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MICOLOGIA E VIROLOGIA

DOENÇAS INFECCIOSAS VIRAIS


Miriãn Ferrão Maciel Fiuza

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Olá!
Você está na unidade Doenças Infecciosas Virais. Conheça aqui os conceitos das principais doenças causadas

por vírus. Entenda a diferença entre as viroses emergentes e reemergentes que acometem o ser humano. Saiba

quais são os hospedeiros naturais e as principais características dos agentes causadores.

Aprenda, ainda, sobre as técnicas disponíveis para o diagnóstico dos vírus, bem como as terapias antivirais

existentes para o tratamento. Conheça também as viroses entéricas, dermotrópicas, congênitas e

multissistêmicas. Além disso, saiba quais as infecções podem ser prevenidas com vacinas e em quais

circunstâncias devem ser utilizadas.

Bons estudos!

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1 Viroses emergentes e reemergentes
Uma variedade de vírus emergentes e reemergentes com capacidade de infectarem seres humanos têm sido

identificados nos últimos anos. O reconhecimento desses microrganismos provavelmente está relacionado a uma

maior conscientização sobre o problema dos vírus emergentes, maior atenção para esses patógenos e

disponibilidade de novas tecnologias para detecção (BASLER e WOO, 2014).

As viroses emergentes são aquelas que surgem com um efeito significativo sobre o ser humano, por sua

gravidade ao acometer o organismo, capacidade de deixar sequelas e impactos sociais relacionados à sua

prevalência. Três padrões gerais estão envolvidos no surgimento das viroses emergentes: reconhecimento de

um novo patógeno, aumento súbito de doenças causadas por um microrganismo endêmico e invasão de uma

nova população de hospedeiro. Como exemplo, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) (AFONSO

et al., 2010; BROOKS et al., 2014; PEDROSO e ROCHA, 2009). Já as viroses reemergentes são aquelas

previamente conhecidas e que foram tratadas e controladas, mas que voltaram a apresentar perigo para a

saúde humana. São doenças que reaparecem após uma redução expressiva. No Brasil, a dengue e a cólera são

consideradas reemergentes (AFONSO et al., 2010; PEDROSO e ROCHA, 2009).

Entre os principais agentes causadores de viroses emergentes e reemergentes, distribuídas por diferentes

regiões do mundo, estão o vírus Ebola, Nipah, HIV, Dengue, Zika, Chikungunyae Sars-CoV-2 (AFROUGH et al.,

2019; BROOKS et al., 2014; VELAVAN e MEYER, 2020).

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1.1 Ebola

O vírus Ebola, pertencente à família Filoviridae e ao gênero Ebolavirus. é envelopado e possui genoma de RNA

viral de fita simples. Quatro espécies são consideradas patogênicas para o ser humano: Ebola-Zaire (EBO-Z),

Ebola-Sudão (EBO-S), Ebola-Bundibugyo e o Ebola-Costa do Marfim. No entanto, reservatório natural do vírus

permanece desconhecido (DE QUEIROZ SIMÕES, 2018; LEVINSON, 2016).

Fique de olho
Em 1976 ocorreram duas graves epidemias de febre hemorrágica no Sudão e no Zaire que
resultaram na descoberta do vírus. Na época, houve mais de 500 casos e cerca de 400 mortes
relacionadas à febre hemorrágica clínica. Desde então, ocorreram surtos em Uganda (2000),
República do Congo (1995, 2001, 2002, 2003), Gabão (1994, 1996, 1997, 2002), África do Sul
(1996) e Sudão (2004) (BROOKS et al., 2014, LEVINSON, 2016).

O Ebola foi inserido na população humana pelo contato com fluidos e secreções de animais infectados. No

entanto, atualmente, a maioria dos casos manifesta-se a partir de transmissão secundária, pelo contato com

sangue ou secreções de pacientes. No início, a doença se caracteriza pela presença de febre, cefaleia, vômito e

diarreia. Após, ocorre sangramento do trato gastrointestinal, choque e coagulação intravascular disseminada.

Nos primeiros 3 a 6 dias, a infecção é mais rápida e letal, sendo que o período de incubação varia entre 2 a 21

dias. O vírus é associado a uma alta taxa de mortalidade, cerca de 50% (DE QUEIROZ SIMÕES, 2018; ERGONUL et

al., 2014; LEVINSON, 2016).

O diagnóstico de Ebola é realizado pelo isolamento do vírus ou detecção de aumento no título de anticorpos.

Entre as técnicas disponíveis, está a pesquisa do RNA viral (RT-PCR) em amostras de pacientes suspeitos, o

isolamento do microrganismo em cultivo celular, identificação em microscopia eletrônica e ensaio de ELISA

para detecção de anticorpos. Não há disponibilidade de vacina para a doença. Sendo assim, o uso de

equipamentos de proteção individual (EPIs) deve ser essencial ao entrar em contato com amostras ou suspeitos

de infecção (DE QUEIROZ SIMÕES, 2018; LEVINSON, 2016).

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1.2 Nipah

O vírus Nipah é um paramixovírus envelopado. Seu nome é originado de uma vila na Malásia, onde o primeiro

surto foi registrado entre 1998 e 1999. O vírus provoca encefalite, sendo que, no primeiro surto, ocorreram mais

de 250 casos de encefalite febril em trabalhadores de fazendas e matadouros. Na malásia não houve mais relatos

de surtos, entretanto, em outras partes do mundo, especialmente em Bangladesh e na índia, novos casos foram

relatados. Em 2018, um novo surto em Querala, na Índia, trouxe novamente à tona esse vírus emergente

(BANERJEE et al., 2019; LEVINSON, 2016).

