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4º ESTUDO DIRIGIDO_ENF 316 – Parte I

Curso: Enfermagem Período: 6º


Disciplina: Enfermagem em Doenças Tema: 1. Doenças sexualmente transmissíveis:
Transmissíveis a. Principais doenças: Hepatites
virais, HIV/AIDS, Sífilis.

Professor: Fábio Vieira Ribas


Início: 01/11/2023 Final: 29/11/2023 Prova:

- INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
Neste módulo será discutido sobre a classificação das doenças transmissíveis
e as intervenções e ações da enfermagem, buscando aplicar o processo de
enfermagem, nessa intervenção.

- TALVEZ SEJA NECESSÁRIO RELEMBRAR


 Os desafios e estratégias de vigilância, prevenção e controle das doenças e
agravos de importância de Saúde Pública
 Enfermagem na prevenção e controle das doenças transmissíveis.

CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE A ENFERMAGEM EM DOENÇAS


TRANSMISSÍVEIS

As ações de prevenção, controle e tratamento das Doenças Transmissíveis (DT),


competem ao conjunto dos trabalhadores da saúde, que contribuem cada qual com seus
conhecimentos e habilidades específicos para a finalidade do Processo de Produção de Serviços
de Saúde. As intervenções junto aos indivíduos, grupos ou comunidades acometidas por DT
têm como finalidade última a transformação dos perfis epidemiológicos da população no que
tange às essas doenças.
A enfermagem, ao integrar o processo de trabalho em saúde para assistir aos pacientes
portadores de DT, desenvolve intervenções individualizadas, ao atender às alterações
biopsicossociais desencadeadas pelo processo saúde doença na dimensão singular’. Desenvolve
ainda intervenções de monitoramento do processo infeccioso e dos perfis referentes aos
processos de adoecer e morrer dos grupos e comunidades, intervenções centradas mais
especificamente nas dimensões particular e geral do processo saúde doença, articuladas à
Vigilância Epidemiológica (VE).
Ao definir a atuação da enfermagem junto à VE, consideram que a mesma desenvolve
ações de Investigação Epidemiológica, de diagnóstico situacional, de planejamento e de

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implementação de medidas de prevenção, controle e tratamento das DT. Apontam ainda como
tecnologias necessárias para a enfermagem no desempenho dessas ações a visita domiciliar, a
habilidade de comunicação e o relacionamento interpessoal com indivíduos, grupos e
comunidades.
Infecção pelo HIV e Aids
Características gerais
Descrição
A infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e sua manifestação clínica em
fase avançada, a síndrome da imunodeficiência adquirida (aids), ainda representam um
problema de saúde pública de grande relevância na atualidade, em função do seu caráter
pandêmico e de sua transcendência.
As pessoas infectadas pelo HIV, sem tratamento, evoluem para uma grave disfunção do
sistema imunológico, à medida que vão sendo destruídos os linfócitos T CD4+, uma das
principais células-alvo do vírus.
A história natural dessa infecção vem sendo alterada, consideravelmente, pela terapia
antirretroviral (TARV), iniciada no Brasil em 1996, resultando em aumento da sobrevida das
pessoas, mediante reconstituição das funções do sistema imunológico e redução de doenças
secundárias.
Agentes etiológicos
HIV-1 e HIV-2 são retrovírus da família Lentiviridae. Pertencem ao grupo dos retrovírus
citopáticos e não oncogênicos, necessitando, para se multiplicar, de uma enzima denominada
transcriptase reversa, responsável pela transcrição do ácido ribonucleico (RNA) viral para uma
cópia do ácido desoxirribonucleico (DNA), que pode então se integrar ao genoma do
hospedeiro.
Reservatório
O homem.
Modo de transmissão
O HIV pode ser transmitido por via sexual (esperma e secreção vaginal), pelo sangue
(gestação/parto para criança e via parenteral) e pelo leite materno. A transmissão vertical para
criança pode ocorrer durante a gestação, o parto e a amamentação.
A partir do momento em que a pessoa é infectada, ela tem a capacidade de transmitir o
HIV. A transmissão pode ocorrer mediante: relações sexuais desprotegidas; utilização de
sangue ou seus derivados não testados adequadamente; recepção de órgãos ou sêmen de

