ZHOU, Peng et al. A pneumonia outbreak associated with a new coronavirus of probable bat origin. Nature, v.
- 27 -