A transmissão do vírus pode ocorrer por diferentes formas. Em Bangladesh, a seiva colhida a partir da

tamareira (planta) é frequentemente utilizada para consumo ou fermentação em bebidas alcoólicas. Um estudo

identificou que muitas vezes os morcegos se alimentavam da casca raspada da tamareira, contaminando a seiva

com saliva, urina e excrementos e essa foi a principal via de transmissão entre morcegos e humanos, associada a

alguns surtos naquela região. Também foram identificadas transmissão entre porcos e humanos. Em ambos os

casos, o vírus Nipah é geralmente transmitido pela saliva e escarro, sendo considerado, portanto o principal

mecanismo de transmissão (BANERJEE et al., 2019; LEVINSON, 2016). Os sintomas incluem febre com encefalite

e/ou comprometimento respiratório. Infecção assintomática foi relatada em 8% dos indivíduos diagnosticados

em um laboratório na Malásia. Alguns pacientes, menos de 10%, podem desenvolver encefalite de início tardio,

meses ou anos após a infecção inicial pelo vírus. Em alguns casos, os sobreviventes podem apresentar déficits

neurológicos permanentes (BANERJEE et al., 2019; BROOKS et al., 2014).

Alterações hematológicas, comuns da infecção, incluem trombocitopenia em cerca de 30% dos casos e

leucopenia em 11%. Em 40% dos pacientes, foram identificadas enzimas hepáticas elevadas. De forma

semelhante a outras formas de meningite viral, pleocitose linfocítica, com aumento de proteínas, pode ser visto

no líquido cefalorraquidiano (LCR). O diagnóstico da doença pode ser realizado por meio de duas técnicas. No

estágio inicial, o isolamento do vírus pode ser feito por técnica de biologia molecular (RT-PCR), com

amostras de swabs nasais e de garganta, amostras de LCR, urina ou sangue. Na fase convalescente, em que

ocorre o processo de recuperação do paciente, a detecção de anticorpos por ensaio de imunoabsorção

enzimática no soro ou LCR pode ser realizada. Não há vacinas para o tratamento de infecção pelo vírus Nipah,

entretanto, podem ser utilizados anticonvulsivantes. Além disso, tratamento de suporte pode ser oferecido,

com ventilação mecânica e reabilitação (ANG et al., 2018; BANERJEE et al., 2019; LEVINSON, 2016).

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1.3 HIV

O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é o agente responsável pela síndrome da imunodeficiência

adquirida (AIDS), onde há destruição de linfócitos T auxiliares (CD4). Os vírus HIV-1 e HIV-2 podem causar a

AIDS, porém o HIV-1 pode ser encontrado mundialmente, enquanto o HIV-2 é encontrado especialmente na

África Ocidental (BELOUKAS et al., 2016; TORTORA et al., 2016; LEVINSON, 2016). Ao infectar e destruir as

células TCD4+, o vírus provoca deficiência de imunidade celular, gerando susceptibilidade a infecções

oportunistas. O HIV é um retrovírus pertencente ao gênero Lentivirus e, possui genoma de RNA de fita simples

. Apesar de certos primatas serem infectados experimentalmente, os seres humanos são considerados os

hospedeiros naturais do HIV. O contato sexual e transferência de sangue contaminado são as principais

formas de transmissão. A forma vertical, de mãe para filho, também pode ocorrer, durante o parto ou

amamentação. Indivíduos com doenças sexualmente transmissíveis, como sífilis e herpes genital, em que há

presença de lesões ulcerativas, apresentam risco aumentado de infecção pelo HIV (BELOUKAS et al., 2016;

LEVINSON, 2016).

A epidemia provocada por HIV-1 continua sendo um problema de saúde pública global. Em 2014, cerca de 2,5

milhões de pessoas viviam com HIV na região europeia. Estima-se que metade das pessoas não seja

diagnosticadas pela infecção. Os sintomas podem ser divididos em três estágios:

Latente

Intemediário

Tardio

Durante o período agudo, que inicia geralmente entre 2 a 4 semanas após a infecção, o quadro é semelhante à

mononucleose, com presença de febre, letargia, dor de garganta e linfadenopatia generalizada. No estágio

intermediário, em pacientes não tratados, o período latente tem duração de 7 a 11 anos. O paciente permanece

assintomático e a viremia pode ser baixa ou ausente. Apesar disso, uma síndrome, intitulada de complexo

relacionado à AIDS (ARC), pode ocorrer durante o período de latência. Nesse quadro, pode haver febre

persistente, fadiga, perda de peso e linfadenopatia. Já o estágio tardio da infecção, geralmente é a AIDS

propriamente dita, onde há uma redução do número de células CD4, para um nível abaixo de 200/µl (BELOUKAS

et al., 2016; LEVINSON, 2016).

O diagnóstico do HIV pode ser realizado por ensaio imunoenzimático (ELISA) com detecção de anticorpos

contra o antígeno p24 do vírus no soro do paciente. O antígeno p24 é uma proteína de 24 Kilodaltons do

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nucleocapsídeo do vírus. Alguns resultados falso-positivos podem ocorrer com esse teste, dessa forma o

diagnóstico definitivo dever ser obtido pelo teste de Western blot. Para rápido diagnóstico, pode ser utilizado o

teste rápido OraQuick que também detecta anticorpos em uma amostra de swab oral e que pode ser realizado

em domicílio. Os resultados ficam prontos em 20 minutos. Além desses métodos, o HIV pode ser isolado em

cultura de células a partir de amostras clínicas. Entretanto, a PCR é considerada a técnica mais sensível e

específica disponível para detecção de DNA do HIV em células infectadas (BELOUKAS et al., 2016; LEVINSON,

2016).