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doadores não testados; reutilização e compartilhamento de seringas e agulhas; acidente
ocupacional durante a manipulação de instrumentos perfurocortantes contaminados com sangue
e secreções das pessoas.
Na infecção muito recente (“infecção aguda”) ou na avançada a maior concentração do
HIV no sangue (carga viral alta) e nas secreções sexuais, aumentando a transmissibilidade do
vírus. Outros processos infecciosos e inflamatórios favorecem a transmissão do HIV,
especialmente a presença das infecções sexualmente transmissíveis (IST).
Período de incubação
O tempo entre a infecção pelo HIV e o aparecimento de sinais e sintomas da fase aguda,
denominada síndrome retroviral aguda (SRA), é de 1 a 3 semanas.
Período de latência
Após a infecção aguda, o tempo de desenvolvimento de sinais e sintomas da aids é em
média de 10 anos. Entretanto, sinais e sintomas de imunodeficiência associada à infecção pelo
HIV, não aids, podem aparecer com tempo de latência variável após a infecção aguda.
Manifestações clínicas
Infecção aguda
Esta fase da doença é também chamada de SRA ou infecção primária, e se manifesta
clinicamente em pelo menos 50% dos pacientes. O diagnóstico é pouco realizado, devido ao
baixo índice de suspeição, sendo, em sua maioria, retrospectivo. Existem evidências de que a
imunidade celular desempenha papel fundamental no controle da viremia. A infecção aguda
caracteriza-se tanto por viremia elevada, quanto por resposta imune intensa e queda rápida na
contagem de linfócitos T CD4+ de caráter transitório.
Os sinais e sintomas aparecem durante o pico da viremia e da atividade imunológica.
As manifestações clínicas podem variar, desde quadro gripal até uma síndrome que se
assemelha à mononucleose. As pessoas podem apresentar sinais/sintomas de infecção viral,
como febre, adenopatia, faringite, mialgia, artralgia, exantema maculopapular eritematoso;
ulcerações mucocutâneas, envolvendo mucosa oral, esôfago e genitália; hiporexia, adinamia,
cefaleia, fotofobia, hepatoesplenomegalia, perda de peso, náuseas e vômitos. Alguns pacientes,
ainda, podem apresentar candidíase oral, neuropatia periférica, meningoencefalite asséptica e
síndrome de Guillain-Barré. A SRA é autolimitada e a maior parte dos sinais e sintomas
desaparece em 3 a 4 semanas. Linfadenopatia, letargia e astenia podem persistir por vários
meses.
Fase assintomática

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A infecção precoce pelo HIV, também conhecida como fase assintomática, pode durar
de alguns meses a alguns anos, e os sintomas clínicos são mínimos ou inexistentes. Os exames
sorológicos para o HIV são reagentes e a contagem de linfócitos T CD4+ pode estar estável ou
em declínio. Algumas pessoas podem apresentar uma linfoadenopatia generalizada persistente,
flutuante e indolor.

Fase sintomática inicial


A pessoa vivendo com HIV (PVHIV) pode apresentar sinais e sintomas inespecíficos
de intensidade variável, além de processos oportunistas de menor gravidade, conhecidos como
complexo relacionado à aids (ARC). São indicativos de ARC a candidíase oral e a presença de
mais de um dos seguintes sinais e sintomas, com duração superior a um mês, sem causa
identificada: linfadenopatia generalizada, diarreia, febre, astenia, sudorese noturna e perda de
peso superior a 10%.

O aparecimento de Infecções Oportunisitas (IO) e neoplasias é definidor da aids. Entre


as infecções oportunistas, destacam-se: pneumocistose, neurotoxoplasmose, tuberculose
pulmonar atípica ou disseminada, meningite criptocócica e retinite por citomegalovírus.

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As neoplasias mais comuns são sarcoma de Kaposi (SK), linfoma não Hodgkin e câncer
de colo uterino, em mulheres jovens. Nessas situações, a contagem de LT-CD4+ situa-se abaixo
de 200 céls/mm³, na maioria das vezes.
Além das infecções e das manifestações não infecciosas, o HIV pode causar doenças
por dano direto a certos órgãos ou por processos inflamatórios, tais como miocardiopatia,
nefropatia e neuropatias, que podem estar presentes durante toda a evolução da infecção pelo
HIV.
Aids/tuberculose
A tuberculose é a principal causa de óbito por doença infecciosa em PVHIV, e por isso
deve ser pesquisada em todas as consultas. A pesquisa deve iniciar-se com o questionamento
sobre a presença dos seguintes sintomas: tosse, febre, emagrecimento e/ou sudorese noturna. A
presença de qualquer um desses sintomas pode indicar TB ativa e requer investigação.

