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Distribuição das

doenças no tempo e no
espaço
Prof. Gabriel Bezerra Faierstein
 Para melhor compreender como a doença acomete
uma população, não basta apenas analisar indicadores
de saúde, tendo em vista que cada indicador apresenta
uma limitação em expressar a realidade.
Introdução  O tempo e do espaço são outras ferramentas da
epidemiologia para representar situações que
envolvem o processo saúde-doença, respondendo a
questões fundamentais da epidemiologia:

Onde e quando a doença ocorre?


 É um conceito amplamente difundido na área da saúde
e no conhecimento geral da população sobre a
ocorrência de doenças

Ex: asma nos períodos de inverno, leptospirose nos


Distribuição períodos de chuva, dengue no verão.
das doenças
no tempo  Por essa razão, estudo sobre a distribuição da doença
no tempo fornece valiosas informações para a
compreensão, previsão, busca etiológica, prevenção de
doenças e avaliação do impacto de intervenções em
saúde.
 É necessário que haja registros e acompanhamentos da
evolução temporal das doenças para que seja possível
reconhecer padrões e tendências para a ocorrência de
doenças ao longo do tempo.

Distribuição Precisamos observar o número de ocorrências em dias,


das doenças semanas, meses e anos
no tempo  Cada doença pode representar uma realidade diferente
dentro da escala espaço e tempo, pois apresentam
diferentes particularidades, como transmissibilidade,
proporção de pessoas expostas ou suscetíveis e
eficiência dos programas de controle de doenças em
diferentes secretarias de saúde.
Incidência e
óbitos de
dengue
Semana 01 a 04/2024

* A incidência epidemiológica
refere-se à taxa de ocorrência
de novos casos de uma doença
em uma população específica
durante um determinado
período de tempo.
Principais tipos  Tendência secular ou histórica;
de evolução  Variações cíclicas não sazonais;
temporal de  Variações sazonais;
uma doença  Variações irregulares.
 Refere-se à análise das mudanças na frequência de
uma doença por um longo período de tempo, em geral,
décadas.
 A evolução histórica da tuberculose representa o tipo
de distribuição secular da doença, tendo como enfoque
o impacto de medidas de diagnóstico, tratamento e
Tendência prevenção da doença sobre sua mortalidade na
secular ou Inglaterra (1830–1970).

histórica

Histórico da taxa de mortalidade


por tuberculose na Inglaterra
entre 1830 e 1970, com destaque
para momentos importantes na
história do combate à doença
 Como observado no gráfico, o avanço nas descobertas
científicas determinou diretamente o declínio da
mortalidade por tuberculose.
 No entanto, nas últimas décadas, tem-se observado
Tendência uma tendência ascendente na incidência da
secular ou tuberculose, considerada atualmente uma doença
reemergente.
histórica
*Doença reemergente: doença causada por microrganismo bem
conhecido que estava sob controle, mas tornou-se resistente às drogas
antimicrobianas utilizadas para o seu tratamento ou está se expandindo
rapidamente em incidência ou em área geográfica
 Resistência a Medicamentos: o surgimento de cepas de Mycobacterium tuberculosis
resistentes, como a tuberculose multidroga resistente (MDR-TB) e a tuberculose
extremamente resistente (XDR-TB)
 HIV/AIDS: A epidemia de HIV/AIDS aumentou a suscetibilidade das pessoas à
tuberculose. Indivíduos com o sistema imunológico comprometido têm maior
probabilidade de desenvolver a forma ativa da doença.
 Movimentação Global: viagens internacionais e a migração facilitam a propagação
da tuberculose, especialmente em regiões onde a doença é endêmica.
A tuberculose é
considerada uma doença  Condições Socioeconômicas: a pobreza, as más condições de habitação, a
desnutrição e a falta de acesso a cuidados de saúde adequados contribuem para a
reemergente por causas propagação da tuberculose.
multifatoriais, tais como:  Falhas nos Programas de Controle: devido à falta de financiamento, infraestrutura
inadequada ou problemas na implementação das estratégias de prevenção e
tratamento.
 Diagnóstico e Notificação inadequados: a subnotificação ou diagnóstico
inadequado da tuberculose pode levar a um controle ineficiente da doença.
 Resistência Comunitária: pode haver resistência à adesão aos tratamentos devido a
questões culturais, falta de compreensão sobre a doença ou estigma social
associado à tuberculose.
Distribuição da
tuberculose no
Brasil
Número de pessoas
que iniciaram o
tratamento da
tuberculose conforme
indicação do
tratamento no Brasil
entre 2018 e 2020
 São determinadas pelas flutuações na incidência de
uma doença ocorridas em um período maior que um
ano.
 Este tipo de variação é muito associada à doenças
virais, nas quais existe um pico de incidência
Variações ocasionado pelo elevado número de susceptíveis e um
posterior declínio (poucos susceptíveis), até que uma
cíclicas nova cepa eleve novamente a incidência, pois a
população passa a ser susceptível outra vez.