O tratamento da infecção tem dois objetivos:

Reestabelecer o sistema imune pelo aumento da contagem de células CD4

Reduzir a carga viral

Não há cura, mas a supressão em longo prazo pode ser obtida. O tratamento é composto por diversos

antirretrovirais, pois um único medicamento não pode ser utilizado, devido à alta taxa de mutação que leva a

resistência a fármacos. No Brasil, desde 1996 o Sistema Único de Saúde (SUS) distribui o tratamento de forma

gratuita. Atualmente, 21 medicamentos, em 37 apresentações farmacêuticas, estão disponíveis para o

tratamento do HIV (LEVINSON, 2016; BRASIL, 2020).

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1.4 Dengue

A dengue é uma infecção causada por um flavivírus que é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Os

flavivírus são vírus de RNA de fita simples, também chamados de arbovírus, por serem transmitidos por

artrópodes. O vírus da dengue está distribuído em regiões tropicais por todo o mundo, sendo essas regiões

consideradas endêmicas. Em comunidades urbanas, as epidemias da doença envolvem grande parcela da

população. Presume-se que, mundialmente, cerca de 50 milhões de casos ocorram anualmente, com 400.000

quadros de febre hemorrágica (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016; MONTIBELER e DE OLIVEIRA, 2018).

Após a picada do mosquito, entre 3 e 14 dias, os sintomas clínicos se manifestam. Pode haver febre, mal-estar,

calafrios e cefaleia, com dor nas costas, articulações, músculos e globos oculares. A dengue é comumente

chamada de febre “quebra-ossos” devido a essas dores musculares e nas articulações. A febre clássica é

autolimitada, enquanto a febre hemorrágica apresenta quadro grave, com taxa de mortalidade próxima de 10%.

Os sintomas iniciais são semelhantes ao da dengue clássica, porém desenvolve choque e hemorragia,

especialmente no trato gastrointestinal e na pele. Ocorre em indivíduos com anticorpos heterólogos

preexistentes não neutralizantes, devido a uma infecção anterior com um sorotipo diferente do vírus. Ou seja,

acontece devido à produção de grandes quantidades de anticorpos de reação cruzada durante uma segunda

infecção de dengue (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016). Acredita-se que o processo ocorra do seguinte

modo: o paciente se recupera do quadro de dengue clássica, causada por um dos quatro possíveis sorotipos do

vírus da dengue, produzindo anticorpos contra esse sorotipo. Quando o indivíduo é infectado por outro sorotipo

do vírus, ocorre uma resposta de memória diferente e, grandes quantidades de anticorpos de reação cruzada

contra o primeiro sorotipo são produzidas, resultando ao final em choque e hemorragia (LEVINSON, 2016).

O diagnóstico pode ser realizado por meio do isolamento do vírus em cultura celular, por testes sorológicos

para detecção de anticorpos e pela reação em cadeia da polimerase com transcriptase reversa (RT-PCR).

Entretanto, o diagnóstico sorológico pode ser difícil, devido à possibilidade de reações cruzadas dos anticorpos

IgG com antígenos heterólogos de outros flavivírus. Não existe medicamento antiviral para dengue. A febre

hemorrágica pode ser tratada com reposição de líquidos. Os surtos devem ser controlados pelo extermínio dos

mosquitos, com uso de inseticidas e drenagem de águas paradas (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016).

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1.5 Zika

O vírus zika é um flavivírus transmitido por mosquito. O vírus pertence à família Flaviviridae, juntamente com

os vírus da dengue, febre amarela, encefalite japonesa e encefalite do Nilo. Foi isolado, pela primeira vez, em

1947, de um macaco rhesus febril na floresta Zika em Uganda, sendo, posteriormente, identificado em mosquitos

Aedes africanus nesse mesmo local. Os primeiros casos de infecção humana foram relatados em 1954 na Nigéria

(DE QUEIROZ SIMÕES, 2018; PLOURDE e BLOCH, 2016).

O vírus geralmente é contraído durante uma refeição sanguínea do mosquito. Após a picada, o vírus se replica

dentro do hospedeiro e é transmitido a um reservatório animal durante a próxima refeição. Outras formas de

transmissão incluem congênita, perinatal e sexual. O período de incubação em humanos varia entre 3 e 12 dias.

Em cerca de 80% dos casos a infecção é assintomática, entretanto, todas as idades são susceptíveis. Na presença

de sintomas, o quadro clínico inclui erupção cutânea, febre, artralgia, mialgia, fadiga, dor de cabeça e

conjuntivite. Pode haver formigamento e dormência dos membros inferiores. Sequelas mais graves foram

associadas à infecção pelo vírus. Os relatos de bebês nascidos com microcefalia aumentaram acentuadamente

durante um surto de zika no Brasil. Entretanto, não há consenso sobre a real associação de infecção pelo vírus e

microcefalia em recém-nascidos (DE QUEIROZ SIMÕES, 2018; PLOURDE e BLOCH, 2016).

Quando os pacientes apresentam febre aguda, erupção cutânea, mialgia ou artralgia após uma viagem recente a

uma área de transmissão contínua do vírus, a análise deve ser realizada para Zika, Chikungunya e Dengue. As

técnicas podem ser baseadas em PCR ou sorologia. Para um diagnóstico preciso, recomenda-se que a coleta de

material biológico deva ser realizada até cinco dias após a infecção. Não há vacina disponível e o tratamento

inclui repouso, reposição de líquidos, administração de antipiréticos e analgésicos (DE QUEIROZ SIMÕES, 2018;

PLOURDE e BLOCH, 2016).