Aids/doenças oportunistas
Uma vez agravada a imunodepressão, a PVHIV apresenta infecções oportunistas (IO),
causadas por microrganismos não considerados usualmente patogênicos, que não são capazes
de desencadear doença em pessoas com sistema imune normal. No entanto, microrganismos
normalmente patogênicos também podem, eventualmente, causar IO. Porém, nessa situação, as
infecções necessariamente assumem um caráter de maior gravidade ou agressividade, para
serem consideradas oportunistas.
Aids/neoplasias
Sarcoma de Kaposi, linfomas não Hodgkin, neoplasias intraepiteliais anal e cervical.

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Alterações neurológicas induzidas pelo HIV
O HIV apresenta neurotropismo bastante acentuado, levando, frequentemente, ao
aparecimento de manifestações neurológicas, tais como encefalopatia e neuropatia periférica,
particularmente nas fases mais avançadas da infecção.

DIAGNÓSTICO
Diagnóstico rápido/laboratorial
A doença pode ou não ter expressão clínica logo após a infecção, sendo importante que
o profissional saiba conduzir a investigação laboratorial após a suspeita de risco de infecção
pelo HIV. Além disso, é imprescindível conhecer os conceitos de janela diagnóstica e
soroconversão.
Janela diagnóstica é o tempo decorrido entre a infecção e o aparecimento ou detecção
de um marcador da infecção, seja ele RNA viral, DNA proviral, antígeno p24 ou anticorpo. A
duração desse período depende do tipo do teste, da sensibilidade do teste e do método utilizado
para detectar o marcador. No caso de testes que detectam anticorpos, utiliza-se o termo janela
imunológica, ou janela de soroconversão, que é o período de tempo entre a infecção até a
primeira detecção de anticorpos contra o agente infeccioso.
Considera-se adequado trabalhar com o período médio de janela imunológica de 30 dias,
pois nele a maioria dos indivíduos apresentará resultados reagentes nos testes utilizados para a
investigação inicial da infecção pelo HIV. Deve-se considerar, entretanto, que muitos fatores

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podem contribuir para que esse tempo não seja estabelecido para todos os indivíduos, pois a
soroconversão é algo particular de cada organismo, existindo a possibilidade de o tempo ser
maior ou menor que 30 dias. Por isso, caso persista a suspeita de infecção pelo HIV, uma nova
amostra deverá ser coletada 30 dias após a data da coleta desta amostra. No período de janela
imunológica, os únicos testes capazes de identificar o vírus seriam os de biologia molecular,
com a detecção do material genético viral, como, por exemplo, os testes de quantificação de
carga viral.
Para a investigações desses marcadores em amostras biológicas, podem ser utilizados
os seguintes testes diagnósticos:
• testes moleculares – são testes capazes de detectar diretamente o RNA viral (teste de
quantificação da carga ciral do HIV) ou o DNA pró-viral (teste qualitativo de detecção do DNA
pró-viral), desempenhando um papel importante quando a detecção de anticorpos não é
possível.
• imunoensaio (IE) – são ensaios capazes de detectar anticorpos anti-HIV. Na última década
sucederam-se quatro gerações de IE, de acordo com a evolução das metodologias empregadas.
Atualmente os utilizados são os de 3° geração, que permitem a detecção simultânea de
anticorpos na-HIV IgG e IgM, e de 4° geração, que detecta simultaneamente o antígeno p24 e
anticorpos específicos anti-HIV.
• western blot (WB)/imunoblot (IB)/imunoblot rápido (IBR) – são ensaios que apresentam
proteínas virais imobilizadas em suas membranas, capazes de se ligar a anticorpos anti-HIV
específicos. O imunoblot rápido é semelhando ao imunoblot, mas emprega a metodologia
plataforma de duplo percurso (DPP, do inglês dual path platform), permitindo a detecção de
anticorpos em menos de 30 minutos.
• teste rápido (TR) - são imunoensaios simples, que utilizam a metodologia de
imunocromatografia, não necessitam de estrutura laboratorial para sua realização e fornecem
resultados em até 30 minutos. São realizados preferencialmente de forma presencial (teste
realizado na presença do indivíduo) com amostra de sangue total obtida por punção digital ou
amostra de fluido oral. A utilização de testes rápidos por laboratórios com amostras obtidas por
punção venosa (sangue total, soro ou plasma) também é possível, embora não se caracterize a
principal recomendação de utilização desses testes no SUS.
Um fluxograma é formado por dois ou mais testes combinados, com o objetivo de
aumentar o valor preditivo positivo de um resultado reagente no teste inicial. O primeiro teste
a ser realizado deve ser o mais sensível, seguido por um segundo teste mais específico, a fim
de eliminar resultados falso-reagentes.