*nova cepa: Uma nova cepa refere-se a uma variação genética específica
de um microrganismo, como vírus ou bactéria. No contexto de vírus, como
o SARS-CoV-2, que causa a COVID-19, ou o vírus da gripe, uma nova cepa
pode surgir devido a mutações no seu material genético.
Cobertura Vacinal

É um indicador que estima a


proporção da população-alvo
vacinada. Para o cálculo,
utiliza-se o total de últimas
doses do esquema da vacina
de interesse, dividido pela
estimativa da população-alvo,
multiplicado por 100.

A meta de CV é de 80% para a


vacina contra o HPV, 90% para
as vacinas BCG e Rotavírus e
95% para as demais vacinas.
A primeira dose da vacina – incluída na tríplice viral, que imuniza contra sarampo,
caxumba e rubéola – teve cobertura de 75,55% do público, que são crianças de 12 a
15 meses de idade. Já na segunda dose, necessária para completar o esquema
vacinal, o alcance foi de apenas 34,74%. Estes são os menores índices em oito anos.
 Preocupações sobre segurança: preocupações sobre os possíveis efeitos colaterais
das vacinas, mesmo que sejam extremamente raros, podem ser baseadas em
informações imprecisas ou mal compreendidas.
 Crenças pessoais ou religiosas: crenças pessoais ou religiosas levam a evitar
vacinas. Isso pode incluir crenças sobre a natureza do corpo humano, a
Principais desconfiança em relação à medicina convencional ou interpretações religiosas
específicas.
causas  Desinformação e mitos: pode levar algumas pessoas a duvidarem de sua eficácia
relacionadas a ou segurança. Essa desinformação pode ser propagada por meio de mídias sociais
e sites não confiáveis.
queda da  Desconfiança nas autoridades de saúde.

cobertura  Falta de conscientização sobre a importância das vacinas.


 Experiências negativas anteriores: Experiências negativas com o sistema de
vacinal saúde ou com vacinas específicas podem levar algumas pessoas a evitar futuras
imunizações.

É importante abordar essas preocupações de forma sensível e fornecer


informações baseadas em evidências para ajudar a promover a confiança e a
adesão às vacinas. Estratégias educacionais, campanhas de conscientização
pública e comunicação clara são essenciais para enfrentar essas questões.
 É a variação da incidência de uma doença que ocorre
em sintonia com as estações do ano. As doenças
infecciosas estão muito associadas a este tipo de
variação, como a gripe, a dengue e a malária.
 No entanto, as doenças crônicas também sofrem
influências sazonais, como é o caso da asma e da
doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
Variações  Outro exemplo da influência sazonal é o aumento da
sazonais incidência de acidentes ofídicos nos meses mais
quentes do ano (dezembro a fevereiro), em virtude da
maior atividade humana nos trabalhos de campo, o que
facilita o encontro acidental entre homem e serpente.

* DPOC é uma doença pulmonar que obstrui as vias aéreas, tornando a


respiração difícil. Os principais sintomas são: falta de ar durante esforços, que
pode progredir até para atividades corriqueiras como trocar de roupas ou tomar
banho; pigarro, tosse crônica, tosse com secreção e que piora pela manhã.
Número de
acidentes ofídicos
registrados por mês
durante o período
de 2010-2012,
Brasil
Padrão sazonal dos
casos de malária e a
relação com a
variabilidade
hidrológica no
Estado do
Amazonas, Brasil
Dados de nível
d’água normalizado
nas estações dos
rios amazonenses.