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1.6 Chikungunya

O vírus chikungunya possui genoma de RNA de fita simples, é envelopado e membro da família dos

togavírus. É transmitido por mosquitos do gênero Aedes, tanto Aedes aegypti quanto Aedes albopictus. O vírus

foi isolado, pela primeira vez, em 1952, na Tanzânia. Em 2004, ganhou grande repercussão por ter se espalhado

da África para o sul da Ásia, provocando diversas epidemias que afetaram milhões de pessoas. No Brasil, os

primeiros casos foram registrados em agosto de 2010, na cidade de São Paulo. Já em 2015, tornou-se doença de

notificação obrigatória. Em 85% das infecções, os pacientes apresentam sintomas, com aumento súbito de

temperatura, entre 39° e 40°, após um período de incubação de 2 a 4 dias. Associado a febre, há presença de

poliartralgia, especialmente nos punhos e tornozelos. Geralmente os pacientes são imobilizados pela dor.

Erupção cutânea também é frequente, podendo ser pruriginosa em até 50% dos pacientes (DE QUEIROZ

SIMÕES, 2018; LEE e KRILOV, 2016; LEVINSON, 2016).

O diagnóstico pode ser realizado com isolamento do vírus em cultura de células, pela técnica de RT-PCR e

por testes sorológicos. Linfopenia, trombocitopenia, creatinina e transaminases hepáticas elevadas são achados

comuns no diagnóstico laboratorial. Anti-inflamatórios não esteroidais podem ser utilizados para alívio da febre

e dor (DE QUEIROZ SIMÕES, 2018; LEVINSON, 2016).

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1.7 Coronavírus (CoV)

Os coronavírus (CoV) são vírus de RNA de fita simples envelopados que se replicam no citoplasma do

hospedeiro. São chamados dessa forma porque, em microscopia eletrônica, são observadas partículas com

espículas proeminentes, as quais formam uma estrutura semelhante a uma coroa ao seu redor. Os coronavírus

causam diversas infecções respiratórias em seres humanos e outros animais, incluindo 15% dos resfriados

comuns e SARS (síndrome respiratória aguda grave). Existem diferentes tipos de CoV, classificados nos grupos

alfa, beta, gama e delta. Os CoV são transmitidos por aerossóis respiratórios. A infecção ocorre por todo o

mundo e surtos ocorrem especialmente no inverno (LEVINSON, 2016; MADIGAN et al., 2016; VELAVAN e

MEYER, 2020).

Em 2019, um novo CoV foi identificado em pacientes com pneumonia grave em Wuhan, na China. Foi designado

como Sars-CoV-2 por também provocar síndrome respiratória grave. A doença causada pelo vírus foi

denominada Covid-19 porque os primeiros casos foram relatados ainda no ano de 2019. Assim como Sars-Cov

(vírus que causou síndrome respiratória aguda grave na China em 2002), o Sars-CoV-2 é do grupo beta, e não há

vacinais disponíveis para ambos os vírus (VELAVAN e MEYER, 2020; ZHOU et al., 2020). Os sintomas iniciais são

semelhantes a um quadro gripal, com presença de febre, tosse, congestão nasal, fadiga e outros sintomas

respiratórios. Porém, com a evolução da doença, os pacientes podem apresentar dispneia e um quadro similar ao

de pneumonia. 23 a 32% dos indivíduos com Covid-19 precisam de tratamento em unidade de terapia intensiva

(UTI). A taxa de letalidade da doença é estimada entre 3% e 20% (BAUD et al., 2020; LAKE, 2020; SUN et al.,

2020).

O diagnóstico é realizado por biologia molecular, com técnica de RT-PCR. Os indivíduos se tornam suspeitos

quando apresentam tosse e febre, com ou sem falta de ar. Amostras do trato respiratório superior são coletadas,

sendo as mais comuns os swabs de garganta ou nasais. O escarro também pode ser utilizado. Em casos em que

os pacientes estão internados, podem ser utilizados aspirados endotraqueais ou lavados broncoalveolares

(SINGHAL, 2020). Kits de testes rápidos, para diagnóstico imunológico, também podem ser aplicados para

detecção de anticorpos. Entretanto, a PCR deve sempre ser realizada como teste confirmatório por permitir a

detecção da presença do vírus (LI et al., 2020). Até o momento, não há tratamento disponível para Covid-19. As

terapias são utilizadas para aliviar os sintomas, evitando o sofrimento dos pacientes. Nos casos leves deve-se

controlar a febre e a tosse, mantendo os pacientes hidratados e bem nutridos. Já em quadros mais graves, pode

haver necessidade de utilizar ventilação mecânica (SINGHAL, 2020).

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Assista aí

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2 Principais doenças causadas por vírus: viroses entéricas
Os vírus entéricos podem provocar várias doenças que acometem os seres humanos e são disseminados por

meios hídricos, especialmente pelo esgoto, tendo um significativo impacto na saúde pública. Os indivíduos

infectados podem eliminar uma grande quantidade de partículas virais nas fezes (até 1011 partículas virais

/grama). Sendo assim, o saneamento básico, com acesso a água potável e esgoto tratado, são de extrema

importância, podendo reduzir significativamente os casos de doenças infecciosas virais. Os principais vírus

entéricos associados a doenças humanas são o Enterovírus (EV) Adenovírus (AdV), Rotavírus (RV) e Norovírus

(NoV) (BOSCH et al. 2008; PAZ et al., 2012).

2.1 Enterovírus

Os enterovírus possuem genoma de RNA de fita simples e são membros do gênero Enterovirus, da família

Picornaviridae. Nesse gênero, existem 12 espécies, sendo que 7 foram associados a doenças humanas. Os

enterovírus são associados a diversas condições clínicas, como conjuntivite, gastroenterite, miopericardite,

pancreatite e hepatite, entre outras. Apesar de ter sido relatada transmissão por via respiratória, são

especialmente transmitidos por via fecal-oral. Os poliovírus, vírus de Coxsackie, ecovírus e o vírus da hepatite A

estão entre os principais pertencentes a esse gênero (FALEYE et al., 2016; JUBELT e LIPTON, 2014; LEVINSON,

2016).