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O resultado reagente (tanto na testagem rápida, quanto laboratorial) deve ser
complementado com um segundo teste, conforme fluxograma de testagem escolhido, para
conclusão da amostra. É importante ressaltar que todos os indivíduos recém-diagnosticados
devem realizar o exame de quantificação da carga viral e de Contagem de Linfócitos T CD4+.
Estratégias para o diagnóstico da infecção pelo HIV empregando testes rápidos
Em termos gerais, o teste rápido (TR) refere-se ao teste de HIV realizado em local que
permite fornecer o resultado durante o período da visita do indivíduo (Centro de Testagem e
Aconselhamento- CTA, atendimento em domicílio, atendimento em unidade de testagem
móvel, em organizações da sociedade civil, Atenção Básica, Maternidades, Rede de Urgência
e Emergência ou de outras unidades que compõem a Rede de Atenção à Saúde).
Os fluxogramas baseados na testagem rápida possibilitam a ampliação do acesso ao
diagnóstico, bem como agilizam a liberação do resultado em até 30 minutos, permitindo a
antecipação do início do tratamento e preservando, dessa forma, o sistema imunológico do
indivíduo infectado e reduzindo a transmissão.
A infecção pelo HIV é definida com dois resultados reagentes em testes rápidos (TR1 e
TR2) contendo antígenos diferentes, usados sequencialmente. A carga viral realizada após dois
testes rápidos reagentes, quando acima de 5000 cópias/mL, ratifica a presença da infecção no
indivíduo, além de constituir o primeiro teste do monitoramento da infecção pelo HIV (Tabela
1). Tabela 1 – Resumo dos fluxogramas para o diagnóstico da infecção pelo HIV por testagem
rápida (presencialmente).

Recomendações para o diagnóstico da infecção pelo HIV-2


O Ministério da Saúde monitora o risco de infecção pelo HIV-2, a despeito de a infecção
pelo HIV-1 ser a mais prevalente no Brasil. Essa medida se faz necessária tendo em vista o

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fluxo intenso de pessoas entre o Brasil e as áreas endêmicas para o HIV-2. A distinção entre
HIV-1 e HIV-2 é fundamental para a administração correta do tratamento.
A seguir descrevem-se as circunstâncias de suspeita de infecção pelo HIV-2.
Suspeita epidemiológica de infecção pelo HIV-2
• Indivíduo proveniente de países em que o HIV-2 é endêmico;
• Parcerias sexuais provenientes de países em que o HIV-2 é endêmico;
• Parcerias sexuais sabidamente infectadas pelo HIV-2;
• Transfusão de sangue ou injeções com agulhas não estéreis em países em que o HIV-2 é
endêmico;
• Compartilhamento de agulhas com pessoas provenientes de países em que o HIV-2 é
endêmico ou com uma pessoa reconhecidamente infectada com HIV-2;
• Filhos de mulheres que têm fatores de risco para o HIV-2 ou são sabidamente infectadas pelo
HIV-2.
Tratamento
O tratamento objetiva melhorar a qualidade de vida e prolongar a sobrevida, devido à
redução da carga viral e reconstituição do sistema imunológico. Evidências indicam que a
terapia antirretroviral representa potente intervenção para a prevenção da transmissão do HIV.
A partir de 2013, no Brasil, ampliou-se a recomendação de oferta do tratamento a todas as
pessoas logo após a confirmação do diagnóstico, independentemente de critérios clínicos e
imunológicos.
Mais informações a respeito da terapêutica medicamentosa das PVHIV podem ser
encontradas no PCDT para manejo da infecção pelo HIV em adultos, bem como no PCDT para
manejo da infecção pelo HIV em crianças e adolescentes, disponíveis em:
http://www.aids.gov.br/pt-br/profissionais-de-saude/hiv/protocolos-clinicos-e-manuais.
Características epidemiológicas
Na primeira metade da década de 1980, a epidemia de HIV/aids manteve-se basicamente
restrita às regiões metropolitanas do Sudeste e Sul do país. As principais vias de transmissão
eram: sexual, entre gays e outros HSH; sanguínea, por transfusão de sangue e hemoderivados;
e pelo uso de drogas injetáveis mediante o compartilhamento de seringas. Nesse período, a
velocidade de crescimento da incidência e as taxas de mortalidade eram elevadas, e a estrutura
assistencial para pessoa com HIV/aids encontrava-se em fase de implantação e implementação,
tendo sido priorizadas medidas dirigidas à melhoria da qualidade e controle do sangue e seus
derivados. Como consequência imediata dessas medidas, observou-se uma diminuição drástica
de casos de aids entre hemofílicos e transfundidos.