Conforme os regimes de cheias ocorreram, percebeu-se o aumento das


notificações de malária com picos após as cheias dos rios. Pesquisas
sugerem que o transbordamento dos rios representa potenciais criadouros
do vetor em muitas áreas da Amazônia
 Dizem respeito às variações não esperadas para a
ocorrência de uma doença, que pode ser verificada
através de técnicas estatísticas que levam em
consideração a distribuição normal ou já conhecida da
doença no tempo, sempre baseada em dados
históricos.
Variações
 Podem ser classificadas em:
irregulares
➢Surto;
➢Endemia;
➢Epidemia;
➢Pandemia.
 É a ocorrência epidêmica onde todos os casos estão
relacionados entre si, atingindo uma área geográfica
pequena e delimitada, como bairros, vilas e população
institucionalizada.

Surto
 Ocorrências, numa comunidade ou região, de casos da mesma
doença, em números que ultrapassam nitidamente a incidência
normalmente esperada
 O agente etiológico pode ser veiculado por vetores, pela água, por
alimentos ou pelo ar, permitindo a exposição de um elevado
número de indivíduos ao agente etiológico, podendo haver uma
explosão de casos em um curto período de tempo.
 Normalmente, o patógeno não é transmitido de pessoa para
pessoa, e a velocidade de progressão da epidemia vai depender
Epidemia das características do agente etiológico, como período de
incubação, ou das condições do ambiente/vetor.

Epidemia por fonte comum, como intoxicação alimentar,


observamos um pico elevado para a ocorrência de casos num
curto período de tempo, seguida de declínio brusco.

Epidemia progressiva ou programada estão relacionadas


principalmente aos vetores. Sua disseminação é mais lenta em
relação à epidemia por fonte comum
• Presença constante de uma doença dentro dos limites
esperados, em uma determinada área geográfica, por
um período de tempo ilimitado”
• Esse fenômeno acontece quando há pessoas
susceptíveis que continuam expostas a um
determinado agente.
Endemia
Casos de malária na
Região Norte do
Brasil através do IPA
(Índice parasitário
anual)
 Nome dado à ocorrência epidêmica caracterizada por
larga distribuição espacial, atingindo várias nações. Em
outras palavras, a pandemia pode ser tratada como a
ocorrência de uma série de epidemias localizadas em
diferentes regiões e que ocorrem em vários países ao
mesmo tempo.
Pandemia  Exemplos:
➢Ebola, em 2014, afetou principalmente Guiné, Libéria,
Nigéria e Serra Leoa.
➢Covid-19, afetando todos os continentes
 Vetores de patógenos são veículos de disseminação de
patógenos, como vírus ou bactérias, contribuindo para
a propagação de doenças. Podem ser classificados
como:
➢Vetor mecânico – material inanimado ou ser vivo que
transporta o agente infeccioso. Ex.: materiais
hospitalares, formigas e baratas.
Vetores

➢Vetor biológico – organismo no qual o agente


etiológico desenvolve obrigatoriamente uma etapa do
seu ciclo de vida. Ex.: mosquitos e carrapatos.
 Envolvidos na transmissão dos
arbovírus mais importantes do
mundo, como Dengue, Zika, Febre
amarela e Chikungunya.
Mosquitos e
flebotomíneos:
diferentes vetores
 Envolvidos na transmissão do
protozoários do gênero
Leishmania
 Deve responder a questão: onde a doença ocorre?
 Seu objetivo é de mapear a ocorrência de doenças
consiste na determinação de condições e fatores de risco
relacionados ao ambiente.
 Devemos considerar que o ambiente inclui aspectos sócio-
Distribuição de econômico-culturais em que vivem os indivíduos, e o
doenças no quanto este ambiente influencia a ocorrência de doenças.
 O ponto de partida para essas análises é a delimitação do
espaço espaço, como bairro, cidade, estado, região, país e
continente.
 Em seguida, cria-se um mapa da área para plotar
informações de saúde ou doença.
 Assim, é possível realizar a análise espacial dos dados.
Mapa da
distribuição
espacial pontual
dos municípios com
pelo menos um
caso de SIDA,Brasil,
1980 – 2004

*Sida é sigla portuguesa que se


refere a Aids, a Síndrome da
Imunodeficiência Humana,
transmitida pelo vírus HIV

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