Os enterovírus infectam principalmente o trato gastrointestinal. Sobrevivem nessa região, expostos ao ácido

gástrico, por serem estáveis em condições ácidas (pH 3 a 5). Podem ser eliminados através das fezes por um

grande período após a infecção. Nos locais onde há contaminação da água pelo esgoto sanitário, são

especialmente transmitidos por via fecal-oral. Os sintomas variam conforme sorotipo, carga viral, tropismo

tecidual, porta de entrada e sistema imunológico do indivíduo (MURRAY et al., 2014; STAGGEMEIER et al., 2015).

O diagnóstico pode ser realizado pelo isolamento dos vírus em cultura celular, sorologia e técnicas de biologia

molecular. Não há vacina para os enterovírus, o tratamento é de suporte e sintomático (BROOKS et al., 2014;

LEVINSON, 2016).

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2.2 Adenovírus

Os adenovírus podem acometer o sistema respiratório, gastrointestinal e urinário. São um grupo de vírus

icosaédricos não envelopados com genoma de DNA de fita dupla. São classificados em cinco gêneros, sendo

que todos os adenovírus humanos pertencem ao gênero Mastadenovírus (BROOKS et al., 2014; MADIGAN et al.,

2016).

Esse tipo de vírus só pode se replicar de forma adequada em células de origem epitelial. Sendo assim, eles

infectam e se replicam nas células epiteliais do trato respiratório, do trato urinário, do trato gastrintestinal e das

conjuntivas. Por se replicarem nas células intestinais, os adenovírus podem ser encontrados nas fezes. Dois

sorotipos, 40 e 41, foram associados à gastroenterite infantil e podem ser encontrados em grande quantidade em

fezes diarreicas. Entretanto, metade das infecções causadas por adenovírus são assintomáticas e a maior parte se

resolve de maneira espontânea (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016).

As amostras devem ser coletadas no início da doença, nas fezes, na urina, com swab de garganta, da conjuntiva

ou do reto, dependendo da doença clínica. O diagnóstico pode ser realizado por meio do isolamento do vírus

em cultura celular, por técnica de sorologia para detecção de anticorpos e por PCR para identificação do

microrganismo. Não há tratamento antiviral disponível. A prevenção é a melhor forma de impedir a infecção,

principalmente através da adequada lavagem das mãos (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016).

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2.3 Rotavírus

Os rotavírus são a causa mais comum de gastroenterites virais, especialmente entre crianças de 6 a 24 meses de

idade. Possuem um genoma de RNA de dupla-fita segmentado e são classificados em 5 espécies. Esses vírus

exigem uma grande diversidade de hospedeiros. A maior parte foi isolada de animais recém-nascidos com

diarreia (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016).

Os sintomas clínicos incluem diarreia, febre, dor abdominal e vômitos, resultando em desidratação. O período de

incubação é entre 3 e 10 dias e a excreção viral nas fezes pode permanecer por 50 dias após o início da diarreia.

Estima-se que, anualmente, ocorram de 3 a 5 bilhões de episódios de diarreia em crianças menores de 5 anos de

idade, especialmente na África, Ásia e América Latina, resultando em cerca de 1 milhão de mortes (BROOKS et al.,

2014; LEVINSON, 2016).

O diagnóstico pode ser realizado pela detecção do rotavírus nas fezes com radioimunoensaios ou ensaios

imunoenzimáticos (ELISA) e pela genotipagem do vírus por PCR. Duas vacinas disponíveis estão disponíveis

contra o rotavírus e ambas contêm vírus vivos e são administradas de forma oral. O tratamento da gastroenterite

é sintomático, ou seja, com reposição de líquidos e eletrólitos por vias intravenosa ou oral (BROOKS et al., 2014;

LEVINSON, 2016).

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3 Principais doenças causadas por vírus: viroses
dermotrópicas
As viroses dermotrópicas são causadas por vírus dermotrópicos, ou seja, vírus que tem afinidade seletiva

para pele e mucosas. Esses vírus podem provocar dois tipos de lesões mucocutâneas: local, quando o vírus

permanece no local de infecção e, sistêmica, quando se dissemina de forma sistêmica pelo organismo. Vários

Herpesvírus se enquadram nessa categoria. São conhecidos cerca de 100 tipos de herpes-vírus, que assim são

denominados devido à aparência disseminada (herpética) das úlceras do herpes labial. Essa família de vírus tem

como característica a capacidade de provocar infecções latentes. Nestas, após a doença aguda, segue-se um

período assintomático, onde o vírus permanece em estado quiescente (latente). Se o indivíduo for exposto a um

agente estimulante ou houver imunossupressão, ocorre a reativação da replicação viral e, portanto, a doença.

Todos os herpes-vírus possuem estrutura semelhante, o genoma é composto por DNA de dupla-fita linear. Os

principais vírus desse grupo associados a doenças dermotrópicas são os herpes-vírus simples 1 e 2, o vírus

varicela-zóster e o vírus Epstein-Barr. (LEVINSON, 2016; TORTORA et al., 2016).

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3.1 Herpes-vírus simples 1 e 2

O herpes-vírus simples tipo 1 (HSV-1) e o herpes-vírus simples tipo 2 (HSV-2) podem ser diferenciados por duas

características: tipo de antígeno e o local das lesões. Embora não seja regra, em geral, as lesões causadas por

HSV-1 estão localizadas acima da cintura, enquanto as lesões causadas pelo HSV-2 abaixo da cintura (LEVINSON,

2016; TORTORA et al., 2016).