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De acordo com parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS),
a epidemia de HIV/aids no país é concentrada, ou seja, apresenta taxa de prevalência da infecção
pelo HIV menor que 1% entre parturientes residentes em áreas urbanas e maior que 5% em
subgrupos populacionais sob maior risco para infecção pelo HIV, sendo de 5,9% entre usuários
de drogas ilícitas, de 19,8% entre gays e outros HSH e de 5,3% entre mulheres profissionais do
sexo. A taxa de prevalência da infecção pelo HIV, no país, na população de 15 a 49 anos,
mantém-se estável em aproximadamente 0,4% desde 2006, semdo 0,31% entre as mulheres e
0,52% entre os homens.
Os dados epidemiológicos referentes ao HIV e aids no Brasil, regiões e municípios
podem ser encontrados na página <www.aids.gov.br/indicadores>, além do boletim
epidemiológico, que é disponível anualmente na página <www.aids.gov.br>.
Vigilância epidemiológica
No Brasil, desde os anos 1980, a vigilância epidemiológica da aids é baseada na
notificação compulsória de casos.
A notificação compulsória da infecção pelo HIV permite caracterizar e monitorar
tendências, perfil epidemiológico, riscos e vulnerabilidades na população infectada, com vistas
a se aprimorar a política pública de enfrentamento da epidemia.
A vigilância da infecção pelo HIV e da aids está baseada num modelo de vigilância dos
eventos: infecção pelo HIV, adoecimento (aids), e óbito, por meio de sistemas de informação
de rotina e de estudos seccionais e longitudinais.
A vigilância epidemiológica do HIV e da aids baseia-se em dados fornecidos pelo
Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), Sistema de Informações sobre
Mortalidade (SIM; registros de óbitos), Sistema de Controle de Exames Laboratoriais (Siscel),
Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (Siclom) e Sistema de Monitoramento Clínico
das pessoas vivendo com HIV (SIMC).
Medidas de prevenção e controle
Objetivos
• Desencadear a investigação das fontes de infecção e transmissão comuns.
• Definir e indicar as medidas de controle da transmissão por meio das ações de prevenção.
• Evitar a disseminação da infecção.
• Prevenir a evolução para formas mais graves da doença.
Estratégias
Medidas a serem adotadas para prevenção da transmissão do HIV

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A estratégia adotada no Brasil é de prevenção combinada, que abrange o uso simultâneo
de diferentes abordagens preventivas (biomédica, comportamental e estrutural), de acordo com
as possibilidades e escolhas de cada pessoa, sem excluir ou substituir um ou outro. Essa
combinação de ações alcança múltiplos níveis (individual, parcerias/relacionamentos,
comunitário e social), para responder a especificidades de determinados públicos e de formas
de transmissão.
Intervenções biomédicas: são voltadas à redução do risco de exposição ou de transmissibilidade
(exemplos: preservativos feminino e masculino associados a géis lubrificantes, tratamento
antirretroviral para todas as pessoas, profilaxia pós-exposição – PEP, profilaxia pré-exposição
– PrEP; testagem regular para HIV, diagnóstico e tratamento das pessoas com infecções
sexualmente transmissíveis – IST, prevenção da transmissão vertical e imunização para hepatite
B e HPV).
Intervenções comportamentais: contribuem para ampliar a informação, comunicação e
educação, a fim de possibilitar a percepção ou autoavaliação do risco à exposição ao HIV, de
forma a se colaborar efetivamente para a redução desse risco, mediante incentivos a mudanças
de comportamento individual ou comunitário (exemplos: adesão às intervenções biomédicas,
redução de danos, estratégias de informação, comunicação e educação entre pares e
fortalecimento das ações de base comunitária; campanhas de prevenção etc.).
Intervenções estruturais: contribuem para o enfrentamento de fatores e condições socioculturais
que influenciam diretamente a vulnerabilidade de pessoas ou grupos sociais específicos
(exemplos: ações de enfrentamento ao estigma e discriminação, como racismo, sexismo,
machismo, homofobia, transfobia, lesbofobia e outras formas de exclusão; políticas afirmativas
de garantias de direitos, diminuição das desigualdades socioeconômicas).
A soma dessas diferentes abordagens não encerra, contudo, todos os significados e
possibilidades da prevenção combinada.
Medidas específicas a serem adotadas para profilaxia pré e pós-exposição ao HIV (PrEP
e PEP)
A PEP (profilaxia pós-exposição), é uma estratégica de prevenção para evitar novas
infeções pelo HIV, por meio do uso temporário de medicamentos antirretrovirais após uma
exposição de risco à infecção pelo HIV. O esquema antirretroviral dessa medida profilática foi
simplificado com recomendações de acordo com a avaliação do risco da situação de exposição
(tipo de material biológico, tipo de exposição, tempo transcorrido entre a exposição e o
atendimento, e status sorológico da pessoa exposta), não mais por categoria de exposição
(acidente com material biológico, violência sexual e exposição sexual consentida).