O HSV-1 é principalmente transmitido por vias orais e respiratórias, sendo que a infecção normalmente ocorre

na infância. Alguns estudos mostram que, aproximadamente, 90% da população dos Estados Unidos já foi

infectada. O vírus pode causar gengivoestomatite aguda, herpes labial recorrente, ceratoconjuntivite (ceratite) e

encefalite, especialmente em adultos. As lesões são constituídas de vesículas dolorosas, de curta duração,

localizadas próximas à margem externa dos lábios, podendo ser confundido com aftas devido à semelhança das

lesões. O HSV-1 geralmente permanece latente no gânglio do nervo trigêmio e, pode ter sua recorrência ativada

por exposição excessiva à radiação ultravioleta do sol, questões emocionais e alterações hormonais associadas à

menstruação (LEVINSON, 2016; TORTORA et al., 2016).

O HSV-2 é transmitido especialmente por contato sexual. Pode causar herpes genital, encefalite neonatal e

meningite asséptica. O número de infecções pelo vírus tem aumentado de forma acentuada nos últimos anos. O

HSV-2 pode ser diferenciado do HSV-1 por sua constituição antigênica e seus efeitos em culturas celulares. O

vírus fica latente em uma região diferente de HSV-1, no gânglio do nervo sacral, próximo à base da medula

espinhal. O herpes genital se caracteriza por lesões vesiculares nas áreas genitais e anais. As infecções também

podem ser assintomáticas, podendo ser uma fonte de infecção para outras pessoas. O contato com lesões

vesiculares no canal do parto pode dar origem ao herpes neonatal. Nesse, pode haver desde uma doença grave,

como encefalite, até lesões mais brandas e infecções assintomáticas. A doença pode ser prevenida pela realização

de cesariana em mulheres que apresentam lesões ativas ou culturas virais positivas. Já a meningite asséptica

frequentemente é autolimitada, branda e com poucas sequelas (LEVINSON, 2016; TORTORA et al., 2016).

Para o diagnóstico, o vírus pode ser isolado de lesões herpéticas, sendo encontrado em lavados de garganta, no

LCR e nas fezes. Técnicas de biologia molecular (PCR) e sorologia podem ser empregadas no diagnóstico.

Diversos fármacos antivirais são eficazes contra as infecções pelo HSV. Como exemplo, aciclovir, que é o

medicamento empregado para encefalite e doença sistêmica provocada por HSV-1 e, infecções neonatais

causadas por HSV-2. Entretanto, nenhum medicamento de infecção primária pode prevenir recorrências, pois

não apresentam efeito sobre o estado latente (LEVINSON, 2016; TORTORA et al., 2016).

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3.2 Varicela-zóster (VZV)

O vírus varicela-zóster é morfologicamente e estruturalmente semelhante ao HSV. Apresenta um único

sorotipo que causa varicela (catapora) e zóster (cobreiro). A varicela é a doença primária e o zoster é a forma

recorrente. O vírus infecta a mucosa do trato respiratório superior e se dissemina pela corrente sanguínea até a

pele, onde a erupção vesicular típica ocorre (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016).

O VZV é transmitido por gotículas respiratórias e pelo contato direto com as lesões. A varicela é altamente

contagiosa na infância. O quadro clínico é caracterizado por erupção vesiculosa generalizada da pele e das

mucosas. O zóster é uma doença grave e incapacitante que acomete adultos e indivíduos imunocomprometidos

, onde as lesões são semelhantes às da varicela. A varicela é a doença aguda, que ocorre após o contato inicial

com o vírus, já o zóster corresponde à resposta do hospedeiro a reativação do vírus da varicela presente, em

forma latente (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016).

Para o diagnóstico de varicela-zóster, a técnica de PCR é a escolhida por sua sensibilidade, especificidade e

rapidez. O DNA do vírus pode ser detectado na saliva, nos líquidos das vesículas, em raspados de pele ou em

material de biópsia. Testes sorológicos também podem ser empregados. Em crianças imunocompetentes,

nenhuma terapia antiviral é necessária. Os adultos com casos moderados e graves geralmente são tratados com

aciclovir. Esse medicamento também pode impedir a evolução para doença sistêmica em pacientes

imunossuprimidos infectados por varicela e interromper a progressão do zóster em adultos (BROOKS et al.,

2014; LEVINSON, 2016).

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3.3 Vírus Epstein-Barr (EBV)

O EBV é o agente etiológico da mononucleose infecciosa aguda e está associado a carcinoma nasofaríngeo,

linfomas de Burkitt, linfomas de Hodgkin e não Hodgkin. Possui dois principais tipos (A e B) com genoma de

DNA. O linfócito B é a principal célula-alvo do EBV e, após a infecção dessas células, o vírus entra em estado

latente em seu interior (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016).

A principal forma de transmissão do EBV é pela saliva. Em países desenvolvidos, a infecção ocorre de forma

precoce na infância e, cerca de 95% dos adultos possuem anticorpos contra o vírus. O EBV causa uma infecção

persistente na orofaringe, boca e garganta. Após disseminação sanguínea, passam a infectar células B. A

mononucleose é caracterizada por febre, dor de garganta, linfadenopatia e esplenomegalia. Frequentemente

ocorre hepatite e, em alguns pacientes, também pode ocorrer encefalite. Entre 2 e 3 semanas, geralmente ocorre

recuperação de forma espontânea (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016; TORTORA et al., 2016).

O diagnóstico envolve duas abordagens: a hematológica, onde há presença de linfocitose e linfócitos atípicos

no esfregaço e, a imunológica, com a utilização de testes sorológicos. Nessa última, podem ser utilizados o teste

de anticorpos heterofílicos e os testes de anticorpos específicos para o EBV. Quando não há complicações,

nenhuma terapia antiviral é necessária para tratar a mononucleose infecciosa. Quando há risco de vida, o

aciclovir pode ser utilizado em altas doses, embora tenha pouca eficácia contra o EBV (BROOKS et al., 2014;

LEVINSON, 2016).

Assista aí

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4 Principais doenças causadas por vírus: viroses
congênitas e multissistêmicas
As viroses congênitas acometem os indivíduos desde ou antes do nascimento. As principais são causadas pelo

Citomegalovírus, pelo Parvovírus B19 e pelo vírus da Rubéola. Nas viroses sistêmicas, os vírus possuem

capacidade de se instalar em qualquer tecido ou órgão, provocando lesões em diferentes regiões e tecidos do

organismo. Os principais agentes causadores são o vírus do sarampo e da caxumba (BROOKS et al., 2014;

LEVINSON, 2016).

4.1 Citomegalovírus (CMV)

O CMV apresenta um único sorotipo com estrutura e morfologia similar aos outros HSV. Possui genoma de DNA e

apresenta o maior conteúdo genético dentre os herpes-vírus humanos. Os citomegalovírus são os agentes

causadores das mais comuns infecções congênitas. Em indivíduos imunocomprometidos, é uma causa

importante de pneumonia (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016).

O CMV pode ser transmitido por diferentes vias. Para crianças, pode ser transmitido pela placenta, canal do

parto, amamentação ou saliva. Em adultos, pode ser transmitido sexualmente, pois o vírus está presente no

sêmen e na secreção do colo uterino. Além disso, pode ser transmitido pelo sangue, durante transfusões e

transplantes de órgãos. As infecções do feto e do recém-nascido podem ser graves, podendo causar a doença de

inclusão citomegálica. Essa doença é caracterizada por células gigantes multinucleadas, com acentuadas

inclusões intracelulares. Nela, diversos órgãos são acometidos e a infecção generalizada resulta em alterações

congênitas. Os sintomas incluem microcefalia, convulsões, surdez, icterícia e púrpura. O desenvolvimento dos

órgãos no feto ocorre durante o primeiro trimestre de gestação. Sendo assim, as anormalidades são mais comuns

quando o feto é infectado durante esse período. Em crianças e adultos, com exceção dos imunocomprometidos, a

infecção é geralmente assintomática. O CMV entra em estado latente especialmente em monócitos, podendo

persistir por anos nos rins. A reativação em células do colo uterino pode ocasionar a infecção no recém-nascido

durante o parto (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016).

No diagnóstico do CMV pode ser utilizada a PCR, que detectam o vírus replicante, a sorologia para detecção de

anticorpos e o isolamento em cultura celular, embora esse último não seja empregado na rotina diagnóstico

devido ao tempo necessário para que ocorram as mudanças citológicas. Alguns medicamentos podem ser

empregados no tratamento de infecções causadas por CMVs, como o ganciclovir, valganciclovir, foscavir,

cidofovir e fomivirsen (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016).

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4.2 Parvovírus B19

O parvovírus B19 é um vírus não envelopado com genoma de DNA de fita simples. É patogênico para os seres

humanos e possui tropismo pelas células progenitoras eritroides. Esse vírus causa eritema infeccioso, anemia

aplástica e infecções congênitas. Indivíduos infectados adquirem imunidade permanente contra reinfecção

(BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016).

O B19 é transmitido especialmente por via respiratória, embora a transmissão também possa ocorrer por via

transplacentária e transfusões sanguíneas. O parvovírus B19 é responsável por cinco importantes

apresentações clínicas:

• Eritema infeccioso

Ou síndrome da bochecha esbofeteada, que é uma doença branda comum em crianças em idade escolar.

A síndrome caracteriza-se por uma erupção vermelha-brilhante que é mais saliente nas bochechas,

associada à febre baixa, coriza e dor de garganta.

• Anemia aplástica transitória

Que também pode ser desenvolvida por crianças com anemia crônica.

• Artrite

Especialmente em mulheres. Durante a gravidez, o vírus pode representar risco para o feto

• Hidropisia fetal

Edema no feto, que pode causar a morte.

• Anemia crônica

Em indivíduos imunocomprometidos. Além de leucopenia ou trombocitopenia (BROOKS et al., 2014;

LEVINSON, 2016).

Os testes disponíveis para o diagnóstico incluem PCR e hibridização in situ de tecido fixado. Além desses, a

sorologia e imuno-histoquímica podem ser empregadas. Não existe vacina para o tratamento da infecção por

B19 (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016).

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4.3 Vírus da rubéola

O vírus da Rubéola é um membro da família dos togavírus. Possui um genoma de RNA de fita simples com um

único tipo antigênico. Esse vírus é o agente causador da rubéola e da síndrome da rubéola congênita. O vírus é

transmissível por via respiratória e transplacentária e o período de incubação varia entre 2 e 3 semanas

(LEVINSON, 2016; TORTORA et al., 2016).

A infecção inicial ocorre na parte nasal da faringe e nos linfonodos locais. Após, o vírus se dissemina pelo sangue,

atingindo os órgãos internos e a pele. A infecção leva a imunidade permanente, ou seja, não ocorre reinfecção

por rubéola. Inicialmente, os indivíduos apresentam febre e mal-estar, seguido de erupção maculopapular e

linfadenopatia auricular. Quando em adultos, a poliartrite causada por imunocomplexos é frequente. Na

síndrome da rubéola congênita, malformações significativas podem ocorrer como resultado da viremia materna

e da infecção fetal. As alterações ocorrem em todo o organismo, envolvendo principalmente o coração, os olhos, e

o encéfalo. Algumas crianças podem continuar a excretar o vírus durante meses após o nascimento (LEVINSON,

2016; TORTORA et al., 2016).