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A PrEP (profilaxia pré-exposição), se insere como uma estratégia adicional, segura e
eficaz de prevenção disponível no SUS. Consiste na utilização diária e continua de
antirretroviral, antes da pessoa ter contato com o vírus do HIV. Está indicada para grupos
específicos não infectados que tenham maior risco de infecção pelo HIV, como gays e outros
HSH, trabalhadoras do sexo, travestis e transexuais, casais sorodiferentes. Porém, o
pertencimento a um desses grupos não é suficiente para caracterizar pessoas com frequentes
situações de exposição ao HIV, o que é definido por práticas sexuais, parcerias ou contextos
específicos de preconceito, discriminação e vulnerabilidade que determinam mais chances de
exposição ao vírus.
Medidas específicas a serem adotadas para prevenção da transmissão vertical do HIV
A transmissão vertical do HIV acontece pela passagem do vírus para a criança durante
a gestação, o parto ou a amamentação. Pode ser reduzida para menos de 2% com a adoção das
medidas eficazes de prevenção.
Alguns fatores associados se somam ao aumento do risco da transmissão vertical do
HIV, como:
• virais (carga viral, genótipo e fenótipo viral e resistência viral);
• maternos (estado clínico e imunológico, presença de IST e outras coinfecções, estado
nutricional);
• obstétricos (duração de ruptura das membranas amnióticas, via do parto, presença de
hemorragia intraparto);
• inerentes ao recém-nascido (prematuridade, baixo peso ao nascer);
• aleitamento materno – as mulheres vivendo com HIV devem ser aconselhadas a não
amamentar, e a lactação deverá ser inibida; o aleitamento cruzado (amamentação por outra
mulher) é contraindicado.
Algumas medidas são importantes, como a testagem para HIV na rotina do pré-natal,
que deve ser realizada na primeira consulta (idealmente, no primeiro trimestre da gestação), no
início do terceiro trimestre e na admissão para o parto, de forma a proporcionar o diagnóstico
precoce. Além disso, para mulheres que não foram diagnosticadas com HIV no pré-natal, parto
e puerpério, deve-se reforçar o uso do preservativo nas relações sexuais em todo o período,
incluído o de amamentação.
Em relação à terapia antirretroviral, deve ser oferecida a todas as gestantes infectadas
pelo HIV, independentemente de critérios clínicos e imunológicos, e não deve ser suspensa
após o parto.

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O manejo clínico e laboratorial das crianças expostas, além da não amamentação, são
também ações essenciais de prevenção. Para a investigação da criança exposta, deve-se estar
atento para os aspectos a seguir:
• Dados de identificação e residência da gestante/parturiente/puérpera/nutriz da criança exposta;
• Identificação da evidência laboratorial e informação sobre o momento em que foi realizada a
coleta do material, no qual se evidenciou a infecção pelo HIV, na
gestante/parturiente/puérpera/nutriz da criança exposta (considerar o primeiro resultado
reagente);
• Avaliação do protocolo no pré-natal – registrar o momento em que começou o pré-natal, se a
gestante anteriormente à gravidez já atendia ao critério de definição de caso de aids, se foi
indicado e iniciado o tratamento;
• Avaliação do protocolo no parto – informar sobre o tratamento no pré-natal, verificar as
condições clínicas da gestante no momento do parto, utilizar a profilaxia no parto e iniciar a
profilaxia na criança;
• Avaliação do protocolo na criança e acompanhamento – anotar os dados de identificação da
criança (nome, data de nascimento e sexo), a exposição ao aleitamento materno ou cruzado, a
conclusão ou não da profilaxia e do diagnóstico laboratorial (carga viral e sorologia);
• Deverá ser registrada a ocorrência de óbito relacionado à aids;
• Encerramento de caso – o caso é encerrado com a confirmação do status sorológico da criança
em até 18 meses:
- infectado – quando existirem dois resultados de cargas virais detectáveis ou sorologia reagente
após os 18 meses de vida;
- não infectado – quando existirem dois resultados de cargas virais indetectáveis ou sorologia
não reagente aos 18 meses de vida;
- indeterminado – quando os resultados laboratoriais forem inconclusivos;
- perda de seguimento – quando o serviço perde contato com a criança, antes da conclusão do
diagnóstico laboratorial;
- óbito – quando ocorrido durante o período de acompanhamento, antes da definição do status
viral ou sorológico da criança, independentemente de se esse óbito estava relacionado à aids
ou não.
Medidas a serem adotadas para prevenção da transmissão sanguínea
• Injeções e instrumentos perfurocortantes – recomendações específicas devem ser seguidas,
durante a realização de procedimentos que envolvam a manipulação de material
perfurocortante:

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- máxima atenção durante a realização dos procedimentos;
- jamais utilizar os dedos como anteparo, durante a realização de procedimentos que envolvam
materiais perfurocortantes;
- as agulhas não devem ser reencapadas, entortadas, quebradas ou retiradas da seringa com
as mãos;
- não utilizar agulhas para fixar papéis;
- todo material perfurocortante (agulhas, scalp, lâminas de bisturi, vidrarias, entre outros),
mesmo que estéril, deve ser desprezado em recipientes com tampa e resistentes à perfuração;
- os recipientes específicos para descarte de material não devem ser preenchidos acima do limite
de dois terços de sua capacidade total e devem ser colocados sempre próximos do local onde é
realizado o procedimento.
• Transfusão de sangue e hemoderivados – todo doador de sangue deverá ser cuidadosamente
triado, afastando-se aqueles em risco de infecção pelo HIV. Todo sangue aceito para ser
transfundido deverá ser, obrigatoriamente, testado para detecção de anticorpos anti-HIV. Essas
medidas aumentam a segurança da transfusão de sangue, mas não eliminam totalmente o risco,
em virtude do período de “janela imunológica”. A conscientização dos doadores, no sentido de
autoavaliarem os riscos de infecção pelo HIV a que porventura tenham sido expostos, constitui-
se na melhor medida de prevenção da transmissão do HIV por essa via.
• Doação de sêmen e órgãos – a transmissão do HIV pela doação de órgãos ou sêmen deve ser
prevenida pela triagem cuidadosa e testagem dos doadores.
Ações de educação em saúde
As ações de educação em saúde para prevenção do HIV/aids são orientadas a partir de
avaliação das tendências e características da epidemia, em cada local, e das condições
econômicas, sociais e culturais dos grupos mais afetados. Pautam-se pelas intervenções
direcionadas para a população geral e principalmente para populações-chave, tais como
profissionais do sexo, pessoas que usam drogas, gays e outros HSH, travestis, transexuais,
jovens e pessoas que vivem e convivem com o HIV/aids.

PARA APRENDER MAIS


Link sobre a reorganização da rede de atenção à saúde no cuidado às PVHIV-Manejo
HIV AB: https://www.youtube.com/watch?v=ctpvxlhLuYo&t=197s

REFERÊNCIA (S) BIBLIOGRÁFICA (S).

14
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância à Saúde. Secretaria de Atenção à
Saúde. Diretrizes Nacionais da Vigilância em Saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de
Vigilância em Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2010.

BRASIL, Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica Emergência


de Saúde Pública de Importância Nacional pela Doença pelo Coronavírus 2019. p. 1–59,
2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria de Consolidação n° 4, de 28 de setembro de 2017.


Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília (DF), 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de


Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e
das Hepatites Virais. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infecção
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