O vírus pode ser cultivado em culturas celulares, entretanto, por produzir pouco efeito citopático, outras

técnicas são utilizadas para o diagnóstico, como o ensaio de ELISA e a PCR. Para prevenir a doença, as crianças

devem ser imunizadas com a vacina MMR ou tríplice viral, para sarampo, rubéola e caxumba. O tratamento é

sintomático, com o uso de antitérmicos e analgésicos (LEVINSON, 2016; TORTORA et al., 2016).

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4.4 Vírus do sarampo

O vírus do sarampo apresenta um único sorotipo de RNA genômico. Embora várias espécies possam ser

infectadas experimentalmente, os seres humanos são os únicos hospedeiros naturais do vírus. O sarampo é uma

doença caracterizada por erupções maculopapulares que ocorre principalmente na infância (BROOKS et al.,

2014; LEVINSON, 2016).

Trata-se de uma doença altamente contagiosa que se dissemina por via respiratória. Ocorre mundialmente,

geralmente com surtos a cada 2 ou 3 anos. A Após infectar o trato respiratório superior, o vírus se dissemina

pela corrente sanguínea infectando as células reticuloendoteliais, onde se replicam novamente. Posteriormente,

também através da corrente sanguínea, o vírus infecta a pele. Indivíduos que já tiveram a doença desenvolvem

imunidade permanente. O quadro clínico é caracterizado por uma fase inicial em que há presença de febre,

conjuntivite, coriza e tosse. Após, surge à erupção na face, que progride de forma gradual até atingir todo o

corpo. O sarampo pode ter complicações graves, como encefalite, pneumonia e panencefalite esclorosante

subaguda, uma doença fatal rara do sistema nervoso. Além disso, em mulheres grávidas leva ao aumento do risco

de natimorto (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016).

Geralmente, o diagnóstico se baseia no quadro clínico. Porém, pode ser realizado através do isolamento do

vírus em cultura celular, por sorologia para detecção de anticorpos e ensaio de PCR. Não há tratamento

para o sarampo. Como forma de prevenção, deve ser realizada a imunização com a vacina viva atenuada

(BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016).

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4.5 Vírus da caxumba

A caxumba é causada por um vírus que possui um único sorotipo com genoma de RNA. Assim com o sarampo,

é transmitida pelo ar, sendo altamente contagiosa. Ocorre em todo o mundo, com pico de incidência durante o

inverno. A caxumba ocorre principalmente na infância e é uma doença caracterizada por edema da glândula

parótida (LEVINSON, 2016; MADIGAN et al., 2016).

Fique de olho
No senso comum, acredita-se que a caxumba unilateral pode ser seguida por infecção no outro
lado. Entretanto, a caxumba ocorre apenas uma vez, pois os indivíduos infectados
desenvolvem imunidade permanente. Casos posteriores podem ser provocados por outros
vírus, como parainfluenza, além de bactérias e pedras nos ductos (sialolitíase) (LEVINSON,
2016; MADIGAN et al., 2016).

O vírus infecta o trato respiratório superior e se dissemina pela corrente sanguínea até as glândulas parótidas, os

testículos, os ovários, o pâncreas e, alguns casos, as meninges. Após um período de incubação de 18 a 21 dias, um

estágio inicial de febre, mal-estar e anorexia é seguido por edema unilateral ou bilateral das glândulas parótidas.

Cerca de 30% das infecções são subclínicas. Entre os casos sintomáticos, aproximadamente 50% dos pacientes

desenvolvem edema das glândulas salivares. O aumento da glândula está associado a dor. Além disso, a caxumba

pode causar meningite asséptica, mais frequente em homens do que mulheres. Os testículos e ovários também

podem ser acometidos, especialmente após a puberdade. Entre 20 e 50% dos indivíduos do sexo masculino

infectados pelo vírus desenvolvem orquite, sendo que a complicação é frequentemente dolorosa. O testículo

pode atrofiar em decorrência de necrose por compressão, entretanto raramente resulta em esterilidade

(BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016; MADIGAN et al., 2016).

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Figura 1 - Inflamação da glândula parótida
Fonte: Corbac40, Shutterstock, 2020

#PraCegoVer: Na imagem temos a representação de um menino com a glândula parótida inflamada, sintoma

característico de infecção por caxumba.

O diagnóstico de caxumba geralmente é realizado de forma clínica. Entretanto, o vírus pode ser isolado em

cultura celular em amostras de saliva, líquor e urina. Ensaios de PCR e sorologia também podem ser

empregados. Além disso, um teste cutâneo com base na hipersensibilidade tardia pode ser utilizado para

detectar infecção prévia, porém há preferência pelos métodos sorológicos. Não há tratamento para a caxumba.

Porém, pode ser feita a prevenção por meio da imunização com a vacina viva atenuada. Duas imunizações são

recomendadas, uma aos 15 meses e um reforço dos 4 aos 6 anos (LEVINSON, 2016; MADIGAN et al., 2016).

é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• compreender os conceitos de viroses emergentes e reemergentes e, os vírus associados a essas doenças;
• aprender sobre as principais viroses entéricas e dermotrópicas, sendo capaz de diferenciar seus
microrganismos correspondentes;
• conhecer as principais viroses congênitas e multissistêmicas, bem como as terapias disponíveis para
cada doença;
• conhecer para quais doenças virais existem vacinas;
• aprender sobre os diferentes diagnósticos que podem ser empregados.

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• conhecer para quais doenças virais existem vacinas;
• aprender sobre os diferentes diagnósticos que podem ser empregados.

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